1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
57ª LEGISLATURA
Em 18 de setembro de 2023
(segunda-feira)
Às 10 horas
131ª SESSÃO
(Sessão Especial)

Oradores
Horário

Texto com revisão

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O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Fala da Presidência.) - Paz e bem a todos vocês! Uma segunda-feira de muita luz! Uma semana muito produtiva para o nosso Senado Federal, que, no ano que vem, completará o seu bicentenário.
Eu tenho muita honra de estar aqui conduzindo esta sessão hoje, com pessoas comprometidas com o Brasil, com a humanidade, num momento de escuridão, num momento de sombras que a gente vive, de inversão de valores. É nesses momentos de tempestades que a gente pode buscar alternativas, com serenidade, com resiliência.
E esta sessão muito especial, aprovada pelos colegas Senadores - quero agradecer também ao Presidente do Senado Federal -, é para debater a Escola do Estoicismo.
Vamos, hoje, procurar aqui, durante algumas horas, beber na fonte de grandes estoicos. Em momentos de degradação moral, de corrupção de valores, em que a ética foi deixada de lado, que a gente possa ver o que ocorreu nesses ciclos que começaram e que terminaram, e qual foi a saída buscada em momentos difíceis.
Então, eu fico extremamente grato pela presença de todos vocês aqui - o nosso Plenário do Senado está lotado. Eu só tenho a agradecer, especialmente à Nova Acrópole. A gente até já fez uma sessão sobre a Nova Acrópole, que tem feito um trabalho mundial muito importante neste sentido de resgate. Eu queria dizer que, se você não assistiu à sessão que nós fizemos da Nova Acrópole - acho que foi no ano passado -, basta buscar no YouTube, na TV Senado, nos canais aqui da Casa, porque foi realmente muito proveitosa, inspiradora, inclusive. Vez por outra eu encontro alguém que assistiu e que comenta que, de alguma forma, lhe fez bem. É isto: é o despertar de consciências, é o resgate da filosofia clássica.
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Vamos que vamos, porque vai dar tudo certo!
Eu declaro aberta esta sessão.
Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.
A presente sessão especial foi convocada em atendimento ao Requerimento nº 240, de 2023, de autoria desta Presidência e de outros Senadores, aprovado pelo Plenário do Senado Federal.
A sessão é destinada a debater a Escola do Estoicismo.
Compõem a mesa desta sessão os seguintes convidados: a Professora de Filosofia, integrante da Nova Acrópole, Sra. Lúcia Helena Galvão Maya - por favor, se a senhora puder vir aqui -; (Palmas.) o Sociólogo e Cientista Político, Sr. Luiz Felipe D’Avila (Palmas.); e o Diretor-Presidente Nacional da Nova Acrópole, Sr. Luis Carlos Fonseca. (Palmas.)
Eu queria aproveitar e também dizer para vocês que esta sessão de debates no Plenário do Senado Federal está sendo transmitida para todo o país, ao vivo, não apenas pelas redes sociais aqui do Senado Federal, mas também pelo canal oficial do Senado, que é a TV Senado, pela Rádio Senado, pela Agência Senado. Toda essa equipe competente que faz parte aqui da Casa revisora da República está conectada aqui conosco e divulgando esta sessão, que eu acredito que vai trazer muita reflexão.
Vamos pensar juntos em ações e até em medidas legislativas a partir deste debate. O que o Senado pode fazer? O que nós que temos mandato aqui, Parlamentares, podemos fazer neste momento, com sugestões de pessoas que são extremamente preparadas, que vão nos fazer suas exposições aqui? E também a partir das perguntas, porque nós vamos abrir, depois das palestras, para quem quiser fazer algum tipo de manifestação. De forma muito democrática, nós vamos aqui abrir as inscrições, e nossa equipe vai estar aí com vocês, pegando perguntas ou manifestações, para que a gente possa fazer aqui essa abordagem após a palestra dos nossos convidados.
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Então, eu queria também informar que os cidadãos brasileiros podem participar desta sessão especial por meio do endereço www.senado.leg.br/ecidadania - tudo junto; repetindo: www.senado.leg.br/ecidadania - ou pelo número telefônico 0800 0612211 - repetindo o número gratuito: 0800 0612211 -, enviando seus comentários ou questionamentos.
Eu quero aproveitar agora e convidar todos vocês que estão aqui conosco para, em posição de respeito, acompanharmos o Hino Nacional.
(Procede-se à execução do Hino Nacional.)
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O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Para discursar - Presidente.) - Eu gostaria de agradecer a presença do Cientista Político e Professor da Escola Superior do Ministério Público da União, Dr. Paulo Kramer - muito obrigado pela sua presença, que muito nos honra aqui, no Senado Federal.
Também gostaria de registrar a presença - a gente vai registrando ao longo da sessão - da minha esposa, Marcia Valeria Marques Silva The, que está aqui; da Aline, minha irmã querida, esposa do Giuliano Loureiro, que são Professores da Nova Acrópole lá em Fortaleza e inspirações para a minha vida - o Giuliano é meu amigo de infância.
Fico extremamente feliz com este momento especial da minha vida, um dia em que teremos a oportunidade de iniciar a semana legislativa no Senado da República, enaltecendo princípios e valores, lembrando uma época em que as civilizações da Grécia e da Roma antiga receberam, em seu solo, espíritos sábios que estavam muito à frente de seu tempo.
Estamos aqui reunidos para refletir, para debater sobre o Estoicismo, uma filosofia de vida extremamente prática, que surgiu na Grécia por volta dos séculos II e III a.C., fundada por Zenão de Cítio. Surgiu há mais de 2,3 mil anos e até hoje é um dos temas filosóficos mais procurados. Por que será?!
Teve grande destaque em Roma, através de verdadeiros ícones, como Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio, o Imperador filósofo de Roma. Todos eles marcaram a nossa história não apenas em função de sua extraordinária inteligência, liderança ou oratória. Foram marcantes em seu tempo e continuam sendo referência até hoje, porque praticaram em suas vidas a coerência com aquilo em que acreditavam e que pregavam.
Portanto, absorver um pouco desses conhecimentos me causa um bem enorme, que procuro, na medida do possível, compartilhar com as pessoas que tenho a honra e a responsabilidade de ter como seguidores, admiradores, em nossas redes sociais.
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Por isso, todos os domingos é sagrada a escolha de um desses brilhantes pensamentos filosóficos para uma reflexão, procurando situá-los na atual realidade de nossa humanidade.
Penso que essa prática seja muito importante, porque o estoicismo funcionou na vida desses filósofos como instrumento de evolução moral, que os fortaleceu a enfrentar grandes desafios e dificuldades com serenidade, pois conseguiam dar sempre o melhor de si em prol dos outros.
Essa filosofia nos ensina que a felicidade consiste no triunfo da razão e da verdade sobre as paixões; que a felicidade está muito mais ligada à prática das virtudes do que à posse de quaisquer bens ou ao exercício do efêmero poder material transitório.
E, para aprofundar esse virtuoso tema, estamos tendo a honra de receber o Prof. Luis Carlos Marques, Diretor e Professor da Organização Internacional Nova Acrópole no Brasil; a professora, escritora, filósofa e palestrante, a Profa. Lúcia Helena Galvão; e o Sr. Luiz Felipe D’Avila, cientista político, sociólogo e escritor, que foi candidato à Presidência da República no último pleito eleitoral, em 2022.
Penso que essas ideias possam nos ajudar na travessia dos difíceis dias de hoje, marcados por tanta inversão de valores.
Essas ideias podem nos ajudar muito, mas muito mesmo, no grande desafio que é a construção, no Brasil, de uma civilização não apenas desenvolvida materialmente - está aí o agro para mostrar, pois só o agro no Brasil é o PIB da Argentina; está aí a capacidade de empreendedorismo; água para dar e vender. O Brasil tem tudo que se possa imaginar de recursos, mas a gente precisa, cada vez mais, de uma civilização, de uma construção essencialmente justa e fraterna.
Eu confesso para vocês que o meu contato com o estoicismo é recente, e aconteceu um fato muito interessante neste ano, que me fez sugerir aos colegas esta sessão de debates aqui, no Plenário do Senado.
