1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
56ª LEGISLATURA
Em 8 de julho de 2019
(segunda-feira)
Às 10 horas
114ª SESSÃO
(Sessão Especial)

Oradores
Horário

Texto com revisão

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A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - DF) - Bom dia a todos. É um prazer enorme receber todos aqui nesta sessão solene em homenagem à imigração japonesa no nosso País. Vamos fazer a abertura da nossa sessão.
Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.
A presente sessão especial é destinada a homenagear os 111 anos da imigração japonesa no Brasil, nos termos do Requerimento nº 513, de 2019, da Senadora que está aqui presente e de todos os Senadores.
Iniciamos a nossa sessão.
Gostaria de convidar para a Mesa o Embaixador do Japão, Sr. Akira Yamada. (Palmas.)
A Diretora do Departamento de Japão e Pacífico da Secretaria de Negociações Bilaterais na Ásia, Oceania e Rússia do Ministério das Relações Exteriores, a Sra. Ministra Cecília Ishitani. (Palmas.)
O Presidente da Federação das Associações Nipo-Brasileiras do Centro-Oeste (Feanbra), Sr. Luiz Nishikawa. (Palmas.)
E o Representante Chefe da Agência de Cooperação Internacional Japão e Brasil (Jica), Sr. Hiroshi Sato. (Palmas.)
Convido a todos para, em posição de respeito, acompanharmos a execução do Hino do Japão e, em seguida, o Hino Nacional brasileiro, pelo cantor Alysson Takaki, juntamente com o pianista Gregoree Júnior.
(Procede-se à execução do Hino do Japão.)
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(Procede-se à execução do Hino Nacional.) (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - DF) - Vou falar: são tantas emoções!
Quando eu escuto o Hino do Japão, eu tenho uma emoção particular, porque, como atleta, Sr. Embaixador e todos presentes aqui, eu vivi grandes emoções no Japão.
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E no Japão, não só eu, certamente todos os atletas que vão lá representar o País se sentem em casa. É um prazer enorme hoje celebrar este momento com vocês, porque eu tenho um carinho particularmente imensurável por esta comunidade e por tudo o que vocês fizeram e fazem pelo nosso País também. Grata.
Eu vou fazer um pequeno pronunciamento aqui e depois eu passo a palavra para o nosso Embaixador Sr. Akira, ele tem horário. Não é, Sr. Embaixador? O senhor vai sair às 11h. Então, eu vou dar o máximo de celeridade aqui à nossa sessão. Obrigada.
Sras. Senadoras, Srs. Senadores, é como se fosse uma litúrgica celebração de redescobrimento do Brasil; é como se fosse a celebração de uma bênção destinada a poucos países do Planeta. Afinal de contas, o processo de ocupação e exploração de nossa terra se deu, e ainda se dá, de forma enriquecedoramente difusa e multicultural.
Nossa origem se configura em diversidades e em temporalidades múltiplas, combinando raças, etnias e culturas dentro de uma moldura aleatória e bem-vinda. Como a formação de uma pátina a emitir luzes e cores infinitas sobre a pintura, a miscigenação brasileira, oriunda de diversas contribuições migratórias, encanta o quadro populacional do nosso País.
Nesse contexto, Sras. e Srs. Senadores e Senadoras presentes e todos, a integração dos imigrantes japoneses aos costumes do Brasil, ao longo de mais de cem anos, não poderia ser resumida em breves palavras. As experiências adaptativas foram tantas e em tantos recantos do País, que não podemos identificar um modelo único de convergência cultural.
Na verdade, graças ao ingresso de uma franja tão representativa da tradicional civilização oriental, o caldo cultural nos trópicos se submeteu a um processo muito refinado de viver e pensar a existência latino-americana. Seja no genótipo, seja nos costumes, um novo e original modo de identidade cultural se filtrou pelas cavidades e tecidos mesclados desse pulsante hemisfério.
Desde o início do ano, as comunidades nipo-descendentes festejam os 111 anos da imigração japonesa. Sem dúvida, um dos pontos altos desse ciclo de festividade é a já tradicional recriação da chegada do navio Kasato Maru ao armazém 14 do porto de Santos, no mesmo dia 18 de junho, em que, há mais de um século, aportaram as primeiras 158 famílias japonesas em solo brasileiro, totalizando quase 800 pessoas.
