4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
55ª LEGISLATURA
Em 10 de dezembro de 2018
(segunda-feira)
Às 11 horas
151ª SESSÃO
(Sessão Especial)

Horário

Texto com revisão

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A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.
Declaro aberta a sessão especial do Senado Federal destinada à entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo, em sua primeira edição.
A Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo, instituída pela Resolução nº 7, de 2018, projeto de nossa autoria, é destinada a agraciar personalidades, instituições e grupos que tenham oferecido contribuição relevante ao registro e ao fortalecimento da cultura, do folclore e dos saberes tradicionais no Brasil.
Nesta solenidade serão agraciados com a Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo o Sr. Antônio Francisco Teixeira de Melo, a Câmara Brasileira do Livro (CBL), o Museu da Gente Sergipana, o Sr. Nelson da Rabeca, o Sr. Nilson Rodrigues da Fonseca e o Sr. Pedro Baião.
Informo a todos que o Conselho decidiu por unanimidade prestar homenagem in memoriam aos Srs. Deífilo Gurgel, folclorista; João Carlos D' Ávila Paixão Cortes, radialista; e Romualdo Rosário da Costa (Moa do Katendê), capoeirista.
Está presente também nesta sessão a Sra. Daliana Câmara Cascudo, que receberá uma singela homenagem do Senado Federal pelo brilhante trabalho de seu avô Luís da Câmara Cascudo em prol da cultura brasileira.
Quero convidar para compor a Mesa aqui comigo Daliana Cascudo, neta de Luís da Câmara Cascudo, representando aqui a família - Daliana que é Presidente do Instituto Ludovicus - Instituto Câmara Cascudo. É uma alegria imensa, Daliana, é uma honra e uma emoção. É o povo potiguar aqui presente, através também de Antônio Francisco e de Deífilo.
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Convido também com muita alegria para compor a Mesa comigo o Senador Paulo Paim e o Senador Lasier. (Palmas.)
Convido a todos agora para, em posição de respeito, cantarmos o Hino Nacional.
(Procede-se à execução do Hino Nacional.) (Palmas.)
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A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Quero também convidar para compor a Mesa conosco a Senadora Maria do Carmo, por favor. (Palmas.)
Dê-nos a honra aqui, também, de compor a Mesa.
Bom, peço ao Senador Paulo Paim para presidir os trabalhos.
(A Sra. Fátima Bezerra deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. Paulo Paim.)
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) - Passamos a palavra, neste momento, à Senadora Fátima Bezerra, para que ela use a tribuna, ela que teve a iniciativa desta bela homenagem.
A palavra é sua, Senadora.
A SRA. FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN. Para discursar.) - Sr. Presidente, (Fora do microfone.) Sras. e Srs. Parlamentares, meus estimados agraciados e agraciadas, demais convidados, meus senhores e minhas senhoras, os que nos assistem pela TV Senado, os que nos acompanham pela Rádio Senado e pelas redes sociais, primeiro, quero dizer da minha emoção e alegria porque aqui fala não apenas a Senadora, representante do povo potiguar, mas aqui fala a professora.
Mais uma vez, agradeço ao povo potiguar por tantas oportunidades que me deu, inclusive esta, de ver hoje um projeto de resolução de minha autoria, que institui a Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo, ter a sua primeira edição aqui no Senado Federal.
Confesso, Daliana, que o seu avô foi um homem que encantou não só sua província, não só Natal, não só o Rio Grande do Norte, o Nordeste: seu avô encantou o mundo inteiro e continua encantando.
O fato é que, quando cheguei aqui no Senado Federal, descobri que o Senado Federal acertadamente tem iniciativas extremamente meritórias de homenagear aqueles e aquelas que contribuem e contribuíram para o desenvolvimento do nosso País, seja na área social, seja na área cultural, seja nas mais diferentes áreas. Por exemplo, o Congresso Nacional tem uma medalha, para incentivar e homenagear aqueles que lutam em defesa da educação, que leva o nome nada mais nada menos do que Darcy Ribeiro. O Senado, por exemplo, tem uma comenda, para incentivar e reconhecer a luta das mulheres, que leva o nome de Bertha Lutz. O Senado Federal, Paim, tem também uma comenda de valorização, de incentivo, para promover a luta tão importante em defesa dos direitos humanos, que merecidamente leva o nome de Dom Hélder Câmara. E eu descubro que não havia nenhuma iniciativa no campo da cultura; aí eu digo: "Não! Vamos apresentar uma sugestão para que o Senado também institua esta Comenda". E não tive nenhuma dúvida, Daliana: quando tive essa ideia, a primeira coisa que veio à minha cabeça era exatamente a figura de Luís da Câmara Cascudo. Então, esta é a primeira edição da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo, destinada a agraciar personalidades, instituições ou grupos que desempenharam ou desempenham papel relevante no fortalecimento da cultura, do folclore e dos saberes tradicionais no Brasil. Esta é uma forma de prestigiar a imensa obra do escritor, jornalista, historiador e folclorista Câmara Cascudo - fiquei emocionada -, que é considerado um dos maiores estudiosos do mundo no que diz respeito ao estudo da cultura popular e ao estudo do folclore.
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Não poderia deixar de registrar o imenso orgulho que tenho, na condição de representante do povo potiguar, de ter sido a autora do projeto de resolução que instituiu essa Comenda no âmbito do Senado Federal, essa Comenda que de maneira muito simbólica tem o nome de Luís da Câmara Cascudo.
Luís da Câmara Cascudo dedicou-se ao estudo da história, da cultura e do folclore brasileiros e publicou diversas e importantes obras, entre elas: Antologia do Folclore Brasileiro (1943); Geografia dos Mitos Brasileiros (1947); História do Rio Grande do Norte (1955); Jangadas: Uma Pesquisa Etnográfica (1957); Rede de Dormir (1959); Nomes da Terra, (1968); A Vaquejada Nordestina e Suas Origens (1974); e Antologia da Alimentação no Brasil (1977). Sua obra completa engloba mais de 150 volumes.
A matéria-prima de seu trabalho era o povo brasileiro. Ele estudava o homem a partir de suas histórias, das diferentes origens, dos romances, das poesias e, principalmente, do folclore.
Para os estudiosos de Câmara Cascudo, o seu grande e singular mérito foi o de fazer um vasto trabalho de documentação de microrrealidades ao longo de décadas de ação. Um trabalho que resultou em vasta contribuição para a reflexão de muitos pensadores brasileiros.
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Câmara Cascudo nasceu em Natal, Rio Grande do Norte, no dia 30 de dezembro 1898, e faleceu também em Natal, no dia 30 de julho de 1986. Sua obra, no entanto, permanece viva. A Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo representa uma homenagem póstuma a esse grande brasileiro.
O Conselho da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo, composto por um representante de cada partido político com assento no Senado Federal, nesta primeira edição deliberou por conferir a Comenda a Antônio Francisco, meu querido poeta sonhador potiguar; a Nelson da Rabeca, ex-cortador de cana, músico e compositor do Estado de Alagoas, que daqui a pouco vai encantar a todos nós com a sua rabeca; ao querido amigo Nilson Rodrigues da Fonseca, empresário, produtor cultural nas áreas de cinema, teatro e televisão e ex-diretor da Ancine; a Pedro - olha o Pedro aqui -, ator com síndrome de Down que vem superando preconceitos e expondo, Pedro, seu talento na televisão, no teatro - é muito legal ter você aqui -; e à Câmara Brasileira do Livro, meu querido Torelli, que merecidamente recebe essa Comenda - é uma a alegria de ter tido a oportunidade de fazer a sugestão, pelo reconhecimento que eu tenho do papel extremamente relevante, e digo isso porque fomos parceiros durante bom período; eu inclusive, como coordeno aqui a Frente Parlamentar Mista em Defesa do Livro, da Leitura e da Biblioteca, quero dizer, então, da enorme alegria de ver a Câmara Brasileira do Livro presente já nessa primeira edição recebendo a Comenda Câmara Cascudo, pelo papel muito relevante que vocês têm desempenhado na promoção do livro e da leitura no nosso País -; e ao Museu da Gente Sergipana, Senadora Maria do Carmo, esse protagonismo, porque inclusive é o primeiro museu interativo, enfim, do Nordeste.
Mas o Conselho deliberou por homenagear também, in memoriam, grandes figuras. Mais uma vez - permita-me - o chão um potiguar aqui presente, porque, in memoriam, nós vamos homenagear hoje Deífilo Gurgel, um dos ícones, um discípulo de Cascudo e, portanto, um grande folclorista do Rio Grande do Norte. Aqui também outra homenagem merecida, in memoriam, por sugestão do Senador Lasier, a João Carlos D' Ávila Paixão Cortes, radialista e pesquisador da cultura gaúcha; e a Romualdo Rosário da Costa - sugestão da Senadora Lídice -, mais conhecido como Mestre Moa do Katendê, capoeirista baiano, que foi vítima destes tempos de intolerância política que nós estamos vivendo.
Por isso que é tão importante falar do Cascudo, não é Daliana? Porque é falar de livros, é falar de cultura. Mas, por fim, a pessoa, a filha de Câmara... Mais uma vez eu vou ter que fazer um registro aqui, porque aí, realmente aqui foi um equívoco, enfim, da assessoria, porque, evidentemente, Daliana, ali no Rio Grande do Norte há muitos anos todos sabem o apreço que tenho por você e por toda a família e sei que você não poderia ser filha de Cascudo, não é? Você é neta, embora uma filha também...
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(Intervenção fora do microfone.)
A SRA. FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Duas vezes, exatamente. Perfeito!
Mas, na pessoa da neta de Câmara Cascudo, Daliana Cascudo, aqui presente, gostaria e muito de agradecer aos integrantes do Conselho da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo e de homenagear todos aqueles que hoje recebem a Comenda, convidando agora o poeta popular cordelista Antônio Francisco, o nosso querido sonhador, para aqui trazer a sua poesia.
Muito obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) - A Presidência volta à Senadora Fátima Bezerra.
(O Sr. Paulo Paim deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pela Sra. Fátima Bezerra.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Com a palavra Antônio Francisco.
O SR. ANTÔNIO FRANCISCO TEIXEIRA DE MELO - Primeiro, antes de tudo, obrigado!
Há dias e dias, eu venho perdendo
noites de sono escrevendo um cordel,
quebrando a cabeça, amassando papel,
trocando palavra, botando remendo,
mas este cordel que estou escrevendo
vai ter os encantos do toque dos sinos,
a ponta do dedo da mão do destino
e um velho debaixo de um sobretudo,
e o nome Luís da Câmara Cascudo
polindo a cultura do chão nordestino.
Toda vez que recebo uma homenagem,
eu penso logo: o que eu fiz para merecer?
E passo dias e dias imaginando o que eu posso fazer para agradecer,
e muitas vezes eu procuro e não encontro,
entre as páginas do livro da memória,
uma frase bonita para dizer.
