4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
55ª LEGISLATURA
Em 23 de abril de 2018
(segunda-feira)
Às 10 horas
53ª SESSÃO
(Sessão Especial)

Horário

Texto com revisão

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A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.
A presente sessão especial destina-se a comemorar os 70 anos do 35 CTG, que serão celebrados amanhã, os 150 anos do Partenon Literário, os 80 anos da Sociedade Gaúcha de Lomba Grande e os 70 anos da Comissão Gaúcha de Folclore, cujo aniversário é hoje, nos termos do Requerimento nº 17, de 2018, de minha autoria e de vários outros Senadores, como o Senador Paulo Paim e o Senador Lasier Martins, do nosso Estado, além de outros apoiadores, Senadores de outros Estados.
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Eu convido para compor a Mesa as seguintes lideranças que são hoje homenageadas através das suas entidades: a Patroa do 35 Centro de Tradições Gaúchas, Gleicimary Borges da Silva Albrecht - um grande prazer ter, ao meu lado, uma mulher que honra as tradições gaúchas também; a representante do Partenon Literário, Srª Dinara Paixão, que representa o Presidente Benedito Saldanha; o Patrão da Sociedade Gaúcha de Lomba Grande, José Luiz Amaral Silveira; o Presidente da Comissão Gaúcha de Folclore, Octávio Cappuano; o representante da Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha, Rogério Bastos; o Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho, Nairo Callegaro; e o Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central, João Francisco Petroceli.
Convido todos os presentes, especialmente os que compõem esta Mesa, para, em posição de respeito, acompanharmos o Hino Nacional brasileiro e, em seguida, o Hino do Rio Grande do Sul, executado pelo cantor Gerson Rezende, acompanhado de violão e gaita.
(Procede-se à execução do Hino Nacional.)
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(Procede-se à execução do Hino do Rio Grande do Sul)
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A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Ilustres representantes da legítima tradição do nosso Rio Grande do Sul amado, caros convidados, tenho a satisfação de saudá-los, todos aqui presentes nesta cerimônia.
Eu queria dizer que, quando o Rogério Bastos, que representa a Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha, me encaminhou uma correspondência, ao gabinete, lembrando essas efemérides que reúnem as mais importantes instituições e entidades que têm como objetivo maior a preservação da memória, da cultura e da difusão desse valor imaterial que nós temos e que é a marca de um Estado com uma história política extraordinariamente rica, e quando eu li a carta, eu me lembrei da minha Lagoa Vermelha, do meu CTG Alexandre Pato, que tem uma das sedes mais bonitas porque está junto a uma reserva de vegetação nativa nos campos de cima da serra.
E me lembrei também de quando jovem, interna no Ginásio Rainha da Paz, naquela cidade, na minha cidade de Lagoa Vermelha, eu participava também do CTG e fazíamos apresentações na escola primeiro, no Colégio Rainha da Paz. Tenho fotos no meu gabinete desse tempo.
E aí a minha memória, saudosa dos tempos que não voltam mais, mas que nós temos obrigação de preservar, reafirmando numa sessão como esta no Senado Federal, que é a Casa da República e que é a representante legítima, por isso são três Senadores por Estado... O Art. 53 da Constituição diz que esta é a Casa que representa igualmente os interesses dos Estados. Portanto, chamada também a Casa da República, pelas questões federativas que aqui trata.
Nada mais justo, portanto, que neste dia, precisamente hoje, comemoremos um dos aniversários das homenageadas - que faz o seu aniversário hoje, o dia 23 de abril, porque em 1948 a Comissão Gaúcha de Folclore foi fundada - e o do 35 CTG, que será no dia 24 (portanto amanhã será a data do aniversário dos 70 anos do 35 CTG), que foi um dos pioneiros das tradições gaúchas com essa criação. E eu queria lembrar que talvez muitos dos líderes não imaginariam que esse movimento ganhasse o norte, o sul, o leste e o oeste, os mais longínquos rincões do nosso Rio Grande do Sul e do nosso Brasil.
Há 70 anos, oito jovens estudantes do interior do nosso Estado deram o primeiro passo de uma caminhada que se espalharia pelo mundo, semeando, cultivando e colhendo a cultura e a tradição dos gaúchos. Talvez nem mesmo Paixão Côrtes, que liderou a criação do Departamento de Tradições Gaúchas no Colégio Júlio de Castilhos, lá em Porto Alegre, na década de 1940, teria ideia das proporções que os Centros de Tradições Gaúchas tomariam ao longo das décadas. Eles se expandem, até hoje, no Território brasileiro e também no mundo. Hoje, são mais de 3,7 mil CTGs espalhados no Brasil - mais de 1,7 mil só no Rio Grande do Sul - e milhares espalhados pelo mundo, indo do Uruguai até a longínqua China, lá na Ásia.
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O nome do primeiro CTG foi escolhido pelos jovens que integravam o Grupo dos Oito. Surgiram oito propostas, todas em homenagem a 1835, data do início da Revolução Farroupilha. Barbosa Lessa, um dos melhores escritores que nós temos da cultura gaúcha, sugeriu o 35 CTG, decidindo a seguir que deveria ficar tão somente 35 Centro de Tradições Gaúchas.
A Chama Crioula, que ilumina piquetes e galpões em todo o Brasil a cada 20 de setembro, nasceu também em 1947. Foi do Grupo dos Oito a iniciativa de retirar uma centelha do Fogo Simbólico da Pátria e criar a Chama Crioula, acessa em todos os Municípios gaúchos a cada Semana Farroupilha. Aqui em Brasília não é diferente, com o Centro de Tradições e pelas entidades que representam o nosso tradicionalismo.
E assim como a Chama Crioula, a tradição e o folclore seguem acessos com os gaúchos onde quer que andem. Essa valorização ao longo do tempo é possível graças ao trabalho das entidades como a Comissão Gaúcha de Folclore, fundada em 1948, liderada por décadas pelo incansável batalhador Dante de Laytano, outra figura notável das nossas letras e da nossa história, e hoje também homenageada nesta sessão, exatamente pelo símbolo da comemoração do aniversário.
Lembro-me também da importância do Partenon Literário, que completa 150 anos em 2018, aqui representado por Dinara da Paixão. O Partenon, sediado em Porto Alegre, foi fundado em 1868, tendo entre seus fundadores o médico e escritor José Antônio do Vale Caldre Fião - às vezes, a gente vê o nome de uma rua e não sabe da origem e o porquê, pois existe a Rua Caldre Fião lá no morro quando a gente ia para a nossa TV difusora, hoje Bandeirantes -, presidente honorário, e o jovem Apolinário José Gomes, de Porto Alegre, que também estava junto.
A diversidade étnica do nosso Estado, do Rio Grande do Sul, também faz parte da cultura e da tradição do nosso Estado. Em 1938, um grupo de 22 amigos, todos de origem alemã, reunidos no salão Allgayer, no Distrito de Lomba Grande, na época pertencente ao Município de São Leopoldo, fundaram uma entidade com o objetivo de cultuar as tradições do Rio Grande, inicialmente chamada de Sociedade Gaúcha de Lomba Grande, hoje comemorando 80 anos.
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A paixão e o entusiasmo dessas entidades que hoje homenageamos e de cada recanto gaúcho espalhado pelo mundo possibilitam que a história do nosso Rio Grande do Sul continue sendo contada através do canto, através da música, através da sua culinária, através do churrasco, através das nossas tradições e de tantas outras manifestações culturais, que nos orgulham muito, a começar pela nossa indumentária, diferente das demais indumentárias e que encanta todos.
A pilcha, que acabei de falar, o chimarrão, os bailes ali da campeira, a poesia, a música identificam o gaúcho e seguem firmes e fortes graças ao trabalho de todas essas entidades.
Além do que temos movimentos que anualmente celebram, como na minha Lagoa Vermelha, a Festa Nacional do Churrasco. Há um prato mais típico que o churrasco, que hoje é servido em mesas de todo o mundo, inclusive na China ou na Rússia, e em todas as cidades brasileiras? Talvez o restaurante mais frequentado seja sempre uma churrascaria. E não raro os garçons estão pilchados de gaúchos, porque isso é também uma marca de preservar essa tradição. E tenho visto isso aonde vou, nos mais longínquos rincões, inclusive em Manaus e outras cidades do nosso Nordeste, do nosso Norte, do nosso Centro-Oeste, em que estão lá os gaúchos representados.
Na minha cidade de Lagoa Vermelha, além desse CTG de Alexandre Pato, é feita a Festa Nacional do Churrasco, com grande afluência de público, pela qualidade do que nós consideramos o melhor churrasco do mundo, com respeito e atenção a todas as outras cidades gaúchas que também pensam que fazem um bom churrasco. Mas nós, de Lagoa Vermelha, temos essa honra e esse orgulho de dizer que é o melhor churrasco, porque temos não só a qualidade da carne como também os cortes feitos de forma diferente de qualquer região do Estado do Rio Grande do Sul, a maneira de preparar, a madeira dos espetos usados para fazer o churrasco. E se criou também uma iguaria que é inigualável: a linguiça campeira cortada à mão, temperada com um tempero verde de gosto caseiro. E assim temos o orgulho de dizer que temos o melhor churrasco do mundo.
E muitos dos Senadores aqui já provaram dessa iguaria e são também testemunhas de que não se trata de propaganda enganosa. A Senadora está falando a verdade. Temos em Lagoa Vermelha um grande churrasco.
Ao pronunciar essas palavras, cito a letra do nosso Hino que ouvimos aqui: "Sirvam nossas façanhas de modelo a toda Terra" e "Povo que não tem virtude acaba por ser escravo".
Apenas duas frases da composição que nos orgulha muito, é um hino curto. E todos dizem que talvez só outro Estado, o Pernambuco, se assemelha ao Rio Grande do Sul, porque nós defendemos o território, a integridade do território. Dizem até que os pernambucanos são os gaúchos a pé. E gaúchos andam, na minha imagem, na campanha a cavalo, na vida campeira. Então, isso também rememora o valor, o amor e a apreciação que todos têm em relação ao que representa a forte cultura gaúcha.
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Aqui, próximo, no Município de Formosa, há um CTG muito ativo, com atividades semanais. Isso nos orgulha muito.
Aqui, em Brasília, na Capital da República, faço lembrança da memória de três líderes políticos que lideraram aqui a então Estância Gaúcha do Planalto: o ex-Ministro Aldo Fagundes, o ex-Ministro Guido Mondin e o ex-Deputado Nelson Marchezan. Isso deu a Brasília uma movimentação muito extraordinária. Nosso querido Aldo Fagundes é lá do Alegrete - e o nosso representante aqui do Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central, o João Francisco Petroceli, me disse que é de Alegrete, num tom de voz de um fronteiriço, que fala com tom firme. A origem de Nelson Marchezan é em Santa Maria, e o nosso Ministro Guido Mondin, em Caxias do Sul.
(Intervenção fora do microfone.)
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Também a Dinara aqui é de Santa Maria.
Eu quero dizer para vocês que é uma junção de Municípios, de regiões e também de origens. Há o pelo duro, como nós chamamos, em que não há uma integração étnica, mas há também a origem italiana, a origem alemã e outras origens, que também fazem, no Estado do Rio Grande do Sul, a preservação da tradição italiana, da tradição alemã, da tradição polonesa e de todas as outras tradições, como árabes e judeus, que fazem as suas celebrações, o que enriquece e integra ainda mais a nossa rica cultura gaúcha.