Sem exageros, apesar do improviso inicial e dos sacrifícios inerentes a uma mudança tão drástica de vida, é forçoso fazer um balanço positivo da empreitada. Ao longo dos mais de cem anos desse descontínuo fluxo migratório, trocaram o Japão pelo Brasil cerca de 300 mil pessoas. Segundo cálculos demográficos, a população brasileira de origem japonesa soma hoje quase três milhões de habitantes.
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No entanto, o crescimento populacional não é mais expressivo em virtude do fluxo de retorno dos contingentes cada vez maiores dos decasséguis ao Japão. Mudaram-se para o Japão aproximadamente 500 mil nipo-descendentes nas últimas duas décadas, com o objetivo de desfrutar de oportunidades de trabalho abundantes lá e escassas por aqui.
Como se sabe, Sras. e Srs. Senadores, o pêndulo dos movimentos migratórios oscila de acordo com o movimento de maior ou menor dinamismo da economia. Agora, é o Japão que oferece emprego aos brasileiros. Cem anos atrás, era o Brasil que acenava para os japoneses.
Ademais, para além da inquietação natural que move o homem e o mantém na busca incessante da terra prometida, toda migração tem forte motivação econômica e algum fundo político. Contudo, não importam os motivos, nosso País respira Japão por todos os lados. Não é à toa que o Brasil é hoje a maior comunidade japonesa do mundo fora do Japão. No decorrer desta jornada, nipo-brasileiros têm contribuído para o desenvolvimento do Brasil em diversas áreas, fortalecendo as relações econômicas, humanitárias e científicas entre ambos.
Para os historiadores da culinária nacional, uma das contribuições está na alimentação, em que a cultura japonesa incentivou o consumo de peixe, hábito outrora nada comum, principalmente nas Regiões Sul e Sudeste. Nessas regiões, a gastronomia predominantemente privilegiava o consumo de carne bovina praticamente todos os dias. Dito e feito, com o aumento dos restaurantes japoneses, o consumo de peixe duplicou o hábito alimentar do brasileiro, proporcionando uma proteína menos gordurosa em nossa dieta e muito mais saudável. Nos dias de hoje, correntes, raros são os centros urbanos desfalcados de restaurantes e fast-foods tipicamente orientais no nosso País.
Na visão dos economistas, outra grande contribuição bastante visível envolve a indústria de motocicletas e automóveis. A força desse setor contribuiu muito para o desenvolvimento econômico e industrial do nosso Brasil, gerando empregos, impostos e trazendo divisas com as exportações. Em números mais precisos, as montadoras de motocicletas japonesas possuem juntas 90% de participação no mercado brasileiro, boa parte da qual sob a égide da Moto Honda da Amazônia.
Seguindo a mesma toada, no setor de automóveis são cinco montadoras japonesas com fábricas no Brasil. A quantidade se sobressai na medida em que não há nenhuma outra nacionalidade com o mesmo número de montadoras instaladas por aqui. Sintoma dessa pujança, é o fato de o Japão ser o segundo país com o maior volume de financiamento ao Governo brasileiro, ficando atrás somente dos Estados Unidos.
Saindo das questões da gastronomia e dos assuntos econômicos, não poderia deixar de falar de esporte e cultura, em cujas áreas nosso País se desenvolveu com a imprescindível contribuição dos nossos irmãos japoneses. Os desenhos japoneses são apresentados no Brasil desde a década de 60; a técnica bonsai para conservar árvores em miniatura; o uso do bambu na confecção do artesanato, o zori, criação japonesa que deu origem às sandálias de dedo; dentre outras tantas contribuições.
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No esporte nem se fala: beisebol, caratê, judô e tantas outras artes marciais que têm sido instrumentos de transformação e inclusão social em nosso País tiveram a sua origem nas terras do sol nascente.