Dizer só obrigado eu acho pouco
quando a gente se sente tão honrado,
mas o tempo engoliu o meu discurso,
e, sem ele nas mãos, sou obrigado
a dizer o que pai me ensinou,
a dizer com o peito escancarado:
vou fazer uma nave de justiça
e vou buscar no planeta da verdade
um martelo de aço temperado
pelas mãos indomáveis da vontade
para com ele eu quebrar quem vem quebrando
a espinha dorsal da humanidade;
eu vou partir a ganância em mil pedaços,
vou quebrar o chassis da ambição,
vou bater tanto, tanto na inveja
até ver os seus cacos pelo chão,
para o ódio viver desempregado
e não malhar nunca mais no coração.
E, quando o mundo estiver como eu desejo,
navegando num mar de altivez,
transbordando de amor, justiça, paz,
gargalhando segundo, hora e mês,
eu vou dar, Fátima, a vocês, de mão beijada,
nesta bela homenagem de vocês.
E, amanhã de manhã, eu termino o cordel
de braço cansado de tanto escrever,
mas, depois de amanhã, vocês vão dizer:
"Antônio Francisco é o meu menestrel.
Quebrou a cabeça amassando papel,
mas conseguiu em nós colocar [Carlos] o gosto de ser, dizer e cantar [Fátima]
no norte, no sul, no leste e oeste [Daliana]".
Eu tenho prazer de ser do Nordeste e um orgulho danado de ser potiguar. Se quiser mais, eu digo. (Palmas.)
Obrigado, obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Bom, e dando continuidade agora, nós queremos convidar Nelson da Rabeca, por favor.
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Acompanhe o Nelson.
(Procede-se à execução musical.) (Palmas.)
O SR. NELSON DA RABECA - Muito obrigado, meu povo. Estou olhando esta grande cidade. Devo muita obediência ao Collor, que foi quem me trouxe para cá. Deus abençoe vocês todinhos.
Essa rabeca eu peguei em Caucaia com 54 anos de idade. Já fiz muita, eu faço muita rabeca. Eu vendo rabeca no mundo todo. Minha rabeca eu nunca tive escola para aprender. Tudo que eu faço aqui fui eu que criei. Eu já estou com 76 anos. Eu estou velho desse jeito, mas eu ainda crio minhas polcas. Como eu comecei a tocar logo, foi mais música do Gonzagão. Então, fui deixando as músicas dos outros e criei minhas músicas. Eu estou vivendo desta rabeca.
Deus abençoe a vocês todos.
Eu vou tocar uma música de uma grande pessoa. Quando eu comecei a tocar, foi a dele. Eu trabalhava quatro dias no canavial e sábado e domingo ia para a praia. O dinheiro que eu ganhava na praia dentro de um mês eu passava muito tempo para ganhar no campo.
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(Procede-se à execução musical.)
O SR. NELSON DA RABECA - Deus abençoe essa empresa que me trouxe para cá. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Parabéns, Nelson!
Queremos registrar aqui, com muita satisfação, a presença do Prof. Heleno, coordenador, Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.
Nós vamos agora passar para a fase de entrega da Comenda Luís da Câmara Cascudo, e o primeiro que convido aqui para receber a Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo é o querido poeta sonhador Antônio Francisco Teixeira de Melo, cordelista. (Palmas.)
Antônio Francisco é reconhecido publicamente pela musicalidade de seus poemas.
Quero convidar aqui o Senador Paulo Paim e Daliana para me acompanharem na entrega da Comenda.
(Procede-se à entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo ao Sr. Antônio Francisco Teixeira de Melo.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Faculto a palavra agora ao Antônio Francisco.
O SR. ANTÔNIO FRANCISCO TEIXEIRA DE MELO - Uma vez me perguntaram o que era escrever para mim... Eu estou passando por este momento aqui, mas, quando eu cheguei em casa, eu escrevi dez cordéis em um cordel só e disse à minha mulher brincando: "Quem falar em cordel neste País vai falar em mim". Eu nunca esperei estar aqui hoje para dizer isso.
Como dizia, uma vez me perguntaram o que era escrever para mim.
Já fui soldador, soldado, plaqueiro
Pintor de parede, de letra e servente
Garçom, cobrador, vigia, gerente
Marchante de bode, de porco, carneiro
Já fui vendedor, sapateiro, armeiro
Vendi cajarana, cajá e limão
Limpei de enxada, apanhei algodão
Vendi tapioca, jornal e revista, já fui jogador - fui ruim mas fui - de bola, ciclista
Fiz bomba caseira e soltei foguetão.
"E você agora, escrevendo os cordéis, como é que você está nisso?" E perguntou o que era escrever cordel para mim, Paixão. Eu disse:
Escrever é meditar
Todo dia o dia inteiro Fazer do vento uma escada
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E do luar um candeeiro
Para ver o rosto de Deus
Por detrás do nevoeiro
É viajar, Carlos, sem temer
No barco da liberdade
Num barco feito de versos
Pela criatividade
Olhando pela janela, Paim,
Dos olhos da humanidade
É viver plantando sonhos,
Onde mais ninguém plantou
Sonhar colhendo a semente
Do sonho que ele sonhou
E sugar o mel das pétalas
Da roseira que secou
É andar pelas estrelas
Sem tirar os pés do chão
Almoçar pontos e vírgulas
Jantar rima e oração
E andar na mesma trilha
Dos passos do coração
É transformar um deserto
Numa bonita savana
Viver dezessete séculos
Num simples fim de semana
E andar pelas veredas
Das veias da raça humana
É plantar grãos de esperança
Numa batalha perdida
Replantar pontos e vírgulas
Numa folha ressequida
Deitado nos pés do tempo, Geraldinho,
Olhando o rosto da vida
É sentir a dor alheia
Calando a boca da sua
Passar a noite acordado
Pelas esquinas da rua
Bebendo o suor da noite
Compondo versos pra lua
Ser escritor é pisar, Paixão,
Onde ninguém bota o pé
É ser Zé, Fátima, sem ser, Paim,
Escravo de nenhum Zé
E viver, como Fátima diz, plantando sonhos
Saudade, vontade e fé.
E muito obrigado a todo o mundo. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Dando continuidade a mais um agraciado, desta vez é o Museu da Gente Sergipana, sugestão da Senadora Maria do Carmo Alves. O museu foi inaugurado em 26 em novembro de 2011. É o primeiro museu de multimídia e interativo do Norte e Nordeste. É totalmente tecnológico, voltado para expor o acervo do patrimônio cultural material e imaterial do Estado de Sergipe.
Convidamos aqui, com muita alegria, o Dr. Ezio Déda, que vem aqui receber a Comenda.
Convidamos a Senadora Maria do Carmo, e eu vou acompanhá-la também.
(Procede-se à entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo ao Sr. Ezio Déda, representante do Museu da Gente Sergipana.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Faculto a palavra agora ao Dr. Ezio.
O SR. EZIO DÉDA - Boa tarde.
Gostaria de parabenizar a Senadora Fátima Bezerra pela grande iniciativa de criar esta Comenda, de propor esta Comenda e de nomeá-la com o notável Câmara Cascudo, que é uma pessoa que dispensa comentários sobre a sua relevância para a cultura popular brasileira.
Agradeço também a indicação do prêmio feita pela Senadora Maria do Carmo, uma pessoa que tem um olhar para as raízes de Sergipe e - por que não dizer - para as raízes do Brasil. Muito obrigado, Senadora, pela indicação.
Cumprimento os demais Senadores aqui na Mesa, Senadores aqui no Plenário, meus colegas agraciados e demais componentes, público aqui presente.
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O Museu da Gente Sergipana, que foi fundado em 26 de novembro de 2011, foi construído na gestão do Governador Marcelo Déda para celebrar as manifestações da cultura popular do Estado de Sergipe. É um museu que foi construído pelo Governo do Estado, através do Instituto Banese, que é uma associação vinculada ao Banco do Estado de Sergipe, um dos cinco bancos estatais que não foram privatizados, que está prestes a completar 57 anos e que é um banco que investe na cultura e na responsabilidade social de Sergipe.
Através do Museu da Gente Sergipana, o Instituto Banese já recebeu mais de 600 mil visitantes ao longo desses sete anos. É um museu que já recebeu o prêmio "O Melhor da Arquitetura" brasileira com um projeto de restauração, que recebeu, há 15 dias, a Ordem do Mérito Cultural pelo Ministério da Cultura, e é um museu cujo acesso é gratuito e democrático, que recebe diariamente escolas da rede pública e privada, organizações do terceiro setor e que recebe a comunidade sergipana, repito, de forma gratuita. É um museu integralmente mantido pelo Banco do Estado de Sergipe e é o primeiro museu em multimídia interativa do Norte e Nordeste.
E por que estamos aqui? Porque esse museu celebra o que a gente tem de mais genuíno, que é a cultura popular. Celebra a oralidade dos nossos ancestrais, celebra a cultura quilombola, indígena, os europeus que chegaram a Sergipe. Celebra a culinária, os modos de falar, o repentista, o cordel.
Então, é um museu que está intrinsecamente arraigado nas raízes da cultura nordestina, nas raízes da cultura sergipana.
Então, para mim, que sou sergipano, que sou gestor do museu, é uma honra muito grande estar aqui no Senado Federal, recebendo essa premiação hoje, que levaremos para estampá-la no nosso foyer principal de acesso ao museu.
Muito obrigado a todos. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Quero só aqui, conversando com a Senadora Maria do Carmo, dizer que, tão logo termine a fase aqui da entrega da Comenda aos agraciados, Senador Lasier, eu vou facultar a palavra aos Senadores, está certo?
Dando continuidade, vamos chamar agora, com muita alegria, para receber a Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo, na sua primeira edição, Nelson da Rabeca.
Nelson - a sugestão foi do Senador Fernando Collor e aprovada por todos que compõem o Conselho -, patrimônio vivo de Alagoas, até seus 54 anos era cortador de cana. Quando viu pela primeira vez um violino pela televisão, apaixonou-se pelo instrumento e decidiu fazer o seu próprio. Produziu cerca de 6 mil instrumentos no fundo de sua casa, Nelson.
Bom, vou convidar o Senador Lasier para, junto comigo, entregar a Comenda de Incentivo à Cultura a Nelson da Rabeca. (Palmas.)
(Procede-se à entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo ao Sr. Nelson da Rabeca.)
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A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Faculto a palavra ao nosso homenageado Nelson da Rebeca.
O SR. NELSON DA RABECA - Eu fiquei com muita alegria ao receber este troféu hoje, nesta grande cidade. Os meus artistas estão aqui também tudinho, esse povo excelente está aqui também olhando. Fico com muita alegria. Deus abençoe o dono dessa empresa que está fazendo essa coisa tão bonita para a gente. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Parabéns, Nelson!
Agora vamos convidar aqui Nilson Rodrigues da Fonseca, sugestão do Senador Hélio José, aprovada por todos nós que formamos o Conselho Consultivo da Comenda.