Feita essa manifestação, eu queria convidar, de pronto, a nossa Patroa... E aqui fico também muito feliz, como Senadora do Rio Grande, ver que, nesta mesa, que costuma ser ocupada só por homens, dependendo da cerimônia, hoje três mulheres estão aqui fazendo a representação das suas entidades. Em homenagem a esta mulher, que está esperando um gauchinho...
(Intervenção fora do microfone.)
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - É uma prendazinha, para também vestir com essa roupa bonita do vestido da prenda, da pilcha, usada também pela nossa tradição. Então, eu convido a Gleicimary para fazer uso da palavra em nome da sua entidade, como Patroa do 35 Centro de Tradições Gaúchas - se você preferir usar esta tribuna, ela está aqui, e há a outra tribuna ali, Gleicimary, pois ela talvez fique mais confortável, pois é mais perto.
A SRª GLEICIMARY BORGES DA SILVA ALBRECHT - Bom dia, Senadora, demais autoridades e amigos da comitiva do Rio Grande do Sul que nos acompanham neste momento tão especial.
Todos os simpatizantes dessa nossa cultura tão maravilhosa eu saúdo neste momento e renovo os votos de reconhecimento, Senadora, pela tão especial lembrança desta que é a marca mais importante de todos nós tradicionalistas, o culto às nossas tradições, que são referenciadas através dessas entidades que lutam diariamente há tantos e tantos anos, há décadas, para sobreviver em meio a esta sociedade em que vivemos; e todos os Senadores, pois soube, sim, que não foi somente a Senadora Ana Amélia Lemos que aceitou a proposta de homenagear essas entidades pioneiras, mas os demais Senadores, como o Senador Paulo Paim e outros, também se somaram a esse esforço.
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É muito importante para nós estarmos aqui, nesta Casa, falando da tradição gaúcha, falando da nossa história, do legado dos nossos antepassados e da preservação que nós hoje buscamos concretizar através da preservação das nossas tradições, dos atos e dos usos e costumes da nossa terra.
É verdade, Senadora, que todos os continentes hoje cultuam, de alguma forma, a nossa cultura gaúcha. O Brasil inteiro simpatiza por essa cultura tão rica. E é motivo de muito orgulho para todos nós tradicionalistas observarmos que onde estivermos sempre estaremos sendo referenciados através de manifestações de carinho e preservação da nossa cultura nos mais longínquos rincões.
O 35 CTG, fundado em 24 de abril de 1948, traz consigo essa essência juvenil daqueles jovens que, inconformados com o cenário da época pós-Segunda Guerra Mundial, encontravam-se na capital de todos os gaúchos. Naquele momento, eles que, vindos do interior do Estado, traziam a ânsia campesina das suas lides lá nas instâncias, nos rincões simples - e é uma das principais características do homem gaúcho a simplicidade, a humildade, o respeito e os valores que são preservados no seio dos galpões de CTGs - trouxeram para a capital de todos os gaúchos essa habilidade e essa forma de cultuar e, principalmente, de relembrar o homem do campo. Esse foi o objetivo principal. Nós sabemos e respeitamos que outras entidades estiveram antecedendo essa iniciativa desses jovens, mas sabemos também que foi no 35 CTG, através dessa ânsia juvenil de fazer tradição de forma organizada, que o movimento tradicionalista tomou alicerce, base, e, a partir daí - como diziam os nossos fundadores -, o 35 CTG deu passos para esse movimento que surgia.
Eu agradeço, neste momento - e é muito importante relembrar, nesta data especial em que comemoramos 70 anos -, a todos os fundadores, àquelas personalidades que nos antecederam e que nos deixaram esse legado de preservação à cultura gaúcha, a tantos e tantos intelectuais, ao Partenon Literário, à Sociedade Gaúcha de Lomba Grande, e a tantos outros que trouxeram a sua marca a esse Rio Grande. Hoje, esse movimento se tornou, sim, o maior de todos os movimentos sociais, cívicos e culturais do mundo.
Ao Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho, que guia esse trajeto árduo em meio a essa sociedade, Presidente Nairo, o meu agradecimento muito especial, como patroa desta entidade pioneira.
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Não é uma tarefa fácil. Estamos vivendo um momento muito turbulento, em uma sociedade que oferece todos os tipos de outras culturas diversas aos nossos jovens, às nossas crianças, que nos proíbe às vezes de viver dentro de um galpão tradicional, em que temos que nos adaptar a várias inserções que a modernidade nos impõe. Mas lutamos arduamente, lado a lado, para nos sobressairmos diante dessas adversidades.
E, dentro da realidade, da possibilidade, que nós possamos manter de portas abertas esses galpões, que nada mais são do que templos de cultura gaúcha, lugares onde a família está presente, Senadora, onde a criança e o idoso mais experiente mantêm a mais fraternal convivência.
E eu acredito que o Movimento Tradicionalista Gaúcho, nos tempos de hoje, ele, sim, tem o seu maior legado, que é manter vivos esses valores, que são valores autênticos da nossa cultura gaúcha, os de mantermos a boa convivência entre todas as gerações.
Muito obrigada, mais uma vez.
E desejo vida longa a esse Movimento Tradicionalista Gaúcho, a todas as entidades pioneiras, às demais que nos sucederam e ao "35" CTG, que amanhã comemora os seus 70 anos.
Muito obrigada. (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Muito obrigada, nossa Patroa do "35" CTG, que fez um brilhante pronunciamento, chamando atenção àquilo que é o valor maior, que é a preservação da cordialidade, do respeito, sobretudo introduzindo a união da família, porque a cultura gaúcha, precisamente no CTG, é isso.
Você deu uma boa contribuição e revelou a sua competência, porque não é fácil.
Ela falou de improviso - e eu cuido muito disso - um discurso muito bonito, além de uma pessoa muito bonita, uma mãe muito bonita. Então, Gleicimary, parabéns pelo seu pronunciamento, que nos encantou a todos.
Eu queria registrar aqui, nesta nossa cerimônia, primeiro os visitantes que vieram de escolas e que estão visitando, aqui, o plenário do Senado.
Para vocês saberem, nós estamos aqui fazendo uma sessão especial, comemorativa aos 70 anos do "35" CTG - CTG quer dizer Centro de Tradições Gaúchas, vocês que não são daqui -; os 150 anos do Partenon Literário; os 80 anos da Sociedade Gaúcha de Lomba Grande; e os 70 anos da Comissão Gaúcha de Folclore, cujo aniversário é hoje. E o do "35", amanhã, 70 anos.
Os jovens que estão aí são do Centro Educacional de Inteligência, do ensino fundamental, da cidade satélite de Taguatinga.
Então, sejam bem-vindos aqui, nesta visita, nesta cerimônia.
Eu queria também agradecer a presença do Embaixador da Malásia. O Embaixador da Malásia está aqui presente, Lim Juay Jin. Ele disse que a dança típica gaúcha lembra alguns passos da dança portuguesa, que, também lá na Malásia, no país de que ele é o representante no Brasil, também representa muito a identidade do nosso... E que nós também... Tem a ver a nossa vestimenta: a nossa pilcha - o som e a música também - tem os traços de uma contribuição portuguesa muito forte.
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Queria agradecer à Nara Regina Severo Lucas, que é Patroa do CTG Estância Gaúcha do Planalto, a que eu fiz referência, e aos músicos já registrados: o Gerson Rezende, que é de Goiás, que cantou; o Fernando Eckert, que é o que tocou o acordeon, a gaita, que é de Tapera; e também ao Vinícios de Moraes - que nome, tinha que tocar violão -, de Ijuí. Então, à Patroa e aos músicos, muito obrigada pela presença aqui neste evento.
Queria também agradecer a presença do Gerente-Geral do Banrisul, Guilherme Lima, do Gerente de Negócios do Banrisul, Renato Oliveira Teixeira. Nós sempre que vimos a representação dos valores imateriais, o Banrisul é uma marca como o Internacional, como o Grêmio, como o churrasco, como a bandeira do Rio Grande, como o chimarrão, são os símbolos de valor imaterial da nossa cultura.
Queria também saudar a 1ª Prenda do "35" CTG, Kristine Sheila Schuster - muito obrigada, Kristine, pela presença aqui -; a 1ª Prenda Juvenil do MTG, Mayara Ancelmo Sima - obrigada pela presença, Mayara -; o posteiro jurídico da Estância Gaúcha do Planalto, Iân Rodrigues Dias.
À medida que forem chegando os nomes, nós vamos fazendo a leitura de todos.
Queria só pedir desculpas ao Rogério Bastos, que na taquigrafia que foi aqui preparada pela Mesa, falou-se de uma entidade, confederação. Não, na verdade, o Rogério Bastos é da Comissão Gaúcha de Folclore, que já está junto com o Presidente da Comissão, o Octávio Cappuano, que vai fazer a sua exposição em seguida.
Eu queria convidar agora para fazer uso da palavra, entre os nossos convidados, outra mulher, a Presidente do Partenon Literário, Dinara Paixão.
A SRª DINARA XAVIER DA PAIXÃO - Representante.
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Representante... Hoje você é Presidente, aqui você é Presidente. (Risos.)
A SRª DINARA XAVIER DA PAIXÃO - Bom dia. Inicialmente, a minha saudação à Senadora Ana Amélia, aos demais integrantes da Mesa e a todos os presentes, às pessoas que nos assistem pela TV Senado.
Iniciando pelo agradecimento pela oportunidade de estarmos aqui, no plenário do Senado. E, como já foi referido, com certeza, as pessoas que iniciaram os movimentos, o Movimento Tradicionalista, o "35", a Comissão Gaúcha de Folclore, a Sociedade Lomba-Grandense e o nosso Partenon Literário, com certeza, jamais imaginariam a grandiosidade do seu início - digamos assim -, da sua ideia, da sua iniciativa.
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Que isso sirva de exemplo para cada um de nós. As nossas iniciativas, por menores que sejam, podem, sim, refletir grandes mudanças. Elas podem, sim, refletir a perpetuação de valores, a perpetuação de ideias.
Eu acho que esse talvez seja o ensinamento principal da sociedade Partenon Literário. É uma sociedade que, não diferente das outras, se iniciou com jovens, com os irmãos Porto Alegre, em especial o Apolinário Porto Alegre. Quando a Senadora repete a quantidade de ruas de Porto Alegre, isso lembra aqueles iniciadores da Sociedade Partenon Literário, exatamente porque, no Centenário de Fundação, houve toda uma mobilização no sentido de se conhecer essa contribuição da Sociedade Partenon Literário.
Quando a gente fala Partenon Literário, segundo os historiadores, é o primeiro movimento lítero-cultural do Brasil. E se fala em Partenon Literário, mas não são somente as letras. Acredito que a maior contribuição do Partenon é nos trazer a ideia de que precisamos tornar realidade aquilo que pensamos.