Sras. e Srs. Senadores, aqui em Brasília existe uma harmônica simbiose entre as dezenas de imigrações que ocupam este lugar, desde a sua fundação, em 1960. A impressão que se tem é de que o Presidente Juscelino Kubitschek, ao inaugurar a nova Capital, infundiu no País um simbólico redescobrimento nacional, repactuando um contrato de hospitalidade na diversidade.
Antes mesmo da inauguração de Brasília, algumas famílias de imigrantes japoneses já habitavam em Goiânia e foram convidadas pelo Presidente Juscelino Kubitschek. Naturalmente, o convite presidencial se destinava a atraí-los para fomentar a produção agrícola local.
Em 1957, cinco famílias de imigrantes japoneses se deslocaram para Brasília. As famílias Kanegae, Hayakawa, Ogawa, Ikeda e Okudi fixaram, na ocasião, residência na Colônia Agrícola Kanegae, em homenagem ao pai de Hydeaki Kanegae, que foi um dos fundadores do lugar. A essas tradicionais famílias, se agregam hoje outros sobrenomes tão nobres quanto os pioneiros. Vale constar, agora, as já importantes famílias Ueda, Kodama, Uema, Nakashima e Sumida, entre outras.
Hoje, é a Colônia Agrícola Vargem Bonita, bairro próximo ao Park Way, que abriga o maior reduto nipônico de Brasília, com cerca de 40 famílias — praticamente todas com parentes que ainda residem no Japão. Aliás, de acordo com um levantamento realizado pela Associação Cultural Nipo-Brasileira de Vargem Bonita, os parentes dos agora moradores do Distrito Federal vivem em regiões mais ao sul do Japão.
Trabalhando sobretudo com agricultura, os japoneses e descendentes japoneses em Brasília reúnem, atualmente, cerca de 50 famílias em Vargem Bonita. Alguns ainda labutam diariamente na roça, cultivando hortaliças para sustentar a família, mas a maioria já conquistou espaço produtivo e comercial em larga escala.
No cenário atual, a Colônia Vargem Bonita ficou pequena demais para os descendentes de japoneses, que desembarcaram em Brasília ainda nos anos 60. Como bem frisamos, à época, concentravam o trabalho nas chácaras, abastecendo as prateleiras dos supermercados com produtos hortifrúti. De lá para cá, nem todos permaneceram na agricultura. Alguns deixaram o cenário bucólico e decidiram viver em regiões como Plano Piloto, Taguatinga e Águas Claras, tocando negócios os mais variados, ou ocupando cargos de destaque nas hierarquias do setor público.
Nesse clima de confraternização, não por acaso, o Festival do Japão Brasília tem-se firmado como o maior e mais abrangente evento sobre a cultura japonesa no Distrito Federal.
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É realizado, anualmente, desde 2012, e foi idealizado pela Federação das Associações Nipo-brasileiras do Centro-Oeste, com o intuito de divulgar e preservar as raízes japonesas. Didaticamente elaborado, seu conteúdo programático é formado por shows musicais, exposições, clínicas, exibições de artes marciais, artesanato e gastronomia.
Em suma, graças à relevância da presença nipônica na construção do Brasil e de Brasília, devemos exaltar, a todo momento, o caráter trabalhador e educado dessa valiosíssima cultura oriental. Não de menor importância, temos que, igualmente, reconhecer sua integração na complexa e rica formação cultural brasileira.
Para concluir, Sras. e Srs. Senadores, não poderíamos, portanto, deixar de aproveitar a ocasião para, mais uma vez, prestar justa homenagem a todos os japoneses e seus descendentes no Brasil. Em suma, trata-se de mais de um século de contribuições contínuas e incomensuráveis, em função das quais o Brasil tornou-se melhor!
Era o que eu tinha a dizer.
Muito obrigada. (Palmas.)
Agradeço a presença do atleta de Brasília, Matheus Takaki. Ele é campeão brasileiro universitário de judô e é filho do cantor Alysson Takaki, que nos brindou com os Hinos Nacionais do Japão e do Brasil. (Palmas.)