Nilson é autor, produtor e roteirista na área de TV e cinema, venceu a categoria de melhor filme no Festival de Gramado.
Convido aqui o Senador Paulo Paim para nos acompanhar.
(Procede-se à entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo ao Sr. Nilson Rodrigues da Fonseca.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Bom, faculto a palavra agora ao Nilson Rodrigues da Fonseca.
O SR. NILSON RODRIGUES DA FONSECA - Exma. Sra. Senadora Fátima, Senador Lasier, Senadora Maria do Carmo, Daliana, representando aqui o ilustre Câmara Cascudo, Senador Paulo Paim, meus colegas agraciados, artistas, militantes da cultura, é um prazer, é uma honra receber esta homenagem. Eu tive a oportunidade de ter sido votado aqui no Senado Federal, em outra ocasião, quando fui aprovado para dirigir, há 12 anos, a Agência Nacional do Cinema. Portanto, é a segunda vez que eu estou aqui. Sinto-me bastante honrado por esta homenagem.
O Câmara Cascudo talvez tenha sido um dos primeiros brasileiros, Senadora, a reconhecer a diversidade da nossa cultura, as diversas formas com que a cultura se manifesta nas artes, na culinária, nos fazeres, nas variadas manifestações da cultura popular.
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Quando eu assumi a Ancine, missão que busquei cumprir com o máximo de responsabilidade durante quatro anos, as expectativas em torno da cultura no Brasil eram muito grandes; a expectativa de que o Ministério da Cultura, naquele momento, Senadora, pudesse vir a compreender a diversidade da nossa cultura, de que tanto falava o Câmara Cascudo, que pudesse compreender a necessidade de uma ampla atuação do Ministério da Cultura, que não privilegiasse apenas um ou dois centros do País, que chegasse a todo o País. Era um momento muito rico, de muita expectativa. E eu, como Diretor da Agência Nacional de Cinema, busquei dar a minha contribuição.
E nós vimos, Senadoras, Srs. Senadores, meus colegas, uma ampla atuação do Ministério da Cultura nesse período. Talvez nunca tenha havido uma história, uma efervescência cultural e uma responsabilidade tão grande do Governo Federal com a nossa pluralidade, com a nossa diversidade, com os pequenos produtores culturais, com os artistas das diversas regiões deste País, com uma política para o livro e para leitura, Senadora, a que a senhora tanto se dedicou, com políticas para o setor audiovisual e para as diversas áreas da cultura.
Eu digo isso, Senadora, porque quero registrar hoje aqui a minha extrema preocupação com a extinção do Ministério da Cultura, a gravidade da extinção do Ministério da Cultura. Os Srs. Senadores sabem... (Palmas.)
Os Srs. Senadores e meus colegas que aqui estão sabem que não há país desenvolvido sem uma ação cultural forte, sem uma política pública resoluta, que compreenda a riqueza dos seus países.
Quando a gente vê hoje a extinção do Ministério da Cultura, nós nos lembramos de quando ele foi extinto da última vez, em 1990, da gravidade que foi destruir o Ministério da Cultura, que só veio a ser retomado novamente quando o Presidente Itamar Franco se deu conta de como foi grave destruir o Ministério da Cultura e as suas instituições, que regulam, que fomentam, que apoiam o desenvolvimento da cultura no País.
Hoje eu quero mais uma vez colocar que é muito grave - e eu espero que os Senadores compreendam isso, que lutem contra - a extinção do Ministério da Cultura, porque nós artistas e produtores culturais vamos lutar... (Palmas.)
Para terminar, para não tomar muito tempo de todos vocês: nós vamos continuar lutando, porque nós sabemos que a cultura é que mede o grau de civilidade de um povo, de uma nação. E, quando se quer destruir os processos culturais no País, é porque o que se quer para a Nação não é o seu desenvolvimento e não é um avanço no seu processo civilizatório.
Então, aqui, o meu agradecimento ao Senado e o registro da minha insatisfação e da minha preocupação.
E eu sei que falo também aqui em nome de muitos artistas e muitos produtores que compreendem a dimensão econômica e a dimensão simbólica da cultura e o seu significado para o desenvolvimento do Brasil.
Muito obrigado, senhores. (Palmas.)
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A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Parabéns, Nilson. Você mais uma vez demonstra por que faz jus a receber esta homenagem singela, mas tão importante, que é a comenda que leva o nome de Luís da Câmara Cascudo, exatamente pela mensagem que você traz, neste exato momento, da defesa da cultura. Compartilhamos integralmente, Nilson, o seu sentimento.
Passamos agora, imediatamente, ao convite de mais um agraciado, que é Pedro Baião. Vem para cá, Pedro. (Palmas.)
Pedro é ator de teatro e televisão. A sugestão foi do Senador Romário, sugestão que foi aprovada e apoiada por todos nós que fazemos parte do Conselho Consultivo da Comenda.
Vamos convidar aqui o Senador Lasier para entregar a comenda.
(Procede-se à entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo ao Sr. Pedro Baião.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Facultamos agora a palavra ao ator Pedro Baião.
O SR. PEDRO BAIÃO - Eu estou muito feliz de estar aqui hoje. Eu também gostaria de agradecer ao Romário e à sua filha Ivy e, especialmente, à Sra. Fátima Bezerra.
Eu gostaria de comentar com todos vocês que é muito bom estar aqui. Se você tem um sonho pelo qual possa lutar, eu acho que a luta é que faz força para aumentar a nossa fé na cultura. Sem cultura nós não vamos exatamente... A cultura.... Nós temos que enfrentar nessa situação que estamos vivendo é batalhar, é para cima. Temos que ter mais museus, mais teatros, cinemas, livros. Isso incentiva a pessoa a ler mais, a pensar sobre o que estamos dizendo.
A nossa situação é gravíssima, mas temos que dar a volta por cima.
Se você tem um sonho, tem que lutar para viver e aprender como a vida é. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Obrigada, Pedro. Obrigada, mesmo.
Agora, vamos convidar a Câmara Brasileira do Livro, aqui representada por seu Presidente Luís Antonio Torelli. (Palmas.)
Quero convidar Daliana, neta de Cascudo, para nos acompanhar, e a Senadora Maria do Carmo.
(Procede-se à entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo ao Sr. Luís Antonio Torelli, representante da Câmara Brasileira do Livro.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Faculto a palavra agora a Torelli.
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O SR. LUÍS ANTONIO TORELLI - Bom dia a todos.
Quero agradecer ao Senado, aos Senadores, especialmente à Senadora Fátima, por esta iniciativa, em meu nome, em nome da Câmara Brasileira do Livro, em nome de todo o setor editorial brasileiro.
A Senadora Fátima esteve conosco durante todo o tempo, desde o seu tempo de Deputada Federal e agora como Senadora. Certamente, como Governadora, estará ao nosso lado nessa luta pela cultura, essa nossa cultura tão combalida, tão desprestigiada, que precisa que a gente tenha realmente olhos voltados para ela.
Sem cultura, reforço as palavras do Nilson, nós não avançamos. E também, Senadora, não avançamos se nós não tivermos uma educação de qualidade. E uma educação de qualidade se faz com leitura e se faz com livros.
Então, quero lhe agradecer muito todo o apoio que tem dado, Senadora que, em 2015, foi nossa homenageada e recebeu a nossa homenagem como amiga do livro, na Câmara Brasileira do Livro.
Estou muito feliz com isto, com esta homenagem, que agradeço muito, em nome dos funcionários da Câmara, em nome da minha diretoria.
A minha gestão está chegando ao fim, Senadora, mas estou muito feliz - muito feliz - por ter trilhado estes quatro anos como Presidente da Câmara ao seu lado. E sei muito bem e percebi o tempo todo o quanto a senhora admira o livro, o quanto a senhora admira a leitura e o quanto a senhora é preocupada com tudo isso.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Mais uma vez aqui, parabenizo todos os que fazem a Câmara Brasileira do Livro, na pessoa de Torelli. Repito, é papel muito relevante o que a CBL desempenha na promoção do livro e da leitura no nosso País.
Agora, vamos imediatamente passar à fase dos homenageados em memória.
Vamos começar por Deífilo Gurgel, folclorista potiguar. A sugestão foi de nossa autoria.
Deífilo, folclorista que dedicou grande parte da sua vida a preservar e tornar conhecidas, por meio dos estudos, as tradições culturais do Rio Grande do Norte, faleceu em 2012, aos 84 anos. E aqui, com muita honra, ele será representado pelo seu filho, o poeta Carlos Gurgel. Temos aqui mais integrantes da família.
Convido aqui Carlos Gurgel para receber a comenda.
Convido também a Sra. Cláudia Gurgel, filha também de Deífilo.
Por favor, acompanhe aqui seu irmão, Carlos Roberto de Oliveira Gurgel, que está aqui representando a família do homenageado. E eu queria convidar Daliana para me acompanhar. (Pausa.)
(Procede-se à entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo, ao Sr. Carlos Roberto Gurgel, representante do Sr. Deífilo Gurgel, in memoriam.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Faculto a palavra agora a Carlos Gurgel.
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O SR. CARLOS ROBERTO GURGEL - Bom dia a todos.
Exma. Sra. Senadora Fátima Bezerra, Presidente do Conselho da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo; Exmos. Srs. e Sras. Senadoras presentes; demais companheiros de instituições também distinguidos com o recebimento dessa comenda e nomeados pelo Cerimonial; minhas senhoras e meus senhores, inicialmente rendo meu incondicional reconhecimento à Prof. Fátima Bezerra, Senadora, Presidente do Conselho e Governadora eleita do Rio Grande do Norte, pela distinção à memória do meu pai, Deífilo Gurgel. Saúdo também de forma intensa os outro contemplados, em nome do meu pai e da minha família, aqui também representada pela minha irmã, Cláudia Helena Gurgel.
Saúdo Antônio Francisco Teixeira de Melo, Nelson da Rabeca, Nilson Rodrigues da Fonseca e Pedro Baião, além da Câmara Brasileira do Livro e Museu da Gente Sergipana. Também saúdo a memória dos outros homenageados: Romualdo Rosário da Costa (Mô do Katendê) e João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes.
Ao lidar substancialmente com a palavra, permitam-me que possamos usar o humano senso, para que eu possa, falando do meu pai, celebrar os demais homenageados que foram escolhidos para receber a comenda.
Sra. Presidente, Fátima Bezerra, Sras. e Srs. Senadores, minhas senhoras e meus senhores, a noite é breve. Entre os raios de pensamentos e sonhos, um homem pulsa. Esse homem carrega no seu alforje, um bojo de lâminas, inteiriça vontade, travessias populares e uma indisfarçável missão. Foi como um vento nordeste, que trouxe ele para nosso seio. Nascente e veias de profecias, de tanto suor e saliva. Seu sorriso, como uma lupa amiga, colheu a beleza de uma planície tão indescritivelmente repleta de luzes e luas.