A gente já tinha feito uma sessão da Nova Acrópole, que perpassou pelos grandes estoicos, mas, num evento em março, Luiz Felipe D'Avila, do qual eu fui participar, do partido de que faço parte, o Novo, em Minas Gerais, eu fui para um encontro e, sinceramente, quando eu cheguei lá, fui muito impactado, porque as palestras eram todas sobre estoicismo, resgatando isso. Eu tinha entrando no Novo há pouco tempo e fiquei encantado com aquilo, porque eu não sabia dessa vertente. E, quando eu cheguei - cheguei um pouquinho atrasado ao evento, porque seria na sexta, no sábado e no domingo, e eu cheguei só no sábado -, o Luiz Felipe, coincidentemente - não existe coincidência -, estava fazendo a palestra, estava começando a palestra, e eu disse: "Puxa vida, que bacana!" Aí ali começou a surgir o embrião para que esta sessão a gente pudesse desenvolver, porque nós estamos vivendo um desafio muito grande aqui no Congresso Nacional, em Brasília, no Brasil. Há pessoas colocando na prática - e a gente vai ouvir aqui que estão revestidas de autoridade para definirem os rumos do país no Legislativo, no Executivo, no Judiciário... Nós estamos num caos institucional jamais visto, em que um poder intervém no outro, não têm harmonia nenhuma, não têm independência nenhuma. E a Constituição do nosso país...
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E nós estamos aqui com o nosso patrono do Plenário do Senado Federal, que é Ruy Barbosa - esse estava à frente do seu tempo, de uma forma impressionante, aqui no Brasil -, esse baiano. E tudo que ele dizia a gente está vendo: As pessoas com vergonha de serem honestas. Tem frases que a gente vai relembrar aqui, e ameaças, sob todos os aspectos, à liberdade de expressão. Nós estamos vivendo um momento muito difícil no Brasil, mas vamos passar por essa juntos, porque ou a gente aprende pelo amor, ou a gente aprende pela dor. Vamos aprender com quem realmente conhece. Eu tenho certeza de que eu vou sair daqui aprendendo mais sobre o estoicismo e todos vocês que estão aqui no Plenário e que estão nos acompanhando nesta transmissão ao vivo que está acontecendo.
Neste momento, eu concedo a palavra à Sra. Lúcia Helena Galvão Maya, filósofa, palestrante, escritora, professora, por 20 minutos, com a tolerância aqui desta Casa, para ocupar a tribuna e fazer o seu pronunciamento.
Muito obrigado.
A SRA. LÚCIA HELENA GALVÃO MAYA (Para discursar.) - Bom dia a todos! Em meu nome e em nome da Nova Acrópole eu agradeço muito ao Senador pela oportunidade de estarmos aqui em função de algo tão especial, de algo tão importante.
Eu gostaria de aproveitar este tempo que me foi destinado da melhor maneira possível, tentando trazer algumas ideias acerca do estoicismo. Todos sabem, o estoicismo é um fenômeno que vai desde mais ou menos 300 a.C. até aproximadamente 529 d.C., que é a época do Édito de Justiniano. Esse é o período em que ele teve a sua existência, teve o seu maior brilho do período latino, ou seja, romano. Isso é mais ou menos o fato histórico. Mas eu acho que, neste momento, o estoicismo transcende em muito o fato histórico, porque ele nos traz uma ideia e, como ideia, ele é atemporal. Ele pode ser seguido e aplicado em qualquer momento histórico. E a minha ideia é trazer aqui para vocês alguns desses aspectos tão brilhantes que poderiam, acredito eu, renovar qualquer momento histórico em que eles se aplicassem.
Se nós fôssemos pegar, em primeiro lugar, por exemplo, a prática da virtude, ou seja, uma moral inatacável, e a prática da virtude como sentido de vida e o ensinamento mediante o exemplo. Nós não precisamos falar muito para perceber que no nosso momento histórico nós somos formados para sermos tecnicamente capacitados, e não humanamente bons.
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Não temos a preocupação de sermos exemplos para aqueles que nos seguem. Não vemos o quanto o nosso exemplo repercute nas pessoas à nossa volta. A moral, a ética, não é objetivo da vida, tampouco é o objetivo do nosso ensino, da nossa educação. Então, se nós pegarmos a frase de Sócrates, que tanto inspira os estoicos, quando ele dizia que conhecimento só é justo quando nos torna melhores, só é válido o conhecimento que nos torna melhores, e basicamente nós rompemos com esse princípio nos nossos dias. A educação não necessariamente forma um ser humano melhor: torna-o mais preparado para o mercado de trabalho, e apenas isso.
Outra coisa é a chamada serenidade diante da adversidade, a capacidade de sairmos do outro lado talvez até melhor do que entramos. Essa capacidade, que é típica dos estoicos, dessa serenidade, dessa serena felicidade, que é a eudaimonia, faz com que o estoico possa se manter sereno e saber atravessar as adversidades crescendo com elas, e não apenas sabendo resistir. Não apenas sobreviver, mas aceitando e crescendo com as dificuldades. É como se nós nos colocássemos diante de uma dificuldade e disséssemos: que eu só saia do outro lado maior do que eu entrei. Eles tinham essa capacidade.
Outro elemento que eu acho bastante interessante é sempre dar o seu melhor, ou seja, a busca da excelência a cada dia. Deixar um pouco de lado o passado como nostalgia, como memória, o futuro como expectativa, e estar plenamente no dia presente, ou seja, a busca da excelência a cada dia. Viver cada dia como se fosse o último, ou seja, essa importância vital para o momento presente, para estarmos plenos naquilo que fazemos. Em última instância, o que temos é o presente. Nem o futuro será grandioso se não nos dedicarmos a ele. Nós temos hoje a sociedade do estresse, onde nós estamos sempre correndo atrás de coisas que nunca estão aqui. E logicamente, na maior parte dos casos, ou fazemos o mínimo necessário, ou fazemos o máximo meramente por busca de destaque e de vantagens pessoais, e não como filosofia de vida. Ou seja, os estoicos nos deixam essa prática como filosofia de vida.
Outro elemento é a natureza como cosmos. Para um estoico, a natureza não era um mero apanhado, um mero conjunto de casualidades. Ela era ordenada, de tal maneira que cada parte tem um sentido quando encontra o seu lugar. E a busca dos estoicos era exatamente encontrar o seu lugar enquanto seres humanos. Isso lembra bastante o conceito de justiça platônico, casa coisa no seu lugar. Ordem, como um dos elementos fundamentais para que cada um possa realizar a sua identidade. Ou seja, o universo como cosmos vai gerar uma outra característica muito interessante, que é o amor fati, o amor por aquilo que está acontecendo. Não é simplesmente a aceitação daquilo que está acontecendo; é amor, amor por cada acontecimento. Aí vocês podem dizer: "Bom, mas tem momentos que são terríveis, momentos de guerra, momentos que são terrivelmente difíceis para o ser humano. Como amá-los?". Nós podemos amar a oportunidade que eles nos dão de superação deles mesmos, inclusive; a oportunidade que eles nos dão de crescimento; a oportunidade de dizer, diante desses momentos, "se depender de mim, nunca mais se repetirão". Ou seja, eles têm uma mentalidade de que a maneira de confrontar a adversidade e as dificuldades não é com ódio, como nós pensamos hoje; a maneira de demolir as coisas de que não gostamos tem que ser batendo, através do ódio. Eles encaravam como amor. O amor fati, a compreensão de cada momento, a aceitação de cada momento, e procurar amar cada momento que a natureza nos dá como não sendo casual.
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Outro elemento é aquele que dizia a Imperador Marco Aurélio: "Nada acontece ao homem que não seja próprio do homem".
Então, logicamente, aquilo que me acontece é atraído pelo meu poder pessoal, pela minha necessidade de crescimento. Viria a mim de qualquer maneira, por um fator ou por outro. Mas eu precisaria passar por aí no meu processo de crescimento.
Ao admitirmos isso, nós rompemos um hábito terrível da nossa época histórica, que é a vitimização. Sempre há um culpado daquilo que eu sou. Sempre há uma transferência para terceiros, quartos e quintos de tudo aquilo que eu sou. Eu não assumo as rédeas da minha vida. E ao não as assumir, faz com que eu abra a mão da oportunidade de crescimento. Ou seja, esse é um conselho precioso que o estoicismo nos dá.
Outra coisa que é bastante interessante também: eles diziam que existe aquilo que depende de nós e aquilo que não depende de nós. Nós, constantemente, batemos contra aquilo que não depende de nós e ficamos muito pouco atentos àquilo que depende de nós.
Se nós considerarmos a situação, por exemplo, de eu pegar um engarrafamento. Naquele momento, eu tenho pressa para chegar em algum lugar, eu fico constantemente protestando contra o trânsito, contra a administração da cidade, que não toma uma providência, contra a direção das outras pessoas, que não é eficiente, constantemente protestando contra aquilo que não depende de mim. E, naquilo que depende de mim, que seria sair meia hora mais cedo de casa, eu nunca faço nada.
Isso é apenas um exemplo simples, mas nos mostra mais ou menos como vivemos. Sobre aquilo que podemos fazer, aquilo que está em nossas mãos mudar, não fazemos absolutamente nada. Mas estamos sempre cobrando daqueles que não podemos cobrar, daquilo que não podemos mudar alguma mudança.
