1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
56ª LEGISLATURA
Em 12 de agosto de 2019
(segunda-feira)
Às 10 horas
131ª SESSÃO
(Sessão Especial)

Oradores
Horário

Texto com revisão

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O SR. PRESIDENTE (Siqueira Campos. Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - TO) - Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.
A presente sessão especial é destinada a homenagear a comunidade terapêutica Fazenda da Esperança, nos termos do Requerimento nº 81, de 2019, do Senador Eduardo Gomes e outros Senadores.
Convido para compor a Mesa o Senador Eduardo Gomes e o fundador da Fazenda Esperança, extraordinária organização, que tem colocado no caminho certo, no caminho de Deus, muitos e muitos rapazes e moças que estavam praticamente desviados.
Convido o fundador da Fazenda Esperança, o Frei Hanz Stapel, para fazer parte da Mesa. (Palmas.)
Sr. Nelson Rosendo Giovanelli. (Palmas.)
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Presidente Geral da Fazenda Esperança, Padre José Luiz de Menezes. (Palmas.)
É com alegria que convido a Dra. Fátima Roriz, grande colaboradora da Fazenda Esperança no Tocantins. (Palmas.)
Peço desculpas aos componentes da Mesa e a todos que estão no Plenário. Não é por causa da idade, 91 anos. Eu considero esses 91... Se eu tiro o um de trás e coloco na frente, ficam 19. A minha vontade de viver e de conviver é tamanha que eu me sinto com 19 anos. Eu me sinto bem, mas os problemas advindos da idade e de outras coisas mais não me permitem ter aquela mobilidade, aquela agilidade que eu gostaria de ter, mas estamos aqui.
Inicialmente, eu quero pedir desculpas porque eu não estava bem atento sobre o problema de horários e eu julguei que eu vinha participar e não presidir uma sessão como esta, o que é uma honra imensa para mim. Muito feliz eu me sinto por estar aqui, porque esse é um dos mais belos projetos sociais de amparo, de encaminhamento da juventude, das pessoas desvalidas, das pessoas que não têm condições de viver normalmente e que não podem encaminhar os seus filhos.
Quantos rapazes, quantas pessoas em geral, rapazes e moças, são assistidas e tomam o rumo certo e se tornam outros. Ao entrarem lá, estão com todas as precárias condições de vida devido à postura, ao abandono e tudo mais.
Olha, Frei Hanz, iluminado por Deus, o senhor criou, com a ajuda de todos que estão na mesa, essa fabulosa organização que se chama Fazenda da Esperança.
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Estou muito feliz pela presença de tantos participantes nesta sessão, com tanta gente boa em toda parte deste País, cada um com a responsabilidade grande de amparar, de apoiar e de encaminhar os jovens deste País.
Na verdade, é um belo nome: Fazenda da Esperança. Ninguém pode deixar de ter esperança. Ninguém. E lá a gente aprende isso. Eu estive na fazenda muitas vezes, junto com a Dra. Fátima Roriz e outros, visitando esse belo projeto do Estado do Tocantins, seja em Porto Nacional, seja nesse núcleo perto de Palmas. Eu não sei se...
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. PRESIDENTE (Siqueira Campos. Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - TO) - Ele pertence ao Lajeado. É verdade. Pertence ao Lajeado, que é onde está instalada a primeira grande usina de geração de energia elétrica.
Então, fico muito feliz por estar aqui e principalmente por estar presidindo esta sessão.
Convido a todos para, em posição de respeito, acompanharmos a execução do Hino Nacional.
(Procede-se à execução do Hino Nacional.) (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Siqueira Campos. Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - TO) - Com muita alegria e muita honra, convido o Frei Hanz Stapel para fazer o discurso inicial. Dou a palavra a ele. (Pausa.)
Convido o Sr. Nelson Rosendo Giovanelli.
O SR. HANS STAPEL (Para discursar.) - Através do Senador Siqueira Campos, quero cumprimentar todas as autoridades aqui presentes. E me permitam que chame todos de amigos da fazenda, amigas.
Estamos aqui juntos para tentar fazer - não sei como dizer -, tentar transmitir aquilo que Deus fez através de nós. Eu digo nós, porque começamos juntos. Para entender a Fazenda da Esperança, não se pode pensar numa obra social somente. É algo mais. Aqui se trata de um carisma.
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Quando eu cheguei, como jovem padre lá em Guaratinguetá, tentei ensinar o povo a viver o Evangelho, colocar em prática as frases do Evangelho, porque, na minha juventude, ainda na Alemanha, tive a grande graça de conhecer a fundadora do Movimento dos Focolares, Chiara Lubich. O jeito carismático dessa mulher que Deus tomava conta totalmente transmitia algo que nunca posso esquecer: a importância de colocar em prática cada frase do Evangelho.
Estou convicto de que, hoje, estamos vivendo as dificuldades que todos conhecem, da violência, da desigualdade, e que isso é fruto de termos nos afastado do Evangelho.
Na paróquia, logo no início, Nelson, ouvindo-me falando, pegou firme e colocou em prática. Vamos pedir a ele que ele mesmo conte como foi a primeira experiência que ele fez conscientemente.
O SR. NELSON GIOVANELLI ROSENDO DOS SANTOS (Para discursar.) - Quando o Frei Hanz chegou na Paróquia Nossa Senhora da Glória, na época eu estava com os meus 17 anos de idade e, como todo adolescente, com muitas perguntas profundas no meu coração, especialmente pelo sofrimento que eu acompanhei desde pequeno e que eu vivi entre meu pai e minha mãe pelas vezes em que meu pai chegava alcoolizado em casa - aliás, muitas vezes - ou não chegava em casa.
Eu me perguntava: mesmo participando do Igreja e participando da fé cristã, como é possível que nós, como família, podemos viver num ambiente assim, sempre de conflito?
Quando o Frei Hanz chegou na nossa paróquia, escutando as coisas que ele falava, comigo, com muitos outros, até inclusive com meu pai, com minha mãe, nós o procurávamos para conversar. Numa dessas conversas que eu tive com o Frei, ele me escutou, e apresentei assim todas as minhas angústias, dores. No final, ele disse: "Nelson, o seu problema não está no seu pai; o problema está em você, que ainda não o amou como ele é". E ainda acrescentou: "Você já experimentou ver Jesus no seu pai?". Eu perguntei ainda para ele: "Mas mesmo quando ele chega alcoolizado em casa?". "Sim".