Esse homem chama-se Deífilo Gurgel, peregrino que veio a terra para aproximar e celebrar os mares de uma constelação de mestres e folias. Foi ao longo do tempo um missionário nesse deserto árido, por onde sua palavra ecoava à procura da voz do povo, à procura de tantos reisados, de tantas loas, de tantas peregrinações triunfantes.
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Foi com sua lupa que esse homem, humilde, justo, simples, amoroso e amigo, fez o seu criador chão. Colheu, com seus olhos, com o seu coração e, principalmente, com o seu perene, permanente e cristalino andar, a pradaria por onde inúmeros folguedos de festas se revelaram.
Deífilo foi absolutamente, o tempo todo, um servo do que a ancestralidade de uma antiga cantiga se fazia viva, plena de êxtases, como um laço sagrado, perfeito de tanto borrifar o ourives da alma. Esse peregrino construiu um castelo tão belo no horizonte a nos proteger de uma face tão inesquecível de conquistas e arrebatamentos, como um garimpo de feixes inéditos, habitantes de um consagrado mundo translúcido de revelações, descobertas e ressurreições.
A vida do meu pai teve seu princípio na cidade de Areia Branca, espaço por onde suas nuvens do chão abrigavam mansões de sal, infinitas espécies de sal, misturando-se com a delicadeza, a pureza das suas ruas, repleta de tantos milhares de manhãs cobertas pela felicidade da calmaria, silêncio de tanta poesia e amanhecer, mas foi justo na cidade de Caraúbas que meu pai foi tomado pela poesia. Naquela terra, naquele espaço, por onde a imaginação de um completo percurso se fez verbo, verbo que, a todo momento, cada vez mais se pronunciava, construindo o gosto, o cheiro, o perfume, o seu templo adolescente, esse néctar rico de fontes, acolhimento do espírito, pouso por onde seu corpo fluía, tão satisfeito com caleidoscópio...
(Soa a campainha.)
O SR. CARLOS ROBERTO GURGEL - ... desses encontros e dessa sua profunda reflexão.
Meu pai, vindo para a capital, encontrou Zoraide, sua musa, uma predestinada moça que, ao longo de 61 anos, floresce com seus gestos e promessas. Uma vida a dois, felicidade e fertilidade alimentada pela prole de nove filhos, um espelho cristalino de mútua compreensão e amor. Assim, espalhou-se pela cidade de Natal esse amor, exemplarmente símbolo de tudo o que cresce e frutifica.
Já adulto, o binóculo do meu pai, nas suas intensas pesquisas populares, desaguou nas grandiosas, incomparáveis descobertas, a redescoberta de Chico Antônio e a descoberta de Dona Militana, seres enormes, imersos de uma essência rara, lunetas, pontes de tão indiscutível reconhecimento de sabedoria da alma do povo. Meu pai, nas suas andanças pelos Municípios do Estado, renovou o vestuário dos grupos, aparelhou suas trilhas sonoras com novos instrumentos, manufaturou tantas promessas da preservação das suas figuras mais emblemáticas, amealhando, com o seu olhar, o suor, aposentadorias e pensões. Indiscutivelmente, é imprescindível que se afirme que, nesse cortejo do meu pai, estava presente, como identidade de tanta semelhança, o indiscutível árduo arco cascudiano, farol de exuberante sabedoria quase infinita.
Foi assim por um bom tempo que Deífilo palmilhou nosso chão, como um missionário, espalhando o seu suor e sorrisos, incansável sempre, protegendo o desejo de todos aqueles recantos...
(Soa a campainha.)
O SR. CARLOS ROBERTO GURGEL - ... quando se benzia e enfrentava o escudo e os seus dragões. Um guerreiro, um solitário batalhador de loas, brincantes, romances, rezas, promessas e dos anônimos de uma roça onde se dançam cheganças, e de pífanos, que anunciam a disputa da celebração do amor e da amizade.
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Deífilo foi sempre verdadeiro e protetor, enorme discípulo do povo, como fonte inesgotável de tanta clareza, de tanto e predestinado sacrifício, como uma flor que se rega no deserto do Nordeste atávico, prenhe de símbolos, atalhos, morros e vales repletos do mais precioso tesouro.
Assim, no fim dessa minha devota fala, Deífilo somos todos nós. Como cajados nas mãos, anunciando a lamparina por onde a eternidade da tradição será sempre uma serra, adubada de uma incondicional lareira: é pelo fogo, mestre criador de tudo que se cria e se renova, que Deífilo e todos os mestres que aqui estão agraciados perpetuarão, como sábios tijolos, a construção de uma irretocável aldeia, como pão e morada de tudo que reluz e é puro ouro.
É de manhã, vou buscar minha fulô.
A barra do dia vem.
O galo cocorocô, é de manhã.
Vou buscar minha fulô.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Obrigada, Carlos. Obrigada, família.
Agora, antes de chamar o próximo homenageado em memória, quero aqui rapidamente dar conhecimento de uma mensagem que o Senador Garibaldi Alves Filho, potiguar, enviou:
Gostaria de cumprimentar todos os escolhidos para receber a Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo. Lamentavelmente, compromissos anteriormente agendados em Natal me impediram de participar da sessão especial onde a distinção está sendo conferida. Sobretudo, quero parabenizar ao meu conterrâneo Antônio Francisco Teixeira de Melo, grande poeta e repentista, que tem divulgado com tanto brilho o nome de Mossoró e do Estado. E também aos familiares do folclorista e estudioso da cultura popular, Deífilo Gurgel, que está sendo representado pelo seu filho, o poeta Carlos Gurgel. Não posso deixar de cumprimentar também a família de Luís da Câmara Cascudo, que dá nome à comenda.
Muito obrigado e parabéns a todos.
Senador Garibaldi Alves Filho (Palmas.)
Quero também aqui dar conhecimento da mensagem também enviada pelo Senador Hélio José:
Prezada Senadora Fátima Bezerra,
Em razão da minha ausência na primeira edição da cerimônia de entrega da "Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo", que este Senado Federal instituiu a partir de proposta de Vossa Excelência, e por estar muito honrado pelo fato de que o Senhor Nilson Rodrigues da Fonseca, meu indicado à Comenda, tenha sido escolhido para ser um dos agraciados, gostaria de solicitar-lhe a gentileza de, havendo possibilidade, proceder à leitura dessa mensagem, no dia da homenagem:
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Senhores, uma missão internacional à COP 24 me impediu de estar aqui hoje para expressar minha alegria de poder participar dessa primeira edição da cerimônia de entrega da "Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo", que este Senado Federal instituiu a partir da proposta da ilustre Senadora Fátima Bezerra.
Ele coloca que é motivo de especial satisfação ser o Parlamentar que fez a indicação de Nilson Rodrigues da Fonseca para o recebimento da Comenda Câmara Cascudo.
No mais, esta Presidência acata aqui a mensagem do Senador Hélio José e, portanto, a considera como lida.
Mais uma vez, associa-se ao Senador Hélio José nas justas homenagens que foram feitas a Nilson, agraciado com a Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo.
Vamos agora passar para o próximo homenageado, que é João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes, que vai ser aqui representado por seu filho.
Eu quero convidar o Senador Lasier, autor da proposta, da sugestão, que foi aprovada por todos os que integram o nosso Conselho, e também o Senador Paulo Paim e a Senadora Ana Amélia, a bancada gaúcha, para entregar aqui a comenda, a homenagem in memoriam ao Sr. João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes, representado aqui pelo seu filho, Carlos Paixão Côrtes.
(Procede-se à entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo ao Sr. Carlos Paixão Côrtes, representante do Sr. João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes, in memoriam.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Faculto a palavra a Carlos Paixão Côrtes, filho do homenageado.
O SR. CARLOS PAIXÃO CÔRTES - Boa tarde a todos.
Senadora Fátima, obrigado por ter instituído o prêmio, que incentiva a nossa cultura.
Obrigado ao Senador Lasier Martins pela indicação, e sei que os demais Senadores, Maria do Carmo, Paim e Ana Amélia, comungam do mesmo...
E eu queria agradecer por a gente estar... Faz pouco mais de cem dias que meu pai veio a falecer, mas, quando aconteceu essa coisa recente, a gente disse que o trabalho dele é um trabalho que vai além do seu tempo. E, quando ele tem o seu nome junto ao de Luís da Câmara Cascudo, que também é além do seu tempo - são pessoas que vão permanecer -, com certeza, se ele estivesse aqui, estaria muito honrado em estar ao lado dos demais agraciados, pessoas da defesa da cultura e, principalmente, da defesa da cultura popular, pessoas atuantes.
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O meu pai, para quem não sabe, iniciou todo o movimento chamado no sul de Movimento Tradicionalista. A partir dele e de um ato dele, uma cavalgada, criaram-se todos os símbolos dessa tradição e a partir da escola, da educação, do Colégio Júlio de Castilhos, teve-se início todo o movimento tradicionalista, que, hoje, tem mais de quatro mil entidades espalhadas pelo mundo, representando a tradição do sul do País.
Essa tradição, como o meu pai sempre disse, na verdade, é a nossa tradição brasileira, sempre levando, como ele pode levar, a mensagem do Brasil a todos os lugares.
Quando meu pai iniciou, lá em 1954, a manifestação popular, a cultura popular era vista, como a gente chama lá no sul, de grossura, pois era uma coisa simples, mas ele, junto com vocês e junto com todos os que puderam sempre valorizar a cultura popular, mostrou esse valor que hoje a gente atribui aqui, nos anos 2000, como um valor nosso que estava sendo perdido, que estava sendo suplantado por culturas estrangeiras. Então, todas as ações do livro, da cultura, do folclore, tudo isso são sementes que são plantadas e que são colhidas agora pela população que vem.
Agradeço a todos pela lembrança e digo que, como o Pedro falou que a gente tem de plantar, nós estamos fazendo o Instituto Paixão Côrtes, estamos trabalhando para que a gente faça a fundação do Instituto Paixão Côrtes e possa aqui estar propagando esse conhecimento, esse legado do meu pai junto com as demais instituições, junto com as demais manifestações.
Obrigado a todos. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Parabéns, Carlos!
Nós vamos, agora, convidar, para a entrega da placa de homenagem in memoriam, a Sra. Daliana Câmara Cascudo, representando a família Câmara Cascudo. E eu quero convidar aqui agora todos os Senadores para me acompanharem nessa entrega que vou fazer à Daliana, neta de Luís da Câmara Cascudo.
(Procede-se à entrega da placa comemorativa à Sra. Daliana Câmara Cascudo, representante do Sr. Luís da Câmara Cascudo, in memoriam.)
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A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Esta, portanto, Daliana, é uma singela homenagem que a gente faz a Câmara Cascudo. Portanto, você aqui, na condição de neta e representante da família, recebe esta singela homenagem do Senado da República, do Senado Federal.
E agora faculto a palavra a você.
