4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
55ª LEGISLATURA
Em 30 de novembro de 2018
(sexta-feira)
Às 9 horas
144ª SESSÃO
(Sessão Não Deliberativa)

Oradores
Horário

Texto com revisão

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O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.
Com a palavra...
Antes, a Presidência comunica ao Plenário que há expediente sobre a mesa, que, nos termos do art. 241 do Regimento Interno, vai à publicação no Diário do Senado Federal.
Com a palavra o primeiro orador de hoje, o Senador Paulo Paim, do Rio Grande do Sul.
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O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) - Senador José Medeiros, é uma satisfação usar a tribuna, neste momento, para falar e fazer uma reflexão com o povo brasileiro, como tenho feito, reforçando sempre a democracia, mas com V. Exa. na Presidência.
V. Exa tem posições muito firmes, muito claras, é daqueles homens públicos que não escondem o seu ponto de vista e que não fogem, inclusive, de um bom debate. Tem posições firmes.
Assim é a democracia. Não tem sentido, num sistema democrático, cada um não poder defender o seu ponto de vista. Por isso, V. Exa teve uma bela votação e se elegeu como Deputado Federal, por opção.
Presidente, José Medeiros, quero refletir hoje sobre um livro que escrevi há pouco tempo e que leva o título de O Martelo, a Pedra e o Fogo. São os símbolos da própria democracia que eu explico, de cidadania, de trabalho, valorizando o empreendedor, o trabalhador, das mais variadas áreas. Vou discorrer um pouco sobre eles neste momento, Sr. Presidente.
A cidadania é como o universo, sempre haverá uma descoberta a alcançar e uma nova estrela a ser confirmada. No ano de 2016, Sr. Presidente, Senador José Medeiros, lancei o livro O Martelo, a Pedra e o Fogo. Passados dois anos, ele continua muito, muito atual.
O profeta Jeremias dizia: "A palavra é poderosa como o fogo, que ninguém pode conter. E é persistente como o martelo que bate, bate e bate". A vida mostra que até as pedras mais duras não resistirão à paciência, à constância, à fidelidade, à coragem e à justiça dos homens de bem. Daí vou usar uma frase popular que diz: água mole em pedra dura, tanto bate, tanto bate, até que fura.
Enfim, Presidente, buscamos a transformação do imperfeito desenvolvimento em cima de um trabalho cotidiano, degrau por degrau, martelando a pedra, levando ao fogo, ajustando seus ângulos em profunda introspecção. Do aperfeiçoamento individual se chegará ao desenvolvimento coletivo, à dignidade humana e à tão sonhada cidadania. Vislumbrando o reconhecimento, as diferenças e uma sociedade cuja marca seja a inclusão social.
Mas de nada adiantarão o martelo, a pedra e o fogo se o que for compreendido não for colocado em prática, forjado em atitudes e ações. Seria a negação da verdade, do amor, a desconstrução da fraternidade, seria abdicar de um projeto de nação.
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Sr. Presidente, com essas as palavras ditas no início do livro, afinal, o que são mesmo o martelo, a pedra e o fogo? Pois vamos em frente. O martelo é presente em todas as culturas, grandes e pequenas, assumindo, por vezes, nos povos mais antigos e dedicados à metalurgia, importante símbolo do domínio sobre o metal. Nos tempos modernos, o martelo tornou-se um símbolo de quem? Do operariado, dos trabalhadores, seja da área urbana ou do campo. O martelo representa, enfim, a democracia, a liberdade, a justiça, a igualdade, o voto, a Constituição cidadã de 1988, uma das cartas sociais, como dizia ontem, mais avançadas do mundo.
Neste capítulo, eu discorro, Sr. Presidente, sobre esses temas. E ainda, ontem, falei muito sobre a importância da democracia. O norte da minha fala foi justamente baseado nesse princípio.
A pedra angular era a pedra fundamental, utilizada nas antigas construções, caracterizada por ser a primeira a ser assentada na esquina do edifício, formando um ângulo reto entre duas paredes. A partir da pedra angular, eram definidas as colocações de outras pedras, alinhando toda a construção. Ela é o elemento essencial que dá existência àquilo que se chama fundamento da construção. A pedra representa as pelejas do Brasil, representa o eixo: saúde, educação, segurança, infraestrutura, ciência, tecnologia, emprego, renda. Enfim, ela aponta para a estrutura do País que queremos, da Nação que sonhamos.
O que o Brasil precisa fazer para tornar-se um país desenvolvido, uma nação chamada de primeiro mundo? O que fazer em momento de crise? Há décadas, deparamo-nos com obras acadêmicas, filmes, poemas, letras de canções, pronunciamentos, sentenças judiciais, cujos autores apontam as mazelas do nosso País, espelhando o inconsciente coletivo do nosso povo. Perguntam, perguntam, perguntam. E as respostas? Ondes estão as respostas?
Enfim, avançamos.
Para sermos o País do futuro, precisamos de mais investimento. É só perguntar ao povo que ele dirá: em saúde, como por exemplo, o Sistema Único de Saúde (SUS). Precisamos aprimorar a distribuição, em termos regionais, de profissionais da área da saúde: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas. Embora o sistema público de saúde tenha melhorado, não dá para negar, nas últimas décadas, ele precisa ser continuamente aprimorado, uma vez que se relaciona diretamente com a preservação e a qualidade da vida de todo o nosso povo.
O SUS, nas últimas décadas, tem enfrentado muitos desafios. Entre os quais, podemos citar o rápido processo de urbanização vivido pelo Brasil. Essa migração, campo e cidade, resultou na criação ou expansão de Municípios sem infraestrutura de serviços públicos básicos e necessários, como o abastecimento de água potável, o esgotamento sanitário, o recolhimento do lixo. Na educação, melhoramos? Sim, melhoramos, contudo ainda temos uma longa caminhada pela frente. A taxa de alfabetização, por exemplo, é um dos indicadores mais importantes para avaliarmos esses desafios a serem enfrentados, pois revela a situação educacional e, consequentemente, as condições sociais do País que todos nós sabemos. Nada acontece sem investirmos na educação.
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Segundo dados do IBGE, os resultados do censo de 2010 indicam que, aproximadamente, 91% da população brasileira com dez anos ou mais são alfabetizados. Em comparação aos resultados do censo de 2000, a situação da alfabetização melhorou no País, pois a taxa de analfabetismo diminuiu de 12,8% para 9%, em 2010. Mas, apesar dos avanços que aqui eu reconheci, temos ainda um percentual muito alto: 9% de não alfabetizados, o que equivale a dizer que, aproximadamente, no Brasil, 18 milhões de brasileiros não sabem ler e escrever.
Os especialistas na área, Senador Medeiros, são unânimes ao apontar que, se o Brasil não educar adequadamente a sua população e qualificar - eu venho do ensino técnico, por exemplo - a mão de obra disponível, dificilmente conseguirá manter um crescimento sustentável. Segundo esses estudiosos, a solução definitiva para a educação brasileira passa pela valorização dos professores, que, além de não serem reconhecidos pelo seu mérito, recebem salários indignos. São inúmeros os Estados que não pagam sequer o piso para um professor, inclusive o meu. Com honrosas exceções, carecem de mínimas condições, inclusive de trabalho.
Em infraestrutura, energia, telecomunicações, rodovias, saneamento, o Brasil investe, por ano, cerca de 2,5% do Produto Interno Bruto, do nosso PIB, percentual que está estacionado desde a década de 80, um patamar insuficiente para repor o que é depreciado e ainda expandir a capacidade de oferta, ou seja, o Brasil investe pouquíssimo para um país que almeja ser uma verdadeira nação de Primeiro Mundo. De acordo ainda com especialistas, teríamos que investir, pelo menos, 3% do PIB para manter o estoque de infraestrutura existente, para reduzirmos a discrepância com países emergentes, com alto crescimento. Deveríamos investir aqui, segundo eles, pelo menos, 5% do PIB de forma contínua. O quadro se torna ainda mais grave porque, além de poucos investimentos, investimos mal.