A conversa foi muito curta, mas, para mim, foi determinante, porque eu voltei para casa decidido a fazer essa experiência. Quando eu cheguei, encontrei meu pai em casa, por sorte. Fui até a cozinha, arrisquei fazer um café - ele gostava muito de café - e levei para ele com este pensamento: "Vou levar para você, Jesus", porque racionalmente, como não conversávamos, eu não faria isso. Ele ficou surpreendido, tomou o café e, naquele momento, dentro de mim, eu senti uma alegria que, poucas vezes na minha vida, eu tinha experimentado.
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A partir desse momento, começou um relacionamento muito forte entre mim e ele. Papai gostava muito de caminhar, e nós fomos um dia caminhar juntos. E se estabeleceu um relacionamento muito profundo, verdadeiro. O pai começou a se abrir e a falar coisas que nem para minha mãe ele dizia. Começou um processo que hoje eu entendo e, quando encontro com os nossos jovens nas Fazendas da Esperança, conto essa história de recuperação, primeiro, dentro de mim, minha mãe e, depois, meu pai.
Meu pai começou a ficar sempre mais em casa e, ao decurso de dois anos, ele não mais bebeu, e essa experiência com que minha mãe sonhava - eu e também o meu pai - aconteceu. Nós começamos a viver mais em harmonia em casa e eu tive o desejo de partilhar isso com outros de fora.
Meu pai, por conta dessa questão de alcoolismo, como nós sabemos, muitos de vocês jovens também vivenciaram, perdeu o trabalho, e conseguiu um trabalho em Moçambique, na África, para trabalhar para uma empresa estatal, e minha mãe como advogada no Ministério do Comércio Interno. Todos nós podíamos ir. Eu decidi ficar porque queria partilhar essas experiências com outros jovens.
Continuamos essa experiência na paróquia, meus pais foram para a África e, nessa mudança, aconteceu que, quando eu vinha do meu trabalho ou da missa de que eu participava do com o Frei, eu comecei a me encontrar com 20 jovens que se drogavam numa esquina perto da paróquia. Os pais desses jovens procuravam sempre o Frei Hans desesperados porque não sabiam o que fazer com seus filhos. Eles enfrentavam a polícia, era um ponto de vendas, era uma boca de fumo como naquela época, nos anos 80. E veio dentro de mim o desejo de me aproximar deles, mas eu tinha medo, e foi justamente aquilo que nós tínhamos nos acostumado a viver na paróquia, ou seja, uma frase do evangelho que me deu a força para perder o medo e me aproximar deles.
Criamos uma amizade, eles me acolheram, criou-se um relacionamento também como experimentei com o meu pai com eles. E, um dia, um deles se aproximou de mim e perguntou: "Nelson, você pode emprestar sua bicicleta?". Em questão de segundos, eu fiquei na dúvida, porque era o meu único meio de locomoção para o trabalho, mas eu logo entendi que era uma oportunidade que eu não podia perder de repetir a experiência que eu havia feito com o meu pai. E, sem falar isso para ele, entreguei a bicicleta pensando que não era para o Ângelo, era para Jesus nele. Três dias depois, esse jovem me devolveu a bicicleta toda lavada, ainda colocou um dispositivo que faltava no banco de trás e me revelou: "Quase que você perdeu a sua bicicleta, porque a minha intenção - e eu falei isso para os outros colegas aqui, nós estamos com falta de droga naqueles dias - era trocá-la por droga, mas, quando eu estava indo para uma outra boca, eu não consegui chegar até o final. Eu me senti muito tocado com a sua atitude, por isso você tem a sua bicicleta de volta".
Poucos dias depois, cresceu sempre mais a confiança entre nós, até que, no dia 29 de junho de 1983, quando nós consideramos o nascimento da Fazenda da Esperança, um desses jovens pediu para a gente conversar em separado e, nessa conversa, ele me revela que fazia uma semana que não colocava um cigarro de maconha na boca e me disse assim: "Nós somos uma família de oito irmãos, eu fui o único que me desviei. Eu tomei uma decisão: eu não quero mais chegar em casa e ver a minha mãe chorar, eu não quero mais vê-la sofrer, mas sinto que, sozinho, não vou conseguir. Eu quero sair dessa". E me veio na minha mente você. "Por favor, me leve para onde você quiser, eu quero sair dessa situação. Eu preciso de alguém que me acompanhe 24 horas".
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Quando ele me falou isso, eu não podia imaginar para onde levá-lo, mas logo entendi que ele, para encontrar essa pessoa 24 horas, deveria conhecer quem me levou até lá. Então, convidei para participar conosco na paróquia, porque tinha convicção de que, se ele conhecesse Deus através da Eucaristia, da palavra, do amor entre a comunidade, quem sabe, ele poderia encontrar essa pessoa. E foi o que aconteceu. Ele começou a participar conosco, experimentou o acolhimento das mães, dos pais naquela nossa comunidade, experimentou a alegria, também arrastou mais outros quatro daquela boca, e começamos a nos encontrar, todas as noites, na missa, com o Frei Hans.
E aí meus pais chegaram de Moçambique, da África, e, à noite, encontraram a casa cheia de drogados. Dessa maneira, começou a experiência muito simples, Senador, com o pai, a mãe e o Frei Hans. Nós partilhávamos da mesa da Eucaristia e, depois, íamos partilhar da mesa da sopa, que meu pai gostava muito de fazer para eles. Esses jovens se sentiram muito acolhidos, mas não imaginávamos que, dessa experiência que começou com um cafezinho, poderia surgir essa obra que hoje estende as suas casas em 23 países, com 140 comunidades. Depois eu vou pedir até para apresentar o vídeo, para dar uma ideia maior.
Eu tenho uma gratidão muito grande ao Frei Hans, que, um dia, decidiu deixar a sua Pátria - ele é irmão gêmeo, univitelino -, decidiu deixar o seu irmão para vir ao Brasil como missionário e trazer essa espiritualidade que salvou a minha vida, do meu pai, da minha mãe e de todos vocês que estão aqui.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. HANS STAPEL (Para discursar.) - Diante daquele jovem e depois dos outros que pediram ajuda, eu pensei: o que posso fazer? A opinião que existia - e hoje muitos ainda pensam assim - era a de que a resposta deve vir da Cientologia ou da Medicina. Mas eu não entendo nada disso. Então, eu pensei: o que eu posso dar para eles? Exatamente esse estilo de vida de pensar no outro, amar concretamente, porque todas as palavras do Evangelho nos levam para o outro, nos tiram desse egoísmo. Isso nós ensinamos a eles.