A SRA. DALIANA CASCUDO ROBERTI LEITE - Exma. Senadora Fátima Bezerra, Presidente desta sessão, Senador Lasier Martins, Senadora Maria do Carmo Alves, Senador Paulo Paim, Senadora Ana Amélia, o Senado Federal, entre suas atividades legislativas, tem um importante compromisso social que cumpre através de diversas ações, entre elas, premiações conferidas a personalidades ou instituições que se destacam nas mais diversas áreas de atuação. Instituída a partir de um projeto de resolução por iniciativa da Senadora Fátima Bezerra e aprovada em maio deste ano, a Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo destina-se a agraciar personalidades, instituições e grupos que tenham oferecido contribuição relevante ao registro e ao fortalecimento da cultura, do folclore e dos saberes tradicionais no Brasil.
O nome que intitula esta comenda, e a quem tenho a honra de representar, simboliza com fidedignidade o seu objetivo. Câmara Cascudo, meu avô, dedicou sua vida ao estudo e à pesquisa do folclore, denominado por ele, Antônio, de "cultura popular". Nas suas palavras: "A cultura popular é básica, de uma sabedoria ilimitada porque vem de uma sedimentação de conhecimentos. Nada tem de escolaridade. É uma mistura de constatações no tempo e no espaço, repetidas oralmente e sempre com uma pitada do sentimento pessoal do momento. Todas as outras culturas são acessórias, ela é a principal".
Em uma época em que o folclore ainda não era reconhecido como ciência, ele foi um desbravador e um pioneiro na valorização de tudo que representa os nossos costumes e nossas manifestações populares mais autênticas. Entre suas mais de 200 publicações, podemos destacar o monumental Dicionário do Folclore Brasileiro, além de História da Alimentação no Brasil, Contos Tradicionais do Brasil, Literatura Oral no Brasil, Lendas Brasileiras, Geografia dos Mitos Brasileiros, Superstição no Brasil, História dos Nossos Gestos. O Brasil sempre foi sua paixão e seu maior foco de estudo. Ao prefaciar o Dicionário do Folclore Brasileiro, declarou: "Assim, de mão ao peito, informo que encontrei no povo do Brasil o material deste dicionário e todas as coisas aqui registradas participam indissoluvelmente da existência normal do homem brasileiro". Cascudo encantou-se há 32 anos, mas sua obra segue viva e atual, interpretando o Brasil e sendo fonte de pesquisa e referência insubstituíveis.
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Nesta primeira edição do prêmio que hoje celebramos, não podemos deixar de ressaltar nossa tríplice alegria. Além de Cascudo, que nomeia o prêmio, mais dois potiguares são agraciados nesta ocasião: Deífilo Gurgel - in memoriam -, folclorista potiguar que nos deixou uma importante contribuição, e Antônio Francisco, poeta popular natural...
(Soa a campainha.)
A SRA. DALIANA CASCUDO ROBERTI LEITE - ... da cidade de Mossoró.
Parabenizamos também todos os outros agraciados, merecedores desta honraria: a Câmara Brasileira do Livro, o Museu da Gente Sergipana, Nelson da Rabeca, Nilson Rodrigues da Fonseca e Pedro Baião, além das homenagens póstumas a Romualdo Rosário da Costa e João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes.
Agradecemos, imensamente, à Senadora Fátima, pela proposição do nome do mestre potiguar para titular uma premiação desta magnitude. Sempre preocupada com a educação e a cultura do nosso País, a iniciativa da Senadora contribui de forma inequívoca para eternizar o nome de Luís da Câmara Cascudo, um dos maiores estudiosos da cultura popular brasileira. Em nome da Família Cascudo e do Ludovicus - Instituto Câmara Cascudo, externo nosso mais profundo agradecimento, Senadora, extensivo a todo o Senado Federal, pela aprovação da Comenda que muito nos honra.
Minha presença nesta Casa Legislativa me traz a recordação da participação do meu avô na vida política brasileira, uma curiosidade pouco conhecida, Senadora, em sua biografia. Em 27 de julho de 1930, Cascudo foi eleito Deputado Estadual pelo Partido Republicano Federal, com o apoio do então Governador do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine. A 1º de outubro, os eleitos foram empossados. No dia 3 de outubro, explodiu a Revolução de 30, e, em 6 do mesmo mês, a Assembleia Legislativa foi dissolvida e todos os eleitos foram depostos.
Dessa forma, o seu mandato de Deputado Estadual durou apenas cinco dias e provocou nele um comentário muito bem-humorado, como ele tão bem sabia fazer. Diz ele: "Eu não tive tempo nem de salvar, nem de perder o Brasil. E também não tive tempo de tomar gosto pela política. Minha vocação sempre foi o folclore".
Posteriormente, quando Getúlio Vargas o visitou em sua casa, Cascudo contou-lhe o episódio e Getúlio, tirando o charuto da boca, deu uma risadinha e disse: "Prof. Cascudo, o Governo lhe deve um ressarcimento de preterição" e quis fazê-lo Senador, Senadora Ana Amélia. Cascudo recusou a proposta, com todo o seu bom humor, dizendo que seus legítimos eleitores não votavam. Getúlio não entendeu que legítimos eleitores eram esses. Diz ele: "São o Saci-Pererê, o Bumba Meu Boi, a Mula sem Cabeça e o Curupira. Esses não podem votar em mim para o Senado". (Palmas.)
Otimista irrecuperável e um frasista por eloquência nata, Cascudo foi um apaixonado pelo Brasil. Ele nos deixou uma lição, sempre atual, ao declarar: "Quando nasci, o Brasil estava à beira do abismo. Passados os anos, compreendi que uma das duas coisas deve ter acontecido - ouviu, Antônio?: ou o abismo fechou ou o Brasil alargou".
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O que se está processando no Brasil é uma fase lógica, com a presença dos problemas mundiais que aqui arribaram. Falar em problemas brasileiros, em abismos é ignorar o que se passa e passou no resto do mundo. Desvalorização da moeda, desajustamento psicológico, tudo isso são ciclos. Antes de tudo, é preciso acreditar que estamos aqui numa missão humana e que nada disso é castigo nem penitência, acima de nossas possibilidades de resolução. O melhor produto do Brasil ainda é o brasileiro.
Que nomes como Luís da Câmara Cascudo, Gilberto Freyre, Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, entre tantos outros modernos descobridores do Brasil, sejam sempre referência e parâmetro para a educação e a cultura do nosso País. Esta premiação que hoje celebramos é um importante passo para que isso aconteça.
Muito obrigada. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Bom, queremos cumprimentar Daliana - um cumprimento todo especial - pela brilhante mensagem que aqui acaba de fazer em nome da família do nosso homenageado, Luís da Câmara Cascudo.
Bom, para encerrar esta fase agora das homenagens em memória, nós queremos aqui destacar que foi também agraciado Romualdo Rosário da Costa.
Nascido em Salvador, em 29 de outubro de 1954, Romualdo, conhecido como nosso querido mestre Moa do Katendê, foi um compositor, percussionista, artesão, educador e mestre de capoeira. Moa do Katendê foi uma sugestão da Senadora Lídice da Mata. Moa, que é considerado um dos maiores mestres de capoeira de Angola da Bahia, começou a praticar capoeira aos oito anos, no terreiro de sua tia, o Ilê Axé Omin Bain. Moa de Katendê defendia um processo de reafricanização da juventude baiana e do carnaval, seguindo as propostas de Antonio Risério. Moa foi brutalmente - brutalmente - assassinado a facadas após o primeiro turno das eleições gerais de 2018, assassinato esse que chocou o Brasil, que revoltou não só o Brasil, mas o mundo. Infelizmente, o ataque foi motivado por discussões políticas. Enfim, mais uma vítima desses tempos de intolerância política que nós temos presenciado.
Então, um representante da família viria receber a homenagem em memória. Houve um imprevisto. Mas queremos aqui, mais uma vez, nos associar à iniciativa da Senadora Lídice da Mata, que, merecidamente, faz essa homenagem em memória a Moa do Katendê, concedendo a ele a Comenda de Incentivo à Cultura Câmara Cascudo.
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Bom, encerrada agora a fase das homenagens aos agraciados, nós vamos facultar a palavra aos Srs. Senadores e Senadoras. Vamos começar pela Senadora Maria do Carmo Alves. Depois o Senador Lasier Martins.
A SRA. MARIA DO CARMO ALVES (Bloco Social Democrata/DEM - SE. Para discursar.) - Sra. Presidente, Srs. Senadores, Sra. Daliana Cascudo, demais homenageados, o Dr. Ezio Déda, que recebe hoje esse diploma, é Superintendente do Instituto Banese, que é quem administra o Museu da Gente Sergipana.
O Museu da Gente Sergipana tem o aspecto dum palácio. Na primeira gestão do Governador João Alves Filho, era a Secretaria de Educação. Depois, não sei o que foi que houve, fecharam. E esse museu conta a história de Sergipe e do Nordeste. Quando eu fui conhecer, havia até uma senhora fazendo renda irlandesa. É uma renda que só se faz em Sergipe, numa cidade que é Divina Pastora. Então ela é genuinamente sergipana, essa renda.
E o museu tem coisas belíssimas. Antigamente a feirinha de Natal era numa praça grande, atrás da Catedral de Sergipe, em que havia um Tobias. Havia roda gigante, havia uma ruma de coisas. E esse Tobias já morreu, mas tem um filho. Há até uma parte pequena, original do Carrossel do Tobias. Então, para Sergipe foi uma coisa linda.
E ele agora tem um projeto, que já apresentou aqui no Senado, de um museu interativo. Eu até expliquei lá à Ilana: olhe, eu nasci numa cidade de 6 mil habitantes; ninguém nunca foi a um museu, é uma cidade de gente simples. Então imagine essa carreta percorrendo as cidades de Sergipe e quiçá do Brasil. Então é uma coisa extremamente importante. Ela até disse que o Senado não tem dinheiro não sei para quê, não sei para quê; mas acontece que o projeto, não é para o Senado comprar o projeto, não. Não é para o Senado comprar, é uma ideia maravilhosa que ele teve e que em termos de cultura, é extremamente importante isso. Em termos de educação também, entendeu?
Então é por isso que eu fiz questão de falar em nome dele. Ele me pediu que convidasse todos os senhores, que quando forem a Sergipe, visitem o museu. Fica na Rua da Frente, em frente ao Rio Sergipe, e vale a pena conhecer.
Era isso.
Muito obrigada. (Palmas.)
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A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Vou cumprimentar a Senadora Maria do Carmo e passamos imediatamente a palavra ao Senador Lasier Martins.
O SR. LASIER MARTINS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - RS. Para discursar.) - Sra. Presidente dos trabalhos Senadora Fátima Bezerra, cumprimentos por esta inspirada ideia de promover esta Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo e promover esta sessão especial de hoje, aqui no Senado.
Foi muito oportuno, porque tivemos a oportunidade de conhecer aqui também personagens que fazem a cultura deste Brasil. Foi inegavelmente uma sessão especial de grande valor para todos nós.
