3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
55ª LEGISLATURA
Em 11 de dezembro de 2017
(segunda-feira)
Às 11 horas
190ª SESSÃO
(Sessão Especial)

Oradores
Horário

Texto com revisão

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O SR. PRESIDENTE (Hélio José. PROS - DF) - Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.
A presente sessão especial destina-se a celebrar os 180 anos do Grande Colégio de Ritos para o Brasil e os 300 anos de fundação da Grande Loja Unida da Inglaterra, nos termos do Requerimento nº 972, de 2017, do nobre Senador Valdir Raupp e outros Senadores.
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Convido para compor a Mesa o Grande Chanceler e Presidente do Grande Colégio de Ritos, Sr. Max Hager.
Por gentileza.
Convido também o Reitor, pelo Estado de São Paulo, do Grande Colégio de Ritos, Sr. Filipe Passos Marzano.
Por favor, nobre...
Tudo bem, Max?
Por gentileza.
Convido também, para compor a Mesa, o Mestre Instalado da Loja Abrigo do Cedro n° 8, de Brasília, Sr. Almir Antônio Lustosa Vieira.
O senhor está bem?
Seja bem-vindo, meu nobre Filipe Passos Marzano.
Meu nobre Mestre Instalado da Loja Abrigo do Cedro n° 8, de Brasília, Sr. Almir Antônio Lustosa Vieira.
Convido, para compor a Mesa, com a gente, que fará uso da palavra logo em seguida aqui, o nosso nobre Senador Cristovam Buarque, que é um Senador de Brasília e, queira Deus, nosso futuro Presidente da República, pelo menos se depender de mim. É um candidato que, com certeza, fará a diferença para o Brasil, pelo seu compromisso com a educação, pelo seu compromisso com a vida.
Primeiro, uma fala rápida do nosso nobre Senador Valdir Raupp.
Prezados irmãos,
é com muita satisfação que apresentei um requerimento para que hoje fossem celebrados os 180 anos da existência do Grande Colégio de Ritos para o Brasil, em conjunto com os 300 anos de fundação da Grande Loja Unida da Inglaterra.
Infelizmente, devido à alteração de compromissos inadiáveis no meu Estado de Rondônia, não pude comparecer a este importante evento. Mas quero deixar uma mensagem a todos os que se encontram no plenário do Senado Federal hoje: mais do que nunca, caminhem unidos, na convicção de que a ordem, a justiça e a solidariedade, entre outras virtudes, ancoram o cerne substancial de toda sociedade.
Daí reside a importância de se comemorar e destacar o papel dessas duas instituições ao longo dos anos.
Desejo a todos uma proveitosa sessão.
Um fraterno abraço do nobre Senador Valdir Raupp.
Repito que o Senador Valdir Raupp não pôde estar aqui para presidir esta sessão.
Umas breves palavras, para, em seguida, passar a palavra ao meu nobre Senador Cristovam.
É com muita satisfação que eu, Senador Hélio José, digo o seguinte: hoje celebramos os 180 anos de existência do Grande Colégio de Ritos para o Brasil, em conjunto com os 300 anos da fundação da Grande Loja Unida da Inglaterra.
Trata-se de seminais instituições maçônicas, em homenagem às quais o Senado Federal se prontifica, hoje, a realizar a merecida cerimônia.
Antes de tudo, vale recordar que a primeira menção à terminologia "Grande Colégio de Ritos" apareceu em território francês, no início do século XIX.
Naquela ocasião, o Grande Oriente da França instituiu um corpo pensante que objetivava ideias inovadoras no seio da maçonaria francesa.
Com objetivos não muito distantes, nascia no Brasil, em 26 de novembro de 1837, o Grande Colégio de Ritos.
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No entanto, em 1932, o Soberano Santuário da Maçonaria Egípcia do Rito de Memphis, nos Estados Unidos, encerrou seus trabalhos, na concordância da extinção cerimonial. Dessa forma, transmitiram-se ao Grande Colégio de Ritos os arcanos e os rituais daquele rito tradicional, para que continuasse sendo estudado, ainda que não mais praticado.
Nessa condição, passou aquele corpo maçônico e independente a compartilhar seus esforços, estudando e pesquisando Ritos Mortos ou Ordens Maçônicas extintas. Desde então, tem sido este o eixo operativo da instituição, passando a legar aos Mestres Maçons graus e ordens não mais em atividade naquela jurisdição.