E, para a minha surpresa, eles conseguirem sair da droga. E sempre chegavam mais, mais nas terras, e nós estávamos começando a entender: aqui está nascendo algo novo. E nós gostamos de chamar um terceiro caminho: o caminho da espiritualidade. Os resultados foram extraordinários. Eu fiquei surpreendido, disse: mas como é possível? Mas depois comecei a entender, porque, se nós ficarmos unidos nesse amor... Todos os nossos responsáveis são vocacionados, têm uma vocação, doam a sua vida totalmente a Deus. Significa que estão dispostos a amar 24 horas. E esse amor provoca a presença de Jesus entre nós. Ele disse: "Bastam dois ou três, e eu estou no meio deles". Onde existe o amor, Deus se sente atraído como um ímã e está no meio. O que Deus faz eu vi nesses 36 anos. Ele faz maravilhas. Tudo o que ele fez quando estava entre nós nesta terra também hoje ele quer fazer e faz. Eu vi milagres, curas, mortos ressuscitarem. Eu vi a multiplicação dos pães, porque Deus sabe multiplicar. Ele toca os corações.
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E assim chegam sempre mais terras, fazendas, também em outros países. Nós estamos caminhando e não paramos. Além das 141 fazendas que estão funcionando, temos mais 50 já doadas que estamos preparando.
Eu também me lembro, Sr. Senador Siqueira Campos, de quando chegamos ao Tocantins. O senhor, como Governador, abriu sua casa, nos recebeu, deu confiança e nos ajudou muito. Hoje, há fazendas nesse Estado. Quanto bem fazem! Não há nenhum Estado no Brasil em que não haja uma fazenda. Mas eu confesso que gostaria ainda de abrir muitas outras.
Essas 50 fazendas já deveriam estar funcionando. Também sonho com uma fazenda aqui em Brasília. Há muitos anos, tentamos, mas as coisas da burocracia, às vezes, atrasam. Mas o problema da droga não atrasa; cresce muito rápido.
Estou aqui, nesta manhã, para receber esta homenagem, que, sem dúvida, é para todos - não é só para mim. Nunca senti algo que é importante para mim. O importante é que esses jovens se recuperem. Gostaria de tirá-los das cracolândias que hoje não existem só em São Paulo - no País inteiro nascem as cracolândias. Precisamos tirá-las. Gostaria de tirar muitos das prisões. Nossas prisões cortam o meu coração. Não aguento mais ir à prisão e vê-los sendo tratados como monstros. E depois acontecem as coisas que chocam o coração do mundo inteiro. Se nós queremos recuperar alguém que é carente de amor - toda droga, para mim, é um problema de falta de amor -, só amando. Quando nós os amamos e os ensinamos também a amar, nasce uma vida nova. Nós não queremos só libertá-los da droga e do álcool. Queremos que cada jovem que entra na nossa fazenda seja um homem novo, uma mulher nova.
E aqui eu peço às autoridades todas e também àqueles que nos assistem pela televisão: por favor, por favor, deixem-nos ser como Deus nos fez nascer. É um carisma que Deus fez.
É difícil! Cada Estado faz suas leis, cada um quer mandar e mudar.
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Para conseguir uma licença, me disse: "Não; você tem que mudar de 12 meses para 9." Eu disse: "Mas está aprovado para nós 12 meses e está dando certo". "Não, é demais; só 9". Outros dizem que não pode ter mais de 60 jovens numa fazenda. Nós vivemos em casas pequenas de 12, 14. Temos fazendas que têm mais de 100 e experimentando, estão melhores do que esses pequeninhos, porque os jovens gostam de, juntos, jogarem futebol. Temos resultados. Experimentamos e dá certo. Não; exigem 60! Teve que derrubar as outras casas. É difícil!
Depois, constantemente, querem que nós tenhamos psicólogos e médicos e que demos salários altos. Nossos jovens, responsáveis, não são funcionários, são vocacionados. Deram a sua vida a Deus, consagrados e consagradas. Não querem ter o salário. Vivem em comunhão. Mas não, tem que ter funcionários, porque são necessários especialistas... São padres, são pessoas que amam, que sabem dar a vida, porque isso é o que se espera, mas não. E a gente discute, luta. Cada Estado é autônomo. Graças a Deus, neste Governo, temos todo o apoio. Desde o início, fomos reconhecidos como comunidades terapêuticas. Estou muito grato. Muito grato.
Também está o secretário Quirino aqui. Todo o apoio nós recebemos, e isso nos dá uma segurança; mesmo assim, no federal, há as leis claras agora, mas, nos Estados, ainda não conseguimos.
Então, eu peço o apoio de todos. Deixem-nos ser como nós somos. E aos Deputados e Senadores, eu peço, se possível, que se lembrem quando têm as emendas. Há muitas fazendas para abrir. Mas também há aquelas que já existem no País, 97, em todas pode-se construir mais uma, duas, três casas e acolher muito mais gente, para a mesma equipe que já está lá.
Eu só posso pedir, aquilo que eu tinha, já dei, mas eu tenho certeza de que muitas pessoas têm algo para dar e não vai fazer falta. E é bom dar em vida. Vocês experimentam a alegria e preparam-se para uma vida eterna.
Eu não me canso de dizer a todos que aqui nós todos somos passageiros, administradores por pouco tempo, depois vêm outros. Já há três anos, nós decidimos entregar a presidência da obra para a nova geração. Hoje está aqui o Pe. Luiz, que é o presidente atual. Tenho consciência de que nós não somos eternos, mas neste tempo breve eu quero amar e fazer o bem.
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Eu digo sempre: enquanto nosso coração bate, podemos amar. Vamos aproveitar esse tempo. E é possível, com amor, mudar a vida de muitas pessoas e mudar até a nossa Pátria.
Obrigado a todos. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Siqueira Campos. Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - TO) - Com a palavra o Presidente Geral da Fazenda Esperança, Pe. José Luiz de Menezes.
O SR. JOSÉ LUIZ DE MENEZES (Para discursar.) - Quero cumprimentar todos as autoridades através do Senador Siqueira Campos. É uma alegria encontrar aqui todos vocês. A gente se sente em família, todos os amigos, voluntários, benfeitores, os jovens e as jovens das Fazendas da Esperança, que constroem conosco. Deus faz com que essa obra continue exercendo sua missão, fazendo o bem a tantas pessoas e tantas famílias aqui do Brasil, em muitos lugares.
