4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
55ª LEGISLATURA
Em 16 de abril de 2018
(segunda-feira)
Às 11 horas
46ª SESSÃO
(Sessão Especial)

Horário

Texto com revisão

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A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.
A presente sessão especial destina-se a homenagear, in memoriam, o Arcebispo de Natal, D. Nivaldo Monte, nos termos do Requerimento nº 51, de 2018, de autoria da Senadora Fátima Bezerra e de outros Senadores e Senadoras.
Convido agora, com muita alegria, para compor a Mesa, primeiro, o Sr. Roberto Monte, representante, aqui, da família do homenageado.
Com igual satisfação, convido também para fazer parte da Mesa o Revmo Sr. Côn. José Mário de Medeiros, representando aqui a Arquidiocese de Natal e Capelão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Convido também a S. Mag.ª a Reitora Profª Ângela Maria Paiva Cruz, reitora da nossa Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Convido também o Ministro José Augusto Delgado, representando aqui a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e Ministro do Superior Tribunal de Justiça no período de 1995 a 2008.
Convido também os Senadores da Bancada potiguar, que subscrevem comigo o presente Requerimento, o Senador Garibaldi Filho e o Senador José Agripino.
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Convido todos e todas agora para, em posição de respeito, acompanharmos a execução do Hino Nacional.
(Procede-se à execução do Hino Nacional.)
A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Convido todos e todas para acompanharmos agora a execução do hino Benedictus, de autoria de Martin Palmeri, pelo nosso brilhante e talentoso Coral do Senado.
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(Procede-se à execução musical.) (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Queremos aqui agradecer, mais uma vez, ao Coral do Senado pelo presente que nos dá nesta manhã, trazendo não só o Hino Nacional, mas o hino Benedictus, esse canto tão bonito. Quero, portanto, agradecer a todo o Coral do Senado, na pessoa da nossa regente e, permita-me também, na pessoa de Maria Tereza Mariz, que integra o Coral e é potiguar. Inclusive, quem celebrou o casamento de Tereza foi exatamente D. Nivaldo Monte. Muito obrigada pela presença de vocês. (Palmas.)
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Mais uma vez, parabéns ao Coral do Senado!
Bom, peço agora ao Senador Garibaldi Filho que presida os trabalhos enquanto eu me dirijo à tribuna.
(A Srª Fátima Bezerra deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. Garibaldi Alves Filho.)
O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. Bloco Maioria/PMDB - RN) - Assumo, com muita honra, a Presidência dos trabalhos desta sessão solene que vai homenagear o nosso Arceb. D. Nivaldo Monte.
Concedo a palavra à autora da propositura que culminou na realização desta sessão, Senadora Fátima Bezerra.
A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Quero também aqui saudar com muita alegria - e o faço, inclusive, na condição de professora - os estudantes da Escola Classe Engenho Velho, aqui do Distrito Federal, que participam desta sessão solene. Sejam muito bem-vindos e bem-vindas.
Srªs e Srs. Parlamentares, demais convidados que participam desta sessão especial, sejam muito bem-vindos.
Ao mesmo tempo em que agradeço a presença honrosa de cada um, de cada uma de vocês, faço uma saudação muito especial aos familiares aqui presentes: a Roberto Monte, a Oswaldo, enfim aos demais sobrinhos de D. Nivaldo.
Ao saudar os familiares aqui presentes de D. Nivaldo Monte, estendo esta saudação a toda família, ao povo potiguar, ao povo do Nordeste e ao povo brasileiro que acompanha, neste presente momento, esta sessão por meio da internet e da TV Senado.
Hoje, o Senado Federal vive um dia especial. Para mim, Roberto, é uma honra ser autora desta sessão para lembrar e reverenciar os cem anos de D. Nivaldo Monte. É uma alegria e emoção para mim, na condição de professora e de primeira Senadora de origem popular, representar o povo do meu querido Rio Grande do Norte nesta simples, porém significativa, justa e merecida homenagem.
Essa alegria eu compartilho com todos os Senadores e Senadoras que subscreveram o requerimento, especialmente os Parlamentares da Bancada potiguar, Senadores Garibaldi Alves e José Agripino, aqui presentes.
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D. Nivaldo foi arcebispo da Arquidiocese de Natal por 20 anos, entre as décadas de 60 e 80, período histórico particularmente marcante da história brasileira e mundial.
Nosso homenageado nasceu em Natal, capital do Rio Grande do Norte, e teria completado cem anos agora, no último dia 15 de março de 2018. Viveu até os 88 anos e, durante esse período, marcou a história da Igreja Católica em solo potiguar e a vida do nosso povo.
A maior e melhor homenagem que podemos prestar a D. Nivaldo é relembrar sua história e o legado que ele nos deixou. Afinal, estamos falando de alguém que dedicou uma vida inteira aos ensinamentos contidos no Evangelho e à busca incansável por dignidade, especialmente para o povo mais carente do nosso querido Rio Grande do Norte.
Assim como tantos de nós, nordestinos, D. Nivaldo nasceu no seio de uma família de agricultores pernambucanos que migraram para o Rio Grande do Norte. Essa experiência de vida, no meio de seu povo, provavelmente despertou no menino Nivaldo a sensibilidade social e a vocação sacerdotal. Vem daí o amadurecimento para o lema que adotou em toda a sua trajetória: "Pisar firme, pensar alto e ver longe". Repito: esse foi o lema que ele abraçou e marcou a sua vida: "Pisar firme, pensar alto e ver longe". Foi esse pensamento que serviu de norte e referência para o cumprimento de sua missão.
É sob essa inspiração que D. Nivaldo sempre trabalhou, para que o povo mais humilde do meu Estado conquistasse melhores condições de vida e enfrentasse a miséria, a desnutrição, o analfabetismo, os efeitos das secas, as doenças, a exploração e a ausência de políticas públicas.
D. Nivaldo despertou sua vocação muito cedo, tendo iniciado seus estudos secundários no Seminário Menor de Natal, em 1931, aos 13 anos. Depois, ele foi para o Seminário Maior de Fortaleza, onde completou sua formação com cursos superiores de Filosofia e Teologia.
Era possuidor de uma inteligência admirável, que sempre esteve a serviço de uma sociedade nova, mais solidária e fraterna.
Sua figura pequena e aparentemente frágil guardava uma pessoa determinada e inquieta, sempre, sempre em busca de respostas para os dilemas humanos e para os problemas que afetavam o seu povo.
Essa inquietude levou D. Nivaldo a ser um estudioso de várias áreas do conhecimento...
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Eu preciso tomar água, porque um momento como este, é evidente, mexe com os nossos sentimentos, traz emoção. Nós não estamos aqui homenageando um potiguar, um brasileiro qualquer, de maneira nenhuma. A biografia dele fala por si só.
Mas, enfim, como eu ia colocando, ele foi um estudioso de várias áreas do conhecimento. D. Nivaldo foi botânico, psicólogo, poeta, compositor, cronista, escritor, jornalista, além de educador nos ensinos médio e superior. Que bela trajetória, não é?
Sua produção literária o levou a ocupar a Cadeira nº 18 da Academia Norte Riograndense de Letras. E aqui quero fazer um registro, Ministro Delgado. Essa paixão intelectual dele, esse preparo intelectual não afastou D. Nivaldo de uma outra paixão, a paixão pelo futebol, tendo sido um fervoroso torcedor do mais querido, o nosso ABC Futebol Clube.
Sua rica história eclesiástica foi marcada pela dedicação à Igreja e ao trabalho social. Inspirado nos ensinamentos e exemplos de Jesus, D. Nivaldo sempre esteve atento às dificuldades dos menos favorecidos e comprometido com a luta pela melhoria de vida desses irmãos e irmãs.
Nosso homenageado gostava do contato direto com as pessoas, fazia questão de estar sempre presente nas comunidades rurais ou urbanas, contribuindo com a ação e a motivação de Igreja, para a promoção de projetos fundamentais para a dignidade das populações mais humildes, como o apoio aos flagelados das secas e das enchentes, alfabetização, ações na área da saúde e da prevenção à prostituição, a capacitação profissional de trabalhadores rurais e urbanos e o trabalho de educação política, vista por D. Nivaldo como um caminho essencial, um caminho pacífico para a libertação das pessoas e superação das desigualdades.
Imagino - e faço aqui um parêntese - a alegria que brotaria no coração de D. Nivaldo, e de D. Expedito também, se vivos estivessem, para testemunhar que aquela utopia que parecia impossível, a de matar a sede do povo nordestino, com segurança hídrica, através da transposição do São Francisco, está se tornando realidade.
