3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
55ª LEGISLATURA
Em 30 de outubro de 2017
(segunda-feira)
Às 11 horas
163ª SESSÃO
(Sessão Especial)

Oradores
Horário

Texto com revisão

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O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - Sessão especial do Senado Federal destinada a celebrar o aniversário de 500 anos da Reforma Protestante. Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.
A presente sessão especial destina-se a celebrar o aniversário de 500 anos da Reforma Protestante, nos termos dos Requerimentos nºs 628 e 803, de 2017, dos Senadores José Medeiros, Paulo Bauer e outros.
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Convido para compor a Mesa o Presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Sr. Armando Maurmann; o Secretário Executivo do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, Reverendo Juarez Marcondes Filho; o Presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie, Sr. José Inácio Ramos; o Pastor Sinodal da Igreja Luterana, Sr. Dalcido Gaulke. Ainda estão presentes conosco o Presidente do Sínodo de Brasília, Reverendo Wulmar Lopes Vaz, e o Coral da Igreja Presbiteriana de Brasília. Cumprimentamos as demais senhoras e senhores convidados.
Convido a todos para, em posição de respeito, acompanharmos o Hino Nacional e, logo em seguida, a apresentação das músicas Castelo Forte - Harpa Cristã e Deus dos Antigos, hino presbiteriano, executado pelo Coral do Colégio Presbiteriano Mackenzie.
(Procede-se à execução do Hino Nacional.)
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O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - Agora, a apresentação das músicas Castelo Forte - Harpa Cristã e Deus dos Antigos, hino presbiteriano, executado pelo Coral do Colégio Presbiteriano Mackenzie.
(Procede-se à execução musical.) (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - Registro a presença do Embaixador da República da Eslovênia, Sr. Alain Brian Bergant; registro também a presença do Presidente do Sínodo de Brasília, Rev. Wilmar Lopes Vaz e do Presidente da Comissão Nacional Presbiteriana de Educação (Conape), Sr. Geomário Moreira Carneiro.
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Quero só fazer uma correção: eu falei que o coral era do Mackenzie; na verdade, o coral é da Igreja Presbiteriana de Brasília.
O Senador Cristovam Buarque, desde que foi marcada esta audiência, queria muito estar presente, mas infelizmente está em uma missão, pelo Senado Federal, no exterior. Mas ele deixou um texto, que passo a ler agora. O título do texto é "Ética, Inteligência e Coragem".
Cada um de nós deveria fazer, de vez em quando, um exercício de identificação das pessoas que foram determinantes em nossa vida: pais, mestres, irmãos, namoradas, amigos, autores, artistas. Pessoas que mudaram o mundo ou mudaram a nossa própria maneira de ser e de pensar. Raramente, quem mudou o rumo da história é determinante também no dia a dia da vida de cada um de nós. Mas alguns conseguem isso; Martinho Lutero é um exemplo desses raros seres humanos.
Na religiosidade, não sou formado como luterano, nem mesmo como evangélico, minha formação foi em colégio católico, mas sou observador do mundo e, como tal, desde muito jovem, sou admirador de Martinho Lutero. Fui influenciado por ele, como praticamente todos no mundo ocidental, mesmo sem saber.
Primeiro, pelo exemplo de sua ética ao recusar uma Igreja acumuladora de riquezas materiais, seja para a instituição, seja para o enriquecimento pessoal do sacerdote, pastor, rabino, irmã. Para Lutero, a religião é para promover a fé, a espiritualidade, não para o materialismo do recebimento de óbolos para a venda de perdão, redução de tempo no purgatório, conquista de benefícios na Terra e proteção para chegar aos céus. A ética luterana era uma novidade radical na Europa Católica do século XVI, quando religião e dinheiro conviviam de mãos dadas.
Segundo, por ele ter transformado a sua ética em um pensamento, representado nas 95 teses que pregou na porta da Igreja do castelo de Wittenberg, Alemanha, em 1517. Séculos depois, um filósofo disse que a religião, quando submetida à riqueza material, transforma-se em uma gaiola de Deus. Dificilmente esse filósofo teria tal pensamento sem a base ética e o pensamento racional de Martinho Lutero.
Terceiro, Lutero foi um dos homens mais corajosos da história ao defender sua ética e seu pensamento, enfrentando o poder absoluto do Papa em Roma e de todos os seus cardeais e bispos espalhados pelo mundo dominando os próprios reis e príncipes. Ao se opor às doutrinas prevalecentes, em defesa de sua crença e da interpretação pura do Evangelho, enfrentou os riscos de condenação eterna ao inferno. Naqueles idos de 1500, enfrentar a ira do Papa e de seus cardeais exigia uma coragem não apenas física, mas também espiritual. No mundo de hoje, é difícil imaginar a dimensão do valor pessoal de Lutero ao assumir o risco de defender a Reforma Protestante, nos tempos da força política e espiritual absoluta do Papa e da Igreja Católica.
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Os evangélicos de hoje, 500 anos depois, nascidos sob a égide do pensamento cristão evangélico, não imaginam que naquela época toda interpretação contrária ao que dizia o Vaticano era considerada demoníaca. Lutero teve uma coragem raramente vista, mesmo entre soldados que se arriscam a perder a vida nas guerras; ele aceitou correr o risco da condenação eterna, na defesa da reforma que lhe parecia correta para salvar o cristianismo dos desvios que o catolicismo romano representava.
Em quarto lugar, Lutero foi um genial divulgador de suas ideias e organizador de seus novos seguidores, usando o maravilhoso sistema tipográfico, com uso de tipos móveis em metal, recém-criado por seu conterrâneo Gutemberg. Em poucos anos, desde o seu pequeno povoado, Eisleben, na Alemanha, ele foi capaz de espalhar sua visão espiritual por todo o mundo.
Isso não seria possível se não tivesse traduzido a Bíblia do latim para o alemão, levando o livro sagrado para o povo. Entendendo que não adianta o livro sem alfabetização, transformou-se no maior alfabetizador do mundo, em seu tempo, e uma inspiração até hoje para aqueles que consideram o analfabetismo uma escravidão e uma tortura. É preciso admirar o Lutero que deselitizou a missão do pastor, aproximando-o da vida do povo, fazendo os fiéis serem capazes de ler e interpretar o Livro.