A Sociedade Partenon Literário foi uma entidade que defendeu temas - alguns que já conseguimos superar; outros que continuam mais atuais do que nunca. A Sociedade Partenon Literário defendeu a abolição da escravatura, mas não defendeu apenas nas ideias. Os seus integrantes realizavam quermesses e buscavam recursos para alforriar escravos. A Sociedade Partenon Literário defendeu que as pessoas precisam ler e escrever, que isso liberta, mas eles não ficaram só nas ideias. Eles proporcionavam aulas gratuitas para as pessoas.
A Sociedade Partenon Literário deu voz à mulher. Luciana de Abreu é um nome, é um ícone em defesa do sexo feminino, talvez uma das nossas primeiras tribunas. E quanta realidade há nisso? Quanto ainda precisa ser feito?
A Senadora lembrava o fato de estarmos em três mulheres. Por que se lembra essa diferença ainda? Talvez porque as mulheres ainda não tenham chegado aos postos que talvez pudessem alcançar e, toda vez que a gente tem algum tipo de destaque, sempre a primeira pergunta é: "Mas como foi para chegar até aqui?" Como se isso não fosse natural, pela competência.
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Então, acredito nessas iniciativas, nessas ideias defendidas pela Sociedade Partenon Literário, em 1868. Nós não estamos falando de temas atuais; nós estamos falando de importância de educação, nós estamos falando de importância de cultura, nós estamos falando de emancipação da mulher - e vejam que nós estamos falando de 1868. Este talvez seja o principal legado do Partenon Literário: aquilo que a gente pensa a gente pode realizar.
Essa sociedade que editou revistas e que teve uma atuação forte ao longo de muito tempo também sofreu, digamos, a sua decadência e, por muito tempo, esteve desaparecida. Em 1997, um grupo recomeçou essa entidade com uma nova proposta, mas principalmente buscando orientar as suas ações a partir daquilo que foi a Sociedade Partenon Literário.
Eu trago para a Senadora um exemplar da edição mais recente da publicação que anualmente a Sociedade Partenon Literário faz, com lançamento na Feira do Livro em Porto Alegre. Eu gostaria de destacar do texto que eu mesma escrevi algumas questões que dizem o seguinte:
O sesquicentenário da primeira sociedade literária e cultural do Brasil, estudada e saudada pela comunidade acadêmica, encantada com a produção literária de seus membros está chegando [18 de junho de 1868; portanto, em 2018, 150 anos]. Será, também, a comemoração de duas décadas da nova Sociedade Partenon Literário.
Separadas por cento e trinta anos de história, apesar do nome que as identifica, muitas são as diferenças. A evolução no contexto sociocultural e econômico aboliu algumas das lutas iniciais, mas solidificou as bases para outras lutas, que continuam mais atuais do que nunca.
A entidade [...] [atual] é fruto da cultura centrada em três ênfases: a simbólica, a cidadã e a econômica. Expressada pela literatura, a simbologia que retrata a vida contemporânea em comunhão com a História dá voz para todas as pessoas, permitindo-lhes expressar angústias, ou demonstrar momentos de rara beleza e alegria. Além disso, proporciona a oportunidade de publicação e gera a movimentação da indústria que depende da produção literária.
O grupo atual é heterogêneo em suas profissões ou formações intelectuais, caracterizadas...
(Soa a campainha.)
A SRª DINARA XAVIER DA PAIXÃO -
... por distintas titulações acadêmicas, dentre as quais a literatura não é a atividade principal. Isso confere a característica singular do grupo, que é a motivação e o amor pela literatura, enquanto arte e forma de expressão.
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O empenho de tantas pessoas tem demonstrado, ao longo desses 20 anos, que é possível a manutenção dos ideais de liberdade e de valorização da pessoa humana. Além disso, o ensinamento de que a educação e a cultura são as grandes forças motrizes, para as necessárias mudanças, no caminho da humanidade, continua mais atual do que nunca.
Portanto, há 20 anos uma nova entidade revive a história sesquicentenária de outra, e o que as une é o afã de reunir pessoas ávidas pela construção de saberes culturais e artísticos, capazes de apoiar o desenvolvimento humano em sua plenitude.
Muito obrigada a todos. Muito obrigada, Senadora.
E eu passo às suas mãos um volume, então, do livro Vozes do Partenon Literário.
Muito obrigada. (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - A nossa Dinara Paixão representou aqui o Presidente do Partenon Literário, que é o Benedito Saldanha. E ele fez muito bem em ter encaminhado uma representante com a sua qualidade e com a sua serenidade nesse pronunciamento, que destaca - e agradeço muito - Vozes do Partenon Literário, com os textos que aqui estão, muito importantes. Agradeço de coração.
E quero dizer que uma das suas afirmações fundamentais é desse trabalho que o Partenon fez, de alfabetizar os analfabetos. E talvez o maior valor da cidadania seja exatamente a alfabetização e a educação. Enquanto nós não soubermos, não apenas porque não está alfabetizado quem apenas sabe escrever o seu nome... Mas a pessoa que é capaz de ler e entender o que está lendo. E isso vai lhe dar os seus direitos.
Ela também mencionou a lembrança de eu ter citado, e também a nossa Gleicimary fez a referência de três mulheres aqui. Veja só: apesar de hoje haver essa representação, em 194 anos de Senado Federal, o Rio Grande do Sul só teve duas Senadoras mulheres: Emília Fernandes e, com muita honra, eu, hoje Senadora do Rio Grande do Sul. Em 200 anos de Assembleia Legislativa do nosso Estado, só no ano passado tivemos, pela primeira vez, uma mulher presidente da Assembleia, Silvana Covatti. Então, com isso, nós podemos interpretar que as mulheres estão, através da cultura, através da arte, através da política também... E aqui eu expresso um desejo de que as mulheres tenham essa preocupação, porque, com a sensibilidade, com a intuição, com a competência, com a dedicação, podem, sim, compartilhar com os homens as responsabilidades para que nós construamos um país melhor.
Eu tenho uma lembrança muito grata, meu caro Presidente, Nairo Callegaro, de ter estado presente em Bagé no evento em que, no Rio Grande do Sul, o MTG faz a escolha da primeira prenda. E é um evento... E, aí, me remete ao que a nossa Gleicimary falou: a família toda reunida, lá, porque a disputa não é apenas de beleza de uma primeira prenda, mas é uma disputa que coloca as candidatas de todos os Municípios a aprenderem mais da história gaúcha, a conhecerem mais da culinária do nosso Estado, seja através da nossa literatura, da história mesmo do Estado, da rica história que temos e da convivência.
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Então, eu fiquei muito impressionada ao participar, ano passado, em Bagé, daquele evento, daquele certame que escolhe a primeira prenda.
Não, ela não é submetida apenas a um teste de beleza, mas a um conjunto de virtudes e de qualidades que uma mulher gaúcha tem que representar.
Então, parabéns também por continuar com esse esforço. É aquilo que a nossa Gleicimary falou: há pressão de outras culturas, que querem eu não diria impor, mas introduzir na nossa juventude culturas que sejam diferentes e, às vezes, até menosprezar aquela riqueza que nós temos da nossa forte cultura, que é a nossa indumentária, que é a nossa tradição, que é a nossa forma de ser. E nós temos isso através desse movimento.
Eu agora convido, então, para fazer uso da palavra, o Patrão da Sociedade Gaúcha de Lomba Grande, José Luiz Amaral Silveira, antes saudando os aprendizes do Ensino Social Profissionalizante (Espro) aqui de Brasília, do DF. Sejam bem-vindos.
Nós estamos fazendo uma sessão especial para o Rio Grande do Sul. Eu não sei se algum de vocês nasceu no Rio Grande ou tem parente no Rio Grande...
São daqui do Distrito Federal. Mas sejam bem-vindos a esta festa que celebra os 70 anos do 35 CTG, os 150 anos do Partenon literário, os 80 anos da Sociedade Gaúcha de Lomba Grande e os 70 anos da Comissão Gaúcha de Folclore, tudo voltado à cultura, para enriquecer o desenvolvimento cultural, econômico e social da nossa sociedade do Rio Grande do Sul.
Com a palavra o Patrão da Sociedade Gaúcha de Lomba Grande, José Luiz Amaral Silveira.
O SR. JOSÉ LUIZ AMARAL SILVEIRA - Cumprimentando a Presidência da Casa, cumprimento as demais autoridades presentes na Mesa. Também cumprimento as demais entidades homenageadas neste dia.
Eu estou no cargo de Patrão da Sociedade Gaúcha de Lomba Grande. Eu queria agradecer o convite para representar a sociedade gaúcha, em meu nome e em nome de todos os que me antecederam, que trabalharam muito para que essa entidade se mantivesse firme e pulsante nestes seus 80 anos, sempre mantendo o seu lema, que é "preservando as tradições".
A Sociedade Gaúcha de Lomba Grande foi fundada em 31 de janeiro de 1938, sendo a quinta entidade mais antiga do Estado. Foi fundada por 22 descendentes de imigrantes alemães que, por estarem em uma zona rural do Município de Novo Hamburgo, estavam integrados aos costumes gaúchos. Gostavam de estar sempre pilchados e com seus cavalos bem encilhados.
O objetivo da Sociedade seria: fazer exercícios a cavalo, como tiro de laço, prova de rédeas, e praticar lança ao couro, um esporte de origem germânica; simbolizar o primitivo gaúcho; estar nos eventos bem pilchados e com os seus animais bem encilhados; elevar o espírito de camaradagem e distração dos sócios, como bailes, saraus culturais etc.
Desde sua fundação até a construção de sua sede definitiva, funcionou como departamento na Sociedade de Atiradores de Lombra Grande.
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Hoje a Sociedade Gaúcha Lomba Grande funciona em sua sede própria de 14 hectares. Possui dois galpões para a realização de eventos artísticos, com capacidade, nos dois galpões, de 1.500 pessoas. Temos também espaços para eventos campeiros, como a Cancha de Laço Oficial, e um belo parque para acampamentos.
A entidade também é conhecida pelos bailes nas terças-feiras, sempre com janta bem gaúcha, também abrilhantados por grupos de expressão, como Monarca, Serranos, João Luiz Corrêa, etc.
Também sediamos encontros anuais de carreteiros, colonos da região que fazem um resgate dos tempos em que a produção era transportada em carros de boi. Na última, realizada em março de 2018, estiveram no desfile 300 carretas. Também sediamos, neste ano, o 30º Entrevero Cultural de Peões.
Enfim, teria muita coisa para falar dessa octogenária entidade. Ela tem muito a oferecer a seus visitantes.
Um abraço a todos e esperamos recebê-los em breve.
Quando forem a Nova Hamburgo, visitem-nos. Será um enorme prazer recebê-los.
Obrigado. (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Muito obrigada, e parabéns pelo trabalho que vem realizando. E também pela manifestação, reconhecendo todos aqueles que, de uma forma ou de outra, colaboram para o engrandecimento desse movimento, desse trabalho.
Eu quero saudar também alguns outros convidados: o Patrão do Centro de Tradições Gaúchas, Jayme Caetano Braun; Gilberto José Zortéa; o Diretor-Geral da Federação Tradicionalista Gaúcha do Planalto Central, Wilson da Silva Porto. Quero também saudar a Patroa, como já fiz referência, da Estância Gaúcha do Planalto Central, Nara Lucas; a Diretora Cultural do MTG, Juliana Petrocelli; o Presidente da Comissão de Ética do MTG do Planalto Central, Edson Flores; e a Conselheira Suplente do MTG do Planalto Central, Maria das Graças Amaro da Silveira. Também quero dizer que estão aqui presentes, da Sociedade Gaúcha da Lomba Grande, além do Patrão, Marilda Fátima Spanemberg, Adilson Pinto, Roseli Salete Sider, Rodolfo Deti e Úrsula Deti. Então, a todos vocês muito obrigada pela presença.