Epiteto, grande Epiteto, que é um dos grandes filósofos estoicos, dizia que esse é o conceito de escravidão. Algumas vezes diziam para ele: "Você não é um filósofo, você é um mero escravo". De fato, ele era. E ele dizia: "Você sabe o que é ser um escravo? É: naquilo que depende de você, não fazer nada; e naquilo que não depende, ficar imprecando contra o destino". Se nós levarmos a sério esse conceito de Epiteto, nós vamos ver que nós somos, em geral, muito escravos.
O que depende nós? O que temos feito em relação àquilo que depende de nós? Se pudéssemos imaginar uma humanidade de oito bilhões de seres humanos, todos fazendo aquilo que depende deles, com o presente pleno, com excelência em cada momento, o que seria a humanidade? É também um grande exemplo a ser considerado.
Bom, se nós pudéssemos resumir, nós veríamos virtudes como moral, resiliência, excelência, virtudes de todos os tipos como meta de vida; qualidade de vida; felicidade; eudaimonia, que reside na prática de virtudes; uma grande harmonia com a natureza, com o desejo de se integrar a ela; a serenidade estoica, que é a incapacidade de deixar que fatores externos o perturbem; e também a grande responsabilidade sobre aquilo que faziam, sobre aquilo que dependia deles, sobre o curso da sua própria vida, como resultado da sua própria necessidade.
É evidente que encarar a vida dessa maneira, em qualquer momento histórico, constrói um futuro muito melhor, muito mais qualificado, sem que a gente fique ansiosos pelo futuro. Nós geramos as sementes adequadas para o futuro.
Através dessas observações tão simples e tão práticas, essa escola nos ensina a viver como seres humanos propriamente ditos.
Era isso que eu gostaria de deixar para vocês como uma pequena inspiração matinal.
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Agradeço, mais uma vez, ao Senador a oportunidade da palavra.
Muito obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muito bem.
Fico muito agradecido, ficamos todos aqui, Lúcia Helena Galvão Maya, filósofa, professora, escritora e palestrante, que deu, inclusive, quem tiver oportunidade de buscar, uma entrevista memorável, imperdível para o Flow. Faz um mês, mais ou menos?
A SRA. LÚCIA HELENA GALVÃO MAYA (Fora do microfone.) - Aproximadamente um mês.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Aproximadamente, um mês.
Ali, é uma aula assim do dia a dia, com perguntas muito boas feitas pelo Igor. Ele foi brilhante. Gostei muito da profundidade das perguntas, do dia a dia mesmo das pessoas. Eu fiquei muito feliz com aquela entrevista lá. Vale a pena o Flow com a Lúcia Helena Galvão Maya.
Aproveito, antes de passar para o próximo orador, para fazer o registro da presença, aqui nas galerias do Senado Federal, de cidadãs, cidadãos brasileiros que estão vindo aqui visitar esta Casa revisora da República.
Podem falar o estado de vocês?
(Manifestação da galeria.)
Minas Gerais; Rio Grande do Sul; Ceará, meu conterrâneo; Pará; Paraná.
Eu quero falar uma coisa. Isso me dá muito otimismo e muita esperança. Cada vez mais, é impressionante como têm crescido as visitações aqui no Senado Federal. Pessoas de todos os estados do Brasil, de fora do Brasil estão vindo aqui conhecer a nossa história.
O brasileiro, particularmente, está gostando de política, está acompanhando a política nacional. E isso é muito importante porque nós, Parlamentares, ficamos muitas vezes, aqui no Congresso Nacional, como se fosse uma bolha, que nos consome muito. Quando vêm as cidadãs e os cidadãos brasileiros nos visitar, que encontramos no corredor, uma energia importante é passada. E há essa consciência, esse despertar.
Hoje, o brasileiro gosta mais de política do que de futebol. Saber os nomes de autoridades importantes da nação mais do que os dos titulares da seleção brasileira é algo que nos traz uma perspectiva muito boa.
Sejam bem-vindos a esta Casa. Já passaram pelo túnel do tempo?
Depois, vão lá na Câmara dos Deputados.
É muito importante a visitação, sempre com os guias extremamente preparados.
Quem é a guia de vocês?
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Vitória.
Para você visitar o Congresso Nacional, basta acessar o site www.congressonacional.leg.br/visite.
Você entra lá, bem simples, faz a inscrição e vem aqui.
Estão chegando aqui. Acredito que, pela farda, é uma escola.
Tudo bem?
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Sejam bem-vindos!
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Estão vendo o que eu estou falando aqui? É o tempo todo assim: escolas, universidades, avulsos, brasileiros avulsos que estão vindo a Brasília. E eu vou pegar já, já o nome da escola para falar aqui para vocês que estão chegando. Essa visitação pode ser realizada em dias úteis, exceto terças e quartas, e aos finais de semana também nós recebemos aqui, e nos feriados das 9h às 17h.
Vocês estão participando de uma sessão de debates sobre a escola do estoicismo. Não existe votação hoje, segundas e sextas-feiras não tem votação, é sessão de debates ou discursos. À tarde, às 14h, nós vamos ter pronunciamentos de Senadores. E a esta sessão, sejam todos muito bem-vindos. Eu vou... Tem o nome já? (Pausa.)
Pronto. Qual o nome da escola que vocês fazem parte?
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Não ouvi.
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Cemeit?
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Cemeit de onde? De Brasília?
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Taguatinga? Que coisa boa!
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Taguatinga Norte. Sejam bem-vindos. Coisa boa!
Eu concedo a palavra agora ao Sr. Luiz Felipe D’Avila, que é cientista político, sociólogo, escritor, comentarista da Jovem Pan hoje - não é, Luiz? -, comentarista, que está lá no Pingos nos Is. E, na prática da política humana, esse ser humano fantástico, de quem eu tive a oportunidade de conhecer melhor a sua família, tem dado uma demonstração de muita resiliência e serenidade neste momento turvo que a gente está vivendo. E Luiz Felipe, eu sei que você trouxe uma apresentação que vai compartilhar conosco e que vai ficar aqui nos Anais da Casa. Eu te peço um olhar, se puder, em algum momento - no final, posso dar uma tolerância -, sobre a política brasileira, este momento que a gente está vivendo na política brasileira. O que o estoicismo nos ensina para ultrapassarmos este momento delicado.
Antes de passar a palavra para o nosso Luiz Felipe D’Avila, eu quero registrar aqui, de forma oficial, os alunos do 2° ano do ensino médio do Centro de Ensino Médio da Escola Técnica de Taguatinga - e aí falou que é Taguatinga Norte, não é?
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muito bem.
Sejam muito bem-vindos mais uma vez.
Luiz Felipe, você tem 20 minutos com a tolerância da Casa. Muito obrigado pela sua presença.
O SR. LUIZ FELIPE D´AVILA (Para discursar.) - Muito obrigado, Senador Girão. Eu queria primeiro cumprimentá-lo por organizar este debate sobre o estoicismo, que é algo fundamental para o momento político que nós vivemos. Eu digo que o estoicismo, como a Profa. Lúcia Helena Galvão Maya disse com muito brilhantismo, é a filosofia da resiliência, é a filosofia de resistir, principalmente em momentos de dificuldade.
A Profa. Lúcia Helena tocou em alguns pontos fundamentais, como a questão da virtude, como a questão da resiliência. E se há uma coisa que nós precisamos fazer hoje no Brasil é resgatar a virtude na política. Isso é fundamental para que nós possamos tecer novamente o conceito de civilidade, de respeito, de tolerância e de consciência de que cada um que está nesta Casa, no Congresso Nacional, precisa trabalhar a favor do bem público. O bem público parece que saiu de pauta num mundo onde o Estado é dominado por corporações. O cidadão parece que não tem mais voz, quem tem voz são as corporações. Então, o estoicismo me parece uma filosofia muito adequada, Senador Girão, para este momento.
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Então, seguindo a sua provocação, eu vou fazer uma exposição breve sobre a questão dos estoicos na política: quem foram os atores do estoicismo na política?
Eu digo que sempre me chamou atenção que o estoicismo é uma filosofia que foi a primeira filosofia que os políticos entenderam que era algo importante para se fazer a boa política. E isso nasceu em Roma. Na Grécia Antiga ainda era uma filosofia conceitual, mas em Roma, não. Ela foi abraçada, tanto na República Romana como no Império Romano, por causa da sua praticidade, por causa da sua pegada política. E é isso que eu gostaria de tratar aqui hoje com vocês.