Gostaria de registrar a presença dos ilustres Presidentes das Associações Nipo-brasileiras que nos honram com as suas presenças neste evento: Waldemar Hiroshi Umeda, Kuniyoshi Yasunaga, que se aliaram à nossa celebração e nos ajudaram muito na preparação desta sessão; da querida Alessandra Yamamoto, da Kamada Verde, que elaborou e doou esses lindos arranjos que estão à nossa frente, com as cores do Brasil e do Japão, que estão enfeitando o nosso Plenário - muito obrigada, Alessandra! -; e do Heitor Kanegae, o primeiro nissei de Brasília - obrigada, Heitor. (Palmas.)
Eu passo a palavra agora para o nosso Embaixador do Japão aqui em Brasília, o Sr. Akira Yamada.
O SR. AKIRA YAMADA (Para discursar.) - Exma. Sra. Senadora Leila do Vôlei, distintos convidados, autoridades, senhoras e senhores, em primeiro lugar, gostaria de agradecer a todos por esta maravilhosa oportunidade de comemorar os 111 anos da imigração japonesa. E agradeço também pela iniciativa da Senadora Leila do Vôlei para realizar esta sessão. Em segundo lugar, igualmente importante, quero parabenizar o Brasil por ser o campeão da Copa América. (Palmas.)
Lamentavelmente, o adversário da final não foi o Japão. Mas estou muito contente com a vitória do Brasil no final da Copa.
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Bem, desde que os primeiros imigrantes japoneses chegaram, em 1908, apesar de terem enfrentado inúmeras dificuldades, os imigrantes dedicaram-se com afinco, e os seus descendentes deram uma grande contribuição ao desenvolvimento do Brasil e tornaram-se hoje membros indispensáveis da sociedade brasileira. Atualmente, a comunidade nipo-brasileira no Brasil é composta por aproximadamente 2 milhões de pessoas, e, no Japão, vivem cerca de 200 mil brasileiros.
Os dois países, que são apoiados nesse laço pessoal, compartilham os valores fundamentais como democracia, liberdade e império da lei, construindo as relações tradicionalmente amigáveis. Até agora, têm implementado em conjunto diversos projetos de grande escala, chamados "projetos nacionais". Por exemplo, podemos citar o desenvolvimento agrícola dos Cerrados, a Usiminas, a Cenibra, a Ishibrás, a Albrás, o desenvolvimento de Carajás, etc. Especialmente, o Prodecer (Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados) transformou a região dos Cerrados em uma das maiores regiões produtoras agrícolas, transformando o Brasil em um dos maiores produtores e exportadores de soja no mundo. Considero esse projeto como aquele de que tanto japoneses quanto brasileiros devem se orgulhar.
Além disso, o Japão tem contribuído em áreas como a infraestrutura urbana, a transmissão digital de sinal de televisão, a prevenção de desastres naturais e a introdução do modelo de polícia comunitária Koban.
No ano passado, quando comemoramos os 110 anos da imigração japonesa, o Senado Federal realizou uma sessão especial aqui neste Plenário.
Em 2019, os dois países entraram numa nova era. No Brasil, começou o novo Governo do Presidente Bolsonaro, em janeiro, com uma grande renovação no Congresso Nacional; no Japão, Sua Alteza Príncipe Herdeiro foi entronizado como Sua Majestade Imperador do Japão, iniciando uma nova era chamada Reiwa, que significa "bela harmonia".
Nas relações bilaterais, em janeiro deste ano, foi realizada a reunião da cúpula Japão-Brasil, e foi estabelecida uma relação de confiança entre os dois Chefes de Governo. Em fevereiro, com a visita dos jovens Parlamentares brasileiros ao Japão teve início um novo intercâmbio parlamentar.
No final do mês passado, o Presidente Bolsonaro visitou o Japão para participar na cúpula do G20, em Osaka. Nessa ocasião, foi realizada, com o Primeiro Ministro Abe, a segunda reunião da cúpula Japão-Brasil, na qual concordaram que os dois países vão buscar uma promoção ainda maior do comércio e investimentos, e exaltaram as cooperações em progresso em amplas áreas como segurança pública, defesa civil, conservação do meio ambiente, justiça criminal, educação e apoio para refugiados venezuelanos, compartilhando a ideia no sentido de continuar promovendo novas cooperações. Além disso, o Primeiro Ministro Abe afirmou que aprecia a iniciativa de promover as reformas do Governo Bolsonaro.
