1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
56ª LEGISLATURA
Em 14 de março de 2019
(quinta-feira)
Às 15 horas
24ª SESSÃO
(Sessão Especial)

Oradores
Horário

Texto com revisão

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O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) - Declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.
A presente sessão especial é destinada a celebrar o Dia do Imigrante Italiano, nos termos do Requerimento nº 3, de 2019, de minha autoria e outros Senadores.
Para compor a Mesa, tenho a honra de convidar o Exmo. Sr. Embaixador da República Italiana, Antonio Bernardini; o eminente Senador Flávio Bolsonaro; o Diretor de Relações Internacionais da Presidência do Senado Federal, Embaixador Marco Farani; e a Sra. Chefe da Divisão da Europa Meridional e da União Europeia, do nosso Itamaraty, a Sra. Secretária Marcela Pompeu.
Convido a todos para, em posição de respeito, acompanharmos a execução dos Hinos Nacionais do Brasil e da Itália.
(Procede-se à execução do Hino Nacional do Brasil.)
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(Procede-se à execução do Hino Nacional da Itália.)
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O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) - Exmo. Sr. Embaixador da República Italiana, Antonio Bernardini; Exmo. Sr. Senador Flávio Bolsonaro; Exmo. Sr. Embaixador Marco Farani, Diretor de Relações Internacionais da Presidência do Senado Federal; Exma. Sra. Marcela Pompeu, Chefe da Divisão da Europa Meridional e da União Europeia do Ministério das Relações Exteriores; Sras. Senadoras e Srs. Senadores; dignos convidados e membros da comunidade italiana em Brasília e no Brasil; membros do corpo diplomático; e, em especial, eminente Embaixador do Reino da Tailândia, Sr. Surasak Suparat; e Sra. Embaixadora da República do Botsuana, Sra. Tebogo Motshome, a todas as senhoras e aos senhores boas-vindas e os meus cumprimentos.
Sr. Embaixador, em primeiro lugar, é com grande satisfação que o Senado Federal acolhe esta sessão especial de homenagem ao Dia do Imigrante Italiano. E me permita, em primeiro lugar, fazer, nesta sessão, a referência a um dos Parlamentares que, no passado, participaram da iniciativa desta data, recentemente falecido, o Senador Gerson Camata, do Estado do Espírito Santo. Como sabemos, o Estado do Espírito Santo é um dos Estados com maior contingente de imigrantes italianos no Brasil, e o Senador Camata foi grande e ardoroso defensor dessa proposta. Então, a minha referência, inclusive, ao seu recente falecimento.
Mais uma vez, reitero que, nesta Casa Legislativa, a Casa Alta do nosso Parlamento, nós temos diversos Senadores com ascendência italiana, começando pelo Senador José Serra, que acaba de adentrar este recinto e recebe igualmente os nossos cumprimentos - peço à Mesa que providencie que ele assuma uma posição igualmente na Mesa Diretora. O Senador Flávio Bolsonaro, que aqui se encontra, a Senadora Mara Gabrilli e o Senador Fabiano Contarato, entre outros que estão presentes, são todos descendentes da colônia italiana que para cá imigrou.
Permitam-me iniciar, minhas senhoras e meus senhores, Senador Serra, as minhas palavras em referência exatamente à herança, Senador Elmano Férrer, que aqui também se encontra - receba as minhas homenagens. Ressalto exatamente a referência fundamental de que, hoje, a República Italiana é o depositário de um acervo histórico e humanístico sem igual, a descendência própria que houve do Império Romano. Aliás, ao falar em imigração, nós não podemos esquecer, Sr. Embaixador, o ato histórico tão fundamental que, ainda no início dos anos 200 da Era Cristã, o Imperador romano Caracala estendeu a cidadania romana a todos os habitantes do Império. Esse ato, que aconteceu há 1.800 anos, foi uma demonstração clara, muito mais do que um ato político imperial, de um ato de reconhecimento da humanidade e da cidadania de todos. No momento em que o mundo, hoje, vive uma grande disputa sobre a questão da imigração e da migração, o exemplo do Império Romano, do qual a República Italiana hoje é legítima herdeira, é um exemplo a ser reconhecido e seguido pelos atos do Imperador Caracala.