À luz dos novos tempos, ao reconhecer a dificuldade de irmãos brasileiros em fazer uso do idioma inglês, o Colégio brasileiro começou novos contatos com os irmãos americanos. Em 2015, revigorado com o encorajamento de irmãos locais, conseguiu chegar a esse momento sublime, a partir do qual se vê soerguido, sob uma nova roupagem e com objetivos igualmente nobres, o Grande Colégio de Ritos para o Brasil.
Seguindo a linha de pensamento da Casa norte-americana, a instituição vai perseguir os ideais de estudo, pesquisa e aprimoramentos maçônicos.
Seus líderes entendem que, conhecendo e estudando a Maçonaria Histórica do passado, a Casa brasileira conseguirá formar uma maçonaria forte e atuante no presente.
No caso da Grande Loja Unida da Inglaterra, gostaríamos de, igualmente, Sr. Presidente, senhoras e senhores, destacar o papel dessa instituição no processo civilizatório do Reino Unido, nesses últimos 300 anos.
Fundada em 1717, ela é, historicamente, considerada a primeira potência maçônica, graças a qual outras puderam se espalhar mundo afora. Sua trajetória reflete, ainda hoje, o compromisso com as modificações ritualísticas, diante do renitente conservadorismo inglês.
De fato, a Grande Loja de Londres imprimiu um tipo peculiar de ritual, introduzindo alguns procedimentos e retirando outros, no sentido de atualização e renovação. Como é sabido, vigora na Inglaterra determinada margem de tolerância nas tradições, autorizando certas e pequenas diferenças nas práticas ritualísticas, sem que isto venha a constituir enxertos, invenções ou adendos.
No Brasil, o Distrito América do Sul, divisão norte da Grande Loja Unida da Inglaterra, se reúne anualmente, para dar posse aos novos Grandes Oficiais. A bem da verdade, o Grande Oriente do Brasil sempre pautou o seu relacionamento internacional pelas normas estabelecidas pela Grande Loja Unida da Inglaterra, com a qual mantém estreito relacionamento, desde o século passado.
Na condição de primeira obediência maçônica a ser criada na América Latina, o Grande Oriente do Brasil obteve reconhecimento da Grande Loja Unida da Inglaterra, em 1880.
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Todavia, foi somente em 1935 que as duas casas assinaram um novo tratado de amizade, pelo qual foi autorizado o funcionamento, em território brasileiro, do Distrito da América do Sul - divisão norte da Grande Loja Unida da Inglaterra.
Considerando tudo, cabe-nos, neste cerimonioso instante, saudar efusivamente ambas as instituições maçônicas em apreço, remetendo nossa memória ao longo trabalho realizado em solo brasileiro e alhures.
Respectivamente, tanto o Grande Colégio de Ritos para o Brasil quanto a Grande Loja Unida da Inglaterra merecem legítima reverência e nosso mais sincero respeito.
Era isso o que tínhamos a dizer, em nome da Presidência do Senado, em nome do Senado brasileiro.
Quero dizer que é uma satisfação estar aqui com vocês.
Antes de começar os nossos trabalhos, depois dessa fala breve, nós vamos ouvir o Hino Nacional de pé, na forma de respeito. Depois, passarei a palavra ao nosso nobre Senador Cristovam Buarque.
(Procede-se à execução do Hino Nacional.)
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O SR. PRESIDENTE (Hélio José. PROS - DF) - Considerando agora a fala da Presidência, que eu já fiz, a gente vai passar imediatamente a palavra ao nosso nobre Senador, também do Distrito Federal, como eu, Cristovam Buarque.
Eu quero anunciar aqui também que temos, como convidado, o Mestre da Loja Abrigo do Cedro n° 8, de Brasília, Sr. Luiz Lustosa Vieira - Luiz Lustosa, seja muito bem-vindo a essa Casa -; o Mestre Grau 15 da Loja João Caetano 478, Sr. Leonardo da Mota Bulhões - seja muito bem-vindo -; e os demais aqui presentes sejam muito bem-vindos.
Quero ter a honra de passar a palavra ao nosso nobre Senador Cristovam Buarque, representante da Bancada do Distrito Federal e uma pessoa que se tem destacado muito na defesa da educação nesta Casa. Consequentemente, eu espero que tudo dê certo, na tentativa de se colocar como uma boa opção à Presidência da República. Se depender de minha ajuda, da minha colaboração, eu acho que o Brasil merece tê-lo nesse patamar.
Um forte abraço, Senador Cristovam.
O senhor com a palavra.