Neste capítulo, eu também abordo outros temas, como ciência e tecnologia, criação de emprego, direitos trabalhistas e sociais, valorizo o empreendedorismo e valorizo - até porque fui aluno - as escolas técnicas.
No final também deste capítulo, eu cito um poema de Affonso Romano de Sant'Anna, que disse: "Que País é Este?", traduzido em vários idiomas.
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Leio aqui somente um pequeno trecho: "Vinha de um 'berço esplêndido' para um 'futuro radioso' e éramos maiores em tudo - discursando rios e pretensão. Uma coisa é um país, outra um fingimento. Uma coisa é um país outra, um monumento. Uma coisa é um país, outra o aviltamento."
Sr. Presidente, o fogo, conforme eu falo no livro, se expressa num simbolismo de variados aspectos. Pode ser associado à paixão ou à cólera, aquecedor ou destruidor, sagrado ou transformador, iluminador ou regenerador. Pode representar também o espírito ou o conhecimento intuitivo. Tal como o sol e seus raios, o fogo e suas chamas representam a força fecundante, purificadora e iluminadora. O fogo, Sr. Presidente, como aqui eu escrevo, representa todos os brasileiros e brasileiras, mulheres e homens, de norte a sul, da cidade e do campo, das florestas e do litoral.
Somente com um povo mobilizado, garganta rouca e bandeiras ao vento é que vamos fazer grandes mudanças no País. A história mostra, tanto a história recente, como a história mais distante. Mudanças houve. As grandes mudanças sociais, políticas e econômicas que o Brasil precisa só serão alcançadas com grandes mobilizações. O presente e o futuro do nosso País dependem exclusivamente da ação organizada e contínua de toda a nossa gente. Os palácios de Brasília, as sedes dos Governos estaduais e municipais só se movimentam quando os tambores rufam e quando a população faz ouvir os seus gritos de indignação.
Antônio Frederico de Castro Alves assim escreveu: "A praça é do povo como o céu é do condor. É o antro onde a liberdade cria águias em seu calor." Todas as manifestações da população, para mim, são legítimas. Todas, todas são legítimas, independentemente de correntes ideológicas, políticas ou partidárias. A população tem direito a expressar-se, a manifestar-se livremente, mesmo que sejam contrárias às nossas opiniões ou a favor. Nesse mar de cantorias, não há espaço para violência, e muito menos para a repressão.
Eu termino falando, Sr. Presidente, no capítulo 4 do livro, onde eu discorro sobre "construindo a cidadania":
A luz está associada à força espiritual, ao voo do falcão, à esperança, ao reconhecimento da consciência, à cumplicidade, à identidade, ao respeito aos direitos humanos, aos direitos e deveres civis, políticos e sociais. Cidadania é a luz. A luz é expressa no trabalho e na ação de todos, inclusive de nós legisladores. Sonhos, lutas, angústias e lágrimas, projetos, leis e defesa do Brasil, a igualdade de oportunidades para todos, tudo que leve à melhoria da vida dos brasileiros. Se as coisas são inatingíveis, ora, ora, ora, ora, não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas.
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Essa frase não é minha, é de Mário Quintana. Mário Quintana bate fundo na alma de todos que acreditam e sonham em um País mais solidário e justo.
Nesse capítulo eu trato de grandes temas do mundo legislativo, que fizeram e fazem parte das nossas vidas, seja como autor de leis e projetos, passando pelo debate de assuntos que tratam diretamente da vida das pessoas.
Falo de leis como o Estatuto do Idoso, de que eu tive a alegria de ter sido o autor, Presidente; do Estatuto da Pessoa com Deficiência; da Igualdade Racial. Fui Relator do Estatuto da Juventude, fui autor de diversas propostas do salário mínimo, do fator previdenciário, alternativa que criamos via fórmula 85/95, que resolve praticamente o problema da Previdência. Muitos não leram e talvez não percebam que esta Casa aprovou por unanimidade que, de dois em dois anos, conforme os dados do IBGE aumentam um plus na idade e no tempo de contribuição. Enfim, discutimos muito aqui a reforma trabalhista, a da Previdência, a terceirização entre outros.
Sr. Presidente, Senador Medeiros, o livro O Martelo, a Pedra e o Fogo foi escrito com muito carinho, foi escrito com o mesmo espírito de um outro livro que fiz. Todo ano eu lanço na Feira do Livro em Porto Alegre - e já são cerca de 30 -; um outro livro também recente, que comentei na tribuna e que tem tudo a ver com o momento, cujo título é Pátria Somos Todos. Temos que olhar para todos. São obras que refutam a intolerância e o ódio, são obras que pregam o amor, o respeito, a liberdade, a democracia e a solidariedade.
Estamos a oceanos das transformações sociais e políticas necessárias. Queremos o nosso Brasil fraterno e democrático, queremos o Brasil para todos: pobres, ricos, índios, negros, brancos, emigrantes, imigrantes. Enfim, de todos os segmentos, homens, mulheres, independentemente de religião ou de orientação sexual. Não podemos mais viver somente o agora. Queremos pintar o destino coletivo do nosso País... O Martelo, a Pedra e o Fogo.
Queremos construir a cidadania, a história, Senador Medeiros, nos impõe esse desafio. Vamos não só fazer parte da história, vamos ajudar a escrever a história do nosso País, do Brasil, da nossa gente.
Temos pressa de seguir adiante...
(Soa a campainha.)
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) - ... de escalar montanhas, de rabiscar versos, de cantar as palavras do vento.
Assim eu creio.
Eu termino, Sr. Presidente. E me permita só nesses últimos minutos, para aqui eu aqui já concluir, fazer um rápido comentário. Sr. Presidente, eu noto - e até depois gostaria de ouvir a opinião de V. Exa. - que há em matéria de ajuste em relação aos nossos mandatos uma série de iniciativas que acabam sendo fulanizadas, ou seja, personalizadas, ou melhor, individualizadas.
O camarada diz, "O Senado tem que ter carro ou não ter carro?". Daí algum pega e abre mão do carro - daí um pega e abre mão do carro -, só vou dar alguns exemplos. Deve ou não deve ter o apartamento ou o auxílio-moradia? Aí, um abre mão, e outro abre ou não abre. Deve ou não ter, no fim do mandato, se é de oito anos ou de quatro - não vou discutir o valor; só quero dar o exemplo -, o chamado auxílio-transporte? Pois bem, se não pode ou se for considerado imoral, porque é esse o debate que hoje está dado, o que o Parlamento tem que fazer? Mudar a lei. O que não pode é criar uma disputa de quem é o mais ético ou o mais certinho ou o soldadinho. Cria-se uma situação, eu diria, no mínimo esdrúxula e até absurda no Parlamento.
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Se assim o Parlamento entende, pois bem, vamos votar aqui. As Casas votam, e pronto. O que não pode é ficar, aqui, cada um dizendo: "Não, eu vou abrir mão disso, eu vou abrir mão disso, eu vou abrir mão da cota de passagem, eu vou abrir mão da cota que eu tenho para imprimir lá na gráfica".
Por exemplo, esses livros aqui, eu não vendo, como este aqui. É tudo uma visão do meu trabalho, o que eu penso no Parlamento. Eu imprimo e entrego na Feira do Livro. Bom, pode ou não pode? Se pode, pode. Se não pode, não pode.