E convido agora, de imediato, para fazer uso da palavra, o Presidente da Comissão Gaúcha de Folclore, Octavio Cappuano.
O SR. OCTAVIO CAPPUANO - Senhoras e senhores.
Srª Presidente da Mesa, Senadora Ana Amélia, uma saudação da Comissão Gaúcha de Folclore. E eu quero deixar aqui, de público, os agradecimentos e aplausos à iniciativa do nosso Diretor de Comunicação, Rogério Bastos, por ter enviado a esta Casa essa correspondência que, tão prontamente, a nossa querida Senadora Ana Amélia acolheu, para que todas essas entidades que aqui estão presentes fossem homenageadas no dia de hoje.
Como eu não sou tão prolixo como os oradores que me precederam, vou ler aqui, em rápidas palavras, o histórico da Comissão Gaúcha de Folclore.
Não poderíamos falar dos primórdios da Comissão Gaúcha de Folclore sem falar na Comissão Nacional de Folclore, já que a Comissão Gaúcha de Folclore surgiu por iniciativa da primeira e a ela está vinculada.
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A Comissão Nacional de Folclore foi criada no Rio de Janeiro, com sede no Itamaraty, representando uma das comissões do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura, que é a Comissão Brasileira da Unesco. A iniciativa foi de Renato de Almeida, diplomata, musicólogo, escritor, professor e diretor do Liceu Francês, no Rio de Janeiro, com sede no Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura.
Juntamente com alguns dos maiores intelectuais da época, como Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Cecília Meireles, Renato de Almeida iniciou os estudos e pesquisas sistemáticos do folclore. A seguir convocou outros estudiosos, como Villa Lobos, Gustavo Barroso e muitos outros, para as atividades de estudo, pesquisa e análise de fatos do folclore.
A Comissão Nacional promoveu encontros, seminários, congressos, semanas do folclore, e editou livros, folhetos e material de divulgação das atividades no campo do folclore.
A Comissão Nacional de Folclore funcionava no Itamaraty e funcionou por muitos anos, mesmo depois da inauguração de Brasília, com a consequente mudança dos órgãos oficiais para a nova Capital.
Simultaneamente, esses estudos foram divulgados em todo o País, e a Comissão se multiplicou em muitos Estados, na forma de comissões estaduais.
Histórico da Comissão Gaúcha de Folclore.
Podemos dividir o histórico da Comissão Gaúcha de Folclore em dois momentos ou fases: a primeira fase teve início em 23 de abril de 1948 - de aniversário, então, hoje. A segunda fase, em 1992.
Em 1948, a Comissão Nacional de Folclore voltou-se para a organização de grupos de intelectuais que se dispuseram a assumir e incentivar os estudos de folclore em cada Estado brasileiro. Contatou estudiosos, e foram sendo criados núcleos estaduais, organizações similares em nível estadual, com o objetivo de incentivar os trabalhos de levantamento do folclore brasileiro.
Em sua formação inicial, a Comissão Gaúcha de Folclore teve como membros 32 intelectuais de diversas áreas do conhecimento, a seguir: Adão Carrazoni, Aldo Obino, Athos Damasceno Ferreira, Darcy Azambuja, Elpídio Ferreira Paes, Ênio Freitas Castro, Érico Veríssimo, Ernani de Carvalho Heffner, Fernando Corona, Guilhermino César, João Carlos Paixão Cortes, Luis Carlos Barbosa Lessa, Luiz Carlos de Morais, Manoelito de Ornelas, Moysés Vellinho, Othelo Rosa, Tony Seitz Petzhold, Walter Spalding, Antônio Luz, Ivo Caggiani e tantos outros.
Durante os 50 anos seguintes, a Comissão Gaúcha de Folclore, tendo à frente o incansável batalhador Dante de Laytano, participou de inúmeros congressos, seminários, semanas de folclore, cursos, e seus membros proferiram conferências, palestras e publicaram dezenas de obras resultantes de pesquisas de campo e de bibliográficas.
A Comissão Gaúcha de Folclore foi órgão independente e nunca recebeu verbas oficiais. Sempre se manteve pela força de vontade e colaboração de seus membros. Funcionava nas residências de seus membros, especialmente na casa de Dante de Laytano. E, em muitas ocasiões, nas dependências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde muitos de seus membros eram docentes.
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Na década de 1980, houve um esvaziamento devido a idade avançada do Presidente Dante de Laytano - que, por mais de 40 anos, comandou a comissão - e de outros membros, que, por falta de condições físicas, foram afastados.
Tem início, então, a segunda fase.
Tendo em vista este fato, a Comissão Nacional de Folclore, representada pelo então Vice-Presidente Prof. Bráulio Nascimento, foi a Porto Alegre, e, em visita ao Prof. Dante de Laytano, foi ajustado que haveria uma continuidade, agora sendo encarregada da reestruturação a Profª Lilian Argentina Braga Marques, renomada folclorista gaúcha - que seria no momento a Presidente-Executiva -, para compor esse grupo de pesquisadores que passariam a integrar a Comissão Gaúcha de Folclore.
Aos 22 dias do mês de setembro de 1992, realizou-se a primeira reunião do novo grupo, composto pelos sócios-fundadores da segunda fase, que ficou assim constituída: como Presidente de Honra, o Professor Dante de Laytano; como Presidente-Executiva, Lilian Argentina; e como membros, José Roberto Diniz de Moraes, Harri Rodrigues Bellomo, Oliveira da Silveira, Moema Santos Morales, Cristina Rolim Wolffenbüttel, Paula Simon Ribeiro, Sônia Teresinha Siqueira Campos, Carmem Sousa de Sousa, Estelita Aguiar Branco, Jorge Hirt Preiss, Lothar Hessel (este remanescente da primeira fase), Rose Marie Reis Garcia. Posteriormente, tornaram-se membros efetivos Getúlio Xavier Osório e Aledir Brestot.
Para prestar homenagem permanente a intelectuais ligados ao folclore, realizou-se sessão solene para integrar como membros honorários João Carlos Paixão Cortes, Luís Carlos Barbosa Lessa (estes também remanescentes da primeira fase), Hélio Moro Mariante, Antônio Augusto Fagundes, llka Santos Herrmann.
Com objetivo de ampliar os recursos humanos ligados ao estudo da cultura popular, vieram integrar o quadro de associados alguns estudiosos do interior do Estado, formando assim um grupo de membros colaboradores: Maria Eunice Kautzman, Paulo Roberto Pedroso, Célia Jachemet, entre outros. Ao longo de sua existência, inúmeros outros estudiosos chegaram através dos cursos ministrados pelos associados e demais convidados.
Ao atuar em consonância com o Movimento Tradicionalista Gaúcho, a CGF tem estreita ligação com o mesmo, tendo inclusive entre seus fundadores da primeira fase alguns dos fundadores do 35 CTG, que foi criado um dia após a sua fundação.
A Comissão Gaúcha de Folclore participa de congressos, seminários, mesas redondas em todo o País, publica obras de seus associados, possuindo um acervo de diversos títulos.
Foi instituída pela Comissão Gaúcha do Folclore a Comenda Dante de Laytano para homenagear estudiosos do folclore e culturas populares que já possuem trabalhos publicados (o Dr. Dante foi o primeiro a receber esta Comenda). Existe também a Medalha Lilian Argentina Braga Marques, que é oferecida a pessoas que se destacam em alguma área da cultura (não necessariamente em folclore).
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Muito eu aqui poderia ainda dizer sobre a Comissão Gaúcha do Folclore, mas o tempo é curto.
Com o fechamento, infelizmente, do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, a Comissão Gaúcha do Folclore é uma das únicas entidades que poderiam substitui-lo - não à mesma altura, por falta de verbas e condições logísticas. A comissão tem feito todo o possível para suprir essa falta que faz uma entidade que faça o estudo do folclore e o conhecimento. O nosso querido Rogério Bastos é o nosso diretor de comunicação...
(Soa a campainha.)
O SR. OCTAVIO CAPPUANO - ... e é o elo de ligação entre o folclore e o Movimento Tradicionalista Gaúcho.
Agradeço a todos.
Aqui também fica um convite para, nos dias 9 a 11 de maio, o II Congresso Estadual de Cultura, em Bento Gonçalves; e para, nos dias 24 a 26 de maio, o Fórum das Etnias e Culturas Populares, em Ijuí. Estão todos convidados a participar, inclusive a nossa querida Senadora.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Muito obrigada, Octavio Cappuano, que não contou, mas que fez parte de um grupo de grande relevância para a nossa cultura musical, que foi o grupo Os Gaúchos, que eu conhecia através de um dos seus participantes, o Luiz Carlos Godinho, e de uma das jovens que dançavam no conjunto, a Valquíria Peña, já falecida, minha amiga. Antecedente a ele, havia o conjunto Farroupilha, que era muito famoso e que tinha umas vozes femininas muito bonitas. Os Gaúchos faziam uma miscigenação da música gaúcha com a música latino-americana que era de extraordinário valor. Eu gosto muito da música latino-americana. Hoje, Telmo Jaconi, que lidera a Orquestra Jovem do Rio Grande do Sul, também faz essa junção da música gaúcha com a música latino-americana, apresentando-a. Essa música latino-americana me encanta, porque ela tem traços comuns e a mesma forma de harmonia em todos os sentidos.
Eu fiz referência à Estância Gaúcha do Planalto, às figuras que tiveram grande relevo. Eu queria aproveitar esta oportunidade em que estamos nesta sessão especial para homenagear o ex-Ministro e ex-Deputado Aldo Fagundes, que está com 86 anos. Ele é lá daquelas bandas de Alegrete, de Uruguaiana. A família Fagundes tem também um papel extraordinário, porque continuam muito ativos, na interpretação. Um dos membros da família Fagundes, que já nos deixou, de saudosa memória, o Antonio Augusto Fagundes, o Nico, compôs uma das músicas talvez mais conhecidas - e não só no nosso Rio Grande - que é o Canto Alegretense, um hino belíssimo de quem nasceu naquela terra. Eu penso que nós nos orgulhamos muito desse trabalho. Então, ao nosso querido Aldo Fagundes, lá no Rio Grande do Sul e aqui, em Brasília, com a família, nós desejamos muito saúde. Estamos muito orgulhosos.
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Como falei na Estância Gaúcha do Planalto - da qual ele foi um dos fundadores e ajudou, estimulou muito a conseguir o terreno no Distrito Federal para que ali se construísse o espaço -, a Patroa do CTG da Estância Gaúcha do Planalto, a Nara - levante-se, Nara; mostre-se, levante a mão -, está gentilmente fazendo um convite a todos os que estão aqui presentes para participarem de um almoço que ela oferece, com a cordialidade gaúcha. Após a cerimônia, confirmem com ela os que forem comparecer a esse almoço que ela está oferecendo hoje, como encerramento deste encontro aqui, desta sessão especial que nós estamos realizando. Obrigada, Nara, por essa gentileza de fazer essa celebração de todos nós aqui.