O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras; Grande Chanceler e Presidente do Grande Colégio de Ritos, Sr. Max Hager; Reitor, pelo Estado de São Paulo do Grande Colégio de Ritos, Sr. Filipe Passos Marzano; Mestre Instalado da Loja Abrigo do Cedro nº 8, de Brasília, Sr. Almir Antônio Lustosa Vieira; todos os outros membros que aqui representam colégios e lojas maçônicas. Cito o Sr. Luiz Lustosa Vieira, que é Mestre da Loja Abrigo do Cedro nº 8, de Brasília; cito o Sr. Leonardo da Mota Bulhões, Mestre Grau 15 da Loja João Caetano 478.
Senhoras e senhores, na história do Brasil, por trás da independência, que será comemorada em seu segundo centenário dentro de quatro anos, o próximo Presidente que estará no governo, Senador Hélio José, no primeiro ano do terceiro centenário da Independência... E eu lamento dizer que acho que nenhum dos candidatos que estão aí estão conscientes disso, estão conscientes de que significa que ele será o primeiro Presidente de um futuro centenário do Brasil, porque todo Presidente deveria sentir-se, porque cada dia começa um novo centenário... Mas o próximo Presidente, mais do que os outros, vai estar na cadeira quando comemorar o segundo centenário, quando dermos início ao terceiro centenário.
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Por trás dessa independência, 200 anos atrás, esteve a Maçonaria, lutando para conseguirmos as forças necessárias para a independência em relação ao reino de Portugal. A Maçonaria esteve por trás da luta contra a escravidão, quando, em 1888, depois de mais de 300 anos de um sistema abjeto, bárbaro, terrível, que era a escravidão, conseguimos fazer com que os seres humanos não fossem vendidos, nem tratados como animais para a produção econômica. Por trás daquela abolição, estava a Maçonaria; por trás da luta pela República, estava a Maçonaria, quando, em 1889, o Brasil saiu de ser um Império, com uma nobreza, e passou a ser uma República, com cidadãos, de iguais direitos.
Apesar disso, tantos anos depois, nós continuamos com uma independência incompleta, com uma abolição incompleta, com uma República incompleta. Aqui nós temos foro privilegiado. Isso não é característica de República. Algumas crianças no Brasil nascem sabendo que vão ter educação à disposição, porque os pais poderão pagar, e outras sabendo que não terão educação, porque os pais não podem pagar e os Municípios onde elas vivem são pobres. Isso não é uma República.
Nós continuamos com a escravidão, porque no mundo de hoje a abolição se chama conhecimento. E, se não oferecermos conhecimento a uma pessoa, o conhecimento de saber ler, por exemplo, ela será escrava. O analfabeto é um escravo no dia a dia e, pior, torturado por ter que viver num mundo letrado sem saber decifrar o que está escrito.
Por isso, eu creio que há, diante de nós, um desafio muito grande ainda para a Maçonaria, militar, para completar a independência. O Brasil não é um País independente, pois tudo que nós usamos aqui foi inventado fora. Não há país independente se não houver ciência e tecnologia que lhe permita viver, não é nem isolado, convivendo, mas em grau de igualdade com os outros países. Nós somos subordinados aos países que criam ciência e tecnologia. Não somos independentes. Todos que tomaram um remédio hoje tomaram um remédio inventado, criado, formulado no exterior. Mesmo que aqui algum laboratório faça misturas para produzir a pílula, a fórmula veio de fora. Este microfone não existiria se não houvesse uma ciência lá fora. Tudo! Não somos independentes! Não abolimos a escravidão plenamente porque nossas crianças não têm escolas iguais. Não somos uma República por privilégios que a elite brasileira tem hoje, talvez mais ainda do que os nobres do tempo do Império.
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Por isso, a Maçonaria tem uma tarefa. Mas, Senador Hélio José, tem uma tarefa a mais, ou seja, além de não termos completado esses três grandes fatos da nossa história, chegamos a este momento em um processo político sem razão. Está faltando razão. Duas formas de razão estão faltando: razão no sentido do propósito - para que fazer política - e razão no sentido da lógica - como fazer política. Lamento dizer, mas nós os políticos brasileiros estamos sem uma razão de propósito de para onde queremos levar o Brasil nas próximas décadas e estamos sem razão no sentido da lógica da convivência e do diálogo. Estamos sem saber o rumo e sem coesão de caminhar. Vejam que tragédia! Nem um rumo definido para onde ir e nem um diálogo para tentar construir esse rumo.