A gente vê que, quando Deus se serve de pessoas especiais para fazer nascer um serviço, um bem para a humanidade, depois, ele, com a intensidade do seu amor, vai envolvendo outras pessoas. E cada um sabe como foi envolvido nessa obra.
Então, quero começar a minha fala dizendo como fui envolvido e entrei nessa história. Eu procurei - sou natural de Sergipe, do interior, de Lagarto - o padre, porque estava numa busca de sentido, da vocação, de um ideal. E esse padre, como é amigo do Frei Hans, me propôs que conhecesse um trabalho social. E ele disse: "Eu quero que você aprenda a conhecer as necessidades e os desafios sociais que tem o tempo de hoje". Isso foi em 1989. Então, faz 30 anos este ano. Foi mais ou menos nessa época.
E eu vim para Guaratinguetá. Ele falou muito do Frei Hans, do franciscano que trabalhava numa paróquia. Eu imaginei que iria morar na paróquia, ajudar, como jovem, nos serviços sociais da paróquia, que tinha outros serviços sociais. Quando cheguei à paróquia, fiquei quatro dias. De repente, o Nelson chegou e disse: "Maninho, pode pegar as suas malas, as suas coisas, que nós vamos para a fazenda". Levou-me para uma casa e disse: "Você vai ficar aqui".
Confesso que, quando eu cheguei à casa, cheguei com medo e preconceito, porque, há trinta anos, o conceito de dependente químico era muito forte, não se tinha esclarecimento e conhecimento. Mas aí, a gente vê como Deus vai agindo, porque, acolhidos os jovens, a abertura e o diálogo quebraram em mim o medo, o preconceito e o distanciamento. Houve uma aproximação e uma convivência muito familiar.
E isso mudou a minha vida, porque, em determinado momento, um dos jovens me chamou para conversar e contou a sua história de sofrimento, de família fragilizada. E, quando ele terminou de contar a sua história, me vieram dois sentimentos: um, uma gratidão a Deus, porque eu pensei que Deus tinha me preservado, porque ele me deu uma família que realmente me apoiou e me deu tudo, Deus me preservou por isso; e o outro sentimento foi que, se eu tivesse nascido na circunstância que ele nasceu, talvez eu tivesse feito igual ou pior do que ele fez.
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E aí me veio este desejo: se Deus me preservou e eu experimento o amor de Deus em minha vida, então eu quero gastar a minha vida ajudando os outros também a encontrarem esse amor de Deus. E aí me ajudou nesse processo de decisão também de me doar como voluntário. E eu sei que há muitos jovens, famílias, tantas pessoas que se deixam ser tocadas também, que entram nesse movimento que Deus faz através da Fazenda Esperança e que também são chamadas a isso, a construírem esta obra.
Então, hoje, vejam quantas realidades: temos as fazendas femininas, que, cinco anos depois, já começaram, através da Luci e da Iraci, que deram esse passo também. E hoje quantas fazendas femininas há no Brasil e fora? E, após as fazendas femininas, também vieram os grupos Esperança Viva, quer dizer, os pais, os voluntários. Então, a gente pode também fazer serviço fora. E foi-se criando os grupos de apoio, que, graças a Deus, hoje são mais de 260 grupos de pessoas, grupos de apoio, que dão esse apoio fora, aos que saem, e que também encaminham as pessoas. Então, foi crescendo esta obra, esta família. E, por fim, a Família Esperança, o Papa Bento XVI, após sua visita, também nos reconhecia como uma obra em relação a todas essas pessoas que realmente se comprometeram a dar a sua vida, que se consagraram a esse serviço.
Então, Deus vai assim: foi-se formando todas essas dimensões, essas realidades dessa obra que faz um bem hoje para a família no Brasil, um bem para a sociedade e para tantas famílias também no exterior.
Estou vendo alguns voluntários aqui e eu tenho essa chance hoje de visitar as fazendas também no exterior. E quantos brasileiros e brasileiras, jovens, que poderiam também estar pensando em si, mas que dão esse passo, dizem: "Eu quero ser missionário, eu quero ajudar! De graça eu recebi e de graça eu quero dar". E vão para a África, para a Ásia, para a Europa e aqui na América Latina, dar o seu contributo. E quantas fazendas funcionam bem, quantas famílias são gratas, quanto bem realmente Deus faz para a sociedade e para a humanidade, graças a todas essas pessoas e todos os voluntários também, que são tocados, de forma direta e indireta por esse carisma, por essa obra de Deus, que faz tanto bem.
Então, eu quero agradecer realmente a esta Casa, que presta esta homenagem, que reconhece esse trabalho e continuar contando com o apoio de todos para que a gente possa levar esperança ao maior número de pessoas possível.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Siqueira Campos. Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - TO) - Eu gostaria de dizer alguma coisa sobre essa moça. Eu digo moça porque ela é sempre jovem.
Extraordinária Dra. Fátima Roriz, quero dizer que o Estado do Tocantins sente muito a sua falta; mas dizer que nós estamos felizes por ela ser uma colaboradora dessa magnífica obra do Frei Hans e de tantos abnegados que resolveram apontar os caminhos de Deus, da paz e da prosperidade aos jovens do Brasil.
Dra. Fátima Roriz com a palavra. (Palmas.)
A SRA. FÁTIMA RORIZ (Para discursar.) - Bom dia a todos. Em nome do Senador Siqueira Campos eu cumprimento todos os meus parceiros de Mesa e a vocês meninos.
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E, assim como eles disseram, eu também vou dizer da minha experiência. Eu tenho 61 anos, 42 de casada, dois filhos, uma neta, e, em 1995, eu fui sequestrada por três drogados, meninos ainda. Foi uma experiência muito forte, com Deus e com amor, porque eu rezava muito para o Espírito Santo para que eles não fizessem nenhum mal e que eles pensassem em uma pessoa que tivesse colocado amor, porque São João da Cruz diz que "onde não há amor, coloque amor e o encontrarás".