E peço permissão aqui, Roberto, para abrir mais um parêntese, por dever de justiça. Esse sonho que é ver as águas do São Francisco chegarem ao Nordeste Setentrional - Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte -, esse sonho secular, acalentado no peito do sertanejo, só se tornou realidade através da ousadia e determinação de um menino, de um retirante nordestino que se tornou o maior e o melhor Presidente da história do País, Luiz Inácio Lula da Silva, hoje preso político, vítima da violência política, judicial, e da intolerância deste País.
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D. Nivaldo sempre dizia que todo cristão deveria levar em conta que Jesus veio ao mundo para que todos tenham vida, e vida em abundância.
Foi com ações ousadas e criativas como essas que ele imprimiu uma marca humanista à sua ação e ajudou no crescimento social, econômico e político das comunidades que viam, em D. Nivaldo, um líder, um amigo, um pastor amoroso, ao mesmo tempo firme e paciente.
Iniciativas como a criação da Colônia Agrícola de Punaú e a construção de 140 casas populares, destinadas às famílias sem teto da época, lá no Distrito de Emaús, em Parnamirim, dão a exata dimensão do humanista que ele era; dão a exata dimensão do senso de justiça que norteou a história de vida de D. Nivaldo.
Foi encarnando o cristianismo e vivendo a solidariedade que D. Nivaldo levou esperança aos que ele tinha que cuidar - e como ele cuidava com tanto carinho, com tanto respeito... E foi seguindo os ensinamentos, Roberto, de Jesus, como Jesus disse, ao convocar seus apóstolos: "Sê pescador de homens e mulheres." Foi tomado por grandes sentimentos de amor que, ao lado de D. Eugênio Sales, ajudou a fundar o Movimento de Natal, que era uma espécie de atividade de caráter social, religioso, educativo e cultural realizada pela Arquidiocese de Natal e que se revelou uma das mais bem-sucedidas experiências pastorais, por sua dimensão, amplitude e profundidade.
Essa ação, inclusive - é importante que se diga aqui -, serviu de inspiração e modelo para a criação da Campanha da Fraternidade, Cônego José Mário, desenvolvida inicialmente - não é isso? - no Rio Grande do Norte, e que depois se transformou em uma ação de âmbito nacional, realizada em todo País, por ocasião da Quaresma, no período da Quaresma.
Quero aqui inclusive mencionar que, no próximo dia 7 de maio, Senador José Agripino e Senador Garibaldi, às 11h, nós também vamos realizar uma sessão especial, aqui, para debater o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, que é "Fraternidade e Superação da Violência". Essa sessão solene, inclusive, é fruto de um requerimento também de nossa autoria. Repito: dia 7 de maio, aqui, no Senado Federal.
Mas, voltando ainda, aqui, a falar de D. Nivaldo, que merece todos as nossas homenagens, acrescento ainda que ele foi reitor-presidente, em nível nacional, da Cáritas, uma organização internacional da Igreja Católica, que, já naquela época, realizava um trabalho cujo objetivo era o combate à fome e a garantia de segurança alimentar para as famílias em situação de miséria.
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D. Nivaldo, como já mencionei anteriormente, dirigiu a Arquidiocese de Natal num período particularmente desafiador, um período muito difícil da história do nosso País, visto que o Brasil vivia, naquele momento, o pesadelo de um regime ditatorial, sufocando a liberdade, torturando muitos e muitos que deram a sua vida na luta pela conquista da democracia. Repito: ele viveu exatamente esse período e, ao seu modo, não abria mão, de maneira nenhuma, daquela postura humanista que o caracterizava. E conduzia a Igreja sempre a um posicionamento de resistência pacífica.
D. Nivaldo era, repito, humanista, democrata, mediador, justo, tolerante.
Os perseguidos, na época, pela ditadura - e quanta dor nós carregamos no nosso peito até hoje, em função desse período -, agnósticos e até ateus, quando precisavam do apoio de D. Nivaldo, lá estava ele, sempre acolhendo essas pessoas, trazendo a palavra de conforto, de carinho, de solidariedade. Ou seja, em tempos sombrios, D. Nivaldo soube se conduzir, empunhando a palavra profética e o amor ao próximo.
Agora que vivemos no Brasil um regime de exceção e a perigosa escalada da intolerância e a disseminação do ódio, homenagear D. Nivaldo é, sobretudo, para nós, nesse momento, uma forma de afirmar que a justiça e o amor prevalecerão. A verdade nos libertará.
Viva D. Nivaldo Monte!
Muito obrigada. (Palmas.)
(O Sr. Garibaldi Alves Filho deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pela Srª Fátima Bezerra.)
A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Nós queremos agora, com muita alegria, convidar, para fazer uso da palavra, o nosso cônego, o nosso querido Pe. José Mário de Medeiros, representando aqui a Arquidiocese de Natal, que é também Capelão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Pode se dirigir à tribuna, Pe. José Mário de Medeiros.
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O SR. JOSÉ MÁRIO DE MEDEIROS - Exma Srª Profª Presidente e requerente desta sessão de homenagem aos 100 anos de D. Nivaldo Monte, Senadora Fátima Bezerra; Senador Garibaldi Alves Filho; Senador José Agripino; representante da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, o Ministro José Augusto Delgado; S. Magª a Srª Ângela Maria Paiva Cruz, Reitora da nossa Universidade Federal; sobrinho e encarregado de tudo o que está acontecendo, Sr. Roberto Monte; amigos e amigas de D. Nivaldo Monte que aqui se encontram neste plenário; todos os que aqui vieram prestigiar esta hora mais do que digna da homenagem ao grande D. Nivaldo Monte, aqui estou em nome de S. Exª D. Jaime Vieira Rocha, Arceb. Metropolitano de Natal que, por compromissos com a CNBB, não pôde comparecer.
Dentre as comemorações alusivas ao centenário do nascimento do 2º Arcebispo de Natal, S. Exª a Senadora Fátima Bezerra propôs esta sessão para descrever um pouco e reavivar na memória quem foi D. Nivaldo. Pequeno de estatura e grande pelo próprio nome, ele era um monte! Filho de Natal, como já foi dito, onde nasceu a 15 de março de 1918, concluiu sua vida aos 10 de novembro de 2006.
Discorrer sobre o riquíssimo curriculum vitae do homenageado exigiria horas e horas numa interminável lista pelo que ele realizou durante 88 anos de ações dignas dos maiores encômios. Vida fecunda no seu sacerdócio, totalmente doado às pessoas que o procuravam em todas as circunstâncias em busca de um aconselhamento psicoespiritual, ocasião em que constatamos sua orientação sábia para um discernimento equilibrado.
Foi professor de diversas disciplinas no seminário, escolas da rede privada e, por fim, da nossa Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Era um estudioso, ninguém o encontrava em casa a não ser com um livro na mão, lendo e comentando-o com quem chegava. Isso fazia de sua pessoa um seguro autodidata. Era um homem profundamente mergulhado na vida cultural do Estado, sobre ela informado.
Membro da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, da qual foi Vice-Presidente, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, membro integrante do Pacto pelo Desenvolvimento do Rio Grande do Norte, demonstrava profundo interesse no estudo e desenvolvimento do Estado, onde se propôs a editar um dia uma obra intitulada Enciclopédia do Rio Grande do Norte, que não chegou a ser publicada.
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Foi, igualmente, membro fundador do Instituto de Antropologia da UFRN, do Conselho Estadual de Educação e Cultura, do Conselho Universitário da UFRN, sócio fundador da Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos e membro da Association pour la Fondation Jean Rodhin. Também foi membro fundador da Associação Potiguar de Letras, membro da Associação de Escritores Norte-Rio-Grandenses e Professor Emérito da nossa universidade federal. Publicou 12 livros e 3 plaquetes. Participou de inúmeros encontros, conferências e congressos, tanto no Brasil quanto no exterior. Foi agraciado com comendas, títulos honoríficos e muitas outras distinções em nível nacional.
Ele mesmo, D. Nivaldo, escreveu, certo dia de setembro de 1988, ao Côn. Jorge O'Grady, meu antecessor na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, externando suas elucubrações intelectuais, científicas e místicas ao dizer:
Estou como Fernando Capelo Gaivota, procurando espaços mais amplos e fascinantes. Tudo me convida a um amor maior, o que me leva a querer contemplar com mais intensidade os mistérios dos seres. O terreno da psicologia, da genética, da história; tudo me fascina, quando tudo me leva cada dia mais à contemplação de Deus.
Na genética, espero continuar as minhas pesquisas sobre a fecundidade e desenvolvimento [...]. Desta vez quero fazer algumas experiências com "porquinhos da índia", para procurar saber o que a proteína pode influenciar no problema da fecundidade. Quanto menos proteína, mais fecundidade? É uma interrogação que me inquieta. Ou será a ausência outro fator que desencadeia a fecundidade dos animais mal alimentados? Fica a pergunta.