Eu faço essa reflexão, porque noto que há uma linha de conduta, para mim, absurda. Ou pode ou não pode. Se não pode, a pressão tem que ser qual? Não é para um ou outro dizer: "Eu, daqui para frente, lavo as minhas mãos." O certo, nós que defendemos a democracia, estou falando tanto aqui, e V. Exa. sei que também defende, é: o que pode, pode; o que não pode, não pode. Mude-se a lei.
Existe uma frase de um revolucionário gaúcho, já falecido há muito tempo, que diz: "Eu quero leis que governem homens, e não homens que governem as leis".
Era isso, Presidente.
Eu termino.
Eu tinha que fazer esse comentário final.
O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - Senador Paim, um feliz comentário, até porque eu ouvi uma avaliação ontem de um Senador aqui, que resolveu jogar para a galera. Perdoe-me o termo. Eu vou falar aqui porque falei para ele. Ele resolveu jogar para a galera e dizer: "Olha, eu não quero o auxílio-mudança". E ele estava me falando: "Rapaz, eu fui ver o preço da mudança, e eu não sei como eu vou fazer para mudar", porque não é barato.
Quando fizeram esse auxílio-mudança foi justamente preocupado com o sujeito...
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) - Que estava chegando.
O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - ... que estava chegando ou que estava saindo. E ele resolveu dizer aqui que não vai aceitar. E, agora, está arrependido porque não sabe como vai fazer. Acho que vai ter que tomar dinheiro emprestado no banco para fazer a mudança para o Estado dele.
É o que V. Exa. disse: temos que fazer um ajuste, tipo assim, ou encerrar.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) - Exato.
O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - Agora, essa disputa para ver quem joga mais bonito para a internet é que é uma coisa maluca.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) - Eu acho um absurdo isso.
O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - Vão me perguntar: "Medeiros, você vai abrir mão?". Não, eu não vou abrir porque eu não estou chegando. Mas, se está na lei, se eu não fiz nada de ilegal, eu vou receber e vou dizer isto para o meu eleitor: olha, eu vou receber. Eu não fico com um centavo a mais do Congresso do que a lei me permite, do que é o meu salário. "Ah, Medeiros, e as emendas?". Não pego uma beiradinha. Os Prefeitos todos do meu Estado, são 141, podem assistir a este vídeo e confirmar ou desmentir se eu estiver mentindo. "Mentira, Medeiros. Você está mentindo".
Faço isso porque o dinheiro é público.
Agora, não se ata a boca do boi que puxa a mó, já dizia o Velho Testamento.
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Então, o meu salário... O que você tem de receber? É tanto. Então, eu recebo tanto. Amanhã ou depois o Senado diz: "Não! Você vai receber só a metade". Eu vejo se vou dar conta de viver aqui em Brasília com a metade; senão, vou para casa.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) - Mudem a lei, exatamente.
O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - Muito obrigado, Senador Paulo Paim.
Peço a V. Exa. que assuma a Mesa.
(O Sr. José Medeiros deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. Paulo Paim.)
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) - Com a palavra o Senador José Medeiros, pelo tempo necessário para o seu pronunciamento.
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT. Para discursar.) - Bom dia a todos! Cumprimento a todos que nos assistem pela TV Senado, pelas redes sociais. Cumprimento esse grande Senador, Paulo Paim.
Senador Paulo Paim, não é à toa que V. Exa. foi reconduzido ao cargo de Senador da República pela população do Rio Grande do Sul, ou seja, pela transparência com que exerce o seu mandato. Vejo que V. Exa. foi um dos poucos que escapou desse tsunami que varreu o País e que varreu o Partido dos Trabalhadores praticamente da história.
E às vezes as pessoas dizem: "O povo não sabe votar". O povo sabe votar. Veja que eles souberam separar: "Isso aqui eu aprovo; isso aqui eu não aprovo. Dessa conduta do Partido dos Trabalhadores, eu não gostei; mas, espera aí, tem o Paim ali, de cujo perfil eu gosto. Eu gosto da conduta dele. Eu gosto da maneira como ele se porta no Parlamento. E aquele perfil ali me representa".
Então, mais uma vez fica provado que o eleitor observa todos os nossos passos aqui. E quando V. Exa. fala sobre o comportamento aqui na Casa, Senador Paulo Paim, V. Exa. não está aqui porque joga com a galera. V. Exa. acaba de provar isso. Então, está errada a lei? Vamos mudá-la, vamos mudá-la. E isso o eleitor respeita, isso o eleitor respeita.
Eu tenho procurado me manter aqui de uma forma transparente também, porque isso aqui é como se fosse um Big Brother. E quem começa a mentir um perfil, dificilmente consegue mentir o tempo inteiro. Então, eu já prefiro ser eu direto, porque aí não preciso inventar nada. Paim não precisa inventar nada, porque Paim é Paim. Ele subiu àquela tribuna, e as pessoas já sabem qual é o perfil dele.
Isto é o que os eleitores brasileiros esperam dos seus representantes: primeiro, que representem os anseios dos seus Estados, que representem bem o seu Estado, que gostem do seu País, que não joguem contra e que não sejam dribladores, que não joguem para a galera, que não surfem na onda, porque você nunca sabe o jeito como o sujeito é, você nunca descobre. Sabe aquele sujeito que conversa com você e que não olha nos seus olhos - é assim, para cá, olha para lá? O eleitor gosta do Parlamentar para o qual ele olha e fala assim: " É isso aí. Qual é a posição do Paim sobre tal assunto? É essa, faça sol ou faça chuva."
Então, essa postura sobrevive a qualquer, vamos dizer, rearrumação das placas tectônicas na política. E olhe que não foi fácil esse momento eleitoral agora, mas as pessoas...
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Ontem, eu vinha para o Senado e estava ouvindo uma avaliação sobre o momento político brasileiro, feita pelo Senador Paulo Paim. Uma coisa extraordinária do ponto de vista de grandeza de homem público! Olha, não é fácil você, seu grupo ser tirado do poder, e ele serenamente fazia uma avaliação sobre os ciclos e o que é a democracia. Ele falou: "Olha, em determinado momento, nós tivemos um ciclo, depois, tivemos outros e agora estamos tendo outro, o que não significa que o Brasil acabou e que a democracia acabou. De repente, amanhã, vamos ter outro".
Essa é a mudança ou a oxigenação de que a democracia precisa. E o que vamos fazer? Vamos nos matar? Vamos nos agredir? Não, vamos fazer o debate. Em determinado momento aqui, Paim vai estar numa posição, defendendo seus pontos de vista, eu posso estar noutra, mas isso é a democracia, acima de tudo com respeito.
E, na maioria das vezes, para encerrar o capítulo Paim, o que a gente vê é serenidade. Contundência, mas serenidade, e é disso que nós precisamos. Neste momento no Brasil, o que se precisa é abaixar a fervura. E, dito isso, Senador Paim, quero lhe fazer esta homenagem e parabenizá-lo pela eleição que V. Exa. teve no Rio Grande do Sul.
V. Exa. sabe que estivemos aqui, na maioria das vezes, em campos opostos, mas, sobretudo, com muito respeito, com muito respeito, porque eu sei admirar o trabalho bem-feito, e Paim é um estudioso. Hoje, às 8h30 da manhã, gente - começa às 9h aqui -, eu estava terminando de me arrumar em casa, Zezinho ligou e falou: "Olha, o Paim já chegou". Ele já estava aqui. Então, assim, ele chega cedo e sai tarde.