A primeira coisa que chama atenção nessa saga dos estoicos - como a Profa. Lúcia Helena bem colocou - é essa questão da indiferença às coisas que não controlamos e de fazer a transformação naquilo que nós podemos controlar. Por trás desse conceito, tem uma ideia muito importante para nós entendermos o estoicismo.
Os estoicos acreditavam que havia uma ordem divina, que havia uma ordem que regia o universo. E essa ordem perfeita significa que a gente só consegue enxergar um pequeno pedaço daquilo - seja Deus, seja o divino, seja a ordem divina - que nos faz enxergar. Como a gente só enxerga um pedaço de uma equação, que é a eternidade, e nós estamos aqui de passagem, não adianta nos desesperarmos com coisas que nós não podemos mudar, porque isso gera aflição, angústia e incapacidade de resolver os problemas.
Esse ponto me chama atenção ao momento que nós vivemos. Há um certo fatalismo com a política. Parece que a gente olha para a política e a gente não consegue mudar a política, então há um certo fatalismo em relação à política, mas há aquela pergunta do Presidente John Kennedy: "Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo seu país".
E isso é tomar a segunda parte dessa frase, que é: o que é que nós podemos fazer para mudar essa realidade? Nós como cidadãos, nós como homens públicos, como Parlamentares, temos que focar naquilo que é essencial, e parte do que eu enxergo do renascimento da plena democracia no Brasil passa pela mobilização cívica, pela sociedade civil engajada se mobilizando.
Esse seria o comportamento estoico do cidadão numa democracia: atue naquilo que você pode mudar com a sua atitude, com o seu exemplo, com a sua dedicação.
O segundo ponto importante nessa saga dos estoicos é que eles sempre enxergaram - por ter esse universo perfeito, concebido por uma força divina -, eles sempre enxergam as dificuldades, os obstáculos da vida, não como um castigo divino para nos punir, não é o senso católico do pecador. Não. Se existe um obstáculo na sua vida, é a sua função, a sua tarefa, superá-lo, porque, ao superá-lo - como bem disse a Profa. Lúcia Helena -, você vai se tornar mais virtuoso, você vai melhorar como ser humano. É superando as dificuldades que nós melhoramos, é superando as dificuldades que nós encontramos as discrepâncias entre o que a gente fala e faz, e quanto mais alinhado isso for, mais virtuoso nós agiremos na sociedade. Isso é importante para quem exerce o poder, mas é muito importante para a cidadania. Então, a ideia de que a convicção nesses valores e virtudes é fundamental para a nossa caminhada na vida. E aí vem um ponto que a Prof. Lúcia Helena tocou, que vale a pena ressaltar, que é a questão da virtude. Os estoicos tinham um lema muito importante: sempre faça a coisa certa, não importa o preço que você tenha que pagar. Isso é algo difícil em nossa vida.
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Às vezes, você tem que falar a verdade dura para uma pessoa de que você gosta e você tem medo de machucar aquela pessoa. Às vezes, tem que votar aqui no Plenário - não é, Senador Girão? - contra algo que é contra o que a maioria acredita, mas a gente entende que aquilo é fundamental para o país. Fazer a coisa certa sempre.
E, nos estoicos, isso era tão radical por causa desse sentimento de virtude, que você colocava em risco a sua própria vida, como nós vamos ver em alguns exemplos. Não vale a pena viver se não é para fazer a coisa certa. Isso é algo muito forte e nós vamos ver que isso não é teoria, não. Nós vamos passar, daqui a pouco, alguns exemplos de estadistas que levaram isso a sério.
Uma outra coisa interessante nos estoicos, eles chamam de saber morrer. A gente tem que saber a hora da nossa finitude e a finitude significa que tem um momento que nós vamos deixar. E como deixar isso de forma serena? Eu me lembro de uma frase do Winston Churchill que dizia que na política nós não morremos uma vez, nós morremos várias vezes, você morre e ressuscita na política. Então, a política tem o sentido da palavra "morrer", que não é uma única vez - não é, Senador Girão? -, pois nós ganhamos, perdemos eleição e voltamos, e isso significa que a gente tem que também aprender com esse eterno processo de transformação.
E aí eu acho que vem a coisa mais importante dos estoicos. Os estoicos estão preocupados com a marca que eles vão deixar na vida, o exemplo. Qual exemplo? Nós não vamos ser lembrados pelas nossas vitórias ou pelas nossas derrotas, nós vamos ser lembrados pelo nosso exemplo, pelo que nós fizemos, e nós vamos ver aqui a história de alguns estadistas romanos, que é uma história de fracasso. Eles perderam a batalha, mas eles são relembrados até hoje como grandes estadistas justamente pelo que eles fizeram, pelo que eles representam, pelas suas lutas.
Então, eu vou tratar de três estadistas.
O primeiro é Cícero, Marco Túlio Cícero, que foi um Senador romano de extrema importância. E eu escolhi Cícero porque Cícero viveu numa época muito parecida com a nossa, Senador Girão, num momento de crise da República romana, da República romana debilitada, fragilizada, com crescimento forte das forças militares, e cada vez isso vai fazer com que o Exército tenha mais poder do que o Senado romano. E essa briga entre o Senado e o Exército vai crescer durante um bom tempo até, finalmente, a República acabar e nós termos o início da época imperial em Roma. Então, Cícero é esse defensor da República, do poder cívico, contra o crescimento de um poder militar, que cada vez mais se imiscuía no jogo político. Assim como nós temos hoje o Senador Girão falando aqui da interferência de um Poder no outro, isso aconteceu no início da República romana e era um dos sinais da decadência da República romana.
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E Cícero, em 63 a.C., tem um primeiro embate famoso com Catilina, que é um primeiro líder militar que tenta juntar um pequeno grupo do exército para derrubar a República romana. Cícero não tinha exército, não tinha nada; tinha a palavra e a tribuna no Senado, e fez discursos duríssimos contra Catilina, e isso cria a mobilização cívica de Roma, da sociedade romana, e ele consegue derrubar essa primeira tentativa de acabar com a República romana. E ele sai como um grande herói, é o grande apogeu da vida política de Cícero. Só que aí, em 44 a.C., poucos anos depois - 23 anos depois -, ele sai do apogeu da sua vida pública para sua morte. O que é que aconteceu? Esses movimentos e insatisfações dentro das Forças Armadas continuaram ocorrendo, houve um novo triunvirato - uma organização dos três Generais mais poderosos da época, que era Júlio César, que eram Crasso e Pompeu -, e, aí sim, tem um golpe de Estado para derrubar, enterrar a República de vez.
E, no dia em que Júlio César entra ao Senado para se tornar o primeiro Imperador romano, ele é assassinado, no Senado, por Brutus, para defender a República. Nasce então uma segunda coligação de militares, um segundo triunvirato, liderado por Otávio, Marco Antônio e Lépido, e esse é um triunvirato importante, porque uma das pessoas mais criticadas na tribuna do Senado por Cícero é justamente Marco Antônio, que é um General demagogo que o tempo inteiro não esconde sua ambição de acabar com a República romana e construir o Império. E, no momento dessa disputa interna entre os três, tem um momento de paz entre Otávio e Marco Aurélio. E, nesse momento de paz, é dada carta branca para Marco Antônio mandar os seus soldados assassinarem Cícero. Assassina o Cícero e ele fala: "Eu quero que traga a língua dele e as mãos dele, que escreveram esses discursos contra mim aqui, para colocar em praça pública, para mostrar que, agora na nova ordem, a língua ferina e a mão que escreve discursos contra os generais não serão mais tolerados em Roma". Era o fim da liberdade que existia na República romana e o início de um novo período, que é o Império.
Depois vem um outro, também resistente, estadista, que é Catão. Catão, assim como Cícero, luta para defender a República romana, a liberdade, a justiça. E ele é, sem dúvida nenhuma, a figura mais exemplar na política. No momento em que a corrupção rolava solta no fim da República romana, Catão era o exemplo da moral retilínea, não cedia em nada. No momento em que políticos gostavam de comprar voto com o que chamava de "pão e circo", ele levava uma vida muito discreta. E a vida inteira, no Plenário do Senado, ele foi resistindo ao fim da República.
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E, quando Júlio César vai ao Senado para assumir o que ele achava que ia assumir e se tornar o primeiro imperador, Catão fica tão abalado com esse episódio que fala: "Eu não posso viver num país onde não existe mais liberdade". Ele vai para casa, ele janta com a família, se despede da família e se mata, porque diz que não se pode viver sob a égide de tiranos e num país onde reinou a liberdade e não reina mais.
O último é um imperador. Primeira vez que nós temos um filósofo rei governando esse Império, que é Marco Aurélio, como a Profa. Lúcia Helena bem trouxe.