Convido agora o Diretor de Comunicação da Comissão Gaúcha de Folclore, Rogério Bastos, que foi precisamente o responsável por ter provocado o meu gabinete. A minha equipe, liderada pelo Marco Aurélio Ferreira - e aqui estão a Eula e a Jaqueline - fez um trabalho extraordinário. Também o Felipe e o Gabriel, que fazem a cobertura da presença de todos aqui, para abrilhantarem esta sessão.
Com a palavra o Rogério Bastos.
O SR. ROGÉRIO BASTOS - Senadora Ana Amélia de Lemos, ao cumprimentá-la e cumprimentar essa Mesa formada de folcloristas, tradicionalistas e amigos de todo o Brasil, e quem nos assiste pela TV e pela internet, quero dizer que o tradicionalismo e o folclore no Rio Grande do Sul são uma coisa tão forte, tão atrelada, que, às vezes, as pessoas não conseguem diferençar muito bem o que é um e o que é o outro. Nós transitamos nesse meio da tradição e do folclore. Mas além de usar pilcha, cantar música, dançar e fazer a parte de entretenimento, uma coisa que é tão bonita entre os gaúchos é nos identificarmos com facilidade em qualquer parte do mundo.
Em 2016, quando o Movimento Tradicionalista fazia 50 anos, nós fomos à China, onde há o PTG China Veia em Dongguan. Neste ano, estivemos em Orlando, nos Estados Unidos, na festa dos CTGs dos Estados Unidos. E assim há muitos CTGs e gaúchos espalhados pelo mundo, como o Durvílio e a Loiva, que foram Presidentes da CBTG e da CITG (Confederação internacional da Tradição Gaúcha), porque isso vai muito além do Rio Grande, muito além do Brasil.
Há essa coisa da amizade, do entrelaçamento. Em 2004, estive aqui pela primeira vez, por uma atividade do Movimento Tradicionalista Gaúcho, e, mais tarde, meus amigos foram meus padrinhos de casamento. O Wilson Porto, Diretor-Geral da CBTG, que hoje aqui representa o Presidente João Mello, que é uma pessoa que está lá em Campo Grande batalhando pela tradição do Rio Grande do Sul, um homem missioneiro...
Então, quando nós pensamos em trazer para cá... Eu lhe agradeço muito, porque eu sei que o seu gabinete e a senhora dão atenção à cultura, e, em especial, à do Rio Grande - para todo o Brasil, mas em especial ao Rio Grande. E sabendo da importância que teve o Pártenon Literário e tem ainda no seu sesquicentenário, nós não poderíamos deixar de homenagear. E o Rio Grande vai homenagear. A Comissão Gaúcha de Folclore, agora, dia 28, na Câmara Municipal, vai homenagear o Pártenon Literário também, porque entende a importância que eles tiveram para que se chegasse aos 120 anos do Grêmio Gaúcho de João Cezimbra Jacques, e que se chegasse aos 80 anos da Lomba Grande, José Luiz, e que se chegasse aos 70 anos da Comissão Gaúcha de Folclore e do 35 CTG. São aqueles jovens, Apolinário, de Porto Alegre, que faziam o que nós fazemos.
Dizia Barbosa Lessa que, a cada 30 anos, surge um ismo diferente no Rio Grande do Sul, seja o tropeirismo, o tradicionalismo, o regionalismo. Enfim, são jovens que buscam, de alguma forma, mudar o seu momento social. E foi assim que Paixão Côrtes, Barbosa Lessa, o Grupo dos Oito, dos oito jovens - que hoje temos Antonio Sá Siqueira e Paixão ainda entre nós - que deram origem ao 35, e, mais tarde, ao Movimento Tradicionalista Gaúcho.
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Quero também agradecer ao Senador Paulo Paim a atenção que deu; a Lasier Martins e a outros gaúchos que deram atenção a este espaço, que souberam da importância.
Eu não quero me alongar muito, só quero agradecer aos tradicionalistas que nos deram suporte aqui, em Brasília, amigos do Rio Grande, gente de bota e bombacha, gente que preserva os valores da cultura gaúcha.
Nara, obrigado à Estância do Planalto pelo carinho que tem com o Rio Grande, por ser um pedaço do Rio Grande aqui, em Brasília.
E quero encerrar com estas palavras, Senadora, lhe agradecendo muito, mesmo, ter nos dado esse espaço que o Pártenon Literário, a Comissão Gaúcha de Folclore, a Lomba Grande e o 35 merecem.
Nós não estamos hoje homenageando os 120 anos do Grêmio Gaúcho, porque ele já está extinto. Em Porto Alegre, só há um prédio já perdido no meio de um bairro, mas o Patrono João Cezimbra Jacques, que batalhou tanto pelo campeirismo no final do século XIX, 30 anos depois do Pártenon Literário, liderou o nascimento do Grêmio Gaúcho, que deu origem à Sociedade Gaúcha, aos grêmios gaúchos, aos clubes gaúchos por todo o Rio Grande, que acabaram mais tarde se extinguindo.
Mas o tradicionalismo veio, e Barbosa Lessa disse: só porque nós tínhamos tecnologia. Nós tínhamos um programa de rádio nos anos 1950, com o Grande Rodeio Coringa, e tínhamos um espaço no jornal Diário de Notícias. Foi o que fez o povo saber que gaúchos do interior do Estado estavam vindo para a cidade e queriam reaver esse espaço.
Por isso, vocês estão aí hoje, nós estamos aqui hoje e todos que nos assistem e todos que de alguma forma... Ser gaúcho não é nascer no Rio Grande. Ser gaúcho é um estado de espírito, é entender que é uma cultura que é importante, porque tem valores a serem preservados. E nós vemos, onde há gaúchos, a preservação desses valores.
Eu encerro, dizendo um pequeno verso de Albeni Carmo de Oliveira, que sempre levo às escolas, porque, quando tu chegas de bombacha à escola, mesmo no Rio Grande, "Bah, olha o bombachudo!"
E ele diz assim:
Chegou um dia, da campanha, um xiru velho bem pilchado,
Desses gaúchos largados e criados bem à vontade,
Que sem preconceito ou vaidade, mostrando ser macanudo,
Como se gostasse de tudo, às vezes até vinha à cidade.
Chegou como chegam muitos nos boliches desta vida,
Talvez pedindo guarida num copo de canha pura,
Que é servida com ternura por gente de todo jeito
E que ameniza no peito as mágoas da criatura.
Mas nem bem tomou um trago e já ouviu uma risada.
No meio da rapaziada, que fizera um alvoroço,
Ouviu lhe chamarem de grosso, bombachudo, coisa assim.
Um até disse: "Dá para mim esse pano do pescoço".
Tinha até uma mocinha, bem elegante e faceira,
Que talvez, em brincadeira de quem não sabe o que diz, falava:
"Será que é feliz esse gaudério largado,
Que vive sempre extraviado, que nem filho de perdiz?"
O xiru largou o copo bem devagar, no balcão.
Depois olhou com atenção, como se estudasse o ambiente,
Deu dois passos para frente, tirou o chapéu com respeito
E depois falou com jeito para toda aquela gente:
"Olha aqui, moço e mocinha criada aqui na cidade,
Vocês que têm faculdade, que tiveram educação,
Talvez sejam até patrão de algum xiru lá de fora,
Mas não aprenderam até agora os costumes deste chão.
Vocês que riram do meu jeito de trajar
Deveriam se orgulhar das coisas da tradição,
Saber cevar um chimarrão, um churrasco gordo assar
E no fim de semana bailar num fandango de galpão.
Esse que pediu o meu lenço de um modo debochado
Por mim já está perdoado, mas vou lhe dar o presente.
Mas é bom que tenha em mente que o branco e o colorado
São relíquias do passado e orgulho da nossa gente.
E para ti, prendinha linda, te digo por despedida:
Sou bem feliz nesta vida e adoro ser deste Estado.
Desculpa se dou quadrado, mas sei trilhar meu caminho
E é melhor andar sozinho do que mal acompanhado".
Obrigado pela atenção de todos vocês.
Obrigado, Senadora. (Palmas.)
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A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Brilhante o poema que o Rogério nos brinda aqui e que exalta a qualidade da nossa tradição.
Ele mencionou aqui o Grande Rodeio Coringa, que fazia às sextas-feiras, uma grande representação, e de novo está Darcy Fagundes, que era um deles, e Luiz Menezes, que apresentavam este programa. E o nome da rádio: Rádio Farroupilha. Então, é toda essa relação que integra os nomes.
E, aí, no poema do Rogério, para os que estão assistindo - porque esta transmissão está ao vivo nacionalmente, por cessão do nosso colega Senador Paulo Paim, que eu já vou convidar para fazer uso da palavra -, aqui precisariam ser traduzidas, Rogério, algumas expressões como, por exemplo, gaudério, como, por exemplo, xiru, como canha. Então, para os desavisados, essas expressões são expressões muito gaúchas.
E uma das questões, Senador Paulo Paim - a quem eu peço que já venha à tribuna, subindo -, uma das expressões é porque a música gaúcha e até aquela encenação de paródia que o Guri de Uruguaiana faz, que é brilhante, do Jair Kobe... Exatamente ele faz uma brincadeira que mostra exatamente a dificuldade da compreensão do nosso linguajar, da forma como nós tratamos, o tchê!, o bah!, algumas expressões que os brasileiros já sabem.
Então, com muito prazer, passo a palavra ao Senador Paim, agradecendo a ele, que preside a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, porque, a partir das 11h, ele abriu espaço, mesmo tendo preferência a Comissão que ele preside, para que esta sessão tivesse também espaço para transmissão ao vivo.
Então, obrigada, Senador Paim.
Com a palavra o nosso Senador do Rio Grande.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senadora Ana Amélia, eu que agradeço a V. Exª.
V. Exª foi a grande articuladora desta sessão, mas teve a preocupação de me ligar: "Paim, vá lá. É o povo do Rio Grande que está te chamando." Então, eu queria agradecer muito a V. Exª, Senadora, pelo carinho, para que eu estivesse aqui. De fato, eu estou presidindo uma outra reunião. Dei a palavra para um dos convidados. Eu tenho que ir lá.
A Senadora Ana Amélia, preside uma sessão, que é uma sessão de homenagem ao Rio Grande. Não tinha como eu não estar aqui. E como, Senadora, eu botei no papel, pela grandeza do evento de hoje, e me permitam que eu vou um pouco na linha dos poetas que aqui já falaram, e a Senadora sabe que eu, às vezes, me atrevo a, de vez em quando, escrever alguma coisa mais romanceada...
Rio Grande do Sul, geografia sagrada do Sul da América do Sul.
Meu Rio Grande, és garrão de potro selvagem que finca fileiras pela Pátria brasileira.
Pelos clarins de vanguarda e pelas folhas amareladas dos tempos demarcaste a tua história, tua poesia, tuas músicas, tuas danças, tua culinária, teus sotaques, Senadora, tua tradição e folclore.
És, Rio Grande, o pássaro no tronco de uma invernada, que não nasceu para o cativeiro, mas para voar, voar livre, livre como é o som das águas.