Na antropologia eu me interrogo sobre a formação do homem do Seridó, tão diferente dos de outras regiões do Estado. Na botânica [genética], o interesse por estudos um pouco mais na formação do "hormônio" do "Cavalheiro" no "cavalo" quando se trata de enxerto. Fato comprovado em pesquisas anteriores, cujas fotos eu as guardo com muito carinho.
Na psicologia, procuro fixar as diferenças fisiológicas entre as paixões e as emoções [cujos primeiros estudos estão descritos no livro: Os Temperamentos]. Na mística procuro encontrar a raiz da visão beatífica, da felicidade dos justos, não na posse de Deus, mas, na contemplação de Deus. Para mim, Jorge, a felicidade não pode estar na posse, que sempre escraviza, mas, na contemplação, que liberta e deixa os outros livres.
Não foi sem grande inspiração na sua vocação mística que ele, ao deixar o governo da Arquidiocese, em 1988, disse: "hoje, no coração da Igreja de Natal, eu quero ser, antes de tudo, uma alma contemplativa."
D. Nivaldo, desde cedo, como sacerdote, voltou sua atenção pastoral para o social. Essa preocupação com o social remonta a uma visão prospectiva e pioneira, quando sonhou e fundou em 1945 a Escola de Serviço Social, a quarta do Brasil e a segunda do Nordeste. O propósito maior da referida escola era o de preparar profissionais com formação humanística e técnica, adequada para a pessoa ser agente do desenvolvimento, enfatizando o trabalho comunitário.
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No período de 1946 a 1965, fundou diversos centros sociais na área urbana e periférica da cidade de Natal. Teve uma ação preventiva à prostituição de jovens, atento a oferecer-lhes melhor qualidade de vida. Fundou a Casa da Empregada para profissionalização da empregada doméstica e melhor formação de sua personalidade. Voltou-se para a ação pastoral, atuando, com determinação e otimismo, nas Pastorais da Terra, do Trabalho, Operária, Carcerária e da Mulher Marginalizada e na conhecida Frente da Alfabetização Popular. Deu início a um grande projeto de erradicação de uma favela no centro da capital natalense, cuidando de sua urbanização com a construção de casas, escola, centro social e capela, dando, assim, melhores condições de vida aos seus habitantes.
Fundou em 1966 o Serviço de Ação Urbana, Saur, órgão responsável pela supervisão do trabalho e da capacitação de seus dirigentes na área urbana e suburbana da cidade. Desenvolveu trabalho realizado pelo Movimento de Educação de Base, o MEB, sendo membro integrante do seu Conselho Diretor, sediado aqui em Brasília. Incrementou uma experiência agrária, como já disse a Senadora Fátima, na colônia de Punaú, a primeira em nosso País, com excelentes resultados na distribuição da terra e no seu aproveitamento. Foi a primeira reforma agrária deste País.
Atuou, como administrador arquidiocesano, em tantas outras iniciativas nesse sentido.
Teve intensa atuação pastoral: promoveu a reestruturação dos limites paroquiais da cidade; criou grande número de paróquias e também de áreas pastorais; modificou os limites das paróquias; investiu em ministros extraordinários da comunhão eucarística. Fundou o Itepan, Instituto de Teologia Pastoral de Natal, ao mesmo tempo colocando nele a ESER, a escola de educação religiosa.
Iniciou a construção da atual Catedral de Natal, contando com a colaboração infatigável e preciosa do seu bispo auxiliar D. Antônio Soares Costa, posteriormente nomeado Bispo da Diocese de Caruaru.
Caríssimos ouvintes, prezado Plenário, seriam tantas outras coisas a dizer neste momento. Tentarei, diante da exiguidade do tempo, ser mais breve.
D. Nivaldo foi um homem ilimitadamente humano, compreensivo, acolhedor e amigo. Ele nos passou essa imagem na sua abundante e envolvente produção literária. Seus livros nos transmitem o quanto era solidário, pacífico e sereno no que dizia e no que escrevia. Um visionário que soube ver além das contingências do tempo e da região onde viveu. Era possuidor de uma beleza de estilo e, profundamente, indiscutível quando afirmava, em seus livros, com a suavidade que lhe era peculiar, os ensinamentos que mostravam os valores imprescindíveis à formação do homem. No dizer do imortal Murilo Melo Filho, membro da Academia Brasileira de Letras, ele é um ser poliédrico, multifacetado, que começa como botânico, pelo seu amor às plantas e aos enxertos genéticos, com experiências valiosíssimas no cultivo das sementes e dos adubos. Continua como arqueologista em suas pesquisas numa gruta de São Tomé, no Rio Grande do Norte, onde ele descobriu um cemitério de índios; prossegue como psicólogo e grande mestre no estudo das almas e prolonga-se como jornalista, cronista e conferencista. Dá sequência aos poemas e composições musicais, nos oferecendo uma rica e abundante produção literária.
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Conhecido por todos como um homem de frases lapidares. Entre tantas e incontáveis, eu gosto muito de repetir a seguinte, abro aspas: "Só uma coisa impede o homem de crescer: a vontade de permanecer pequeno. Não foi a escalada alpina que de Aníbal fez um herói, mas foi o heroísmo de Aníbal que o fez capaz de escalar os Alpes." - fecho aspas. O amor telúrico aflora a cada momento nos seus lábios.
Natal era a sua cidade querida diante da qual ele se deslumbrava. Depois de relembrar tantos detalhes de uma vida nessa cidade que tanto amou, desejou vê-la recheada de beleza e encantamento por toda a parte, recordando tanto nomes de ilustres filhos de que essa terra se orgulha. Avançando na idade, ele escreve, abro aspas:
E agora minha cidade querida, como me esquecer de ti, quando já sinto a neve tingir-me os cabelos e o meu tempo ter ficado tão longe e vejo tão curtos os meus amanhãs, como me esquecer de ti! Não pendurarei a minha harpa nos salgueiros e me recuso, terminantemente, a fechar os meus lábios, pois vou continuar cantando para tudo e para todos os mais belos madrigais aleitados nas fontes do coração, cujas águas conservam sempre jovens aqueles que souberam realmente AMAR".
O Pe. Francisco das Chagas Gurgel a ele assim se referiu:
Tudo neste autor é harmonioso e límpido, respingando essa claridade de um regato tranquilo, serpenteando sob um sol claro e céu sereno, porque deve proceder de fontes, que somente se voltam para a vastidão...
(Soa a campainha.)
O SR. JOSÉ MÁRIO DE MEDEIROS -
... imensa do oceano, altar do universo, onde Deus também se retrata, na linda moldura do seu extenso lençol de águas de cristal.
Muitas outras coisas teria a dizer, vou concluir só.
Em dois minutos, é possível à Mesa?
A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Pois não.
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O SR. JOSÉ MÁRIO DE MEDEIROS - Em dois minutos, eu concluo.
A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Pois não. (Pausa.)
O SR. JOSÉ MÁRIO DE MEDEIROS - Quando toca o sinal, a gente se perde, não é?
Eu queria apenas concluir.
D. Nivaldo, se vivo fosse, neste momento de tantas incertezas neste País, de tantos caminhos que foram percorridos... E, de agora em diante, surgem no horizonte quando nós vivemos mais incertezas do que esperanças em dias vindouros... Diante de tudo o que ocorreu, eu acredito que D. Nivaldo, lá do alto, pede por este País, para que, sobretudo, as medidas judiciais sejam avaliadas de outra maneira, para que o brasileiro não perca o seu norte e acredite em dias melhores, que virão sem dúvida.
Muito obrigado pela paciência.
Obrigado. (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Cumprimento o Côn. José Mário de Medeiros, pelo brilhante pronunciamento que acaba de fazer.
Imediatamente, queremos agora convidar a Profª Ângela Maria Paiva Cruz, Reitora da nossa Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
A SRª ÂNGELA MARIA PAIVA CRUZ - Eu gostaria de iniciar cumprimentando a nossa Presidente e requerente desta sessão de homenagem, a Senadora Fátima Bezerra; o Senador Garibaldi Alves; o Senador José Agripino; o representante da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e Ministro do Superior Tribunal de Justiça no período de 1995 a 2008, o Sr. Prof. José Augusto Delgado. Quero cumprimentar também nosso representante da Arquidiocese de Natal e Capelão da UFRN, o Revmo Sr. Côn. José Mário de Medeiros, e cumprimentar o Sr. Roberto Monte, aqui representando a família de D. Nivaldo.
Com um sentimento mesclado, em que se confundem humildade, fé, alegria e saudade, mas, sobretudo, com uma natural gratidão pelo convite, chego a esta Casa para homenagear um ser humano especial e um pastor exemplar na celebração dos seus cem anos.
Nascido no seio de uma família extremamente religiosa, ainda menino, Nivaldo começou a trilhar os caminhos da fé, buscando sua formação no Seminário São Pedro, em Natal. E mercê das suas qualidades, tornou-se arcebispo da sua querida cidade em 1965.