Então, eu queria dar este testemunho aqui como medida de justiça - não sei se terei outra oportunidade - e dizer que foi um privilégio, Senador Paulo Paim, ter tido a oportunidade de estar no Senado com V. Exa., poder aprender e poder estar aqui neste momento histórico da vida brasileira. Então, meus parabéns e minhas homenagens, e o restante a população do Rio Grande do Sul já fez.
Aí, de repente, as pessoas estão assustadas, porque hoje, na internet, tudo é isso ou aquilo. "Nossa, Medeiros, como você está elogiando o Paim?!" Estou elogiando um grande brasileiro, um grande Parlamentar, que não é obrigado a concordar com minhas posições, mas, se aqui fosse todo mundo pensando da mesma forma, isso aqui não seria o Senado Federal brasileiro. Seria a igreja federal brasileira. Seria uma igreja, e a igreja é em outro momento. Aqui é um Parlamento, onde se debatem ideias, onde se fazem ponto e contraponto e é onde as coisas caminham.
Então, Senador Paulo Paim, neste momento da política brasileira, há um debate, carecendo de um conselho como aqueles que V. Exa. fez naquela reflexão ontem, de chegar um pouco ao equilíbrio, ao meio. Dito isso, aproveito para fazer um parêntesis aqui em relação à fala que fiz ontem, porque foi uma fala longa e, dentro da fala, eu estava num contexto e, em algum momento, a gente acaba generalizando, e já existe o conceito de que toda generalização é burra, e isso também é uma generalização.
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Mas o que acontece? Quando eu falava sobre a imagem do Brasil fora, no exterior, eu dizia da necessidade de o agronegócio brasileiro começar a fazer convênio com as universidades e levar as turmas de jornalismo para ver a realidade do campo, lá no Rio Grande do Sul, no Mato Grosso, no Paraná, para ver como é que os nossos produtos saem da lavoura e chegam à mesa das pessoas, para que não haja, nas matérias, generalizações que saiam pelo mundo afora dizendo que todos os nossos produtos saem do trabalho infantil, do trabalho escravo ou do desmatamento das florestas. Porque é justamente o contrário. Essas coisas são exceções.
Nós temos trabalho infantil em carvoarias e não sei o quê? Temos. Temos trabalho escravo por aí? Temos. Nós temos as mais variadas mazelas, mas nós precisamos ver o lado cheio do copo, que nós temos 67% das nossas florestas preservadas, que nós só fazemos agricultura em 7,8% do nosso território e que nós temos, praticamente, a maior produção do mundo. E mais: desses 7,8% da agricultura, a maior parte é sustentável. Nós somos o único país do mundo que tem um negócio chamado reserva legal. Nos outros países, a reserva legal não existe. Se você tem uma terra, você pode deixá-la "careca", sem nenhum pé de árvore. Margem do rio? Nem grama. Aqui, no Brasil, não. Nós temos nosso código, nossa lei é muito boa, dá proteção às encostas, às margens dos rios, mata ciliar, e nós temos o princípio da reserva legal.... O princípio da reserva legal - já estou confundindo com Direito Penal. Nós temos a reserva legal de floresta. Se você tem... Dependendo do bioma em que você está... Se você estiver na Floresta Amazônica, por exemplo, você só pode desmatar 20%, mas você pode desmatar 20%. Então, o que acontece? Criou-se uma verdade - e aqui eu coloco aspas - de que não. É como o Senador Paim falou ali: existe a lei autorizando, mas alguém falou que não é moral desmatar esses 20%.
Então, o cidadão Paulo Paim tem uma fazenda no Amazonas, tem a família dele lá, mas ele só vai poder contemplar a beleza cênica dela, porque os 20% que a lei lhe autoriza, ele não pode desmatar. Se não, ele vai sair na Folha de S. Paulo, vai sair em todos os meios como degradador, desmatador, e no final do mês sai assim: "Desmatamento aumentou não sei quanto!". Se, no mês tal, várias pessoas decidirem desmatar seus 20%, vai dar um desmatamento maior. E, a meu ver, nossos índices é que estão errados. Deveríamos fazer o seguinte, deveríamos contabilizar o seguinte: quanto de desmatamento ilegal que houve na Amazônia? Se é o legal, não tenho que contabilizar isso. Se o Ibama tem o controle, esse eu já estou autorizado. Então, não tem que ser contabilizado isso. Para que eu fico batendo palma para maluco dançar? Só para chegar e dizer, lá no exterior: "O Brasil desmatou tanto da Amazônia." Para aí! Já está contabilizado, já está precificado, nós combinamos. Isso vem desde a Eco 92. Olha, nós vamos desmatar apenas 20% da floresta. Não foi combinado isso? O combinado não é caro! Então, que danado de escândalo é esse? Tudo mundo está escandalizado com os 20% de desmatamento! Vamos combater o desmatamento ilegal, mas não misturem alhos com bugalhos.
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Ontem, minha fala foi nesse sentido: de a gente pegar os nossos alunos de jornalismo, levar ao campo para ver como é que é feita a produção, como é que são protegidos os nossos rios, de que jeito está sendo feito. Nós temos um escândalo. A maioria dos brasileiros acham que o agricultor levanta de manhã cedo... Falo isso - não tenho um pé de feijão - porque sou filho de lavrador. Eles acham que o lavrador se levanta de manhã cedo, Senador Paulo Paim, e fala: "Qual será o rio que eu vou envenenar hoje?" Não é assim, não é assim.
Os mais interessados num ambiente protegido são os que vivem no campo. Só para vocês terem uma ideia, os defensivos agrícolas estão sendo substituídos por tecnologia biológica. Você pega qual é o inimigo natural, qual é predador natural da lagarta tal, pesquisa, produz, e isso é feito na lavoura. Isso precisa ser visto pelo Brasil e pelo mundo. Você vê verdadeiras usinas biológicas nas fazendas. E mais, eles ficam no fio da navalha porque, ao fazerem isso, ficam morrendo de medo de, daqui a pouco, serem acusados de que estão fazendo aquele negócio de antraz, esses negócios, Senador Paulo Paim, de guerra biológica. A tecnologia está avançando justamente para tirar os defensivos. No Mato Grosso eles já desenvolveram uma forma de fazer as proteções e as curvas de nível de forma que a água não vá para os rios, para que não contamine os mananciais com possíveis resíduos de defensivos.
Então, eu discorria ontem sobre esse tema. Exagerei em um ponto, em dado momento. A gente, às vezes, é muito atacado, Senador Paulo Paim, e acaba misturando as questões menores com as maiores. Eu disse que o jornalismo investigativo estava praticamente extinto e que boa parte dos jornalistas só comia do que lhes davam, só comiam dos releases que recebiam. E fiz uma provocação para que pudessem buscar mais, para que pudessem ir atrás da notícia e investigar se aquela notícia era verdadeira. O meu Estado virou um verdadeiro pandemônio. "Medeiros chama os jornalistas de preguiçosos". Então, quero fazer aqui o mea-culpa e dizer: o jornalismo brasileiro é um jornalismo extraordinário, não tem fake news. As matérias são sempre muito bem verificadas.
Saiu uma, por exemplo, Senador Paulo Paim... Viajei para Querência e comi num restaurante lá. Acontece que no restaurante, o dono tinha a pretensão de expansão. Bom, comi nesse restaurante, tomei um caldo de feijão e mais alguma coisa, com um pessoal que estava comigo, e peguei a nota - eu não sou hipócrita, não; peguei a nota, trouxe e pus aqui no Senado. Eu estava a trabalho. Quando fui candidato a Presidente do Senado, aqui, saiu na Folha de S.Paulo que eu tinha gasto a verba indenizatória do Senado num pub. De um pub foi para uma boate e, de uma boate, para um cabaré. Isso se espalhou que nem rastilho de pólvora. Como é que eu desminto um negócio desse? Não desmente. Não desmente.
