4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
56ª LEGISLATURA
Em 1º de abril de 2022
(sexta-feira)
Às 10 horas
29ª SESSÃO
(Sessão de Debates Temáticos)

Oradores
Horário

Texto com revisão

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O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE. Fala da Presidência.) - Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.
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A presente sessão semipresencial de debates temáticos foi convocada nos termos do Ato da Comissão Diretora nº 8, de 2021, que regulamenta o funcionamento das sessões e reuniões remotas e semipresenciais no Senado Federal e a utilização do Sistema de Deliberação Remota, e em atendimento também ao Requerimento nº 194, de 2022, de nossa autoria e de outros Senadores, aprovado pelo Plenário do Senado Federal.
Eu quero cumprimentar a todos vocês que estão aqui, de forma presencial, prestigiando esse simbólico e emblemático encontro que nós vamos fazer aqui nesta Casa, que é a Casa revisora da República - não é, Senador? -, e agradecer também a quem está de forma remota que vai participar conosco, fazendo as apresentações, suas palestras, como também você que está nos acompanhando pela TV Senado, pela Rádio Senado, pela Agência Senado, todas as mídias aqui do Senado Federal do Brasil.
Eu desejo uma ótima reunião. Não tenho a menor dúvida de que nós vamos aprender uns com os outros, nesse momento delicado da humanidade, e buscar soluções. O Brasil tem esse histórico da diplomacia, tem esse histórico da cultura da paz, do diálogo. E aqui a gente vai relembrar isso e procurar, de alguma forma, nos inspirar para tentarmos agir juntos, nessa transição planetária que a gente está vivendo agora, com todo o vigor.
Esta Presidência informa que os cidadãos podem participar desta sessão remota de debates temáticos através do endereço www.senado.leg.br/ecidadania; repito, você pode participar, mandando perguntas, comentários que a gente vai recebendo aqui na mesa, pelo site do Senado, especificamente, www.senado.leg.br/ecidadania, tudo junto - é esse serviço que propicia que as pessoas entrem aqui na audiência conosco -, ou também pelo telefone, pelo telefone gratuito, aberto, que é o 0800 0612211; repito, 0800 0612211.
A Presidência informa, ainda, que as apresentações e os arquivos exibidos durante esta sessão remota de debates temáticos ficarão disponibilizados na página do Senado Federal referente à tramitação do requerimento que originou esta sessão.
Aliás, eu quero agradecer a todos os Senadores, foi por unanimidade essa aprovação. Agradeço, de coração, por essa oportunidade e também ao Presidente do Senado Federal, Senador Rodrigo Pacheco, que nos permitiu também realizar de forma presencial. Não é, em todas as sessões, que a gente pode ocupar aqui o Plenário, num momento ainda que a gente está saindo dessa pandemia, e o Presidente, a quem eu agradeço - eu falei da limitação de público e tudo -, nos concedeu fazer de forma presencial.
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A sessão é destinada a receber os seguintes convidados a fim de discutir, olha só o tema: "O papel do Brasil na mediação de conflitos e construção de uma cultura de paz.".
Então, nós vamos ouvir aqui a Sra. Conselheira Viviane Rios Balbino, que é Chefe da Divisão de Nações Unidas do Ministério das Relações Exteriores. A Viviane já está aqui conosco conectada, muito obrigado pela presença.
Sr. Haroldo Dutra Dias, que é Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, também palestrante no Brasil e no exterior.
Sr. Geraldo Lemos Neto, Diretor da Casa de Chico Xavier na cidade de Pedro Leopoldo, Minas Gerais. Ele é biógrafo, médium, escritor e palestrante. Então, o Geraldinho, como ele é carinhosamente conhecido, está conosco aqui também conectado remotamente e vai já falar.
Sr. Ulisses Riedel, que foi Senador da República, é ex-Senador da República, do ano de 2003, pelo Distrito Federal. Ele é um advogado, um homem de bem, um cidadão que tem procurado plantar sementes boas através de seus projetos na TV Supren - União Planetária, a quem eu sou muito grato por ter conhecido esse trabalho e que muito me inspirou também nessa jornada pela terra.
O Sr. Akira Nonímia...
O SR. AKIRA NINOMIYA (Fora do microfone.) - Ninomiya.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Akira Ninomiya, perdão, que é Especialista em Mediação pela Universidade de Harvard e membro da comissão técnica que incluiu a mediação privada no código brasileiro de ocupação - mediação de conflitos, não é? Então, muito obrigado, Akira, pela sua presença aqui conosco.
O Sr. Elianildo da Silva Nascimento, que é advogado e primeiro brasileiro laureado pelo Rei Abdullah II do Reino da Jordânia. Então, eu agradeço demais a presença do Nildo, como a gente carinhosamente o chama. Já participamos de outros eventos juntos, inclusive do Fórum Espiritual Mundial, que foi promovido aqui pelo nosso Senador. Muito bom estar junto com o Nildo.
O Sr. Jean Carlos Lima, autor e pioneiro em mediação no Brasil. Sr. Jean Carlos, muito obrigado pela sua presença, já está conectado aqui remotamente conosco.
E o Sr. Rodrigo Chade, Especialista em Mediação pela Universidade de Harvard também e mediador da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
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Muito bacana a presença de todos aqui.
Então eu quero, antes de já passar a palavra para os expositores, fazer aqui um breve pronunciamento a todos vocês.
Paz e bem.
Os registros mais antigos da história da nossa humanidade datam de 4 a 5 mil anos atrás, com o início rudimentar da escrita. Durante todos esses milênios, se tivéssemos que escolher um título para resumir os principais acontecimentos, não poderia ser outro que não, infelizmente, "A história da guerra". A prevalência do uso da violência para a solução de conflitos vem persistindo até os dias atuais, mesmo depois de tantos avanços científicos e tecnológicos.
O século XX foi fortemente marcado por muitas guerras com impacto mundial, como o exemplo da Guerra da Coreia, os conflitos árabes-israelenses, a Guerra do Vietnã e principalmente as duas grandes Guerras Mundiais, a de 1914 e a de 1939, que mataram mais de 70 milhões de pessoas e feriram outras 100 milhões - uma estúpida carnificina sem precedentes. Com o final da Segunda Guerra, em 1945, tem início a chamada Guerra Fria, envolvendo principalmente as duas grandes superpotências à época, Estados Unidos e União Soviética, que passaram a investir pesado: trilhões de dólares em armamentos bélicos, com destaque aos aparatos nucleares, tudo isso com o objetivo de se preparar para uma provável terceira guerra mundial que, possivelmente, seria a última, diante do poder das mais de 13 mil ogivas nucleares, que podem destruir completamente o planeta Terra mais de uma vez.
Mas, na minha opinião, a experiência mais importante do século XX foi aquela vivida por um pacifista indiano com um 1,6m de altura, franzino, pesando menos de 50kg, que, sem exércitos, sem armas, sem poderio econômico, liderou a primeira revolução pacífica vitoriosa da história, libertando seu povo, com 400 milhões de indianos, do domínio da maior potência bélica e econômica da época: o império britânico. Mohandas Karamchand Gandhi empregou apenas o satyagraha, que é a devoção à verdade, e o ahimsa, a não violência, como métodos.
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Esse exemplo extraordinário me fez entender o real significado de Jesus ter destacado, por duas vezes, no Sermão da Montanha, a força da paz: primeiro, quando disse que os mansos herdarão a Terra; e, depois, em mais uma das oito bem-aventuranças, quando disse que os pacificadores serão chamados filhos de Deus.
Gandhi nunca quis, mas o povo da Índia espontaneamente passou a chamá-lo de Mahatma, ou seja, grande alma.
O Brasil tem recebido, ao longo dos séculos, em seu território, imigrantes de muitos países, sempre com grande hospitalidade. Não por acaso, aqui convivem em harmonia todas as correntes religiosas. Não por acaso, de acordo com o IBGE, mais de 90% da população brasileira se declaram cristãos.
O interessante é que nós temos - olhem como este país é fantástico, o Brasil - a maior nação católica do mundo, a maior nação espírita do mundo e a segunda maior nação evangélica do mundo, já chegando quase ao topo, e todo mundo convive muito bem, de forma harmônica.
E aqui, no Congresso Nacional - nosso querido Senador Ulisses Riedel sabe -, esses cristãos, de diversas matizes, se reúnem para defender causas. É por isso que o Brasil é conhecido mundialmente e admirado pela sua resistência na defesa da vida desde a concepção, por exemplo. Enquanto muitos países liberaram o aborto, o Brasil reconhece que ali é uma vida que tem que ser protegida. Na questão da liberação das drogas, o Brasil também é símbolo internacional, assim como em tantas outras situações, como o jogo de azar, que hoje ameaça aqui os corredores do Congresso Nacional, com esse poderoso lobby. Então, quando a gente se une - católicos, espíritas, evangélicos e os de outras religiões também de matizes afrodescendentes -, a união faz a força, e a gente consegue realmente manter o Brasil no caminho de princípios e valores corretos.
Ficam muito evidentes os sinais de uma nação cada vez mais vocacionada para a paz e a fraternidade entre os povos.
Agora, com o advento dessa guerra da Rússia contra a Ucrânia, o mundo voltou a conviver com o risco da expansão do conflito, que pode ter consequências inimagináveis. A gente espera que isso não aconteça. Inclusive, mesmo sabendo das nossas inúmeras limitações e imperfeições, nós estamos aqui para ouvir, para, de alguma forma, colaborarmos, não apenas com oração, que a gente sabe que tem um poder forte, mas de alguma outra forma, até pela posição que o Brasil adotou.
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É o meu ponto de vista, respeito quem pensa de forma diferente, mas, de forma equilibrada - eu tenho discordâncias do Governo em algumas pautas, mas, nessa questão, eu acredito que o Brasil se portou de forma correta -, podemos colaborar. Está aberta essa oportunidade para, como não tomamos partido, não tomamos lado, podermos, de alguma forma, colaborar para a paz. Então, eu acho que vai ser muito interessante ouvir quem entende desse assunto.
Nós temos aí cada vez mais notícias e, infelizmente, as notícias que ganham visibilidade ainda neste mundo de provas e expiações que vivemos são notícias ruins, negativas. E chegam informações de que pode acontecer a qualquer momento uma guerra química. Foi falado, inclusive, pelo Presidente dos Estados Unidos mais atrás - graças a Deus, não há tanta evidência disso -, da possibilidade até de conflito nuclear. A gente precisa seguir aqui nosso caminho, nossos ideais, para que o bem e a paz prevaleçam.
Então, que papel o Brasil pode exercer neste momento tão delicado da humanidade? Creio que não temos o direito de nos acomodar como meros espectadores, mesmo sabendo que é um terreno delicado, minado, esse terreno de conflito entre países; vamos esperar o melhor e vamos fazer a nossa parte para o melhor no que for possível.
O que fazer? Como fazer? Foram essas questões que me levaram a tomar a iniciativa de propor ao Senado a realização desta sessão. Minha gratidão a todos os presentes e que Deus nos ilumine, nos inspire nesse propósito de contribuir para a paz no mundo.
Imediatamente eu já passo a palavra aqui, por 15 minutos... Vamos combinar como vai ser feito o rito, o procedimento relativo ao andamento desta sessão. São 15 minutos que os convidados terão para, de alguma forma, fazer sua exposição - claro que a gente pode dar uns 2 ou 3 minutos de tolerância. Após esse tempo, será aberta a fase de interpelação; depois que todos os convidados falarem, os Senadores que estiverem inscritos, que puderem participar, organizados em blocos, disporão de 5 minutos para suas perguntas aos convidados, 5 minutos para cada Senador. Os convidados, então, disporão de 3 minutos para responder à totalidade das questões do bloco, e os Senadores terão mais 2 minutos para a réplica. As inscrições dos Senadores que participam remotamente serão feitas através do sistema remoto. As mãos serão abaixadas no sistema remoto e, nesse momento, estão já abertas as inscrições.
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Então eu já quero aqui... Já há até perguntas chegando aqui. Depois eu vou fazer para os convidados.
Eu já quero agora passar a palavra para a Sra. Conselheira Viviane Rios Balbino, que é Chefe da Divisão de Nações Unidas do Ministério das Relações Exteriores.
Viviane, muito obrigado pela sua presença. A senhora tem 15 minutos, com a tolerância aqui da Presidência, para fazer a sua exposição.
Muito obrigado.
A SRA. VIVIANE RIOS BALBINO (Para exposição de convidado. Por videoconferência.) - Muitíssimo obrigada, Exmo. Sr. Senador Eduardo Girão, Presidente desta sessão, autor do requerimento e 1º Vice-Presidente do Grupo Parlamentar Brasil-ONU.
Sras. e Srs. Senadores presentes à sessão, o meu bom-dia e minha calorosa saudação aos demais convidados do Senado Federal, senhoras e senhores que nos acompanham pela TV Senado, em primeiro lugar, eu desejo agradecer o honroso convite formulado ao Ministério das Relações Exteriores. É uma honra representar aqui a Chancelaria brasileira neste oportuno debate sobre um tema tão vasto quanto a mediação e a cultura da paz.
De início, Sr. Presidente, cabe mencionar que a mediação pode ser utilizada tanto na esfera externa, internacional, quanto no domínio interno, doméstico, por exemplo, a mediação judicial e comercial, mas também em ambientes escolares, em ambientes de trabalho, nas comunidades e até nas famílias.
Como representante do MRE, eu vou me ater nessas palavras iniciais à mediação internacional, mais especificamente aquela entendida no escopo das Nações Unidas.
Embora, em todos os casos mencionados anteriormente, a mediação tenha como principal objetivo promover a solução consensual de uma disputa e evitar os custos de todas as ordens atrelados ao conflito, à litigação, no caso da relação entre países, os ganhos advindos da mediação ganham contornos dramáticos, considerando que o litígio nesse caso significa o uso da força militar e a perda de vidas, além da destruição material.
Por isso, a Carta da ONU, em seu artigo 33, contempla a mediação como ferramenta em caso de ameaça à paz internacional. Nesse caso, a mediação compreende a atuação política em todos os estágios de uma crise: desde a prevenção de uma escalada militar, passando pela construção de medidas de confiança e de diálogo entre as partes beligerantes, até a negociação dos termos do acordo de paz e depois do armistício, para evitar a reincidência do conflito.
Como representante do sexo feminino nesse debate, Sr. Presidente, eu desejo ressaltar o papel das mulheres nesses esforços. Da mesma maneira que na política de um país, na política internacional, a presença das mulheres também contribui para a solidez das ações.
O Estudo Global sobre Mulheres, Paz e Segurança, que foi publicado pela ONU em 2015, revelou que a participação de mulheres na negociação de acordos de paz aumenta a probabilidade de que esses documentos logrem êxito e durabilidade.
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Estudos posteriores comprovam que, quando participam das mesas negociadoras em igualdade de condição e com poder de decisão, as mulheres levantam necessidades e cogitam soluções distintas daquelas pensadas pelos negociadores homens e, com isso, contribuem para uma paz mais sólida e duradoura. Portanto, nos últimos anos, a participação de mulheres em esforços de paz tem sido promovida como prioridade das Nações Unidas.
Em 2019, foi lançada uma aliança global de redes regionais de mulheres mediadoras, que já conta com mecanismos de seis diferentes regiões: a região nórdica, a união africana, as redes de mediadoras árabes, mediterrâneas, da Commonwealth e da Asean.
No ano passado, Sr. Presidente, por decisão do Chanceler Carlos França, o Brasil decidiu somar-se à Rede Regional de Mulheres Mediadoras do Cone Sul, que é integrada, além do Brasil, pela Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai. Um dos principais objetivos desse mecanismo é capacitar mulheres dos países da nossa região para participar de processos de paz, habilitando-as, assim, a atender eventuais demandas das Nações Unidas.
Está em discussão, ainda, a possibilidade de conformação de uma rede de mediadoras ibero-americanas.
Sr. Senador, a capacidade de um Estado ou de um indivíduo de realizar atividades bem-sucedidas de mediação depende, em grande medida, de que seja percebido como neutro, confiável e desinteressado. O compromisso histórico do Brasil com a solução pacífica de controvérsias, princípio constitucional que rege as nossas relações internacionais, inscrito no art. 4º, inciso VII, da nossa Constituição, aliado ao fato de que o Brasil é defensor consistente do Direito Internacional, são credenciais importantíssimas do Brasil no plano internacional. Esse acumulado histórico, conforme nos recorda o feliz antecedente de Ruy Barbosa recuperado pelo Senador Girão, ao qual eu acrescentaria o papel de Bertha Lutz e de Oswaldo Aranha nos primórdios da ONU, é o que nos permite ser o país mais vezes eleito, acompanhado apenas do Japão, para mandatos não permanentes no Conselho de Segurança das Nações Unidas. O Brasil está, como se sabe, no curso de seu 11º primeiro mandato naquele órgão até o final do próximo ano. E esse é um momento em que aumentam as nossas responsabilidades perante a paz e a segurança internacionais.
Nesse contexto, eu desejo referir-me ainda à participação do Brasil em cooperações de manutenção da paz e missões políticas especiais da ONU nos últimos 70 anos. A atuação de militares policiais e civis brasileiros nesses esforços, além de considerada exemplar em termos de treinamento, equipamento e disciplina - e aqui é impossível não lembrar o pacificador brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que não era funcionário do Itamaraty, mas era um funcionário das Nações Unidas e deu sua vida pela paz -, reverbera também como demonstração da capacidade do Brasil de contribuir de maneira concreta para a paz mundial.
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Ao longo desses 70 anos, Sr. Presidente, a marca brasileira na manutenção da paz foi a combinação da presença militar com a oferta de cooperação em áreas críticas para os países anfitriões das missões da ONU. Com isso, o Brasil esperava e sempre esperou reforçar a soberania desses países e sedimentar condições para o seu desenvolvimento. Tudo isso faz com que o Brasil seja respeitado a um só tempo pelas grandes potências e pelos países de menor desenvolvimento relativo como interlocutor confiável e sustenta o pleito brasileiro por um assento permanente em um futuro conselho de segurança reformado e expandido.
Senhoras e senhores, em 2010, a ONU criou o Grupo de Amigos da Mediação, copresidido por Finlândia e Turquia e composto por 52 países, além das próprias Nações Unidas e de outras 8 organizações internacionais. O Brasil é membro do Grupo de Amigos da Mediação desde a sua criação e atua para estimular a mediação como ferramenta de resolução de conflitos e de construção da paz duradoura.
Na perspectiva brasileira, a complexidade dos desafios atuais, a paz e a segurança demandam que a comunidade internacional reafirme seu compromisso com o Direito Internacional e a Carta das Nações Unidas, bem como promova cooperação e diálogo. O país entende que ela apoiar iniciativas de fortalecimento da mediação contribui para uma cultura de compreensão mútua e tolerância.
Passo, neste momento, Sr. Presidente, a algumas palavras a respeito da cultura da paz, que pressupõe mais do que a simples ausência da guerra, compreende a promoção da tolerância e da solidariedade, o desarmamento, o desenvolvimento econômico e social, a democracia, a igualdade de gênero, a liberdade de expressão e o respeito aos direitos humanos, principalmente por meio de ações nas esferas de educação, esporte e cultura.
Uma possível definição da cultura da paz, Sr. Presidente, é o conjunto de valores, atitudes e comportamentos que rejeitam a violência e previnem conflitos, atacando as causas profundas para resolver problemas por meio do diálogo e da negociação entre indivíduos, grupos e nações. Em sua atuação internacional, o Brasil está comprometido com a promoção da cultura da paz em âmbito global. Isso se dá, particularmente, na participação brasileira, em fóruns internacionais, como a Unesco, o Conselho de Direitos Humanos e a Assembleia Geral das Nações Unidas.
Vários dos princípios que regem as relações internacionais do país, além do já mencionado princípio da solução pacífica de controvérsias, como a prevalência dos direitos humanos, a defesa da paz, o repúdio ao terrorismo e ao racismo e a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, dialogam com a cultura da paz. Assim sendo, o país apoia as iniciativas referentes ao tema em todas as organizações internacionais de que participa.