És o findar do início, o crepúsculo e o alvorecer de tudo o que a vida nos ensina.
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És, Rio Grande, a noite que termina quando o Sol queima, até mesmo dando clarões para o nosso caminhar pelos campos e pelas pradarias.
És a alma, a mão calejada; és o suor do rosto do trabalho constante, os apelos gastos das lidas, do campo e dos rodeios; a carreta que abriu caminhos, os sonhos certos que se perderam em descaminhos, mas nunca da caminhada para chegar lá.
És o espelho nas aguadas e o futuro que está na mão de cada um de nós.
És os filhos que ainda não nasceram.
"Canta a tua aldeia e serás universal". Assim é que eu te vejo, meu querido Rio Grande!
Assim tu és, na mais pura simplicidade dos homens e mulheres que aqui estão, que não deixaram a querência para trás, não cortaram laços, mas apenas ungiram destinos, cravaram seus anseios em outras distâncias, pelo nosso País e - por que não dizer? - pelo mundo, e fizeram do Planalto Central a nova morada e também a sua querência.
Abano os lenços encarnados e brancos em reverência aos 70 anos do 35 CTG, aos 150 anos do Partenon Literário - no Partenon, em que, quando moleque, eu morei, Senadora Ana Amélia -, aos 80 anos da Sociedade Gaúcha Lomba Grande e aos 70 anos da Comissão Gaúcha de Folclore, entidades que são esteios, estrelas mirantes, faróis do Pampa e o fogo galponeiro que jamais se apaga.
Eu nasci ali, em Caxias, junto aos pinheirais da Serra Gaúcha. E foi com o chimarrão, passando de mão em mão, na busca incessante de ouvir e acolher o outro, que eu aprendi que a cultura é a marca que define a personalidade de um povo.
O folclore é isto: é a tradição, os usos populares, as crenças, as lendas, a literatura, as canções - a Senadora citou aqui aquela gaita, que se vai tocar daqui a pouco -, as danças, o arroz com charque, o sarrabulho, a graxa da picanha cutucando o fogo, os costumes transmitidos de geração em geração, histórias nossas, de guerras, e de grandes peleas, dos bisavôs, dos avós, do pai, da mãe, dos tios, dos primos e primas, dos antepassados, que diziam, em bailes, versos apontando, que são versos feitos na hora para conquistar aqueles que estão longe e mesmo a mulher amada: "os teus olhos, prenda gaúcha, são noites que arrebatam o meu coração; se me queres, eu te quero, vem comigo nesta amplidão". Tudo isso vindo, sabiamente, do seio povo, entre goles de vinhos degustados ao som de toque de gaitas e guitarras, violões, de sapateados de chula e entreveros da grande trova.
Há povos que perderam essa condição, esses atavismos, como bem disse o Telmo de Lima Freitas: "Esse atavismo dormido na alma da gente precisa de um quarto de ronda para se libertar". É essa ronda permanente.
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Porém, há povos, que não perderam e que continuam cantando, como nos ensinou o russo Liev Tolstói, que disse da sua aldeia, da sua terra, do seu chão: "Canta a tua aldeia e serás universal.
Ai bota aqui, ai bota ali o teu pezinho,
O teu pezinho bem juntinho com o meu.
E depois não vá dizê
Que você já me esqueceu.
Senadora, e há outras tantas mais de cancioneiro:
O tatu subiu a serra com fama de laçador;
Bota laço, tira laço, solta pealos de amor.
Resgates, como esses versos, feitos por Paixão Cortes e Barbosa Lessa, mostram a imensa riqueza sociológica da tradição gaúcha.
E na literatura também isso está eternizado na obra do primeiro gaúcho da Academia Brasileira de Letras. Alcides Maya, em suas Ruínas Vivas, Tapera e Alma Bárbara, soube como poucos pintar em cores vibrantes e reais a filosofia de todos os gaúchos e gaúchas, da peonada, da querência, da marcação do gado xucro, das tropilhas e tropas, das benzedeiras, das carreiras.
Assim ele escreveu, em Monarcas: "Neco Alves era um gaúcho característico, inconfundível, dali, dos seus pagos. Andara à roda, viajara até às cidades, onde o povo se entropilha e reina o gringo, até as fronteiras [o pelo duro], onde enxameia atrevido o castelhano."
Meu pai era pelo duro. Minha mãe tinha lá uns traços um pouco mais, eu diria... O nome dela era Itália Paim, já faleceu, e o nome dele era Ignácio Paim.
"Move-se como peão, como tropeiro, pois incita curiosidade irresistível, de guasca andarengo, ávido de horizonte, atraído pelas encruzilhadas."
Isso é tradição, é cultura, é folclore, que veste o presente e dá rumo ao futuro. Feliz do povo que pensa e age dessa maneira!
Minhas crenças - e aí vou terminando, Senadora Ana Amélia, que, mais uma vez, cumprimento aqui pela atividade - e meus pensamentos são como as ventanias das manhãs continentais: não há unidade simplista para o povo gaúcho. Somos um caudal de riquezas culturais de séculos e dessas diferenças produzimos o conhecimento e a sabedoria.
É com saudade e esperança que a vida acontece.
Volto aos tempos de menino...
(Soa a campainha.)
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) - ... de piá, de guri, lá na Serra Gaúcha, quando beijava a mão do meu pai e acariciava a face da minha mãe. E ela me dizia: "Dê bençãos, meu filho, e vá dormir! E não esqueça: amanhã, se puder, tome um chimarrão!"
Lia poema em seus olhos. Eram poemas com sabor de gente e de passado. Isso me ensinou a viver o presente e a pensar o futuro.
Eles sempre me diziam: "Faça três coisas que aqui, no Rio Grande, a gente ensina para a nossa gente: seja honesto, estude e trabalhe!
Da janela eu olhava o mundo. Mirava o rio e seus cristais. Havia uma ponte de pedra ali, longe, e a gurizada soltando pandorga, brincando com o gado de osso, na época, galopando os cavalinhos de pau.
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(Soa a campainha.)
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) - Hoje são somente saudades que vêm e vão nas verdades do Sol, da Lua, da chuva, nas canções do Boi Barroso.
Aqui eu termino, Senadora:
Serenas horas como o assovio das cotovias, e o menino de bombacha arremangada que se apegou em minha alma e está vivo dentro de mim.
Viva o Rio Grande! Viva a tradição gaúcha!
Parabéns, Senadora Ana Amélia. (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Parabéns, Senador Paulo Paim, que, usando a veia poética, traz um poema para exaltar ainda mais o amor que temos pelo nosso Rio Grande, que temos a honra de representar nesta Casa, Senador Paulo Paim, de uma rica experiência parlamentar.
E quero lembrar também, Senador Paim, que Glauco Saraiva foi o autor da Carta de Princípios do MTG - então, é uma referência que fazemos; e, como poeta que é o senhor também, lembrar figuras notáveis, entre eles, claro, o Jayme Caetano Braun, que dá nome ao CTG aqui em Brasília, e também figuras que deram uma contribuição, claro, sem grande referência, como aparece, até pela figura imponente de Paixão Côrtes, que foi transformado no monumento à entrada de Porto Alegre, aquela figura do laçador que encarna ali não só a virilidade do gaúcho, mas essa figura emblemática do folclore do nosso Estado, da história da cultura gaúcha, Paixão Côrtes, que está lá representado na memória do laçador... (Palmas.)
Então, parabéns! Obrigada pela sua presença e pela colaboração de compartilhar a transmissão da CDH com a sessão solene do Senado Federal em homenagem a essas instituições tão importantes.
Muito obrigada, Senador Paulo Paim. (Palmas.)
Eu queria renovar também - foi mencionada a presença de três mulheres aqui nesta celebração - que a Leticia Wierzchowski, com o livro A Casa das Sete Mulheres, mostrou também a relevante contribuição das mulheres, a bravura das mulheres, que tiveram que ficar em casa em plena revolução e suportar a dor da perda. Elas tiveram a bravura de ficar. E foi ilustrado numa série muito especial e de grande sucesso na televisão, porque todos puderam conhecer um pouco mais exatamente dessa rica história do nosso Estado e da presença das mulheres no processo. Então, podem ver também os brasileiros de várias querências mulheres aqui representando a liderança de CTGs, de movimentos ou de instituições, como é o caso do próprio 35 CTG, que está fazendo amanhã 70 anos - o 35 remete à Revolução Farroupilha: 1835, que foi o começo.
Também amanhã, 24 - ela lembrou muito bem -, quando se celebram os 70 anos do 35 CTG, se celebra o Dia do Chimarrão. E lá no fundo do plenário há um gaúcho cevando uma erva boa e um chimarrão, porque o gaúcho não se desgruda de um chimarrão. Essa é uma tradição que faz parte aqui. E muitos Parlamentares de outros Estados têm o hábito do chimarrão e tomam chimarrão no plenário da Câmara dos Deputados.
Aqui se falou do verso do Rogério Bastos sobre a pilcha. Aqui há o Deputado Pompeo de Mattos, que, habitualmente, como há o traje gaúcho, aparece trajado a gaúcho.
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Então, já é uma figura conhecida no plenário da Câmara dos Deputados o Deputado Pompeo de Mattos.
Agora, convido para fazer uso da palavra o Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho do Rio Grande do Sul, Nairo Callegaro.
Quando essa entidade fez 50 anos, há dois anos, foi feita uma sessão especial na Câmara dos Deputados, com uma bela homenagem, cujo requerimento, se não me engano, teve a autoria do Afonso Hamm.
Então, com a palavra o nosso amigo Nairo Callegaro.
O SR. NAIRO CALLEGARO - Senhoras e senhores, o meu bom-dia.
Cumprimento a nossa querida Senadora Ana Amélia Lemos. Lembro muito bem daquele 11 de outubro de 2016. A senhora também foi protagonista daquele momento ímpar que o Movimento Tradicionalista Gaúcho viveu na Câmara dos Deputados.
Então, só temos a agradecer à senhora, ao Deputado Afonso Hamm aquele momento.
Agradeço a sua presença, pela senhora mencionada, lá em Bagé, quando da realização da Ciranda, explicada tão bem aqui pela senhora. A Dinara e a Gleici sabem que não consta na planilha de avaliação das meninas a beleza. Essa nota não é atribuída. Elas se preparam com o conhecimento, com a pesquisa, com as suas artes, com a parte artística, cultural. Enfim, é assim que é escolhida a 1ª Prenda do Estado do Rio Grande do Sul.
Saúdo todos da Mesa também, todos os tradicionalistas gaúchos, simpatizantes deste movimento maravilhoso.
E lhe agradeço, Senadora, o convite ao MTG para estar aqui, nesta sessão que homenageia essas instituições.
A sociedade se estabelece com algumas referências, referências de instituições as quais nós estamos aqui no dia de hoje homenageando; se estabelece com referências de pessoas, muitas aqui nominadas, pessoas que alavancaram essas instituições, fizeram com que elas crescessem.
A sociedade também se estabelece com referências de muitas empresas. Ou seja, nós vivemos buscando referências ao longo de nossas vidas. O surgimento dessas instituições, se nós olharmos na história, reflete o momento social e histórico daquele local - ela gera a necessidade desses movimentos sociais.