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Eu também estou convicto de que, se as reformas no Brasil avançarem, muitas empresas japonesas voltarão a olhar para o Brasil novamente para se instalar no Brasil e aumentar os investimentos.
O Presidente Bolsonaro me disse: "Quero que considere que sou amigo do Japão". Espero que os dois países continuem trabalhando juntos, como parceiros estratégicos globais, sobre as agendas internacionais diversas, como a reforma das Nações Unidas, incluindo a do Conselho de Segurança, e a reforma da OMC, além de fortalecer as cooperações bilaterais.
Para terminar minhas palavras, gostaria de reiterar os meus agradecimentos, como Embaixador do Japão no Brasil, a todos os Senadores e as pessoas ligadas às duas Casas e ao Governo, e a comunidade nikkei, que estão apoiando as relações entre os dois países.
Muito obrigado.
Domo arigato gozaimashita. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - DF) - Grata, Embaixador Yamada.
Eu incorporo as palavras do Senhor Presidente Jair Bolsonaro às minhas e, certamente, de todo o Senado Federal, entendendo a importância dessa parceria, dessa relação, que, além de ser comercial, é humana entre os dois países.
No que depender, tenho certeza, desta Casa e deste Congresso, teremos anos promissores nas relações com o seu país em todas as áreas.
Obrigada pela sua presença.
Passo a palavra, agora, à Diretora do Departamento de Japão e Pacífico, da Secretaria de Negociações Bilaterais na Ásia, Oceania e Rússia, do Ministério de Relações Exteriores, a Sra. Ministra Cecília Ishitani. (Palmas.)
A SRA. CECÍLIA KIKU ISHITANI (Para discursar.) - Bom dia a todos.
Exma. Sra. Senadora Leila Barros, Exmos. Senadores, Senadoras, Deputadas e Deputados, Exmo. Embaixador do Japão, Sr. Akira Yamada, representantes diplomáticos, representante da Feanbra, representante da Jica, colegas do Ministério, senhoras e senhores, agradeço a Senadora pelo convite para compor esta mesa. Saúdo a sua iniciativa, primeira Senadora do Distrito Federal, de patrocinar a louvável iniciativa de realizar esta sessão solene.
É, para mim, motivo de honra e alegria participar desta celebração.
Rememoramos os 111 anos da chegada do navio Kasatu Maru ao Porto de Santos, com 781 imigrantes japoneses, que aqui chegaram com um sonho, sonho que virou realidade, contribuindo de forma valorosa para a formação da identidade e o desenvolvimento de nosso País.
Tendo chegado para trabalhar, inicialmente, na lavoura cafeeira, os primeiros japoneses rapidamente ocuparam crescente espaço, aportando para o progresso de nossa agricultura e avanço de outros setores da economia.
Hoje, a comunidade nipo-brasileira, com cerca de dois milhões de pessoas - a maior comunidade de descendentes japoneses fora do Japão -, destaca-se nas mais variadas áreas: da arte à academia, da economia à política.
No âmbito econômico, a presença japonesa foi de especial relevância em pelo menos dois aspectos: o fortalecimento do complexo minerador de ferro no Brasil, a partir dos anos 50; e a evolução tecnológica que contribuiu para o desenvolvimento da agricultura tropical no Cerrado, em particular da soja, a partir da década de 70, com o Programa de Cooperação Nipo-brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados (Prodecer).
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Como nipo-descendente, tenho muito orgulho das conquistas de meus ancestrais e do elevado grau de integração que a comunidade japonesa teve no Brasil. Neta de quatro avós japoneses, que mal aprenderam português, sei dos grandes desafios enfrentados. Por isso, sou muito grata aos esforços envidados e aos ensinamentos que recebi de meus avós e sobretudo de meus pais - a convicção de que a educação é prioritária e que a dedicação e o trabalho árduo tudo podem -, orientações valiosas de vida e que me permitem estar hoje aqui.
