1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
57ª LEGISLATURA
Em 15 de junho de 2023
(quinta-feira)
Às 9 horas
67ª SESSÃO
(Sessão Especial)

Oradores
Horário

Texto com revisão

R
O SR. PRESIDENTE (Marcelo Castro. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - PI. Fala da Presidência.) - Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.
A presente sessão especial foi convocada em atendimento ao Requerimento nº 464, de 2023, de autoria desta Presidência e de outros Senadores, aprovado pelo Plenário do Senado Federal.
A sessão é destinada a comemorar o Dia Nacional da Imunização.
A Presidência informa que esta sessão contará com a participação dos seguintes convidados: a Exma. Sra. Ministra Nísia Trindade, Ministra de Estado da Saúde; o Sr. Antonio Barra Torres, Diretor-Presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); o Sr. Mario Moreira, Presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); a Sra. Lucilene Maria Florêncio de Queiroz, Secretária de Estado de Saúde do Distrito Federal; o Sr. Claudio Maierovitch, Sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz; e o Sr. Gonzalo Vecina, Professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, que vai participar remotamente.
Convido a todos para, em posição de respeito, acompanharmos o Hino Nacional.
(Procede-se à execução do Hino Nacional.)
R
O SR. PRESIDENTE (Marcelo Castro. Bloco Parlamentar Democracia/MDB - PI. Para discursar - Presidente.) - Dia Nacional da Imunização, sessão especial.
Sras. e Srs. Senadores, Sras. e Srs. Deputados, Sras. e Srs. Embaixadores, Encarregados de Negócios e demais membros do corpo diplomático; Sra. Ministra de Estado da Saúde, Nísia Verônica Trindade Lima; Ilmos. Srs. Antonio Barra Torres, Presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária; Mario Moreira, Presidente da Fiocruz; Claudio Maierovitch, Sanitarista da Fiocruz; Gonzalo Vecina Neto, Professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo; Ilma. Sra. Lucilene Queiroz, Secretária de Saúde do DF; e demais presentes nesta sessão especial, a imunização por meio das vacinas é considerada, com exceção do acesso à água potável, a medida com maior impacto na redução da morbimortalidade da população mundial, conferindo-lhe papel de destaque entre as ações da saúde pública, a exemplo da erradicação da varíola e da poliomielite. Essa informação, fornecida pela Organização Pan-Americana da Saúde, demonstra de maneira peremptória a importância da vacinação para as pessoas, para as comunidades e para as nações. Daí a necessidade de celebrarmos mais um Dia Nacional da Imunização nesta sessão especial. A Organização Mundial de Saúde estima que as vacinas salvem a vida de 3 a 5 milhões de pessoas a cada ano, em média. São 5 milhões de famílias que deixam de ser vitimadas por tragédias a cada ano.
R
Apenas entre 2020 e 2021, calcula-se que a vacinação contra a covid-19 tenha evitado a morte de cerca de 20 milhões de pessoas.
Os dados são impressionantes.
Mas a vacinação hoje, uma medida tão comum, primordial em qualquer país que preze pela saúde pública, tem uma história supreendentemente recente.
A primeira pesquisa na área é de 1789, pouco mais de 200 anos atrás. Na época, as descobertas experimentais do médico e cientista inglês Edward Jenner deram origem à vacina contra a varíola.
O nome "vacina" remete, inclusive, ao nome científico da varíola bovina, variolae vaccinae, inoculada nas pessoas para evitar a forma humana da doença.
Desde então, toda a humanidade ganhou com a erradicação da varíola, a eliminação quase total da poliomielite e a diminuição da incidência de várias doenças graves, como a caxumba, a gripe, a rubéola, o sarampo e o tétano.
Não podemos nos esquecer: apenas 30 anos atrás, a pólio paralisava quase mil crianças por dia em 125 países de todo o mundo, incluindo as Américas.
Antes da introdução da vacina contra o sarampo, em 1963, havia importantes epidemias da doença a cada dois ou três anos, que chegavam a causar mais de dois milhões de mortes ao ano.
Por esse motivo, senhoras e senhores, o Dia Nacional da Imunização é uma data especial a ser celebrada. O Brasil é hoje referência mundial em vacinação. Oferecemos à população todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde.
O Programa Nacional de Imunizações, criado em 1973, é o mais antigo das Américas. Há oferta gratuita de vacinas para mais de 30 doenças em todas as faixas etárias. São distribuídos 300 milhões de doses ao ano em 38 mil salas de vacinação distribuídas pelo território nacional.
Nos últimos anos, porém, houve um retrocesso lamentável. Há uma tendência comprovada de redução da cobertura vacinal desde 2016 na média brasileira. Os motivos são muitos e passam por fake news e ignorância em relação a doenças com baixa ocorrência.
Durante a pandemia de covid-19, a desinformação geral em relação a vacinas chegou a um nível alarmante, atingindo, inclusive, imunizações contra outras doenças. Somente nesse período, os índices de vacinação infantil caíram entre 10% e 20%.
Tamanha irresponsabilidade tem repercussões diretas em toda a sociedade. É óbvio, mas parece que precisa ser repetido: a imunização protege não somente o indivíduo que se vacina, mas também toda a comunidade, ao reduzir a propagação das doenças.
Quem não se vacina contribui para o aumento da circulação de doenças e para a redução da eficácia das vacinas, colocando em risco a sua saúde, a de seus familiares e a de qualquer pessoa com quem tenha contato. Vacinação, senhoras e senhores, é um pacto coletivo.
Não se vacinar, além de um ato que demonstra falta de esclarecimento, é também uma escolha egocentrada e individualista.
Isso sem levar em conta a importância da vacinação para os cofres públicos. Estudos na área da economia da saúde demonstram que, a cada dólar investido em imunização, 16 são economizados no tratamento de doenças preveníveis.
R
Um gestor público responsável, portanto, tem o dever de priorizar a ampla imunização da população. Por esses motivos, o Dia Nacional da Imunização é uma data de extrema relevância, uma oportunidade única para reafirmarmos a importância das vacinas e o nosso compromisso com a saúde pública.