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Irmão de uma figura legendária do clero potiguar - o Pe. Monte, que, sem jamais abrir mão da fé, também enveredou pelo campo da ciência -, D. Nivaldo Monte faria de sua trajetória um exemplo de humildade e de temperança.
A inteligência e o sentido perquiridor como características da família não lhe faltariam. E, fascinado pela ciência, a ela voltou-se, porém, associando ao interesse da psicologia e da educação, algo que o aproximaria definitivamente da natureza e do amanho da terra como entusiasta da botânica.
Animador da causa da educação, desde cedo lecionou nos colégios da capital, sem prejuízo de muitas outras atividades que já foram mencionadas e que ainda serão mencionadas pelos participantes desta sessão.
No campo educacional, a sua atuação não ficaria limitada ao ensino médio, mas faria também admirável carreira no ensino superior, no qual atuou destacadamente como professor de latim e grego, no Seminário São Pedro; psicologia geral, história e filosofia da educação, na Escola Normal de Natal; e psicologia, na Escola Doméstica e no Instituto de Ciências Humanas.
Lembrar sua trajetória de educador me alegra sobremaneira, porque me leva hoje, como Reitora da UFRN, a considerar sua atuação na proto-história da Universidade do Rio Grande do Norte, como professor em escolas e faculdades isoladas, para depois participar da criação da primeira universidade do Estado, a UFRN, que, neste ano, registre-se, comemora os seus 60 anos. Ele foi um dos representantes da congregação de professores que assinou a ata de instalação do Conselho Maior da Universidade Federal, que se chama Conselho Universitário.
Entre a faculdades isoladas e escolas existentes em Natal àquela época, figurava a Escola de Serviço Social, criada em 1945. E nós sabemos que foi do conjunto das faculdades e de escolas, entre elas a Escola de Farmácia e a Escola de Serviço Social, que se originou a nossa Universidade do Estado, posteriormente federalizada em 1960.
Dessa forma é digno de nota e das páginas da nossa história registrar que D. Nivaldo é um dos pioneiros e um dos fundadores dos cursos superiores de Serviço Social no Rio Grande do Norte. A Escola de Serviço Social de Natal, como dito pelo meu antecessor, foi a quarta do Brasil e a segunda do Nordeste.
Com efeito, além de orador sacro talentoso, D. Nivaldo foi também um notável conferencista e um sempre lembrado professor, a espargir suas ideias em todas as latitudes, para falar de botânica, psicologia, educação, poesia, música, crônica e jornalismo, assuntos dos quais deixaria copiosa e importante produção. E sua condição de botânico o levou a materializar o dom divino na prática da semeadura.
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Escritor de reconhecido mérito, publicaria um conjunto de livros de grande interesse no campo da psicologia, da antropologia e da formação religiosa.
Em boa hora, atendendo uma proposição da Senadora Fátima Bezerra, esta Casa decidiu prestar esta homenagem. Aqui se homenageia um grande religioso e educador, mas igualmente o homem notável, envolvido com as questões do seu tempo e consciente de que até a dúvida e a incerteza compõem o acervo de sentimentos que Deus nos destinou.
Recorro, ainda uma vez, ao notável escritor Hélio Galvão, que transcreveu no discurso de recepção um trecho da sua entrevista realizada pelo notável jornalista e poeta Sanderson Negreiros, falecido neste ano, em Natal. Numa espécie de autodefinição, um arcebispo cheio de humildade e valendo-se da ciência como um postulado divino, não temendo assim enveredar pelo campo da psicologia, disse de si mesmo, abre aspas: "Sou um homem ambivalente aparentemente contraditório. A alegria sempre foi uma meta na minha vida, mas sinto-me envolvido por certa angústia no mistério. Enfim, sou esquizotímico." - fecha aspas.
Que não se assustem os desavisados. A esquizotimia, não chegando propriamente a configurar um temperamento patológico, revela comportamento de timidez, embora tendente ao idealismo, segundo nos ensina o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa - timidez e idealismo. Faltou apenas dizer que a característica maior do nosso arcebispo era a alegria, que, no nosso caso, se sobrepõe à saudade, porque se associa a um veemente reconhecimento da sua importância para a cultura e a educação do Estado em que atuou como pastor.
Por fim e por tudo o que foi dito, registro, em nome da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o nosso melhor e mais legítimo reconhecimento ao professor emérito de bondade, D. Nivaldo Monte, no seu centenário.
Muito obrigada. (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Cumprimento a Profª Ângela pelo importante pronunciamento, trazendo aqui a palavra da nossa Universidade Federal do Rio Grande do Norte nesta homenagem a D. Nivaldo Monte.
Nós queremos passar a palavra agora para o Senador Garibaldi Filho.
Enquanto ele se dirige à tribuna, eu quero agradecer, mais uma vez, e registrar com muita satisfação a presença aqui na Mesa: Roberto Monte; os sobrinhos do homenageado Tânia Maria de Oliveira Monte e Oswaldo Monte; a sobrinha-neta Tâmara Monte Rodrigues de Melo; os sobrinhos-netos do homenageado Carlos Monte Rodrigues de Melo, Cícera Brasil Fernandes, Sr. Raimundo César Brasil Fernandes e a Srª Maria Tereza Mariz.
Com a palavra o Senador Garibaldi Filho.
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O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (Bloco Maioria/PMDB - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Quero cumprimentar a Presidente, requerente desta sessão de homenagem, Senadora Fátima Bezerra; cumprimentar o Senador José Agripino; cumprimentar o Ministro José Augusto Delgado, representante da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e Ministro do Superior Tribunal de Justiça no período de 1995 a 2008; cumprimentar a Magnífica Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Srª Ângela Maria Paiva Cruz; cumprimentar o representante da Arquidiocese de Natal e Capelão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o Revmo Sr. Côn. José Mário de Medeiros; cumprimentar o representante na Mesa da família, Sr. Roberto Monte; cumprimentar os demais familiares, como fez agora a Presidente da nossa sessão, Roberto Monte, Oswaldo Monte, Tânia Monte, Carlos e Tâmara; cumprimentar aqui amigos, conterrâneos, a Srª Cícera Brasil Fernandes e o Sr. Raimundo César Brasil Fernandes, seu filho; cumprimentar a Prefeita de São José do Campestre, Alda Romão, aqui presente; cumprimentar todos os que vieram ao plenário do Senado Federal quando se homenageia um dos mais ilustres norte-rio-grandenses do nosso tempo, D. Nivaldo Monte, Bispo Auxiliar de Aracaju e, depois, Administrador Apostólico e Arcebispo de Natal, de 1965 a 1988.
O feliz ensejo desta homenagem, proposta pela Senadora Fátima Bezerra, refere-se aos cem anos do seu nascimento, completados agora em 15 de março. E é por dever de gratidão e justiça, como potiguar e Senador pelo Rio Grande do Norte, que me uno nesta homenagem a quem, por mais de 20 anos, emprestou sua fé, seu talento e sua abnegada dedicação, como já disseram aqui os oradores que me antecederam, ao pastoreio dos católicos na Arquidiocese de Natal.
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Natalense, desde muito cedo fez de sua vida o serviço ao povo na sua Igreja. Submeteu-se ao chamado e repetiu, por toda a sua vida, como o salmista: "Eis-me aqui; eu venho para fazer a tua vontade."
Entrou, como já disseram os oradores que me antecederam, ainda adolescente, no Seminário de São Pedro, em Natal, sendo ordenado padre já em janeiro de 1941.
Foi servir a Deus no interior do Estado, São Gonçalo do Amarante e Goianinha, vindo em seguida para Natal, onde, desde logo, engajou-se nas causas sociais, assistente do Secretariado Arquidiocesano de Ação Social, a partir de 1946.
Nomeado pelo Papa Paulo VI bispo auxiliar de Aracaju, foi sagrado em Natal por D. Eugênio de Araújo Sales, norte-rio-grandense, então administrador apostólico de Natal, depois arcebispo de Salvador, da Bahia e do Rio de Janeiro; por D. Manoel Tavares de Araújo, também potiguar e bispo de Caicó; e por D. José Tavares, titular da arquidiocese sergipana.
Com a morte do velho e querido Arceb. D. Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas, foi nomeado para a Sé de Natal, em 1965.
Seu brasão episcopal trazia a inscrição, extraída de São Paulo, na Carta aos Filipenses: "Para mim, o viver é Cristo".
Aí está a compreensão de sua própria vida, uma vida de entrega, uma vida de doação. Mais que isso, aí está sua própria vida, porque para ele, como para o Apóstolo, a vida nada mais era que viver o próprio Cristo.
Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores e nossos convidados, quem assim pensou e viveu sua própria vida não tem biografia, nem história, nem feitos, nem glórias. Só tem o mistério da sua fé.