Por tudo isso, eu gostaria de estar presente nessa solenidade de homenagem a esse grande homem, mas estou impedido por causa de uma viagem marcada há muito tempo. Não quis, entretanto, perder a oportunidade de enviar esta mensagem àqueles que estão presentes, para homenagear um dos maiores personagens da história.
Este foi o texto deixado pelo Senador Cristovam Buarque, que é uma das grandes figuras do Senado Federal brasileiro.
Ainda temos outros textos aqui, mas vamos passar às nossas falas e ao final...
Neste momento, passo a palavra ao Presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Sr. Armando Maurmann, que gentilmente concede a palavra ao Pastor Dalcido Gaulke, que é Pastor Sinodal da Igreja Luterana.
Se o senhor quiser, pode falar da tribuna ou daqui também.
O SR. DALCIDO GAULKE - Exmos Senadores, Senador José Medeiros e Senador Paulo Bauer, proponentes desta Sessão Solene, juntamente com todos os Senadores que assim também aprovaram este momento tão importante para todos nós que aqui estamos e todos aqueles e aquelas que nos ouvem e que também, certamente, vivem essa comemoração dos 500 anos da Reforma Protestante.
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Antes de falar a todos vocês, devo dizer que sou o Pastor Sinodal Dalcido Gaulke, com sede aqui em Brasília e que o Sr. Armando Maurmann é Presidente do Sínodo Brasil Central e também representa, assim, todos os que não são ministros, ministras, pastores, pastoras na Igreja e que nos ouvem neste momento.
O Pastor Presidente da IECLB, Pastor Dr. Nestor Paulo Friedrich, não pode estar aqui hoje, mas deixa um grande abraço a todos que aqui estão e especialmente também à Igreja denominação irmã, a Igreja Presbiteriana do Brasil, ao coral que aqui também se apresentou, da comunidade, e a todos e todas que também compõem a Mesa neste momento.
Quem de nós não gosta de comemorar? Comemorar é recordar e festejar em conjunto. Comemoramos um aniversário, casamento, formatura, enfim, comemoramos muitos momentos da história. Também aí, a IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil) comemora com todas as comunidades, com os membros da Igreja e também com todas as denominações irmãs que descendem da Reforma e de todo o movimento da Reforma - não só a Reforma Luterana, mas de todos aqueles que participaram ativamente, todos e todas, pois foi um movimento de homens e de mulheres.
Agora, uma comemoração, um jubileu dos 500 anos, precisa ser muito bem compreendida, senão esse grande presente pode, quem sabe, ficar apenas com um embrulho. Nós queremos ir para a essência do que foi o movimento da Reforma. E o grande presente que estava dentro desse embrulho é o próprio Evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo; o Evangelho que, até ali, não era acessível para o povo, não era acessível para as pessoas que tinham sede da palavra de Deus. Então, para nós não é tanto lembrar nem de Lutero, nem de Calvino, nem de João Huss, nem de Wyclif, nem de tantas mulheres, Catarina e assim por diante, mas lembrar que o Evangelho é que foi de novo colocado como central para a vida de fé de todos os cristãos e cristãs.
Fica o legado para nós de que somente pela fé, que vem também pelo ouvir do Evangelho, nós podemos ter salvação. A fé é dádiva de Deus, é presente de Deus, e, por isso, também quando Lutero descobriu em Romanos, Capítulo 1:17 - um dos textos, entre tantos outros -, que o justo viverá pela fé, que nós somos justificados pela fé, aí veio a grande transformação. Até ali se pensava que, para chegar ao céu, deveríamos galgar degraus escada acima com muita penitência, com muito esforço, com méritos próprios, enfim, com sacrifícios, quando não desembolsando somas que muitas vezes o povo não tinha, para chegarmos mais perto de Deus.
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Mas a grande transformação é que essa escada é ao contrário. É Deus que veio a nós e vem a nós por Sua graça. É a graça de Deus, é o presente de Deus que transforma a vida, e este é o grande legado: somente através de Cristo, somente através do próprio filho de Deus.
Por isso poderíamos, quem sabe, cantar em alto e bom tom, "Eu venho a vós dos altos céus para vocês". É o Verbo encarnado, que transforma e modifica a história de grande parte da humanidade, principalmente ocidental. Então, é por Cristo, somente pelo Seu sangue, somente pela pregação deste Evangelho e somente pela Escritura, a Escritura acessível para todos e todas.
Ouvimos há pouco, na leitura também do texto enviado pelo Senador Cristovam, que os grandes legados são estes, a Palavra de Deus e a alfabetização, para que homens e mulheres pudessem ler a Sagrada Escritura. E é somente pela leitura, pelo estudo profundo da Sagrada Escritura, que é possível crer, que é possível viver a fé, que é possível ser comunidade cristã.
Poderíamos continuar também falando sobre a importância da tradução da Escritura. Lembro especialmente que, em 1521, 1522, quando Martinho Lutero estava também recluso no castelo de Wartburg, lá ele traduziu para a língua alemã, para o vernáculo do povo, o Novo Testamento. E depois tantos outros partiram, para que a Palavra ficasse acessível para todos.
E também a grande mudança de que não é mais só o sacerdote, não são mais os que estudaram, que fizeram Teologia, que foram ordenados, mas sim todos e todas são sacerdotes e sacerdotisas e são incumbidos para levar adiante esse tesouro, que é o Evangelho.
E, para concluir, certamente os princípios éticos que Lutero e todos os reformadores e reformadoras trouxeram se baseiam na Sagrada Escritura e exigem de nós, de fato, contrição profunda; e exigem de nós firmeza, para que nós nos esforcemos para fazer tudo que está ao nosso alcance, como se dependesse tudo de nós. Mas ao mesmo tempo dizer: "Tudo depende de Deus, da Sua graça e do Seu amor."
Por isso, a graça não é barata, mas ela faz com que nós, de fato, nos empenhemos mais e mais, para o exercício da cidadania também e o exercício de uma vivência cristã para a transformação.
Com isso, concluo.