Antes de passar a palavra para os nossos convidados e convidadas, aproveito este momento de celebração para agradecer aos Senadores e às Senadoras que subscreveram o nosso Requerimento nº 464/2023, com a finalidade de promovermos esta sessão especial. São a Senadora Ana Paula Lobato, Senadora Jussara Lima, Senadora Margareth Buzetti, Senador Confúcio Moura, Senador Humberto Costa, Senador Izalci Lucas, Senador Paulo Paim, Senador Romário.
Muito obrigado. (Palmas.)
Agora vamos assistir a um vídeo institucional.
(Procede-se à exibição de vídeo.)
O SR. PRESIDENTE (Marcelo Castro. Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - PI) - Queremos registrar as presenças aqui da Senadora Augusta Brito, representante do glorioso Estado do Ceará; do representante da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial de Saúde no Brasil, Sra. Socorro Gross; da Secretária de Vigilância e Saúde Ambiente do Ministério da Saúde, Sra. Ethel Maciel; da Coordenadora da Iniciativa de Imunização da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial de Saúde no Brasil, Sra. Lely Guzmán; do Secretário de Vigilância à Saúde da Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal, Sr. Divino Valero Martins.
Vamos registrar também a presença do nobre Deputado Lindbergh Farias.
Concedo a palavra à Exma. Sra. Ministra Nísia Trindade, Ministra de Estado da Saúde. Aqui está formalizado o prazo de cinco minutos, mas a senhora fique à vontade para fazer sua explanação.
R
A SRA. NÍSIA TRINDADE (Para discursar.) - Bom dia a todas e a todos.
Cumprimento, com muita satisfação, e agradeço ao nobre Senador Marcelo Castro, que preside esta sessão e que, também, coordenou o requerimento desta comissão de Senadoras e Senadores que propõe esta Sessão Especial no Senado Federal para a comemoração do Dia Nacional da Imunização.
É, de fato, uma sessão da maior importância para todos nós que acreditamos no Sistema Único de Saúde e que, como bem disse o Senador Marcelo Castro, está na base, nos fundamentos, da Organização Mundial da Saúde.
Vacina e água potável foram - e são - grandes instrumentos civilizatórios para salvar vidas e para melhorar importantes indicadores de saúde, entre eles a mortalidade infantil e, também, a expectativa de vida.
Então, o Senador Marcelo Castro já falou brilhantemente sobre o sentido desta sessão, e pouco eu poderia acrescentar, mas falarei sobre como o Ministério da Saúde está enfrentando esse grande desafio.
Quero cumprimentar, também, a Secretária de Estado da Saúde do Distrito Federal, a Sra. Lucilene Florêncio, representando aqui, também, como Vice-Presidente, o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde, representado também por seu Secretário Executivo, Jurandi Frutuoso.
Antes de falar dos demais componentes, eu não poderia deixar de, neste momento, agradecer a todas as Senadoras e Senadores por esta iniciativa de hoje, cumprimentar todas as representações diplomáticas, todos os convidados, a comunidade da saúde pública, do nosso Sistema Único de Saúde, que sabe muito bem a importância desta frase: vacina é vida, vacina é para todos.
Em muitos países, não temos a garantia desse acesso, o SUS nos dá essa garantia, mas temos o grande desafio de, além de garantir o provimento de vacinas, além de lutar pela autossuficiência na imunização, trabalharmos em prol da autossuficiência das vacinas e da imunização.
Não existe vacina, não existe programa de imunização bem-sucedido se não houver o ato de vacinar, a adesão dos gestores públicos em todos os níveis e a adesão da sociedade.
Quero cumprimentar também o Presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Mario Moreira, a fundação que tem se desdobrado em ações, junto à Organização Pan-Americana de Saúde e a vários organismos, no sentido da retomada das altas coberturas vacinais.
E, neste momento, também cumprimento a Organização Pan-Americana de Saúde por seu trabalho na região das Américas, na pessoa da sua representante no Brasil, a Dra. Socorro Gross.
É uma honra também estar nesta Mesa com Cláudio Maierovitch, importante epidemiologista, pessoa de referência no campo da vigilância em saúde, e à distância, mas presente entre nós, com muita satisfação, o grande sanitarista Gonzalo Vecina.
Bom dia, Gonzalo. É muito bom estarmos juntos aqui.
R
Bom, creio que... Se não cumprimentei a todos, eu quero, neste momento, estender meu abraço a todos os Parlamentares aqui presentes, a todos os convidados, dizendo que também estão, da equipe do Ministério da Saúde, como já foi anunciado, a nossa Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, e também Eder, que é o nosso diretor do Programa Nacional de Imunizações.
O Programa Nacional de Imunizações, que completa 50 anos em setembro, Senador Marcelo Castro. Hoje nós o elevamos à posição de uma direção de departamento no nosso Ministério da Saúde, pela sua importância. Sabemos também que não são tempos fáceis, não é? É muito simbólico este momento de hoje, mas quero compartilhar com vocês também o tamanho do desafio.
Nós vemos um fenômeno que eu considero curioso. O Zé Gotinha está em alta, não é? Muitos de nós aqui, inclusive o Senador Marcelo Castro, com o button do Zé Gotinha. O Zé Gotinha esteve no Carnaval, no Rio de Janeiro; esteve em São Paulo, durante a Parada Gay; está, em todos os momentos, presente, quando queremos reforçar a campanha de vacinação. Mas não temos ainda essa força que precisamos ter, e o Senado é fundamental para que a vacinação volte a ser um orgulho do nosso país, como já foi. Queremos que isso aconteça, queremos a nossa população protegida em todo o seu ciclo de vida, todas as vacinas para cada faixa etária.
E temos uma responsabilidade também fundamental com a proteção das nossas crianças e adolescentes, algo definido no Estatuto da Criança e do Adolescente como um direito. O direito à vacina é o direito à proteção, é o direito à vida, que não pode ser negado.
Então também quero dirigir esta fala a todas as famílias. Não podemos deixar nossas crianças, nossos jovens sem proteção. E hoje o Brasil retoma tantos programas importantes, entre eles o Bolsa Família, a condicionalidade do Bolsa Família com a vacinação das nossas crianças, dos nossos jovens, além do pré-natal.
O Zé Gotinha faz mais sucesso que eu, gente, assim não pode. (Risos.)
Que bom, não é? Já falo com ele. Eu falei: "Zé Gotinha, daqui a pouco vão querer Zé Gotinha Ministro da Saúde, não vai dar muito certo". Mas seria ótimo, não é? Eu visto a camisa aqui do Zé Gotinha.