No quesito imigração, é importante lembrar ainda que vivem atualmente em território japonês cerca de 200 mil brasileiros. Essa destacada comunidade representa a mais nova fase dos vínculos humanos entre nossos países. Celebraremos em 2020 os 30 anos da comunidade brasileira no Japão, que tem diante de si o desafio de uma melhor integração na sociedade japonesa, sociedade que também tem diante de si o desafio de uma mais plena integração das mulheres, com maior equidade e acesso ao mercado de trabalho, desafio por nós compartilhado.
Senhoras e senhores, a intensa e amistosa troca entre nossas Nações só tem a nos favorecer. Na área dos esportes, por exemplo, lembrando a sucessão dos dois países como sedes dos Jogos Olímpicos, os nipo-descendentes ajudaram a desenvolver no Brasil modalidades como o tênis de mesa e as artes marciais, em particular o judô. Parece-me oportuno recordar ainda que nossos treinadores em muito contribuíram para cultivar a paixão nipônica pelo futebol.
A intensa cooperação parlamentar, por sua vez, tem sido importante instrumento para dinamizar as relações bilaterais. Exemplo disso é o Grupo Parlamentar Brasil/Japão, presidido pelo Deputado Luiz Nishimori, bem como as recorrentes missões parlamentares entre os países, a última das quais realizada em março, integrada por jovens líderes, como o Deputado Kim Kataguiri, oportunidade em que mensagens em prol da nossa comunidade e das relações de comércio foram destacadas.
Não poderia deixar de notar ademais a contribuição do Deputado Luiz Nishimori para a promoção das relações Brasil-Japão, por seu ativismo, entusiasmo e visão. Suas periódicas missões ao Japão, a mais recente acompanhamento no Presidente Bolsonaro no contexto da Cúpula do G20 em encontro com o Primeiro Ministro Shinzo Abe, enfatizam o entendimento da nossa prioridade recíproca.
Terceira maior economia do mundo, o Japão apresenta muitas oportunidades e oferece enorme potencial para as exportações brasileiras. Parceiro mais tradicional do Brasil na Ásia e com quem temos cooperação técnica há 60 anos, por intermédio da Jica, o Governo brasileiro tem envidado esforços para o início das negociações comerciais Mercosul e Japão, um melhor acesso de produtos de nosso agronegócio, a diversificação de nossas exportações e a atração de novos investimentos japoneses.
Senhoras e senhores, a era Reiwa, inaugurada com a ascensão do Imperador Naruhito, em maio, simboliza a transição para tempo de renovadas expectativas, fundadas na ordem, na harmonia e na paz. Tenho esperança e, mais além, a convicção de que no reinado do Imperador Naruhito, que se anuncia longo e próspero, os vínculos humanos e de cooperação entre Brasil e Japão se fortalecerão ainda mais, rendendo novos e prósperos frutos para ambas as Nações.
Muito obrigada.
Muito obrigada, Senadora. (Palmas.)
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A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - DF) - Grata também, Cecília, pelo seu pronunciamento.
Passo a palavra, agora, para o Representante-Chefe da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), Sr. Hiroshi Sato. (Palmas.)
O SR. HIROSHI SATO (Para discursar.) - Bom dia a todos.
Exma. Sra. Senadora Leila Barros; demais Senadoras e Senadores federais; Exma. Ministra Cecília Ishitani, Diretora do Departamento de Japão, Península Coreana e Pacífico do Itamaraty; autoridades aqui presentes; senhoras e senhores, agradeço por esta oportunidade de falar sobre a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica).
Em julho de 2017, a Jica definiu o lema "Unindo o Mundo com Laços de Confiança" como nova visão da agência. Confiança é o conceito básico da cooperação japonesa.
A cooperação econômica entre o Japão e o Brasil se iniciou em 1959, com a vinda de um perito japonês na área de agricultura. E, neste ano, comemoramos os 60 anos dessa relação.
Uma das atividades representativa na área de agricultura é o Programa Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento dos Cerrados (Prodecer). Transformou os cerrados, região inapropriada para a agricultura, em uma região cultivável, transformando o Brasil num grande país fornecedor de grãos. Também tivemos a participação no projeto de siderurgia da Usiminas, entre muitos outros.
Atualmente, temos executado o Projeto de Multiplicação de Policiamento Comunitário, com o objetivo de melhorar a situação de segurança pública do Brasil, através da construção de laços de confiança entre a população e as polícias.