Agradeço especialmente ao Senador José Medeiros e ao Senador Paulo Bauer - que também é luterano e que não pôde estar conosco, pois se recupera, visto que tem problemas de saúde. Pronto restabelecimento a ele.
E a nossa gratidão a todos que aqui estão, a todos que nos ouvem, e especialmente a todos que também celebram, no sentido de levar adiante uma proposta de uma fé firme, uma fé baseada no amor e na vida plena para todos.
Obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - Obrigado pelas palavras, Pastor Dalcido. (Palmas.)
Registramos a presença da Senadora Ana Amélia, que será a próxima a usar da palavra.
Houve um período na história do protestantismo em que a influência do Renascimento e do Iluminismo resultou na volta da razão como elemento fundamental para a definição, compreensão e vivência da verdade.
O Renascimento sugeria um novo posicionamento do homem diante de si mesmo e do mundo. Nesse período acontece a retomada das ideias clássicas. Agora há criações artísticas, literárias e científicas. O homem estuda a natureza e quer imitá-la. Surgem os teatros e o retrato do cotidiano. Tudo isso leva o homem a pensar mais e refletir mais sobre a cultura, teatro, etc. Também temos o Iluminismo, que foi um movimento político, cultural e filosófico.
No Iluminismo, temos os autores que defendiam a lógica e o raciocínio como base no conhecimento da natureza, do progresso e da compreensão entre os homens - Voltaire, Rousseau, Diderot... Para os tais, o conhecimento e a educação eram ideais para a melhoria da sociedade. Daí esse período histórico ter ficado conhecido como Século das Luzes.
Esses movimentos influenciaram o protestantismo, de sorte que houve a libertação da ignorância, do medo que havia na época, e houve uma abertura para a fé racional, que foi trabalhada pelo entendimento das Escrituras Sagradas.
Na Alemanha aparece o grande pensador e estudioso das Escrituras Martinho Lutero. Ele nasceu em Eisleben, na Saxônia - o meu alemão está um pouco enferrujado -, em 1483 d.C. John Foxe relata que, numa idade já madura, foi enviado para a universidade, primeiro a Magdeburgo e depois a Erfurt.
Na Universidade de Erfurt, havia um ancião do convento dos agostinianos com quem Lutero, que também era um frade agostiniano, conversava sobre vários assuntos, especialmente sobre a remissão dos pecados. O padre ancião revelou a Lutero esse artigo de fé, explicando que o mandamento expresso de Deus é que todos os homens devem acreditar, sobretudo, que seus pecados são perdoados em Cristo. E acrescentava que essa interpretação era confirmada por São Bernardo: "Este é o testemunho que o Espírito Santo dá ao teu coração dizendo: Teus pecados estão perdoados. Esta é, na verdade, a opinião do apóstolo: o homem é graciosamente justificado pela fé."
Com essas palavras no coração, Lutero continuou seus estudos e foi se aprofundando nas Escrituras Sagradas.
Nessa mesma época, um certo Staupitius, homem famoso que prestara sua ajuda para promover a construção de uma universidade em Wittenberg, após considerar o espírito e a aptidão de Lutero, o chamou de Erfurt para colocá-lo em sua universidade. O convite aconteceu no ano de 1508. Isso aconteceu quando Lutero tinha 26 anos de idade.
Ele traz a Bíblia para o povo, e, com a descoberta da imprensa - Gutemberg -, o alemão teve acesso às Escrituras Sagradas.
Lutero seguiu as indicações de Staupitz e se dedicou completamente ao estudo da Bíblia. Ele começou, ensinando acerca dos Salmos, em 1513. E, em 1517, também ensinou as epístolas de Romanos e Gálatas.
Lutero teve um rompimento com a igreja romana e passou a ter um entendimento de Deus e do relacionamento de Deus com a humanidade.
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Os estudos dos Salmos lhe deram os primeiros vislumbres da esperança de que uma resposta poderia ser encontrada sobre o pecado e a justiça - também sobre a graça divina.
Exatamente como os exegetas de seu tempo, ele interpretou os Salmos cristologicamente. Neles, Cristo falou e Se fez manifesto.
Lutero, ao aprender mais sobre as Escrituras, ficou indignado com os sermões blasfemos de sua época e, decidido a preservar com ardor a verdadeira religião, publicou certas proposições referentes às indulgências e afixou-as no templo contíguo ao Castelo de Wittenberg, na manhã seguinte à da Festa de Todos os Santos, em 31 de outubro de 1517 - portanto, há 500 anos.
Tudo demonstrava o quanto sua vida correspondia às suas convicções. Claro estava que suas palavras não eram palavras vazias, mas provinham do fundo da sua alma. Sua santidade de vida muito seduzia os corações dos seus ouvintes.
Durante todo esse tempo Lutero nada alterou nas cerimônias religiosas e observava meticulosamente as regras, como os seus confrades.
Não tratava de questões dúbias. A todos ensinava apenas uma doutrina como sendo a mais importante, expondo e esclarecendo a questão do arrependimento, da remissão dos pecados, da fé, do verdadeiro conforto a ser buscado na cruz de Cristo. Todos se beneficiavam do bom sabor dessa doce doutrina, e os eruditos sentiam grande prazer ao contemplar Jesus Cristo, os profetas e os apóstolos, deixando as trevas e surgindo em plena luz.
Com essa Reforma Protestante, Lutero usou demais as Escrituras e realmente provocou uma revolução na vida de muitas pessoas, sendo um instrumento precioso nas mãos de Deus.
Sabemos que Martinho Lutero foi levado a julgamento por causa das novas verdades que estava ensinando. E, ao ser questionado acerca dos livros escritos pelas autoridades, através do Presidente da Casa, chamado John Eckius, ele respondeu com moderação e humildade, mas com disposição corajosa e firmeza cristã. Ele disse:
Considerando que Sua Soberana Majestade e Vossas Reverências exigem uma resposta clara, digo e professo, com toda a resolução possível, sem dubiedade ou sofisticação, que, se eu não for convencido por testemunhos das Escrituras (pois não creio em nenhum Papa, nem em seus Concílios Gerais, que muitas vezes erraram e se contradisseram), minha consciência está tão amarrada e presa a essas Escrituras e à Palavra de Deus, que eu não quero nem posso revogar coisa alguma, considerando que não é nem piedoso nem legítimo agir de qualquer forma contra a minha consciência. Esta é a minha posição definitiva. Nada mais tenho a dizer. Deus tenha compaixão de mim!