Bom, brincadeira à parte, mas porque precisamos também de alegria, e a alegria sempre esteve junto das campanhas de vacinação, porque é um ato de vida, é um ato de amor, é um ato de proteção. Eu quero dizer a vocês que quando assumi a pasta e a missão designada a mim pelo Presidente Lula, entre as maiores urgências já apontadas pela equipe de transição, estava a retomada das coberturas vacinais no Brasil.
Essa baixa das coberturas vacinais se agravou nos últimos quatro anos. Isso é um fato sobre alguns números que o Senador Marcelo Castro mencionou.
R
Por isso, infelizmente, o Brasil passou a fazer parte da lista de países de alto risco para a reintrodução de doenças que estavam eliminadas - do ponto de vista da circulação dos agentes que as causavam, dos vírus que as causavam -, através das campanhas de vacinação. O sarampo, infelizmente, voltou e a poliomielite é uma doença considerada com alto risco de retorno.
Precisamos reverter esse quadro com urgência. É urgente uma ação consistente de vacinação. Uma ação desse tipo depende do Governo Federal, depende de estados e municípios, mas depende também da mobilização de toda a sociedade e de todos os entes políticos. Daí, Senador, eu quero aqui, de novo, reforçar a importância do ato do Senado neste momento.
Também agradeço a esta Casa pela aprovação da chamada PEC da Transição, porque sem ela nós não teríamos os recursos necessários para essa e para todas as ações que estamos realizando no Ministério da Saúde.
O fato concreto é que, se não houvesse a ação, a partir da proposta liderada pelo Presidente Lula, e a ampla adesão que alcançamos no Congresso Nacional, no Senado e na Câmara, não teríamos condição de realizar essa ação porque o corte orçamentário, nessa área, era de quase 60% do orçamento mínimo necessário para essa ação. Então, eu quero fazer esse registro aqui. Essas ações são possíveis porque houve um caminho político correto para garantir bases mínimas para a retomada de programas essenciais para a saúde da nossa população.
Não podemos permitir o retrocesso e o retorno de doenças tão graves ao nosso país. É inaceitável isso. Tenho dito que houve, ao lado do negacionismo na ciência, também uma política de descaso com as necessidades mais importantes da saúde da nossa população, no Governo que nos antecedeu. Fazer esse processo, reconstruir, é sempre um grande desafio.
Lembro aqui a trajetória de sucesso do Programa Nacional de Imunizações, que completará 50 anos em 2023. O Zé Gotinha é um símbolo dos anos 80, da grande força das campanhas de vacinação - iniciando pela poliomielite -, que rapidamente se tornou um símbolo de toda a proteção dada pelas vacinas.
Toda essa questão mostra para nós uma grande responsabilidade. Neste momento, nós estamos juntos com o Conass, aqui representado o Conselho de Secretários Estaduais de Saúde, e com o Conselho de Secretários Municipais de Saúde. Com este ato de hoje, sei que, junto com o Senado Federal, de uma forma muito ativa, e, certamente, junto com a Câmara, que criou também uma Comissão Especial para a imunização - e quero saudar também essa iniciativa da nossa Câmara de Deputados -, nós estaremos no movimento. É um movimento que não terá a reversão total desse quadro no curto prazo, mas nós sabemos que, se bem conduzido, com a força de todos nós, poderá, sim, fazer com que o Brasil retome as altas coberturas vacinais, que é a nossa meta com essa ação.
R
Nesse sentido, no âmbito do Movimento Nacional pela Vacinação, nós estamos empreendendo várias ações. A próxima ação que empreenderemos é um movimento de multivacinação, indo a cada região do Brasil, com atos, com mensagens, unindo saúde, esporte, cultura, desenvolvimento social, a sociedade civil e o Governo em um grande ato em defesa da vida. A primeira ação dessa multivacinação ocorrerá em agosto, em Belém do Pará, mas nós já estamos com ações em vários estados.
Quero aqui, nesta Casa, que representa também a nossa Federação, dizer que passamos a ter um olhar atento a algo essencial, que é considerar a diversidade regional, a sazonalidade das doenças no nosso país. Por isso, as ações intensivas em relação às doenças respiratórias e, principalmente, à vacinação de influenza, iniciaram-se na Região Norte primeiro, uma antiga demanda da Região Norte, até porque, justamente, a sazonalidade é outra. Ao mesmo tempo, vivemos o impacto das mudanças climáticas, que fazem com que também essa sazonalidade vá mudando o seu perfil, mas deixo isso para o Claudio Maierovitch, que certamente falará sobre isso com mais propriedade do que eu.
Mas, enfim, neste momento, eu quero afirmar aqui que a vacinação é um grande compromisso do Ministério da Saúde, mas que só poderá ser realizado efetivamente com esse compromisso federativo, com esse compromisso de todos os atores políticos, com ações de busca ativa, que é o que temos também orientado - e muitos municípios já a fazem na atenção primária, que é onde acontece o ato de vacinação. Portanto, é um conjunto de ações que tem que estar junto com esse ato tão simples, tão caro à vida e, ao mesmo tempo, oferecido pelo nosso Sistema Único de Saúde como um bem público, que assim vemos a vacinação.
Portanto, vamos nos vacinar! Vacina é vida! Vacina é para todos! Que esse seja um ato de amor por toda a nossa sociedade, de cuidado, que é a primeira função de um governante, e que seja também um ato de união e reconstrução, como é o nosso lema.
Muito obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Marcelo Castro. Bloco Parlamentar Democracia/MDB - PI) - Agradecendo as palavras da nossa Ministra Nísia Trindade, o seu compromisso em defesa da saúde pública e da vacinação do país, quero registrar que o Deputado Lindbergh Farias acompanha os alunos da Escola Parque do Rio de Janeiro.
Sejam bem-vindos! Sintam-se à vontade, em casa.
Quero registrar a presença do Deputado Weliton Prado, nosso colega, amigo de Minas Gerais.
Quero registrar a presença também do Dr. Jurandir Frutuoso, Secretário Executivo do Conass, nosso grande amigo; e do Diretor Nacional de Imunização, Sr. Eder Gatti.
R
Passo a palavra ao Sr. Mario Moreira, Presidente da Fundação Oswaldo Cruz - a nossa estimadíssima Fiocruz - por cinco minutos, mas V. Sa. sinta-se à vontade, se precisar, pode estender o tempo pois nós estamos aqui para ouvi-lo, com todo prazer.