Hoje eu represento uma instituição que é o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), que a Gleici até me disse que é difícil. Realmente é mais difícil do que muitos imaginam. E o MTG é só a continuidade. Ele é a consequência desse processo social, que talvez tenha começado lá no Paternon Literário, que talvez tenha começado lá na Revolução Farroupilha. É o sentimento de pertencimento que cada gaúcho carrega quando sai do Rio Grande.
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É esse orgulho que nós temos por pequenas ações que nós praticamos em nossas famílias, em nossas cidades, que nós carregamos por este Brasil afora. Talvez seja por isso que existam, como já dito pela nossa Senadora, mais de três mil entidades espalhadas pelo mundo, pelo Brasil, e essas 1,8 mil que o Rio Grande do Sul abriga lá e que são regularizadas, vejam bem - estão regularizadas ao MTG do Rio Grande do Sul -, fora aquelas que orbitam ou que não ainda constituídas, mas que estão se constituindo ou que, por algum motivo legal, não estão ingressas no processo, mas que existem e são atuantes.
Talvez esse seja o grande desafio do MTG nos dias de hoje, Senadora.
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Nairo, me permite? Apenas porque está presente aqui um grupo de São Paulo que é da Escola da Granja, do ensino médio, do Estado de São Paulo.
Está falando Nairo Callegaro, que é o Presidente do MTG, Movimento Tradicionalista Gaúcho, e está ocorrendo agora esta sessão especial comemorativa dos 70 anos do "35" CTG, os 150 anos do Partenon Literário, os 80 anos da Sociedade Gaúcha de Lomba Grande e os 70 anos da Comissão Gaúcha de Folclore, cuja data é exatamente hoje. Amanhã, os 70 anos do "35" CTG. Então, quem está falando é o Presidente do MTG, Nairo Callegaro.
Sejam bem-vindos.
Agradeço a interrupção e prossiga, por favor.
O SR. NAIRO CALLEGARO - Eu saúdo, então, os paulistas, porque lá nós temos o MTG de São Paulo, que abriga 25 CTGs. Essa é a inserção, a abrangência, a influência social que a cultura gaúcha faz pelo Brasil afora.
Eu estava comentando e falando com os senhores desses processos sociais, o quanto é difícil. Talvez o grande desafio do MTG, eu diria e digo, é se reencontrar novamente com a sociedade, assim como essas instituições lá atrás o fizeram, porque viram a necessidade que a sociedade tinha de resgatar os seus valores maiores culturais, com as suas identificações regionais, da dança, da poesia, da literatura, da culinária, da música gaúcha.
Talvez hoje nós tenhamos que ter esse entendimento, Senador. Não podemos mais nos comportar simplesmente como um clube associativo. Temos que ter a capacidade de ser uma entidade, de promover uma grande transformação social, o que a sociedade mais precisa e mais quer nos tempos de hoje.
Nós devemos e precisamos nos inserir com a sociedade. Não podemos mais nos fechar. Nós temos que ir ao encontro dessa sociedade. A partir da grande referência que é o "35" CTG, que nos deu o modelo o qual deveríamos seguir, todas as entidades, e nos inserirmos na sociedade.
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Foi isso que aqueles jovens fizeram ao camperear o Estado do Rio Grande do Sul e saírem fundando entidades em todas as suas regiões, preservando as características regionais, da Serra à fronteira, do litoral às Missões. Nós temos que ter essa percepção. É bom nós festejarmos, reverenciarmos o passado; mas que os jovens de hoje tenham essa percepção, se espelhem naqueles ideais, entendam a transformação social que aconteceu naquela época, os movimentos que se iniciaram em cada um desses pontos e possam ter a coragem de fazer, nos dias de hoje, o que a sociedade precisa, o que a sociedade quer, o que a sociedade necessita.
A sociedade brasileira vive numa profunda crise, numa transformação. E nós, lá no garrão deste País, estamos inseridos nesse processo social também. Somos agentes desse processo, somos responsáveis por essas transformações. E o tradicionalismo gaúcho organizado, que completa 70 anos,...
(Soa a campainha.)
O SR. NAIRO CALLEGARO - ...tem que enxergar e tem que se aperceber deste momento que nós estamos vivendo.
Por isso a importância de nós estarmos aqui hoje reverenciando o passado, com os pés firmes no presente, mas com o olhar para o futuro, não perdendo as nossas origens, as nossas referências, de onde nós saímos, onde nós deixamos nosso umbigo enterrado, como se diz lá no Rio Grande. Mas, sim, com aquilo que nós temos que fazer para o futuro deste Brasil, para o futuro do nosso Estado.
E não poderia, Senadora, como um bom missioneiro, deixar também um verso aqui.
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Fora do microfone.) - Faz muito bem.
O SR. NAIRO CALLEGARO - Do nosso saudoso Jayme Caetano Braun, que foi presidente do Conselho Diretor do MTG, em 1959, o primeiro presidente. Eu não vou dizer todo o poema, que tem 18 estrofes, mas eu vou dizer a última, que é marcante, é importante neste momento, em que nós estamos aqui em Brasília, aqui no Senado da República, como a senhora disse.
Hoje, tempo de mudar, meu coração continua
O mesmo tigre charrua das andanças do passado.
Sempre de pingo encilhado, bombeando pampa e coxilha...
A pátria é minha família! Não há Brasil sem Rio Grande
E nem tirano que mande na alma de um Farroupilha!
Obrigado. (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Esses versos do Jayme Caetano Braun, que aliás teve uma das mais ricas produções de versos retratando a cultura gaúcha, e com um rigor e uma qualidade que une o vigor e especialmente o espírito cívico gaúcho e a coragem do gaúcho.
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Então, eu o cumprimento, Nairo, por trazer aqui à memória... E de outras figuras que, na cultura musical, também tiveram uma presença muito importante.
Um ex-Senador, hoje Deputado, José Fogaça, compôs uma música muito bonita "Vento Negro", que o Brasil canta. Várias vozes da música popular brasileira deram repercussão. Há músicas gauchescas populares na voz do Teixeirinha - temos que lembrar sempre a contribuição que ele deu para mostrar o Rio Grande, e andava sempre pilchado -, do José Mendes, da mesma forma também, do Gaúcho da Fronteira, da mesma forma, pilchado. Os Irmãos Bertussi é um conjunto também de muita evidência na nossa música. Mais recentemente, jovens do Chimarruts, que fazem uma música, diria, modernizada, mas não perdem a raiz do Rio Grande.
Então, a todos os nossos cumprimentos.
Tivemos também aqueles movimentos, que precisamos exaltar: a Califórnia da Canção, lá em Uruguaiana, de onde nasceram músicas extraordinárias, como O Guri, que é uma das peças mais primorosas do nosso cancioneiro gaúcho. É um poema, mais do que uma música, que narra não apenas o amor, mas a relação do pai e do filho, daquilo que a nossa Presidente Gleicimary falava, da questão da família. E ele, ao falar do pai, do orgulho, se vestia como o pai ... É uma peça muito bonita a canção O Guri, que veio lá da nossa Califórnia da Canção. Há também o Carijó da Canção Gaúcha, lá de Palmeira das Missões; a Moenda da Canção, de Santo Antônio da Patrulha; o Ponche Verde da Canção, em Dom Pedrito; a Coxilha Nativista, em Cruz Alta; e a Tertúlia, de Santa Maria, apenas para lembrar alguns dos eventos que também contribuem decisivamente para a difusão, o fortalecimento da nossa cultura, do nosso Estado.
Queria convidar agora, para fazer uso da palavra, o Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central, o João Francisco Petroceli.
O SR. JOÃO FRANCISCO IOUNG PETROCELI - Meu cordial bom-dia a todos, em especial à nossa Senadora Ana Amélia, que nos dá essa oportunidade, neste dia de hoje, de reverenciar e homenagear os nossos antepassados e os nossos feitos gauchescos lá no nosso Rio Grande do Sul; o meu abraço ao Nairo Callegaro, Presidente do MTG do Rio Grande do Sul, à nossa Patroa do "35", Gleicimary, que nos dá a honra da presença. Ao cumprimentá-los, cumprimento toda a mesa de autoridades - o amigo Rogério, do lado aqui.
Meus companheiros, quero saudar os patrões que estão aqui do nosso Planalto Central: a Nara Lucas, da Estância Gaúcha; o Gilberto Zortéa, do CTG Jayme Caetano Braun; a todos os tradicionalistas que se fazem presentes hoje, que me acompanham aqui. Ao nosso Conselho de Ética, um abraço especial ao Edison Flores; à família Dorvílio e Loiva Caldeiran, estes baluartes que tanto fizeram e estão fazendo pelo nosso tradicionalismo por este Brasil afora.
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Um abraço a Wilson Porto, Diretor do CBTG, que hoje representa aqui o nosso amigo João Mello, grande companheiro também, e a todos os nossos diretores aqui, à Juliana, minha filha, à Graça, que representa o Conselho de Vaqueanos. Meu abraço especial ao Gerson Rezende, que cantou o Hino Rio-Grandense com toda a fibra, com toda a garra, com toda a emoção, ele, que é um gaúcho nascido nessas plagas, meu companheiro de trabalho, meu diretor social. Um abraço ao Ian, diretor jurídico, companheiro, advogado, da estância, sempre conosco aqui, nesses eventos. Um abraço especial às nossas prendas, que abrilhantam, que embelezam este momento, que trazem a flor gaúcha das plagas do Rio Grande.
Um abraço a todos vocês.
Este momento é importante, é oportuno. Eu quero...
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - João Francisco, só um... Eu pediria licença, para interromper...
O SR. JOÃO FRANCISCO IOUNG PETROCELI - Claro, claro.
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - ... porque agora estão aqui baianos, de Salvador. Eles são da instituição de ensino Colégio Anglo-Brasileiro, do ensino médio, de Salvador, da Bahia.
Sejam bem-vindos.
Estamos encerrando os pronunciamentos aqui. Estamos celebrando as tradições gaúchas. E, lá na Bahia, há especialmente o Município de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, onde a presença dos gaúchos é muito grande. Foram lá para ajudar no desenvolvimento da agricultura, que é uma área muito destacada no nosso Rio Grande do Sul. Foram também para lá, assim como foram para o Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Maranhão... Não há nenhum Estado brasileiro que não tenha um CTG e não tenha gaúchos ajudando. É a diáspora de bombachas. Quer dizer, foram desbravar. São pioneiros os gaúchos.
Então, parabéns aos baianos, aos jovens, e entendam sempre que o estudo, a cultura e o conhecimento são os fatores mais importantes para o desenvolvimento de uma nação.
Muito obrigada.
E também o folclore baiano é extremamente rico, que nós conhecemos. É extraordinário. Então, vocês também têm orgulho de celebrar a tradição da culinária baiana, a história baiana e a música baiana, que nós todos, lá no Rio Grande, também conhecemos.
Desculpe-me, João Francisco. Pode continuar com a palavra.
O SR. JOÃO FRANCISCO IOUNG PETROCELI - Cara Senadora, a senhora me deu uma oportunidade de dizer que o nosso MTG, do Planalto Central, constitui-se de cinco Estados: o nosso Distrito Federal, Minas Gerais, Goiás, Tocantins e o Oeste Baiano, composto de cidades como Luís Eduardo Magalhães, São Desidério, Barreiras... Oeste Baiano.