Sr. Presidente, com isso, encerro esta minha alocução inicial, para dar prosseguimento ao debate, e agradeço, mais uma vez, o honroso convite formulado ao Ministério das Relações Exteriores. Fico à disposição.
Muito obrigada.
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O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Quem tem que agradecer somos nós!
Viviane Rios Balbino, que é Conselheira, Chefe da Divisão de Nações Unidas no Ministério das Relações Exteriores, a senhora deu aqui uma aula para a gente. Eu aprendi muito. E só ratifica, no nosso coração, na nossa mente, na nossa alma, o papel majestoso do Brasil na construção de uma cultura planetária da paz. Então, é uma construção que vem, é uma vocação natural. A senhora abriu bem aqui para a gente o histórico. E acho que vai ser o primeiro passo aqui para a gente conseguir buscar, de alguma forma, alternativas para uma ação efetiva do Brasil nesse sentido, que já está acontecendo em algumas esferas, mas que pode também ser ampliada com muita serenidade. Muito obrigado mais uma vez.
Eu quero agora já conceder a palavra, imediatamente, ao Sr. Ulisses Riedel, que foi Senador pelo Distrito Federal no ano de 2003, que é um advogado renomado, um pacifista, uma pessoa que planta muita semente do bem. E tudo que a gente planta, como a gente sabe, a gente colhe. Ele tem uma família maravilhosa, que está aqui conosco. Eu fico muito feliz com a presença de todos. Daqui a pouco, a gente vai nominar aqui as pessoas que estão presentes neste evento, acredito, histórico no Senado Federal.
Ulisses Riedel está ocupando a tribuna do Senado.
Você fica muito bem aí, ouviu, Ulisses? Você tem 15 minutos, com a tolerância da Presidência, para fazer o seu pronunciamento.
O SR. ULISSES RIEDEL (Para exposição de convidado.) - Exmo. Senador Eduardo Girão, é com imensa alegria que eu estou aqui nesta sessão, especialmente com V. Exa., querido amigo. É um querido amigo que conheço há tantos anos! Sei do seu compromisso com o bem da humanidade. Eu o tenho acompanhado. Temos estado juntos ao longo dos anos, e a sua dedicação... É uma pessoa que poderia estar tranquilo na vida; no entanto, põe toda a sua energia pelo bem da humanidade. Por isso, eu me sinto muito alegre, muito feliz por estar aqui. Conte comigo na sua jornada.
Senador Girão, a sua apresentação foi magnífica, extraordinária. Sintetizou, de uma forma plena, os pontos essenciais que todos nós gostaríamos de dizer numa sessão como esta, pelo histórico, pelos dados, o que ficou muito claro no seu requerimento para esta sessão, quando dispôs: "Um conflito mundial hoje destruiria completamente muitos países e afetaria seriamente todos os sobreviventes com consequências desastrosas, significando um retrocesso na evolução planetária em proporções inimagináveis".
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Efetivamente, nós vivemos um momento de um certo cuidado que precisamos ter dentro da atuação da humanidade, uma atuação de que precisamos cuidar para que ela seja cautelosa para evitar que nós possamos cometer graves equívocos.
V. Exa. salientou a história da humanidade, uma história de guerras - é verdade -, mas, infelizmente, é até muito mais do que isso; a história da humanidade é a história de gladiadores, um Coliseu criado em Roma para assistir à matança de homens, de colocar homem contra homem, de guerras santas, de inquisição, de escravidão, de imposição racial e religiosa, de holocausto - de holocausto, o terrível holocausto! -, de a mulher sendo tratada como inferior ao homem, de colonizações, de guerras intermináveis. E estamos hoje aqui, em pleno século XXI, em guerras, sem lembrar dos 70 milhões de pessoas que morreram nas duas primeiras guerras mundiais e outros 30 milhões que morreram em outras guerras independentemente das guerras mundiais. Aqui continuamos nós em guerras neste mundo, mas também continuamos com uma indiferença com os necessitados, com os sofredores, com o mundo competitivo em que o que vale é vencer, é o outro, e outro não existe separadamente de nós, faz parte da nossa humanidade, em um mundo em que ainda temos feminicídios - meu Deus do céu! -, homicídios, moradores de rua, tantas coisas. Isso nos mostra, Excelência, que nós temos que cuidar seriamente disso. O mundo anda à beira de um abismo como algo natural, e é um absurdo! Faz-me lembrar do Baile da Ilha Fiscal em que estava a monarquia em baile quando estava caindo a República sem perceber o que estava acontecendo neste mundo.
Então, é necessário um trabalho como este que está agora promovendo, só que eu acho que, pelo tamanho da obra que precisa ser feita, é preciso que no Senado seja constituída uma Comissão Temporária para examinar o assunto, como existem Comissões Temporárias aqui. Eu penso que uma Comissão Temporária aqui poderia ter o seguinte posicionamento: examinar a contribuição no Brasil para a superação dos conflitos mundiais atualmente em curso que podem desestabilizar o país social e economicamente e as medidas necessárias para alcançar os ODS da ONU, os objetivos de desenvolvimento da ONU.
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Isso posto, eu quero lembrar aqui uma fala do Presidente Roosevelt, dos Estados Unidos, em 1942, no Congresso americano, que foi conhecida como a doutrina das Quatro Liberdades. Ele disse:
Temos que buscar, em dias futuros, por cuja segurança ansiamos, um mundo que se baseia em quatro liberdades humanas essenciais: a primeira é a liberdade de expressão e de palavra em todas as partes do mundo; a segunda é a liberdade de cada qual adorar a Deus à sua maneira em todas as partes do mundo; a terceira é a liberdade ou libertação da miséria, o que, traduzido em termos universais, significa o entendimento econômico que permita assegurar em cada nação uma vida saudável e pacífica aos seus habitantes em todas as partes do mundo; e a quarta é a liberdade ou libertação do temor, que, em termos universais, significa uma redução mundial dos armamentos a tal ponto e de tal maneira completa, que nenhum país possa achar-se em condição de cometer atos de agressão física contra os seus vizinhos em nenhuma parte do mundo. As quatro liberdades são tão essenciais para o homem como o ar, o Sol, o pão e o sal. Privá-lo dessas liberdades significa morte, e, se o despojarem de parte delas, parte dele perece. Dai-as em medida abundante e completa e o mundo há de cruzar o umbral de uma idade nova, a maior idade do homem.
Só foi possível um pronunciamento desse porque ele era um grande estadista, um grande homem, um grande pensador, um grande humanista, uma grande pessoa comprometida com a humanidade, como o é V. Exa. - como o é V. Exa.
V. Exa. tem o espírito de poder ser um grande estadista para este mundo, para esta humanidade, creia nisso. Creia que há uma missão que foi colocada nas suas mãos desde antes do seu nascimento.
E qual é a contribuição que o Brasil pode dar? O Brasil pode dar contribuições imensas, porque, como muito bem destacou, é a pátria da fraternidade, é a pátria do entendimento, é a pátria do acolhimento - do acolhimento.
Eu conheci um estrangeiro que diz que o único país no mundo em que ele se sentiu em casa foi o Brasil, porque, em todos os outros países, ele foi tratado como estrangeiro, uma vez que ele esteve em vários países. E é verdade. Aqui é a pátria do amor, da fraternidade, em que, apesar de um povo sofrido, apesar de um povo com tantas necessidades, consegue manter a sua alegria, a sua fé, a sua esperança, que é aquilo que jamais nós podemos perder, porque, diante da percepção desses problemas, nós temos que enfrentá-los, mas sempre com fé, com alegria, com confiança, com a certeza de que nós podemos mudar o mundo.
Eu me lembro... Aliás, não preciso me lembrar, é visível. Quando eu nasci, minha mãe não podia entrar numa faculdade, não podia votar, não podia ser funcionária, e todas as mulheres brasileiras não podiam. Hoje elas tomam conta das nossas universidades, chegam à Presidência da República e estão aí nos dando lições permanentes, e nós vemos como o mundo se transforma.
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Nós temos que acreditar nessa transformação. Não podemos ficar apenas percebendo o mal que existe sem perceber o poder da sociedade, o poder dos homens de bem, o poder das mulheres, que têm sensibilidade, que têm amor. E podemos fazer essa transformação. E, assim, o Brasil pode fazer um trabalho extraordinário.
É preciso que a gente utilize uma comissão para aprofundar tudo que é preciso entender. Hoje, nós precisamos da ciência quântica. Nós temos que nos apoiar na ciência quântica, porque a ciência clássica estava ainda um pouco voltada para as coisas da materialidade de uma forma muito importante - muito importante -, mas a ciência quântica nos traz o novo. Ela nos traz que não existe o outro; o outro não existe separadamente de nós. Todos nós pertencemos a uma mesma vida, a uma mesma unidade da vida. Até no plano material, se eu tomei o meu café pela manhã e comi um pãozinho, aquele pãozinho tem a história do trigo plantado e replantado durante milhares de gerações. O próprio pãozinho que eu comi tem a história dele, de quem plantou, de quem colheu, de quem transportou, de quem assou, de quem o trouxe à minha mesa.
E nós estamos ligados ao mundo. Citei um exemplo, mas tudo, a colherinha com que eu estava mexendo o meu café tem a história da metalurgia, tem uma história de milhares de pessoas. E a nossa vida não existe isolada e separada. É uma ilusão a separatividade. Nós somos unos. Nós somos unos com a natureza. Nós não vivemos sem a natureza. Nós não vivemos sem... Nós não vivemos sem os insetos e sem os pássaros que polinizam as flores e que permitem o novo nascimento.
Nós não vivemos sem o amor. Nós não vivemos... Nós não vivemos sem a compaixão. Se não houvesse aqueles que cuidaram de nós na nossa infância, especialmente muito pequenos, nós não teríamos sobrevivido. Nós fazemos parte de uma unidade. E tolamente queremos confrontar essa unidade com uma ideia de que eu devo competir, que eu sou melhor, que é tudo para mim, na minha vida o sucesso é ficar rico e viver uma vida de prazeres. Nós temos que mudar essa mentalidade, e essa mentalidade muda à medida que as lideranças, em especial, fazem essa transformação.
E, por isso, eu quero parabenizá-lo mais uma vez. Não permita que isso, que este trabalho termine aqui, nesta sessão magna de grande importância. Veja o instrumento poderoso que tem nas mãos aqui, no Senado Federal, de termos uma Comissão Temporária, mas que é no tempo de hoje, é o tempo do problema de guerras, é o tempo da necessidade de alcançarmos os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) do milênio, em que o primeiro deles é a erradicação da pobreza. E, por isso, sucesso! Muita sorte. Muito êxito. Conte comigo. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Querido irmão Ulisses Riedel, que foi Senador aqui do Senado Federal, aqui do nosso país, muito obrigado pela sua participação. Muito boas as suas sugestões; vamos levar, com carinho, aqui para os colegas. Estou emocionado aqui com a sua fala, recheada de espiritualidade, recheada de fraternidade.
É isso que a gente precisa resgatar, porque temos realmente muito egoísmo, muito materialismo no mundo, hoje, um sentimento de ambição, mas nunca houve tanto amor também, não é? E a gente precisa olhar para o amor de um pai por um filho, das famílias, a solidariedade. O que há de instituição fazendo o bem neste país, instituições católicas, evangélicas, espíritas ou que não tenham nenhuma orientação religiosa, mas que fazem um trabalho de caridade fabuloso no Brasil inteiro. O Brasil tem essa marca também. Por isso que é um país muito especial sob todos os aspectos.
Eu vou passar a palavra agora, aqui, para o Sr. Geraldo Lemos Neto, que é Diretor da Casa de Chico Xavier na cidade de Pedro Leopoldo, Minas Gerais; ele, que foi amigo, que conviveu com Chico Xavier; é palestrante nacional e internacional. Parece-me que está indo ou está em Portugal hoje, ou está indo, esses dias, para Portugal. O Geraldinho, como é carinhosamente conhecido, é um grande estudioso de uma doutrina que veio da França, desenvolvida lá, pesquisada, codificada por Allan Kardec, na época um pedagogo, um cientista, podemos dizer assim, que pesquisou a relação entre o mundo material e o mundo espiritual e publicou obras fantásticas sobre o que tem se comprovado ao longo do tempo, que é a doutrina espírita.
Mas o mais interessante de tudo isso: quando a gente fala a palavra Chico Xavier, ela transcende o espiritismo. Chico Xavier - é difícil até falar -, um grande humanista pacifista do Brasil que deixou muitas lições, mais de 400 livros, dezenas de milhões de exemplares traduzidos para dezenas de línguas no mundo todo; e todo o dinheiro desses livros foi revertido para caridade. Eu tive a oportunidade de conhecer não o Chico - eu não tive essa benção que o Geraldinho Lemos teve de conhecê-lo pessoalmente aqui nesta existência -, mas de ir buscar, na sua cidade natal, Pedro Leopoldo, na cidade que ele adotou, Uberaba, buscar um pouco da história, as pessoas que com ele conviveram, visitar o cantinho em que ele morava. Então, um dos homens que tinha possibilidade de ser um dos mais ricos do Brasil morreu ali, num quartinho, que nem banheiro tinha. Tudo doado para instituições, para fazer o bem.
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Geraldinho, eu vou lhe passar 15 minutos, com a tolerância desta Casa, para você fazer a explanação. É bom sempre a sua fala, porque traz luz, porque, nesse momento que a gente vive, de provação da humanidade, sempre há coisas na internet que deixam a gente preocupados - não é? -, terceira guerra, profecias de diversas matizes, e você é um estudioso, teve contato com o Chico, sempre muito otimista... Há a história da data limite, de Chico Xavier, que é um documentário que eu recomendo às pessoas que assistam, muito interessante, e há um livro que eu li e que me marcou muito, que é: Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho. Se você puder, dentro da sua fala, explicar um pouco sobre esse livro e o que vem por aí, o que já aconteceu e o papel redentor do Brasil na humanidade seria muito interessante para a gente, cada vez mais, ter consciência de que este país é fantástico e a gente só tem que ter gratidão por estar vivendo nesse momento aqui.
Muito obrigado, Geraldinho Lemos, o senhor tem 15 minutos, com a tolerância desta Casa.
O SR. GERALDO LEMOS NETO (Para exposição de convidado. Por videoconferência.) - Muito obrigado pelo convite, Exmo. Senador Eduardo Girão, querido amigo, eu me sinto muito honrado pelo convite a participar desta sessão extremamente importante no nosso Senado Federal, para tratar dos assuntos relativos à mediação para a paz. De mim mesmo tenho muito pouco a dizer, a não ser aquilo que diz respeito a este homem símbolo da paz, que foi e continua sendo Chico Xavier na alma do coração dos brasileiros, tendo em vista os anos vividos em Pedro Leopoldo, em Uberaba, 92 anos de profícua existência semeando o amor, a paz, a concórdia e a união, 75 dos quais dedicados ao espiritismo cristão, revivendo os ensinamentos de nosso Senhor Jesus Cristo dentro de uma nova perspectiva de compreensão da nossa realidade como espíritos imortais que somos e também como espíritos responsáveis pela construção de um mundo melhor.
Chico Xavier, sem dúvida nenhuma, foi um uma pessoa que fez diferença no cenário nacional. Tanto é, que, embora os espíritas sejam minoria religiosa na nação brasileira, ele foi escolhido por votação popular, várias vezes, como, por exemplo, na revista Época, em 11 de setembro de 2006, o maior brasileiro da história; como, por exemplo, por ter recebido ele o título de cidadania honorária de mais de 110 cidades brasileiras, dentre elas várias capitais; como por ter sido ele indicado ao Prêmio Nobel da Paz no ano de 1981; como por ter recebido, das mãos do então Governador Francelino Pereira, em 21 de abril de 1991, a medalha mais alta do Estado de Minas Gerais, que é a Medalha da Inconfidência; como por ter sido ele escolhido pelo maior jornal do Estado de Minas Gerais, o Estado de Minas, por votação popular em novembro de 2000, "o mineiro do século XX"; e por ter sido também o seu nome inserido na Comenda da Paz, pelo Estado de Minas Gerais, ao promover a paz e premiar todos aqueles que trabalham pela paz. Chico Xavier também foi inspirador de mais de 3 mil instituições de caridade e assistência social espalhados por todo o rincão brasileiro, de norte a sul e de leste a oeste. E, em outubro de 2012, depois de longa votação popular - nove meses - no SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), por ter sido ele escolhido também "o maior brasileiro da história".
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Chico foi, na sua vida, o inspirador da concórdia. Perseguido inicialmente por entidades religiosas que não o compreendiam, sempre se articulou para um diálogo fraterno e amigo com todas as correntes religiosas. Tive a honra de participar de sua intimidade a partir de 1981, tendo em vista ligações muito próximas familiares com Chico Xavier. E, a partir de 1984, sendo hospedado em sua própria casa de Uberaba, passei a conviver mais na sua intimidade e a testemunhar os esforços que ele empreendia para nos deixar um legado de paz, de amor, de concórdia e de união.
Quero testemunhar que, embora ele fosse e continue sendo talvez o maior ícone espírita cristão, o maior médium de todos os tempos depois da passagem de Nosso Senhor Jesus Cristo pela Terra, nas suas atividades públicas de Uberaba seja no Grupo Espírita da Prece ou na Vila do Pássaro Preto, ou mesmo nas suas passagens por sua cidade natal em Pedro Leopoldo, jamais Chico Xavier estabelecia qualquer tipo de cobrança de taxa ou inscrição, qualquer tipo de reconhecimento público, qualquer exigência, tendo recebido todos - católicos, protestantes, hebreus, budistas, hinduístas - procedentes de todas as crenças e religiões, de todas as nações, de todas as idades, de todas as classes sociais. Recebia todos com a mesma humanidade, com o mesmo respeito, com a mesma dignidade, do mais pobre e necessitado até Presidentes da República. E é esse exemplo que fica, é o exemplo dado por ele nesses 92 anos de vida exemplar e nesses 75 anos de mediunidade com Jesus e o espiritismo, consolando os aflitos e amparando aqueles que procuravam esclarecimento e conforto nas suas peregrinações.
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Peço licença e vênia ao querido amigo Senador e aos demais ilustres Exmos. Srs. Senadores e Senadoras que nos ouvem para passar a palavra ao próprio Chico Xavier. Destacamos aqui três vídeos curtos em que foram registradas as suas palavras a respeito não somente da mediação, da necessidade de respeito, de convivência fraterna entre todos nós, mas principalmente do Brasil.
O nosso digno Senador lembrou muito bem um dos seus principais livros, editado em 1938, portanto, antes da Segunda Grande Guerra Mundial, mas que até hoje é referência para nós outros em relação à missão do Brasil no concerto das nações no futuro da humanidade. Esse livro, de autoria espiritual do eminente Humberto de Campos, literato da Academia Brasileira de Letras, chama-se Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho. O próprio Chico Xavier, em entrevista registrada já em livro, identificou que, embora Humberto de Campos fosse o intermediário dessas revelações espirituais profundas e oportunas, não foi ele o autor daquelas páginas, mas, sim, o veículo que nos trouxe dos anais da espiritualidade maior a história da nossa nação brasileira, justamente a história que fundamentou, em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo, a bandeira da paz e da concórdia, da fraternidade e da justiça aqui, no seio da pátria do Cruzeiro, para que aqui fosse, no futuro da humanidade, esta nação imensa e esta nação fraterna, exemplo para o futuro, em que talvez teremos que receber em nossas plagas, como o próprio Chico Xavier disse, contingentes inumeráveis de visitantes e até mesmo de retirantes de outras partes do globo.
Assim, dividimos aqui o restante de nossa fala em três pequenos vídeos, que vou pedir licença à Secretaria do Senado para que passe para nós. O primeiro deles diz respeito ao apelo de Chico Xavier para que mantenhamos a paz dentro das nossas fronteiras no campo da política e da convivência fraterna, embora saibamos das nossas diferenças ideológicas.
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O segundo vídeo, também curto, é o apelo de Chico Xavier para que todos nós possamos nos portar, com a maior dignidade possível, dentro do ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o qual devemos nos amar uns aos outros.