Sr. Presidente, ele mesmo disse, em depoimento que foi citado inclusive pela reitora: "Sou um homem ambivalente, aparentemente contraditório. A alegria - como relembrou a nossa reitora - sempre foi uma meta na minha vida, mas sinto-me envolvido por certa angústia no mistério."
Onde estaria esse mistério nele, que era homem do mundo, pleno de toda humanidade, professor de latim e grego, história, psicologia e filosofia? Onde se escondia algo, assim, de tão oculto nele, cuja curiosidade científica - como já ressaltaram os que me antecederam nesta tribuna - o levava a transitar, da Botânica à Teologia, da poesia às ciências naturais, e, daí, às coisas impalpáveis da fé?
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Certamente, o seu mistério estava em sua própria vida, que ele disse, em seu lema de pastor, ser o próprio Cristo.
Eu o conheci, meus caros convidados, de perto, não só na generosidade de sua amizade, mas também porque era ele já arcebispo, desde há alguns anos, quando tive a ventura de ser prefeito de Natal.
Atento às questões sociais e institucionais, num corpo franzino, quase nada, uma voz leve e suave, um olhar doce, das almas ternas, tinha, de fato, o seu mistério, porque o seu Cristo, o Cristo de sua fé, é o mesmo que, de forma desconcertante, disse: "Não pense que vim trazer paz à terra. Vim trazer a espada."
D. Nivaldo Monte...
(Soa a campainha.)
O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Essa campainha é cruel. Até eu, que já estou acostumado... Você avalie o Côn. José Mário. (Risos.)
Eu agora peço desculpas e peço à Presidente que me dê uma tolerância, porque eu ainda vou aqui... Não vou falar tanto, mas vou falar um pouco ainda.
A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - O.k., Senador.
O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Obrigado, Senadora Fátima.
D. Nivaldo Monte, Srª Presidente, ostentou, por sua própria vida, a conciliação desse severo anúncio evangélico com um gesto de amor do próprio Cristo, que paradoxalmente dissera trazer espada ao mundo.
Seu Cristo e, portanto, ele próprio, em seu viver, era também a doação sem limites, pois aquele que trouxe a espada à terra censurou o amigo que a usou para defendê-lo e, logo depois, ofereceu a sua face inocente à mais iníqua das torturas.
A contradição é real, mas esse é o sinal de contradição do verdadeiro cristão, certo de que a espada que divide extirpa o mal, para deixar o justo. E o fruto da justiça, diz o apóstolo, é semeado na paz para aqueles que promovem a paz.
D. Nivaldo Monte era esse semeador da paz, por ser missionário da justiça.
Srª Presidenta, Sr. Senador José Agripino, todos aqueles que estão aqui presentes e são conhecedores da vida de D. Nivaldo Monte, é esse o mistério que ele próprio dizia levar ao culto em si. Isso se refletia não só em sua alma boa, mas em sua ação, gestos, palavras.
Conciliador magnânimo, pacífico e promotor da paz entre os desavindos, era fiel à sua própria Igreja e intransigente na sua fé.
Mas era um homem descontraído, Srª Presidente.
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Num livro sobre D. Nivaldo, O Semeador de Alegria, o escritor Diógenes da Cunha Lima, que é presidente da Academia de Letras, da qual D. Nivaldo foi vice-presidente, conta que D. Nivaldo uma vez entrou em seu escritório de advocacia e disse...
(Soa a campainha.)
O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Presidente, tenha pena de mim. (Risos.)
D. Nivaldo Monte...
Essa campainha, eu vou dizer uma coisa... Ela é insuportável, porque o orador fica perturbado.
Na verdade, ele, quando entrou no escritório do Dr. Diógenes da Cunha Lima, disse: "Olha, eu ainda não lhe dei o presente que você merece. Eu vou trazer para você um cacho de flores." Sim, de flores. Aí, ele estranhou, o nosso Diógenes. Quando ele entrou depois, um cacho de bananas! Ele disse: "Você não falou que eram flores?" Ele disse: "É, mas na pontinha de cada banana há uma flor." E D. Nivaldo, segundo Diógenes da Cunha Lima, era esse homem descontraído.
Ele, na verdade, se fez acompanhar uma vez de D. Eugênio, e foram os dois cumprimentar um presidente da CNBB - e me perdoem, mas a memória não está ajudando -, pelo êxito de uma Campanha da Fraternidade. E, quando chegaram ao gabinete do presidente da CNBB, o presidente, surpreendentemente...
(Soa a campainha.)
O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Meu Deus, será que eu mereço isso? (Risos.)
Eu não, mas D. Nivaldo não merece, de jeito nenhum.
Aí, o presidente da CNBB disse: "Traga aí uma garrafa de vinho e um charuto." Aí, D. Nivaldo disse: "Só pode ser para Eugênio, porque eu nem fumo nem bebo assim." Mas, com todo o respeito à figura de D. Eugênio, na verdade, D. Eugênio tinha essas predileções que D. Nivaldo não tinha.
Eu gostei do livro do Prof. Diógenes, porque ele nos mostrou a face terna, descontraída, de D. Nivaldo Monte. Ele, na verdade...
(Soa a campainha.)
O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Eu acho que há uma conspiração contra mim.
Estou brincando.
Na verdade - estou falando até descontraidamente -, eu quero terminar as minhas palavras dizendo o seguinte: ainda, enfaticamente, citou D. Nivaldo a feliz paráfrase de Tagore:
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A quem adoras tu nesse canto escuro
e solitário de um templo com portas fechadas?
Abre os teus olhos e vê que o teu Deus não está diante de ti!
Ele está onde o lavrador cava a terra dura
e onde aquele que abre caminhos está quebrando pedras.
Está com eles ao sol e à chuva, com a roupa coberta de pó.
Despe o teu manto ritual e desce como ele ao chão poeirento.
Ainda na década de 40, D. Nivaldo, mal-ordenado sacerdote, dava com a Igreja de Natal os primeiros passos inovadores, e com o depois Card. Eugênio Sales e outros membros do clero natalense, participou do que se convencionou chamar Movimento de Natal.
Um dos primeiros, mais duradouros e importantes frutos desses primórdios foram os esforços de educação e politização do meio rural: a Rádio Rural de Natal e suas escolas radiofônicas tiveram sua efetiva e permanente participação, revelando-lhe ainda mais os dotes e talentos de eloquência, de exímio comunicador, em prol não só da catequese, mas da conscientização...
(Interrupção do som.)
O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (Bloco Maioria/PMDB - RN) - ... política.
Também é dessa época, e com sua dedicada e inteligente participação... (Fora do microfone.)
... o trabalho de sindicalização dos trabalhadores rurais e a denúncia corajosa da perversa indústria da seca.
Srª Presidente, era em tudo, porém, homem de diálogo, mas sem transigir com o mal e o erro.
Acolhido com respeito pelos mais afortunados, era amado pelos mais desassistidos, e estava sempre atento quando um irmão, rico ou pobre, preto ou branco, poderoso ou desvalido, lhe dizia, como o paralítico a Jesus: "Senhor, eu não tenho ninguém."
E ao só e triste, abandonado nos desencantos da vida, amargurado na opulência ou desesperado na pobreza, ele dizia: "Aqui estou. Você tem alguém."
E, em sua fé, como na sua vida...
(Interrupção do som.)
O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (Bloco Maioria/PMDB - RN) - ... era o Cristo. Aquela sua presença solidária era não só alguém, mas tudo. (Fora do microfone.)
Srª Presidente, senhoras e senhores, não esbocei biografia do nosso homenageado. Quis dar um testemunho comovido, de quem conheceu e admirou a alma meiga e firme, desprendida, mas santamente altiva, de D. Nivaldo Monte.
Não falei sobre uma vida, mas sobre alguém a cuja memória, com Natal e o Rio Grande do Norte, dedico o preito não só de honra e saudade, mas de sentida e fiel devoção.
Eu quero dizer ainda que, no livro de Diógenes...
Se não fosse essa campainha... Ela, às vezes... Eu estou achando que ela... Eu já estou voltando atrás: acho que essa campainha, às vezes, tem as suas razões, porque a gente se estende mesmo.
(Interrupção do som.)
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A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Senador, permita-me rapidamente. Vou conceder mais dois minutos para V. Exª concluir o belo pronunciamento que faz.
Por favor.
O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Isso é bondade de V. Exª.
D. Nivaldo dizia que só há uma oração que está no livro de que eu não gosto: é a Salve Rainha. Aí, as pessoas se admiravam e perguntavam por quê? Porque ela diz:
[...] vida, doçura e esperança nossa, salve! A vós bradamos, os degredados filhos de Eva; a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei; e depois deste desterro nos mostrai Jesus, bendito fruto do vosso ventre [...].
Certamente, "a vós bradamos, os degredados filhos de Eva" é realmente...