Estamos batendo cabeça entre nós sectariamente, sem debates respeitosos, cada um na sua posição, sem querer nem ouvir o que o outro diz, e perdidos no presente sem construir um futuro para onde levar nossa Nação. Eu creio que esta é a tragédia que nós temos hoje: perdemos a capacidade de definir o rumo e a capacidade de dialogar no presente. Sem rumo e sem diálogo, sem coesão e sem rumo, o País está se perdendo, porque o resto do mundo está avançando, e nós estamos ficando para trás, e num clima de distúrbio tal que o Brasil corre o risco de se desagregar dentro de alguns anos ou décadas, desagregar-se pela violência, desagregar-se pela desigualdade de renda, desagregar-se pela falta de conhecimento, desagregar-se pela falta de lógica como se faz política, desagregar-se porque há gente que não acredita na aritmética e, portanto, acha que o País, tendo dois mais dois, pode gastar cinco. Existe a percepção nos políticos brasileiros de que, se o Governo arrecada quatro, pode gastar cinco, graças àquele truque maldito chamado inflação, em que todos são enganados recebendo 100, que o Governo não tem para pagar, mas que só vale 80, porque não tinha 100 de verdade.
Nós precisamos trazer a lógica no processo de debate, precisamos trazer o respeito que caracteriza o diálogo e temos que trazer um propósito para onde caminhar. O mais grave é que a grande esperança que a democracia nos oferece de, a cada quatro anos, podermos nos reencontrar na escolha de um líder que nos representa talvez esteja sendo hoje perturbada pela falta de lógica, de razão, de propósito e pela sobra de uma coisa chamada raiva na cabeça do eleitor - raiva que dá para explicar sim, que tem razão de ter, porque nós frustramos os sonhos e ainda caímos em corrupção, em ilegalidades, em irresponsabilidades. Nós caminhamos para uma eleição na qual, em vez de esperança, vai prevalecer a raiva, a ira. A ira não é uma boa conselheira para ninguém, individualmente, na hora de tomar uma decisão. A ira é ainda pior quando um país decide.
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Por isso, eu vim aqui, a pedido do Senador Raupp, para fazer um apelo: que a Maçonaria nos ajude a trazer a razão de volta à política; as duas razões: a razão no sentido de propósito, uma razão para fazer política; e a razão no sentido da lógica, a política com inteligência, com cérebro, não com o fígado, e com diálogo, não com desavenças.
Eu creio que a Maçonaria pode ter um papel. Se vocês olharem ao redor, estão surgindo muitas entidades buscando isso. Há uma que se chama Cervantes, há uma que se chama Hoje, há outra que se chama... Nem vou citar os nomes. A falência dos partidos ocorre porque não têm razão de propósito hoje. Não vejo qual é o propósito de qualquer dos partidos. Não vejo. Talvez no estatuto esteja escrito. Mas, na prática, no dia a dia, não têm - e eu disse todos e sou de um deles - nem a razão de dizer: isso é lógico ou isso é apenas o que o meu eleitor quer ouvir?
Essas entidades estão surgindo porque os partidos não estão preenchendo o papel deles. E, se essas entidades estão surgindo, criadas, todas elas, há menos de 180 dias, por que uma que tem 180 anos não pode nos ajudar nesse processo? E não apenas 180 anos, com uma imensa quantidade de não apenas militantes, mas irmãos, como vocês se chamam entre vocês. E não apenas entidades que visam uma religião, um grupo, um interesse, mas uma entidade que transcende essas coisas menores e que pensa a humanidade inteira. Não é nem só o Brasil. Que pense o Brasil, não o partido.
Eu não vejo discursos, como eu já ouvi, de maçons, falando no interesse da Maçonaria. Eu sempre ouço os discursos deles da Maçonaria para o Brasil. Nem sempre a gente vê isso nos partidos. Nem sempre a gente vê isso mesmo nessas novas organizações que estão surgindo, com belos propósitos, ou seja, com a razão no sentido de propósito.
Daí que eu vim aqui para fazer um apelo: ajude o Brasil a trazer a razão de volta à política; as duas razões: a razão no sentido de propósito e a razão no sentido da lógica. Nós precisamos de vocês, dessas outras entidades e ONGs que estão surgindo, desses grupos de pressão que estão aparecendo, dos grupos de reflexão que estão sendo criados. Nós os políticos precisamos, até porque todo político sem causa é um corrupto em potencial. Pode até não ser um corrupto ainda, mas ele é potencialmente. O que faz um político não se corromper é algo que está dentro dele: o caráter. Mas é, sobretudo, ter uma causa pela qual lutar. É a causa que serve como vacina anticorrupção. E a causa não surge de dentro de nós políticos ou partidos, surge de fora, surge dos filósofos.