E, por fim, a última fala gravada por ele, por companheiros do Grupo Espírita Perseverança, de São Paulo, em que Chico Xavier de certa forma profetiza sobre o futuro do Brasil, em que talvez todos nós tenhamos que exemplificar diante do mundo, acolhendo habitantes de outras nações como imigrantes em contingentes numeráveis, que talvez haverá de soar a hora para todos nós, o momento de todos nós exemplificarmos o Evangelho de Jesus em suas diferentes interpretações, mas que temos estudado e temos tentado compreender em nossas escolas religiosas.
Peço, então, licença à Secretaria do Senado para passar os três vídeos em sequência, já agradecendo e me despedindo do nobre Senador e dos nobres ouvintes, senhores e senhoras que nos ouvem.
Muito obrigado.
(Procede-se à exibição de vídeos.)
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O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Muito obrigado, Geraldo Lemos Neto, pela sua apresentação, pela sua fala e também por esses vídeos. Eu já tinha visto esses vídeos na internet. Realmente, suscitam muitas reflexões. Na sua próxima fala - se o senhor puder, claro -, nas considerações finais, eu lhe pediria que falasse um pouco sobre a questão da data limite de Chico Xavier.
A gente está tendo a bênção grande aqui... Vejam o que a tecnologia faz: trouxe Chico Xavier para o Plenário do Senado Federal. A gente sente! A gente, inclusive, fez aqui, há um mês e pouco, uma sessão solene em homenagem ao Chico Xavier - fizemos ao Kardec, fizemos ao Dr. Bezerra de Menezes também e fizemos ao Chico Xavier, fechando essa trilogia. Está tudo no YouTube. É só colocar: "TV Senado, sessão Francisco Cândido Xavier"; "TV Senado, sessão Bezerra de Menezes", "sessão Allan Kardec" e você pode ter o conhecimento da vida desses grandes humanistas e pacifistas que nós tivemos a oportunidade de ter na Terra.
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Então, Geraldinho, se você puder falar sobre a data limite, sobre aquela história dos 50 anos, de quando o homem chegou à lua e, a partir daquela contagem, o que é que Chico Xavier falou para você e, inclusive, para outras pessoas, será importante você colocar isso para a gente ter uma noção também do período de regeneração da Terra. A Terra vai passar do período de provas e expiações, segundo os espíritas, para uma Terra de regeneração. E se fala do ano 2057, que o Emmanuel, que é o mentor do Chico, teria dito. Eu queria ouvir de você se 2057 seria esse período em que estaria consumada essa transformação, essa transição planetária.
Eu já passo a palavra aqui neste momento...
Antes disso, eu queria fazer um convite, eu queria chamar aqui à mesa desta Presidência, para que pudesse estar conosco aqui e nos dar a honra, uma pessoa por quem tenho muito carinho, que sempre me acolheu muito bem - e toda a sua família. Em nome da família que está aqui presente, eu queria chamar a Vanda Beatriz Riedel de Resende para sentar conosco aqui à mesa. (Palmas.)
Imediatamente passo a palavra para o nosso irmão Akira, especialista em mediação pela Universidade de Harvard e membro da comissão técnica que incluiu a mediação privada na Classificação Brasileira de Ocupações.
O senhor tem 15 minutos, com tolerância.
O sobrenome eu não anotei na hora em que falei.
O SR. AKIRA NINOMIYA (Fora do microfone.) - Ninomiya.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Ninomiya. Agora não erro mais.
Fique à vontade, querido.
Muito obrigado.
O SR. AKIRA NINOMIYA (Para exposição de convidado.) - Bom dia a todos e a todas.
Que alegria, que satisfação estar aqui hoje!
Eu gostaria de cumprimentar o Exmo. Senador da República Eduardo Girão, nosso grande amigo, nosso irmão, agradecer pelo convite, estender esses cumprimentos a todos que estão à mesa e também cumprimentar todos aqueles que estão participando virtualmente. Peço licença para cumprimentá-los na pessoa do meu amigo, do meu irmão, do meu mentor, Prof. Jean Carlos Lima. Gratidão, meu irmão, por tudo!
Se eu tivesse, Senador, sido convidado para estar aqui ouvindo tudo que está sendo dito, meu dia estaria ganho - estaria ganho -, porque a profundidade das reflexões e a sensibilidade das palavras já demonstram o que é a essência da mediação. Contudo, o convite para proferir palavras, nos faz lembrar do nosso dever e honra de servir, que também fazem parte dos pilares da mediação.
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Eu gostaria de dedicar minha fala a alguns elementos que proporcionaram uma ressignificação na minha vida por meio da mediação.
Aqui eu cito um dos meus professores de Harvard, o Prof. David Hoffman. Quase dez anos atrás, em novembro de 2012, finalizando minha especialização, cada professor deu uma mensagem final para nós, para toda a turma. Eram 48 pessoas de vários lugares do mundo. Ele nos alertou para um grande elemento, que eu atribuo ao quântico, como o ex-Senador mencionou, o Sr. Ulisses. Ele disse o seguinte: "Tenho a certeza de que, na jornada, enquanto mediadores, vocês encontrarão casos que trarão questões pessoais, conflitos pessoais de vocês para serem trabalhados". Esta é a grande lição da mediação: no dever de servir, nós também nos curamos.
Ainda durante esse período, nessa especialização, todos nós tivemos que passar por uma atuação prática. Eu gostaria de citar aqui um caso que, durante o curso, já me ensinou isso. Eu estava mediando, na época, durante a formação, a especialização, um conflito entre uma multinacional norte-americana e uma grande empresa da América Latina, um conflito comercial, cruzando fronteiras, envolvendo o cenário da tecnologia, um conflito que já havia chegado à esfera judicial, com milhões de dólares sendo discutidos, milhões!
Chegou-se a certa altura desse diálogo mediativo em que a representante da multinacional havia cedido a todos os pedidos que o diretor-executivo da empresa latina havia feito, e, por algum motivo, ele insistiu no conflito e buscava outros elementos para justificar a manutenção do conflito. Era um executivo experiente, que já tinha atingido bons números com a mediação. Mas a pergunta é: por que ele insistia naquele conflito? Esse diretor, com um pouco de dificuldade com o idioma inglês, e confesso que, naquela época, eu também assim estava, porque já havia quase dez anos que eu não estava em contato direto com o idioma... Quando vi que eu não tinha mais o que fazer no diálogo mediativo, eu propus, como última alternativa, que separássemos cada um em uma sala, para eu ter uma última conversa com cada um deles. Eu fui conversar primeiro com esse diretor-executivo, e, na primeira fala com ele, pedi desculpas pelo fato de o meu inglês não estar bom. Ele olhou para mim e falou: "Rapaz, obrigado por falar isso, porque eu estava extremamente incomodado com o fato de também não conseguir me comunicar bem". A gente foi conversando um pouco sobre isso. Eu falei: "Essa dificuldade, essa questão do senhor... É a primeira vez que o senhor tem esse incômodo?". Ele falou: "Não. Eu sou do interior. Na minha cidade... E, quando eu ia para a capital, eu era muito criticado pelo meu sotaque". Uma raiz de bullying da infância de uma pessoa do interior que chegava à capital e era criticada. E, naquele momento, eu tive um insight. Eu falei: "Porventura, essa questão da sua infância, que eu percebi nitidamente que te incomoda [porque a gente faz a leitura corporal: ele ficou ansioso, a respiração acelerou], poderia de alguma forma estar acontecendo aqui?". Ele falou: "Eu vou te confessar uma coisa: quando eu fui indicado para representar a empresa, para vir para essa mediação e sabendo que do outro lado estaria uma multinacional norte-americana, é como se eu tivesse voltado lá atrás, quando meus pais me mandavam para a capital para resolver coisas". Ele falou: "Desde aquele momento, eu não dormi bem e eu não paro de suar frio", e conversamos um pouco mais sobre isso. Eu falei: "Aquilo que eles já ofereceram não atenderia ao que o senhor quer do ponto de vista objetivo? E mais: talvez já não teria contribuído um pouco além com a sua própria vida mostrando coisas suas para serem trabalhadas?". Ele bateu na mesa e falou assim: "Podemos sentar lá que nós vamos resolver isso agora".
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Só que, naquele momento, não foi apenas aquele processo que foi resolvido, porque, naquele momento, eu aprendi algo muito valioso. Fala-se muito hoje de alta performance, de grandes resultados, e esquecemos o poder da vulnerabilidade a partir do ponto em que nós reconhecemos como estamos e nos permitimos crescer.
E saindo da esfera de um conflito comercial internacional e adentrando uma escola de Goiânia, onde nós estávamos implementando um projeto-piloto do nosso trabalho social RePacificar, treinando diretores e professores - isso, em 2014 -, em um dia, numa conversa com professores, eu ouvi o seguinte relato - professores comentando sobre um aluno do 7º ano -: "Esse aluno era tão bom até o ano passado e agora ele não para quieto, ele provoca todo mundo, ele briga com todo mundo. Dá a impressão [olha o comentário] de que ele quer ser mandado para fora da sala de aula". E eu fiz a seguinte pergunta, que parecia uma pergunta boba: "Já perguntaram para ele porque ele quer sair da sala, porque ele quer ser expulso?". No primeiro momento, eles olharam para mim até com uma incredulidade. Eu falei: "Já falaram com os pais dele?". Eles falaram: "Já mandamos bilhete, mas eles não respondem". Eu falei: "Então já estamos chegando à raiz da questão". Eu falei: "Eu posso conversar com ele?", e fui conversar com esse rapaz pré-adolescente. Sentei com ele e fui direto ao ponto. Eu disse: "Olha, eu não estou aqui enquanto... Eu não faço parte da escola, estou implementando um trabalho, mas, se você se sentir à vontade, fala para mim: quem que está com problema na sua casa?". Ele ficou pálido, trêmulo e falou: "Meu pai". Eu falei: "O que houve com o seu pai?".
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Ele falou: "Ele está com câncer, em fase terminal". Quem não queria estar em casa com o pai, num momento desse? Nós estávamos implementando uma prática mediativa nessa escola, mas a mediação não é apenas uma ferramenta que a gente coloca em determinado momento e depois a gente a guarda numa prateleira. Ou somos mediadores ou não somos; ou adotamos isso enquanto filosofia de vida ou estamos nos enganando.
E essa mediação que eu venho hoje defender dentro dessa proposta extraordinária é uma mediação que não se limita a buscar soluções para sintomas aparentes de conflitos; é compreender a raiz do conflito, é ressignificar na sua essência, porque, do contrário, ele vai voltar e voltar e voltar. Ressignificação.
Eu citei o caso do conflito entre uma multinacional e uma empresa e um outro de uma escola, quando, na verdade, tudo se resume a um elemento: o ser humano - o ser humano -, com expectativas, sentimentos, emoções, frustrações. Tudo se resume ao ser humano.
É essa mediação que, dentro de um ponto de vista histórico - o Senador fez uma abordagem histórica fantástica -, antecede inclusive o nosso ordenamento jurídico moderno. A mediação que faz parte da cultura humana, que é um resgate dos valores humanos, que nasce na essência de uma sociedade que é a família. Uma família que sabe mediar é uma família que leva isso para a sociedade. É um resgate de valores.
O Senador mencionou Mahatma Gandhi. Nós tivemos a oportunidade de trazer o seu neto duas vezes ao Brasil, o Sr. Arun Gandhi - uma vez em 2016, para um evento aqui em Brasília, e em outra, eu o levei até Goiânia, minha cidade. E eu fiz a seguinte pergunta para ele, no aeroporto: "Onde hoje a mensagem do seu avô está mais forte?" Ele falou: "Na Alemanha. Eles aprenderam". E eu falei: "Onde ela está mais fraca?" Ele: "Na Índia, porque lá eles se acomodaram".
Eu reforço o pedido feito pelo ex-Senador Ulisses: que esse ato seja um ato contínuo. Estamos aqui para somar forças a isso. Mencionei o Sr. Arun Gandhi...
Contem com todo o nosso cenário de parceiros, contem também com nossos parceiros da Fundação Nelson Mandela, parceiros nossos desde 2015, com todo o nosso cenário. Inclusive, Senador, o Sr. Arun Gandhi e eu estamos escrevendo um livro voltado para jovens chamado Nós Somos a Mudança. Porque o avô fez uma provocação: "Seja a mudança que quer ver no mundo". Esse livro, que nós vamos colocar em formato digital para ser mais acessível, é uma resposta nossa a esse chamado, porque nós somos a mudança e colocamos "nós" para lembrar a importância de nos unirmos.
Eu fecho aqui com uma reflexão de uma charge que coloquei no nosso evento em 2016, com o Sr. Arun Gandhi presente. Uma criança conversando com um adulto, e o adulto a questionando: "Então, você quer mudar o mundo sozinha?". E ela disse: "Eu não estou sozinha, somos muitos; apenas estamos espalhados, mas começamos a nos unir". E aqui estamos.
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Conte conosco. Esse trabalho é fundamental em todos os sentidos, tanto para atuações interventivas, necessárias, quanto restaurativas, para curar feridas e dores, mas, acima de tudo, preventivas, a partir de uma transformação cultural da sociedade como um todo.
Gratidão a todos pela atenção e pela oportunidade. Luz e paz! (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Olha, Akira Ninomiya... Acertei agora?
O SR. AKIRA NINOMIYA (Fora do microfone.) - Acertou.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Pronto.
Olha aí, o senhor acertou em cheio, com o coração, falando, dando esses exemplos que fazem a gente ver na prática a ação da mediação de conflitos, dos resultados dela. Eu lhe agradeço muito pela sua presença. Eu estava até anotando alguns pontos aqui. O senhor falando, e lembrando um pouco de alguns momentos da minha vida em que eu tive a oportunidade, através do movimento chamado MovPaz... Nildo também conhece bem.
Se você pegar o Dicionário Aurélio, está lá o verbo pazear. Eu pazeio, tu pazeias, ele pazeia, nós pazeamos, vós pazeais, eles pazeiam, ou seja, é um verbo transitivo direto. E o mais interessante dessa história toda... Transitivo indireto, não é? O mais importante dessa história toda é o seguinte: é que é ação. Paz... As pessoas confundem paz com tranquilidade, com a ausência de violência. Paz é muito mais do que isso; paz é dinâmica, é ação, é justiça social. Paz é fazer o bem. Então, está aí o verbo no nosso dicionário. Isso muda tudo. Isso muda tudo, não é?
E a cultura da violência, que está muito arraigada... Você pega os filmes a que nós assistimos na vida da gente, os adolescentes, nossos filhos, hoje em dia, muito mais delicado... Os pais precisam estar muito atentos aos filhos, porque há esses jogos violentos, aquilo vai criando uma cultura, vai criando um condicionamento.
E olha as coisas, os sinais... Eu gosto sempre de observar os sinais. Semana passada aconteceu uma tragédia. Não sei se vocês ouviram falar. Um pai proibiu o filho de jogar na internet, essas coisas todas, e o filho matou o pai, a mãe, feriu a irmã, uma tragédia que aconteceu aqui no Brasil. É o vício, é um novo vício esse vício digital, que é uma audiência que nós vamos fazer, sobre isso. A gente já está trabalhando. Precisamos ter cuidado com isso.
Mas a cultura da violência está nos filmes a que a gente assistiu. Quantos tiros são dados ali num filme daquele? É o Rambo aqueles filmes Duro de Matar, aquelas coisas todas. Ali vem a cultura da violência. As cantigas de ninar, por exemplo... Quem já não cantou para o seu filho: "Atirei o pau no ga-tô-tô, mas o gato..."? Atirar o pau no gato, o que tem a ver isso? Olha o que vai incutindo na cabeça, não é?
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Há outra também que é aquela em que você diz que vai resolver situações com uma ação só, e você diz: "Vou matar um coelho com uma cajadada só"...
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - "Vou matar dois coelhos com uma cajadada só", exatamente, quer dizer, é a cultura da violência em ação. A gente tem que reprogramar tudo isso. A solução dos que fazem a cultura da paz, que se dedicam a isso - o MovPaz, é um dos movimentos; eu mando aqui um abraço para o Clóvis Nunes; mando um abraço também para o Cleber Costa e para o Almir Laureano -, eles colocam assim: "Vamos alimentar dois coelhos com uma cenourada só". (Risos.)
Olha como ficou diferente: "Vamos alimentar dois coelhos com uma cenourada só". Então, quer dizer, é até uma questão de respeito aos animais, à vida. Eu acho que a gente tem que se esforçar. E só em pararmos para pensar e ver... Rapaz, eu nunca imaginei: "Atirei o pau no gato... Rapaz, está errado isso". Então, isso já muda, isso é consciência, vai despertando a consciência.
Você falou nos valores, você deixou muito claro nessa conversa com o neto do Gandhi, não é isso? Como é o nome dele?
O SR. AKIRA NINOMIYA (Fora do microfone.) - Arun Gandhi.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Arun Gandhi, que um dia a gente vai ter a honra de trazer aqui no Senado Federal, já conversei com você sobre isso, numa oportunidade em que ele vier.
E eu tive a oportunidade, Vandinha, de estar na Índia; eu fui à Índia, uns 15, 20 anos atrás. Eu me perdi, no carro, estava conhecendo, me perdi, estava com a família, e vi uma criança embaixo de uma árvore, com um livro dessa grossura aqui, estudando. E aquilo foi muito marcante, porque eu disse: "Você pode me dizer onde é que fica o Aishwarya do Sai Baba?", eu perguntei, eu estava procurando ali. Aí, a criança com muito amor - você nota o olhar amoroso -, com muito amor: "Boa tarde!". Quer dizer, eu cheguei logo... "Boa tarde!" Mas não foi querendo julgar, era a educação dela. "Boa tarde!" "Opa, boa tarde!" "O senhor vai por ali, por aqui; se quiser, eu posso lhe explicar tudo." Aí, eu disse: "Você estuda onde?". "Eu estudo numa escola que é fundada por esse senhor que o senhor está indo visitar, o Aishwarya dele". Eu disse: "Eu não sabia que tinha escola".
E aí eu fui descobrir que existe escola que está fazendo uma revolução na Índia, com um método de educação chamado Sathya Sai Educare, que já tem... Aí, quando eu cheguei ao Brasil, já havia escolas no Brasil, eu não sabia, com esse método em valores humanos; no mundo todo, existe até universidade na Índia. E as pessoas que são formadas nessa universidade - olha que coisa interessante - são disputadas pelas grandes empresas americanas e europeias, porque sabem que um cidadão que é formado ali: ele é integro, ele é cooperador, ele tem valores e princípios bem definidos com relação à honestidade, ele vai servir. Então, é muito interessante a revolução.
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Aí, só para concluir, são cinco valores desse método: paz, amor, não violência, retidão e verdade. Quem sabe um dia a gente possa ter esse método de forma institucional no Brasil - no Brasil! -, política pública. É outro seminário pelo qual a gente está trabalhando aqui dentro do Congresso para ouvir o MEC, trazer os cinco valores. Essas escolas estão assim, é incrível a autoestima das crianças. Há no Ceará, há várias no Ceará já; há em Ribeirão Preto; em Pernambuco; e é impressionante a autoestima dessas crianças, sabe? E lá, Ulisses, como eu sei que você é vegetariano desde que nasceu...
O SR. ULISSES RIEDEL (Fora do microfone.) - Desde que nasci.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - ... eles têm, no método da escola, um princípio de defesa da vida. Então, eles revolucionam ali ao redor da comunidade com soja, com tudo, a alimentação das crianças, ao ponto de, uma vez, eu estar nessa escola e um pai chegar e dizer: "Olha, o meu filho fala de uma carninha que tem aqui que é tão saborosa e tudo, como é que faz para...". Entendeu? Só que era soja. (Risos.)
Então, é algo muito interessante o que há de coisas para se desenvolver.