Eu digo que Marco Aurélio teve uma das vidas mais difíceis como imperador. Durante 19 anos, ele governou Roma. Primeiro, enfrentou uma epidemia que matou 5 milhões de pessoas. A gente acabou de passar por uma epidemia. Você imagina uma epidemia que matou 5 milhões de pessoas, destruiu Roma, e numa época em que você precisava ter soldado para continuar as regras do Império. Pior: enfrentou uma das maiores secas, que levou à fome. E aí teve que importar comida de longe para tentar manter a população alimentada.
Além de tudo, as invasões dos bárbaros, já entrando e tomando parte do Império Romano, principalmente na Europa, onde hoje a gente conhece como Europa do Leste, o que é Bulgária, Hungria, Romênia, aquela região. Ele passou quase que o mandato inteiro dele de imperador em campos de batalha defendendo o Império. E é justamente nesse campo de batalha, defendendo o Império, que ele escreve o seu famoso livro Meditações. Então, você consegue ver ali o imperador refletindo sobre o destino humano, escrevendo aquilo todas as noites durante essas batalhas.
O que eu acho interessante na vida de Marco Aurélio, até o fim, é essa resignação: "Eu sei que o Império está acabando, mas eu vou defender. Eu vou defender o povo. Estou aqui no campo de batalha. Não estou escondido em palácio nenhum, não estou em nenhuma redoma de vidro, não estou em nenhuma bolha", Senador Girão. "Eu estou no campo de batalha, com os meus soldados, defendendo". E ele vai morrer aos 59 anos, nessa situação, no campo de batalha.
Eu queria agora trazer uma provocação que o Senador Girão fez, que eu acho muito boa. Como é que o estoicismo pode servir como um guia para a política no Brasil de hoje?
Eu diria que um estoico, no Senado Federal, na Câmara, tem que olhar quais são os problemas que impedem o Brasil de ser uma democracia plena. E nós temos três problemas: é o populismo, é o nacional estatismo e é um Estado ineficiente. Essas três coisas vêm minando a criação de uma democracia plena no país.
O populismo, por uma razão simples: todo populista quer minar a credibilidade das instituições porque ele se acha o único legítimo representante da opinião pública. Então, toda vez que as instituições funcionam como freio e contrapeso para limitar o poder, ele acha que, na verdade, isso é uma perversão ou um desrespeito à vontade popular, porque ele é o único representante da vontade popular. Então, todo populista tenta minar a credibilidade das instituições porque não tolera que exista peso e contrapeso ao seu poder, como se o seu poder fosse absoluto.
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Segundo ponto de como o populismo atrapalha o funcionamento das instituições: é a ideia da polarização. É preciso, no mundo populista, ter o "nós e eles", ter o bom e o ruim. O sistema binário da polarização é fruto do populismo, porque, se você não está 100% alinhado com o líder populista, você não é um adversário político, você é um inimigo a ser eliminado. Você não é tolerado. Portanto, gera-se a intolerância, gera-se o desrespeito e a incivilidade. E sem essas coisas a democracia não funciona.
No nacional estatismo, há uma questão mais séria ainda, Senador Girão. Por que o nacional estatismo é tão sério? Porque é a crença de que é o Estado intervencionista, indutor, que vai fazer o Brasil crescer. Mas isso tem um fundo de verdade. O Brasil, de 1945 a 1980, cresceu com o nacional estatismo. Aliás, fomos uma das economias que mais cresceu, no mundo, naquela época. Nós éramos a China, de 1945 a 1980, crescendo em média 7% ao ano. E foi o Estado indutor, era o Estado que fazia com que a economia crescesse, que desse crédito, as estatais... Isso que fez o Brasil crescer.
Só que, em 1980, acontece um fenômeno que eu chamo "a evolução liberal no mundo". Liberal no sentido de que, nos Estados Unidos, na Inglaterra, a Margaret Thatcher, o Ronald Reagan, essa turma, começa a abrir a economia, descentralizar a economia, aumentar a competição de mercado e fazer justamente o oposto do caminho que o Brasil fazia.
O Brasil, então, se tornou uma das economias mais fechadas do mundo, o Brasil se tornou uma das economias mais reguladas do mundo, e o Brasil começou a decair. E essa decadência está hoje... Há 40 anos este país não cresce. Como é que nós vamos falar para os nossos filhos ficarem em um país que há 40 anos não cresce? Qual perspectiva de trabalho que ele tem num país que cresce 1% ao ano, há 40 anos?
É um enorme desafio, Senador Girão.
Como é que nós vamos mostrar que o que deu certo até 1980 não dá mais certo? Nós já passamos 40 anos e não entendemos a importância da abertura econômica para um país ficar rico. Nós não entendemos a importância da educação de qualidade, num país onde 50% das crianças não são devidamente alfabetizadas até os oito anos de idade e onde 48% dos nossos jovens que estão aqui abandonam o ensino médio.
Como é que nós vamos ter ganho de produtividade, de competitividade, num país que tem uma educação dessas? E não é por falta de dinheiro não, porque nós gastamos quase 6% do PIB com a educação. É que a gente gasta muito com a máquina e pouco com o aprendizado dos alunos.
Essa é uma bandeira estoica que precisava ser defendida no Congresso Nacional, porque sem educação de qualidade não teremos mobilidade social, não combateremos a desigualdade social e não teremos esse ganho de produtividade e competitividade que é tão importante para o Brasil estar no mundo de hoje.
E o terceiro ponto, que eu acho o mais importante de todos: a ineficiência do Estado. É justamente a ineficiência do Estado que faz com que populistas sejam eleitos, é o cidadão ver, na ponta, que o Estado não funciona para ele. Funciona para os outros, menos para ele. Quando ele vai a um hospital público, quando ele vai à escola pública, quando usa o transporte público, nada funciona para ele. Ele, hoje, paga a carga tributária mais alta entre todos os países emergentes e não tem nada de volta. A classe média, além de pagar a carga tributária mais alta, depois, tem que tirar dinheiro do bolso para pagar plano de saúde privado, escola privada, condomínio privado, tudo que encarece, por quê? Porque o serviço público não funciona.
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Então, o serviço público eficiente é o serviço público voltado para servir o cidadão, como os estoicos falavam. É o cidadão que tem que estar no centro, não as corporações. Essa eu sei, Senador Girão, que é uma luta muito difícil, no Senado Federal, na Câmara, na política, porque as corporações estão, todos os dias, aqui, pressionando vocês, e o cidadão está trabalhando, mas é essa pressão que acaba determinando como se alocam as verbas do Orçamento, como se dão subsídios para setores, como se dão benefícios para outros setores, e o cidadão não participa dessa equação.
Então, eu entendo que o estoicismo é essa filosofia da resistência: da resistência aos encantos momentâneos do populismo e da resistência contra uma crença de Estado indutor, que não funciona mais. Nós precisamos ter, hoje, uma livre economia, um Brasil inserido nesta economia global, para poder voltar a crescer, e precisamos do Estado eficiente. Nós precisamos ter um Estado eficiente. O maior antígeno contra o populismo é um Estado que funciona, porque, se funciona, não caímos na sedução e no canto da sereia do populismo.
Então, eu entendo que essas são as missões do estoico, hoje, o que me lembra muito bem, como o senhor bem mencionou, que foi a grande missão de Ruy Barbosa. Ruy Barbosa foi o grande defensor da ordem institucional e da Constituição, contra o que nós chamamos, naquele tempo do positivismo, do militarismo, que queria subverter a ordem constitucional, por ele aprovada, em 1891, na primeira Constituição republicana no país.
Essa é a luta da resiliência, essa é a luta da resistência, e é por isso que eu acho que o estoicismo é uma filosofia tão inspiradora para o momento que nós vivemos. Mas ela é inspiradora não só para quem está no Congresso Nacional, ela é inspiradora para nós resgatarmos o senso de cidadania, de mobilização cívica, de qual é a nossa parte para mudar a realidade, neste momento, com as nossas ações, as nossas atitudes e as nossas escolhas, porque, afinal de contas, um país é fruto das escolhas dos seus cidadãos. É isso o que determina o país.
Não adianta querer, como bem disse a Profa. Lúcia Helena, jogar a culpa aos outros. Não culpe o político, culpe em quem você votou. Não culpe o Congresso, culpe aquele a quem você delegou o poder para legislar em seu nome, porque se o voto fosse um pouco mais consciente, talvez nós teríamos um Brasil melhor. Hoje, 70% dos eleitores não se recordam em quem votaram seis meses depois das eleições, e são essas as pessoas a quem vocês estão dando uma procuração para governar, legislar em seu nome.