Aqui no Brasil, senhoras e senhores, a presença italiana é fulgurante e fundamental para o nosso desenvolvimento.
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A imigração italiana constante, como conhecemos, começou no século XIX. Mas é bom lembrar que as Américas foram descobertas por um italiano, Cristóvão Colombo. E foi Américo Vespúcio, outro italiano, aquele que primeiro teve a condição de desenhar em mapas o litoral brasileiro; inclusive, atribui-se a ele a descoberta do Rio São Francisco.
Na realidade, a presença italiana entre nós no Brasil e nas Américas é constante desde o início do processo de colonização e reconhecimento deste novo Continente, o chamado Novo Mundo. No Brasil, em especial, por iniciativa ainda do Imperador D. Pedro II e depois ao tempo da República Velha, iniciou-se um processo vigoroso de imigração italiana. Àquela época, infelizmente, a Itália estava numa situação difícil economicamente. E, por isso mesmo, houve uma forte corrente imigratória não só para o Brasil, mas também para a Argentina, para os Estados Unidos, para a Venezuela e para diversos outros países da América. Tornou-se hábito dizer que o italiano vinha "fazer a América", exatamente com o objetivo de conseguir condições para os seus familiares. E assim foi com a minha família, como foi também com a família do Senador José Serra, com a família do Senador Bolsonaro e de outros tantos que estão aqui presentes, inclusive o Embaixador Farani, que temos a honra de ter conosco nesta Mesa.
A partir de então, Sr. Embaixador, a presença do imigrante italiano tornou-se constante, quer no campo, nas fazendas de café, quer nas cidades, nos diversos trabalhos realizados como artífices, como ourives, como profissionais liberais. A capital de meu Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, foi construída àquela época e, se não fosse a presença em especial da colônia italiana, certamente não teríamos o acervo arquitetônico que temos lá hoje. A presença italiana foi fundamental, portanto, não só na capital, mas também no interior de meu Estado. Sem dizer o que aconteceu em São Paulo, Senador José Serra, onde a presença italiana foi decisiva para o desenvolvimento daquele Estado. E também no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Espírito Santo, no Rio de Janeiro e também nos Estados do Norte, do Centro-Oeste e do Nordeste. Ou seja, em todo o Brasil, o imigrante italiano compareceu com labor, com empenho, com dedicação e com muito amor, não só à Itália, mas também à nova Pátria que era constituída, o Brasil. Somos hoje no Brasil milhões de descendentes de italianos, espalhados nos 27 Estados da Federação. Todos nós irmanados na unidade brasileira, mas também mantendo com muito orgulho o sangue latino que veio da Itália e de Roma.
Aliás, falando em Roma, Sr. Embaixador, permita-me sempre lembrar que a força do Império Romano, que a República Italiana é depositária de seus valores, foi tão forte que até hoje entre nós brasileiros se diz, ainda em latim: Roma locuta, causa finita. Quando Roma diz, a causa está decidida. Todos os caminhos levam a Roma, eminente Senador Esperidião Amin, que, levantino que é, também tem nas águas do Mediterrâneo uma relação tão próxima com a Península Itálica. Lembrando que, em Roma, como os romanos, nos habituamos a dizer.
Tudo isso nos foi trazido pelos nossos avós, pelos nossos bisavós, pelos nossos pais e se constituiu num verdadeiro amálgama da nacionalidade brasileira, com a presença dos nossos índios pré-colombianos, daqueles que vieram do Continente africano, daqueles outros europeus orientais que formaram a nacionalidade brasileira numa Nação, felizmente, numa raça que é única, sem preconceitos, bastante unida, com a mesma língua e fundamentalmente com os mesmos valores. Isso é extremamente positivo. As instituições italianas vieram desde o Direito Civil até as instituições políticas, todas herdadas, desenvolvidas e implementadas no nosso País.