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Eu tenho dito por aí - muitos não gostam ou não entendem - que, além de muitos maus políticos, o problema do Brasil é a existência de poucos bons filósofos, que formulem causas para o futuro, até porque mesmo alguns dos políticos que ainda têm causa, em geral, estamos trabalhando com causas antigas. Diante da globalização, diante da robótica, diante dos novos costumes que estão surgindo no mundo da cultura, nós estamos trabalhando sem causas ou com causas antigas, superadas pela realidade. E não vejo muitas entidades e pessoas, filósofos, economistas, sociólogos, formulando causas novas que penetrem aqui nesta Casa. De dentro dela dificilmente surgirão causas.
Vocês podem trazer causas. Vocês podem trazer a razão de ser da política no Brasil, e vocês podem ajudar a trazer a razão no sentido da lógica que permite o diálogo, e não do confronto sectário em que se transformou a política brasileira pela frustração com tudo que a gente tem feito nessas últimas décadas. A frustração gerou a raiva, mas a raiva não gera solução. A raiva não gera uma nação. A ira não é boa conselheira, e é ela que está dominando o processo eleitoral de 2018. Por favor, ajudem a nós políticos a cumprirmos nosso papel com causas, com razão, com duas razões: propósito, a razão do propósito, e a razão da lógica de como funcionar.
Eu espero que esse evento não apenas sirva para comemorar os 180 anos - aliás, os 300 anos, se formos lá atrás na Inglaterra -, mas sirva para pensarmos o próximo século, que começa em 2022, da Nação brasileira. Que ela seja independente, que ela não tenha mais qualquer resíduo de escravidão e que ela seja, de fato, uma República.
Nós precisamos de vocês, e eu vim aqui para dizer isto: muito obrigado por existirem. Mas eu gostaria de vir aqui, daqui a alguns anos, e dizer muito obrigado por terem nos ajudado a trazer de volta razão à política brasileira.
Era isso, Sr. Presidente. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Hélio José. PROS - DF) - Agradeço a V. Exª, Senador Cristovam Buarque. Em tempo, eu o convido para presidir os trabalhos, porque tenho um compromisso inadiável agora e tenho que me retirar.
Nós, em seguida, vamos ouvir o nosso nobre Reitor pelo Estado de São Paulo do Grande Colégio de Ritos, Sr. Filipe Passos Marzano. Depois, ouviremos o nosso querido Grande Chanceler e Presidente do Grande Colégio de Ritos, Sr. Max Hager.
Então, nobre Senador Cristovam, eu gostaria que o senhor presidisse os trabalhos, porque tenho que me retirar. Mas não sem antes dizer que o nobre Senador Cristovam Buarque, essa pessoa preparada, talhada, com condições de presidir o Brasil, faz aqui um apelo em cima de uma questão extraordinária: causa e razão.
Também faço parte de um Partido e o que vejo é que, muitas vezes, alguns partidos estão falando mais em comércio do que em razão e causa, ou causa e razão. Não vejo a ordem, mas o problema que está dessa forma.
Então, o meu Partido, o Partido do Senador Cristovam e todos os partidos desta Casa, nobre Senador Cristovam, estão precisando se reciclar, ter causa e razão para a gente poder encaminhar um Brasil melhor, um Brasil mais fraterno, tal qual o senhor deseja. E os irmãos maçons são pessoas fundamentais para nos ajudar nisso.
Passo a Presidência dos trabalhos a V. Exª, Senador Cristovam. Muito obrigado.
Vou levar e ler este livro Retrato de uma Década Perdida, do nosso nobre Senador Cristovam.
Muito obrigado.
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(O Sr. Hélio José deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. Cristovam Buarque.)
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) - Obrigado, Senador Hélio.
Imediatamente já passo a palavra ao Sr. Filipe Passos Marzano. Como eu disse na saudação inicial, ele é Reitor pelo Estado de São Paulo do Grande Colégio de Ritos, que nós hoje homenageamos neste evento.
O SR. FILIPE PASSOS MARZANO - Bom dia a todos.
Primeiramente, eu gostaria de cumprimentar a Mesa, cumprimentar o nosso Senador Cristovam Buarque, cumprimentar o nosso Grande Chanceler Max Hager, cumprimentar o nosso irmão e Mestre Instalado Almir Antônio Vieira, cumprimentar os demais convidados e todos aqui presentes.