Depois de várias horas, quatro tanques rodando, eles mataram muita gente, e eu saí ilesa. Era um Domingo de Ramos e eu saí ilesa porque eu estava com um raminho na mão e rezava muito. E o líder - a gente conhece sempre rapidamente quem é o líder -, depois dessa tragédia toda, disse para mim: "A minha avó não me sai da cabeça desde que você entrou nesse carro, porque ela me benzia com um raminho". E acreditem que eu saí de um sequestro sem nenhuma dor física e com um ganho espiritual imenso.
Em 1996, eu me mudei para o Tocantins, onde trabalhei por 37 anos no Grupo Jaime Câmara de comunicação, ligado à Rede Globo, e percebi que eu tinha que dar mais. Em Goiânia, eu havia tido uma experiência com a Maria Alice Câmara em uma entidade, também ligada à igreja, mas tudo se vê, e, quando me mudei para o Tocantins, eu recebi... E é uma "Deuscidência" - está aqui o Senador Siqueira Campos - que o Tocantins, hoje, é o Estado que mais tem Fazendas da Esperança proporcionalmente ao número de habitantes. Nós temos quatro fazendas, sendo três masculinas e uma feminina.
E, durante todo esse tempo, eu descobri que o carisma da Fazenda da Esperança - eu faço parte há 20 anos da Família da Esperança - são as pessoas que trabalham gratuitamente para esse projeto e posso dizer que é muito bom descobrir que nós seguimos um Deus vivo, que faz milagres e que está pronto a atender todo pedido que vem de um coração simples e de uma vida reta.
A Família da Esperança, a Fazenda da Esperança, com toda essa grandeza de 23 países, 141 unidades... Eles não disseram aqui, mas ela tem escolas, tem casas de aidéticos em fase terminal, tem creches, enfim, é uma grande obra. Eu estou vendo aqui nas galerias outras comunidades terapêuticas. Que coisa linda!
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Hoje, a Febract, dirigida pelo Adalberto, que é um "es", que se recuperou na Fazenda da Esperança, um grande advogado. A gente cruza todo dia. A gente fala que é ex, mas não é ex com x, é "es" com s, na esperança de não recair de novo, na esperança de continuar nessa escolha de vida de ser um homem novo.
Para mim, como jornalista, as pessoas perguntam assim: "Como é que eles sobrevivem?" Eu tenho que confessar que, na época, quando eu conheci a Fazenda da Esperança, através do nosso Arcebispo e do nosso Governador, na época, o Siqueira Campos, e do Dom Alberto Taveira, quem me convidou e a outros empresários, a gente pensava assim: "Mas como é que recupera sem remédio? Como é que recupera sem psiquiatra?" Recupera no amor. E o meu ceticismo a cada dia mostrava que bastava ser testemunha. Nós éramos três mulheres: Ilda, Magda e eu, todas mães de família, empresárias e nunca, nunca, em 20 anos, nós fomos assediadas ou tivemos qualquer problema com um dos meninos ou meninas. Por quê? Reforçando São João da Cruz: onde não há amor, coloque amor. E ele, vendo essa verdade, na vivência do amor, ele vai te seguir. É impressionante!
E hoje a fazenda tem milhares de pessoas que são embaixadores da esperança; embaixadores que contribuem com a vida, com o nome, são as diretorias executivas de todos os Estados e países. Aqui a gente tem a diretoria de Brazlândia, o Pe. Angeloto, a Maria Alice Câmara, de Goiânia, o Sr. José Luiz, de Aurilândia, aqui presente. São pessoas, empresários, sacerdotes, que dão o seu nome, o seu trabalho, a sua vida e principalmente a sua fé nesse trabalho. Isso é espalhado no mundo inteiro. E nós temos o embaixador da esperança, que é aquele que acredita no nosso trabalho, que já fez essa experiência, e ajuda não só a Fazenda da Esperança, como várias comunidades que assim vivem.
Muitas pessoas perguntam: "Como ajudar a Fazenda da Esperança?" Há muitas formas. A primeira é nos conhecendo, conhecendo as comunidades terapêuticas que são sérias, conhecendo o nosso trabalho pelo site, pelas vidas que já foram resgatadas e, concretamente, porque eu só acredito na fé concreta, aquela que põe a mão no bolso, sendo embaixador da esperança. E por esta Casa, pelo Senado, a gente tem muita gratidão, como também pela Câmara, por muitos Deputados.
A história da vida da humanidade é como o joio do trigo. Nunca devemos generalizar e pôr a política como se ela fosse uma politicagem. A política é a arte de influenciar pessoas para o bem comum. E vocês, meninos e meninas da fazenda que estão sentados na cadeira de Senador, não pensem que isso não é uma honra; é uma honra, porque para o político que aí se senta e é político, seguindo a política, a Ciência Política, é uma grande honra. Alguns deles seguem a politicagem, mas se olharmos para nós mesmos, para a vida de cada um de vocês, muitas vezes a gente escolhe a forma errada de ser. Mas não vamos generalizar.
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A Câmara Federal e o Senado Federal são os representantes do povo. E a gente precisa amar a política, não se afastar da política, porque ela tem o poder, em apenas quatro anos, de transformar vidas e tem o poder também de destruir; mas é uma escolha pessoal. E quanto mais a gente acreditar em Deus, nesse Deus amor, nesse Deus... Não é possível que cada um que veio ao mundo veio para morrer com 90, 100 anos e se acabar. Isso é muito pouco. Isso seria um Deus egoísta, mesquinho e muito pobre de criação, que não é o Deus que a gente segue.
Quando você vê um drogado na rua, você fala assim: "Eu preciso fazer mais". E dói o coração da gente quando a gente vê fazendas para abrirem, casas para serem reformadas e faltando o quê? Porque não é a estrutura que recupera. O que recupera são pessoas que estão lá dentro 24 horas, sete dias por semana para amá-los, porque já foram resgatados e serão testemunhas de que é possível, sim. E muitos de vocês podem sentar nessa cadeira como político - basta quererem - e ser embaixador da esperança quando saírem, trabalharem e contribuírem não só com a sua própria sobriedade, mas também com parte do seu dinheiro. A gente tem embaixadores de R$10 e de R$10 mil. Não importa o tanto. Importa a fé concreta.
Eu agradeço a todos os Deputados e Senadores, em nome do Adalberto, que se prontificam em emendas, em projetos de leis públicas que beneficiam não só a Fazenda da Esperança, mas todas as comunidades terapêuticas e todos aqueles que fazem o bem. Não insistam em tirar Deus do mundo, porque, se arrancassem apenas a Igreja Católica da proteção das pessoas, o Brasil não teria os colégios religiosos agostinianos, franciscanos, dominicanos e tantos hospitais. É preciso conhecer mais essa igreja, sem ser a igreja litúrgica.