O SR. MARIO MOREIRA (Para discursar.) - Obrigado, Senador Marcelo Castro, pela voz aqui e pelo convite também para esta solenidade tão importante. Queria cumprimentar a Ministra, a Sra. Nísia Trindade, na pessoa da qual eu cumprimento todas as autoridades aqui presentes; a Secretária de Estado de Saúde do Distrito Federal, a Sra. Lucilene Florêncio; meu colega Claudio Maierovitch e também meu colega Gonzalo Vecina, que nos assiste aqui pela telinha.
Eu diria que vacina e vacinação, pode-se dizer, são a própria gênese da Fundação Oswaldo Cruz, que surge com esse intuito, com essa missão de debelar doenças que acometiam o Brasil e que, portanto, requeriam uma atividade de desenvolvimento científico e tecnológico capaz de superar uma crise sanitária que se instalava no país. Portanto, a nossa vida, desde então, é produzir vacinas, é trabalhar pela vacinação no Brasil.
Nós entendemos que vacina é um produto da ciência e, portanto, temos que valorizá-la nessa perspectiva. Mas também entendemos que vacina é um bem público e que tem que ser tratado dessa maneira também - na perspectiva do acesso. A vacina precisa ser acessada por todas as populações em qualquer lugar do planeta.
Como o Senador já mencionou aqui, é um dos instrumentos de saúde pública que apresenta a melhor relação, uma relação ótima de custo-benefício, um investimento que se traduz em salvar vidas e que, portanto, assume uma importância central nas políticas públicas do Brasil.
Mas vacinar no Brasil nem sempre foi tão fácil. O primeiro movimento, a primeira revolta social acontecida na República foi justamente um movimento contra a vacinação. E, logo após superada, a política de vacinação no Brasil, a estratégia de vacinação no Brasil, desde então, tem se tornado uma festa, uma celebração com os dias de campanha em que a população brasileira comparece festejando essa possibilidade de ter acesso a vacinas.
No entanto, como já foi dito aqui, tanto pelo Senador Marcelo Castro como pela Ministra Nísia Trindade, nós estamos enfrentando uma queda nas taxas, nas coberturas de vacinação e eu entendo que a reversão dessa situação será fruto de um movimento social amplo, de uma mobilização de toda a sociedade, inclusive do Parlamento brasileiro.
Eu queria destacar um ponto aqui também que é importante, é que o Brasil é referência mundial nas estratégias de vacinação, não somente pelo programa, pela sua extensão, pela quantidade de vacinas que oferece, mas também pelas coortes que são albergadas pela política.
No Brasil, nós vacinamos gratuitamente crianças, adolescentes, adultos e também idosos. É um dos programas, se não o programa mais extenso de vacinação do mundo. E também, por conta de uma política que data da criação do PNI, na década de 70, no século passado, o Programa Nacional de Auto-Suficiência em Imunobiológicos, que foi fundamental, o Brasil desenvolveu uma indústria nacional que garantiu a sustentabilidade e a soberania do Programa Nacional de Imunizações.
R
A partir disso, fortaleceu-se no Brasil uma indústria pública, encabeçada pela Fiocruz, mas também que conta com o Butantan; o Tecpar, do Paraná; o Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro; a Funed, em Minas Gerais, enfim... a FAP, no Rio de Janeiro. Nós temos uma indústria hoje espalhada que foi capaz de garantir todas as estratégias de vacinação do Brasil, a partir de uma indústria que pudesse oferecer essas vacinas.
Tanto é verdade isso que o Brasil tem sido convocado para um esforço global de tornar o acesso a vacinas no mundo todo algo mais assimétrico, mais justo, mais democrático. O que vivemos durante a pandemia, quando pequena parte da população mundial teve acesso à maior parte da oferta de vacinas, traduz um esforço hoje, que foi objeto da Assembleia Mundial da Saúde, de ampla discussão, de o mundo promover uma coprodução regional que não... que evite qualquer dificuldade e garanta acesso a qualquer país do mundo, a qualquer população às vacinas.
É muito importante o Brasil ter sido convocado, e a Fiocruz está nesse esforço mundial. Ela já é um hub para a produção de vacina do covid aqui nas regiões.
Eu queria dizer, por fim, Sr. Senador, Sra. Ministra, que a Fiocruz está imbuída e, muito mais do que isso, super, totalmente comprometida com esse esforço nacional de reconquista das altas taxas de coberturas vacinais.
Muito obrigado de novo e parabéns pela iniciativa. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Marcelo Castro. Bloco Parlamentar Democracia/MDB - PI) - Quero agradecer pelas palavras do Sr. Mario Moreira, da Fiocruz, e registrar a presença aqui do nobre Deputado Dorinaldo Malafaia, que nos honra com a sua presença - ele é o Presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Vacina. Seja bem-vindo aqui ao nosso Senado.
Passo a palavra agora à Sra. Lucilene Maria Florêncio de Queiroz, Secretária de Saúde do Distrito Federal.
Fique à vontade.
A SRA. LUCILENE MARIA FLORÊNCIO DE QUEIROZ (Para discursar.) - Bom dia. Bom dia, Senador Marcelo Castro. É uma honra, um privilégio poder estar aqui a seu convite. Sinto-me muito honrada pela sua história de vida, pelo que o senhor faz pelo nosso país - Ministro da Saúde que já foi.
Eu quero dar muito bom-dia ao Presidente da Fiocruz, Dr. Mario Moreira; ao Diretor-Presidente da Anvisa, o Dr. Antonio Barra; ao sanitarista da Fiocruz, Dr. Claudio Maierovitch e ao professor da faculdade... Dr. Gonzalo Vecina, que está aqui e que muito nos inspira.
Quero agradecer pela honra e pelo privilégio também de poder estar aqui com a equipe da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, os nossos gestores, os nossos trabalhadores, que estão ombreados conosco no nosso dia a dia, para nós enfrentarmos e aumentarmos a cobertura vacinal no Distrito Federal.
R
Quero também agradecer e dar bom-dia à Fran Lustosa, nossa amiga, uma irmã por escolha, que está aqui; ao Deputado Reginaldo Veras; à nossa Secretária Ethel Maciel, à Dra. Socorro Gross, ao Dr. Jurandi Frutuoso. Então, eu quero agradecer o privilégio e a honra de poder estar cuidando da saúde do Distrito Federal.