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E aí, depois, fui procurar. Eu falei: mas como assim? Liguei para o vice-prefeito, que a gente tinha jantado lá, e ele falou: "Não, é um restaurante. A família aqui de Querência almoça nesse restaurante".
Bom, fui descobrir. O dono do estabelecimento queria fazer uma expansão e, no futuro, fazer um mezanino em cima e também um local de música, karaokê, essas coisas todas, e então ele colocou na razão social pub também. E o jornal colocou, então, que eu tinha gasto dinheiro num pub.
Eu falei: meu Deus do céu, mas agora eu vou ter que chegar a um estabelecimento comercial e falar "me dá a razão social sua aí, para eu ver como está"? Custava, Senador Paulo Paim, dar uma pequena verificada na cidade, ligar para dois ou três? Não, não custava, mas a minha imagem foi para... Por um bom tempo eu virei chacota aqui no Senado, perguntando-me que cabaré barato era esse que eu tinha achado.
Quer dizer, é até vergonhoso dizer isso aqui, mas eu fui para a mídia com isso. Ter que explicar em casa sobre notícia daquele tipo... Os filhos vendo.
Então, eu acabei misturando, e me desculpe a ironia agora há pouco.
Então, em todos os locais há pessoas que acertam e pessoas que erram. Aqui, no Senado, há pessoas que acertam, pessoas que erram. Então, não vamos generalizar. Perdoem-me a generalização.
Falei muito mais nessa linha do que já tenho sofrido nesses últimos tempos, e todos nós, que somos homens públicos. Mas é o que um amigo meu, ontem, me disse: "Medeiros, se não aguenta brincadeira, não desce para o play".
Então, eu peço aqui as minhas desculpas aos jornalistas do meu Estado, não estava me referindo a eles, mas faço essa ressalva aqui, em relação à questão ambiental, porque aí não se trata de Medeiros; trata-se da imagem do nosso País. E, quando a imagem do nosso País é passada de forma distorcida para o exterior, o que ocorre? As pessoas deixam de comprar nossos produtos. No momento em que deixam de comprar nossos produtos, é menos dinheiro girando; menos dinheiro girando, é menos emprego, inclusive para os jornalistas.
Então, nós precisamos cuidar do que é nosso. Não precisa ninguém mentir e dizer que o que não é bom é bom, mas basta nós mostrarmos as nossas verdades.
Então, conversei com Antônio Galvan, com os grandes produtores do Mato Grosso, e tenho dito: vamos fazer um tour com jornalistas, com formadores de opinião, não para convencê-los do contrário, para mentir, não; simplesmente para mostrar a realidade. Vamos mostrar as cozinhas, Senador Paim, das fazendas do Rio Grande do Sul; os alojamentos nas fazendas; as matas ciliares no Mato Grosso... Para eles verem que a exceção está sendo vendida como a regra aqui no Brasil. Nós temos desmatamento na Amazônia? Temos. Temos desmatamentos legais, dentro da nossa legislação, e temos desmatamentos ilegais, que precisam ser combatidos. Agora, nós não podemos admitir que a nossa agência ambiental se torne uma polícia, simplesmente uma polícia ambiental. O que é que o Ibama faz hoje? É uma polícia ambiental. Por que é que nós não poderíamos ter essa agência como uma das maiores agências certificadoras do mundo? Paulo Paim é um exemplo de agricultor. Por que ele não pode ganhar um selo do Ibama, para o mundo inteiro saber que a fazenda do Paulo Paim é certificada pelo Ibama? O Ibama tem a mesma credibilidade - inclusive, recebe milhões de dólares da Holanda, da Noruega - para tocar fogo em equipamentos nas propriedades, para fazer o trabalho policial e, às vezes, embarga toda uma propriedade, porque o cara derrubou um pequizeiro. Mas por que não fazemos uma coisa propositiva também?
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Paulo Paim é um exemplo de produtor. Então, vamos certificar. Eu, lá no Carrefour, na França, vou comprar aquele produto ali, do Paulo Paim, porque eu sei que é certificado - já que o consumidor europeu está querendo comprar produtos ambientalmente sustentáveis. Não. Aqui, a nossa agência tem produzido simplesmente manchetes e mais manchetes para dizer: o desmatamento no Brasil é isso, é aquilo e não sei o quê. Essa é a minha crítica.
Que mania é essa? E, aí, eu concordo com o Lula. O Lula disse, certa vez, que há muita gente que acha bonito sair lá fora e falar mal do Brasil. Eu vou dizer o contrário: eu tenho orgulho de sair lá fora e falar bem do Brasil.
O agronegócio brasileiro, Senador Paulo Paim, é como Neymar na Seleção Brasileira. Eu vejo que - lá vou eu falar dos jornalistas de novo - há comentaristas que adoram, que passam o jogo inteiro... Esses dias, eu estava vindo de Goiânia para cá, escutando o jogo da Seleção Brasileira no rádio, e, o tempo inteiro, o locutor e o comentarista batendo no Neymar. Eu falei: está bom. Então, tira Neymar e vê o que que sobra. Sobra sete a um. E ainda comentei. Falei: daqui a pouco Neymar marca um gol, e aí começam a puxar o saco. De fato. Quando eu estava chegando ali, perto de Luziânia, Neymar marcou um gol. Aí começaram: "Bem...". Aí, já mudam de opinião e começam a torcer...
Então, assim... Nós temos um país maravilhoso, nós temos um país extraordinário, nós temos um produto... Nós conseguimos uma tecnologia, Senador Paulo Paim, extraordinária, que o Cerrado, que só dava peba, tatu-peba - quem não conhece peba? - e mandioca... O Cerrado só dava mandioca. Quando eu cheguei a Mato Grosso, na década de 70, só se plantava mandioca, que dava. Pois bem. A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa) conseguiu desenvolver produtividade no Cerrado. Hoje, há quatro safras no Cerrado. Tudo que se planta ali dá. Com sustentabilidade, com tudo. E mais: é o que tem segurado a nossa economia. Neste momento de crise, o que sustentou a nossa balança foi o agronegócio.
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Mas não: eu tenho que falar mal dele o tempo inteiro. Sem conhecimento de causa, eu digo: "Está contaminando o Pantanal!"
Eu vou dizer o que é que está contaminando o Pantanal: fique às margens do Rio Paraguai, lá em Cáceres, e você vai ver uma manilha de 1m, a todo momento... Inclusive, neste momento, despejando todo o esgoto de Cáceres dentro do Rio Paraguai. Os 58 Municípios da Bacia do Pantanal jogando esgoto dentro do Pantanal. E você pega Mato Grosso do Sul e não é diferente.
Mas não vá longe, não.
(Soa a campainha.)
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - Não vá longe, não.
Você vai a Cuiabá - porque, aí, dá para você assistir a isso que eu estou lhe dizendo -, vai a Cuiabá, que é mais fácil... Você vai um pouquinho abaixo da cidade. Você vai ver geladeira rodando, pneu, sofá... E isso vai para onde? Vai para o Pantanal.
Então, o grande vilão... E aqui não estou dizendo quem é o maior ou quem é o menor vilão, mas eu estou dizendo que nós precisamos combater os verdadeiros vilões. Os verdadeiros vilões são os esgotos in natura que caem dentro dos nossos rios. Em toda cidade.
Nós temos nos batido aqui sobre os aterros sanitários, sobre o saneamento, mas é isso que tem contaminado, e é esse o debate que eu tenho proposto aqui, que eu tenho que ter feito. Então, eu me penitencio mais uma vez.