Serei breve e, na minha fala, vou contar uma história rápida aqui. Tenho pouco tempo de ordem. No ano que vem vou fazer seis anos, e, pela feliz coincidência, dois anos atrás eu conheci o irmão Max, e, nessa conversa, eu estava falando para ele de algumas dificuldades que eu tinha no desenvolvimento de alguns trabalhos, porque a Maçonaria é rica em conhecimento, é rica em material. Só que de alguns ritos, por terem deixado de ser trabalhados, não havia onde eu encontrar alguns materiais para poder fazer a consulta e entender o passado e, assim, poder trazer o presente.
E o Max comentou comigo desse projeto de trazer o Grande Colégio de Ritos. Ele tem 180 anos, mas, como disse o nosso Senador Cristovam, estava naquele momento sem propósito. E o Max, com a ajuda de um corpo, trouxe esse propósito novamente para o Grande Colégio de Ritos.
Usando novamente a fala do nosso Senador, existe na Maçonaria um termo. Quando se vai convidar um irmão, ele deve ser livre e de bons costumes. A liberdade pode ter várias nuances dentro dessa interpretação, mas o Senador colocou aqui perfeitamente o que é liberdade.
Por mais que nos coloquem amarras, por mais que nos deixem presos, se o nosso coração e se o nosso conhecimento for livre, estaremos livres em alma e em verdade.
Então, eu queria aqui deixar um recado a todos os irmãos: filiem-se ao Grande Colégio, conheçam, entendam a história do Grande Colégio de Ritos, porque ele é brasileiro. Por mais que tenha reconhecimento do Grand College of Rites lá dos Estados Unidos, nós somos independentes, temos o nosso conteúdo, temos cabeças brasileiras pensando e desenvolvendo conteúdos e fazendo também o resguardo do que, hoje, amanhã também vai ser história.
Então, muito obrigado a todos aqui.
Quero contar também uma outra história rapidamente aqui. Quando o Max me convidou para ser Reitor, eu comentei com a minha filha Beatriz Marzano, que tem 9 anos. Ela, então, virou para mim e disse: "Papai, Reitor é como diretor da minha escola, é como funciona lá, não é?" Eu disse: "Isso mesmo". E ela: "Então, você tem que ser bravo e ter bastante conhecimento, porque senão não vai dar certo. Então, por favor papai, estude".
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Então, quero deixar esse recado aos próximos acadêmicos para que, com certeza, entrando no Grande Colégio de Ritos e já fazendo parte da Maçonaria, que é uma instituição que preza por isso, estudemos e tragamos mais conteúdos a todos.
Muito obrigado a todos.
Tenho dito. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) - Passo a palavra ao Sr. Max Hager, que é o Grande Chanceler e Presidente do Grande Colégio de Ritos.
O SR. MAX HAGER - ExSr. Senador Cristovam Buarque, que sucedeu o nosso Presidente, Senador Hélio, que não pôde continuar; meu nobre irmão que representa o Sereníssimo Grão-Mestre, irmão Cassiano, impossibilitado de aqui estar, junto ao nosso irmão Kennyo Ismail, por compromissos anteriormente agendados; e o nosso irmão Jafé Torres, que viria e, infelizmente, não pôde comparecer por estar se recuperando de uma cirurgia; meu Reitor, irmão Filipe Marzano; convidados; meus irmãos, eu tinha preparado um discurso em que elencava todos os movimentos, desde a criação do Grande Colégio de Ritos, como aconteceu em França, como chegou ao Brasil, qual era a finalidade do Brasil, qual era o objetivo do Grande Colégio.
Enfim, só que, em um determinado momento, uma das maiores mentes, uma das maiores autoridades do Senado brasileiro - por que não dizer da República? -, o Senador Cristovam Buarque, acabou conduzindo o meu discurso para outro caminho.
Não posso deixar de agradecer também aqui, antes de adentrar nesse assunto em especial, ao Senador que propôs essa pauta no dia de hoje, Senador Valdir Raupp, nosso irmão, irmão maçom, digno irmão maçom, ao qual agradeço aqui de público, em nome não só do Grande Colégio de Ritos, mas de todas as autoridades aqui presentes.
Mas, voltando ao que falava sobre o Colégio de Ritos, qual é o objetivo do Grande Colégio de Ritos? Vou ser bastante breve, porque quero voltar ao ponto que o nobre Senador elencou. O objetivo do Grande Colégio de Ritos atenta a uma máxima que é celebrada no Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito: de onde viemos, o que somos e para onde vamos.