Os príncipes consultaram-se entre si sobre essa resposta de Lutero. Depois de examiná-la com cuidado, o Presidente insistiu, dizendo: "Sua Majestade exige que o senhor responda simplesmente sim ou não, dizendo se pretende defender toda a sua obra como sendo cristã ou não."
Então, Lutero, virando-se para o Imperador e os nobres, implorou que não o compelissem ou forçassem a agir contra a sua consciência, confirmada pelas Santas Escrituras, sem que seus adversários apresentassem argumentos claros, no sentido oposto. Ele disse algo absolutamente profundo sobre a Bíblia Sagrada: "Estou amarrado pelas Escrituras."
Vemos, na vida de Lutero, que as Escrituras fizeram efeito profundo. E hoje colhemos muito da vida e obra de Lutero, através da seriedade da Bíblia.
Por outro lado, em Genebra, aparece João Calvino, que traz uma compreensão e interpretação preciosas sobre as Escrituras. Ele escreve o comentário da Bíblia toda, com exceção de Apocalipse. E escreve um Tratado da Religião Cristã.
Então, a espiritualidade no fim da idade Média é racional e envolvida com o conhecimento das Escrituras. Neste período, a ênfase não era na música, nem na liturgia e, sim, na Palavra.
Calvino teve a responsabilidade de dar à Teologia Reformada sua forma característica. Embora o curso exterior dos primeiros anos de Calvino sejam afirmados com certo grau de precisão, os dados acerca do seu desenvolvimento intelectual e religioso são muito raros. Calvino entrou em contato com o Humanismo desde muito cedo, pois na sua juventude ele foi amigo do médico do rei, William Cop, que, por sua vez, estava em contato próximo com Erasmo. É significativo, entretanto, que, quando dois de seus professores de Direito, Pierre de l'Estoile e Andréa Alciati, se tornaram envolvidos em uma amarga controvérsia, Calvino tomou o lado de l'Estoile, o conservador, contra o humanista Alciati.
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Calvino começou em Genebra sua carreira como um líder da Reforma.
Foi nessa condição, despertado por novos problemas e questões, que ele continuou a desenvolver as Institutas, até que a obra alcançou a sua forma final em 1559.
É possível seguir o desenvolvimento da teologia de Calvino e as questões que foram levantadas por várias controvérsias, simplesmente seguindo o crescimento das Institutas, tanto na estrutura quanto no tamanho e no conteúdo, enquanto a obra passava por edições sucessivas.
Calvino difundiu o pensamento reformado olhando sempre para as Escrituras. E ensina, através do Livro I das Institutas, que
o verdadeiro conhecimento de nós mesmos, onde nós descobrimos nossa própria miséria e insuficiência, também nos faz compreender que nós precisamos buscar o conhecimento de Deus. Mas, desde que em nossa condição presente nós somos muito propensos para nos autoenganarmos, alegando que somos o que não somos, e obscurecendo nossas enfermidades, o lugar apropriado para a verdadeira sabedoria começar é com o conhecimento de Deus.
Calvino se torna um grande teólogo e um estudioso profundo das Escrituras, provocando uma mudança profunda na sua época quanto à visão das Escrituras Sagradas na vida das pessoas.
O fato é que o protestantismo trouxe para nós uma espiritualidade, de certa forma, alicerçada na razão. Para esse tipo de momento, conhecer a Deus significava conhecer racionalmente a revelação bíblica sobre Deus. Claro que, naquele tempo, o mais importante era isso mesmo. O importante era libertar o povo da ignorância do ensinamento da Igreja na época. E com isso, trazer o homem para a verdade.
E a verdade é que, hoje, precisamos dar uma boa dose de injeção no conhecimento da Palavra de Deus. Precisamos de conhecimento das Escrituras, como foi na vida de Lutero e Calvino. Eles influenciaram a Igreja e a sociedade com os ensinamentos das Sagradas Escrituras.
Mesmo com todos os defeitos da igreja, temos a Palavra como centro de tudo. Temos a Palavra de Deus como a regra de fé e prática. Ela traz direção para todos os processos da vida, seja na moral, na ética ou na espiritualidade. Ela é a nossa fonte de vida para a jornada diária, como diz o texto de Romanos, capítulo 10, versículo 8: "A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé que pregamos."
Isso aqui foi um texto do Maurício Melo de Meneses, Presidente dos Gideões Internacionais e membro da Igreja Presbiteriana do Brasil.
E com a palavra, agora, a Senadora pelo Rio Grande do Sul, Senadora Ana Amélia Lemos.
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A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Caro Senador José Medeiros, em seu nome e de todos os Senadores que ajudaram a requerer esta sessão de homenagem aos 500 anos de aniversário da Reforma Protestante em nosso País e no mundo, eu queria saudar também o Presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Armando Maurmann; o Secretário Executivo do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, Rev. Juarez Marcondes Filho; o Presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie, Sr. José Inácio Ramos; e o Pastor Sinodal da Igreja Luterana Sr. Dalcido Gaulke.
Caros amigos e amigas, eu queria dizer, Senador Medeiros, que várias razões me trazem a esta tribuna para participar e homenagear esta celebração absolutamente oportuna e justa nestes momentos de grande tensão, de grande incompreensão, de grande intolerância, em nosso País, em várias camadas da sociedade brasileira, mas também um motivo especial: o maior número de protestantes do Brasil está no Rio Grande do Sul, um Estado, considerando proporcionalmente, que teve, na imigração alemã, uma influência extraordinária dos luteranos, dos alemães, que deram uma grande contribuição à cultura do nosso Estado.