(Soa a campainha.)
O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Olha, eu queria apenas agora, no final, saudar aqui não os conterrâneos do Rio Grande do Norte, mas os conterrâneos do Rio Grande do Sul no apreço a D. Nivaldo, que são o Sr. Rubi Rodrigo e a Srª Odete, que estão presentes e foram grandes amigos de D. Nivaldo e sua família.
Presidente, muito obrigado. Desculpe. Eu realmente abusei aqui do tempo, e a campainha me puniu, mas eu estou muito feliz por participar desta sessão e por homenagear esse sacerdote que realmente orgulha todo o mundo católico do Rio Grande do Norte e do Brasil.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Cumprimentamos o Senador Garibaldi Filho e pedimos sua compreensão, pois ele sabe melhor do que eu que esta campainha aqui é automática. (Risos.)
Mas, enfim, conta aqui com a nossa compreensão também, tendo em vista o desejo que pauta todos nós aqui, que é de rendermos as mais merecidas e justas homenagens a D. Nivaldo Monte.
E, imediatamente, passo agora a palavra ao Senador José Agripino, ao tempo em que quero aqui saudar, na verdade, a família do homenageado, que aqui já saudamos: Oswaldo Monte, Tânia, Roberto, bem como Tâmara, sobrinha-neta, e o Carlos Monte Rodrigues de Melo, também sobrinho-neto. Mas eu quero saudar com muita alegria também aqui os potiguares Cícera Brasil Fernandes e Raimundo César Brasil Fernandes, de Caicó, mas radicados em Brasília; Tereza Mariz, que já saudei no início. E saúdo aqui a presença do nosso artista potiguar Geraldinho Carvalho, hoje radicado aqui na cidade de Brasília. E saúdo também Fernando Mousinho, aqui presente.
Com a palavra o Senador José Agripino.
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O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Social Democrata/DEM - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente desta sessão, Senadora Fátima Bezerra; Senador Garibaldi Filho; senhor representante da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e ex-Ministro do Superior Tribunal de Justiça, meu amigo Ministro Delgado; Reitora Ângela Paiva, da nossa UFRN; estimado amigo Côn. José Mário de Medeiros, que representa aqui a Arquidiocese de Natal; o Sr. Roberto Monte, a quem quero cumprimentar em nome do Senado; assim como os familiares de D. Nivaldo; e todos os amigos que vieram, do Rio Grande do Norte, do Rio Grande do Sul, enfim, do Brasil inteiro, para homenagear uma figura singular que foi D. Nivaldo Monte.
Eu fui, Ministro Delgado, Prefeito de Natal de 1979 a 1982 e Governador de 1982 a 1986 e tive o privilégio de, nesse período todo, conviver com D. Nivaldo Monte como Chefe da Igreja do nosso Estado. Eu posso dizer que privei, com D. Nivaldo, de momentos de tensão e de momentos de felicidade, de confraternização.
Eu diria que D. Nivaldo foi um conselheiro, foi um amigo, foi um crítico, mas, acima de tudo, foi um homem de respeito. Eu diria que D. Nivaldo foi um cidadão marcado pela característica de ser conciliador, muito afável no trato, mas obstinado nas atitudes. E aí eu queria fazer algumas observações.
Aqui foi mencionada a criação da Escola de Serviço Social. Na década de 50, lá atrás, não existia a UFRN, não existia a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, mas começaram a existir algumas faculdades. Talvez a primeira de todas tenha sido a Escola de Serviço Social, que surgiu junto com a Faculdade de Odontologia e Farmácia, depois a de Economia, depois, para o Onofre Lopes, a de Medicina... Mas talvez a pioneira tenha sido a Escola de Serviço Social. Para formar quem? Assistentes sociais. Por inspiração de quem? De D. Nivaldo Monte. Ele se preocupou com a economia, com a engenharia, com a arquitetura? Não, se preocupou com os mais humildes, que precisavam de assistentes sociais formados. Ele criou e quase que construiu, Garibaldi, a Escola de Serviço Social, onde hoje funciona a Câmara de Vereadores de Natal. Aquele prédio, Côn. José Mário, foi feito pelas mãos operosas, obstinadas de D. Nivaldo, para ali instalar uma semente ou embrião do que viria a ser a nossa Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ele foi precursor no tempo a favor dos pobres, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
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Ele era um obstinado. Como foi obstinado? Ele foi aluno, o senhor sabe, D. Côn. José Mário, do Seminário de São Pedro, que fechou. De 1969 a 1977, fechou, e ele, como ferrinho de dentista, a vida inteira buscou reabrir. E reabriu, em dezembro de 1977, ele conseguiu reabrir o Seminário onde ele estudou. Ele era um obstinado em favor de quê? Era o pastor, era um homem caridoso, era um homem de fé e era um homem acima do seu tempo.
Ele tinha uma característica diferente de D. Eugênio. D. Eugênio era um homem de atitudes muito fortes, polêmico. D. Nivaldo era um conciliador, um homem afável. Mas eles foram muito amigos, e, pela amizade deles, nasceu a Rádio Rural. Nasceu para quê? Para entreter as pessoas? Mais, muito mais do que para isso: para fazer com que o ensino à distância ocorresse pela Rádio Rural do Rio Grande do Norte, produto da ação de D. Nivaldo, de D. Eugênio; para que os sindicatos rurais tivessem voz e ação através da Rádio Rural.
Isso tudo precisava ser dito nesta hora em que se homenageia uma figura singular que foi D. Nivaldo Monte. Ele foi mais do que isso: foi um botânico. Eu me lembro de D. Nivaldo nas secas que enfrentei como Governador. E eu me aconselhava com ele, conversava com ele, sentia confiança nele. Quantas vezes conversei com ele sobre as ações que eram necessárias para superar os efeitos da crise da seca?!
E ele, quando deixou o arcebispado, foi terminar em Emaus, na Granja do Clero, para firmar a vocação de botânico, cuidando de espécies, de enxertias, vivendo daquilo que ele gostava de viver e deixando como legado, para o clero, o clero de Emaus, a Granja de Emaus.
Nada mais justo do que o Parque da Cidade de Natal, um parque com mais de 100ha, que preserva as dunas, que preserva parte da Mata Atlântica, ter recebido o nome de D. Nivaldo Monte pela generosidade e pelo reconhecimento do Prefeito Carlos Eduardo Alves, para imortalizar D. Nivaldo.
Ele merecia isso. Ele merece esta sessão e merece muito mais, como mereceu que o Parque da Cidade de Natal tivesse o nome de Parque Dom Nivaldo Monte, para homenagear uma das características que teve em vida, o botânico, o homem ligado à natureza.
Eu digo isso para fazer uma referência também ao homem de letras. Ele escreveu não sei quantos livros. Ele foi colega de tantos literatos, a começar por Jorge da Cunha Lima, José Mário Galvão, Ministro Delgado.
Ele escreveu não sei quantos livros sobre diversos assuntos, mas um dos títulos que mais me comovem é O Coração é para Amar - O Coração é para Amar! Isso resume a filosofia de vida de D. Nivaldo, um homem puro, um homem simples, que visitei na UTI.
Eu tive a oportunidade, Ministro Delgado, de estar com o meu amigo D. Nivaldo Monte na UTI do Hospital São Lucas, perto de ele morrer. Ele morreu um mês depois. Ele ainda estava ativo. Receberam-me, e ele estava numa UTI até grande, numa chaise-longue, onde ficou sentado. E eu passei um bom tempo conversando com ele, um bom tempo conversando com ele sobre as nossas recordações positivas e sobre as dificuldades que juntos enfrentamos, quando tive a oportunidade de agradecer-lhe o que foi em vida. E quero quase que encerrar esta minha fala despretensiosa, mas sincera, em relação a D. Nivaldo, falando do amigo que ele foi. Porque é preciso registrar. Ele talvez tenha sido um dos melhores amigos do meu pai, Tarcísio Maia, que foi Governador quando ele era Arcebispo; Tarcísio Maia, de quem ele foi amigo e cuja Missa de 7º Dia ele rezou na Catedral.
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Roberto Monte, foi uma das homilias mais bonitas que eu ouvi na minha vida, foi uma homilia do amigo para o amigo, de D. Nivaldo para Tarcísio Maia.
E eu quero aqui terminar as minhas palavras com este gesto de reconhecimento ao cidadão a quem o Rio Grande do Norte deve muito...
(Soa a campainha.)
O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Social Democrata/DEM - RN) - ... pelo exemplo de vida.
Já vou terminar, vou cumprir rigorosamente o meu tempo.
Pelo exemplo de vida e dizendo de D. Nivaldo aquilo que acho que muitos tinham vontade de dizer: D. Nivaldo foi um homem do bem. Não é um homem de bem, foi um homem do bem, um conciliador e, acima de tudo, um benfeitor do nosso Rio Grande do Norte.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Cumprimento o Senador José Agripino pelo importante pronunciamento que fez em homenagem a D. Nivaldo Monte.