Os nossos ritos atuais e tradicionais no Brasil - o Rito Escocês Antigo e Aceito; Rito Adonhiramita; o chamado Rito de York, que seria o Emulation; o Rito de York americano praticados por outras obediências também, infelizmente ainda não pelo GOB; o Rito Escocês Retificado; Moderno; todos os outros ritos - tiveram uma origem na sua organização, no seu nascimento original. Eles trouxeram tradições e ritos de outras organizações maçônicas que não mais hoje estão em voga, não funcionam mais.
Nós temos como um dos pilares da fraternidade o Salmo 133:
"Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.
É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla de suas vestes.
Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião
Salmos, porque ali o Senhor ordena a benção e a vida para sempre."
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Esse salmo não era original, por exemplo, do Rito Escocês, mas todos nós abraçamos esse salmo como um hino à fraternidade. Mas de onde veio esse salmo? O primeiro ritual que trata sobre esse salmo e que o trouxe é o Rito da Estrita Observância, que, em meados do séc. XVIII, trazia esse chamado à fraternidade.
Por sinal, a publicação anual que o Grande Colégio de Ritos proporciona para todos os seus membros, seus filiados, seus acadêmicos, assim chamados, a Collectanea, neste ano, trata sobre o Rito da Estrita Observância, seus rituais originais e mais dois graus do século XVII. Muitos irmãos já fazem os seus graus no rito escocês e em todos os outros ritos que aqui mencionei, mas, muitas vezes nós não entendemos o que aquele grau em especial quer transmitir, quer dizer. Nós não conhecemos a origem, e o objetivo do Grande Colégio de Ritos é justamente este: clarificar, trazer luz a rituais pelos quais muitas vezes passamos e que vão às vezes para o fundo da gaveta, e alguns irmãos pouco os estudam, infelizmente.
O Senador Cristovam Buarque falou uma coisa muito importante, entre muitas, no seu discurso. Hoje, nós vivemos, infelizmente, um país onde falta a razão, razão de propósitos, de ação, de efetivar aquilo em que acreditamos, e uma razão de lógica. No hermetismo, que vem de Hermes Trismegisto, é falado que, assim como é em cima, é embaixo. Não diferente da nossa Nação, a Maçonaria é constituída pelos brasileiros que vivem essa falta de razão, de propósito e de lógica.
Hoje, nós precisamos verdadeiramente de um novo rumo para a Maçonaria. É esse novo rumo que também a Maçonaria vai comemorar em 2022, fundado o Grande Oriente do Brasil, a obediência mãe da Maçonaria brasileira. Comemoraremos também o futuro Grão-Mestre que será eleito no ano que vem, os 200 anos da instituição Grande Oriente do Brasil, que consolidou a Maçonaria que já era praticada desde o séc. XVIII - desde mil, setecentos e alguma coisa -, no Brasil.
E a Maçonaria não pode render-se, como alguns querem, a medalhas e diplomas. Maçonaria é conhecimento. A Maçonaria precisa atentar ao conhecimento e privilegiá-lo. E, às vezes, quando falamos de conhecimento, muitos acabam se evadindo e fugindo desta grande responsabilidade que é conhecer.
Nós vimos a Coreia, um país estragado pela guerra, pobre, ignorante, dando um grande salto. Fundado em quê? Na educação. A Maçonaria precisa também legar aos seus membros, até para que possam não somente reverberar o que aparece, o que acontece nos WhatsApps de tantos telefones, que são reverberados para lá e para cá... Nós precisamos saber o que nós transmitimos, o que nós legamos. Nós precisamos de conhecimento e de estudos. Nós precisamos objetivar esse grande trabalho de reconstruir uma nação. Uma nação não pode ser constituída de mortadelas ou coxinhas, de vermelhos, ou verdes, ou azuis. A nossa Nação é de brasileiros.
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O Senador Hélio José, antes, aqui, atentou para o possível candidato que o nosso País vai ter, e eu fico muito feliz que o Senador Cristovam Buarque se lance como candidato para trazer realmente um verdadeiro debate limpo, claro, da responsabilidade que é ser Presidente da República. Infelizmente, nosso...
Não sei se o Senador terá sucesso ou não, porque, infelizmente, nosso povo, ignorante que é - perdoem-me, e me incluo nesse povo -, ainda vota como uma pule de cavalos. "Qual o cavalo está na frente? Ali eu voto". Mas nós precisamos de fé. Precisamos olhar no rosto de um político como V. Exª e ver ali representados todos aqueles arcanos, tradições que nós defendemos não só como maçons, mas como homens de bem. Nós precisamos de mentes privilegiadas como a de V. Exª, grande Reitor da UnB que foi, mas grande Senador que é, que leva para todo o Brasil a luta pelo conhecimento. E o Grande Colégio de Ritos junta-se ao senhor nesse trabalho hercúleo de levar e, pelo menos, buscar conhecimentos, não só para dentro da Maçonaria, mas para todo o mundo.