Esses resultados da cooperação técnica estão sendo disseminados nos países da América Latina e da África através dos parceiros brasileiros. Executamos cooperação para o desenvolvimento da infraestrutura como, por exemplo, o de rebaixamento da calha do Rio Tietê, em São Paulo, e para o projeto de saneamento em Salvador, Bahia, entre outros.
A Jica envidará todos os esforços para que sejam executados projetos de infraestrutura de alta qualidade e que tenham a confiança do povo brasileiro.
Quanto à capacitação de recursos humanos, 11.580 técnicos, principalmente do setor público do Brasil, participaram de treinamento no Japão nas mais variadas áreas e estão contribuindo para solucionar os desafios do desenvolvimento do Brasil.
Atualmente, as atividades de apoio à sociedade nikkei estão sendo redirecionadas para os cursos de treinamentos de nikkeis e envio de voluntários japoneses para entidades nikkeis. Até o momento, foram enviados 1.121 voluntários para as associações nikkeis do Brasil, através do ensino da língua japonesa, dos cuidados aos idosos, dos esportes, trabalhando diretamente para aprofundar os laços de confiança entre os nossos países em nível de comunidade.
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Atualmente, como parte de uma nova iniciativa, estamos nos esforçando na parceria com as empresas privadas e na capacitação da camada de liderança que se tornarão a ponte de confiança entre os nossos dois países. Quanto à parceria com as empresas privadas, ao mesmo tempo em que aproveitamos a boa relação de confiança com os órgãos do Governo construída até o momento, também queremos incluir na parceria a sociedade nikkei que trabalha ativamente nas várias áreas no Brasil.
Em relação à capacitação da camada de liderança, além do recém-lançado programa de bolsa no Japão, este ano estabelecemos o programa de estudo do desenvolvimento japonês, a Cátedra Fujita-Ninomiya, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, para promovermos o desenvolvimento de recursos humanos pró-Japão.
A Jica continuará a envidar esforços para assegurar que o Japão e o Brasil estejam firmemente unidos por meio de um laço de confiança e, além disso, que esses laços de confiança entre nossos países também envolvam os países vizinhos e de outras regiões.
Para finalizar, agradeço, do fundo do coração, a todos pela realização desta brilhante sessão especial.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - DF) - Obrigada, Sr. Hiroshi.
Passo a palavra agora ao representante da Federação das Associações Nipo-Brasileiras do Centro-Oeste (Feanbra), o Sr. Luiz Nishikawa.
O SR. LUIZ NISHIKAWA (Para discursar.) - Bom dia, senhores e senhoras.
Inicialmente, cumprimento aqui a Exma. Senadora Leila e agradeço o honroso convite para participar deste evento.
Parabenizo-a por sua iniciativa desta homenagem aos 111 anos da imigração japonesa no Brasil, que se iniciou em 18 de junho de 1908, com o aporte do navio Kasato Maru no Porto de Santos, com 781 imigrantes japoneses.
Cumprimento também o nosso Embaixador do Japão no Brasil, Sr. Akira Yamada; o representante da Jica, Hiroshi Sato; a Ministra Cecília Kiku Ishitani; as demais autoridades; e as senhoras e os senhores presentes.
A Feanbra tem como principal objetivo difundir a cultura japonesa e estreitar e fortalecer os laços de amizade e fraternidade entre Brasil e Japão, principalmente mediante integração e intercâmbio cultural, social, educacional, esportivo, artístico, de tradição, hábitos e costumes japoneses.
Dessa forma, promove o Festival do Japão, torneio de futsal, concurso de Miss Nikkei, o Festival de Música de Brasília, concurso de karaokê, coordena a gastronomia da Festa da Goiaba e da Festa do Morango, ajuda no evento da Japonina, festa junina da Vargem Bonita, entre outros.
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Nós temos, na nossa Federação, seis associações: Associação Rural Cultural Alexandre Gusmão, Associação Nipo-brasileira de Vargem Bonita, Associação Nipo-brasileira do Incra, Associação de Estudos da Língua Japonesa de Brasília, Associação Nipo-brasileira de Paracatu e Associação Nipo-brasileira de Goiás.