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Portanto, não há uma só ação, e poderia dizer na culinária, na cultura, no cinema, na indústria, no comércio, em que não haja uma presença italiana extremamente firme e forte.
Faço um parêntesis na questão do futebol, evidentemente, porque aqui as rivalidades existem entre Brasil e Itália, e não são de agora, mas é claro que essa rivalidade acaba cimentando ainda mais essa relação em que a disputa sempre é tão saudável.
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) - O Senador Serra me lembra do Palmeiras, e eu não vou relatar os episódios de Belo Horizonte em relação ao nosso Atlético e Cruzeiro.
Eu queria também citar aqui a presença, se me permitem, do meu caro amigo Anísio Ciscotto, que aqui está, um dos dirigentes da colônia italiana em meu Estado, que acaba de concluir uma belíssima pesquisa, historiador que é, sobre a participação de italianos, brasileiros, de ítalo-brasileiros na Primeira Guerra Mundial, quando houve um grande esforço de italianos que estavam no Brasil em prol, Senador Elmano, daquela Primeira Guerra Mundial.
Na Segunda Guerra, as razões os levaram a ficar em lados opostos por certo período. O Brasil participou depois da libertação da Itália, especialmente na região mediana da Itália, para o norte, e temos hoje, no cemitério em Pistoia lá, com grande carinho dos italianos, os restos mortais de tantos pracinhas brasileiros que participaram, ao lado dos Aliados, na libertação da Itália naquele momento que estava sob o jugo da Alemanha nazista a partir de 1943. Isso tudo demonstra mais uma vez essa grande unidade.
Por isso, o imigrante italiano é tão festejado em nosso País! Em minha capital, Belo Horizonte, é realizada, Sr. Embaixador, com sua presença, uma festa popular muito aplaudida. Essa festa popular é uma das maiores do mundo em comemoração à data nacional italiana, e a mesma coisa ocorre em São Paulo, ocorre no Rio de Janeiro, ocorre nos demais Estados, e eu citava há pouco Espírito Santo, como também Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, onde essa presença é tão forte.
E diria, por fim, ao concluir essas minhas palavras de saudação, Sr. Embaixador, antes de passar aos meus pares, Senadores, exatamente isto: para nós, que somos descendentes de italianos no Brasil, a responsabilidade em favor do imigrante é muito grande. Nós somos todos também, aqui, corresponsáveis pela nacionalidade brasileira, mas, ao mesmo tempo, por cultivar e manter os valores da Itália, da Velha Roma, em nosso Território: a ideia da liberdade. Aliás, nós, mineiros, que somos montanheses, nos inspiramos também nos italianos quando diziam que montani semper liberi: os montanheses serão sempre livres. Isso demonstra, de fato, essa presença muito forte da cultura italiana entre nós, e seria despiciendo a essa altura eu arrolar aqui a sua presença econômica, que é fundamental e foi decisiva para o desenvolvimento do Brasil.
É nossa responsabilidade, portanto, no Parlamento brasileiro, manter unidos esses laços entre a Itália e o Brasil, reconhecer a importância e o vigor da colônia italiana e de seus descendentes no nosso País e, ao mesmo tempo, cada vez mais, estimular, cimentar e fazer florescer as relações ítalo-brasileiras e dessa imensa família que hoje se estende por milhões e milhões de pessoas em todos os 27 Estados e no Distrito Federal da população, da cidadania e da República Federativa do Brasil.
Desse modo, Sr. Embaixador, o Senado comemora esta data com gáudio e com extrema satisfação, e reitero a V. Exa. que a Itália sempre estará presente no coração dos brasileiros por tantos e tantos motivos, não só pela culinária, pelo sangue, pelo futebol, pela cultura, pela arquitetura, mas, fundamentalmente, por uma identidade muito próxima dos dois povos que são irmãos e continuarão assim para sempre, pela humanidade que é típica da Itália.