Sra. Daliana, neta do personagem que dá título a esta Comenda, Sra. Senadora Maria do Carmo, Sr. Senador Paulo Paim, Sra. Senadora Ana Amélia, eu fico muito feliz por estarmos hoje os três Senadores gaúchos aqui para homenagear uma das personalidades mais marcantes da história do Rio Grande do Sul, personalidade muito bem representada por seu filho, Carlos Paixão Cortes e familiares, a Sra. Maria Inês também aqui está presente.
Senhoras e senhores, telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, eu quero o mais sucintamente possível registrar algumas ideias sobre a personalidade que nós estamos homenageando, João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes, porque afinal estão aqui representantes de várias partes do Brasil e talvez nem todos conheçam com profundidade quem foi Paixão Cortes.
As senhoras e os senhores sabem que os gaúchos têm um estilo bem próprio, um orgulho da sua história, das suas lutas em defesa do território gaúcho, de várias fronteiras; de defensores da República à época da Monarquia; pela adoção da República. O gaúcho tem muito orgulho do seu hino, que é fervorosamente cantado em todas as cerimônias importantes do Rio Grande do Sul... O hino rio-grandense. Nós estádios de futebol saibam os senhores que ecoa pelo estádio inteiro o hino riograndense. Orgulho do chimarrão, orgulho do churrasco, orgulho das suas tradições gaúchas.
E é aí que entra a nossa personalidade homenageada. João Carlos Paixão Cortes, pesquisador, folclorista, maior divulgador dos costumes e da cultura gaúcha, compositor de inúmeras de nossas músicas tradicionalistas e, como pesquisador, escreveu também sobre a origem das danças gaúchas, os nossos costumes, sobre a indumentária própria do gaúcho e sobre as nossas músicas.
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Ainda muito jovem, como estudante do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, um colégio público que, durante muito tempo, foi chamado de escola padrão do Rio Grande do Sul, em 1947, Paixão Côrtes liderou um movimento entre os seus colegas para criar...
(Soa a campainha.)
O SR. LASIER MARTINS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - RS) - Peço mais uns minutos.
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN. Fora do microfone.) - Com certeza.
O SR. LASIER MARTINS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - RS) - Muito obrigado.
Liderou um movimento entre seus colegas para criar o Departamento de Tradições Gaúchas junto ao Grêmio Estudantil do Julinho, plantando ali a semente dos CTGs (Centros de Tradições Gaúchas), que vieram a se espalhar pelo Brasil inteiro. No Rio Grande do Sul, não há cidade que não tenha o seu Centro de Tradições Gaúchas; há CTGs, inclusive, em países como os Estados Unidos, como o Japão, onde há gaúchos vivendo.
Também é prova de sua personalidade marcante o fato de haver, à entrada de Porto Alegre, uma estátua bem visível a quem está chegando, denominada Estátua do Laçador, onde o personagem veste trajes típicos gaúchos e tem à mão um laço. Pois essa estátua, obra do escultor Antônio Caringi, no ano de 1954, teve como modelo Paixão Côrtes - é a imagem do próprio Paixão Côrtes.
Portanto, numa personalidade de bronze, na entrada de Porto Alegre, foi perpetuada a imagem de Paixão Cortes.
Esse é o nosso homenageado, o nosso homenageado por esta Comenda de Incentivo à Cultura, in memoriam; um personagem relevante na vida gaúcha, admirado como divulgador, formado em veterinária. A estátua símbolo do gaúcho é uma lembrança permanente para quem chega em Porto Alegre.
Nascido em 1927, faleceu este ano, no dia 27 de agosto, aos 91 anos de idade. As suas homenagens fúnebres pelo seu passamento ocorreram no Palácio Piratini, onde compareceram centenas, talvez milhares de gaúchos para a sua despedida, porque, ali, estávamos nos despedindo de alguém que identifica o gaúcho.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Pela ordem, Senadora Fátima Bezerra.
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Pois não.
A SRA. ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Pela ordem.) - Vou ser breve. Daqui do Plenário, faço um registro.
Tive a honra de ter encaminhado à Comissão presidida por V. Exa., para receber também igual premiação, o Movimento Tradicionalista Gaúcho. Esse movimento celebrou, agora, 52 anos - mas, em 2016, 50 anos.
E fico muito feliz.
Ouvi aqui as palavras do Carlos Paixão Côrtes, filho do grande e merecido homenageado de hoje, junto com ilustres figuras que tanto contribuíram para a cultura do nosso País - não só regionalmente. Mas há um traço muito comum entre Luís da Câmara Cascudo, que dá nome a este prêmio, e Paixão Côrtes. Os dois - até pelo nome, Paixão - eram apaixonados pela sua terra.
Daliana fez um discurso aqui que nos encantou a todos. A fruta não cai longe do pé, dizia o meu marido. E é um termo muito gaúcho. Você prova isso. A genética não sai de você. O sangue está aí.
Então, parabéns, Carlos, família e todos os homenageados. Parabéns, Senadora Fátima Bezerra, por ter criado esta premiação.
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A história, como eu disse, de Luís da Câmara Cascudo, é muito parecida com a de Paixão Côrtes. Ambos tinham o amor pela sua terra. O folclore é a raiz da cultura, é aquilo que vem de toda a essência de cada um, do Rio Grande do Norte, do seu Rio Grande do Norte amado, como do nosso Rio Grande do Sul amado, Paulo Paim, Lasier Martins.
Então, como ele foi, Paixão Côrtes, o idealizador do Movimento Tradicionalista Gaúcho, lá em 1948, quando criou o 35 CTG, que foi o precursor de todos os CTGs aqui mencionados pelo Senador Lasier Martins e que se espalharam como bandeiras das quais o gaúcho tem muito orgulho - não só do seu hino, mas da sua terra, das suas tradições -, Paixão Côrtes talvez tenha sido o historiador, junto com Barbosa Leza, junto com Glaucus Saraiva e tantos outros, a fazer essa cultura gaúcha ter a força que ela tem. E eu, como Senadora do Rio Grande, junto com Lasier Martins e Paulo Paim aqui estamos, numa segunda-feira, para honrarmos a memória e o valor imortalizado no bronze por Antônio Caringi, na Estátua do Laçador. Essa obra foi considerada, em 1996, como o símbolo de Porto Alegre, devido à relevância que ele teve, pela sua genialidade, pelo seu jeitão fronteiriço, lá de Santana do Livramento, que cativava a quem chegasse perto dele, e pela contribuição que ele deu para a cultura não só do Rio Grande, mas também para mostrar que essa cultura, esse folclore, essa raiz da cultura de cada região e de cada Estado tem uma força vigorosa, que cada vez mais fortalece a cultura brasileira.
Então, parabéns, Senadora Fátima, por isso, mas parabéns sobretudo ao Movimento Tradicionalista Gaúcho, que eu indiquei nesse prêmio, mas que, na figura de Paixão Côrtes é muito, muito bem celebrado, muito, muito bem representado, porque ele foi um dos idealizadores. O CTG fez 70 anos, em 2018, e o MTG fez 52 anos neste ano. Então, todos estão de parabéns por esse prêmio, por esse momento em que a gente precisa parar um pouco, com tantos conflitos, com tantas agonias, com tantas coisas tristes, com tantas preocupações, no encerrar do ano de 2018, com tantos desafios que tivemos, Senadora Fátima, e a senhora também os terá, agora, no comando do seu Estado, na terra de Luís da Câmara Cascudo. Assim, nós temos que fazer uma reflexão para dizer que na raiz de tudo está o humanismo tão bem falado aqui por ele, que idealizou o prêmio; o humanismo, a relação fraterna, o respeito às diferenças, sejam elas culturais, ideológicas, partidárias, diferenças de gênero, diferenças religiosas, diferenças esportivas até, todas as diferenças. E o respeito a isso é o que Câmara Cascudo e que Paixão Cortes certamente estariam aqui pedindo para a gente: "Brasileiros, sejam tolerantes. Brasileiros, gostem uns dos outros. Respeitem uns aos outros". O folclore também tinha isso.
Muito obrigada, Senadora Fátima Bezerra. (Palmas.)
O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Social Democrata/DEM - RN) - Sra. Presidente, pela ordem.
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Senador José Agripino, concederei já a palavra a V. Exa., mas quero cumprimentar a Senadora Ana Amélia pela mensagem bonita que acaba de fazer. S. Exa. integrou o Conselho Consultivo, associando-se ao Senador Lasier e aos demais integrantes desse Conselho Consultivo nessas homenagens aos nossos agraciados e agraciadas, que merecidamente são realizadas no dia de hoje.
Antes de conceder a palavra ao Senador José Agripino, quero rapidamente registrar a presença da Senadora Regina Sousa, do Piauí.
Agora concedo a palavra ao Senador potiguar, Senador José Agripino.
O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Social Democrata/DEM - RN. Pela ordem.) - Obrigado, Presidente.
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Eu queria cumprimentar V. Exa., cumprimentar os Senadores Paulo Paim, Lasier Martins, Maria do Carmo, cumprimentar a Senadora Regina Sousa, do Piauí, cumprimentar os presentes e cumprimentar, de forma especialíssima, a legítima representante da família de Câmara Cascudo, que é Daliana, que é filha de Anna Maria, minha queridíssima amiga - aliás, o pai e a mãe dela foram meus dois grandes amigos, como muito amigo eu me considero ter sido de Luís da Câmara Cascudo.
Eu fui Prefeito de Natal, de 1975 a 1979, e, nessa época, Câmara Cascudo, que foi talvez o mais brilhante dos homens de letras do meu Estado... E ele tinha uma escola em Natal. Para onde ele ia, ele era seguido por pessoas que idolatravam Luís da Câmara Cascudo pelo talento pessoal dele. Ele foi um folclorista e um antropólogo muito além do seu tempo. Ele e Gilberto Freyre rivalizavam em talento, em competência e em conteúdo. Rivalizavam no bom sentido, porque eles disputavam talento, mas eram grandes amigos e eram a expressão mais fina e mais viva do talento nordestino no campo do folclore e no campo da antropologia.
Mas, quando eu fui Prefeito em Natal, e Daliana, quando eu cumprimentei, quando eu fui cumprimentá-la na mesa, relembrou um fato que eu não poderia jamais deixar esquecido.
A par de, antes que eu esqueça, cumprimentar os homenageados, os in memoriam e as entidades que aqui estão representadas e que foram objeto, pelo voto, da escolha para a premiação. Meus cumprimentos. As entidades que aqui recebem a premiação Luís da Câmara Cascudo levam para as suas entidades, para as suas sedes, a homenagem que carrega o nome de um homem ilustríssimo, de um potiguar ilustríssimo, que foi o Luís da Câmara Cascudo, a quem, todos os anos, enquanto eu fui Prefeito em Natal, eu premiava com uma notinha de um cruzeiro. Era o salário a que ele fazia jus pela defesa da história da cidade de Natal. Todos os anos, o Prefeito ia à casa dele. Ele já não ouvia nada; ele se comunicava com as pessoas com o livro onde você escrevia o que queria dizer, e ele falava, ele respondia aquilo que era objeto da resposta à pergunta que era feita por escrito.