Termino lembrando um discurso feito dias atrás entre o Ministro Barroso e outro Ministro em que ele lembrava uma música do Chico Buarque. Ele só falou um pedaço da música, o final, que dizia que a raiva é filha do medo e mãe da covardia. A covardia nós maçons sofremos com os escravos que o ExSr. Senador lembrou. A raiva da Inquisição, pelo desconhecimento do que eram homens livres já na Idade Média trabalhando pelo conhecimento, levou muitos maçons à fogueira. A ignorância levou bulas papais a abolir e jogar no lixo maçons fieis à Igreja. E tudo é fruto do medo. A raiva nasce do desconhecido e, na melhor oportunidade de se fazer valer, apela para a covardia.
Mas, antes desse verso do Chico, a música dele começa exatamente com "Tem que bater, tem que matar, engrossa a gritaria". E isso é hoje o que nós vemos não só no Brasil, nas nossas fraternidades, nas nossas organizações. "Filha do medo, a raiva é mãe da covardia".
Nós não podemos, meus irmãos, dar lugar à covardia. Nós não podemos desconhecer. Nós não podemos permitir que a raiva esteja no coração de cada um - não somente os maçons, mas todos nós brasileiros. Não existe esquerda ou direita. Não existem coxinhas ou mortadelas. Existem brasileiros. E nós clamamos, desta Casa que outrora esteve no Palácio Monroe, no Rio de Janeiro, aquele palácio branco, límpido, alvo, que estava ali próximo da Cinelândia antes de chegar o Senado... E não só o Senado, mas toda a República veio para Brasília, num grande trabalho de Juscelino. Mas, quando ainda era no Rio de Janeiro, aquele palácio dava lugar a grandes maçons que trabalharam naquela Casa, a exemplo do Colégio de Ritos, Francisco Jê Acaiaba de Montezuma, José Francisco Rodrigues Torres e tantos e tantos Senadores - eu poderia passar o dia aqui falando o nome de grandes homens que forjaram esta Nação, que constituíram, consolidaram este País, uma Nação única, verdadeira, una, sem divisões.
E assim, sem divisões, nós precisamos continuar. Grande Oriente do Brasil, Grandes Lojas, Confederação da Maçonaria Simbólica, Comab, sem dissensão, sem divisões.
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O Brasil precisa de um novo rumo. O Brasil precisa ver em cada maçom, independente da sua tez, independente da sua obediência, em cada brasileiro, independente da sua opinião política ou ideologia, precisa ver ali um maçom, uma pessoa digna, um brasileiro.
Nós precisamos reconstruir mais do que a República, meus irmãos; nós precisamos reconstruir o Brasil. Que tenhamos sucesso!
Obrigado, Senador.
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) - Agradeço bastante a lucidez com que falou o Dr. Max Hager e agradeço também as referências pessoais a mim. Muito obrigado.
Eu fico feliz de ter estado aqui nesta sessão, que é transmitida em algum momento pela televisão, e eu espero preparar um pequeno prospecto dela para que o Brasil saiba da comemoração que estamos fazendo.
Eu não sou maçom, mas sou um grande admirador - além de que o meu pai foi maçom, o meu tio foi maçom - da luta de vocês nas histórias brasileira e mundial e também do que ainda podem fazer pelo Brasil daqui para frente. Daí a minha satisfação de ter estado aqui, como orador e como Presidente em uma parte.
E agradeço muito ao Senador Raupp, que, ao não poder vir, me chamou para estar aqui presente substituindo-o. Eu viria de qualquer maneira, mas aproveitei e presidi uma parte da sessão.
Agradeço ao meu colega Hélio José por presidir da abertura e dou por encerrada esta sessão, mas não por encerrada a nossa luta para trazer a razão para dentro da política.
E aproveitando algo que o senhor falou, eu fiquei pensando aqui: a raiva já levou a razão à fogueira - o senhor falou isso -; a gente não pode deixar que agora a raiva leve a razão para queimá-la nas urnas, porque estamos correndo esse risco.
Está encerrada essa sessão.
(Levanta-se a sessão às 12 horas e 22 minutos.)