Quero registrar aqui todo o apoio, todo o incentivo que tenho tido do nosso Governador Ibaneis Rocha, que tem dado a mim a missão para nós aumentarmos a cobertura vacinal no Distrito Federal.
Registro que, neste ano de 2023, até o presente momento, vacinamos 1,3 milhão de pessoas aqui no Distrito Federal: 576 mil pessoas contra influenza; 566 mil contra covid. E quero dizer para o senhor, Senador, que nós temos inovado, nós temos caminhado e ido buscar todos os usuários do Sistema Único de Saúde em suas próprias casas, em seus ambientes, no seu dia a dia. Temos ido a zoológico, praças, campos de futebol, supermercados. E há o nosso Carro da Vacina, que hoje é um sucesso e é um exemplo para o país.
Nós temos entendido que toda essa informação indevida que vivemos nos últimos seis anos nos levou à diminuição da cobertura vacinal e à diminuição e à perda do protagonismo do Brasil em relação à vacina. Mas eu tenho certeza e estou confiante de que nós vamos fazer esse resgate, porque estamos diuturnamente buscando esse aumento de cobertura e estamos indo até o dia a dia das famílias. Agora fizemos um termo de cooperação, um pacto com a Secretaria de Educação e vamos até as 698 escolas do Distrito Federal.
Quero dizer para o senhor que nós, com a Organização Pan-Americana, com o apoio do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, firmamos um termo de cooperação e fomos, com os vacinadores, de porta em porta nos lugares mais distantes, nas áreas mais vulneráveis do Distrito Federal, porque elas existem - elas existem e elas são muitas. Fomos até os Trechos 2 e 3, de Ceilândia, Pôr do Sol, Sol Nascente, de porta em porta, com o Carro da Vacina, ofertando todo o nosso cardápio. É nessa busca, é nessa luta que eu tenho chamado, conclamado, convidado a população do Distrito Federal a entrar nesse movimento. Eu não queria que fosse um dia excepcional, o Dia D. Eu queria que todos os dias fossem dias especiais, quando todos os dias nós pudéssemos estar ofertando o que é vida, o que salva.
Então, as nossas 130 salas de vacina, Dr. Maierovitch, têm servidores treinados, capacitados, qualificados e abnegados, à espera de que a população venha. Mas eles próprios também estão indo até os locais. Sábado estaremos na Feira do Guará, vacinando quem chegar. Então, é no dia a dia, na rotina da população, que nós estamos chegando com a vacina.
R
Quero parabenizar, agradecer este momento, que é ímpar na minha vida como servidora pública e como apaixonada pelo Sistema Único de Saúde. Foi uma opção de vida, e a gente vive por ele, e a gente luta por ele. Por isso nós estamos aqui.
Então, quero agradecer, mais uma vez, e dizer que o senhor é uma inspiração para mim, Senador. Como nordestina que sou também, nós sabemos as dificuldades que vivemos.
Eu ainda sou de uma geração que tomei vacina de pistola. A gente nem escolhia. A gente ia do Recife para Caruaru, de ônibus, e de Caruaru para Recife. O ônibus parava, alguém subia, e pistola na gente!
Aí nós não podemos perder esse protagonismo e nem podemos permitir que nenhuma doença imunoprevenível volte ao nosso território. O que está erradicado está erradicado, não voltará, porque nós vamos lutar por esse motivo.
Sobre as que ainda não estão erradicadas, é factível, é possível. Então, vamos lutar.
Contem com esta servidora, com esta apaixonada!
Obrigada, Dr. Jurandi, por todo o apoio do Conass. É uma honra para mim poder ser Vice-Presidente da Região Centro-Oeste e poder colaborar e poder aprender naquele espaço que, para mim, é uma escola.
Obrigada.
Um abraço, servidores.
Obrigada. Obrigada mesmo.
Vamos juntos, vamos ombreados, porque a nossa missão é árdua, mas é muito linda e nos faz crescer e querer amanhecer a cada dia.
Fran, muito obrigada pelo seu carinho e pelo seu cuidado. Fran Lustosa, minha amiga.
Obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Marcelo Castro. Bloco Parlamentar Democracia/MDB - PI) - Parabenizo a nossa Secretária Lucilene pela firmeza à frente da Secretaria de Saúde do DF e pela ação que está fazendo em favor da vacinação, com o Carro da Vacina. Pelo que eu entendi, é praticamente uma busca ativa para a vacinação.
Louvável o trabalho de V. Sa.
Registro a presença do nobre Deputado Reginaldo Veras, representante do nosso DF.
Passo a palavra ao nosso grande Claudio Maierovitch, sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz, que tem um papel muito importante na difusão da ciência nos meios de comunicação do país.
Com a palavra, V. Sa.
R
O SR. CLAUDIO MAIEROVITCH (Para discursar.) - Bom dia, Senador Marcelo Castro. Saúdo-o e agradeço o convite para estar aqui.
É uma honra participar desta mesa, sob a sua Presidência. Tive a grande satisfação de trabalhar com V. Exa., como Ministro da Saúde, quando enfrentamos uma primeira - e espero que não venha outra - emergência de saúde pública de importância internacional, com o epicentro no nosso país, que foi a epidemia de microcefalia relacionada - não sabíamos, ainda no início, descobrimos, à época - ao vírus zica, que demonstrou muito para nós muita importância... o quanto nós precisávamos nos preparar melhor para responder a emergências e o quanto a saúde e a ciência caminhavam juntos à área de pesquisa, cada vez mais próxima, o que nos abria um horizonte de um futuro muito promissor no combate a diversos tipos de doenças. E pensávamos, na época, que era de lá para melhor.
Embora já tenha saído, quero fazer a saudação à nossa Ministra Nísia Trindade e à sua equipe, à Ethel Maciel, ao Eder Gatti, que vêm representando um esforço enorme de retomada, ao qual vou me referir em seguida; e ao nosso Presidente Mario Moreira, que simboliza, acho que melhor do que ninguém, um esforço brasileiro ocorrido durante esta emergência de saúde pública que acabamos de viver, na pandemia, e que continuamos vivendo. Mas, apesar de toda a adversidade do ambiente político e do ambiente sanitário, evidentemente, a instituição reagiu e soube se colocar à frente, trazendo uma vacina absolutamente estratégica para combater a pandemia, entre outras muitas iniciativas na área da pesquisa, da formação, e até mesmo da atenção direta aos pacientes na unidade que se expandiu, no Rio de Janeiro, do Instituto Nacional de Infectologia.