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Por isso, a verdadeira mudança começa pelo aumento da conscientização dos deveres e direitos. A nossa Constituição, Senador Girão, só fala em direitos. Só toca em deveres quatro vezes. Nós temos que inverter essa equação. Nós temos de primeiro entender os nossos deveres, ter consciência dos nossos deveres, para saber honrar os nossos direitos.
Muito obrigado, Senador. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Nós é que agradecemos, meu irmão Luiz Felipe D'Avila. Muito obrigado pela sua presença. Veio de São Paulo exclusivamente... Exclusivamente, vírgula; temos hoje mais tarde uma reunião. Mas fez questão de estar conosco aqui neste momento histórico.
Você estava falando da questão do lobby, e tem realmente as corporações, o lobby aqui é permanente. É por isso que eu falo na bolha. Cheguei do Ceará ontem. Sempre que eu posso sair deste ambiente do Congresso Nacional, eu procuro ter contato com as pessoas justamente para sentir o olhar, para sentir a necessidade, ir ao mercado, feira. E é impressionante. Sabe o que mais as pessoas pedem? Seja de direita, de esquerda, contra Governo, a favor de Governo, a gente nota que realmente uma boa parte do brasileiro já jogou a toalha, tem ojeriza à política - ojeriza à política. Mas eu tenho notado um movimento de crescimento também de uma parcela que tomou consciência de que as rédeas estão na mão deles. E é aquela coisa: isso vem da dor. O brasileiro está extremamente preocupado com o que está acontecendo. Ele está vendo tudo que está acontecendo, está angustiado.
Saiu uma pesquisa ontem, que eu vi em um grande veículo de comunicação - vou ver se eu passo a fonte daqui a pouco -, dizendo que o brasileiro se vê triste, e o nosso povo nunca foi triste, tanto é que, no mundo inteiro, quando você viaja, a imagem, quando você fala que é brasileiro, abre um sorriso. O brasileiro é querido, é amado por todo mundo, pelo seu jeito, e o brasileiro está triste. Nós estamos vivendo um momento de muita reflexão, e eu, particularmente - respeito quem pensa diferente -, só vejo uma saída para nós neste momento: de forma ordeira, pacífica, respeitosa, mas é povo na rua, se manifestando contra os abusos que estão vendo aí, de todas as ordens. E eu tenho certeza de que vai dar tudo certo, que já estamos vendo movimentos ocorrerem na nação com relação a isso.
Tem uma frase do Ruy Barbosa, que você citou, e eu no início também dei uma pincelada, mas olha como esse baiano, jurista, que foi também jornalista, diplomata, Ministro da Economia, da Fazenda... Ele dizia o seguinte: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto".
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Então, esse é um paradigma bem interessante. E ele também tem aquela frase conhecida, que sempre a gente repete aqui: "A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer".
Mas vamos seguir aqui.
Eu queria chamar...
Rapaz, essa equipe aqui é muito eficiente, a equipe do Senado Federal; a gente vai falando, e eles já vão buscando os dados aqui. Quero parabenizar toda a equipe, não apenas a da Secretaria-Geral do Senado, mas a nossa, a do nosso gabinete, na pessoa da Tallita, que organizou este momento nosso aqui hoje.
Datafolha: "Brasileiro se diz triste e desanimado e vê violência e saúde como os maiores problemas". Pesquisa foi realizada agora, entre 12 e 13 de setembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Eu vi essa pesquisa ontem.
Eu queria aproveitar e chamar aqui para compor a mesa com a gente - fique à vontade se quiser depois fazer uma manifestação ou não -, o Cientista Político e Professor da Escola Superior do Ministério Público da União, Dr. Paulo Kramer. Por favor, venha aqui compor a nossa mesa e assistir daqui à palestra que nós vamos ouvir, a palestra final desta sessão. (Palmas.)
Mas eu quero deixar claro que compromisso é compromisso: nós abriremos a palavra para quem quiser se manifestar, dando aí um prazo de dois minutos para fazer uma pergunta ou uma colocação. Os microfones que estão aqui no Plenário vocês podem abrir, basta levantar a mão e fazer alguma colocação. E para as pessoas, as cidadãs, os cidadãos que estão ali, na lateral, a nossa equipe tem mesas disponíveis aqui. Na hora de falar, se vocês quiserem falar, podem vir para a frente e falar no microfone ali e fazer perguntas. O.k.? Fiquem bem à vontade porque a gente gostaria de ouvir a manifestação de forma democrática de todos aqui.
Então, vamos lá, não é, meu amigo?
Eu concedo a palavra agora ao Sr. Luis Carlos Marques Fonseca, Diretor-Presidente da Nova Acrópole Brasil Norte, por 20 minutos, com a tolerância desta Casa, para fazer o seu pronunciamento.
Muito obrigado pela sua presença também, Luis.
O SR. LUIS CARLOS MARQUES FONSECA (Para discursar.) - Muito obrigado.
Bom dia, damas e cavalheiros. Bom dia à audiência nossa, via TV Senado. Bom dia à mesa, em especial ao Senador, a quem eu agradeço muito a oportunidade de poder falar em um momento histórico tão especial - não digo muito complexo, mas especial -, sobre o estoicismo, que constitui, assim, uma das vertentes filosóficas mais estudadas, mais conhecidas, exatamente porque foi uma filosofia de todos. Como falavam, era uma filosofia que servia para escravos, como Epiteto, e servia para imperador, como Marco Aurélio.
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Portanto, era uma filosofia que não discriminava damas, cavalheiros, cores, classes sociais. E eu creio que, portanto, é uma filosofia para cada um de nós, por isso a importância dela no momento histórico atual, um momento tão complexo e, ao mesmo tempo, tão rico de experiência. E não é complexo somente por todos esses problemas que podemos observar ao nosso lado, no Brasil, mas no mundo todo. Esses problemas que estamos vivendo, de desigualdade social, de fome, de miséria, de conflitos, de rupturas, são problemas que estão afetando todos os países do mundo, inclusive o Brasil, que não fica fora desse aspecto.
Portanto, é uma busca que nós temos pensando no ser humano como um todo, pensando desde os grandes complexos que nós temos, as grandes rupturas, mais profundas, e eu considero uma das mais maiores delas exatamente o que nós estamos fazendo com o nosso sistema, com o planeta Terra, os nossos valores, a nossa forma de consumo, aquilo de que nós necessitamos para poder ter essa felicidade que nós queremos ter, toda essa tecnologia, tudo de que nós necessitamos hoje como valores, aquilo que nós valorizamos, porque, sem isso, não temos felicidade. Esse sistema de valores que implantamos não está funcionando, está destruindo o planeta.
Nós vemos aí que as ameaças já não são somente ameaças, já temos fatos concretos. Há muita fome no mundo. As migrações... Vocês podem ver, nos jornais, na internet, na TV, que todo dia morrem centenas e centenas de pessoas tentando atravessar oceanos, atravessar mares, na busca de um local onde tenham melhor condição de vida. Nós vemos que isso tende a se agravar. A Terra está começando a dissolver, a água está crescendo de volume nos oceanos... Portanto, há uma ameaça concreta, nas próximas décadas, de que haverá outra pressão migratória, que é a pressão dessas cidades que estão perto do mar, que terão de sair daí. Agora, vão para onde? E todo mundo sabe que vai acontecer isso, tanto sabe, que as grandes potências estão se preparando. Ou seja, "se alguma coisa acontecer, terão que vir para cá, porque é onde tem riqueza, onde tem recursos, e não vai caber todo mundo aqui; então, temos que nos proteger".
Então, as nações estão se protegendo umas das outras, porque, se tiver uma grande catástrofe, que não seja com os meus filhos, que seja com os filhos dos outros. E assim como pensamos individualmente e nos fechamos dentro das nossas casas, pensam também as nações, que aquilo que somos é aquilo que são os nossos filhos, é aquilo que são os jovens que ocuparão os cargos públicos no futuro. Se eu isolo a minha família... Os meus filhos têm essa mentalidade, e esses filhos nossos de hoje serão os Senadores de amanhã. Então, eles vão pensar assim também, "vamos proteger o país", "vamos proteger as nações contra os outros", não é "vamos trabalhar para que não falte para o outro", mas, "vamos nos proteger para que a gente ganhe de outro, a gente compita com o outro".
Então, há uma tensão de rupturas que nascem nos seios da família, que já estão começando a romper famílias, estão começando a romper vizinhos. É uma ruptura que não está só no macro, só nos problemas dos países, mas está no coração de cada um de nós.
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É um medo, é um sistema que introduziu o medo dentro de nós, não confiamos em nós mesmos. Confiamos no que temos, confiamos nos nossos sistemas de defesa, nós confiamos que nós seremos melhores do que o outro, não que nós vamos ajudar o outro. Nós não nos preparamos para ajudar uns aos outros, nós nos preparamos para nos defender do outro, é assim nas grandes cidades. Os homens têm medo de homens.