Lendo a revista que foi editada celebrando os 500 anos da reforma, eu me deparei com um texto aqui - e talvez nem todos puderam ter oportunidade de ler - resumindo o que disse ao Rev. Obedes Ferreira da Cunha Jr.:
Desejamos que uma nova geração se levante como guardiã dessa Doutrina, que tanto impacto causou no mundo do Séc. XVI em diante, pois vivemos em uma era tecnológica onde a comunicação é rápida, os sentimentos descartáveis e o conhecimento superficial. Precisamos, por isso, de homens e mulheres como naquele tempo, com a profundidade e a espiritualidade dos reformadores, dos homens e mulheres de Deus bíblicos e visionários de então.
Nos comprometemos com nossa vocação missionária, de envidar esforços e por todos os meios biblicamente legítimos anunciar um Evangelho puro, com Cristo, com Cruz, com arrependimento, com regeneração, com frutos coerentes, para fazer o nome do Senhor exaltado em todo o mundo, por sua tão grande e graciosa salvação.
Esperamos pelo derramar do Espírito Santo de Deus, para que o vento renovador de sua graça sopre sobre nós e nossas famílias trazendo mais amor, comunhão, ética, moralidade e salvação, acima de tudo.
Penso que essa oração, praticamente, é um voto de fé e de crença desses valores. Talvez pela ausência de valores de espiritualidade, de religiosidade, de confiança que o Ser Supremo norteia a nossa vida, norteia os nossos passos, por não acreditarmos nisso, nós vamos ver esse grau de intolerância e de violência que hoje vemos pelas estatísticas no País. É a falta de Deus no coração das pessoas, é a falta de Deus na mente das pessoas. É a falta da compreensão de que temos que nos respeitar, uns aos outros, na família, na escola, no trabalho, mas especialmente aqui, numa casa política em que nós Senadores, caro amigo Senador José Medeiros, representamos o anseio da sociedade de uma mudança para melhor, nunca involuindo, nunca retrocedendo nesses valores espirituais. E é exatamente esta a minha crença e a minha convicção: de que o que está faltando hoje é isso.
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E, precisamente, Lutero foi um visionário porque, há 500 anos, cinco séculos, ele tinha como meta, como prioridade a educação e o ensino. Considerado o pai da educação pública, defendia, há 500 anos, que, a partir da educação, vem a mudança da sociedade e, assim, dizia para o governo investir mais; criticava o fato de se gastar mais com armamentos do que com escolas; lutou também pelos direitos sociais, para que todos tivessem respeito à vida, à vida em primeiro lugar!
O Pr. Nestor Paulo Friedrich afirma ainda que a Reforma Luterana deu força à busca pela igualdade: "A briga de Lutero [disse ele] era para que meninos e meninas tivessem acesso a escola, um desafio semelhante aos que temos ainda hoje em uma sociedade notadamente patriarcal: de lutarmos pelos mesmos direitos para homens e mulheres."
No nosso Brasil, aonde chegou no século XIX com os imigrantes alemães, o luteranismo marca presença principalmente nas Regiões Sul e Sudeste. Ficam no Rio Grande do Sul, onde se estima que estão mais da metade das pessoas - mais da metade das pessoas! - que se identificam como devotas dos ensinamentos de Lutero no País, as sedes nacionais das duas instituições luteranas brasileiras: a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e a Igreja Evangélica Luterana do Brasil.
O Rio Grande do Sul é o Estado que abriga o maior número de luteranos no Brasil. Segundo dados da própria igreja, são 630 mil pessoas devotas aos ensinamentos de Lutero no nosso Estado, mais da metade do total brasileiro, estimado em 1,2 milhão de seguidores. Essa distribuição é consequência direta da grande imigração de alemães em território gaúcho, muitos trazendo consigo as ideias que guiaram a Reforma. Em todo o mundo, são cerca de 70 milhões de pessoas que denominam a si mesmas como cristãos luteranos, com forte presença nos Estados Unidos e também na Europa ocidental.
E o Senado começa também essa celebração - com essa iniciativa do Senador José Medeiros e de outros Senadores - dos 500 anos da Reforma Protestante nesta sessão especial. O aniversário da Reforma é comemorado no dia 31 de outubro. O pedido de realização foi, como disse, uma iniciativa muito oportuna do Senador José Medeiros.
E só para lembrar as celebrações que nós estamos tendo no Rio Grande do Sul, ontem, lá em Santa Rosa, lá na região noroeste do Rio Grande do Sul, uma cerimônia reuniu 2 mil pessoas para essa celebração. Isso é apenas a ideia e a dimensão da relevância que tem a participação da Confissão Luterana no nosso Estado do Rio Grande do Sul. Houve várias comemorações.
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Desde 2011, um grupo de trabalho se reuniu para organizar as comemorações da Reforma Protestante no Rio Grande do Sul. Em outubro, mês que está marcando os 500 anos da Reforma, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e a Igreja Luterana do Brasil intensificaram as atividades, buscando lembrar e relembrar a história de Martinho Lutero, que nasceu em 1483 e morreu em 1546, e atualizar as suas ideias para as necessidades dessa sociedade moderna que anda tão depressa. E, por andar muito depressa, a comunicação, como disseram os líderes da igreja, está perdendo esses valores, e nós não podemos perder de vista isso.
Algumas atividades que ocorreram no Rio Grande do Sul...
No dia 24, em Porto Alegre, houve a apresentação da Orquestra da Ulbra, com 45 músicos.
(Soa a campainha.)
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Também, no último dia 28, em Porto Alegre, o Auditório Araújo Vianna foi palco do evento Raízes e Legado dos 500 anos da Reforma Luterana. O espetáculo contou a história de Lutero e da Reforma com o uso de recursos da dança e da música. O evento cultural foi apresentado pelo ator e historiador Werner Schünemann, que é luterano.
Também foram realizadas sessões solenes na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e na Câmara de Vereadores de Porto Alegre.
No dia 31, em Porto Alegre, às 20h30, quando se completarão os 500 anos da Reforma, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) fará um concerto no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. No programa, a Sinfonia nº 2 de Mendelssohn, conhecida como - meu alemão é muito... É difícil de pronunciar. Como seu, não é, Senador? Mas eu vou tentar: Canto de Louvor em português e Lobgesang em alemão.
Eu queria dizer também que, de 6 a 9 de novembro, em Porto Alegre, haverá vários debates reunindo a nossa Academia, a Universidade Federal, a PUC/RS, a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento), a Fundação Alexander von Humboldt e várias outras instituições.