Muito obrigado. (Palmas.)
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Com a palavra, para seu pronunciamento, o eminente Senador José Serra.
O SR. JOSÉ SERRA (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - SP. Para discursar.) - Muito pouco terei a acrescentar às palavras do Senador Anastasia, que fez um resumo, uma exposição admirável da circunstância desta homenagem à Itália.
Eu, na verdade, sou de descendência cem por cento italiana. Meu pai era italiano, diretamente da Calábria, de Corigliano Calabro, e meu avô materno era de Corigliano Calabro. Portanto, eu sou dois terços de Corigliano Calabro. Minha avó era argentina, filha de napolitanos. Portanto, na vila em que eu morava, na Mooca, que era uma vila operária, havia tanto estrangeiro e tanto italiano que, quando algum brasileiro, quando alguém que não fosse mudava para a vila, minha mãe dizia; "Francisco - era como se chamava meu pai -, mudaram uns brasileiros aqui para a vila". Era um bairro inteiramente italiano, predominantemente, mas também de imigrantes espanhóis, portugueses, libaneses, enfim, como era São Paulo na época e no lado em que eu morava, na Zona Leste, na Mooca.
Mas houve outro episódio muito marcante na minha vida. Na época de estudante, eu fui dirigente estudantil, fui líder, na época do golpe de 1964, do golpe militar. Eu tinha 21 anos, mas isso não me impediu de ser furiosamente perseguido. E tive que fugir do País. Eu não tinha passaporte lá fora, e a Itália me acolheu. Deu-me cidadania, me protegeu...
Novamente, depois, no Chile - eu morava no Chile, onde morei nove anos -, eu já era até funcionário das Nações Unidas, professor da Universidade, e fui preso na época do golpe do Pinochet. Quem me libertou? O Governo italiano. Diretamente, fui para a Itália. É algo que até me emociona. Fui com toda a minha família. Isso me fez mais italiano ainda.
Era isto que eu queria deixar aqui a vocês como testemunho. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) - Eminente Senador José Serra, que se emociona ao lembrar de fato a trajetória de sua vida e de como a República Italiana o acolheu num momento de grande dificuldade, ele que é um dos grandes valores da política brasileira e da intelectualidade brasileira. Aliás, ele revelou tudo isso em seu belíssimo livro "Cinquenta Anos Esta Noite", que tive a oportunidade de ler há dois anos e que sempre o recomendo, Senador Serra. Acho que a sua emoção é a prova mais clara, nesta cerimônia, da importância da presença italiana e de seus descendentes entre nós, porque nos consideramos também italianos e, por isso, sob o manto protetor igualmente do Brasil e da Itália, Sr. Embaixador.
Dando sequência aos pronunciamentos, o Senador Flávio Bolsonaro é o próximo inscrito. Em seguida, Senador Esperidião Amin.
O SR. FLÁVIO BOLSONARO (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSL - RJ. Para discursar.) - Exmo. Sr. Presidente, Senador Antonio Anastasia, a quem já parabenizo por esta brilhante iniciativa de realizar esta sessão solene, relembrando, trazendo de nossas memórias e fazendo-nos trazer também à tona lembranças de nossos ancestrais; Exmo. Sr. Embaixador da República Italiana, Sr. Antonio Bernardini; Exmo. Sr. Diretor de Relações Internacionais da Presidência do Senado Federal, Embaixador Marco Farani; Exma. Sra. Primeira Secretária Marcela Pompeu, Chefe da Divisão de Europa Meridional e da União Europeia do Ministério das Relações Exteriores; prezado amigo, Senador Elmano Férrer; Senador José Serra, que acabou de deixar a Mesa; Senador Espiridião Amim, que também passou aqui e disse que é tão italiano quanto Bolsonaro - e não sei se está no Plenário ainda -; Presidente, senhoras e senhores, é uma honra...