Imediatamente, passo a palavra agora ao Dr. Delgado, representando aqui a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, que foi Ministro do Superior Tribunal de Justiça, no período de 1995 a 2008.
Ministro Delgado, com a palavra.
O SR. JOSÉ AUGUSTO DELGADO - Eminente Presidente e Senadora Fátima Bezerra, receba as homenagens, não somente de minha pessoa, mas também da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, que eu tenho a honra de representar, neste momento, por delegação honrosa que me foi concedida pelo Prof. Diógenes da Cunha Lima. Senadores Garibaldi Alves Filho e José Agripino, que bem representam o nosso Estado, e diletos amigos, as minhas homenagens.
Caríssimo confrade da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, Padre, Monsenhor e Capelão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Rev.mo Côn. José Mário de Medeiros; Sr. Roberto Monte, representante da família que hoje aqui está sendo homenageada, através da figura de Nivaldo Monte, a quem tenho a honra de, neste momento, reverenciar, dizendo que a história do Senado Federal do Brasil está engrandecida por este momento em que, em boa hora, a Senadora Fátima Bezerra propôs que esta solenidade acontecesse.
Já foi dito muito a respeito de Nivaldo Monte nesta solenidade. Todos os seus predicados foram aqui registrados, com fidelidade e com amor à realidade, a demonstrar a universalidade da bondade de Nivaldo Monte, a demonstrar sempre os princípios conciliadores que ele perseguiu em toda a sua vida, a demonstrar a valorização da dignidade humana e a valorização da cidadania, que eram as suas metas principais a serem atingidas através de suas ações religiosas e sociais.
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Eu pediria licença, não para falar de Nivaldo Monte, o homem que aqui foi caracterizado em seus ideais, mas para falar de Niniu - apelido de Nivaldo Monte por muitos anos, conhecido e tratado familiarmente como Niniu. O Niniu religioso; o Niniu chamado de Bispo em sua infância; o Niniu, que, no início, quando a vida se desabrochava através da sua mocidade, já descobria a sua vocação; o Niniu que se transformou depois na figura já aqui mencionada que bem representou, que bem demonstrou o seu caráter e a sua vocação; e o Niniu que D. Jaime assim o identificou, assim o caracterizou - abro aspas -:
"Hoje, diante de um tempo em que a memória se dissipa de forma rápida, às vezes, até injusta, é muito válido lembrar de pessoas que tiveram relevância na sociedade. É louvável a dedicação e o envolvimento de D. Nivaldo com assuntos de família, da Igreja, da cidade, da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte."
Para D. Jaime, aqui citado, que conviveu com D. Nivaldo e foi por ele ordenado padre, festejar o Professor é evidenciar uma pessoa que elevava a alma de todos com seu otimismo. Apesar de sua aparência física frágil, era um cabedal de conhecimento, com uma sensibilidade incrível e grande habilidade para mediar conflitos. Era um conciliador, um homem da comunidade, paciente, que sabia até onde podia ir em cada situação. Era um homem de ações, era um homem de preces, era um homem que empregou todo seu talento em benefício da sociedade, em benefício do ser humano, em benefício da paz, em benefício da serenidade nas conclusões das ações. Curioso e inquietante, também D. Nivaldo era desportista. Foi compositor de músicas cristãs e ainda assumiu o projeto arquitetônico do prédio onde funcionou a Escola de Serviço Social aqui já mencionada.
Com D. Eugênio Sales, D. Nivaldo também foi o primeiro coordenador da Ação Católica Feminina e o segundo, da Ação Masculina, ajudando a criar o Movimento de Natal, iniciativa pioneira da Igreja Católica formada por um conjunto de ações que prezava pela formação do ser humana no período da Segunda Guerra Mundial. Era o homem que pensava além do tempo em que vivia, que pensava para o futuro, sempre em benefício da paz. O Pe. Fábio Santos escreveu uma obra chamada Dom Nivaldo Monte, o nosso Niniu e disse, em sua obra, que D. Nivaldo foi a pessoa que melhor entendeu e sentiu as palavras de Jesus: de que na Terra é preciso se transformar numa criança para poder entrar no Céu. Por isso, o seu nome, mesmo nos tempos de padre, bispo e arcebispo, sempre foi o seu nome de menino: Niniu. Eu o chamava de o "sempre menino bispo". Ele, com o saber e o sabor de uma criança, era um encantado, se encantava e encantava a todos.
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E é de se registrar que me sensibilizou profundamente, no início desta solenidade, quando, como um desígnio de Deus e como que uma mensagem representando que Deus está aqui presente também homenageando Nivaldo Monte, as galerias desta Casa se encheram de crianças que se sucederam por vários momentos. Todas elas aqui, voluntaria ou involuntariamente, como que mandadas por Deus, vieram homenagear o nosso Niniu.
E termino as minhas palavras lembrando que D. Nivaldo foi um poeta - um poeta! -, embora muitos de seus versos continuem ainda escondidos na imaginação daqueles que com ele conviveram e que ouviram estes versos. Ele sempre foi um poeta. Era um poeta que, em momentos de suas reflexões, homenageou a velhice dizendo:
A velhice é muito boa
Pouco mal ela nos faz.
Só não gosto da velhice,
É por ser curta demais.
Em outro poema, denominado Pétala de Rosa, D. Nivaldo demonstrou todas as suas características do homem aqui já refletido ao dizer:
Não te admires por eu ser tão velho
De fazer, como eu faço, eu te aconselho:
Nunca deites, cansado, pra dormir.
À procura de um justo e bom repouso...
(Soa a campainha.)
O SR. JOSÉ AUGUSTO DELGADO -
Nunca feches os olhos sem abrir
Um livrinho com fados de trancoso.
Esse é o homem aqui refletido por todos os depoimentos que foram feitos. Ele é um patrimônio da cultura e do saber. Ele é universal, uma fonte de ensinamentos, um testemunho de vida, um filho amado do Pai, um autêntico louvor de sua glória.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Cumprimentamos aqui o Ministro Delgado pelo brilhante pronunciamento que fez, representando aqui a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras.
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Agora, no encerramento dos nossos trabalhos, nós vamos ouvir a palavra aqui de Roberto Monte, que vai falar exatamente em nome da família.
O SR. ROBERTO MONTE - Senadora Fátima Bezerra, propositora da presente sessão, autoridades presentes, amigos e familiares, companheiros e companheiras potiguares, todos e todas que assistem à TV Senado, falo aqui em nome da família Monte.
É com grande alegria e satisfação que estamos hoje aqui no Senado Federal, participando das comemorações do Centenário de D. Nivaldo Monte, Arcebispo da Arquidiocese de Natal, Estado do Rio Grande do Norte, Região Nordeste do Brasil.
D. Nivaldo Monte, conhecido pela nossa família e pessoas próximas como Niniu, o derradeiro filho de Pedro e Belarmina, emergiu de uma família em que o amor, a fé e o humanismo são marcas determinantes que ficaram em todos nós seus descendentes, conhecidos e admiradores. Sejamos todos nós dignos desse legado.
Gostaria muito de ressaltar a força desse núcleo familiar tão bem representado por essa mulher de fibra, a nossa avó Belarmina, conhecida como D. Bela. Uma família de sete irmãos - Luiz, Judith, Orígenes, Severino, Sebastião, meu querido pai, Oswaldo, e Nivaldo -, dos quais três foram sacerdotes, sendo o primogênito, Luiz, o Côn. Luiz Gonzaga do Monte, atualmente em processo de beatificação aberto pela nossa arquidiocese.
Fátima, você citou uma frase, mas há um arremedo: "É preciso pisar firme, pensar alto, olhar longe e agir pronto". É uma das frases de D. Nivaldo.
Conhecido como um amante da natureza e profundo conhecedor da alma humana, apesar de ser considerado uma pessoa moderada, teve um grande trabalho social, com o chamado Movimento de Natal, com a citada Escola de Serviço Social, com sindicatos rurais, com educação radiofônica, com o Programa de Educação Política da Arquidiocese de Natal, com a Comissão Pontifícia de Justiça e Paz durante a resistência democrática nos tenebrosos anos da ditadura militar após 1964.
Eram tempos em que termos como bem comum, conscientização, reforma agrária, direitos humanos e CEB (Comunidades Eclesiais de Base) faziam parte da práxis da Igreja do Rio Grande do Norte - palavras e ações atuais, necessárias nos dias de hoje, e não preciso nem dizer por quê.
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Era um democrata, gostava de falar de flores e da natureza, mas nunca colaborou ou compactuou com opressores e inimigos da democracia.