Como eu lembrei, vários Municípios... Em Restinga Seca, foi realizado um encontro sinodal no dia 29; em Vera Cruz, houve um grande culto distrital no dia 22. E, como disse, em Santa Rosa, no final de semana mais de 2 mil pessoas participaram do culto para celebrar os 500 anos.
Por isso, a Senadora gaúcha vem aqui não só para compartilhar com o Senador José Medeiros essas reflexões, mas também para dizer que esse visionário, Martinho Lutero, já pensava, há 500 anos, naquilo de que hoje nós estamos às vezes nos esquecendo: a prioridade é a educação. Onde há educação, não há corrupção; onde há educação, há o conceito e a consciência dos direitos, mas também dos deveres.
E é isto que um pregador como ele, um visionário como ele, que fundou a Igreja Luterana, mostra claramente: os caminhos da retidão, da honestidade, da responsabilidade na casa, na família, na relação com todas as pessoas. E é esse legado maior que nós devemos em homenagem a esse homem que se preocupou com uma sociedade mais justa. E nós devemos retribuir o praticando.
Muito obrigada.
Parabéns, Senador José Medeiros. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - Muito obrigado, Senadora Ana Amélia.
A Igreja Presbiteriana fez um material: Reforma 500 anos. É um material muito bem elaborado. Eu queria parabenizar a comissão organizadora: Rev. Obedes (Coordenador), Adelaide Ramos, Drys Dantas, Gustavo Rocha, Isaac Marra, Pb. José Inácio Ramos e Pb. Josimar dos Santos Rosa. Há toda uma equipe aqui. Acho que há quase 100 pessoas aqui. Não dá para ler todos. É um material muito bem feito. Parabéns à Igreja Presbiteriana nacional!
Lembrando que, no último dia 28, houve no Rio de Janeiro, na Arena Carioca, a celebração dos 500 anos da Reforma. Eu creio que havia ali mais de 15 mil pessoas, 18 mil pessoas, muita gente, uma celebração extraordinária. A igreja está de parabéns por essa extraordinária comemoração.
Eu quero passar a palavra ao Secretário Executivo do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, Rev. Juarez Marcondes Filho.
O SR. JUAREZ MARCONDES FILHO - Exmo Senador José Medeiros, Presidente da presente sessão e proponente da mesma, Senadora Ana Amélia Lemos, cujo pronunciamento aqui muito nos encantou pela brilhante exposição do seu pensamento, que está pari passu com aquilo que estamos celebrando nesta ocasião, Rev. Dalcido, Pastor Sinodal da região Brasil Central da Igreja de Confissão Luterana no Brasil, Sr. Armando, Presidente dessa mesma instituição, Pb. José Inácio Ramos, Presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie, senhoras e senhores, é uma alegria muito grande estar nesta Casa de leis, celebrando uma efeméride tão importante e tão marcante: os 500 anos da Reforma Protestante.
É notável lembrar que protestante advém, na verdade, de uma intenção jocosa. Aliás, os epítetos geralmente surgem dessas realidades. Querem impingir algum tipo de conceito pejorativo e, ao fim, ao cabo, nos elogiam, porque, quando essa expressão foi usada a primeira vez, foi no sentido de tratar quem estava tendo esse tipo de atitude como de somenos importância, mal estava sendo instaurado ali um nome que muito nos honra, porque ser protestante é atestar a favor de alguma coisa. Aliás, muitas pessoas hoje, quando dizem que vão fazer um protesto, no fundo, são contestantes, são do contra pura e simplesmente.
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O protestantismo nasce com o objetivo de atestar a favor, a favor da verdade, a favor da palavra de Deus, a favor da graça de Deus, a favor de que os homens se respeitem uns aos outros, debaixo da soberania de Deus.
Nós não estamos nesta data apenas relembrando um momento histórico, personagens já aqui citados com muita propriedade, tais como Marinho Lutero, João Calvino - e poderíamos distender para Philipp Melanchthon ou John Knox -, pessoas que fizeram parte de um momento único na história. Nós estamos aqui lembrando que foi, na verdade, a necessidade de voltar-se às sagradas escrituras que determinou tudo o que teve lugar desde então.
Martinho Lutero foi tocado profundamente, no seu estudo das escrituras sagradas, particularmente no seu estudo da Epístola aos Romanos, para o fato de que o perdão é dádiva divina. E, se não o for, não será perdão de verdade. E, contrariando o pensamento da Igreja à época, que havia se desviado da verdade, Martinho Lutero, pela sua consciência, não arredou o pé de apresentar a verdade das escrituras.
Isso lhe custou muito caro, é verdade. Isso lhe custou a excomunhão. Isso lhe custou estar, inclusive, em degredo, o que, aliás, foi muito benéfico para todos, porque foi nesse período em que ele, sequestrado estava, pôde produzir a tradução do Novo Testamento para o vernáculo alemão, o que trouxe, inclusive, unidade à língua alemã e beneficiou a gramática alemã desde então.
A Bíblia, de fato, a partir de então, passou a ser de uso comum das pessoas. E aquilo que já era alguma coisa acontecendo nos países de língua inglesa ganhou força entre os que falavam alemão e pelo mundo afora. Somos herdeiros dessa benção maravilhosa.
Por isso, nós somos favoráveis - e, por isso, protestantes - a que a palavra de Deus ganhe o seu devido relevo. Nós estamos em uma Casa de leis, aqui acolhidos pelos Senadores que abrem as portas deste seu plenário para recepcionar o povo de Deus, em uma homenagem muito especial.
E é preciso lembrar o Salmo 19, que, na primeira parte diz:
Os céus proclamam a glória de Deus, o firmamento anuncia as obras das suas mãos.
Um dia discursa a outro dia[...]
Não há linguagem entre eles. No entanto, por toda a terra, se faz ouvir a sua voz.
É a palavra de Deus na natureza. Quando observamos o mundo em redor, só chegamos a uma conclusão: há um Deus que criou todas as coisas e as sustenta com a força do seu poder.
Mas, na sua segunda parte, o Salmo diz:
A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma [...]