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Espiridião voltou. Essa foi a razão de provocá-lo. Faço questão de tê-lo aqui, à minha direita, na Mesa.
Presidente, eu tenho um sentimento muito especial de estar aqui hoje. Sou filho do primeiro Presidente do Brasil que é descendente de imigrantes italianos e que foi eleito pelo voto direto, o que muito nos orgulha, muito nos honra. A nossa origem é a cidade de Anguillara Veneta, na província de Pádua, uma cidade humilde de onde, entre 1834 e 1900, partiram mais de mil imigrantes em direção ao Brasil, incluindo o meu trisavô. O meu trisavô veio para cá, para o Porto de Santos, aos 10 anos de idade, Vittorio Bolzonaro. No dia 22 de abril de 1888 ele partiu da Itália.
Ainda tenho outra desconfiança, Presidente, o meu nome Flávio. Pode ser, quem sabe, uma homenagem ao Anfiteatro Flavio, mais conhecido como Coliseu. Mas, enfim, as afinidades são muitas, o carinho é muito grande. Negar o valor dos imigrantes é negar a própria história de nossas famílias. Então, mais uma vez, ratifico a grande alegria, a grande honra de estar participando desta sessão solene aqui no Senado, minha primeira, já que assumi o mandato de Senador agora este ano, e justamente para saudar os meus ascendentes, as pessoas que deram origem à minha família, que deram origem ao meu nome.
Hoje, até hoje, são muito presentes no Estado de São Paulo. Chegamos pelo Porto de Santos. Fomos, a exemplo da família de V. Exa., também para o trabalho em lavouras. Logo em seguida, a família acabou se enraizando, fundando o próprio comércio, com muito trabalho, com muito afinco, na cidade de Campinas. Agora com um braço forte também no Rio de Janeiro e em alguns outros Estados.
Então, Presidente, parabéns por esta homenagem, parabéns a todos que fizeram parte dessa história que ainda há muitas páginas, nesse livro, para escrevermos juntos, celebrando, sim, a nossa ascendência italiana, respeitando a imigração, respeitando os imigrantes, sempre buscando a verdade. Nessa campanha eleitoral, como foi dito há pouco neste Plenário, se abusou muito, Senador Anastasia, das fake news, das mentiras, das distorções, para atacar, inclusive pessoalmente, as pessoas que se colocaram no pleito eleitoral. Uma das acusações que nós sofremos com muita veemência foi a de sermos contra os imigrantes, um absurdo sem tamanho, uma mentira construída e repetida várias vezes com o único objetivo de tentar nos atacar politicamente. Mas Deus é maior e sabe o que faz, está no controle de tudo e a verdade sempre vem à tona.
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Então, estou aqui com muita alegria, agradeço o convite do Senador Anastasia. E estou à disposição também para cada vez mais consolidar esses laços de amizade, união, comércio e respeito com esse país que eu tanto adoro e admiro, que é a Itália.
Boa tarde. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) - Muito obrigado, eminente Senador Flávio Bolsonaro. Cumprimento V. Exa. pelo seu pronunciamento. E também o sangue italiano fala mais alto. E V. Exa., além do sobrenome, como bem lembrou, no nome próprio é descendente de uma das mais famosas dinastias romanas, os flavianos, que foram imperadores no século I, ao tempo do Império Romano.
Antes de dar a palavra ao Senador Esperidião Amin, eu cometi uma indelicadeza, porque, como - no caso dele, ele vai explicar - o nome Amin é muito forte, nós sempre o vinculamos ao levante, que, aliás, também foi romano, mas ele acaba de me confidenciar aqui, e dirá a todos, que também tem 50% de sangue italiano. Então, é o exemplo mais claro do nosso Mediterrâneo, o Mare Nostrum, com a presença do levante e da Itália.
Com a palavra o eminente Senador Esperidião Amin, do Estado de Santa Catarina.