Como acabaram de pronunciar aqui, qual é o grande problema que as pessoas têm? Violência? Estamos com medo das pessoas. Já não se pode parar uma pessoa e falar de filosofia na rua, porque quando se para uma pessoa, a pessoa pensa: "Vai me assaltar?". E não é só no Brasil, está em todo local do mundo, nós estamos em todos os locais do mundo.
Então, é um sistema de valores daquilo que nós gostamos, daquilo que nós confiamos, daquilo que nós queremos para os nossos filhos. Nós estamos querendo transformar sem mudar a base do problema, os valores, e daí, para mim, a importância da filosofia estoica, porque ela parte daí, da parte da mudança de valores.
Se não mudarmos, eu não sei... Os conflitos mundiais, vocês estão vendo que uns países... Que os países grandes não entram em conflito, não porque amam uns aos outros, não entram em conflito porque temem uns aos outros. Hoje já não existe um grande conflito mundial porque eles sabem que, se dispararem uma guerra de um país grande contra um país grande, a quantidade de bombas atômicas armazenadas, a quantidade de bombas de hidrogênio armazenadas é suficiente para destruir todo o sistema do mundo. Então, por que não lutam? Porque amam? Não, porque temem. Nós parecemos os animais, que não lutam uns contra os outros porque ficam rosnando, e se esse outro tem os dentes muito grandes, o outro teme, então, não luta. Isso não é um fator humano, nós já estamos desumanizando o processo, estamos parecendo com animais.
Só que, como existiram no passado essas tensões entre Grécia e Troia, por exemplo - já que estamos falando do estoicismo, que nasceu na Grécia -, sempre vai haver uma Helena de Troia. Sempre vai haver um governante que não tem muita imaginação ou que não tem muito juízo, que pode, por nada, querer soltar uma bomba e começar um conflito mundial.
E se começar um conflito entre duas nações, como seria a nossa economia no mundo? Os nossos sistemas são muito frágeis. Nós tivemos, há pouco tempo uns vírus pequenininhos lá na Índia que só seguiram a lei da vida, crescei e multiplicai, e, de repente, parou a economia do mundo todo. Olha a fragilidade que é o nosso sistema econômico!
A fragilidade das grandes cidades é impressionante. Os sistemas, por exemplo, de telecomunicação de uma cidade são todos encadeados, trabalham em cadeias: se cai um sistema grande, para o Brasil todo, toda a telecomunicação. Idem a energia.
Já tivemos casos, por exemplo, como a guerra recente que houve em Alepo, que parece que, para uma cidade do tamanho de Alepo, que não se compara com São Paulo ou com o Rio de Janeiro, para ficar sem abastecimento no centro da cidade gastaram-se dois dias. Imagina um conflito, uma crise mundial em que esses conjuntos de coisas que estão aí, intensos, podem explodir de uma hora para outra. Pode vir uma pandemia junto com uma guerra ou junto com uma catástrofe natural e desencadear um processo de crise numa cidade como São Paulo e não ter como chegar abastecimento no centro da cidade.
Com a natureza e como as pessoas estão, separadas umas das outras, com medo uns dos outros, cada um por si e Deus por todos, o que pode acontecer em uma semana? Dizem que em Alepo, em uma semana, já estavam invadindo as casas uns dos outros para ver se conseguiam sobreviver. Ainda bem que nesses momentos começa a surgir o fator humano e alguns começam a se apiedar uns dos outros e começam a ajudar uns aos outros, mas por que nós não construímos uma sociedade em cima de elementos humanos? Daí a proposta do estoicismo.
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E eles tinham uma coisa de que eu gosto muito. Eles falavam que nós tínhamos que ter uma certa ataraxia. O que significa? Diante de qualquer adversidade, eu manteria comigo os meus princípios de bondade. E por que eu teria meus princípios de bondade? Não é para ir para o céu, não é para me beneficiar. É porque é o maior prazer que um ser humano pode ter.
Então, eles falavam de uma ética e de uma moral natural. Eles falavam que os animais são bondosos com os seus filhos, com as suas crias, mas não com a cria dos outros e com as outras espécies. Por quê? Porque eles não têm prazer em ser bons, eles têm prazer em ser competitivos. Nós temos prazer em sermos bons. Nós fazemos trabalhos sociais. São milhares de pessoas que nos apoiam, que trabalham lá às vezes oito, nove horas por dia, sem remuneração, sem nada e que fazem por prazer de ser bom. Então, o ser humano tem esse prazer. Todos nós sabemos, todos nós já fizemos um gesto de amor, já fizemos um gesto de carinho com um animal e ficamos alegres. Vejam as crianças como ficam contentes quando são bondosas com os animais, com as plantas, uns com os outros.
Por que, então, não trabalham em cima da bondade, do prazer de ser bom? Porque aí seria uma ética natural, não uma ética forçada, não uma ética conveniente, porque toma aqui, dá lá, eu sou bom para você porque você é bonzinho comigo. Isso é uma troca, mas isso parece um pouco com os animais. Se você me trata bem, eu te trato bem; se você me trata mal, eu te mordo.
O ser humano não é um animal. O ser humano é um ser racional. Aí está o estoicismo. Ele fala: faça uso da razão. Você tem que ser bom porque a bondade em si, para você, já te traz uma felicidade enorme. Se eu posso me isolar sozinho num quarto e somente sendo bom com meu pensamento, não deixando entrar coisa que destrói a mente, sendo bom com meu corpo, não deixando entrar nada que destrói o meu corpo, sendo bom comigo mesmo, já tenho um grau de esplendor e de felicidade, a ponto de não depender das circunstâncias. Isso que é ataraxia, eu não dependo das circunstâncias.
Não dependo se tem alguém que me ataca ou não, como foi o caso de Epiteto. Ele falava que a felicidade dele era tão grande, que o grau de plenitude dele era tão grande que não dependia das circunstâncias. E aí, o amo dele, ele era um escravo, falou: "ah, quero ver". E bateu na perna dele e quebrou a perna dele. Ele falou: "está vendo? Eu continuo feliz e alegre porque a dor não me afeta". Tu dependes disso. Eu não, porque eu tenho capacidade de convocar dentro de mim fatores humanos que as circunstâncias não afetam.
Recentemente tivemos um fato histórico que eu achei muito interessante, que é para mostrar isso, porque tem pessoas que pensam que isso é utopia, que isso não é possível. Então, Epiteto era grego, está muito distante de nós, mas, recentemente, tivemos um caso interessante na Tailândia. Uma equipe de futebol entrou numa caverna, de crianças, e a caverna começou a encher de água. Estava todo mundo para morrer afogado, a quilômetros para dentro da caverna, e esses jovens conseguiram subir numa plataforma dentro da caverna. A água começou a subir, mas lotou toda a caverna e não tinha como entrar - isso está num filme aí que todos podem encontrar aí na rede social. Lá tinha um técnico de futebol que tinha um pouco de experiência com essa problemática da vida interior, de saber que dentro do ser humano existem coisas que as circunstâncias não afetam, e começou a ensinar para os jovens lá na hora. Enquanto todo mundo corria ali pelo mundo para salvar os jovens, a água subindo, sem luz, sem água, sem comida não sei quantos dias, parece que mais de 20 dias, e eles para morrer a qualquer momento, porque a água continuava subindo - agora, imagina o desespero -, o professor os ensinou a como se concentrar dentro deles mesmos, de tal maneira que aquele desespero não os afetassem e eles pudessem esperar o socorro.
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Eles conseguiram, saíram todos. Esse foi um resgate muito interessante, está na internet, vocês podem ver o filme nas televisões e tudo. E eles saíram de lá sem nenhuma sequela psicológica; nada, perfeitos. Olhe a faculdade que tem o ser humano.
Nós estamos desmontando tanto o ser humano que, quando aconteceu o covid, e alguns ficaram isolados dentro das suas casas, com geladeira, com comida, com tudo, se desestruturaram psicologicamente, foram necessários tratamentos. Alguns se mataram, muitos morreram, não por causa do covid, mas porque se mataram, porque perderam essa capacidade humana. Além do mais, eles falavam que também eu, fazendo uso da bondade... Imagine que, se eu vou à sua casa, a única coisa que eu quero é ajudar você, a única coisa que eu quero é que você conserve a sua casa, a única coisa que eu quero é que as suas plantas estejam bem alimentadas, a única coisa que eu quero é que os seus animais estejam perfeitos, que os seus filhos estejam em harmonia, que não falte nada para você. Eu tenho certeza de que vocês abririam a porta da casa de vocês para mim, e eu seria um bom amigo. Por quê? Porque eu não quero nada para mim. E qual é a sua felicidade? Ser bom, cuidar da sua planta, cuidar dos seus filhos; ser bom onde eu estou. Então, eu entro em harmonia em qualquer lugar em que eu estou.