Eu queria também falar sobre conflitos, eu não sei se vocês ouviram falar - o Prof. Jean Carlos vai falar daqui a pouco, vai ser o próximo a falar -, mas eu já queria comentar sobre um método, uma ferramenta. Eu conversei com alguns juristas, inclusive houve um seminário, houve uma audiência pública semana passada na Comissão de Assuntos Sociais, que eu estava presidindo, sobre constelação familiar. Não sei se vocês já ouviram sobre isso, mas é um sistema, um método, uma ferramenta de cura sistêmica a partir de um alemão chamado Bert Hellinger, que foi quem desenvolveu essa técnica, e ela tem conseguido - e eu sou testemunha porque já participei de alguns grupos - desembaraçar nós que vêm de gerações em gerações. E, como você falou daquele exemplo, eu me lembrei muito da eficácia da constelação familiar. Eu não sei se vocês ouviram, mas há processos que acontecem há décadas e, às vezes, sentando, a pessoa fazendo a constelação em grupo, resolve-se isso. O Juiz Sami veio aqui dar o testemunho dele sobre o trabalho que está sendo feito lá na vara em que ele está à frente.
Mas eu já, imediatamente - pedindo desculpas por ser um pouco prolixo, eu sei que eu sou, mas a gente fica com entusiasmo de falar sobre esses assuntos que tocam a alma -, eu já passo aqui a palavra ao Sr. Jean Carlos Lima, autor e pioneiro em mediação no Brasil. Muito obrigado. É uma honra muito grande, Sr. Jean Carlos Lima, recebê-lo aqui.
Eu lhe passo a palavra por 15 minutos, com a tolerância desta Presidência.
Muito obrigado.
O SR. JEAN CARLOS LIMA (Para exposição de convidado. Por videoconferência.) - Exmo. Senador Eduardo Girão, bom dia. Ao saudá-lo, eu estendo minha saudação aos demais componentes e autoridades da mesa e aos colegas que estão aí neste momento neste evento. Uma saudação especial eu quero dar, porque está aqui à minha frente, à Dra. Viviane Rios Balbino, que está representando, pelo menos para mim agora, as mulheres neste evento.
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Para mim, é muito orgulho ver vocês à frente da mediação. E, em regra, quando eu comecei minha peregrinação com a mediação, comecei a falar com as mulheres sobre mediações e conciliações, pioneiras também no Brasil como a Dra. Nazareth Serpa, pioneira também em mediação de conflitos. Congratulações!
Congratulo também os organizadores deste fabuloso evento. Se não fossem eles, esse pessoal que está aí nos ajudando nessa tecnologia, não estaríamos aqui. Quero dizer que é uma honra estar nesta Casa, mesmo de forma remota.
Agradeço imensamente o convite. Sinto-me muito honrado e orgulhoso.
Um abraço enorme e forte ao meu amigo e irmão Akira Ninomiya.
O nosso tema: "O Papel do Brasil na Mediação de Conflitos e Construção de uma Cultura de Paz".
Eu peço já permissão, Exmo. Senador, para falar de um texto deste meu livro, este meu livro sobre mediação restaurativa. Foi um método que eu criei - mediação restaurativa - e já vou mandar exemplar para o Sr. Senador. Mediação restaurativa foi um método criado por mim. E eu quero iniciar com a reflexão, através de vocês, para que nós possamos refletir sobre essas palavras de Cora Coralina. Então, ela disse: "Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos faz sentido se não tocarmos o coração das pessoas".
Exmo. Senador, essa sua iniciativa de promover este encontro eu vejo como mais do que um encontro para falar sobre a papel do Brasil na mediação e esta construção da cultura de paz, mas, sim, ele teve um outro viés: tocar o coração das pessoas. O meu, pelo menos, está sendo extremamente tocado pelo que eu ouvi, pelos depoimentos, por suas palavras.
Quando o senhor falou sobre aquelas canções, eu, nas minhas aulas como professor, sempre cito as canções como aquela: "Boi, boi, boi, boi da cara preta..." - não é, Senador? Existe aquela também: "Dorme neném, que a cuca vem pegar...". Então, incitamos a violência. Enquanto o senhor fala nessa palavra de linguística para a paz, eu criei um método chamado de linguística da violência, que é a comunicação violenta. O Marshall Rosenberg tem um trabalho chamado comunicação não violenta, e eu tenho um trabalho chamado linguística para a paz. Quanto ao verbo "pazear", eu tenho uma canção - eu sou músico também -: Vamos Pazear.
Quando nós falamos sobre mediação de conflitos, sobre paz, vamos iniciar pelas bem-aventuranças, Mateus 5:9: "Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus". Bem-aventurados os pacificadores! Ora, também assim eu quero ler para vocês - o que todos nós já sabemos, mas a gente lê - o preâmbulo da nossa Constituição. Quando falamos em guerra, em fazer guerra, eu lembro também Madre Teresa de Calcutá. E uma vez ela disse: "Se fizerem uma caminhada, um protesto contra a guerra, não me chamem, porque eu não vou. Mas, se vocês fizerem uma caminhada a favor da paz, contem comigo". Interessante essa forma da Madre Teresa falar. E o nosso preâmbulo da Constituição é muito claro quando ele diz: "Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade [...]".
A liberdade advém da paz, a segurança advém da paz, o bem-estar advém da paz, o desenvolvimento advém da paz, a igualdade advém da paz. A justiça, como bem pronunciou o Senador, advém da paz, como valores supremos de uma sociedade fraterna. Fraterna, da palavra fraternidade, que vem de philadelphias. É o amor em família, isso sim, pluralista, sem preconceitos, fundada na harmonia social, que só é por meio da paz, comprometida, nas ordens interna e internacional, com uma solução pacífica de controvérsias.
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Então, nós temos aí já um bom momento para refletir sobre o momento que nós estamos vivendo, sobre a conduta do Brasil em relação a este mote.
A Dra. Viviane falou sobre nossos princípios. E eu, como doutor em direito internacional, vibro com isto: quando falamos que nós somos avessos a qualquer... Que tudo será resolvido por meio da solução de conflitos, por meio pacífico de solução de conflitos. Parabéns, Doutora! É muito bom essa lembrança para nós, precisamos dessas lembranças.
Quando a paz depender de nós, devemos fazer com todos... A mediação de conflitos não se resume apenas a um método. Eu criei um método restaurativo, porque eu acredito na restauração. É como o Akira Ninomiya bem citou aí. A mediação não é estanque, você não está mediador, você é mediador. A mediação é uma mudança de estilo de vida. Enganam-se - é assim que eu sempre penso - os que acreditam que a paz, como pazear, é um presente, o cidadão me disse, não é presente; pazear é movimento, pazear é ação. Ao contrário, essa paz é gerúndio, a paz é gerúndio.
E conquistar a paz requer prática com as palavras, requer prática com o comportamento, requer prática com a conduta. Portanto, para que tenhamos essa paz e essa divulgação da mediação... Quando eu comecei a trabalhar com mediação de conflitos no Brasil na década de 80 - eu era jovem -, eu fazia mediação, e muitas pessoas pensavam que mediação tinha a ver com meditação, que mediação tinha a ver com as próprias questões do próprio Chico Xavier, do Allan Kardec. Pensavam isso! Eu ouvi muito dizerem: "Mediação não vai funcionar". E a mediação está há muitos e muitos anos em nosso seio. Estamos trabalhando para isso, por este momento em que estamos aqui falando sobre isso, sobre mediação de conflitos. Estamos falando sobre paz, não essa paz também tão romântica. O senhor muito bem disse que a justiça também vai trazer a paz. Claro! Portanto, a mediação depende destes três elementos: praticar com as palavras, praticar com o comportamento e praticar com a conduta.
Waldo Emerson disse: "O que você é fala tão alto que eu não escuto o que você diz". É verdade! Temos muitas pessoas falando sobre paz, muitas pessoas falando sobre harmonia social, mas isso só sai da boca para fora. A questão é: você vive a paz? O que você é fala tão alto que eu não consigo escutar o que você diz!
Quando falamos em mediação de conflitos, nós temos que entender que é um fortalecimento da sociedade. Na mediação de conflitos, não existe o meu direito, o seu direito, minha lei, minha outra lei, mas sim o que nós podemos entender, o que nós podemos conversar para que possamos entender o que estamos vivendo.
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Ora, na maioria das vezes, quando as pessoas vão falar de mediação ou vão procurar fazer mediação, elas falam de seu conflito, das dores que elas estão vivendo, das mágoas. Ora, isso eu já sei, a dor que eu estou vivendo eu já sei, o conflito que eu estou vivendo eu já sei. A ênfase precisa ser... Não é tem de ser, ela precisa ser no que eles estão de acordo. Ninguém é totalmente contrário a uma coisa nem ninguém é totalmente a favor de algo.
Eu ensino sempre para meus alunos que nunca discordem... Vocês devem estar perplexos agora: "Como é que não vou discordar?". Ora, vamos pensar um pouco: não discordar não significa concordar, porque tudo é um ponto de vista. Leonardo Boff diz que todo ponto de vista é visto por um ponto de vista. Thomas Campbell diz que o princípio da sabedoria é saber que nós todos temos nossos pontos de vista, que estão dentro de nós por meio da nossa cultura, por meio das nossas tradições, por meio de nossos princípios, que são dados pelo berço e pela família, e depois vêm os valores, aqueles que são apresentados pela sociedade, aqueles que nos entregam.
Nós queremos muito que as pessoas sejam boas, nós queremos muito que as pessoas pratiquem a paz. E eu? E você? Marco Aurélio, estoicismo na veia, Marco Aurélio dizia "lute para que o homem seja bom". Seja você esse homem bom.
Exemplo? O exemplo é fundamental. Palavras convencem, mas os exemplos arrastam multidões - alguns atribuem a Confúcio. Aí, quando eu falo sobre paz, eu falo sobre guerra, eu falo sobre harmonia, eu falo sobre mediação, que é o cerne do nosso papel hoje, tema.
O papel do Brasil na mediação de conflitos, na cultura de paz, é esse aí que o senhor está fazendo agora, esse momento de coragem, porque falar de paz, Exmo. Senador, é um ato de coragem, é um ato de coragem. Perder o controle é para qualquer um, mas manter-se equilibrado é um ato de coragem, e isso requer competência, isso requer competência, esse ato de coragem. Perder o controle, brigar, criar uma guerra, todo mundo faz, mas manter-se sóbrio, saber escutar as duas partes, como disse Sêneca... Por mais justa que seja a justiça, se você não escutar as duas partes, não foi feita a justiça; você decidiu com base apenas naquilo que você ouviu.
A Dra. Viviane, com muita propriedade, enaltece a neutralidade. Fico muito lisonjeado em ouvir essas expressões vindo da sua casa, da senhora. A neutralidade, a imparcialidade... A imparcialidade está em não dizer quem está certo ou está errado, mas a neutralidade, como bem preconiza a Carta das Nações da ONU, significa não opinar, mas sim estimular o outro a encontrar o seu caminho. Porque, quando eu digo a alguém o que fazer, não foi aquela pessoa que tomou sua própria decisão, ela foi induzida a seguir uma decisão que eu quis, com fundamento naquilo que eu entendo que é a vida, e talvez, mais tarde, ela diga: "Não era isso que eu queria".
As pessoas, para chegarem à paz, precisam entender que precisam agir por si sós, e é isso que a minha mediação restaurativa faz, ela provoca no outro o entendimento "eu encontrei a paz".
Akira Ninomiya falou que muitas vezes nós vamos encontrar... Já encontrei, Dr. Akira Ninomiya, na minha trajetória, muitas questões que mexiam com o meu interior.
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Então, eu agora lembro Ruy Barbosa: "Não se evita a guerra [armando-se] preparando a guerra. Não se obtém a paz senão aparelhando a paz". Ruy Barbosa. Não é Jean Carlos Lima Dal Bianco. Não. Ruy Barbosa. Não se evita uma guerra preparando-se para a guerra; não se obtém a paz, senão aparelhando-se para a paz. E é isso que nós vivemos, e é isso que a mediação faz. É isso a cultura de paz, quando o doutor falou na constelação sistêmica. Que maravilha! Fico deveras tocado quando escuto um Senador em um Plenário falar sobre direito sistêmico, constelação sistêmica. Realmente, o senhor está de parabéns, o senhor é um homem muito corajoso. Parabéns! Isso realmente me motiva em saber que estou no caminho certo. É isso mesmo. Constelação sistêmica do Bert Hellinger tem feito coisas maravilhosas.
"Mas, Jean Carlos, por que nós não conseguimos muitas vezes a paz?". É aquela charge do meu amigo Akira Ninomiya: nós somos muitos, só que estamos separados.
Eu vou elencar aqui três razões pelas quais nós muitas vezes não encontramos a paz. Bom, primeiro quero dizer que a mediação de conflitos, como eu disse, não é um método, mas é um estilo de vida, é uma filosofia de vida. Nós precisamos constantemente viver esse papel de mediador, de apaziguador, de pazeador, pelas três razões que eu vou dizer para vocês. A primeira razão: porque vivemos sempre esperando alguém que venha nos salvar, vivemos sempre esperando por um salvador da pátria. A segunda razão: vivemos sempre, sempre esperando qual é o melhor dia, mas não deixa melhorar, vai chegar o dia certo, e vivemos sempre esperando a melhor hora. Portanto, três elementos: esperamos uma pessoa para fazer aquilo que nós devemos fazer, como estamos fazendo agora, como o senhor desbravou para fazer isso agora; vivemos esperando o dia, e o senhor criou o dia para fazer isso agora, Exmo. Senador; esperamos a hora, e o senhor criou a hora. Seria dia 1º de abril - não estamos hoje no 1º de abril? -, às 10h, numa sexta-feira. Portanto, o senhor cumpriu o que disse Barack Obama no seu discurso de posse. As pessoas que esperamos para resolver nossos problemas, o dia que esperamos para resolver os nossos problemas e a hora que esperamos para resolver os nossos problemas não existem, porque nós somos essas pessoas, o dia é hoje, a hora é agora.
William Shakespeare disse que se leva tudo, e, com o tempo, a gente aprende, a gente descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que você deseja ser. Não é fácil, vai se levar muito tempo para se tornar esse país de cultura de paz que nós queremos, educando para a paz. E o tempo é curto. Com o tempo, a gente aprende que não importa até o ponto aonde chegamos, mas para onde queremos chegar. Isso que é importante. Sêneca dizia que não importam bons ventos para o marujo que não sabe para onde ir.
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Eu encerro este meu momento de falar com vocês com um pequeno trecho de uma canção, e convoco vocês - mesmo simbolicamente, não podemos estar juntos - a que nos deem as mãos, agarremos as mãos um dos outros, e cantemos em uma única voz um trecho que diz o seguinte:
Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs
Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar
Fé na vida, fé no homem, fé no que virá
Nós podemos tudo, nós podemos mais
Vamos lá fazer o que será?
É isto que nós estamos fazendo, viemos fazer: o que será? Nós estamos agora fazendo o futuro.
Agradeço imensamente ao Exmo. Senador pela oportunidade. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Que lindo! Que lindo, Prof. Jean Carlos! Realmente... O Akira tinha dado excelentes referências do senhor, mas eu confesso que fiquei aqui muito positivamente surpreendido. Acho que o senhor encantou a todos nós aqui. Muito obrigado pela sua participação. Aliás, a frase que o senhor falou... O senhor pode repetir a frase do Ruy Barbosa sobre a paz? Eu vou lhe contar - o senhor sabe, mas vou contar para quem está nos assistindo, vou dar uma informação importante... A frase que o senhor falou, do Ruy Barbosa, o senhor pode colocar?
O SR. JEAN CARLOS LIMA (Por videoconferência.) - "Não se evita a guerra preparando a guerra. Não se obtém a paz senão aparelhando a paz."
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Muito bem, muito bem.
Ruy Barbosa, esse grande baiano, é o nosso patrono. Está aqui ele - peço até que as câmeras mostrem aqui, se possível. É o patrono em quem todo dia a gente, deliberando aqui, tenta se espelhar. Tem cada passagem dele, hein, Ulisses? Cada passagem! Parece que era um homem que estava à frente do seu tempo, de vanguarda, de vanguarda total. É o nosso patrono.
Eu queria, já que o senhor nos deu a honra de cantarolar essa música inspiradora, no final, pedir permissão a vocês para colocar a música Paz pela Paz, que é uma música do Nando Cordel. Eu acho que a construção dessa música é um convite ao serviço, à ação. A paz é ação. Para mim, o Nando Cordel, meu amigo, de quem eu gosto muito, ganhou essa encarnação só com essa música. Imaginem com as outras coisas de bem que ele faz, com os orfanatos aos quais ele se dedica, enfim! E tem outra música também, chamada: Sal da Terra. Não vai dar para gente passar hoje, mas é outra que também é fantástica e que nos inspira todo dia.
Eu passo agora, imediatamente, a palavra para o senhor, meu amigo, meu irmão de longas datas, o Elianildo Nascimento, que é do Conselho Nacional dos Direitos Humanos, faz parte, há muito tempo; também integra a Iniciativa das Religiões Unidas (URI); também integrou o MovPaz, o Movimento Internacional pela Paz e Não Violência.
Passo a palavra. Muito obrigado, mais uma vez, pela sua presença. O senhor tem 15 minutos, com a tolerância da Casa, para fazer seu pronunciamento.
Muito obrigado.
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O SR. ELIANILDO DA SILVA NASCIMENTO (Para exposição de convidado.) - Vou marcar aqui para não atrapalhar os outros. Deixe-me só pegar uma...
Pois bem, antes de mais nada, eu não poderia deixar de iniciar a minha fala - creio que em nome de todos nós que conhecemos e temos atuação junto com V. Exa., Senador Girão - hipotecando nossa solidariedade, nosso reconhecimento pelo fato de que, há cerca de duas semanas, a imprensa, em todo o Brasil, difundiu que o senhor, outras Senadoras e outros Senadores, aqui nesta Casa, foram vítimas de ameaças de morte por defender uma pauta em que somos aliados: a pauta do controle de armas e munições no Brasil. Desde 2019 para cá, tivemos - que eu me lembre - cerca de 33 propostas de decreto, normativos ou portarias que flexibilizam armas e munições no país. E isso vai a bem de quê? Quem é que ganha com isso? Não somos eu, você, nós cidadãos. São as milícias, são aqueles grupos criminosos e aqueles que pretendem ou querem usar a violência e a força para outras tantas ações. Então, eu não poderia deixar de iniciar esta fala e dizer da nossa admiração pela sua defesa por esse tema, aqui no Senado, como sendo um dos Senadores que carregam o piano nesse contexto, nessa perspectiva.
Pois bem, eu queria, já que vocês... Eu queria iniciar... Quer dizer, passo, primeiro, agradecendo também... No segundo momento, quero agradecer esta honrosa possibilidade de, mais uma vez, estarmos aqui no Senado Federal, em audiências públicas, e iniciar com a frase de um camarada de que gosto muito, que está com 100 anos, já próximo a completar 101 anos, que é o filósofo e educador francês Edgar Morin, que nos exorta a um... Eu sou bem cegueta e vou ler aqui para não me perder. Tem tudo a ver com essa proposta magnífica que V. Exa. traz, aqui para o Senado Federal, de o Senado Federal dialogar nas suas competências, nas suas prerrogativas, em apoio também ao MRE, em apoio a outra Comissão - nós temos, aqui no Senado, a Comissão de Relações Exteriores e, na Câmara Federal, também temos uma Comissão de Relações Exteriores -, para apoiar a construção não só de indicativos, mas também de possibilidade de diálogo ou orientações ao próprio MRE ou a outros órgãos no sentido daquilo que aqui se propõe.
Edgar Morin nos traz uma reflexão muito rápida. Ele nos pergunta: "Para onde vamos? Onde estamos, humanos? Hoje em dia é necessário ter consciência de que pertencemos à espécie humana, que tem um destino comum frente a tantos perigos terríveis. Não existe essa consciência [infelizmente], mas o oposto dela. A crise, a angústia fazem com que as pessoas se fechem em suas próprias identidades, etnias, religiões, nações". Ele nos exorta, portanto, a que possamos trabalhar para ensinar que temos um pertencimento humano.
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Nós todos somos um nesta existência aqui na Terra.