O SR. ESPERIDIÃO AMIN (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - SC. Para discursar.) - Sr. Presidente, é com muita satisfação que eu participo deste momento de justificado orgulho para o Brasil. Nós estamos aqui, e eu saúdo o nosso Senador Flávio Bolsonaro, o Senador Elmano Férrer, o Senador José Serra, que esteve conosco, que nos emocionou a todos, saúdo o Embaixador Marco Farani, a Sra. Marcela Pompeu - está aí um nome duplamente intérprete da nossa história - e todos que estão aqui prestigiando. Elmano Férrer já falei. Agora há pouco vi o Senador Angelo Coronel, que acaba de chegar.
Eu queria fazer dois registros a propósito do Dia do Imigrante Italiano, que é a razão da nossa estada aqui, Sr. Embaixador. Nós temos muitos livros, em Santa Catarina e na Região Sul, escritos sobre a migração italiana, predominantemente de Vêneto e também Trentino. E o Senador Flávio Bolsonaro falou de uma das províncias, talvez a mais conhecida, que é a província de Pádua, na região do Vêneto. Os dois livros são: Tão Fortes Quanto a Vontade, a autora é Nelma Baldin - na página 76 do livro, um dos primeiros imigrantes chamava-se Felice Marini, que é o meu sobrenome por parte de avô -; o outro livro é Vincere o Morire, de Renzo Grosseli. E lá estão escaladas as famílias, inclusive Lázare, que é de Cremona, mas predominantemente não quer dizer exclusivamente, porque, como falou o Senador José Serra, ele é predominantemente del sur, do sul da Itália.
Eu sou primeira geração por parte de pai e por parte de mãe, sou filho de migrantes. Se alguém tem que ser muito zeloso com respeito ao migrante, sou eu, porque eu fui acolhido, e num Estado que todos imaginam que seja predominantemente alemão. Não. A maior etnia do Estado de Santa Catarina é a italiana.
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A minha avó era de Pádova também, mas ela nasceu no limite com a província de Treviso, em Santa Maria di Feletto, foi criada em Pádova, e o meu avô, Pellegrino Marini, era de Bevilacqua, Verona. E a minha mãe só não nasceu na Itália por causa da Primeira Guerra Mundial, porque o conflito se estabeleceu exatamente no Vêneto, guerra de trincheira. Se morria até por projétil, mas geralmente se morria por tifo, disenteria. Enfim, morria-se por falta de sanidade.
Então, eles migraram para a Suíça e, por ironia, a minha mãe nasceu no cantão alemão da Suíça, na primeira cidade do abecedário suíço, Aadorf. Voltaram para a Itália, depois da Primeira Guerra Mundial, num clima de desespero social e econômico, e migraram para São Paulo. De lá, para o Paraná, e, como funcionária da Texaco, para fazer uma auditoria em Florianópolis, ela foi a Florianópolis. E o libanês Esperidião Amin, que tinha o olho muito melhor do que o meu, a capturou.
Então, se conheceram na Rua Felipe Schmidt, na rua do comércio de Florianópolis. Este é o Brasil, o Brasil que foi moldado. O Presidente usou a palavra amalgamado; eu diria que foi moldado, porque foram sendo incluídos pedaços e excertos em várias épocas. E o meu Estado é isto, e o Brasil é isto.
Então, nós estamos aqui para celebrar um dos grandes componentes deste País, que nos orgulha, que a gente deve amar e, acima de tudo, devemos ser devotos das suas melhores tradições, que são as tradições do acolhimento, da tolerância, da convivência, da coexistência.
E, quanto ao imigrante italiano, o Embaixador sabe disso, o nosso Estado preza muito essa múltipla etnia e nós estamos aqui para que ele faça chegar à civilização italiana, que tanto benefício trouxe ao Brasil, o agradecimento, porque, se nós aprendemos a cantar, se nós aprendemos a ler, a esculpir, a dar atenção às artes e, acima de tudo, também, ao exercício da inteligência da dúvida, a duvidar, e eu acho que duvidar é uma das grandes qualidades do ser humano - não à toa, nasci no dia de São Tomé -, então, eu acho que nós devemos muito à contribuição ética da Itália e do imigrante italiano para o nosso País, para a nossa civilização ou para o projeto de civilização Brasil.