Os jornalistas não são preguiçosos, mas precisamos mudar o eixo desse debate, porque ele está com um viés inclinado contra nós; contra vocês, jornalistas, contra nós brasileiros. Nós precisamos atacar isso.
Por que, Prefeito, por que, Senado, por que, Presidência da República? O que é que está acontecendo, que o saneamento não está sendo prioridade? Isso nós temos que atacar, porque isso é pernicioso ao meio ambiente, isso é pernicioso à saúde, isso é pernicioso ao desenvolvimento das crianças. Um bairro que não tem saneamento, que não tem tratamento de esgoto, isso é muito pernicioso ao meio ambiente, à vida, a tudo!
Mas não: o que é bonito é eu fazer panfletagem aqui nas comissões e dizer que a aprovação de uma molécula mais moderna de algum defensivo está envenenando a minha comida. Envenenando a minha comida está quando, em Barão de Melgaço, no meu Estado, por falta de tratamento, quase toda a água tem coliformes fecais, porque falta cloro, falta o tratamento da água...
A Funasa está cavando poços para livrar a cidade, porque a cidade não tem condições de fazer uma estação de tratamento, Senador Paulo Paim. Então, isso se repete em vários Municípios do Brasil. Coliformes fecais na água: isso é a coisa mais comum que há Brasil afora.
Aí, nós fazemos um escândalo danado em cima dos nossos produtos que nós estamos vendendo. Produtos de alta tecnologia.
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"Nossa, Medeiros, você virou 'chaveirinho' do agronegócio, está defendendo o agronegócio." Não. Estou defendendo o Brasil. Estou querendo só que nós façamos um debate bem claro. Vamos fazer uma crise na coisa. Vamos colocar isso na frigideira e olhar os problemas nacionais. Vamos lá ao campo, ver esse algodão que já está sendo produzido, esse boi, essa soja, esse milho, ver de que jeito está a qualidade de vida daqueles trabalhadores... E aí sim: fazermos uma radiografia disso. Eu não tenho dúvida de que o grande inimigo vai ser descoberto, e não está na plantação - não está na plantação.
Nós precisamos, mais do que isso, Senador Paulo Paim; nós precisamos ter um sentimento que V. Exa., o Senador Cristovam e vários outros Parlamentares históricos deste Senado espalharam nesta Nação e pregaram muitas vezes aqui, como João Batista pregava no deserto. Nós precisamos ter sentimento de nação. Não é esse ajuntamento. Nação não é um ajuntamento de pessoas, cada uma correndo atrás do seu interesse, não. Nós precisamos ter esse sentimento, não aquele nacionalismo maluco de sair por aí, querendo invadir outros países não, mas termos o sentimento de nação, de gostarmos deste País. E gostar de alguém significa também falar bem desse alguém.
Nós temos uma característica que eu penso que se precisa avaliar. Inclusive nós, que estamos na política. O senhor note, Senador Paulo Paim: V. Exa. falava, agora há pouco, sobre a prática de, de repente, eu falar: "Ah, eu não quero carro do Senado. Eu vou devolver".
Ele não explica para o eleitor dele que é um contrato de locação e que devolver esse carro ou não não vai fazer a mínima diferença, porque o contrato de locação foi cheio, e o Senado vai ter que pagar do mesmo jeito por aquele carro.
"Não, mas eu estou isento disso. Tudo bem, não quero".
Quer jogar para a galera, jogue.
Mas, mais do que isso, uma coisa perniciosa: sabe por que nós chegamos a esse nível de descrédito na política e nos políticos? Não é porque a maioria não presta não, Senador Paim; é porque a maioria diz que não presta.
Quando eu cheguei aqui, Senador Paulo Paim, eu andava com medo até de abrir a boca, para não me contaminar, porque eu vim para cá com a visão de policial e do que eu ouvia e lia nos jornais. Eu entrei aqui parecendo quando eu entrava numa penitenciária, achando que só havia bandido aqui dentro.
Conheci pessoas maravilhosas, conheci homens de bem, conheci verdadeiros brasileiros. Conheci pessoas extremamente encalacradas com a Justiça também, mas não eram a maioria. Era tal qual no trânsito.
Eu fui policial rodoviário federal por 23 anos. De 5 a 10% por cento - não chega a 10% - bagunçam o trânsito, causam mortes no trânsito, essa coisa toda. A grande maioria anda corretamente.
"Ah, não é possível, Medeiros!" É possível, porque, se todo mundo bagunçasse, o trânsito travava.
Veja bem, Senador Paulo Paim: aí tem um espécime que nega a política. Ele vem para a política, mas... "Eu não me misturo com isso; eu não sou da política...".
"Ah, eu estou precisando contratar Fulano..." Ou, então, ele vai para um cargo no Executivo. Aí ele vai contratar a assessoria dele, manda a Abin pedir lá o negócio e fala assim sobre fulano de tal, o cidadão Paulo Paim: "Cara, esse cara é bom, esse cara tem um currículo, mas é o seguinte: ele tem um viés político, ele é ligado a algum político". E daí? Eu quero saber qual é a conduta do Paim, até porque... Perdoem-me, talvez eu esteja generalizando novamente, mas um cidadão, um técnico que não consegue ser algodão entre os cristais não consegue ser um técnico competente. E, para ser um algodão entre os cristais, você precisa ser político. Quando eu digo político, falo no sentido das relações, no sentido do relacionamento.
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Mas não: demonizaram a palavra política. Culpa de quem? Culpa da maioria dos que sobem aqui, nesta tribuna e naquela lá. Acham bonito isto: "Se eu subir aqui e falar mal do Paim como político, eu estou me tornando maior". Não. Eu falar mal dos outros não vai me tornar maior. O que vai me tornar melhor é a minha conduta, melhor ou menor.
Então, foram tempos e tempos enxovalhando, e a população assistindo... De repente, ela fala: "Só existe vagabundo ali, só existe porcaria". E, aí, de repente, ela resolve trocar tudo. E as pessoas falam: "Mas o que aconteceu?". É justamente a falta de olhar o copo na parte mais cheia.
E, aí, você vê pessoas extraordinárias que, às vezes, não voltam. Cito aqui Pedro Simon, cito aqui Cristovam Buarque e tantos outros que deveriam estar aqui nesta Casa, mas, devido a essa demonização...
Então, é muito importante a gente separar a política da catrevage. Eu, por exemplo, tenho um orgulho muito grande de fazer política. Tenho um orgulho muito grande de fazer parte da política. Tenho um orgulho muito grande de ter tido o privilégio de participar...
(Soa a campainha.)
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - ... de uma legislatura no Senado. Agora, não tenho dúvida de que o comportamento dos agentes, dos atores políticos precisa mudar. Precisa haver uma autocrítica, porque o que chega para a população não cheira bem.
Então, da mesma forma, fazendo esse paralelo, eu tenho dito que as pessoas precisam saber o que realmente está acontecendo, as pessoas precisam saber de que jeito o Parlamentar é. É por isso que eu digo que se a pessoa é um Parlamentar de bem, ela tem de se portar transparente. Não adianta querer ir na onda, querer jogar para a galera, porque, uma hora, você vai mentir. Dizem que o problema da mentira é que você faz uma, aí você tem de fazer outra para encobrir aquela, e por aí vai. Então, é melhor ser transparente logo.
Há poucos dias eu fui fulminado aqui por causa do voto na questão da recomposição de perdas do STF. Minha esposa ficou desesperada, meus amigos também. E me perguntaram: "Medeiros, por que você votou?". Falei: "Votei conscientemente".