O mandamento do Senhor é puro e alumia os olhos; o temor do Senhor é fiel e dá sabedoria ao símplices.
[...]
São mais desejáveis do que o ouro depurado; são mais doces do que o mel e o destilar dos favos.
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Esta é uma Casa de leis, e uma Casa de leis que, quando abre a Constituição Federativa do Brasil, depara-se ali que aqui estão reunidos os Parlamentares em nome de Deus. As nações que estão estribadas na palavra de Deus estão asseguradas da sua graça, da sua benção, do seu amor. Quando fazemos um panorama das nações no mundo que se deixam dirigir pelos ensinos das sagradas escrituras, vemos ali progresso, educação, verdade, justiça, respeito.
E estamos passando, Senador José Medeiros, por um momento muito delicado na história mundial, quando as nações estão cada uma de per si, tentando abandonar este caminho, tentando afirmar que não é possível dar esse destaque à Bíblia em detrimento de outros livros religiosos, porque não seria democrático. Se há um livro democrático é a Bíblia, que é o livro para o povo, é o livro que abraça todos, é o livro que apresenta o amor de Deus de maneira incondicional.
E, por isso, é preciso que esta Casa de leis, revisora das nossas leis, juntamente com a Casa vizinha neste projeto legislativo do País, não se deixe levar por estes ventos hodiernos, que querem nos afastar da palavra de Deus.
O movimento ateísta no mundo vem crescendo fortemente, e diria, sem sombra de dúvida, de maneira praticamente ridícula, porque, quando alguma pretensa autoridade científica, algum pretenso estudioso de Filologia ou coisa do gênero aparece no meio midiático, na imprensa, para afirmar que a Bíblia é um livro que alguém foi lá, tomou a pena e escreveu...
É incrível que alguém consiga pensar isso nos nossos dias. É não conhecer a história de um Martinho Lutero, de um João Calvino, dos que os antecederam e dos que os seguiram na pesquisa, no trato com o texto sagrado, na exegese perfeita, na percepção do todo que as escrituras apresentam. É que não se dão ao debate. Não se dão ao trabalho...
(Soa a campainha.)
O SR. JUAREZ MARCONDES FILHO - ... de estar juntos para poder ser convencidos da verdade: as escrituras são a palavra de Deus, nela nós encontramos a verdade do amor de Deus em Cristo Jesus, o cerne do evangelho. E foi isso que os reformadores, há 500 anos, erigiram como bandeira.
Martinho Lutero não teve a pretensão de inaugurar uma franquia religiosa; o que ele pretendia era que a igreja voltasse às suas origens. E todos os reformadores se esforçaram nisso.
E, na verdade, nós não estamos, portanto, comemorando 500 anos de igreja. Nós estamos comemorando a igreja que é povo de Deus desde o Antigo Testamento, a igreja que é povo de Deus nos discípulos de Jesus Cristo, a igreja que é povo de Deus nos pais...
(Interrupção do som.)
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O SR. JUAREZ MARCONDES FILHO - Que esta comemoração, no século XXI, do alto dos seus 500 anos, possa fazer-nos ratificar o nosso compromisso de sempre estarmos embasados na Lei do Senhor, que é perfeita; na sua palavra, que transmite o Evangelho de Jesus Cristo aos corações.
A nossa gratidão ao Senado Federal e, particularmente, a minha gratidão ao Senador José Medeiros, que esteve presente conosco em um evento excepcional, com uma multidão de gente que emocionou os nossos corações. Ao longo desses meses todos, temos participado de eventos como os que a Senadora Ana Amélia aqui apresentou para nós, mostrando que o Brasil está em perfeita consonância com os objetivos que esse movimento reformado trouxe à tona.
Que Deus abençoe o Brasil!
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - Muito obrigado pelas palavras, Reverendo Juarez Marcondes.
Lembro mais uma vez que está presente e prestigia esta audiência o Embaixador da República da Eslovênia, Sr. Alain Brian Bergant; o Presidente do Sínodo de Brasília, Reverendo Wulmar Lopes Vaz e o Presidente da Comissão Nacional Presbiteriana de Educação (Conape), Sr. Geomário Moreira Carneiro. E, mais uma vez, homenageamos aqui o coral da Igreja Presbiteriana de Brasília.
Passamos agora a palavra ao Presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie, Sr. José Inácio Ramos.
O SR. JOSÉ INÁCIO RAMOS (Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmo Sr. Senador José Medeiros, digno proponente - com o Senador Paulo Bauer e outros Senadores - desta nobre sessão, histórica para a comunidade reformada no Brasil e, em especial, para a Igreja Presbiteriana do Brasil, uma das entidades que compõe as igrejas reformadas.
Exma Senadora Ana Amélia, meus cumprimentos pelas suas belas palavras - acompanho há tempos a sua atuação no Senado Federal, representando com galhardia o povo do Rio Grande do Sul -, pelo belo texto que a senhora utilizou durante a sua fala, da lavra do meu querido pastor, Reverendo Obedes Ferreira da Cunha Junior, trazendo a lume, nesta sessão de destaque, pontos importantes da Reforma, que nos são caros.
Cumprimento a digna Mesa aqui presente, já nominada em outros momentos; os queridos Reverendo Dalcido Gaulke; o Dr. Armando Maurmann, representante da Comunidade de Confissão Luterana; o querido Reverendo Juarez Marcondes Filho, Secretário-Executivo da Igreja Presbiteriana do Brasil; também, neste ato, Senador José Medeiros, o nosso digno Presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, o Reverendo Roberto Brasileiro Silva.
Mas o que tem o Mackenzie a ver com este momento de reforma?
E já agradecemos, Senador José Medeiros, a inclusão do Mackenzie para compor, junto com a Igreja Presbiteriana e a Comunidade de Confissão Luterana, esta sessão histórica. Queremos dizer a nossa alegria em nos depararmos logo cedo com o texto do Senador Cristovam Buarque, aqui do Distrito Federal, minha terra, lido pelo digno Presidente desta sessão, Senador José Medeiros.
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O Senador Cristovam Buarque, homem voltado à educação desde as suas lides políticas de há muito, em Brasília; reitor da Universidade de Brasília, sempre batalhando, aqui no Senado Federal, em prol da educação.