Muito obrigada a todos. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Siqueira Campos. Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - TO) - Representando o Ministro da Cidadania, o Secretário Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas da Secretaria Especial do Desenvolvimento Social, o nosso querido Sr. Quirino Cordeiro Júnior. (Palmas.)
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O SR. QUIRINO CORDEIRO JÚNIOR (Para discursar.) - Bom dia a todos vocês.
É uma grande alegria estar hoje aqui nesta sessão em homenagem à Fazenda da Esperança.
Eu aproveito a ocasião para cumprimentar o Senador Siqueira Campos. Cumprimento também o Frei Hans, o Nelson Giovanelli, o Pe. Luiz, a Sra. Fátima Roriz. Cumprimento todos os presentes nesta solenidade.
Parabenizo o Senador Eduardo Gomes pela importante iniciativa de homenagear essa tão importante comunidade terapêutica, que, ao longo destes últimos 36 anos, vem prestando serviços extremamente importantes para toda a sociedade brasileira.
Hoje, no Brasil, nós vivemos um momento ímpar na área das políticas públicas sobre drogas. Nós temos um novo cenário no que diz respeito aos marcos normativos nesta área. Nós temos o alinhamento de quatro normas legais, que acabam dando um norteamento completamente diferente do norteamento que vinha sendo dado até então no Brasil.
No final do ano de 2017, ou seja, há cerca de um ano e meio, nós tivemos a publicação da nova Política Nacional de Saúde Mental, que, naquela ocasião, já começava a reconhecer o papel importante das comunidades terapêuticas no tratamento, na recuperação das pessoas que apresentam dependência química no País.
No início do ano passado, de 2018, nós tivemos a publicação da Resolução nº 1 do Conad (Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas), que muda as diretrizes do tratamento das pessoas com dependência química e já coloca as comunidades terapêuticas como protagonistas no tratamento e na recuperação das pessoas que apresentam problema com o uso de substâncias psicoativas.
Neste ano agora, dando sequência a essas mudanças normativas, no dia 11 de abril, nós tivemos a publicação da nova Política Nacional sobre Drogas, por meio da publicação de um decreto presidencial.
Por fim, agora, então, no dia 5 de junho, nós tivemos a publicação da nova Lei de Drogas, que é a Lei 13.840.
Essas quatro normativas, que se alinham no que diz respeito à abordagem das pessoas que apresentam dependência química no Brasil, são extremamente importantes. A nova Política Nacional sobre Drogas, por exemplo, pela primeira vez, coloca as comunidades terapêuticas como entidades de extrema importância para o cuidado das pessoas com dependência química no Brasil.
Agora, com a nova Lei de Drogas, pela primeira vez, uma lei federal regulamenta as comunidades terapêuticas e as coloca como instituição de protagonismo no tratamento das pessoas com dependência química no Brasil.
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Essas mudanças de normativa servem para fazer frente ao grave cenário que o Brasil vinha vivendo na área de drogas. Nós vínhamos enfrentando um aumento importante das pessoas que apresentam o uso problemático de álcool e de drogas no Brasil. Nós vínhamos enfrentando um aumento importante da mortalidade de jovens que apresentam quadros de dependência química, que apresentam envolvimento nesse cenário das drogas. Nós vínhamos enfrentando um aumento importante de pessoas com dependência química na condição de moradores de rua. Nós vínhamos enfrentando o aumento das cracolândias, das cenas abertas de uso de drogas no Brasil. Enfrentávamos também o aumento do suicídio. Nos últimos 15 anos o Brasil vem enfrentando um aumento importante nas suas taxas de suicídio. O segundo maior fator de risco para uma pessoa morrer por suicídio é a dependência química. Isso denota obviamente os graves problemas que nós vínhamos enfrentando nessa área no País.
No que tange, então, à violência, nós vínhamos enfrentando um aumento importante da violência doméstica, da violência contra as mulheres, problemas importantes em acidentes de trânsito e de homicídio. E, dessa grande violência que nós vínhamos enfrentando no Brasil, uma parte considerável era relacionada a problemas com o uso de álcool e de drogas. Só para a gente ter uma ideia, no ano de 2017, o Brasil fechou com 63 mil homicídios.
Esse cenário devastador que nós tínhamos na área de política sobre drogas, sem dúvida alguma, é fruto de equívocos que vinham sendo realizados na condução das políticas públicas na área de drogas no País, ao longo de mais de 20 anos.
Diante desse novo cenário, então, agora com novas normativas, o Governo Federal começa a lançar novas ações com a tentativa de fazer frente a esse grave cenário que nós vínhamos enfrentando no Brasil.
Agora, no meu primeiro semestre deste ano de 2019, o Governo Federal aumentou o financiamento para as comunidades terapêuticas. Nós tivemos um aumento de... Até o ano de 2018, o Governo Federal financiava para tratamento gratuito nas comunidades terapêuticas 2,9 mil vagas, e agora, então, no primeiro semestre deste ano de 2019, nós passamos para o financiamento público federal 11 mil vagas, ou seja, nós quadruplicamos o número de vagas financiadas com o intuito de ofertar o tratamento gratuito e de qualidade para as pessoas que apresentam dependência química no Brasil. Isso no bojo da mudança do modelo de assistência às pessoas com dependência química que nós passamos a introduzir no Brasil.
Nós saímos de uma perspectiva de mera redução de danos para uma perspectiva de promoção de abstinência. O que o Governo Federal e a sociedade agora passam a implementar é uma política pública que visa que as pessoas não deixem de usar dez pedras e passem a usar oito pedras de crack ou que troquem cocaína por maconha. O que a gente busca agora é que as pessoas deixem as drogas, que as pessoas se recuperem, que elas possam viver uma vida em sobriedade e recuperadas, com a possibilidade de voltarem a trabalhar, de cuidar das suas vidas, de cuidar das suas famílias e de terem uma vida com indignidade. (Palmas.)