Já tínhamos problemas poucos. Aqui eu me lembro, Senador, Excelência, e Senador Ulisses também, de que, no ano passado, no segundo semestre do ano passado... Vocês vejam o tamanho dos desafios que nós temos, a humanidade! No segundo semestre do ano passado, de 2021, pela primeira vez se registraram em regiões do Ártico - isso se deu no Ártico! - 38 graus de temperatura. Ora, aquilo que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas... Após a ECO 92, se constitui... Começam a fazer os relatórios e a apontar os problemas que viriam, que iriam acontecer, entre os quais as pandemias. Mas erraram no sentido de que aquilo que, metodologicamente, foi previsto para 2060, para 2070, em 2007 e em 2008 já estava em franca...
Entre os problemas, nós estamos ainda sofrendo com o problema da pandemia, que, creio, ainda deverá demorar. Por quê? Nós estamos aqui com a nossa querida Marisol. Há países africanos que não conseguiram sequer vacinar 2% da população. Então esse processo ainda vai demorar algum tempo. Isso ainda vai demorar algum tempo. E o pior... Eu não tenho medo dessa, porque já existia um vírus anterior, o que possibilitou essa rapidez na construção das vacinas. Eu tenho medo daqueles vírus e bactérias que estavam congelados no Ártico e que foram, a partir do degelo... Eles estavam lá há milhões de anos e, a partir do degelo, estão aí soltos. E poderão advir outras tantas pandemias.
Então, feito esse parêntese, a nossa querida Conselheira do MRE trouxe alguns pontos que eu queria mencionar acerca... Há três pontos que, na minha fala, eu queria enfocar, que seriam a questão da expressão do Brasil no cenário global, o atual momento histórico e a formação de possíveis contribuições à cultura da paz.
A nossa ilustre representante do MRE trouxe aqui um pouco da nossa história: Alexandre de Gusmão; José Bonifácio; Osvaldo Aranha, na construção da ONU; Bertha Lutz; Odette, que foi a primeira embaixadora, a primeira mulher embaixadora, e que é uma brasileira. É a Odette Dias; se não me engano, esse é o seu segundo nome.
Já que estamos no contexto do Senado Federal, com suas prerrogativas, nós devemos lembrar que... Entre esses princípios que, ao longo desse tempo, foram constituídos no âmbito da diplomacia brasileira, destacamos os aqui já mencionados princípios da neutralidade, da soberania, da não intervenção, do diálogo, que, inclusive, é constante da nossa Constituição, como mencionado. Há o princípio da igualdade jurídica entre os Estados, princípios atinentes ao repúdio ao colonialismo que decorreu. O diálogo Norte-Sul, quando existia uma ênfase muito grande na separação Leste-Oeste, em que se retoma, nessa nova configuração, a partir de 2000 e muito precisamente agora... O Brasil foi um dos precursores na construção do diálogo Norte-Sul e também no chamado diálogo Sul-Sul com os antigos países não alinhados ou países do terceiro mundo. Há o direito ao desenvolvimento e também à multilateralidade.
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Então, são alguns aspectos que são fundantes da nossa diplomacia brasileira e em que, efetivamente, nós temos que - aqui não é muita coisa, não, é porque a letra é bem grande para eu não esquecer - nos ater, até para poder construir outras pontes e/ou propor outras ações.
Segundo item: no atual momento histórico - acho que foi bom aqui a gente trazer isso. Nós temos vivido isso e já era previsto desde o início deste século, Senador Girão, Senador Ulisses, Marisol e querido Akira, que estão aqui na mesa, presencialmente -, e, no ano 2000, 2 mil e pouco, já era prevista uma mudança do eixo, digamos, do poder geopolítico global dos Estados Unidos e da Europa para um compartilhamento com a Ásia. Então, por exemplo, 2025 e 2026 eram as datas que eram mencionadas, à época, em que esse processo iria se configurar - menino, como eu falo! Já são nove minutos! -, e, nesse contexto, de certa forma, a pandemia veio promover um avanço, uma rapidez nesse processo.
Com a pandemia, nós tivemos, pela primeira vez em tanto tempo, a impossibilidade dos intercâmbios comerciais, das idas e vindas para os estados, e, a partir daí, também começou a haver uma reconfiguração dos processos, seja mercadológico, transnacionais, de voltarem ao menos às suas regiões ou aos seus países, etc. Houve uma reflexão sobre isso, porque, por quase um ano, dois anos, houve o impedimento desse fluxo. E, dentro desse contexto também, vê-se o estabelecimento de uma nova reconfiguração global no que tange ao que chamávamos de globalização para esses, digamos, novos cenários - cenários em que há, por exemplo, países como os Estados Unidos, com mais de 3 dezenas de trilhões de déficit, tendo seus papéis sendo comprados por europeus, mas também pela China e pela Rússia -, agravados agora com esse conflito que se estabeleceu, mas que tem suas origens lá atrás.
Nós não podemos esquecer isto: o conflito que nós estamos vivenciando hoje, essa situação na Ucrânia, tem como pano de fundo o mesmo panorama que, infelizmente, tivemos no passado, desde o pós-1945, a chamada Guerra Fria, que hoje é chamada de Guerra Fria 2.0, a partir de 2000, que vai por outros mecanismos, inicialmente no campo financeiro, de produção, etc., mas que agora se configura para um novo processo em que talvez, se não todos, os acordos de Bretton Woods devam cair. Já estão sendo estabelecidos novos modelos que substituem, por exemplo, o sistema Swift, que era das transações comerciais, etc. Então, para isso, já há modelo novo. A questão do petrodólar, as negociações referentes a petróleo, por exemplo, agora estão sendo feitas em yuan.
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Isso já era previsto há uns cinco anos, mas está sendo estabelecido de uma forma mais concreta agora, também com a questão do rublo, que são parte desse conflito, uma parte que não aparece por trás...
E aí me lembra o Noam Chomsky, um grande pensador e filósofo norte-americano, que fala o seguinte: "As pessoas não sabem o que está acontecendo e muito menos sabem que não sabem". Por quê? O que aparece na mídia é uma parcial de um contexto muito maior que está por trás de uma briga de ordem geopolítica que tem as suas...
E aí nós estamos aqui... Por exemplo, um dos princípios fundantes de que nós estamos falando aqui referentes à diplomacia brasileira é a questão da autodeterminação dos povos, que, muitas vezes, só vale quando há um interesse específico das grandes potências naquele espaço, mas não vale, por exemplo, para o Iêmen, que continua sendo bombardeado com o apoio de países da Arábia Saudita e do próprio Ocidente. Morrem dezenas de milhares de pessoas, e nada se faz. Não se lembrou disso quando se instituiu, ao longo desse período histórico, a questão Irã x Iraque, a guerra Irã x Iraque, depois especialmente com o Iraque, depois com a Síria, depois com a Líbia, e tantos outros países em que esse princípio não é visto por esse contexto, mas é visto agora para a Ucrânia. Por quê? Porque há interesses outros.
Então, a gente tem que ter essa noção de o que está realmente acontecendo. Está havendo, sim, um processo de separação. Não sei o que virá, mas um novo Bretton Woods terá que ser feito, ou haverá... E aí é onde há o contexto, por exemplo, na questão do... A gente está falando do dólar como moeda hegemônica etc etc, e isso está bem complicado em função...
(Soa a campainha.)
O SR. ELIANILDO DA SILVA NASCIMENTO - Vou chegar aqui só ao finalzinho.
Em função de que o que se coloca agora como alternativa é baseado e é lastreado por commodities. E, nesse contexto, é um caminho sem volta. O mundo que nós tínhamos, o mundo passado não voltará mais. Essa construção nova agora - e aqui todos nós temos parte nesse contexto - deverá...
Encerrando para o último ponto e muito rapidamente sobre a formação de possíveis contribuições da cultura de paz, acho que, de nossa parte, deverá haver uma boa atuação em que se possa, por exemplo, usar aquilo de bom que foi o fato da nossa própria Constituição enquanto nação, que foi, apesar de toda a desgraça que foram os processos colonizatórios, a morte... A miscigenação nossa foi em cima da morte, do estupro, do roubo, da exploração, mas, depois, com a vinda de outros países, de outros povos para cá, mas de uma forma mais light, digamos assim... Mas nós sequer conseguimos resolver aqui ainda essas diferenças e os problemas advindos de todo esse processo colonizatório.
Nós temos também que relembrar que os pressupostos para uma construção da paz devem estar estabelecidos em cima da defesa dos direitos humanos, que estão sendo dilapidados. Isso não é só aqui, mas há um processo de desconstrução, inclusive da nossa Constituição Federal, na questão dos direitos humanos. Há um processo de minimizar quaisquer que forem os direitos sociais e dentre eles os humanos. Então, nós temos que rever esse processo, compreender esse processo e, ao mesmo tempo, colocar como uma das pautas de discussão, no que tange a possíveis proposições, caminhos de diálogo, esse aspecto. Nós não podemos reverter, voltar a um padrão, a um patamar que é de antes de 1948. A construção dos direitos humanos que eu considero vem desde 1800 antes de Cristo, os primeiros documentos, desde Hamurabi, o Cilindro do Rei Ciro, na Mesopotâmia, que traz os quatro primeiros... Já encerrando, Senador... Quatro dos primeiros artigos da Declaração Universal, os primeiros artigos são baseados no Cilindro de Ciro, que é um documento de 532 antes de Cristo. O primeiro rei que reconheceu a igualdade racial, que deu a liberdade de as pessoas terem a crença nos deuses que quiserem, que libertou os escravos.
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Então, isso é um processo muito longo. E aí a gente entende que nossa história enquanto humanidade é repleta de muita guerra, muito sangue, mas, dessas guerras e desse sangue, muitas vezes saíram construções que levaram a esses avanços. Demorados? Sim, muito demorados. Mas esses avanços não podem retroceder. Nós não podemos ter uma perspectiva que seja como vivenciamos hoje no Brasil e em muitas partes do mundo, anticivilizatória, que nega os direitos das pessoas, que nega a humanidade das pessoas.
E é nesse contexto, já encerrando, que entendemos que nos somaremos, estaremos sempre à disposição de chamar outras organizações, outras tantas, no sentido de fortalecer essa proposta magnífica que V. Exa. traz aqui para o Senado Federal, abraçado por tantos outros Senadores, tantos outros Parlamentares, no sentido de trabalhar a paz.
Então, agradeço imensamente essa oportunidade. E um grande abraço a todos e todas. Obrigado, Senador. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Muitíssimo obrigado. A gente que agradece, meu querido irmão Elianildo Nascimento. Tudo de bom. Muito obrigado mesmo pela sua participação. O Nildo - é que a gente o chama de Nildo - é do Conselho Nacional dos Direitos Humanos, também faz parte da Iniciativa das Religiões Unidas (URI) e também do MovPaz.
Eu queria aproveitar e chamar aqui agora, se possível, para nos dar a honra da sua presença, a Sra. Marisol Kadiegi. Eu lhe peço, por favor, Marisol, se você puder vir aqui, ficar aqui na mesa conosco, será uma honra. A Marisol faz parte da ONG União Planetária. (Palmas.)
Ela, que é angolana, adotou o Brasil e, quando estava, na época, em seu país, foi refugiada de guerra, não é? Então, ela vivenciou situações na pele com a sua família, e é o que pode, de uma certa forma, nos inspirar aqui para que... Deus abençoe. É jornalista e responsável pela produção da TV Supren. Muito obrigado, viu, Marisol? Muito obrigado pela sua participação aqui conosco.
O Elianildo fez umas colocações que me lembraram muito aquele tripé, Elianildo, do outro movimento do qual você faz parte, que é o MovPaz, não é?
(Intervenção fora do microfone.)
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O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Você falou de paz social, paz ambiental e paz interior, é o pilar. Aqui fechou; se houver equilíbrio aqui, der a importância a esses três pilares aqui, eu acho que a coisa funciona.
E, sobre a questão da paz interior, eu queria lhe colocar: paz interior e paz social têm muito a ver com o tema que o senhor abordou, que é essa questão de arma de fogo. É outro lobby poderoso que atua mundialmente; aqui no Congresso, não seria diferente. E a gente está nessa trajetória, para levar luz a esse tema.
A gente sabe que há clubes de atiradores, caçadores, colecionadores que são clubes sérios, com pessoas que atuam, de fato e de direito, nessa área, e que, de uma certa forma, têm uma trajetória. Mas o que a gente tem visto, nos últimos três anos, infelizmente é uma proliferação sem nenhum tipo de precedente. Antes, havia 150 mil clubes, aliás, CACs, pessoas autorizadas a utilizar armas, transportar, essa coisa toda; hoje, há 600 mil, ou seja, quase 600 mil, triplicou! Então, há alguma coisa errada, não é? Parece-me que é um drible ao Estatuto do Desarmamento, que é uma lei que tem que ser respeitada, do Congresso Nacional.
Se quer questionar a lei, faz parte do Congresso a gente deliberar, dialogar, votar. Aí, se quer rasgar a lei, revoga, mas o que não se pode é dar bypass, como a gente chama, dar um balão no jargão do futebol; utilizar desses decretos que exorbitaram o poder, decretos presidenciais e, a partir daí, botar a régua lá em cima e começar a dar arma por aí, flexibilizar totalmente o porte, porque é um porte velado o que está acontecendo hoje. Então, nós temos um crescimento muito grande de CACs de direito, mas não de fato, porque não há aquela utilização dos clubes, não há algo que realmente justifique. Então, a gente precisa realmente...
E, na próxima semana - viu, Nildo? -, eu queria já lhe fazer o convite para você estar aqui conosco, porque isso deve ser votado aqui no Congresso Nacional e já passou pela Câmara. Olha a preocupação nossa: já passou pela Câmara, falta o Senado; se passar pelo Senado, vai para a sanção presidencial. E eu peço às pessoas que estão nos assistindo, que têm um compromisso com a paz... Eu não sou contra, não sou contra a pessoa que queira, que tenha o direito de ter a posse de arma de fogo, passando por todos os pré-requisitos, a posse em casa ou no seu comércio, como está previsto no estatuto, passando pelos prerrequisitos psicológicos, um treinamento; absolutamente, eu não sou contra. Eu não teria, eu não teria, por uma questão de... A gente sabe dos acidentes que acontecem com crianças; eu tenho filhos pequenos, adolescentes. Arma de fogo foi concebida no século XV, com o objetivo de matar.
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Então, é um direito que tem que ser resguardado. Agora, o porte, aí já são outros quinhentos, você andar nas ruas armado... Você imagina, com o nível de intolerância que a gente tem hoje das pessoas com elas mesmas, a paciência pequena, o desrespeito, um clima eleitoral se aproximando agora, de polarização extrema, eu acho isso muito preocupante. Você está no restaurante com a sua família, com a sua esposa, com seus filhos, e o restaurante é um ambiente que tem bebida alcoólica já, então, se tem alguém na mesa bebendo, ou você bebendo, aí a pessoa passa, mexe com a sua esposa, com a sua namorada, ou você acha que ela mexeu, você passaria... A minha vó dizia que a gente tem cinco minutos de burrice por dia, do interior do Ceará, nós temos cinco minutos de burrice por dia. Nesses cinco minutos, em que você pode ter brigado com o seu chefe, pode ter discutido com a sua esposa ou namorada, você sai da frequência. Já pensou se, nesse restaurante, com a família, em uma discussão acalorada por uma coisa banal, um saca uma arma, outro saca outra, e as crianças no meio, isso não é razoável para o Brasil de paz, para os processos civilizatórios para os quais a gente acredita que a humanidade já deveria ter avançado.
Briga de trânsito, briga de marido e mulher por uma coisa que pode terminar, o que já é errado, numa UPA, vai terminar no IML ou no cemitério com o acesso fácil à arma de fogo. Então, nós estamos vivendo um momento delicado. Essa pandemia Marisol, essa pandemia deixou marcas para gerações e gerações; crianças que não estudaram. Você está vendo agora o nível na volta às aulas. Aqui no Distrito Federal, vocês são daqui, as brigas que têm acontecido de crianças que já não conseguem conviver com... Então, brigas, gente levando faca, armas de fogo, confusões que estão acontecendo no país. O nível de automutilação e suicídio também aumentou muito, a gente está atento a isso aqui.
Já pedi dados às Secretarias de Saúde dos estados, ao Governo Federal para ver o que a gente pode fazer. Eu fui Relator do Plano Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio aqui no Senado, vamos ver como é que está essa implementação, porque a urgência desse assunto é grande. Muita gente sofrendo, muitas mãezinhas, muitos paizinhos, adolescentes, crianças - crianças! - com sentimentos que a gente não via, sentimentos de autodestruição. Então, é aí que vem o que o Nildo falou, é a paz interior. Eu falei da paz social, que é a questão das armas também, da fome que está batendo à porta, do desemprego e a questão da paz interior.
Então, eu já passo imediatamente a palavra aqui, agora, para fazer o seu pronunciamento - será o último palestrante nosso que já está conectado - ao Haroldo Dutra Dias, que está diretamente lá de Minas Gerais, ele que é Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado. Já conversamos muito sobre essa questão de mediação de conflitos. É um homem da paz, é um homem de bem e tem um projeto aí, em que ele está à frente, levando justamente esse sentimento de fraternidade, de espiritualidade, despertando as consciências.
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Eu faço o convite a Haroldo Dutra Dias. O senhor tem 15 minutos, com a tolerância desta Presidência para fazer a sua explanação.
Depois do Haroldo Dutra Dias, nós vamos ler algumas perguntas que chegaram. Não sei se há algum Senador - a Mesa vai me informar aqui - com perguntas, participação, mas eu vou ler também as do público, que aqui está participando e mandando perguntas. A gente faz a rodada final para encerrar, tá? - com as considerações finais dos palestrantes.
Muito obrigado, Haroldo Dutra Dias.
O SR. HAROLDO DUTRA DIAS (Para exposição de convidado. Por videoconferência.) - Boa tarde a todos.
Senador Eduardo Girão, eu quero agradecer a V. Exa. pelo convite, pela oportunidade em participar desta iniciativa que é tão importante, uma discussão lúcida, ampla, diversa sobre os vários aspectos da manutenção da paz.
Eu devo dizer que, na minha comarca, eu sou o coordenador do centro judicial de conciliação, que é uma criação estabelecida pelo Conselho Nacional de Justiça - todas as comarcas devem ter um centro de conciliação como etapa, inclusive, pré-processual. Portanto, a minha fala está lastreada nessa prática, nos resultados que temos obtido, com uma diminuição muito grande no ajuizamento de demandas judiciais, especialmente na área da família e em outras áreas.
Mas, toda vez em que nós somos convidados a refletir sobre a construção da paz - e de certo modo retomando a fala daqueles que me antecederam -, é sempre bom lembrar que a paz exige alicerces, a paz exige pré-requisitos. Nós costumamos nos preparar, e de maneira muito competente, para a guerra. A guerra conta com estrategistas, a guerra conta com um serviço de inteligência, a guerra conta com especialistas em armamentos, a guerra conta com uma indústria bélica, com pesquisas científicas, com todo tipo de estudo com o objetivo de matar e ferir.
E, veja, não há aqui nenhuma depreciação às nossas Forças Amadas, às instituições de defesa de um país, até porque, nos termos da Constituição, elas são instituições essenciais do nosso Estado democrático de direito. O que nós estamos querendo salientar aqui é que, quando a discussão se volta para a paz, nós acreditamos que é possível fazer paz apenas com boa vontade. Muitas vezes alimentamos a ilusão de que podemos fazer paz de improviso, de que a paz pode ser feita ou pode ser buscada e implementada, seja no âmbito individual, seja no âmbito social, seja no âmbito institucional, apenas com o desejo de harmonia ou o desejo de bem-estar. Ora, a paz também exige amplas estratégias; a paz também demanda um preparo dos indivíduos e das instituições; a paz exige uma linguagem, um protocolo de comunicação; a paz exige uma série de estratégias, incluindo psicológicas, para abordar e para interagir com o outro. Ninguém deve se lançar em uma tarefa de promoção da paz, sobretudo em casos de conflito iminente, especialmente naqueles casos de conflito grave, se não estiver preparado para fazê-lo, porque uma ação mal planejada, uma ação sem estratégia ou despreparada na promoção da paz é garantia de guerra!