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Em outubro de 2016, quando nós tínhamos feito a recomposição dos salários de todos os servidores públicos, foi aprovado, na Câmara, por todos os Deputados, aquele projeto. Quando ele chegou aqui, eu fui um dos autores de um requerimento para que não fosse feita a recomposição de perdas do Judiciário naquele momento. Era um momento de crise e a gente achava assim: "Vamos jogar um pouco para a frente, porque é um pessoal que ganha mais e eles conseguirão ter um fôlego para aguentar um pouco mais, e vamos dar a recomposição de perdas inflacionárias só para o andar debaixo". E houve aquela briga dos servidores do Judiciário. Travei uma luta intensa a favor dos servidores do Judiciário e assinei esse requerimento. Esse requerimento que nós fizemos aqui protelou por mais dois anos essa recomposição das perdas inflacionárias. Por dois anos! - imagine o quanto eu fiquei querido no meio do Judiciário, mas eu não estou aqui para disputar concurso de simpatia.
E veio agora o projeto com uma proposta da seguinte forma: vocês votam a recomposição, essas perdas inflacionárias - isso não é aumento, é recomposição inflacionária -, e retira-se o auxílio-moradia. Olha, o que eu mais havia ouvido era as pessoas dizendo: "Olha, esse auxílio-moradia é imoral, esse auxílio-moradia é imoral". Eu falei: "Tudo bem. Se nós estamos tirando o auxílio-moradia, e se a recomposição inflacionária mais dia, menos dia ia ter que ser dada, vamos fazê-lo". Para mim isso estava claro. E mais, se o sujeito ganha R$33 mil, Senador Paulo Paim, e dão 16 % de aumento da recomposição da perda, o salário vai para R$39 mil. Acontece que ele ganhava R$33 mil e mais R$4,3 mil de auxílio-moradia. Esse auxílio-moradia não era descontado em cargo algum. Então, quando você faz a conta, o sujeito que recebeu 16% de recomposição de perdas, mas que teve retirado o seu auxílio-moradia, ele vai passar a receber menos. "Ah, Medeiros, você está mentindo?" Não! Isso é papel na caneta, isso é matemático, isso você pode conferir. "Mas e a escalada, o efeito cascata?" Que efeito cascata? Nós estamos dando uma recomposição de perdas para os 11 ministros do STF, para o Judiciário aqui, o STF. Se o Estado de Mato Grosso achar que tem dinheiro, Senador Paulo Paim, achar que tem dinheiro lá no Mato Grosso... E isso não significa que a recomposição de perdas lá será igual aqui. Então, isso significa o seguinte: cada um vai julgar de acordo com a sua realidade. Se Mato Grosso falar: "Eu não tenho dinheiro", não haverá dinheiro, não vai fazer isso. Será preciso uma lei da assembleia, uma lei local para aprovar aquilo.
Então, é só para dizer que votei daquela forma, e muita gente disse: "Medeiros, você errou". Eu me curvo. Eu me curvo, mas não poderia fazer diferente. Muita gente falou: "Por que você não saiu do Plenário? Ninguém ia saber de que jeito você vota". Eu falei: "Exato! Não iam saber de que jeito eu votei. E, amanhã ou depois, quando você fosse escolher novamente, você não iria saber de que jeito eu votei. Então, eu preciso ser transparente aqui para que você possa ter a oportunidade de votar em mim ou não no outro dia". Por quê? É desse jeito que eu penso. Você tem de saber de que jeito Medeiros pensa. Primeiro, porque é bom que as pessoas saibam: Medeiros é servidor público, e, nessa onda de demonização dos servidores públicos, eu não entro. E é bom que as pessoas saibam: Medeiros é um servidor público. E eu penso o seguinte, Senador Paulo Paim: o Estado brasileiro funciona pelo Governo que está de plantão ou apesar do Governo que está de plantão, mas especialmente pelos servidores públicos. E quer saber de uma coisa? Os serviços públicos estão uma porcaria! E sabe por que está assim, Senador Paulo Paim? Porque todo mundo quer uma Polícia Federal funcionando, não quer? Então, pasmem, gente! A Polícia Federal tem menos agentes do que a Guarda Municipal do Rio. Então, se o Brasil está quebrando, não é culpa da Polícia Federal.
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A PRF (Polícia Rodoviária Federal), a polícia que mais apreende drogas no mundo, Senador Paulo Paim - no mundo! -, que cuida das nossas fronteiras, sem ser uma polícia de fronteira, mas é quem cuida, quem tem o know-how de cuidar das nossas fronteiras, a Polícia Rodoviária Federal, Senador Paulo Paim, tem um déficit de mais de 50%: a maioria dos postos estão fechando. Então, não ela tem gente para trabalhar. Então, não é o servidor público.
Agora, veja bem: eu vi que, em plena discussão da questão salarial - nós temos uns ajustes aqui -, R$100 bilhões para ajuste de Suape, não sei o quê, não sei o quê, e essas coisas não contam. É muito mais fácil eu demonizar Paulo Paim, porque eu "fulanizo" a discussão, e é muito fácil achar um bode expiatório. Então, essa discussão precisa ser feita.
"Eu não concordo com nada do que você diz, Medeiros!" Maravilha, mas você está conhecendo o Medeiros. Você sabe de que lado ele está, o que ele pensa. Então, hoje eu deixei bem claro o que eu penso. Eu penso que nós não podemos demonizar os servidores públicos. Eu penso que nós precisamos fazer um debate honesto intelectualmente, eu penso que o político tem que ser transparente, eu penso que nós precisamos mostrar as qualidades do Brasil, e eu penso que nós precisamos atacar os verdadeiros vilões do meio ambiente. É isso o que eu penso.
"Não concordo com você e nunca mais voto em você." Ótimo! "Vou te bloquear no Facebook." Beleza! "Não sigo mais você no Twitter." Não tem problema!
Como diz o filósofo Paulo Paim, essa é a democracia. Essa é a democracia. It's all. Isso é tudo.
Então, essa discussão de sexta-feira, Senador Paulo Paim... V. Exa. não se sinta... Sem querer fazer comparações, mas quem fazia muito esse debate aqui era o nosso saudoso - saudoso não, porque não morreu ontem e eu encontrei com ele -, nosso querido Mão Santa, uma figura ímpar. Ele fazia muita reflexão aqui, e V. Exa. sempre fez reflexões muito apropriadas aqui na sexta-feira. V. Exa., o Senador Cristovam e vários outros Senadores. É importante que a gente faça essas reflexões. A política brasileira precisa parar um pouquinho. Vamos refletir, sem a doideira do fla-flu, daquele ou desse. Nós precisamos de menos hipocrisia, de menos corrida ao voto fácil. Eu estou vendo agora a montagem do Governo, Senador Paulo Paim, e eu ouvi ontem uma crítica. Eu, por exemplo, sou amicíssimo do Senador Magno Malta. É meu irmão. Eu estava torcendo como ninguém para que ele fosse o Ministro da Cidadania. Por quê? Porque ele entende de Nordeste como ninguém, entende de Minha Casa Minha Vida como ninguém, queria fazer um programa conectado com Israel sobre a irrigação no Nordeste, já havia ido ao Mato Grosso conversar com a grande agricultura, já havia visitado tudo, estava preparado, um homem talhado. Eu estava torcendo pelo Magno Malta para ser Ministro. Mas a escolha é do Presidente da República. E mais: o Magno... Muita gente saiu por aí escrevendo que o Magno estava pedindo cargo. Inadvertidamente, o Vice-Presidente chegou a falar que precisava de um deserto para esse camelo. Não precisa, não. O Magno é cantor, reconhecido, tem 48 discos. Sua esposa é cantora. O Magno não precisa dessas coisas para sobreviver. Magno é amado. Magno não consegue andar nos aeroportos, Senador Paulo Paim, porque há pessoas o tempo inteiro querendo tirar foto com ele, porque brasileiros falam: "Olha, você me representa". Ele vai ao Mato Grosso, vai a São Paulo, vai a todo lugar... "Ah, Magno não se elegeu!" É verdade. Depois da facada no Presidente eleito, o Magno rodou. Só a Mato Grosso ele foi duas vezes. Ele rodou o Nordeste inteiro.