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Nesse novo cenário de mudança de perspectiva de tratamento das pessoas com dependência química no Brasil, as comunidades terapêuticas ganham um protagonismo ainda maior. São entidades que, ao longo desses últimos 50 anos, vêm trabalhando no Brasil para desenvolver atividades sérias e importantes de recuperação das pessoas. E isso o Governo Federal reconhece agora, com a publicação da nova política sobre drogas, e toda a sociedade brasileira - é importante que fique claro aqui - também reconhece, por meio da publicação da nova Lei de Drogas, lei que foi aprovada agora em última instância nesta Casa, no Senado Federal, que representa toda a população brasileira, agora no dia 5 de julho, ou seja, o Governo Federal reconhece a importância das comunidades terapêuticas, e toda a sociedade também reconhece a importância dessas entidades.
Hoje, então, nós temos, financiadas pelo Governo Federal, 11 mil vagas dispostas em 496 comunidades terapêuticas espalhadas por todo o País. Dessas 496 comunidades, 71 delas são unidades da Fazenda da Esperança - nós temos um orgulho muito grande de termos essa parceria. São 1.347 vagas financiados pelo Governo Federal nas unidades da Fazenda da Esperança.
Eu, por exemplo, tive a grata oportunidade de visitar a Fazenda da Esperança no Estado de São Paulo, na cidade de Guaratinguetá. Tive também, recentemente, a grata satisfação de estar nas unidades da Fazenda da Esperança do Amazonas, de Roraima, e pude presenciar, in loco, a alta qualidade, todo o carinho, toda a atenção e toda a dedicação que são ofertados para as pessoas acolhidas nessas entidades.
Agora, então, nós nos aproximamos da publicação de um novo edital de credenciamento e financiamento de novas unidades. O Governo Federal agora publicará um novo edital para a expansão do financiamento. E gostaríamos, novamente, de contar com a parceria da Fazenda da Esperança nesse processo. Em breve, também publicaremos um edital de financiamento de grupos de mútua ajuda e grupos de apoio familiar. A Fazenda da Esperança tem um trabalho riquíssimo também nessa área - mais recente, mas de extrema qualidade -, que é o Grupo Esperança Viva (GEV). E também gostaríamos muito de contar com a parceria da Fazenda da Esperança nessa nova área que o Governo Federal começa a trabalhar, que é com os grupos de mútua ajuda e os grupos de apoio familiar.
O Governo Federal também vem realizando suas atividades na área de reinserção social. E também temos, na Fazenda da Esperança, um grande parceiro nessa frente. Diante desse grande desafio que nós temos na política sobre drogas, nós temos percorrido vários locais do Brasil com a tentativa de alinharmos as ações do Governo Federal com as ações ocorridas nos territórios. Isso é extremamente importante. É necessário que haja um alinhamento das políticas públicas no Brasil para que nós possamos, sim, ofertar um tratamento cada vez de maior qualidade para as pessoas. O Governo Federal tem se empenhado nessa árdua tarefa, mas extremamente importante, de levar para os territórios, para os Estados, para os Municípios as novas ações do Governo Federal e buscar multiplicá-las nesses locais.
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Nós também temos buscado trabalhar com o Parlamento, com o Congresso, tanto com a Câmara dos Deputados como também com o Senado Federal. Nós participamos ativamente da reconstrução da Frente Parlamentar em Defesa das Comunidades Terapêuticas, que foi lançada ainda no primeiro semestre deste ano de 2019 e que tem propiciado um trabalho mais próximo do Executivo com o Poder Legislativo. Agora, nós estamos lançando o nosso caderno de emendas parlamentares, caderno de emendas este que propiciará que nós tenhamos um aporte ainda maior de recursos para as comunidades terapêuticas.
Então, é bastante importante, hoje, neste momento, nesta Casa, nós buscarmos a sensibilização dos Parlamentares para o trabalho extremamente importante que as comunidades terapêuticas vêm realizando no Brasil, para que nós possamos, cada vez mais, ter emendas parlamentares para dar sustentação a esse importante trabalho que vem sendo conduzido por essas entidades.
Diante desse cenário, eu só tenho a agradecer a oportunidade de desenvolver parte considerável das ações da nossa secretaria, a Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (Senapred), junto com o Ministro Osmar Terra, junto com toda a nossa equipe, com as comunidades terapêuticas e, em especial, com a Fazenda da Esperança. Eu fico bastante satisfeito com os resultados que obtivemos ainda agora, no início deste ano. Se Deus quiser, esses resultados serão ainda maiores com o trabalho conjunto que nós, sem dúvida alguma, vamos realizar, ainda com mais empenho.
Então, muito obrigado.
Parabéns às comunidades terapêuticas e parabéns à Fazenda da Esperança! (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Siqueira Campos. Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - TO) - Concedo a palavra ao Sr. Adalberto Calmon Barbosa.
O SR. ADALBERTO CALMON BARBOSA (Para discursar.) - Bom dia a todos e a todas.
É uma grande alegria e uma grande honra estar aqui no Senado Federal, nesta homenagem à Fazenda da Esperança.
Quero cumprimentar a Mesa, o Senador Siqueira Campos, os demais componentes da Mesa - Frei Hans, Pe. Luiz, Nelson, Fátima Roriz - e todos vocês aqui presentes: autoridades, acolhidos da Fazenda da Esperança, nossos voluntários da Fazenda da Esperança e também as comunidades terapêuticas aqui presentes, em especial a ONG Salve a Si, que estão aqui com seus acolhidos também em recuperação. (Palmas.)
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Como falar da Fazenda da Esperança? Eu falo dela com a minha vida. Eu hoje estou Presidente da Confederação Nacional das Comunidades Terapêuticas.
Eu sou advogado há 25 anos; tive uma ascensão profissional muito boa; sempre fui um advogado muito competente; desenvolvi meu trabalho; construí um grande escritório e com muitos resultados. Casei, construí a minha família com minha esposa, Patrícia, e começamos a nossa vida, como todo sonho, em ter um lar, em ter uma casa, em ter um trabalho e assim também o fiz. Sempre dediquei a minha vida à minha profissão, à minha esposa.
Só que, no decorrer da vida, eu passei também pelas frustrações, pelas dores e pelos sofrimentos. E eu não tive o equilíbrio, à época, de cuidar disso, e entrou na minha vida a depressão, uma tristeza profunda de não desejar mais viver. Não conseguia mais, às vezes, sair da cama. Tudo o que eu conquistei não tinha sentido, nem a vida tinha alegria. Tentei tirar a vida três vezes - suicídio. Hoje, no Brasil, você vê uma grande quantidade de pessoas cometendo suicídio.