Por isso, eu gostaria de encerrar, dizendo, primeiro, o provérbio dos Vêneto:
Veneziani, gran Signori;
Padovani, gran dotori;
Visentini, magna gati;
Veronesi... tutti mati;
Co Rovigo, no me intrigo;
Trevisani, radicioni;
E, Belun? Te se proprio de nisun!
E, como dizem os irmãos catarinenses, grazie infinite.
Muito obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) - Agradeço ao Senador Esperidião Amin, que, com sua inteligência invulgar e sua simpatia, naturalmente nos encanta a todos. Mas reitero, Sr. Embaixador, que, sob o ponto de vista do biótipo, o eminente Senador Esperidião Amin teve uma influência maior, de fato, da comunidade sírio-libanesa, digamos assim. Mas comprovou aqui que o sangue italiano e a sua inteligência comprovam que a origem itálica também está presente nessa figura tão querida, tão simpática do Senador Esperidião Amin.
Eu queria passar a palavra agora ao nosso eminente e ilustre convidado, caro Embaixador Bernardini, embaixador da República Italiana, que terá a honra, portanto, de seu pronunciamento no Senado sobre o Dia do Imigrante Italiano. Com a palavra V. Exa.
O SR. ANTONIO BERNARDINI - Muito obrigado, Sr. Presidente Senador Antonio Anastasia. É uma grande honra para mim participar nesta sessão. Agradeço também a participação do Senador Bolsonaro, do Senador Serra, do Senador Esperidião Amin, do Embaixador Farani, da Chefe da Divisão da União Europeia, Marcela Pompeu.
Em primeiro lugar, eu gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos e profunda gratidão por parte da Itália, pela iniciativa do Senado da República de celebrar o Dia Nacional do Imigrante Italiano com uma sessão especial que hoje nos reúne aqui. Agradeço ao Vice-Presidente Antonio Anastasia, que, com grande entusiasmo, acolheu e promoveu essa iniciativa. Não sabia que você conhecia a história de Roma de uma maneira perfeita. É impressionante! Uma iniciativa cujo valor transcende e pertença a uma comunidade específica, pois está nas raízes da identidade do caminho que compartilhamos.
Gostaria também de lembrar, como o Senador Anastasia fez alguns minutos atrás, com emoção, um brilhante político brasileiro, membro muito estimado desta Casa, que teve um grande papel no estabelecimento do Dia Nacional do Imigrante e que nos deixou tragicamente há algumas semanas, o Senador e ex-Governador do Espírito Santo, Gerson Camata.
A comunidade italiana no Brasil é uma das maiores do mundo. Os compatriotas registrados na nossa rede consular são mais de 570 mil - 1% da população italiana mora no Brasil. Mas o número de nativos supera os 30 milhões de pessoas. É um número muito importante, impressionante.
O conhecimento da história, ainda mais, a experiência cotidiana deste País extraordinário, feita a cada momento, andando nas ruas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, como nas cidades de Santa Catarina, do Espírito Santo, do Paraná, do Rio Grande do Sul, lembra-nos o quanto a Itália e o Brasil estão unidos por laços antigos de amizade na medida em que a língua italiana ecoa nos nomes de lugares, pessoas e famílias.
O patrimônio imaterial, ligado aos sabores das comidas típicas, músicas e danças, é um dos aspectos principais que constituem os seus lugares da alma, isto é, aquelas sensações de pertencimento que, muitas vezes, perderam a memória exata da origem da passagem, mas que, apesar disso, contribuíram para forjar a identidade.