No final da década de 90, fez a introdução e o prefácio do Programa Estadual de Direitos Humanos do Rio Grande do Norte, na época em que Garibaldi era o Governador, escrevendo:
Duas forças inelutáveis nascem da natureza do homem: a força da imanência que o leva a lutar pela integridade harmônica de seu ser, e a força da transcendência que o impele a progredir em busca de novas formas de ser e de existir.
[...] Todo homem tem direito à vida, todo homem tem direito de progredir. Toda economia que não tem como escopo primordial, de primeira urgência, o homem e seu bem-estar é uma economia injusta [...].
Continua D. Nivaldo em sua reflexão:
Só domina quem se domina, só se domina quem se possui, só se possui quem se conhece, só se conhece quem sabe refletir. Se queremos uma sociedade justa e progressista, temos que lutar com todos os meios de que dispomos, numa luta constante, sem quartel, para que sejam respeitados os direitos individuais de uma existência sadia, de um corpo bem nutrido e de um espírito consciente e livre, para que o homem possa buscar, para si e para a sociedade em que vive, dias de paz e de desenvolvimento, podendo assim viver e ser feliz.
"Viver e ser feliz", finaliza D. Nivaldo.
Era muito ligado às religiosas do nosso Estado. Para ressaltar esse dado, gostaria de dar voz a uma religiosa, a nossa querida Irmã Vilma Lúcia de Oliveira, da Congregação Filhas do Amor Divino, que, num texto para o nosso DVD, Fátima - cuja cópia deixei para você -, fala do D. Nivaldo Monte como Teólogo da Ternura.
Diz Irmã Vilma:
D. Nivaldo Monte continua vivo entre nós! O seu amor pela igreja e pelo seu redil prossegue na eternidade. Só a saudade e a ternura podem inspirar as definitivas lembranças que temos dele como um afetuoso pastor, homem bom, erudito, simples, orante, terno, vazio de si, mas repleto de totalidade! A lembrança de seus gestos sinceros colorem nossos dias com carisma e afeto, eternizando o privilégio de tê-lo por perto. O seu legado tem um triplo aspecto: ser pastor, ser poeta e ser, de alguma forma, um dos precursores da teologia da ternura.
Comissão dos cem anos: desde o mês de agosto de 2017, trabalhamos em conjunto com a Arquidiocese de Natal na programação do presente Centenário.
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Houve uma grande harmonia entre nós familiares e a Arquidiocese de Natal, na pessoa do nosso Arcebispo D. Jaime Vieira Rocha, seus auxiliares, religiosos e religiosas e, em especial, a Pastoral da Comunicação (Pascom), que fez o vídeo a que depois vamos assistir, não é, Fátima?
Houve homenagens e sessões solenes no Legislativo e em entidades e instituições culturais; lançamento de um DVD, que acontecerá hoje no Ki Filé; selo comemorativo via Correios; história em quadrinhos, cordel, livros; exposição de sua vida e obra para alunos da rede pública e privada; levantamento e publicação de sua obra, 27 livros e plaquetes, e textos inéditos; e reflexões em áudio através de e-books, DVDs, redes sociais, internet.
Uma dica, acessando www.dhnet.org.br/nivaldomonte, todos poderão acessar dados na forma de texto, áudio, vídeos e fotos sobre o nosso homenageado.
Finalizando, quero agradecer a Senadora Fátima Bezerra, do Partido dos Trabalhadores, e toda a sua equipe pelo carinho e atenção em todo esse processo de construção da presente sessão.
Cara Fátima, você dignifica tudo que o que chamamos de Doutrina Social da Igreja, pois a sua prática tem sempre em mente o bem comum, nunca traiu a confiança do povo do Rio Grande do Norte, nunca traiu a democracia e sempre esteve ao lado do povo, dos excluídos e empobrecidos da nossa terra e do nosso País. Leva a sério, Fátima, aquilo que o Papa Francisco fala: "Um cristão jamais deve ser hipócrita."
Como dizia D. Nivaldo, o sim deixou de ser sim e o não deixou de ser não. A mentira e a informação manipulada começam a ter lugar nas declarações dos homens públicos. Nunca se mentiu tanto como nos dias de hoje.
(Soa a campainha.)
O SR. ROBERTO MONTE - Para finalizar, quero agradecer pelas imagens que passaram aí, que são do nosso amigo Henrique José.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Roberto, quero cumprimentar e dar um abraço fraterno nos familiares aqui presentes e naqueles que aqui não se encontram. Também quero dar um abraço muito fraterno na legião de amigos e amigas, admiradores e admiradoras que D. Nivaldo tem não só no Rio Grande do Norte, mas no Nordeste e no Brasil.
Também quero cumprimentá-lo pelo belo pronunciamento que acaba de fazer, ao tempo em que quero dizer que você traz, nas suas veias, o sangue de D. Nivaldo, que aflorou no sentido de ter uma vida pautada e voltada para a defesa da justiça social, da solidariedade, para ter uma vida pautada e voltada exatamente para olhar exatamente para os mais humildes, para os pequenos, para os que mais precisam de justiça e de dignidade.
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Roberto abraçou essa luta, em defesa dos direitos humanos. É um dos militantes dessa área, um dos estudiosos, respeitado e reconhecido não só no meu querido Rio Grande do Norte, mas em todo o Brasil, idealizador, fundador do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular lá de Natal, no Rio Grande do Norte.
Então, fica aqui também a nossa homenagem a você pelo papel que você desempenha, repito, inspirado na história de vida e na trajetória de vida de D. Nivaldo, esse papel tão importante que você desempenha na luta em defesa de direitos humanos, por justiça e por dignidade.
Para encerrar mesmo, agora, caminhando para o encerramento da nossa sessão, eu gostaria de convidar os presentes para assistirem a um vídeo que vai ser exibido agora, no painel do plenário do Senado.
Esse vídeo foi feito...
O SR. ROBERTO MONTE (Fora do microfone.) - Pela Pascom (Pastoral de Comunicação) da Arquidiocese de Natal.
A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Esse vídeo foi feito, Senador Garibaldi, pela Pastoral de Comunicação da Igreja de Natal.
Então, por favor, vamos veicular, aqui pela TV Senado, como parte da programação da nossa sessão solene, esse vídeo que fala da trajetória de D. Nivaldo Monte.
(Procede-se à exibição de vídeo.) (Palmas.)
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A SRª PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Quero aqui também fazer o registro, na nossa sessão solene, de que, como parte da agenda de comemorações alusivas ao centenário de D. Nivaldo Monte, a Câmara Municipal de Natal, no próximo dia 7 de maio, às 19h30, vai abrigar o evento, ocasião em que será lançado o selo comemorativo em homenagem a D. Nivaldo.
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Quero ainda também fazer constar aqui o DVD dedicado à memória histórica potiguar, dedicado exatamente a D. Nivaldo Monte, que faz parte da coleção multimídia Memória Histórica Potiguar, que foi produzido pela Rede de Direitos Humanos e Cultura lá do nosso querido Rio Grande do Norte.
Quero finalmente, cumprida toda a finalidade da sessão, primeiro agradecer a presença de cada um dos senhores e de cada uma das senhoras, das demais autoridades que nos honraram com suas presenças, e dizer que o que o Senado Federal faz, no dia de hoje, nada mais, nada menos é do que a nossa obrigação, o nosso dever de fazer este resgate da memória para as gerações presentes e para as gerações futuras; como eu disse ao longo da minha fala, o resgate da história de um homem profundamente marcado pelo sentimento do humanismo, da solidariedade, pelo quanto a sua história de vida, a sua trajetória se voltou para a luta em defesa da justiça social, para a luta em defesa da solidariedade.
D. Nivaldo seguiu os ensinamentos de Cristo - assim como são os ensinamentos do Papa Francisco -, no sentido de não abrir mão, de maneira nenhuma, daquele sonho que todos nós carregamos: o de uma sociedade com justiça social, com solidariedade; um mundo onde as pessoas possam viver com dignidade, com justiça e com paz. Esse foi o lema dele, esse é o legado exatamente que ele nos deixou.
Por isso, quero dizer aqui realmente da nossa alegria de fazer com que o Senado Federal oportunize não só ao povo potiguar e ao povo do Nordeste, mas ao povo do Brasil essa simples, porém, Roberto, justa, verdadeira e merecida homenagem a D. Nivaldo Monte, especialmente nesses tempos que nós estamos vivendo, infelizmente; tempos de ameaça à democracia, de ataque à democracia; tempos de crescimento da intolerância, do ódio.
Mais do que nunca, portanto, é muito oportuno falarmos de um homem como D. Nivaldo Monte, a quem rendemos todas as merecidas e justas homenagens.
Muito obrigada a todos e a todas.
Está encerrada a presente sessão. (Palmas.)
(Levanta-se a sessão às 13 horas e 23 minutos.)