E eu me julgava amigo dele. Eu era recebido fraternamente. Eu era muito moço - eu fui Prefeito em Natal com 33 anos; eu devia ter 34, 35 anos, e ele já um homem de idade. Ele sempre me recebia de pijama, que era como ele se vestia para receber quem quer que fosse. Ele estava em casa, no solar, na cidade de Natal, e, no dia do aniversário dele - isso acontecia nos dias do aniversário dele -, ele recebia as pessoas que iam lá voluntariamente levar a sua homenagem ou levar o seu abraço fraterno. E eu, como Prefeito e amigo da família, ia levar o dízimo anual, a notinha nova - sempre nova -, dentro de um envelope que ele tirava, conferia e verificava se o salário dele estava em ordem, que era o salário a que ele fazia jus, pelo fato de ser o historiador emérito da cidade de Natal.
Guardo com muito carinho e com muito orgulho esses encontros que eu tive. Eu fui colega, nesta Casa, de figuras importantes, como Darcy Ribeiro, Nelson Carneiro, Affonso Arinos. Eu fui Senador muito jovem e fui Prefeito muito jovem. Como Senador, convivi com figuras eméritas da política e da República e, como Prefeito, com uma figura importante das letras, do folclore, com o antropólogo que é reverenciado não pelo meu Estado, pelo Brasil e pelo mundo, pelo talento do qual eu muito me orgulho.
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E, por essa razão, eu venho aqui, Daliana, lhe trazer um beijo de amigo, transmitir aos seus familiares todos o meu abraço carinhoso e a minha homenagem como potiguar a um dos mais ilustres norte-rio-grandenses que se chamou, que se chama e vai-se chamar por muitos anos mais Luís da Câmara Cascudo, o mais ilustre dos potiguares no campo das letras.
Muito obrigado, Presidente. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Quero cumprimentar o Senador José Agripino pela mensagem que acaba de fazer, e vamos passar agora, imediatamente, a palavra ao Senador Paulo Paim.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) - Senhoras e senhores, quando a gente vem para uma sessão como esta, a assessoria nos dá um discurso deste tamanho, mas me comprometo aqui com vocês, até pelo horário - já é mais de 1h -, a simplificar tudo o que está colocado aqui.
Sra. Presidenta, Fátima Bezerra, em seu nome, cumprimento toda a Mesa. Toda ela foi homenageada, citada. Cumprimento todos que foram aqui, de uma forma ou de outra, homenageados por cada um que está aqui e pelo Brasil que está assistindo a esta sessão.
Senadores e Senadoras, primeiro, eu cumprimento o Senado pela entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo na figura da neta Daliana. E, aqui, eu cumprimento a todos. Da mesma forma, Daliana, eu queria - é despedida dela aqui do Senado - que a gente cumprimentasse, desse os parabéns a esta brilhante Senadora, agora eleita Governadora do Rio Grande do Norte, quem idealizou... (Palmas.) ... esse belo projeto que vai fortalecer a cultura no nosso País.
Com todos esses nomes aqui, eu teria de falar horas e horas para elogiar. Eles escreveram o currículo de cada um de vocês aqui. Uma salva de palmas a todos, todos que foram aqui homenageados. (Palmas.)
Olhem que eu estou passando as folhas aqui, viu?
Mas quero falar um pouquinho, porque, para mim foi muito forte, da fala que um dos senhores fez - todos foram brilhantes -, pedindo: "Por amor de Deus, Presidente eleito, não termine com o Ministério da Cultura. O Ministério da Cultura é do povo brasileiro, é nosso!" (Palmas.)
Há muitas definições de cultura, mas quero citar aqui apenas uma, a que está num parágrafo do nosso Almanaque Brasilidades, um inventário do Brasil popular, de Luiz Antonio Simas. Diz ali:
Das várias acepções que o conceito de "cultura" tem, a que norteia [as linhas que seguem] é aquela que encara a cultura como todo processo humano de criação e recriação das formas de viver; englobando padrões de comportamento, visões de mundo, elaborações de símbolos, crenças e hábitos. Formas de nascer [viver], amar [envelhecer], odiar, (...) morrer, cantar, dançar, orar, (...) beber, comer...
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Enfim, a cultura é um todo. Quem seremos nós sem a cultura?
A cultura é isso, senhores, tudo aquilo que se faz com verdade, consciente ou inconscientemente...
As manifestações populares, dos poetas - ah, os poetas! -, cantores, violeiros, atores, festas de reis, danças, congadas, histórias, teatros, lendas, culinária...
O som, por exemplo aqui, da rabeca, pelo qual todos se encantaram, e iniciou falando do violino.
Senador Lasier, meus cumprimentos! Toda a bancada gaúcha se uniu, naturalmente, Senadora Ana Amélia, pela sua indicação desse grande nome do Rio Grande e do Brasil - permita-me que eu diga -, do doutor, porque ele não precisava de diploma, chamavam-no de doutor da cultura, Dr. João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes.
As palmas hoje são para você. (Palmas.)
Não vou repetir o currículo e a história bonita de Paixão, mas só dizer que ele nasceu em Santana do Livramento, lá na fronteira com o Uruguai, e, de tudo que está aqui, eu vou ficar... Era compositor, era cantador, era poeta, era pesquisador e tudo o que vocês imaginarem de um homem de letras.
Ele abriu portas para gerações e gerações que tinham sede de cultura. Ninguém, ninguém poderá falar em tradição gaúcha sem citar, sem falar de Paixão Côrtes, que, ao lado de Barbosa Lessa e Glaucus Saraiva percorreram o nosso querido Rio Grande do Sul, adentraram aqueles pampas, como cavaleiros cruzados, ouvindo e conversando com a nossa gente, com a nossa população, para escrever os traços culturais do Estado.
Lembro aqui, Carlos:
Eu queria ser balaio
Balaio eu queria ser
Para andar dependurado
Na cintura de você
Balaio, meu bem, balaio, sinhá
Balaio do coração
Moça que não tem balaio, sinhá
Bota a costura no chão
Resgates como esse, Balaio, na sua simplicidade, tanto na letra como na musicalidade, demonstram que a cultura é o elo que liga o passado, o presente e o futuro.
Querido amigo Carlos, isto aqui não estava escrito no meu papel, mas recentemente nós recebemos uma homenagem lá no Parque da Harmonia, em Porto Alegre. Eu soube que eu iria ser homenageado, e, para alegria nossa, sabe o que a gente recebeu? E recebi das tuas mãos? Uma estátua de Paixão Côrtes, que está na minha casa, na sala principal, eu diria, se é que dá para se chamar de sala principal. Está na sala da minha casa.
Enfim, meu abraço a todos.
Tchekhov disse um dia: "Canta a tua aldeia e cantarás ao mundo". O que esses homenageados fizeram foi isso.
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A universalidade das suas artes tem este dom e esta missão: agregar as pessoas libertando-as dos seus preconceitos, desconstruindo muros, respeitando as diferenças.
A cultura tem que ser livre, livre! Ah, como é bom a gente olhar para trás, para frente e para o futuro! Eu só quero liberdade, liberdade e liberdade, e é a cultura que me dá isso.
Quero a liberdade como livre é o som das águas; eu quero a liberdade como livre é o canto dos pássaros; eu quero a liberdade como livre - Paixão Côrtes lá no alto - é o galopar dos potros selvagens.
Não há cultura sem democracia e nem democracia sem o dedilhar dos violeiros, o cantar dos seresteiros em preces ao luar ou sem o declamar das nossas poesias.
O tempo - e tão somente o tempo - é capaz de acordar o Sol e descortinar o enigma das estrelas, como aqui hoje foi lembrado.
A cultura é uma mescla de tudo isto: de vento, de poeira, de pegadas, de geada, de sombra, de lágrimas, dos sorrisos de quem ainda não nasceu, de transformações. A cultura é como o voo do condor, que sobe lentamente, abre as asas, plaina, leva-nos à imensidão como se fossem os nossos olhos. Termino dizendo: navega o mar de céu azul e, depois, desce nos dando a sapiência dos deuses, a liberdade, a liberdade e a liberdade.
Cuidemos bem do que alcançamos até agora. Sejamos, por favor, respeitosos, amorosos com a democracia.
Viva a liberdade! Viva a tolerância! Viva a cultura brasileira!
Vida longa aos ideais de todos que aqui foram homenageados!
Que venha de volta o Ministério da Cultura!
Um abraço a todos. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Quero parabenizar também o Senador Paulo Paim pela bonita e emocionante mensagem que acaba de dar.
Mas, caminhando aqui para o encerramento da nossa sessão solene, quero aqui, mais uma vez, lembrar Cascudo, Daliana, que, em uma de suas últimas entrevistas, ao fazer um importante balanço da sua vida, disse exatamente o seguinte, abre aspas: "Compreendi a minha vida e vivo a minha vida. Não vivi a vida dos outros. Estudei o que amei. Pesquisei e discuti sobre assuntos que queria escrever. O comum é aparecer uma novidade e o sujeito largar o que está fazendo e fazer a novidade... O segredo da vida está no entendimento." fecha aspas - Luís da Câmara Cascudo. Olha, eu, mais uma vez, quero dizer da emoção, na condição de professora, de o povo potiguar ter me dado a oportunidade desta iniciativa de a gente apresentar esta Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo.
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É um ato revestido, sobretudo, de simbolismo, mas é um simbolismo muito importante, até porque o próprio Brasil precisa ainda conhecer Luís da Câmara Cascudo. A vastidão da obra de Cascudo, a riqueza da sua obra, não foi ainda difundida o quanto deveria ser. Por isso, eu fico muito feliz de ver aqui essas justas homenagens a cordelistas, ao Nelson da Rabeca, ao produtor de cinema, ao cineasta; e de ver aqui as homenagens às memórias de Carlos Paixão, Deífilo Gurgel e Moa do Katendê; e de ver as homenagens ao Museu de Sergipe, à Câmara Brasileira do Livro, meu caro Torelli, pelo quanto essa instituição precisa mais do que nunca, inclusive, de apoio para que possa realizar esse papel relevante de promoção do livro e da leitura no País.
Vocês sabem que juntos nós conseguimos um feito extraordinário neste ano de 2018, mesmo diante de tantas turbulências, que foi termos conseguido aprovar o projeto de lei de minha autoria, mas fruto de todo um debate que foi feito nesses últimos 14 anos: refiro-me agora ao projeto de lei aprovado - portanto, agora é lei -, à política nacional de incentivo à cultura, à escrita, à literatura e à biblioteca.