Além do patrimônio imaterial, existe também outro patrimônio visível e tangível, gerado pelo trabalho dos imigrantes italianos, homens e mulheres, que, sem poupar-se, com determinação e dignidade, proporcionaram sua contribuição para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil nos setores da agricultura e alimentício, dos transportes e das construções e com os investimentos das grandes empresas italianas que acreditaram e continuam acreditando firmemente neste País. Finalmente, não posso deixar de acrescentar a presença de italianos e descendentes de italianos na vida política deste grande País e em suas instituições, como é muito claramente demonstrado no dia de hoje.
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Igualmente relevante foi a contribuição brasileira para o nascimento da República italiana. O Senador Anastasia lembrou a participação brasileira na Primeira Guerra Mundial e os estudos do amigo Anísio, que chegou aqui a Belo Horizonte, mas tenho que lembrar também a participação da Força Expedicionária Brasileira na luta contra o nazifascismo, nas batalhas travadas nos Apeninos da região da Toscana e da Emília. Continua viva na memória da população italiana essa participação: os italianos lembram e honram os soldados das Forças Armadas brasileiras mortos no território italiano.
Esta colaboração viva e ampla, praticada nos setores político, econômico, cultural e social, representa um capital que deve ser renovado ao longo do tempo. A memória não pode ser apenas cultivada: acima de tudo, devemos ser capazes de projetá-la no futuro.
Neste contexto, permita-me, Sr. Presidente, de sublinhar que na Itália nós atribuímos um papel fundamental ao fortalecimento das relações entre os Parlamentos dos dois Países. A própria constituição dos grupos Parlamentares de amizade Brasil-Itália, tanto aqui como na Itália, faz parte deste processo de fortalecimento das já excelentes relações bilaterais, através de novos estímulos à diplomacia parlamentar. Com efeito, a diplomacia parlamentar representa uma contribuição adicional muito valiosa para a identificação e realização de prioridades concretas de colaboração em setores chave, como cultura, economia, relações comerciais, investimento e cooperação industrial.
Termino, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, renovando os meus sinceros agradecimentos e apresentando os protestos de minha alta estima e mais distinta consideração. Mais uma vez, Sr. Presidente, muito, muito obrigado por essa honra de celebrar e comemorar os imigrantes italianos, para terem a possibilidade de falar nesse Senado da contribuição dos italianos para a construção desse grande País que é o Brasil.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) - Antes de encerrar esta solenidade, que é esta sessão, Sr. Embaixador, eminentes Senadores. Senador Esperidião Amin, V. Exa. mencionava a música italiana, e eu me omiti, mas não poderia deixar de fazê-lo, que o Hino de meu Estado, a música tão conhecida, Ó, Minas Gerais, na verdade é a valsa napolitana Vieni Sul Mar. Então, no momento em que nós mineiros cantamos os encantos da nossa terra, estamos, na verdade, cantando uma música do cancioneiro popular napolitano, aliás da região de onde provém minha família, que é da Campanha do Sul da Itália, da região da Magna Grécia. Daí o nome com origem grega, de meu sobrenome.
Eu gostaria de agradecer muito a presença do eminente Embaixador Bernardini, dos Senadores que aqui compareceram, e o faço na pessoa do Senador Esperidião Amin, que agora jamais chamarei de exclusivamente levantino, mas, na verdade, de concidadão ítalo-levantino e mediterrâneo. Agradeço à Sra. Marcela Pompeu, cujo sobrenome de fato também evoca a sua querida ascendência italiana, que V. Exa. tem. Queria saudar o Embaixador Farani, todos os Embaixadores, o Corpo Diplomático; Senador Elmano Férrer, que aqui se encontra; Senador Coronel, que estava até há pouco; senhoras e senhores convidados, o nosso agradecimento.
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Cumprida, pois, a finalidade da sessão, agradeço às personalidades que nos honraram com seu comparecimento.
Está encerrada esta sessão.
E viva o imigrante italiano no Brasil! (Palmas.)
(Levanta-se a sessão às 16 horas e 24 minutos.)