O meu irmão se suicidou. Na minha vida, na minha família, eu tinha esse registro e eu falava: "Eu vou fazer igual ele". E tentei. Na última vez, com uma arma de fogo e ela não funcionou. Naquele momento, eu estava embriagado, porque o álcool também tomou conta, não era só a depressão, porque a dor que todos nós sentimos nós tentamos aliviar de alguma forma ou é a droga ou é a maconha ou é a cocaína ou é o crack ou é o álcool e chega um momento que você não quer mais sentir essa dor e você quer morrer e por tudo isso eu passei. Mas, naquele momento de embriaguez, em que eu peguei a arma e ela não funcionou, eu tive ali um momento de lucidez. E me lembrei do Frei Hans.
O meu contato com a Fazenda da Esperança, antes daquele momento, era institucional. Era o advogado, o Dr. Adalberto, com a Fazenda da Esperança. E, naquele momento, eu me lembrei de uma fala do Frei, no dia em que eu visitei Guaratinguetá, em que ele me falava: "Venha fazer uma experiência conosco". Eu, aqui no meu coração, eu falava: "Não, eu vou sim. Um dia eu venho." Só que eu pensava comigo: "O que eu vou fazer lá? Eu não sou drogado". Era o preconceito que eu tinha.
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Mas eu tive que viver a experiência da dor e do sofrimento para chegar um dia e pedir ajuda para a Fazenda da Esperança, na pessoa do Pe. Márcio, do Sidney, à época. Eles me falaram: "Venha, você é bem recebido a qualquer momento". E eu falei que estava numa fazenda em Minas Gerais, numa fazenda que eu tinha lá. "Eu não consigo nem dirigir." E eles foram lá me buscar. Chegaram num domingo de Páscoa, que foi a minha ressurreição. E ali eu comecei uma experiência nova de vida, de 12 meses dentro da Fazenda da Esperança, de recuperação.
E pensa que foi fácil? Não foi, ainda mais para um advogado que achava que sabia tudo na vida - você se deparar com você mesmo, com a sua realidade, com as suas dores e com os seus sofrimentos -, mas eu nunca me aproximei tanto de Deus como na Fazenda da Esperança. Como me fez bem! É coisa de Deus a Fazenda da Esperança!
Consegui me recuperar, passados 12 meses naquela experiência maravilhosa. Reorganizei-me internamente, perdoei aqueles por quem eu sofria por dentro. E, cada conversa que eu tinha com o Frei, com o Nelson, com todos aqueles que comigo ali conviviam me ajudava a ser um homem novo e pronto para superar todas as angústias e frustrações da vida.
Saí e não conseguia mais assumir meu escritório, porque algo faltava na minha vida. E um dia eu decidi deixar tudo, deixar meu escritório, deixar a minha cidade e falar para o Frei: "Estou aqui à sua disposição". Hoje, sou missionário, moro na Fazenda da Esperança com a minha esposa. Nós estávamos separados e nos reconciliamos, moramos lá e damos a nossa vida, porque eu vivi uma palavra na Fazenda da Esperança: dar aquilo que te custa, e não o que te sobra.
Um dia, na Fazenda da Esperança, eu coordenava uma casa e recebi um menino em recuperação da Fundação Casa, para recuperação, e vi que ele não tinha um travesseiro, e eu tinha o meu. Eu não gosto de dormir sem travesseiro. Aquela experiência para mim foi muito forte. E a palavra naquele dia para nós vivermos era daquela viúva que deu aquilo que custava para ela e não o que sobrava. Para nós, foi uma experiência, para mim foi uma experiência muito forte, dar o meu travesseiro, aquilo que eu tinha, e dei para ele. A minha alegria foi vê-lo feliz e se recuperando. Eu vi Jesus nele. E essa experiência me fez também deixar tudo e dar aquilo que me custa, que é a minha vida, para essa experiência da Fazenda da Esperança.
Nelson, eu queria que você viesse aqui para a gente encerrar.
Nós temos uma música de nossa autoria, que é a música da Fazenda da Esperança. Aqui, nós estamos com os nossos acolhidos e acolhidas das fazendas aqui de Brazlândia, a fazenda feminina de Goiânia e também a masculina de Aurilândia. E essa música é a nossa vida, é a nossa realidade na Fazenda da Esperança.
O SR. NELSON GIOVANELLI ROSENDO DOS SANTOS - Eu convido os jovens aqui da Fazenda da Esperança para se colocarem de pé.
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É um hino também da Fazenda da Esperança.
(Procede-se à execução musical.) (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Siqueira Campos. Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - TO) - Frei Hans, todos os dirigentes desta comunidade terapêutica cristã da Fazenda da Esperança, eu fico muito emocionado, como ficam todos os brasileiros ao terem contato com a Fazenda da Esperança, com esta comunidade, seja onde for que ela esteja presente.
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Uma coisa notável que eu tenho visto é que cada um dos jovens que foi recuperado, que saiu nos caminhos errados, da vida de droga, de tudo que é porcaria, quando saem de lá, tornam-se um soldado valente a favor desta causa extraordinária. Eles se transformam em combatentes, com o grande comandante, Frei Hans, um homem extraordinário, que enxerga longe, tanto enxerga que entrou nessa que alguns diziam que era uma aventura. Que aventura? Que aventura bonita! Que coisa linda que o senhor e todos os seguidores vêm vivendo!
Eu tenho muito orgulho de estar aqui com todos, com o senhor, que é a figura maior e representa todos, muito feliz, porque essa é uma grande causa do povo brasileiro, a recuperação dos jovens, a de colocar os jovens no caminho certo.
Imaginem que, em tão pouco tempo, nós temos 36 Fazendas da Esperança femininas e temos 105 masculinas. É uma instituição vitoriosa, abençoada por Deus. Fico muito feliz, inclusive, por ter presidido esta sessão na companhia de todos. Todos são combatentes por aquilo que há de melhor para a sociedade brasileira. Eu me congratulo com todos pela luta e pelos ideais de todos, o que mostra que o mundo não está perdido como alguns pessimistas pensam. Ao contrário, o mundo continua cheio de esperanças, lutando e enfrentando as dificuldades todas - e eu sei as dificuldades todas que o senhor teve que enfrentar e venceu, os senhores venceram. Eu sei disso tudo e fico muito feliz por estar aqui.
Cumprida a finalidade da sessão, agradeço as personalidades que nos honraram com o seu comparecimento.
Está encerrada a sessão. (Palmas.)
(Levanta-se a sessão às 12 horas e 06 minutos.)