A cultura japonesa, a cada ano que passa, vem sendo cada vez mais apreciada pelo povo brasileiro, tanto pela sua gastronomia, como pelos costumes e hábitos. De certa forma, essa cultura, pela sua riqueza, rígida disciplina e respeito ao próximo, vem também influenciando, de modo positivo, o povo brasileiro.
O maior projeto da nossa federação hoje é o Festival do Japão. Hoje, na oitava edição, atrai um público cada vez maior e, além de difundir a cultura japonesa, promove a confraternização de toda a comunidade japonesa de Brasília a favor da cultura japonesa. Dessa forma, ela une a difusão da cultura ao povo brasileiro, com a confraternização de toda a comunidade nipo-brasileira.
Aproveito a oportunidade para agradecer o apoio do Embaixador da JICA e demais órgãos governamentais ao Festival.
Para encerrar minhas palavras, gostaria de deixar registrada uma homenagem a duas pessoas que nos deixaram, mas que, enquanto vivos, se dedicaram imensamente aos objetivos da nossa Federação: homenageio aqui o Sr. Mitsutoshi Akimoto e a Profa. Aiko Ogasawara, que infelizmente já não se encontram conosco, mas que muito dedicaram as suas vidas à nossa federação.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - DF) - Obrigada, Sr. Luiz.
Eu gostaria de registrar e agradecer também a presença do Embaixador do Reino da Tailândia, o Sr. Surasak Suparat. (Palmas.)
Pessoal, eu gostaria de anunciar aqui que o nosso Embaixador Sr. Yamada está se retirando, já que ele tem um compromisso agora às 11h, mas eu gostaria muito de agradecer a sua presença.
O SR. AKIRA YAMADA - Agradeço profundamente pela iniciativa e por ter sido uma cerimônia excelente.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - DF) - Por favor, uma salva de palmas para o nosso Embaixador do Japão aqui no Brasil, Sr. Akira Yamada.
Muito obrigada, Sr. Yamada. (Palmas.)
Eu registro e agradeço a presença do campeão brasiliense de judô Salomão Pereira de apenas três anos de idade, integrante do projeto social Judô Precoce, idealizado pelo sensei André Pereira, que atende crianças com deficiência aqui no Distrito Federal, a quem eu convido para uma breve apresentação. (Palmas.)
(Procede-se à apresentação de judô.) (Palmas.)
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A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - DF) - Ai, que lindo! Parabéns, sensei! Obrigada. Obrigada, Salomão! Obrigada, Professor! Grata.
Bom, agora, eu passo para a próxima apresentação. O grupo que está nesta sessão é o grupo de dança japonesa Koharu Shigure, de Taguatinga, que dissemina a cultura japonesa aqui em Brasília com extremo brilhantismo.
(Procede-se à apresentação do Grupo Koharu Shigure de dança japonesa.) (Palmas.)
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A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - DF) - Agradeço ao grupo de dança Koharu Shigure. As meninas são de Taguatinga, minha terra. Eu quero agradecer muito o improviso, pela falta de espaço aqui. E a gente vê, nessa apresentação - dá para perceber -, o quanto nós ainda temos que evoluir nessa questão de respeito às hierarquias, aos mais velhos. Belo trabalho!
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Quero agradecer a todos vocês que vieram a esta sessão. Coincidentemente, esta foi a primeira sessão especial que eu tive a honra de presidir, e é em homenagem ao Japão. Isso não é à toa, até pela minha história, pela minha vida como atleta, representando o País, indo muito para a minha segunda terra, que é, indiscutivelmente, o Japão.
Quero agradecer a presença de todos nesta sessão e dizer que, no ano que vem, vamos caprichar, vamos fazer uma sessão maravilhosa, à altura, porque tudo foi muito rápido. Quando nós soubemos, nós ainda não tínhamos feito essa relação com esta sessão. Mas eu quero agradecer também à minha equipe e a todos os que participaram desta sessão.
Que seja um ano bom para todos nós!
Declaro encerrada a sessão solene.
Muito obrigado a todos os presentes. (Palmas.)
(Levanta-se a sessão às 11 horas e 13 minutos.)