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E nós vimos isso neste cenário da guerra Rússia e Ucrânia. O despreparo de Chefes de Estado para lidarem com a palavra, com o diálogo diplomático, com a postura diante do conflito, com um total improviso em manifestações e em tomadas de decisões, sem previamente um estudo estratégico de como deveriam se manifestar, de como deveriam se posicionar, de como poderiam promover a paz. Então, isso é muito importante.
A paz exige pacificadores, pacificadores são peritos da paz. O pacífico é o indivíduo que ama a paz, que busca viver em paz; é o indivíduo que evita causar dor, sofrimento, desconforto ao seu semelhante. Esse é o pacífico, mas o pacificador é um perito, o pacificador é um estrategista. Ele precisa se qualificar para a promoção da paz.
E, como dizíamos, a paz tem as suas exigências. E uma das primeiras exigências da paz é a justiça, porque qualquer proposta de construção da paz baseada na injustiça é como uma casa erguida sobre a areia - vêm o vento, a tempestade, as intempéries, e essa casa vai ao chão. A justiça é a base da promoção e da construção da paz, seja no âmbito individual, seja no âmbito familiar, seja no âmbito institucional, seja até mesmo no âmbito das nações.
E, como já abordado por aqueles que me antecederam - e, então, não vou me deter muito neste ponto -, temos alguns aspectos da justiça hoje, em um plano, em um nível, em um âmbito mundial, que merecem a nossa atenção. O primeiro deles é: nós temos um planeta cujos recursos são limitados. Temos um planeta que exige cuidados com recursos ambientais que não são renováveis ou com recursos ambientais que, mesmo renováveis, pedem tempo para serem renovados. No entanto, do ponto de vista mundial, nós adotamos hábitos de consumo e práticas comerciais que estão sobrecarregando a capacidade do planeta - a capacidade do planeta! Se nós tivéssemos, em todos os países do mundo, hábitos de consumo semelhantes aos de algumas nações, precisaríamos de oito planetas para abastecer esse consumo irracional, desigual, desenfreado. O planeta é limitado, essa é a grande discussão. E, vejam, não é uma discussão nacional, essa é uma discussão mundial. E essa discussão evoca outra, também muito importante, que é a participação dos seres humanos, de todos eles, nas riquezas produzidas pela humanidade.
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O que nós temos percebido é que a humanidade, com a tecnologia, com os avanços científicos, tem se qualificado para produzir riquezas, e assim deve ser, mas nós não temos visto a mesma racionalidade na distribuição dessas riquezas. Não temos visto a mesma racionalidade nas discussões sobre o acesso de todos... Vejam, não é de uma maneira utópica, não estamos aqui falando disso, de ideologias econômicas e políticas, estamos falando de algo razoável, de algo que todos concordariam.
Hoje nós temos milhões de brasileiros - milhões de brasileiros! - que vivem com uma renda familiar inferior a R$400. Isso é um caldeirão de conflitos, isso transborda problemas dos mais variados e complexos. E, se nós desejamos a promoção da paz, se nós desejamos a construção da paz, precisamos pensar nisso, no acesso aos recursos ambientais e no acesso à riqueza produzida pela humanidade no sentido de que todos possam viver com dignidade.
O terceiro tripé já foi abordado aqui, o Senador Girão ressaltou esse tripé inclusive: nós temos um outro âmbito, que é a paz do ponto de vista individual, a paz enquanto saúde mental - enquanto saúde mental! Por quê? Nós temos adotado um estilo de vida que é adoecedor! Isso pode ser verificado com dados: os números de burnout, os números de ansiedade, os números de depressão, o aumento nos índices de suicídio e de adoecimento geral. Um ligeiro passeio pelas redes sociais nos possibilita enxergar ao vivo o adoecimento mental coletivo. Agredir tornou-se padrão natural de conduta. Mas agora vamos pensar do ponto de vista da psicologia e da psiquiatria. Nós não temos uma estrutura neurobiológica para viver em conflito. É simples. A um indivíduo, um organismo submetido a conflito gera-se um quadro fisiológico de estresse, aumento de cortisol, aumento de noradrenalina. Se isso for mantido a longo prazo - isso é biológico -, esse organismo adoece, pode morrer. Resumindo, nós não fomos constituídos, estruturados para viver em conflito. A nossa biologia está preparada para lutar, para fugir, para se defender - é óbvio, isso é sobrevivência da espécie, é claro -, mas, na nossa biologia, no geral, tirando esses cinco minutos aí de burrice a que o Senador se referiu, tirando esses momentos, nós precisamos de harmonia, nós precisamos de paz. Então, veja, a paz se descola de um discurso apenas filosófico, religioso ou espiritual e a paz passa a ser pauta de saúde mental. E nós observamos atônitos conflitos de trânsito bobos gerando tiros, assassinato, com a violência se espalhando, incluindo a doméstica. O aumento da violência doméstica nos dois últimos anos é assustador. Na minha comarca - eu estive em plantão durante o Natal -, em uma semana, eu recebi 30 casos de violência doméstica. Em uma comarca que é Zona Metropolitana de Belo Horizonte.
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Então, veja, isso é sério. Sério porque acende um sinal de alarme, de alerta. Nós estamos educando para a paz? Nós estamos resguardando a saúde mental dos nossos cidadãos? Estamos preparando as pessoas para a saúde mental? Isso é cultura de paz.
E, veja, se não temos uma educação para a paz, se, no âmbito da saúde, não somos preparados para a saúde mental, equipados para a saúde mental, como esperar a paz na diplomacia?
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Como esperar paz no âmbito das instituições políticas, das instituições públicas? Porque os cargos são ocupados por seres humanos, e esses seres humanos têm uma conjuntura cultural, social, econômica e ideológica.
É bem verdade que, nos últimos anos, a nossa nação brasileira tem invertido seus valores. Nós estamos cada vez mais aplaudindo a violência, cada vez mais aplaudindo o destempero, cada vez mais desconfiando da capacidade do diálogo, desacreditando as técnicas de pacificação. Há autoridades que não se sentem - não se sentem - no dever de, ao menos, serem cordiais. E, veja, isto está no estatuto de ética de todos os cargos, inclusive do meu cargo - inclusive do meu cargo de magistrado -: a cordialidade, o respeito, a postura. Então, é preciso que a nação brasileira acorde, reflita.
Nós precisamos fazer uma reflexão madura, preparar para a paz, equipar os indivíduos para a saúde mental, para a diminuição do estresse, da ansiedade, do burnout, do assédio moral, preparar os indivíduos para lidar com conflitos.
Vejam, na nossa unidade do Cejusc da comarca de que faço parte, com o auxílio do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, nós temos vários cursos para treinar as pessoas para a conciliação e para mediar, por quê? Conciliar e mediar exige técnica. Até para apartar uma discussão você precisa ter técnica. O pacificador é um perito. Repito: o pacificador é um perito.
Nesse ponto, eu quero encaminhar para o encerramento desta breve fala, dizendo que cultura de paz é preparar e equipar os indivíduos para a paz, ensiná-los a dialogar, ensiná-los a negociar, ensiná-los a abordar temas difíceis de uma maneira habilidosa, ensinar os indivíduos a sentarem à mesa e discutir, porque as ideias podem se chocar, os seres humanos, nunca. As ideias podem se chocar. Nós podemos ter ideias diferentes sobre a solução de problemas comuns, não há nada de errado nisso, mas, quando nós saímos do âmbito do embate das ideias para o embate pessoal, que gera violência - violência linguística, violência nas palavras, violência no comportamento, culminando até nas vias de fato, na agressão física, que é aquele momento em que os seres humanos abrem mão da racionalidade...
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Veja, nós sabemos que esse conflito mundial - mundial porque envolve todas as nações - entre Rússia e Ucrânia tem seus antecedentes históricos, econômicos, sociais, é claro. Nós sabemos disso, da complexidade disso tudo, mas dizer que isso é racional? Dizer que, ao olharmos para aquela destruição, isso é uma maneira racional de resolver problemas? Não é! Isso é um atestado da falência da nossa racionalidade. Mas por quê? Porque a nossa racionalidade se tornou fria; a nossa racionalidade está ancorada no interesse pessoal; a nossa racionalidade foi tomada pela violência; porque a verdadeira racionalidade é a racionalidade dos pacifistas. Racional é Gandhi; racional é Martin Luther King; racional é o monge vietnamita Thich Nhat Hanh ou mestre Thay, pacifistas que resistiram, que colocaram as suas ideias, que provocaram mudanças abdicando da violência. Isso é racionalidade; racionalidade no sentido mais puro da expressão.
E, quando nós falamos de Estado democrático de direito, nós estamos falando de um Estado que aposta na racionalidade, porque, se nós formos apostar na irracionalidade, para que Estado democrático de direito? Para quê? Para que leis? Para que promulgar leis? Para que um Estado? Para que instituições? Voltemos para a vida na selva, onde impera a lei do mais forte. Então, Estado democrático de direito é o Estado que aposta na solução consensual e racional dos seus problemas; é o Estado que equipa seus cidadãos para a solução consensual de conflitos.
Veja, viver sem conflitos é utopia. Diria Freud que o conflito está dentro de nós. Sigmund Freud dizia: "O homem não é senhor da própria casa". Nós temos conflitos: uma hora você deseja uma coisa, outra hora deseja outra. O conflito faz parte da natureza humana, mas a solução violenta de conflitos, não. Isso, não; isso é uma opção - isso é uma opção! Então, se vamos optar por soluções violentas, voltemos para a barbárie - voltemos para a barbárie! E o incrível nisso tudo é que, quando olhamos para certos setores da sociedade brasileira e do mundo, o que nós estamos constatando? A volta à barbárie, porque, olhar para essas cenas de guerra na Ucrânia e dizer que aquilo não é barbárie? Então, eu não sei o que é. Veja, nós perdemos até ética de guerra. O ser humano não sabe nem guerrear sem ferir os mínimos - os mínimos - direitos de uma guerra, como, por exemplo, um corredor humanitário. É grave! É grave!
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Eu termino agradecendo a oportunidade e parabenizando o Senador Eduardo Girão por trazer essa discussão; trazer essa discussão com pessoas que têm autoridade, que têm vivência, que têm experiência, porque nós precisamos qualificar o nosso discurso de paz - qualificar o nosso discurso de paz. O que vem a ser isso? Trazer estratégia. Se a guerra tem seus estrategistas, nós os pacifistas também vamos ensinar as estratégias de conciliação e pacificação. Esse é o nosso desejo. Esse é o nosso sonho.
Nós temos uma Constituição Cidadã, nós estamos num Estado democrático de direito, porque acreditamos nisso; porque acreditamos no poder da racionalidade humana para resolver seus conflitos com humanidade, abandonando a bestialidade. Afinal, já evoluímos tanto e temos tanto ainda a evoluir!
Senador, muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Muito obrigado.
Gratidão.
Excelente reflexão o senhor traz para nós. Reflexões profundas - profundas.
E eu estava aqui, Haroldo Dutra, colegas que estão aqui conosco ou que estão nos assistindo, anotando alguns pontos aqui da sua fala e relembrando o seguinte: realmente, a paz do mundo precisa começar dentro de nós. A chave somos nós. Gandhi dizia: "Seja a mudança que você quer ver no mundo". E, quando a gente percebe, realmente, o ambiente em que a gente está... Quando o senhor falou aí: "Olha, vamos partir para a prática. Da mesma forma que os violentos estão se organizando, vamos nos organizar para a paz", e a gente sabe que a força da paz é muito maior, a força da natureza, do bem, da verdade, da justiça, da paz, é fundamental que a gente saia da omissão. Muitas vezes... Eu não sei quem é - é um autor desconhecido - que diz o seguinte: "É na omissão dos bons que o mal prospera".
Então, a partir daí, você tem Mahatma Gandhi - a gente tem que ir buscar na fonte desses pacifistas, não tem jeito, são referências; então, a gente tem que meditar nessas palavras e agir -, que diz: "O que me incomoda não é o grito dos violentos, mas o silêncio dos bons". Aí vem o estadista irlandês Edmund Burke e diz o seguinte: "O mal só triunfa quando os bons cruzam os braços". São todos estímulos, convites à ação, à ação no bem. Quando o pessoal vai lá roubar o Banco Central, por exemplo - aconteceu lá na minha terra, tem até filme sobre isso aí, acho que foi o maior assalto da história do país -, eles fazem as reuniões ali, combinam, planejam, são competentes, fazem aquilo; vão e executam mesmo, ou seja, eles são audaciosos, intrigantes, ousados. E os bons, para fazer um bem, fazer um projeto de caridade? Muitas vezes, marca-se uma reunião para marcar uma reunião. Então, eu acho que a gente tem que aprender isso aí. E, às vezes, aprende-se na dor, não é? Ou você aprende pelo amor, ou você aprende pela dor.
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Infelizmente, a gente está vivendo um momento em que até as instituições não se respeitam. Até nas instituições aqui no Brasil a gente percebe isso: um Poder invadindo a competência do outro. A gente vê isso todos os dias neste Plenário. E o brasileiro, no limite, com fome, desemprego, inflação alta, vendo as suas instituições com procedimentos que precisam ser revistos. É o Estado democrático de direito - é o Estado democrático de direito. Sem entrar na questão propriamente dita, mas há até Deputado aqui sendo preso. Há Senador, Ulisses Riedel, pianinho aqui, medindo as palavras.
Então, a gente... Obviamente, no caso do Deputado, eu discordo das falas dele, da linguagem; obviamente, as ameaças não têm cabimento, mas ele tem que passar pelo devido processo legal. Está lá previsto! Há a Comissão de Ética da Câmara, há os processos para ele responder. Mas, com uma canetada, chegar e tentar calar, tentar intimidar, tentar humilhar é uma coisa muito preocupante, e a gente não pode aceitar. Porque o Parlamento é o lugar de parlar, de falar. A gente precisa ter essa liberdade. Sem falar que, do meu ponto de vista, é um inquérito ilegal.
Inclusive, nós conseguimos as assinaturas dos colegas - para atualizar um assunto do dia. Os colegas assinaram requerimento, de minha autoria, para que a gente possa ouvir aqui o Ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, respeitosamente, sobre esses inquéritos, onde a mesma pessoa, que é a vítima, julga e manda prender - há alguma coisa errada nisso tudo -, quando a própria PGR Raquel Dodge havia dito que havia pedido o arquivamento do inquérito.
Mas vamos seguir! Vamos seguir, porque nós temos a última rodada. Eu peço cinco minutos, no máximo, para as considerações finais de quem quiser participar, claro, de quem quiser fazer mais alguma colocação.
Eu vou ler aqui algumas perguntas que chegaram. E, aí, tanto a Viviane como o Geraldo Lemos Neto, como o Jean Carlos Dal Bianco, como também o Akira, o Ulisses Riedel, o Nildo... Não sei se está conectado ainda o Haroldo. Enfim, quem se sentir confortável para fazer as respostas aqui de algumas perguntas, na sua fala final, nas suas considerações finais, eu peço para fazê-las.
Vamos a elas.
O Asaph Scheidt, de Santa Catarina, diz o seguinte: "Qual a visão de outros países em relação ao desempenho do Brasil nessa construção [de cultura de paz]?"
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Yasmin Saggiorato, de São Paulo: "Em que proporção o Brasil pode mediar essa situação? Será que nosso país é exemplo de paz para situações assim?". Olha que pergunta interessante a da Yasmin. Um país que tem 40 mil mortes violentas - não é, Nildo? -, mais ou menos 40 mil, 50 mil; esse é o número em que a gente tem oscilado aí. Nós estamos vivendo uma guerra interna e uma violência grande, mas a gente sabe que o papel do Brasil é amplo.
Pergunta do Heric Luciano, do Acre: "No papel de cidadãos, como podemos ajudar o Brasil na busca da paz internacional? [...]".
Juliane Rocha, de São Paulo - olha só, o Brasil todo participando aqui: "Quais meios são encontrados no Judiciário e de forma extrajudicial que atualmente são utilizados como forma de construção da paz [pelo] Brasil?". Ela fala também na mediação de conflitos, não é?
Thiago Rafael, de Mato Grosso: "Em que tipo de conflitos o Brasil faz mediação atualmente?" - olha que pergunta bacana! "Em que tipo de conflitos o Brasil faz mediação atualmente?".
E a Luana Alcassa, de São Paulo: "Quais são as ações preventivas [...] que temos desenvolvido atualmente para lidarmos com esse tipo de situação [que a gente vive no mundo]?".
Então, eu quero começar - vamos pela mesma ordem - com a Viviane Rios Balbino.
Se você puder, Viviane, nos responder em cinco minutos a pergunta que você quiser ou fazer as suas considerações finais, de antemão eu lhe agradeço muito a sua paciência, a sua participação aqui conosco nesta sessão também.
Viviane Rios Balbino, Conselheira Chefe da Divisão das Nações Unidas do Ministério das Relações Exteriores.
Um abraço a todos vocês aí do Ministério de Relações Exteriores.
Muito obrigado.
A SRA. VIVIANE RIOS BALBINO (Para exposição de convidado. Por videoconferência.) - Eu é que agradeço, Sr. Senador Girão.
Eu vou, então, me dirigir às duas perguntas que são mais atinentes aos aspectos internacionais das riquíssimas discussões que nós tivemos durante toda esta manhã, perguntas bastante pertinentes. E, felizmente, são boas as respostas que nós temos para dar.
"Qual a visão dos outros países sobre o papel do Brasil?" Eu abordei rapidamente essa questão durante a minha fala inicial. O Brasil tem credenciais muito sólidas na área de paz e segurança internacional, e a atual situação de conflito, de confronto vivida entre Rússia e Ucrânia é mais um exemplo disso. O Brasil tem sido reconhecido repetidamente por diversos interlocutores como um país que ocupa uma posição de equilíbrio, de não indiferença - isso é muito importante.
Alguns dos meus ilustres companheiros de painel mencionaram a necessidade de que não sejamos indiferentes ao sofrimento humano, e essa nunca foi a postura adotada pelo Brasil. Tanto o é que, ao mesmo tempo em que o Brasil condenou a agressão, o crime de agressão, também condenou as sanções e os impactos que as sanções unilaterais têm gerado para a população civil, não apenas da Rússia, mas de outros países.
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O Srs. Senadores e as Sras. Senadoras receberam o Chanceler Carlos França para tratar desse assunto. E o nosso norte é ele quem dá, como os senhores e as senhoras sabem, e o lado do Brasil é o lado da paz, é o lado de nós mesmos, do nosso país, sem alinhamentos automáticos, como condiz com um país das pretensões, das ambições que o Brasil tem no cenário internacional. Eu já me referi também a isso.
É um pleito que tem amplo apoio o pleito brasileiro de um assento permanente num futuro Conselho de Segurança reformado, justamente porque nós temos esse histórico e assim somos percebidos. Então, a visão dos outros países é que, sim, o Brasil tem uma postura construtiva e é um interlocutor confiável.
Com relação a em que proporção o Brasil poderia atuar como mediador de uma situação como essa, é preciso fazer duas ponderações, eu diria, Senador Girão. A mediação internacional é feita em diversas modalidades, não apenas na mediação direta, oficial, feita por alguns dirigentes junto aos dirigentes dos países beligerantes, mas também pela atuação da comunidade internacional nos fóruns multilaterais.
Então, de alguma maneira, o Brasil atua como mediador também, especialmente no exercício do seu mandato no Conselho de Segurança. Como os senhores e as senhoras sabem, são apenas 15 países que integram o Conselho de Segurança. O Brasil está lá neste momento, então, tem a oportunidade agora de participar de discussões que, em outros momentos, não tem.
Então, não podemos esquecer que a mediação é mais ampla do que aquele processo que aparece formalmente como mediação que alguns países têm feito, têm tentado fazer e esperamos que com bastante sucesso. Mas o Brasil também dá a sua contribuição de outras maneiras. É natural que países mais próximos geograficamente, populacionalmente e culturalmente dos países beligerantes estejam ocupando esse lugar de mediação formal, digamos assim.