Ele comenta en passant, na sua belíssima fala, aquilo que eu gostaria de destacar pelo Mackenzie, Instituto Presbiteriano Mackenzie, quando ele diz, Senador, que Lutero, com a sua ação, trabalhou contra o analfabetismo, dando condições de estudo, de aprendizado da língua, ao traduzir para a língua alemã a Bíblia Sagrada - o Novo Testamento, inicialmente, e depois, toda a Bíblia.
E, nos planos divinos, estava também o invento de Gutenberg, a imprensa, fazendo com que a Reforma, a partir desse momento, ganhasse um foco enorme em todas as regiões a que a imprensa chegou - os livros foram editados. E hoje a Bíblia Sagrada é um dos livros mais editados em todo o mundo.
E o Mackenzie tem no seu bojo, Senadora Ana Amélia, levar ensino de qualidade a todas as localidades. Nós estamos, hoje, em seis cidades no Brasil - originalmente em São Paulo, desde 1870. Estamos em Campinas, no Estado de São Paulo, em Barueri, no Rio de Janeiro, em Brasília e na cidade de Palmas, desde o ano passado.
Levamos o ensino de qualidade, desde a educação infantil até a pós-graduação, mestrado e doutorado, alcançando cerca de 40 mil alunos da educação infantil até a pós-graduação e mais 40 mil alunos esparramados em escolas, das mais variadas vertentes no Brasil, com o nosso sistema Mackenzie de ensino. Oferecemos ensino de qualidade também nos nossos sistemas de ensino, atendendo a toda a educação básica. E o Mackenzie vem no bojo da reforma, desde 1870, cuidando de oferecer ensino de qualidade.
Mary Annesley e seu esposo, Reverendo Chamberlain, do âmbito de sua casa - nas salas de sua residência, em 1870, na região ainda central de São Paulo -, abriram as portas do seu lar para receber, no mesmo ambiente de sala de aula, jovens, filhos dos senhores de engenhos, e também as crianças filhas dos escravos. Na mesma sala, os de cor, junto com os filhos dos senhores de engenho, aprenderam o ensino de qualidade. Desde 1870, o Mackenzie tem feito diferença.
Aqui em Brasília, não é diferente. Temos uma escola pujante, com profissionais valorosos - a quem cumprimento nesta manhã -, fazendo com que o Mackenzie seja diferente, puxando tanto o que Lutero quanto Calvino trouxeram no bojo da Reforma: uma educação diferenciada, baseada, estribada na palavra de Deus.
Hoje, o Mackenzie tem, constantemente, em suas instituições, em suas instalações, a Bíblia permanentemente aberta, que é lida e ensinada, encucando, em nossas crianças e em nossos jovens que nos procuram, ensino diferenciado, baseado nos valores da Bíblia Sagrada, dando a essas crianças e a esses jovens conceitos claros de cidadania, de ética, de valores cristãos e morais.
Este é o Mackenzie, que, ao longo desses 147 anos, comemorados no último dia 18 de outubro, Senador José Medeiros, tem feito a diferença aonde ele chega.
Nós temos um programa ambicioso de expansão da educação básica, exatamente para permitir que outras regiões do País recebam também o ensino de qualidade que o Mackenzie sempre ofereceu.
E o Mackenzie, dentro desse contexto, Senador, está ciente da grande responsabilidade. A Igreja Presbiteriana do Brasil, associada vitalícia do Instituto Presbiteriano Mackenzie, não tem faltado com o apoio para que o Mackenzie sempre ofereça - repito, mais uma vez - ensino de qualidade, baseado nos valores sagrados.
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Diante disso, trago, ao final da minha fala, nobre Senador, um exemplar do Brasil Presbiteriano, que eu entrego às suas mãos para os fins que senhor achar adequados. Um dos anexos do nosso Brasil Presbiteriano, o último lançado, traz uma belíssima proposição de uma entrevista com Lutero e a Reforma. Eu passo às mãos de V. Exª para os fins que julgar necessários para as anotações desta sessão, de forma que fique registrada, bem claro, a posição da Igreja Presbiteriana do Brasil, já muito bem destacada pelo Reverendo Juarez, que me antecedeu.
Quero também registrar que o Mackenzie se incumbe, Senadora Ana Amélia, de sempre cuidar de um ensino de qualidade e de excelência. Esse é o nosso objetivo, obviamente centrado nos princípios reformados de Lutero e de Calvino, para que o Mackenzie sempre ocupe lugar de projeção no segmento estudantil, desde a educação infantil até a pós-graduação, e para que o Mackenzie também ofereça à cidadania brasileira, como já oferece em São Paulo há muitos anos, homens dedicados, formados na excelência do saber para os mais altos cargos públicos, como já se observa na cidade de São Paulo há anos e também em todo o Brasil.
Era essa a minha palavra, nobre Senador, com o agradecimento do Instituto Presbiteriano Mackenzie, mais uma vez, de ser bondosamente incluído por V. Exª como um dos homenageados também na comemoração dos 500 anos da Reforma Protestante do século XVI.
O meu muito obrigado a todos. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - Muito obrigado ao Presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie, Sr. José Inácio Ramos. O Mackenzie realmente é uma escola de destaque aqui na comunidade de Brasília e no Brasil inteiro.
Aproveito para também aqui fazer minhas homenagens ao Pastor Walter, do Colégio Mackenzie aqui de Brasília.
Agora, com a palavra o Pastor Sinodal da Igreja Luterana... Ah, bom, já falou o Sr. José Inácio Ramos. O Sr. Juarez Marcondes também já falou.
Ressaltamos aqui ainda a presença, mais uma vez, do Embaixador da Eslovênia; do Presidente do Sínodo de Brasília, Wulmar Lopes, e do Coral Presbiteriano.
Deixamos aberto para alguém que queira fazer uso da palavra. (Pausa.)
Senão, está encerrada esta sessão, e agradecemos a todos.
Cumprida a finalidade da sessão, agradeço às personalidades que nos honraram com seu valoroso comparecimento.
Muito obrigado. (Palmas.)
(Levanta-se a sessão às 12 horas e 22 minutos.)