Aliás, o CTG de Luís Eduardo Magalhães é o maior CTG do mundo. Se é do Brasil, vai ser do mundo também, não é?
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Não deixamos por menos.
O SR. JOÃO FRANCISCO IOUNG PETROCELI - Nós tínhamos antes Gilberto, e o nosso Caetano Braun. Parece-me, nós não medimos ainda, mas parece que eles conseguiram uns metros a mais do que nós lá.
Só para dizer da pujança, da grandiosidade que é o nosso Oeste Baiano... Ah, sim, claro: e Passos também, que é o interior, o meio do campo ali.
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Então, nós trilhamos esse caminho do Planalto Central, que é longo. Como eu falei, desses cinco Estados. E hoje nós recebemos uma incumbência também, pois está dentro da nossa jurisdição, do Nordeste brasileiro. Então, não é fácil fazer essas andanças por aí.
Mas, voltando ao nosso 35 CTG, que é o grande marco da nossa história, que aqui hoje reverenciamos e pelo qual nos modelamos, estou aqui com o símbolo do nosso MTG. É o cavalo - aquele cavalinho, lá, que pedimos autorização para usar aqui. Eu uso também muito o bóton que me ofertaram no 35. O lema "Em qualquer chão: sempre gaúcho!" é a coisa mais adequada para nós, hoje, aqui, pois onde nós estamos andando, graças a Deus, cultuamos e pregamos esse lema do 35.
Então, pessoal, é nosso prazer recebê-los aqui. Quando vocês vêm aqui, nós nos renovamos, é uma injeção de ânimos, ficamos mais alegres, mais contentes e tocamos para frente mais um tempo. Então, queremos agradecer a presença de todos vocês aqui e desejar uma ótima estadia entre nós.
Agora, alguém pode ficar se perguntando - digamos o pessoal da Bahia - por que é que o 35 CTG é o pioneiro, é o início de tudo, se nós temos aqui outras instituições mais antigas, como a senhora falou, aqui, do Partenon Literário, da Lomba e da Comissão... Mas vejam bem: o 35, na época, em 1948... Mas eu preciso só dizer uma palavrinha antes, assim, ó: em 1947, a arrancada tradicionalista que foi a fundação, no Colégio Julinho, do Departamento de Tradições Gaúchas.
Quando se fundou o Departamento de Tradições Gaúchas, ali se colocou uma semente que germinou. E, aí, se criaram o Grupo dos Oito ou o Piquete da Tradição, que recebeu os restos mortais do Davi Canabarro, que vieram de Livramento, para fazer parte do Partenon. O Piquete da Tradição ou o Grupo dos Oito é a grande arrancada tradicionalista que deu origem - penso eu e entendo assim - ao 35.
Realmente, a partir daí, mudou tudo, porque o 35 criou outra simbologia, a administração foi outra. Vejam os jovens. Na cabeça deles, resolveram que não iam mais chamar de presidente, mas de patrão, porque estavam trazendo o galpão do interior do Rio Grande e colocando na capital do Estado. Disseram que o presidente iria ser o patrão; que o vice-presidente iria ser o capataz; que o secretário vai ser o sota-capataz, que o tesoureiro seria o agregado das pilchas, que o advogado seria o agregado das leis, como o meu amigo Ian. Ó: agregado das leis!
E, por outro lado, os departamentos, o departamento de cultura, o departamento social, o artístico, o esportivo, enfim... É por isso que o 35 CTG é importante para nós. Ele nos deu essa aula, e nós estamos até hoje aqui. É por isso que nós estamos aqui, como disse o Rogério. É por esse motivo que estamos todos reunidos aqui, no Congresso Nacional, aqui no Senado Federal.
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Muito obrigado, Senadora. Realmente V. Exª nos dá esta oportunidade.
Eu digo para o pessoal que encontro onde eu vou, no Planalto Central, que o gaúcho não precisa nascer no Rio Grande. Já foi dito aqui também. Eu fiquei por último, então vou repetir alguma coisa. O gaúcho, nas minhas palavras, é gaúcho por geografia ou por simpatia: ou ele nasce lá, e aí pode ser o rio-grandense, ou por simpatia, como é o caso do Gerson Rezende, que disse assim: "Eu vou ser gaúcho", e está aí. E quem é que olha para o Gerson hoje e não diz que está ali um gaúcho, pela estampa dele? Então, são essas coisas que nós temos que cultuar, pessoal.
Desejamos, então, vida longa ao nosso 35 CTG.
Eu estive lá agora. Nós fomos lá, à nossa convenção, com o Nairo. E nós fomos à noite lá. E eu ficava pensando assim: "Será que esse pessoal imaginava 1.900 CTGs lá no Rio Grande, 1.300 fora, milhões de adeptos pela cultura gaúcha por esse mundo afora?". O gaúcho, que fez guerras, fez revoluções, e, pela paz, hoje conquista o mundo. Então, nós estamos falando hoje para o mundo, aqui; estamos falando do gaúcho, com orgulho, com a estrela, porque nós temos o passado que nos deixaram. Vamos continuar.
Nós estamos aqui, longe do Rio Grande - mais de 2 mil quilômetros -, mas nós olhamos, Rogério, meus amigos, meu Presidente, com olhos de águia pelo Rio Grande. É a nossa estrela-guia. Nós estamos aí, seguindo os ensinamentos do nosso Rio Grande. Contem conosco lá e sejam muito bem-vindos aqui.
Eu deixo um verso também. Não posso deixar... Eu tenho um verso que eu sempre falo, mas hoje eu vou mudar, porque o Nairo declamou um verso da poesia do Jânio fantástica, e eu quero declamar outro verso, porque a poesia é longa. Eu vou declamar outro verso. E para encerrar.
E quero desejar, então, mais uma vez, vida longa ao nosso CTG 35, vida longa às nossas tradições, prendas, peões.
Aliás, o seguinte... Eu não falei aqui. Quando os jovens falaram lá e perguntaram como seriam os associados do CTG, dissemos que vão ser peões e prendas. Olha aí. Não vamos chamá-los de sócios, mas de peão e prenda. E minhas prendas! E dizem que o gaúcho ainda é machista, não é? Mas não somos. Imagina se chamar prenda a jovem, a mulher gaúcha! Prenda é uma coisa de valor. É uma joia rara. Não somos, de maneira nenhuma, machistas. Essas coisas os jovens idealizaram.
Continuamos contando com os jovens - se Deus quiser - porque são eles que mudam. Nós, os mais velhos, somos mais enraizados, mais conservadores.
Dizia o Jânio assim:
Velho Rio Grande gaudério, catedral farrapa um dia
Encheram de rebeldia no extremo sul brasileiro
Conserva aceso o candeeiro para que a chama se propague
Diga sempre a quem indague, mesmo queimando cartucho, que este fogão de gaúcho não há tufão que apague.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Foi uma celebração extraordinária, revelando aqui os talentos dos nossos oradores e oradoras.
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De fato, o nosso comandante, o Patrão, aqui, do Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central foi muito feliz, ao lembrar essa valorização, quando o João Francisco Petrocelli falou da prenda. Quer dizer, quando foi criado o Movimento, não é um filiado ou filiada, é uma prenda e um peão. Peão é o trabalhador; a prenda vem da palavra portuguesa "presente". É um presente, é uma dádiva que você dá.
Então, essa valorização, nessa palavra, representa um símbolo um pouco mais... Tem uma outra acepção e um valor maior, que, como disse bem ele, numa sociedade considerada machista como a do Rio Grande - não é, Petrocelli? -, é dar espaço às mulheres.
E esta sessão aqui mostra, no caso da Dinara Paixão, que aqui representa o Presidente do Partenon Literário, Benedito Saldanha, e, ao meu lado, a Patroa do 35 CTG, que amanhã faz 70 anos.
Então, a todos, neste momento... E eu peço também que o próprio João Francisco, que fez a saudação do nosso cantor, aqui, que nasceu em Goiás, mas que é gaúcho por adoção, por escolha, e que está com a pilcha gaúcha, com o lenço maragato, ele e você...
Por favor Petrocelli, desça, porque dizem que você tem uma voz muito afinada, para que o encerramento desta sessão seja com o Parabéns a Você à moda gaúcha - ah, e o Parabéns Crioulo, como assim chamado.
Renovo o agradecimento pela presença, aqui, da Patroa do 35 Centro de Tradições Gaúchas, Gleicimary Borges da Silva Albrecht, desejando uma boa sorte, e que a filhinha que vai chegar em maio nasça também com esse gosto e com esse empenho na defesa da tradição gaúcha.
Já mencionei a Dinara Paixão, que representa aqui o Presidente Benedito Saldanha, do Partenon Literário; o Patrão da Sociedade Gaúcha da Lomba Grande, José Luiz Amaral Silveira - muito obrigada -; o Presidente da Comissão Gaúcha de Folclore, Octavio Cappuano; o representante também da Comissão Gaúcha de Folclore, Rogério Bastos, que foi o inspirador desta cerimônia, desta sessão especial. Agradeço-lhe também a iniciativa, como bom jornalista e comunicador.
Quero agradecer a presença da Renata de Cássia Pletz. Obrigada, Renata, pela presença aqui.
Quero agradecer também ao Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho, nosso amigo, Nairo Callegaro, e ao Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho do Planalto Central, João Francisco Petrocelli.
Preciso também agradecer ao Senador Paim, que esteve aqui; ao Senador Lasier Martins, que também foi um dos firmatários do requerimento que fiz para esta cerimônia aqui; ao Senador Garibaldi Alves, que é do Rio Grande do Norte, do outro lado, lá em cima; ao Senador Waldemir Moka, que é neto de gaúchos, lá de São Borja - ele é do Mato Grosso do Sul; ao Senador Pedro Chaves, que é do Mato Grosso do Sul, do PSC; e ao Senador José Medeiros, que é do Mato Grosso. Eles também assinaram o requerimento, apoiando esta sessão especial.
Antes de dar encerramento, vamos ouvir, então, o nosso Parabéns Crioulo ou Parabéns Gaúcho.
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O SR. GERSON REZENDE - Com o "permisso" da Senadora, gostaria de convidar mais um grande declamador e expoente do Planalto Central, tradicionalista, D. Edson Flores - por gentiliza -, para fazer os versos do Parabéns Criolo, junto com D. Petroceli.
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Nós celebramos também o Edson Flores pela voz e pela participação no conjunto agora que vai abrilhantar o encerramento, com chave de ouro, desta sessão especial destinada a celebrar os 70 anos do 35 CTG, os 150 anos no Pártenon Literário, os 80 anos da Sociedade Gaúcha da Lomba Grande e os 70 anos da Comissão Gaúcha de Folclore - que celebra hoje; e amanhã a festa será do 35 CTG.
Então, com vocês o nosso Parabéns.
(Procede-se à execução musical.)
O SR. GERSON REZENDE - Viva o Rio Grande e viva o Brasil! (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Renovo, então, os agradecimentos a todos e o convite da Nara para o encontro da comunidade gaúcha que participa desta cerimônia, ao Embaixador da Malásia, aos representantes que vieram aqui nos honrar com suas presenças.
Está encerrada a presente sessão.
Muito obrigada.
(Levanta-se a sessão às 12 horas e 27 minutos.)