Eu não teria, de fato, Exmo. Sr. Senador Girão, muito mais a acrescentar; apenas a agradecer a oportunidade de ter enriquecido muito o meu conhecimento sobre mediação e cultura da paz diante de intervenções de saber tão profundo e tão vasto sobre o tema. E agradeço, mais uma vez, ao senhor pelo convite formulado ao Ministério das Relações Exteriores.
Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Gratidão, Viviane Rios Balbino. Leve, por favor, meu abraço ao Chanceler Carlos França.
Eu gostei muito da sua fala aqui, muito transparente; muito, assim, cristalina, com muita retidão, trazendo para a gente...
Eu repito: aprendi muito com a sua fala sobre o papel histórico do Brasil e como hoje ele está, no meu ponto de vista, agindo corretamente também nessa questão desse conflito internacional.
Muito obrigado.
Eu passo agora, para as considerações finais ou para, se quiser, responder a alguma pergunta ou fazer algum comentário, a Ulisses Riedel, que é ex-Senador pelo Distrito Federal, é fundador da ONG União Planetária e é um homem de bem, um homem decente, que está nos dando a honra de estar conosco neste evento.
Muito obrigado.
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O SR. ULISSES RIEDEL (Para exposição de convidado.) - Obrigado a você, Eduardo.
Bom, eu quero responder especificamente à indagação do Heric Luciano, lá do Acre.
Heric, você perguntou: "No papel de cidadãos, como podemos ajudar o Brasil na busca da paz internacional?".
Há uma ideia equivocada na sociedade de que nós não podemos fazer nada, porque isso depende das autoridades, depende dos outros, depende de um mundo de coisas. Mas ela é equivocada, porque, na verdade, a paz social existe como uma decorrência dos valores preponderantes em uma sociedade.
Quando, no Brasil, a preponderância era em achar legítima a escravidão, com a maior naturalidade - nós diríamos hoje -, com a maior cara de pau, as pessoas de bem tinham escravos. Então, a mentalidade de um povo é que define como o povo deve ser.
Então, quando se estabelecem paradigmas equivocados, eles são regulados pela lei, como era regulada a escravidão, que eu tomei como exemplo. Era legítimo, na escravidão, o proprietário comprar seu escravo.
Quer dizer, na verdade, a humanidade vive batendo numa porta errada, porque nós temos que mudar valores, valores éticos, valores espirituais. É isso que nós temos que mudar.
Assim como no corpo humano, todas as células, todos os órgãos de todos os sistemas atuam em harmonia e cooperação para que o corpo seja saudável e vivo, assim deve ser no corpo social. Quando uma célula no corpo humano se rebela e se põe contra o corpo, ela cria um câncer, leva um corpo à falência e morre junto.
Assim temos que ver a sociedade, o corpo social. O corpo social só tem vida saudável dentro da cooperação, dentro da ajuda mútua. Não há outra forma. Não existem duas formas. Olhem bem o que estou afirmando: não existem dois modelos, duas fórmulas saudáveis de relação humana. Só existe uma, que é a da cooperação, a da solidariedade.
Se nós tivermos duas pessoas numa ilha, somente as duas, ou elas podem se matar - e, portanto, não é saudável -, ou pode uma ferir a outra, ou pode uma se submeter à outra, mas nenhuma delas é saudável. Só será saudável quando elas derem as mãos e estiverem juntas, de mãos dadas. Só essa.
Nós temos que mudar a mentalidade. Para mudar a mentalidade - você aí, no Acre, que é um transmissor, é um ser vivo dentro dessa sociedade, é um polo energético, evidentemente, sabendo que, como um ser encarnado, é um ser que está ainda em processo de aperfeiçoamento -, você, mesmo estando em processo de aperfeiçoamento, deve ter clareza de que tem que direcionar a sua energia, a sua consciência, a sua vontade, a sua motivação para fazer parte desta humanidade que pensa de uma forma de cooperativa, e não de disputa, e não de competição. Quando nós alcançarmos um determinado nível - há um ponto de mutação, cuja existência a ciência conhece perfeitamente -, aquilo que era repudiado, de repente, se transforma e se torna uma verdade para todos.
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Então, não só você como cada um de nós temos que ser uma torre transmissora de amor, de fraternidade, de exemplo para a humanidade. E tenho certeza de que é através dessa percepção que nós vamos realmente conseguir transformar o mundo.
Não adianta querermos sequer mudar as leis se as mentalidades ainda são competitivas, individualistas, patrimonialistas, quando não vingativas, odiosas. Nós precisamos é de uma nova mentalidade, e essa nova mentalidade depende de cada um de nós.
Eu encerro agradecendo mais uma vez ao meu querido Senador Girão. Parabéns!
Parabéns! Sucesso!
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Muito obrigado, meu querido. Eu que agradeço a sua participação aqui e o parabenizo pelas suas falas sempre muito ponderadas, conscientes, recheadas de amor. Inclusive você falou de libertação dos escravos, e eu tenho que puxar uma brasa para a sardinha lá do meu Estado do Ceará, porque foi o primeiro.
No Estado do Ceará, quatro anos antes da Lei Áurea, o Município de Redenção, que fica ali pertinho, a 80km de Fortaleza, iniciou todo esse movimento, e por isso que o Ceará é chamado de Terra da Luz, porque foi o primeiro lugar do Brasil a libertar os escravos. Então tenho muita honra, muita alegria, por ser cearense.
Mas vamos lá. Eu vou passar agora a palavra para o Geraldo Lemos Neto, o Geraldinho, que vai fazer as suas considerações finais. Se quiser responder a alguma pergunta? Eu já deixei para ele um questionamento, assim que ele terminou a fala.
Peço até desculpas e vou lhe dar até uma tolerância um pouco maior, Geraldinho, porque a sua fala aí eu posso já ter... E eu vou dar um outro componente, porque eu acho que a gente faz o papel aqui de mediação, mas também de curiosidade, que eu acho que tem tudo a ver com este momento.
Eu estive, há 15 dias, num evento promovido pelo Ademar, o Congresso Brasileiro de Ufologia. Foi em Curitiba. Gevaerd, o grande Gevaerd me recebeu muito bem. E eu, desde criança, sempre fiquei muito atento a essa questão. É muita pretensão do ser humano achar que ele está sozinho no universo, com o Hubble mostrando as galáxias, é um negócio... Nós somos um grãozinho de areia aqui. A Via Láctea é um grãozinho de areia, você imagine a Terra! Eu acredito piamente que nós não estamos sozinhos sob todos os aspectos. Nesse congresso houve relatos de cientistas, de pesquisadores, de pessoas que estudam profundamente o tema, e houve um palestrante que falou que, no momento de conflito nuclear grave que nós tivemos, na iminência ali da Guerra Fria, aconteceu um fato - e se eu estiver equivocado, Geraldinho, você, que conhece bem esse assunto também, pode me corrigir - inexplicado: no momento em que se ia cometer o erro de se soltar ali, por impulso das grandes potências, uma ogiva, de alguma forma isso passou, e ninguém entendeu por que, numa base americana, desativaram-se todas as ogivas. Eles não entenderam o que aconteceu. Depois tentaram explicar, e não conseguiram explicar.
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Então, eu lhe pergunto: essas inteligências que o homem não consegue compreender, talvez vindas de outros planetas que possam estar de alguma forma... Há avistamentos de OVNIs. O próprio Governo brasileiro reconheceu isso numa noite - que é outro assunto interessante para em algum momento buscarmos; temos até uma sessão especial dos 75 anos da Ufologia, aqui no Senado Federal, que já foi aprovada -, a partir do avistamento militar nos Estados Unidos, e o Governo está liberando arquivos, nesse sentido, comprovando isso. Então, eu queria sua opinião, neste momento de tensão mundial que a gente vive, para saber que tipo de apoio a gente pode estar tendo de outras inteligências, de outros seres mais avançados, mais evoluídos que possam estar, de alguma forma, interagindo.
Eu já passo a palavra para o senhor com uma tolerância um pouco mais generosa por atrapalhar o seu encerramento aqui.
Muito obrigado.
O SR. GERALDO LEMOS NETO (Para exposição de convidado. Por videoconferência.) - Senador Girão, o senhor me deu aqui uma tarefa quase inglória de resumir, em poucos minutos, assuntos tão complexos, mas, novamente, a gente tem que pensar que uma questão está ligada à outra.
Você me perguntou antes sobre a questão da data limite de Chico Xavier, e nós sabemos que lá no programa Pinga Fogo, da TV Tupi de São Paulo, ao vivo, em 1971, o Chico advertiu: "Nós nos encontramos no limiar de uma era extraordinária, se nos mostrarmos capacitados, coletivamente, a recebê-la, com a dignidade devida". Se os países mais cultos do globo puderem suportar a pressão dos seus próprios problemas, sem entrar em choques destrutivos, como por exemplo guerra de extermínio, que deixará consequências imprevisíveis para nós todos no planeta, então, veremos uma era extraordinariamente maravilhosa para o homem. Com a própria automação, diz Emmanuel, que está nos dizendo aqui, vamos ser aliviados ou quase que aposentados do trabalho mais rude no trato com o planeta para a educação da nossa vida mental, através de informações sobre o universo, com proveito enorme, proveito incalculável, para benefício da própria humanidade. Logo a seguir, em outra pergunta, ele responde: "Se não entrarmos numa guerra de extermínio, nos próximos 50 anos".
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Então, nós poderemos esperar realizações extraordinárias da ciência humana partindo da Lua e, também, vai dizer ele, em outra questão, que a partir deste primeiro contato da humanidade com civilizações extraterrestres, até de outras galáxias, a partir da base lunar, que Chico Xavier profetiza, inclusive, que nós acharíamos água, oxigênio, azoto, vidro e matéria plástica em solo lunar, coisa que realmente aconteceu, porque a Nasa - isso ele disse em 1971 -, hoje, já confirmou tudo isso. Nós temos oxigênio, temos água em abundância, temos matéria plástica, temos vidro a partir do solo lunar que pode, segundo o Chico, construir as cidades de vidro e, a partir dela, a humanidade terrestre ter o contato com as civilizações de outras galáxias. E ele vai completar: "E nós reconheceremos, enfim, que não somos o único mundo criado por Deus e que fazemos parte de uma família universal".
Esta é a grande realidade! Nós somos parte de uma grande família universal espalhada pelo cosmos, pelo universo sem fim. Naturalmente, cada uma das nossas civilizações irmãs tem graus de evolução distintas, tanto no campo evolutivo tecnológico, científico, como também espiritual, moral e ético.
E o Chico vai me dizer, em nossas conversas particulares, que 90% dessas civilizações são mais evoluídas do que nós, tanto no campo científico, tecnológico e, principalmente, no campo moral.
Então, nós já passamos o prazo que Chico Xavier fez referência no programa Pinga-Fogo, que a mim, pessoalmente, ele disse que começou quando o homem pisou na Lua, em 21 de julho de 1969, ou seja, a famosa data limite terminou em 2019. Alguns disseram: "Ah, mas ele disse isso em 1971". Também terminou o prazo, se formos partir desse pressuposto, uma vez que o programa de 1971, o segundo programa, foi em dezembro; em dezembro de 2021, já passou o prazo. Então, nós estamos, sim (Falha no áudio.) ... em que o próprio Chico me disse que se vencêssemos esse prazo sem guerra nuclear, e graças a Deus vencemos, nós teríamos, então, a autorização do Cristo para que outras civilizações mais avançadas pudessem interferir diretamente em nossa evolução, inclusive impedindo o conflito nuclear.
E, por isso mesmo, sou bastante otimista. Tenho falado isso em minhas palestras, no sentido de que a Terceira Guerra Mundial não virá, não acontecerá por isso, pela fala do Chico de que nós teríamos essa interferência.
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Os ufólogos têm estudado isto: as interferências têm ocorrido na guerra entre Ucrânia e Rússia, ou vice-versa, entre Rússia e Ucrânia; diversos testemunhos têm sido veiculados a respeito. Então, nós temos que nos preparar para essa era de paz, essa era que vai mudar os paradigmas da humanidade materialista, da humanidade guerreira, da humanidade violenta, da humanidade sem fé, que até hoje preside os movimentos cruciais da evolução terrestre como um planeta de provas e expiações, e nos mirar num paradigma novo, que é o paradigma da espiritualidade, da comunhão coletiva, não somente entre nós de diferentes povos terrestres, mas principalmente entre nós terrestres e nossos irmãos extraplanetários ou extraterrestres. E nós teremos aí alguns anos de muitas mudanças.
O próprio Chico previu, numa entrevista dada aos irmãos de Curitiba, que, na opinião de Emmanuel, aqui mesmo no Brasil, nós teríamos capacidade para asilar 900 milhões de habitantes. Que serviços imensos esperam de nossas almas no futuro! Isso foi uma entrevista que Chico deu a irmãos de Curitiba, em 1957, que está nos anais da Legião da Boa Vontade, aí em Brasília, que depois foi reproduzida em vários livros dele, inclusive cadernos de mensagem, e em 2019, o ápice da transição planetária, que fizemos em parceria com a Dra. Marlene Nobre.
Então, nós estamos diante de muitos desafios, e o Brasil será sim chamado a desempenhar um papel crucial no desenvolvimento espiritual das outras nações, uma vez que nós temos na alma do povo brasileiro a espiritualidade natural, em diversas escolas religiosas, não somente espiritual no sentido do espiritismo cristão, mas é o maior país católico do mundo, como o Senador lembrou logo no início; é um dos maiores países também de crença protestante; é também o país que abrigou os africanos com suas crenças, que se fundiram às crenças cristãs, hoje muito bem representadas pelos umbandistas; e, naturalmente, o maior país espírita cristão do mundo. Então, a espiritualidade está na nossa alma. A própria ciência estuda isso e identificou o Brasil como o segundo país mais religioso do mundo.
A religiosidade tem um papel a desempenhar no concerto das nações, na pacificação entre os belicosos e na construção de uma sociedade mais fraterna, mais justa, mais equilibrada, em que todos possam ser abrigados, em nossas plagas brasileiras, com fraternidade, com solidariedade, com atenção e equilíbrio.
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É muito desafio que nos espera de hoje até 2057. Essa data está falada por Chico Xavier, no segundo programa Pinga-Fogo, há cinquenta anos e mais alguns meses, em dezembro de 1971, em que Emmanuel afirma que a Terra será um mundo regenerado em 2057.
Mas para que isso ocorra, diversos tipos de transformações serão necessárias no aprofundamento e no aceleramento das mudanças para que possamos chegar lá, daqui a trinta e poucos anos, mais amadurecidos como nações e mais amadurecidos como indivíduos responsáveis pela construção do mundo melhor.
Eu não sei...
Ah, aqui já confirmaram.
Eu gostaria de terminar a nossa intervenção respeitosamente aqui, pedindo novamente a palavra de Chico Xavier, com a poesia extraordinária que ele recebeu de Carlos... De Castro Alves, desculpe, falando justamente desse momento futuro. E vejam que beleza de poema, uma convocação à nação brasileira para que ela acorde para as suas elevadas responsabilidades diante do futuro global. E peço então aos amigos aí da Secretaria do Senado que nos mostrem o vídeo do Chico Xavier lendo a mensagem recebida.
Muito obrigado, Senador. É uma honra participar deste evento.
(Procede-se à exibição de vídeo.) (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Olha, Geraldinho, você nos dá um presente. Você, com esses vídeos, com a sua fala. Muito obrigado, muito obrigado mesmo. Você não sabe como a energia está aqui dentro deste Plenário do Senado Federal agora. Muito obrigado, muito obrigado.
É muita sabedoria do nosso Chico, é muita cultura de paz. É disso que a gente está tratando aqui. Um grande humanista, pacifista: Francisco Cândido Xavier.
Vamos lá, vamos dar sequência. Estamos bem próximos ao final. Já vou passar a palavra para o nosso querido irmão, que está aqui ao meu lado, Akira Ninomiya.
O SR. AKIRA NINOMIYA - Ninomiya.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Agora acertei o nome. Só a entonação que eu errei, mas vamos lá.
Akira Ninomiya é especialista em mediação pela Universidade Harvard e membro da Comissão Técnica que incluiu a mediação privada no Código Brasileiro de Ocupação.
Então, mais uma vez, muito obrigado por sua presença. O senhor tem 5 minutos. Se quiser responder a alguma das perguntas, tangenciar algum comentário, fique à vontade.
Muito obrigado.
O SR. AKIRA NINOMIYA (Para exposição de convidado.) - Perfeito. Agradeço imensamente pela oportunidade.
Na minha consideração final... Salvo engano, acho que a última pergunta fala sobre prevenção, se eu não me engano.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Perfeito.
"Quais são as ações preventivas que temos desenvolvido, atualmente, para lidarmos com esse tipo de situação mundial?". Foi a Luana Alcassa, de São Paulo, que fez a pergunta.
O SR. AKIRA NINOMIYA - Perfeito.
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Ao falar em prevenção, quer seja em escala local, mundial, independentemente qual seja, estamos falando de seres humanos e aqui eu citaria um sábio da antiguidade que nos ensinou: "Conhece-te a ti mesmo". Quais são os elementos de nossas vidas que nos levam a reagir a um conflito, a uma provocação? Essa paz em que eu acredito, que eu defendo, não é uma paz de passividade, mas, sim, uma inteligência emocional frente aos conflitos, frente aos desafios. Inteligência emocional é entender o que é que me tira do sério. Em que momento eu não posso estar exposto ou expor a minha família? Porque não podemos acreditar numa visão utópica na qual, por querermos a paz, sonharmos com a paz, acharmos que todos também estão sonhando com a paz.
O senhor colocou muito bem quando mencionou a questão do porte de armas. Uma arma nas mãos de uma pessoa treinada e preparada, isso pode salvar vidas. Eu me recordo de um empresário - há 15 ou 20 anos, eu vi essa reportagem -, proprietário de uma empresa de segurança, que, em certo momento, sentiu-se em conflito de valores e foi até o Papa João Paulo e levou essa questão até ele, e o Papa falou: "Meu filho, olhe em volta, os meus seguranças usam armas. Você, com a sua empresa, promove segurança". A questão é quem são as pessoas que não podem portar uma arma e que estão portando. Da mesma forma, com a mediação, nas mãos da pessoa certa, temos resultados; com a mediação trabalhada de forma errada, temos, talvez, tão somente números, tão somente uma maquiagem frente a um cenário judicial, e aqui eu faço essa observação sobre a mediação sendo muito utilizada para justificar estatísticas e não é por aí.
Prevenir é se conhecer, prevenir é se trabalhar, é você saber quais são os seus valores, o que importa para você e em que ponto esses valores estão em contraste, em conflito com as pessoas em volta. O que é importante para você? Mediação é isso, é autoconhecimento e conhecer os valores do outro, auxiliar pessoas a conhecer os seus valores, o que realmente querem, porque querem e como querem chegar até lá. Não há outra forma, eu acredito, a não ser o autoconhecimento.
E assim eu encerro a minha participação, as minhas considerações, mais uma vez, Senador, agradecendo, parabenizando e me colocando à disposição para somar forças contigo, com todo esse cenário em prol da construção da verdadeira cultura de paz, uma paz ativa de crescimento, de autoaprendizado e de contribuição para com a sociedade. Gratidão.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Gratidão toda nossa. Em nome do Senado Federal, eu agradeço demais a sua presença, Akira. Ele é especialista em mediação pela Universidade de Harvard e membro da comissão técnica que incluiu a mediação privada na Classificação Brasileira de Ocupações. Ele veio de Goiânia hoje cedo para, presencialmente, prestigiar, participar, colaborar com esta sessão, que eu acredito que vai ter desdobramentos, como bem colocou o ex-Senador Ulisses Riedel, que também fez questão de vir, inclusive com a sua família aqui, para esta sessão.