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Aí, ficaram acusando-o agora: "Ah, mas ele fez isso para Lula, ele fez isso para a Dilma"... Fez. É uma pessoa transparente. É um cara que acredita. E, tal qual aconteceu dessa vez, Lula também não deu um ministério para ele, Dilma também não deu um ministério para ele, e tudo certo.
Ele mesmo dizia nos discursos: "Meu compromisso com Jair Bolsonaro é até o dia 28, porque meu compromisso é com o Brasil. Eu acredito nisso e quero uma mudança". Pode ter errado? Alguns podem achar que ele errou? Podem. Mas ele estava convicto, tomou um rumo. Aí, vêm várias, e tem muita gente que não gosta dele... Outro dia eu ouvi que "Magno é temperamental; por isso é que ele não está talhado para ser Ministro". Bolsonaro não, não é? Não estou condenando nenhum dos dois. Eu estou dizendo que o eleitor comprou esse perfil neste momento.
Aí, o que acontece? O Magno não serve porque é um político. Eu ouvi várias pessoas falando que o Bolsonaro não podia colocar o Magno porque o Magno é político. Ora, Senador Paim! Tudo aqui é política. Mas o que eu quero deixar claro é que o Magno não está pressionando, não está colocando "faca no pescoço". Sabe onde o Magno está? Está no sítio dele, cuidando sabe de quê? Da clínica que ele tem que recupera - o Senador Paulo Paim a conhece - pessoas que são dependentes químicos. Ele faz isso há 30 anos.
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Ele sempre disse: "O meu compromisso vai até o dia 28, o dia da eleição, porque o meu compromisso é com o Brasil". E ele saiu por aí. Aqui eu vou contar. Nós chegamos à Bahia. Ele arrebanhou um grupo de empresários que, neste mês ainda, vai fazer... Estão arrebanhando várias associações, pelo Brasil afora, Senador Paim - e V. Exa. vem da indústria -, para fazerem o seguinte: eles querem que cada CNPJ possa criar um emprego, em janeiro. É um programa que o Magno começou. Ele os levou ao Presidente eleito. Isso já está proliferando. Quantos empregos vão se gerar? Não sei, mas é uma campanha extraordinária a que, cada vez mais, os empresários estão aderindo. Na terça-feira, há um grupo de empresários que está vindo aqui. Os seis maiores empresários da construção civil estão vindo aqui para tratar disso. É o trabalho do Magno.
Agora, por que estou falando do Magno aqui? Lobby para ele ser ministro? Não. Porque agora... Eu não tenho dúvida: conheço Magno, você pode oferecer a Casa Branca a ele que não vai querer. O que estou dizendo é que o Magno não saiu por aí, Mourão, pedindo um deserto para o seu camelo. Ele não está mendigando ministério, não está colocando a faca no pescoço de Bolsonaro. Ele é amicíssimo de Bolsonaro. Direto eles almoçavam aqui no Sertão e Mar...
(Soa a campainha.)
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) - ... um restaurante que há na Vila Planalto. Então, ele é amigo do Presidente eleito, não está falando mal do Presidente eleito, não está constrangido com o Presidente eleito, está cuidando da vida dele.
Então, é uma pena que essas matérias tentem denegrir a imagem de um grande brasileiro. Fizeram um escarcéu e aí sim, fogo amigo... Aquilo saiu de dentro do estafe. V. Exa esteve no Governo e sabe que o pior é o fogo amigo. Não tenho dúvidas de que a matéria da Veja saiu de dentro do próprio estafe, queimando Magno Malta.
O que é que acharam? Vasculharam a vida dele, Senador Paulo Paim. O que acharam foi que Magno Malta, na CPI da Pedofilia, ao saber de um caso de um senhor que estava preso, porque a médica o denunciou, a polícia o prendeu e o Ministério Público o denunciou, foi lá saber por que tinham acusado a pessoa de ter abusado do próprio filho. Ora, se ele era Presidente da CPI da Pedofilia, tinha de fazer isso. Foi lá ver. Pronto, a revista resolveu colocar que essa pessoa passou dez meses na cadeia por causa da CPI da Pedofilia. Conversa! Foi acusado pela Polícia, levado à Promotoria e o Judiciário manteve... A CPI simplesmente foi lá, diagnosticou o caso, ouviu, porque a CPI busca subsídios para mudar a legislação. Bem, fizeram isto, Senador Paulo Paim: colocaram como se o cidadão tivesse ficado preso por causa dele. Esse foi o grande achado contra Magno Malta. Eles o demonizaram, começaram uma hashtag #MagnoNão.
Magno está sereno, eu queria dizer aqui, muito sereno, sem mágoa no coração e com a consciência tranquila do dever cumprido e de, em dado momento, ter, sim, saído pelo Brasil pedindo voto para Lula, porque ele achava que, naquele momento, era o melhor. Ah, querem demonizar o Magno? Demonizem, mas a grande maioria da população brasileira também achou que, naquele momento, era o Lula que tinha que ser eleito. Isso é normal da política.
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Em determinado momento, quando saíram dizendo que a Dilma era abortista, Lula pediu para ele, que saiu desmentindo, dizendo que Dilma não era abortista. E também há de se lembrar que, dois meses depois de ela ser eleita, quando ficou fazendo apologia pelo aborto, ele rompeu com ela. Então, é um homem coerente com o que pensa.
Então, eu quero, mais uma vez, reafirmar: ele não está mendigando ministério, está tranquilo, segue sua carreira de cantor, de artista. Mas é muita maldade ficar espezinhando. Ontem fizeram uma maldade, Senador Paulo Paim, anunciaram que a Damares, sua assessora, foi convidada para ser Ministra. Quando li aquela matéria, na hora coloquei no Twitter: com certeza, estão querendo fritar a Damares, cozinhar a Damares em fogo frio. E, de fato, eu liguei para ela, que falou: "A minha vida virou um inferno aqui. Primeiro, porque nem conversei com o Magno, não consegui falar com o Magno. E agora toda essa bulhufas, eu não fui convidada para o Ministério dos Direitos Humanos coisa nenhuma".
Então, esses momentos, essas ebulições todas requerem que a gente faça alguns esclarecimentos por preservação, inclusive, de alguns currículos que são caros e que foram construídos a duras penas, na luta. É a mesma coisa de um currículo como o do Senador Paulo Paim, construído sobre o trabalho, e, de repente, você deixar que ele seja destruído... Eliézer Rosa era um magistrado que dizia: "Honra, moral são valores que, por vezes, demoram a vida inteira para serem construídos, mas segundos para serem destruídos".
Então, em nome, em homenagem ao grande Parlamentar que é o Senador Magno Malta, eu queria dizer e fazer esse esclarecimento aqui. Aliás, quero deixar bem claro que ele não pediu que eu fizesse isso, mas deixo esse esclarecimento de que ele vai muito bem, obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) - Muito bem, Senador José Medeiros. Meus cumprimentos pelo pronunciamento, uma reflexão transparente, clara, deixando ao Brasil essa visão de um homem que fala a verdade e diz o que pensa, porque assim tem que ser o homem público.
Fica aqui também a minha solidariedade ao Senador Magno Malta.
Está encerrada a sessão.
Muito obrigado a todos e até a próxima.
(Levanta-se a sessão às 10 horas e 42 minutos.)