Saúdo também a nossa Secretária de Estado aqui do Distrito Federal e faço questão de mencionar esse seu entusiasmo, que me lembra - e também vou tocar nisso em seguida - a minha entrada na saúde pública. Nós somos contemporâneos do Zé Gotinha e das grandes campanhas de vacinação que marcaram a história do PNI por décadas.
Eu ouvi menção - não o vi aqui, mas o saúdo - ao Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres. Saúdo o meu professor - está ali no vídeo -, o Gonzalo Vecina, grande amigo e inspirador da Faculdade de Saúde Pública de São Paulo. Saúdo aqui a nossa representante da Organização Pan-Americana da Saúde, Socorro Gross, a Lely Guzmán, liderando essa área na Organização Pan-Americana, o nosso Jurandi Frutuoso, sustentáculo do funcionamento do nosso Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde; saúdo os demais presentes, Senadores, Deputados, outras autoridades, trabalhadores da saúde.
R
É uma satisfação enorme poder participar desta solenidade, comemorar o Dia Nacional da Imunização nesse contexto que vivemos atualmente. Basta lembrar que a existência de uma vacina não é suficiente para o combate às doenças. Nós demoramos cerca de 200 anos, entre a existência, o início, a confecção da vacina para a varíola e a sua erradicação. Demoramos um tempo enorme e ainda não conseguimos a eliminação completa da poliomielite no mundo. Achávamos que tínhamos conseguido eliminar o sarampo das Américas, mas continuamos às voltas com ele. Vacinação é um instrumento fundamental, mas que deve se articular necessariamente às políticas de saúde, às políticas de vigilância, à organização dos sistemas de saúde em conjunto com a sociedade. E nós temos aprendido isso não de forma pacífica.
Vínhamos, como mencionei antes, numa expectativa que acompanhava a história do PNI, com coberturas vacinais que foram crescentes, com o início que era marcado por algumas iniciativas que nós deixamos de falar há algum tempo, como a presença das equipes de vacinação nas escolas, nos locais de trabalho, nos locais de grandes concentrações, dias nacionais de imunização bastante concorridos, bastante movimentados, porque isso era necessário no início da história do nosso programa de vacinação, quando as pessoas tinham pouco hábito de frequentar as unidades de saúde ativamente em busca das vacinas. Pensávamos que essa era uma conquista irreversível, que havia sido incorporada à cultura brasileira. Isso não é só no Brasil, mas brasileira, nesse caso, a consciência sobre a importância das vacinas e a ação voluntária das pessoas em busca delas.
(Soa a campainha.)
O SR. CLAUDIO MAIEROVITCH - Essa ação voluntária é, inclusive, acompanhada por uma participação muito grande da sociedade, das suas organizações, quando organizávamos campanhas de vacinação no município, em estados, aqui no Ministério da Saúde. Infelizmente, vimos que a realidade não era exatamente essa e tivemos que suportar, ao longo dos anos, dos últimos governos que nos precederam, praticamente esse último que se encerrou no final do ano passado, não apenas uma desidratação dos nossos programas de vacina, mas a ação deliberada contra a vacinação, sob liderança, para nossa surpresa, então, do próprio Chefe do Poder Executivo. Não vivemos, então, apenas uma tragédia sanitária que poderia ser contornada com os instrumentos conhecidos da saúde pública, os instrumentos da sociedade, os instrumentos da tecnologia, mas vivemos um início de uma nova tragédia na cultura sanitária do nosso país quando esse tipo de atitude não apenas fez cair as coberturas vacinais de maneira muito importante - rápida como nós não imaginávamos que fosse possível - ao longo dos últimos cinco anos aproximadamente, mas trouxe marcas que serão difíceis de apagar no comportamento, nas crenças e nas atitudes das pessoas do nosso país.
R
Então, é uma satisfação enorme que nós possamos testemunhar e participar da retomada das políticas sociais e, particularmente, da política de saúde no nosso país, com iniciativas tão importantes como a retomada do Programa Nacional de Imunizações - e que não se resumem a ela! -, iniciativas como a retomada do Farmácia Popular, a valorização das iniciativas relativas à produção autônoma de medicamentos, vacinas e outras tecnologias, trazendo, inclusive, o Brasil - como citou o nosso Presidente da Fiocruz - para a condição de partícipe do esforço mundial para atingir a população como um todo.
Vivemos ao longo dos últimos anos, também, a consciência do quanto a solidariedade está em falta no mundo. Nós vimos o sequestro de produtos de proteção individual numa pista de aeroporto, quando países disputavam aqueles bens absolutamente imprescindíveis; e vimos países superabastecidos com compras e estoques para a imunização de três, quatro vezes a sua necessidade naquele momento, enquanto uma parte importante da população mundial não tinha vacina sequer para a proteção dos grupos prioritários, nem mesmo dos profissionais de saúde que atendiam as pessoas com suspeita de covid.
O Brasil tem um histórico diferente desse e participa - e participará cada vez mais - pela sua capacidade de ciência, tecnologia e inovação, pela sua capacidade produtiva, que se renova e que ganha impulso, anunciado já pela nossa Ministra, para fornecer vacinas para o mundo. E isso não é uma coisa qualquer, são poucos os países que têm essa capacidade no mundo, são poucos aqueles que, inclusive, têm algum tipo de autonomia em relação à vacinação.
Junto a isso, também, vemos a retomada de programas importantes como a nossa Estratégia Saúde da Família, tão essencial quanto a presença de imunizantes para chegar até as pessoas.
Então, eu trago aqui a minha satisfação, satisfação por participar dessa retomada, embora, ao longo da história, seja algo inesperado o retrocesso que nós tivemos, mas que nos mostra essa resiliência, o valor do Sistema Único de Saúde, a capacidade de recuperação e um alerta de que nós não podemos deixar voltar a acontecer aquilo que aconteceu ao longo dos últimos anos.
R
Então, mais uma vez aqui, felicito o nosso Presidente da Mesa e autor da iniciativa, o Senador Marcelo Castro, pela comemoração e pela defesa que tem feito do Sistema Único de Saúde e da imunização.