Imaginem o quanto o nosso País ainda está em descompasso no que diz respeito à promoção do livro e da leitura, porque em pleno século XXI - portanto, em 2018 - é que pela primeira vez o Brasil tem agora um marco regulatório, ou seja, uma política de Estado voltada, repito, a fomentar o livro, a leitura, a literatura e a biblioteca no nosso País; até então as ações nessa área eram ações como programas de Governo. E, mais uma vez, eu quero aqui homenagear todos e todas que participaram deste intenso debate nos 12, 13 anos dos Governos do PT, na figura do Prof. José Castilho, que, junto com vocês e com a Câmara Brasileira do Livro, tiveram um papel muito importante.
E faço esse registro, Daliana, Senador Lasier, Senadora Maria do Carmo e Senador Paulo Paim, até para celebrar, porque de fato hoje nós temos um marco regulatório, que é uma lei voltada a incentivar, a fomentar as políticas do livro, da leitura, da literatura e da biblioteca. Daí porque nós nos somamos aqui às vozes que aqui pedem avanços e não retrocessos. E avanços significam defender, sim, a presença do Ministério da Cultura. Como é que nós vamos, repito, fazer valer essas iniciativas voltadas para promover o livro, a leitura, a biblioteca com a extinção, por exemplo, do Ministério da Cultura?
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Mas, por fim, eu quero aqui, Daliana, mais uma vez, dizer da alegria de estar junto com você, com Antônio Francisco, com Carlos Gurgel, com os demais agraciados e agraciadas, porque, nestes tempos em que nós estamos vivendo de intolerância, nestes tempos de ideias estapafúrdias como, por exemplo, o projeto de lei apelidado de Escola sem Partido, porque, na verdade, não tem nada a ver com escola sem partido; no fundo - no fundo -, é escola com mordaça. Nestes tempos, repito, de ideias tão esquisitas como essas, que querem restringir a liberdade de ensinar e de aprender, de interditar o debate que deve ser realizado com toda a essência da pluralidade com que assim deva se dar o debate... Projetos como este, por exemplo, que quer criminalizar o papel dos professores.
Então, diante destes tempos, mais do que nunca, é muito bom falar de Cascudo. É muito bom falar de Cascudo, é muito bom ter aqui todos e todas vocês, que, merecidamente, estão recebendo hoje esta homenagem que é a Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo.
E, agora, convido, mais uma vez, o poeta sonhador, cordelista...
(Intervenção fora do microfone.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Quem?
Não.
(Interrupção do som.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - É por isso que (Fora do microfone.) eu gosto da assessoria. Está correta a assessoria. A assessoria veio aqui me dar o toque de que o Senador Lasier não tinha falado. É claro que falou. Mas parabéns à assessoria: tem que estar alerta mesmo.
Mas, enfim, antes de declarar encerrados os nossos trabalhos, eu queria aqui registrar a presença de Geraldinho Carvalho, Geraldinho, nosso compositor potiguar (Palmas.) de Valdério, artista plástico, potiguar também; da filha de Antônio Francisco; de Maria Inêz. (Palmas.)
Antes de declarar encerrada a presente sessão, agradecendo às autoridades, aos homenageados, às homenageadas e aos representantes, aos servidores do Senado todo o meu afeto, ouviram? Se não fossem vocês, a gente não teria conseguido realizar essa belíssima sessão.
Também aqui faço um agradecimento ao Senador Eunício, na condição de Presidente - ouviu, Daliana? - do nosso Senado, por todo o empenho dele para que a sessão, a primeira edição, fosse realizada ainda neste ano de 2018.
Então, a todos e todas vocês que nos honraram com suas presenças, os nossos sinceros agradecimentos.
E, antes de encerrar a sessão, quero convidar aqui, mais uma vez, o poeta sonhador Antônio Francisco - o potiguar Antônio Francisco - e Nelson da Rabeca, que encanta não só o povo alagoano.
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Nelson da Rabeca, lá de Alagoas, da terra das Alagoas, e Antônio Francisco, que disse: "Lá da Lagoa do Mato".
Então, antes de declarar encerrada a presente sessão, vamos ouvir aqui o som mágico de Nelson da Rabeca e a musicalidade dos cordéis, dos poemas de Antônio Francisco. (Pausa.)
Estão combinando ali.
O SR. ANTÔNIO FRANCISCO TEIXEIRA DE MELO - Daqui uns dias minha filha também vai estar me ajudando a subir aqui.
Uma vez perguntaram a mim se a nossa cultura tem jeito. Tem, porque Câmara Cascudo deixou uma obra muito grande: Daliana é o nome dela. (Risos.) (Palmas.)
Eu me animei demais.
Fátima, obrigado. A todo mundo, obrigado.
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Imagina!
O SR. ANTÔNIO FRANCISCO TEIXEIRA DE MELO - Já, já eu vou me ajeitar aí. Eu acho que hoje é o meu dia mesmo.
O Raimundo lá de Mossoró pediu: "Antônio, se você tiver oportunidade, recite Os animais têm razão". E o meu amigo Gilson ali também pediu, Fátima.
(Procede-se à execução musical e cordel pelo Sr. Nelson da Rabeca e pelo Sr. Antônio Francisco Teixeira de Melo.)
O SR. ANTÔNIO FRANCISCO TEIXEIRA DE MELO - Toque bem baixinho, Nelson.
Os animais têm razão porque, para tudo que se faz neste mundo, eles dizem:
Eu vinha de Canindé
Com sono e muito cansado,
Quando vi perto da estrada
Um juazeiro copado.
Subi, armei minha rede
E fiquei ali deitado.
Como a noite estava linda,
Procurei ver o Cruzeiro,
Mas, cansado como estava,
Peguei no sono ligeiro.
Só acordei com uns gritos
Debaixo do juazeiro.
Quando eu olhei para baixo
Eu vi um porco falando,
Um cachorro e uma cobra
E um burro reclamando,
Um rato e um morcego
E uma vaca escutando.
O porco dizia assim:
- “Pelas barbas do capeta!
Se nós ficarmos parados
A coisa vai ficar preta...
Do jeito que o homem vai,
Vai acabar o Planeta.
Já sujaram os sete mares
Do Atlântico ao Mar Egeu,
As florestas estão capengas,
Os rios da cor de breu
E ainda por cima dizem
Que o seboso sou eu".
Os bichos bateram palmas,
O porco deu com a mão,
O rato se levantou
E disse: - “Prestem atenção,
Eu também já não suporto
Ser chamado de ladrão.
O homem, sim, mente e rouba,
Vende a honra, compra o nome.
Nós só pegamos a sobra
Daquilo que ele come
E somente o necessário
Pra saciar nossa fome".
Gritos, palmas e assovios
Ecoaram na floresta,
A vaca se levantou
E disse franzindo a testa:
- “Eu convivo com o homem,
Mas sei que ele não presta.
É um mal-agradecido,
Orgulhoso, inconsciente.
É doido e se faz de cego,
Não sente o que a gente sente,
E quando nasce é tomando
A pulso o leite da gente".
Entre aplausos e gritos,
A cobra se levantou,
Ficou na ponta do rabo
E disse: - “Também eu sou
Perseguida pelo homem
Pra todo canto que vou.
Pra vocês o homem é ruim,
Mas pra nós ele é cruel.
Mata a cobra, tira o couro,
Come a carne, estoura o fel,
Descarrega todo o ódio
Em cima da cascavel.
É certo, eu tenho veneno,
Mas nunca fiz um canhão.
E entre mim e o homem,
Há uma contradição:
O meu veneno é na presa,
O dele no coração.
Entre os venenos do homem,
O meu se perde na sobra...
Numa guerra o homem mata
Centenas numa manobra,
Inda tem besta que diz:
'Eu tenho medo de cobra'".
A cobra inda quis falar,
Mas, de repente, um esturro.
É que o rato, pulando,
Pisou no rabo do burro
E o burro partiu pra cima
Do rato pra dar-lhe um murro.
Mas o morcego, notando
Que ia acabar a paz,
Pulou na frente do burro
E disse: - “Calma, rapaz!...
Baixe a guarda, abra o casco,
Não faça o que o homem faz".
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O burro pediu desculpas
E disse: - “Muito obrigado,
Me perdoe se fui grosseiro,
É que eu ando estressado
De tanto apanhar do homem
Sem nunca ter revidado".
O rato disse: - “Seu burro,
Você sofre porque quer.
Tem força por quatro homens,
Da carroça é o chofer...
Sabe dar coice e morder,
Só apanha se quiser".
O burro disse: - “Eu sei
Que sou melhor do que ele.
Mas se eu morder o homem
Ou se eu der um coice nele
É mesmo que estar trocando
O meu juízo no dele".
Os bichos todos gritaram:
- “Burro, burro... muito bem!”.
O burro disse: - “Obrigado,
Mas aqui ainda tem
O cachorro e o morcego
Que querem falar também".
O cachorro disse: - “Amigos,
Todos vocês têm razão...
O homem é um quase nada
Rodando na contramão,
Um quebra-cabeça humano
Sem prumo e sem direção.
Eu nunca vou entender
Por que o homem é assim:
Se odeiam, fazem guerra
E tudo o quanto é ruim
E a vacina da raiva [Fátima],
Em vez deles, dão em mim".
Os bichos se levantaram
E gritaram: - “Vá em frente".
Mas o cachorro parou, e disse:
- “Obrigado, gente,
Mas tem ainda o morcego
Pra dizer o que ele sente".
O morcego abriu as asas,
Deu uma grande risada
E disse: - “Eu sou o único
Que não posso dizer nada
Porque o homem pra nós
Tem sido até camarada.
Constrói castelos enormes
Com torre, sino e altar,
Põe cerâmica, azulejos
E dão pra gente morar
E deixam milhares deles
Nas ruas, sem ter um lar".
O morcego bateu asas,
Se perdeu na escuridão,
O rato pediu a vez,
Mas não ouvi nada, não.
Peguei no sono e perdi
O fim da reunião.
Quando o dia amanheceu [Paixão],
Eu desci do meu poleiro.
Procurei os animais,
Não vi mais nem o roteiro,
Vi somente umas pegadas [Geraldinho],
Debaixo do juazeiro.
Eu disse olhando as pegadas [Daliana]:
"Se essa reunião
Tivesse sido por nós,
Estava coberto o chão
De piúbas de cigarros,
Guardanapo e papelão".
Botei a maca nas costas
E tirei cortando o vento.
Tirei a viagem toda
Sem tirar do pensamento
Os sete bichos zombando
Do nosso comportamento.
Hoje, quando vejo na rua
Um rato morto no chão,
Um burro mulo piado,
Um homem com um facão
Agredindo a natureza,
Eu tenho plena certeza:
Os animais têm razão. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Fátima Bezerra. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) - Bom, mais uma vez quero aqui agradecer a Nelson da Rabeca, nosso homenageado, a Antônio Francisco e a todos os homenageados e homenageadas. (Palmas.)
Viva, viva a obra de Luís da Câmara Cascudo! (Palmas.)
Está encerrada a presente sessão.
Muito obrigada a todos e todas.
(Levanta-se a sessão às 13 horas e 39 minutos.)