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Nós vamos refletir com os colegas sobre uma comissão temporária - isso foi uma dica boa - e vamos bolar outras alternativas, vamos nos mexer, não vamos ficar assistindo passivamente ao que está acontecendo no mundo, absolutamente. Aliás, o Brasil, a própria Dra. Viviane, do Ministério das Relações Exteriores, que falou há pouco, mostrou o posicionamento do Brasil: o Brasil está ativo, está ativo. E repito pela terceira vez: no meu modo de entender - posso estar errado, não sou dono da verdade -, acho que o Brasil adotou a postura correta de equilíbrio nessa situação, até porque, sem tomar partido, sem ter lado, ele pode de alguma forma ter mais legitimidade para atuar nesse conflito. Vamos buscar caminhos, ver se é possível isso.
O Akira estava falando há pouco da questão da paz. Eu aprendi no MovPaz que a antítese, o antagonismo da paz, Nildo, não é absolutamente a tranquilidade, a calmaria, não. Sabe qual é a antítese, o antagonista disso aí? A indiferença. A antítese da paz é a indiferença. Isso aí é uma coisa que vem com muita força.
Eu já passo a palavra agora aqui para o nosso Prof. Jean Carlos Dal Bianco. Muito obrigado pela sua participação aqui conosco, mais uma vez lhe agradecendo. Ele é autor e pioneiro em mediação no Brasil. Ele está em Pernambuco, estado vizinho, ali pertinho - depois do Rio Grande do Norte vem ali Pernambuco, pelo litoral do Ceará. Eu lhe agradeço muito a sua participação aqui conosco e lhe dou os cinco minutos para o seu complemento aqui nesta sessão. Se quiser também, de alguma forma, responder alguma pergunta, eu lhe agradeço.
O SR. JEAN CARLOS LIMA (Para exposição de convidado. Por videoconferência.) - Muito bem. Eu queria responder no geral, Senador, sobre as questões que foram colocadas aí.
A Profa. e Dra. Viviane, com muita propriedade, disse que o Brasil é muito bem visto. É sim! O Brasil é signatário de todas as convenções de paz no mundo. Recentemente, o Brasil, em junho de 2021, assinou a Convenção de Singapura para a mediação de conflitos sobre questões comerciais. Olha só, o Brasil está numa vanguarda nesses sistemas - por exemplo, o Brasil adota um sistema chamado sistema multiportas, multidoor system. Nós temos aqui no Brasil, respondendo até a pergunta de alguns aí, vários métodos para gestão e resolução de conflitos.
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Também é importante salientar que nem todo conflito pode ser resolvido. Não pode, não é assim. Não é só falar com um profissional mediador técnico não. Há conflitos que precisam de gerenciamento. Eles vão existir, mas vão ser gerenciados, vão ter um acordo de convivência. Há conflitos que não são gerenciados e, sim, precisam de acordo de convivência.
Estamos caminhando muito para esse processo. Na mediação de conflitos, como nós falamos e o Akira muito bem falou, nós precisamos... A intervenção, a prevenção começa em nós também. Precisamos nos revisitar. E Brasil tem esse caminho quando até falamos em preparar, profissionalizar os nossos mediadores, como o Prof. Dr. Akira Ninomiya, meu amigo, irmão, participou também da comissão, nós juntos participamos da comissão da criação de uma CBO, da comissão da Classificação Brasileira de Ocupações - não é, Akira? Nós temos já um número, é o 3415-40, acho que é isso, 3415-40, 3515-40, que fala exatamente sobre essas questões. É o 3514-35, CBO para mediador 3514-35. Estamos melhorando e, realmente, precisamos de profissionais. E o primeiro passo é esse. Todas as grandes jornadas, todas as grandes caminhadas começam com o primeiro passo, e nós não podemos dizer que vai dar certo, se não vai dar certo. Só vai entender de dar certo se realmente se viver isso.
Quando o Senador falou sobre a questão da paz, há uma ilustração muito bacana sobre isso e eu encerro com ela. Nessa ilustração, um rei mandou desenhar, que os seus sábios, em desenho, descrevessem a paz. Ah, trouxeram coisas lindas, quadros fabulosos! E o rei olhou. Quando viu lá, o rei viu um quadro que chamou a sua atenção. E o rei olhou aquele quadro... E o que tinha desenhado naquele quadro? Era uma cachoeira forte, por trás da cachoeira, havia um pequeno pássaro, aquele passarinho em um ninho. A cachoeira torrente, água torrente, com muita chuva e o pássaro na sua tranquilidade. Então, o rei disse que paz não é a ausência de conflito, paz não é a ausência de turbulência; paz é como você se comporta, a sua serenidade em relação às turbulências e a todos os conflitos de vida.
Agradeço, primeiramente, ao Senador, por essa oportunidade. Agradeço aos colegas, amigos, conhecidos e me ponho também, como Akira Ninomiya, à disposição para o que for necessário em prol de uma mediação forte, em prol de uma mediação que não seja apenas de números, mas seja uma mediação real.
Gratidão a todos.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Gratidão. (Palmas.)
Gratidão, querido Prof. Jean Carlos Lima, autor e pioneiro em mediação no Brasil.
Muito obrigado pela sua valorosa participação aqui conosco, esclarecedora, leve. Muito bom lhe ouvir, muito bom lhe conhecer, mesmo virtualmente. Espero, um dia, ter a honra e a alegria de lhe conhecer pessoalmente.
O senhor falando... Quando a gente fala a palavra paz ela tem uma força muito grande também. Paz. São palavras que... Existe um estudioso japonês - sua origem é japonesa, não é? Então, Akira, existe um estudo de um professor japonês em que ele diz o seguinte - ouviu, Ulisses? -, que a força da palavra, do pensamento, existem estudos mostrando, que conseguem impregnar, por exemplo, que têm força no organismo da gente, têm força... E a física quântica mostra isso: o que você pensa você começa a construir, a tornar realidade também.
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E esse cientista, de cujo nome não estou me lembrando...
O SR. ULISSES RIEDEL (Fora do microfone.) - Masaru Emoto.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Masaru Emoto. Olha aí!
O Masaru Emoto faz aquela experiência da água. É interessantíssimo isso! Ele, através dos cristais... Ele congela... Eu vou dar aqui bem ralo, porque eu não estou lembrando exatamente: ele congela a água e, para um, ele diz coisas positivas, fala palavras como compaixão, paz, amor, fraternidade, solidariedade, Jesus, Nossa Senhora; para o outro - você pode até me ajudar a complementar -, ele coloca coisas negativas, sentimentos destrutivos, sentimentos ruins. E, aí, quando vai comparar, ele vê... Você me complemente; eu quero que você me complemente. Aí, quando ele vai comparar, rapaz, é totalmente diferente: uma está harmônica em toda a concepção, na organização das moléculas; o outro, totalmente disforme.
E o nosso corpo humano... Para você ver como a palavra e o pensamento têm força. O corpo humano é feito de quantos por cento de água? Então, olha só a profundidade desse estudo.
Você pode me complementar, por favor?
O SR. ULISSES RIEDEL (Para exposição de convidado.) - A experiência que ele faz é a seguinte: ele pega uma mesma água, pega gotas dessa mesma água e põe em uma lâmina de microscópico e outras em outra lâmina. E, então, em relação a uma das lâminas, palavras de amor, de doçura etc. e tal e tal e coisa; e, em relação à outra, palavras de desprezo, de ódio etc. e tal. E deixa, tanto uma como a outra, se congelarem. Aí, ele as leva ao microscópio. Naquela em que ele manifestou amor, sempre parece um cristal, um cristal belíssimo; e, naquela para a qual ele falou palavras de ódio, sempre aparece uma forma disforme.
Agora, o mais fantástico disso é que, se ele pega e põe, por exemplo, uma música, uma marcha, aparece uma estrela de neve que parece um escudo. Agora, se ele põe uma música que é doce, aparece uma florzinha bonitinha na estrela de neve. E, se se repetir, sempre sai da mesma maneira, mostrando que há uma resposta efetiva.
Isso faz parte do que eu disse da ciência quântica, que está a nosso favor, ao mostrar a unidade da vida e que tudo está inter-relacionado. Nós estamos inter-relacionados com a água, com o ar, com as flores, com a mente, com a nossa chamada noosfera, que é o ambiente do pensamento, da egrégora mental.
É uma das experiências mais fabulosas. Nós tivemos o privilégio, na União Planetária, de recebê-lo por três vezes e de fazer programas com ele. Eu lhe passarei depois para conhecer.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Para assistir a esses programas é no YouTube?
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O SR. ULISSES RIEDEL - Sim, está no YouTube.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Vai lá, coloca o nome dele...
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Eu digo, assim, para as pessoas que quiserem pesquisar no YouTube...
O SR. ULISSES RIEDEL - Sim, sim.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - ... coloca-se o nome dele, e as experiências estão lá, não é?
Muito bem.
Então, vamos agora ouvir o Elianildo Nascimento, que é do Conselho Nacional de Direitos Humanos, membro da Iniciativa das Religiões Unidas (URI) e também integrante do MovPaz.
O SR. ULISSES RIEDEL - Dentre outros.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Dentre tantos outros conselhos, instituições e organizações de que o Elianildo, um grande humanista, participa ativamente.
Elianildo, você tem cinco minutos para as considerações finais, para fazer algum comentário ou tentar responder a algumas dessas perguntas. Fique à vontade.
Muito obrigado pela sua participação.
O SR. ELIANILDO DA SILVA NASCIMENTO (Para exposição de convidado.) - Eu é que agradeço imensamente, Senador Girão, por essa possibilidade, por essa oportunidade que V. Exa. instituiu aqui no Senado Federal de criar, de trazer essa temática para a ordem do dia.
Eu queria cumprimentar - despedindo-me também - a nossa querida Marisol Kadiegi, que aqui está conosco, a Vanda Beatriz - as mulheres -, além da doutora, nossa querida conselheira do MRE, e agradecer por essa oportunidade.
Quero dizer - e faço também um breve comentário sobre as perguntas que foram aqui trazidas - que o que a gente trouxe... Na verdade, o que esperamos de concreto, a posteriori deste encontro e de outros que poderão vir - acho que a ideia do Senador Ulisses é de extrema importância -, é que se dê uma continuidade.
Como bem disse a conselheira, o Brasil, do ponto de vista diplomático, tem as instâncias onde já existe a efetividade de discussão. Agora, entra um aspecto em que reitero a nossa fala. No momento que estamos vivendo, eu acho que o que está nos segurando, do ponto de vista da guerra, desse conflito estabelecido, é que, se houver um agravamento e isso partir, será o último. Não há... Então, é isso que, em tese, está segurando, digamos assim, porque o novo mundo que se configura, infelizmente, terá essas... Vai demorar. Será um mundo da multipolaridade, não mais de um país especificamente dando as cartas ou sendo o grande influenciador.
Então, esse contexto vai precisar de muito diálogo, de muita construção. E aí entra todo um conjunto... Nesse sentido, eu acho que elencarmos como um patamar a defesa, a concretude e a efetividade dos direitos humanos, que estão sendo dilapidados de um modo geral - e nós temos esse problema também na esfera global -, é algo que se deve, a partir daí, conversar, dialogar, propor. E eu acho que esse é o papel não só do Senado, mas também da sociedade, das organizações, que têm seus respectivos compromissos e suas respectivas lutas.
Parabéns, imensamente, ao senhor, Senado Girão, e a todos aqueles que apoiam e apoiaram essa proposta.
Muito obrigado pela oportunidade de estar aqui.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - A gratidão é toda nossa.
Muito obrigado, Elianildo Nascimento, pela sua participação.
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Meu agradecimento para todos que participaram, para os funcionários da Casa que nos brindaram com o seu trabalho competente: a equipe da TV Senado e da Rádio Senado; os funcionários lá do nosso gabinete - eu faço aqui um agradecimento ao Francisco Maiorana, mas é uma equipe que está lá -; a todo mundo direta e indiretamente envolvido. Eu acho que a gente está cumprindo um papel legal aqui. A intenção é a melhor possível.
Se uma pessoa que está nos ouvindo agora... E basta uma pessoa, uma só. A TV Senado entra no Brasil todo, em rincões aí que a gente nem imagina, no interior do Brasil e tudo, mas, se uma pessoa, ouvindo a Rádio Senado ou a TV Senado ou as mídias sociais nossas, foi tocada no coração, teve despertada a mente - "olha, eu vou parar para refletir sobre isso que o Akira falou" ou sobre aquilo que Ulisses e o Nildo falaram ou o Geraldo Lemos, ou o Prof. Jean, a Viviane, o Haroldo Dutra -, se aquilo, de alguma forma, vai contribuir para a vida, para ela ser uma pessoa mais serena, alguém que procura se melhorar um pouquinho a cada dia, que procura pesquisar esses assuntos que a gente falou aqui; se vai fazer a diferença na vida dela isso, já valeu a pena esta sessão. Ela já está cumprida.
O SR. ULISSES RIEDEL (Fora do microfone.) - Até o pensamento dela vai...
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Imagine... Até o pensamento - muito bem colocado pelo Ulisses -, até a vibração positiva, a frequência, o pensamento colocado no ar, porque tudo é pensamento, é energia.
Por isso, eu sempre gosto de pedir a quem está em casa e que é católico, que é evangélico, que é espírita ou de outra religião, para que ore: ore pelo Brasil, ore pela paz no mundo. Se você não tem religião, emita pensamentos positivos. Isso muda. A gente não tem ideia do bem que faz para a humanidade. A espiritualidade está acima das religiões, e eu acho que transcende.
Então eu quero, para fechar esta sessão, agradecer aqui a presença na mesa também da Marisol Kadiegi, que é angolana, adotou o Brasil e viveu essa tragédia da guerra no seu país; a Vanda Beatriz Riedel também, da ONG União Planetária, minha irmã, minha amiga; o Alexandre Riedel, que estava aqui também conosco, filho do Ulisses; a Bianca Alves Torres, do escritório de advocacia; a Cleusa Souza Vasconcelos, que é servidora do Supremo Tribunal Federal; a Cristiana...
Olha, só deixando bem claro: o Supremo Tribunal Federal é essencial para a democracia. Eu sempre digo isso. Ele é um pilar da nossa democracia. O que a gente questiona... E aí vem o homem, o conflito do homem, não é? O que eu questiono aqui e que é um papel do Senado fazer, e não vem fazendo ainda, é deliberar sobre pedidos de impeachment de alguns dos ministros que talvez tenham exorbitado - no meu entendimento, exorbitaram - a sua competência. Eu acho que o Senado tem o dever, nós Senadores temos o dever de fazer isso, e não conseguimos ainda. Mas que o Supremo é importante eu não tenho a menor dúvida.
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Prossigo: Cristiana Rocha, da União Planetária; Daniela Reple, da Embaixada dos Emirados Árabes Unidos - que bacana! -; Fádia Mara Lang, Fernanda Silva Riedel de Resende, Janaína Vieira, Johaben Camargo, Lucas Mori de Resende, Marcos Resende - a família Resende está bem presente aqui -; Maria de Fátima Santos Luz, Noêmia Sciascio, Rafael Botelho, Renan Felipe, Roberta Mori Hutchison, Thais Riedel, Wilson Lang. Essas são as pessoas que participaram desta sessão também.
Quero fazer um comunicado de nós vamos ter uma...
Este assunto permeou - não estava nem no script, mas, quando se fala de guerra, não há como deixar de falar de arma também -, esta questão de arma de fogo, que nós estamos debatendo aqui.
Eu sou espírita, e o nosso modelo é Jesus - para os espíritas também. E há uma passagem sobre arma de que eu gosto muito. É aquela em que Jesus está no Monte das Oliveiras, e chegam os soldados para prendê-lo. Pedro, querendo ajudar - o apóstolo - a proteger Jesus, naquele momento em que ele ia ser preso, pega a espada e - pá! - corta a orelha de um soldado romano. Naquele momento, Jesus repreende, veementemente, Pedro. Com amorosidade, mas repreende. Com a sua mediunidade, Ele coloca a orelha no lugar, cura e diz para Pedro: "embainha sua espada".
Quem com ferro fere, com ferro será ferido. É a lei de causa e efeito, a lei da semeadura, de ação e reação. Tudo o que você planta você colhe. É um dos motivos por que arma de fogo, eu não...
Como bem colocou o Akira, é um instrumento que, para a polícia, é fundamental, principalmente polícias, organismos de segurança. Aí devem ter os melhores equipamentos, o treinamento, a valorização, para fazer buscas e apreensões constantes, como políticas públicas, e recolher as armas ilegais das ruas. Isso, sim. Isso é trabalhar para a cultura de paz.
Agora, entregar a arma, flexibilizar, isso aí é olho por olho, dente por dente. Como disse Mahatma Ghandi, a humanidade vai acabar cega e sem dentes. É cada um por si, Deus por todos. E não há segurança pública que aguente dessa forma.
Eu encerro esta sessão, pedindo para a gente colocar uma música - aí, depois, eu declaro oficialmente encerrada -, que é de Nando Cordel, cujo título é "Paz pela paz".
É um videozinho que eu vou colocar para vocês, num dia especial. Este dia 1º de abril, deste ano específico, é o último dia de filiação partidária - olha que interessante. E, para se mudarem as coisas com mais força, só através da política humana - Ulisses é ex-Senador e sabe disso. O poder que a gente tem de ajudar, de melhorar as leis, de influenciar é muito grande. Então, hoje é o último dia em que o brasileiro pode se filiar para se candidatar nas próximas eleições. Independentemente de partido... Eu quero deixar isso bem claro: eu não sou muito afeito a essa coisa de partido, até sou favorável a candidaturas avulsas e independentes, acho que você não precisa de partido para disputar eleição, mas a lei do Brasil é essa hoje, a lei eleitoral. Então, hoje é o último dia, e eu quero convidar você, brasileiro que queira participar de uma construção de um mundo mais fraterno, mais justo, mais solidário, que se filie. Até hoje à noite você pode se filiar a qualquer partido. Pesquise qual é o partido em que você sente que as suas ideias são melhor representadas e em que, de alguma forma, você se sente um pouco mais confortável e deixe essa carta na manga. Você não precisa nem decidir hoje se vai se candidatar ou não, mas converse com a família. E, se você sentir um chamado - porque é uma missão, eu vejo a política como uma missão -, você pelo menos vai estar filiado e poderá disputar a eleição.
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Este ano nós teremos eleição para Governador, Presidente da República, Senador, Deputado Estadual e Deputado Federal. São grandes eleições, e espero que as emoções estejam serenas para que tudo isso transcorra na paz. Mas a participação de gente de fora da política, para entrar, é muito importante também, sabe? Porque o espaço vai ser ocupado. Não existe vácuo de poder na política. E, como disse Platão, 350 anos a.C., o destino das pessoas boas e justas que não gostam de política é serem governadas por pessoas nem tão boas e nem tão justas que gostam de política. Então, é muito importante este convite.
Eu sou um exemplo de uma eleição quase impossível - foi, inclusive, contra o Presidente do Senado Federal à época. E nós conseguimos vencer. Porque o nosso Deus é o Deus do impossível. Então, quando chega a hora, a urna é um detalhe. A gente tem que se colocar à disposição. Então, eu faço este convite para que a gente possa ocupar esses espaços com gente do bem, cada vez mais, com ideais, idealistas, para mudar o que está aí.
Eu peço essa música, que me lembra muito do Butão, viu, Elianildo? A gente sabe que se estão ampliando os países que têm o índice FIB (Felicidade Interna Bruta). Quem sabe um dia o Brasil possa ter esse indicador, que mede a felicidade das pessoas pela possibilidade de alimentação, de moradia, de lazer, de cultura? E essa música é um compilado que nos convida a fazer o serviço do bem.
Muito obrigado. Que Deus abençoe a todos! Muita luz, muita paz!
E obrigado pela paciência. A gente acabou se estendendo - peço desculpas à equipe, principalmente aos funcionários da Casa -, estamos com mais de quatro horas de sessão, mas eu acho que foi bem produtiva, para a gente refletir bastante para tomar as próximas iniciativas.
Muito obrigado pela atenção.
A gente vai ouvir a música e volta só para declarar oficialmente encerrada a sessão.
(Procede-se à execução de música.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Juntos pelo Brasil/PODEMOS - CE) - Declaro encerrada a sessão.
Muito obrigado.
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(Levanta-se a sessão às 14 horas e 24 minutos.)