Digo que nós vamos retomar e nós voltaremos a ser um país com altas coberturas vacinais e com grande capacidade de proteção da população e exportação, não apenas de vacinas, mas desta cultura de proteção e de valorização do ser humano, à frente da defesa de interesses menores ou de preocupações que ameacem a vida.
Então, muito obrigado a todos. É uma satisfação estar com vocês. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Marcelo Castro. Bloco Parlamentar Democracia/MDB - PI) - Agradeço as oportunas e consistentes palavras do Dr. Cláudio Maierovitch e aproveito para registrar a presença do nobre Senador Oriovisto Guimarães e do Senador Kajuru, nosso grande amigo e ilustre representante do querido Estado do Goiás.
Vamos passar a palavra ao último orador de hoje que é o Sr. Gonzalo Vecina, Professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, por cinco minutos, mas o senhor, Dr. Vecina, fique à vontade para fazer a sua explanação pelo tempo que julgar necessário.
Com a palavra.
O SR. GONZALO VECINA (Para discursar. Por videoconferência.) - Bom dia, Senador Marcelo Castro.
É um imenso prazer estar aqui. Agradeço muito o seu convite para falar neste evento tão importante para comemorar o quase cinquentenário do nosso PNI, partindo esta homenagem de uma pessoa que tem a sua trajetória, tão importante no Congresso brasileiro quanto também na saúde pública, como Ministro da Saúde.
Quero cumprimentar a Dra. Nísia Trindade, que é nossa Ministra e está se saindo muito bem - nós já ouvimos vários elogios aí a ela -; o Dr. Mario Moreira, da Fiocruz, da fundamental Fiocruz, para a questão da vacina e a questão da saúde pública neste país; o Dr. Barra Torres, da Anvisa; a Dra. Lucilene, tão entusiasmada com o nosso SUS e com a questão da vacinação. Parabéns, Dra. Lucilene!
Cumprimento o meu amigo Cláudio Maierovitch, que acabou de se manifestar também e fez uma manifestação muito importante. Quero cumprimentar a Ethel e o Gatti, companheiros do Ministério da Saúde; o Jurandi Frutuoso, do Conass, grande companheiro; os demais representantes do Poder Legislativo presentes, em particular o Deputado Malafaia, Presidente da Frente Parlamentar pela Imunização; enfim, as demais autoridades presentes aqui, neste dia tão importante.
Primeiro, eu quero dizer que estou de pleno acordo com tudo o que, até agora, foi dito. Gostaria de não ter que repetir nada do que foi dito, com o que concordo plenamente, mas eu queria fazer, basicamente, três menções.
R
A primeira menção é que, se nós olharmos para o que aconteceu com as curvas de vacinação no Brasil nos últimos dez anos, quer dizer, de 2013 até 2023, nós vamos notar uma inflexão notável muito importante a partir de 2016. Temos que olhar e entender o que aconteceu em 2016. Aconteceu uma coisa: nós começamos a aumentar o subfinanciamento da saúde. É o início da entrada em vigor da Emenda Constitucional 95 e da repressão dos gastos federais na saúde com maior velocidade. Essa é uma questão importante. E o que essa redução de gastos provocou? A coisa mais importante que essa redução de gastos provocou em relação à imunização foi a parada, não a redução, mas a parada das campanhas de vacinação. Não existiu mais campanha no Brasil. Nós teríamos tido um desastre muito pior com a covid-19 se nós não tivéssemos tido a participação fundamental da imprensa para comunicar ao povo brasileiro que existiam vacinas à disposição da população e que as vacinas eram importantes. Sim, houve negacionismo; sim, houve essa vergonha que foi o Médicos pela Vida, além da questão da retirada do Mais Médicos no Governo anterior. Mas a coisa mais importante foi o fim das campanhas. Sem comunicação, nós não vamos conseguir levar a mensagem que nós temos que levar à população. Comunicação é importante. E, junto com a comunicação, tem isso que a Dra. Lucilene está fazendo. Nós temos que ampliar o espaço dessas 38 mil salas de vacinação, para que aqueles que trabalham o dia todo tenham a oportunidade de levar seus filhos para vacinar fora do horário comercial, além do fato dessa expansão da capacidade de vacinação até as escolas, fundamental.
Parabéns, Dra. Lucilene!
A segunda menção que eu queria fazer é a questão da produção de vacinas. Nós não produzimos vacina porque é bonito produzir vacina. Nós produzimos vacina e outros medicamentos, e temos que assumir outros desafios, porque este é um país de 200 milhões de habitantes. Nós não teríamos tido vacina quando tivemos a vacina do Butantan e da Fiocruz lá em 2021 se nós não tivéssemos produzido vacina. O Uruguai compra vacina para suas necessidades numa farmácia em Buenos Aires, 4 milhões de habitantes. Mas o Brasil, com 200 milhões de habitantes, se não produzir alguns itens essenciais, não terá como ofertá-los à sua população. Daí a fundamental importância da Fiocruz e do Butantan. Agora, para isso, nós dependemos não só de políticas públicas emanadas do Executivo, mas também do olhar do Legislativo. Neste momento, o Brasil deixou de produzir a vacina da BCG contra a tuberculose. Como isso é aceitável? Vamos ver, agora a Fiocruz está retomando algum tipo de ação junto com o IBMP, um dos institutos da Fiocruz, para tentar ver como faz para recuperar as condições de funcionamento da Fundação Ataulpho de Paiva, para nós recuperarmos a possibilidade de termos BCG no Brasil.
R
A queda da vacinação da BCG não só ocorreu pelo problema das campanhas, mas, também, pela falta da vacina que nós deixamos de produzir. Além disso, deixamos de produzir e não voltamos a produzir a da hepatite e a da difteria, estamos comprando dos indianos, enquanto eles quiserem vender para nós. Então, essa questão da capacidade de produção é fundamental, além da capacidade de pesquisa.
Por estes dias vimos lá que a Universidade Federal de Minas Gerais está com um esforço imenso na produção de vacinas, uma vacina inédita contra a cocaína, o vício na cocaína. Agora, não tem dinheiro para fazer os testes clínicos. De onde virá esse dinheiro? Daí a importância do Congresso, da frente parlamentar do Deputado Malafaia, dessa ação do nosso Senador aqui, também fundamental, Marcelo Castro, para que a gente possa voltar a ser um polo industrial importante na área da saúde.
E o terceiro elemento que eu queria trazer para finalizar a minha fala, é que a vacinação, as campanhas começaram em 1973, e eu queria de novo lembrar 1973. Eram os anos de chumbo da ditadura de 1964, mas, no entanto, o Ministério da Saúde estava presente e os sanitaristas brasileiros estavam presentes. É dessa vontade de criar um sistema de saúde que realmente traga um diferencial para o nosso povo que a campanha nasceu. Eu acho que nós temos que lembrar dessa luta dos sanitaristas brasileiros, que nunca pararam de lutar para ter um sistema de saúde como o que nós hoje estamos tendo oportunidade de construir, ainda não o temos, estamos construindo, um SUS para todo o povo, que diminua a desigualdade social e melhore as condições de vida para todos nós.
Parabéns, Senador, parabéns, Srs. Parlamentares, pelo esforço que fazem para fazermos um Brasil melhor.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Marcelo Castro. Bloco Parlamentar Democracia/MDB - PI. Para discursar - Presidente.) - Quero agradecer e parabenizar o Dr. Gonzalo Vecina pelas suas sábias palavras, e que colaborou muito nessa pandemia com o esclarecimento da enfermidade e o estímulo à vacina.
Mas, Dr. Vecina, nós que já estamos aqui na melhor idade, esse eufemismo que foi criado aí, eu me recordava enquanto V. Exa. falava que, quando eu estudava Medicina, há 50 anos, a gente aprendia lá na Semiologia do Vieira Romeiro que, quando a gente ia fazer uma anamnese, tinha umas perguntas que eram obrigatórias para o paciente. Você nasceu de parto normal? Caminhou e falou na época adequada? Teve as viroses próprias da infância? Porque naquele tempo não tinha vacina, então, toda criança tinha as viroses próprias da infância: caxumba, catapora, sarampo, coqueluche.
R
Graças a Deus, o nosso Programa Nacional de Imunização é, no dizer de alguns, o melhor do mundo, completa agora 50 anos de bons serviços prestados à nossa saúde pública, mas, verdadeiramente, nós temos um problema a enfrentar que são essas campanhas sistemáticas de gente ganhando dinheiro, desacreditando a vacina.
Eu faço uma reflexão aqui com as senhoras e com os senhores que estão presentes: o que seria de nós, a humanidade, se a ciência não tivesse dado uma resposta tão rápida a essa covid? O que nós estaríamos fazendo hoje? Como estaria a humanidade hoje sem a vacinação?
O Imperial College London fez o estudo e disse que, só em um ano, de dezembro de 2021 a dezembro de 2022, a vacina evitou a morte de 20 milhões de pessoas no mundo. Imagine se a ciência não tivesse agido com a presteza e a com rapidez, que foi inédita na nossa história, e nós hoje aqui estamos convivendo com a covid. Eu, por exemplo, já tomei cinco vacinas, devido à idade: tomei duas CoronaVac, tomei uma AstraZeneca, tomei uma Pfizer e tomei outra Pfizer bivalente. Estou seguindo aqui as instruções dos infectologistas anterólogas que é para aumentar a imunidade. Já peguei a covid, mas a peguei depois de triplamente vacinado, e, como no dizer de alguns, foi uma gripezinha, não incomodou tanto.
Mas nós precisamos, verdadeiramente, estar todos unidos em defesa da ciência. Não podemos condescender, não podemos tolerar nenhum ataque à ciência. Quando uma autoridade pública vai publicamente se manifestar contra a vacina, se exibir que não se vacinou, isso é um desserviço à sociedade, isso não é um ato de exercício do direito de liberdade que cada um tem. É preciso entender que a vacinação é um ato coletivo. Eu me vacino não somente por mim, eu me vacino também pelo outro, pela sociedade. Se a pessoa fosse um ermitão, morasse numa caverna e não tivesse comunicação com ninguém, poder-se-ia até admitir. Bom, quer morrer? Morra. Não quer se vacinar? Não se vacine. Mas quem vive em sociedade, não, tem responsabilidade social, e o direito à liberdade de cada um só vai até onde fere o direito à liberdade dos outros. Então, a pessoa não tem o direito de não se vacinar, porque ela pode ser um propagandeador da enfermidade contra que ela não se vacinou, e, evidentemente, isso não pode ser admitido.
Então, concordo aqui com as palavras do nosso Gonçalo Vecina, que nos deu uma aula aí, mais uma vez, e digo que o Congresso Nacional - o Senado Federal e a Câmara dos Deputados -, nós estamos aqui unidos para a defesa da ciência, porque a ciência é a salvação da humanidade - sempre foi, é e será.
R
Nós não podemos abrir mão da ciência, porque tratamos de vidas e não podemos ficar com essas ideias ideológicas prejudicando. E o que é pior: não é só questão ideológica, não. Tem gente ganhando dinheiro fazendo propaganda contra a ciência, contra a vacina, e, infelizmente, muitas pessoas incautas vão nessa onda e trazem o problema que está ocorrendo hoje: nós já devíamos ter uma enfermidade como o sarampo exterminada, mas agora não, nós estamos novamente convivendo com isso e também com a ameaça de voltar a poliomielite. Evidentemente, nós não podemos tolerar isso.
Então, quero agradecer a todos os presentes que nos honraram aqui; à Ministra Nísia Trindade; ao Dr. Mario Moreira, Presidente da Fiocruz; ao Claudio Maierovitch, esse famoso e importante sanitarista do Brasil; ao Dr. Gonzalo Vecina Neto; e à Dra. Lucilene Queiroz, Secretária do DF, que nos deu aqui uma aula de entusiasmo, de vigor e de capacidade de defesa da saúde, fazendo, conforme eu entendi, uma busca ativa mesmo para ir atrás das pessoas para se vacinarem.
Então, acho que nós cumprimos hoje aqui a nossa sessão especial em defesa do Dia Nacional da Imunização.
Muito obrigado a todos. (Palmas.)
Antes de declarar encerrada a sessão, registro a presença da nossa ilustre Senadora Jussara Lima, que se encontra aqui.
Muito obrigado a todos.
Declaro encerrada a sessão. (Palmas.)
(Levanta-se a sessão às 10 horas e 38 minutos.)