Então, eles falavam de ataraxia dentro e fora e não uma ataraxia passiva como sofre e aguenta. Não. Sofra e se posicione corretamente, transforme o meio onde você está. Se falta água para as plantas, alimente, dê água, coloque água; se falta bondade, dê bondade; se a pessoa está triste, sorria, porque você, dando, se faz feliz. Então, essa era a ética estoica. Não era uma ética de conveniência, não era uma ética para as coisas darem certo; era uma ética em que eu manifestava aquilo que essencialmente sou eu, e eu não podia deixar de ser eu mesmo. Então, eu tinha que ter essa capacidade de sempre me honrar com a verdade, com aquilo que eu sou, ou seja, uma filosofia de verdade. Coisa que falta muito hoje, porque a maior parte das pessoas, às vezes com a melhor intenção, está mentindo, está fazendo de conta que gosta de uma coisa que não gosta. Há muita falsidade e por isso também muita ruptura, muita desconfiança entre os seres humanos.
Então, essa era uma filosofia de liberdade. Significa que eu não estou condicionado a nada para eu poder ter realização plena, eu não dependo do que tenho, eu não dependo de onde estou; eu só dependo de uma oportunidade de viver o momento presente. Um momento como este em que, só de estarmos aqui respeitando as normas da Casa, respeitando uns aos outros, ouvindo quem tem que ouvir, falando quem tem que falar, gera uma harmonia, um estado de paz e de unidade entre nós. Em cada momento presente, nós poderíamos fazer o mesmo, porque os estoicos entendiam que a única coisa que existia era o momento presente.
Marco Aurélio falava: "Comece o dia como se fosse o primeiro dia da sua vida". Esqueça todo o passado, porque do passado a única coisa que nós temos que carregar é a experiência, não os traumas, os medos, os preconceitos, os ódios, não carregue peso do passado, limpe todo dia. E comece o passado como se fosse o primeiro dia. Espere que, quando você sair na rua, você sempre vai encontrar adversidade, e você sempre vai encontrar coisas boas. Se encontrar adversidade, viva-a com dignidade e passe em frente; se encontrar coisas boas, viva-as com dignidade, não fique preso a elas. Por quê? Porque o momento seguinte traz coisas boas também, senão você vai querer viver do passado e repetir o que fez agora mesmo. Então, se liberte do passado. Por quê? Porque o passado não podemos mudar, já era; o futuro, quem sabe se vai estar vivo amanhã? Não sabemos.
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Então, o que eu posso garantir? O momento presente. Mas, se eu penso assim, quando eu saio daqui, também é um momento presente. Da mesma forma como eu conduzo o meu carro, da mesma forma como eu sou. Então, nós estamos sempre no momento presente, como o Marco Aurélio falou.
Quem viu o presente viu tudo, porque toda a síntese do passado está aqui, e tudo aquilo que é futuro está plantado aqui no momento presente. Como será o futuro?
Veja como são os jovens de hoje. É triste ver. Conheço, sim, pessoas de todas as profissões que chegam para mim e falam de jovens que serão os médicos do futuro, os engenheiros do futuro, os Senadores do futuro. Eles não conseguem mais viver sem estímulos, sem drogas, sem pornografia, sem promiscuidade. É só o mundo sensível. Nós estamos fazendo culto ao sensível. Os jovens estão querendo um mundo sensível. E, como a gente já ofereceu tudo de sensível para eles, agora eles estão criando da imaginação deles. E, como não suportam mais só os prazeres normais, eles os ajustam com drogas, com uma série de coisas.
Mas quem está produzindo isso? Nós, com nossos valores. Se os meus valores são muito sensíveis, como serão os jovens? Como vamos mudar o futuro? Com os jovens que estão vindo? Não. Terá que haver mudança de valores. E me perguntam: "está bom, se eu mudo, se eu adoto a filosofia estoica, muito provavelmente eu resolvo o meu problema, porque eu vou estar bem em qualquer lugar, eu estou bem comigo mesmo e estou bem com as pessoas. E quem vai mudar o mundo?"
Eu gosto muito disso. Eu penso assim: os vírus são desse tamanhinho, e os vírus não têm complexo de inferioridade. Eles só seguem a regra da vida: crescei e multiplicai. E, de repente, em menos de um mês, estavam no mundo todo, e o mundo todo parado. Nós não somos vírus, somos seres humanos brilhantes. Crescei e multiplicai, crescei em bondade, e você vai ver que a sua presença transmite.
Outra pessoa vai falar: crescei e multiplicai e, com a bondade dele, com a presença dele, vamos transformar nossos filhos, vamos transformar muitas coisas em torno de nós, logo chegaremos a muitos, seremos muitos. E aí, sim, os nossos filhos serão os Senadores. Então, eles vão pregar não uma política de competição e de medo, vão pregar uma política de amor.
O processo produtivo não se dá somente quando nós competimos um com o outro, e eu compito com ele, então eu o estimulo para que ele seja produtivo. Não. Quando eu colaboro, o processo produtivo é mais forte.
A maior parte das pessoas que eu conheço, que são boas, trabalham todos os dias para dar. E qual é o prazer? Dar. Esse é o prazer. E por que eu não tenho medo? Porque eu gero sempre, porque eu não necessito, as coisas de que eu necessito são muito básicas. Eu não tenho medo. Por quê? Porque eu já tenho uma capacidade de estar em qualquer situação adversa e estar bem, se tiver adversidade, eu vou vivê-la, como vivia Marco Aurélio, como viviam todos os filósofos estoicos.
Então, nós podemos nos garantir como seres humanos, mas nós temos que voltar a humanizar o ser humano. Como vamos mudar isso nas escolas, se todos os professores estão com os mesmos valores? Como vamos mudar isso nas políticas, se todos os seres humanos... Não é um problema da política, não é um problema dos professores, é um problema nosso, individual. Os nossos valores.
Temos que trocar valores de prazer sensível, que são bons, por esses valores que são próprios da alma humana, para a bondade, para a justiça, como falava Marco Aurélio.
Marco Aurélio falava assim: o prazer de ser justo em si já vale a pena e, se estiver outro mundo, eu tenho certeza de que, se eu for justo aqui, eu vou ficar muito muito melhor no mundo seguinte.
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E, se não tiver outro mundo seguinte, eu não vou perder a oportunidade de ser justo agora, porque é muito bom. É muito bom estar em harmonia comigo mesmo; é muito bom estar em harmonia com a natureza; é muito bom estar em harmonia com os seres humanos; é muito bom ser feliz. E a justiça me traz isso, traz uma capacidade de me realizar dentro de mim, fora de mim, e me traz uma perspectiva diferente para o futuro.
Então, para que serve o estoicismo no momento atual para cada um de nós? É uma filosofia para escravos e para reis. E aqui nós estamos diante de muitas pessoas muito simples, eu creio que na plateia também, que não precisam de ir para as escolas para aprender filosofia. Apenas acreditem mais no humano, acreditem mais na bondade, acreditem mais no próprio coração.
Muito obrigado. É o que eu tenho a falar. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muitíssimo obrigado, Sr. Luis Carlos Marques Fonseca, Diretor-Presidente da Nova Acrópole Brasil Norte, por compartilhar seu conhecimento, seu coração bondoso, trazendo luz aqui para todos nós.
Eu queria justificar a ausência do Senador Izalci, que sempre tem um apreço muito grande pela Nova Acrópole, inclusive esteve conosco aqui em outras oportunidades e debates sobre esse tema. Ele está discutindo a reforma tributária hoje em São Paulo e não pôde estar presente, mas mandou, fez questão de mandar um grande abraço para todos, desejar um evento - e eu acho que o desejo dele está se cumprindo - exitoso aqui. Inclusive, na última semana, conversando com ele, a gente estava falando justamente sobre esse momento, porque o que mais falam para ele, para mim, é que não desistamos. A população, quando a gente tem um contato, diz "não desistam, nós estamos orando por vocês", e isso realmente eu quero agradecer muito aos brasileiros, aos meus conterrâneos que fazem isso, os cearenses, porque é isso que, para mim, dá muita força, de estar aqui em pé, combatendo o bom combate e sempre com energia. É para esses brasileiros que a gente está aqui dando o nosso melhor, com todas as limitações e imperfeições que nós sabemos ter, mas trabalhando no limite das nossas forças e com convicção, com muita fé, com muita esperança de que vai dar certo, e vai mesmo!
Eu jamais esperava chegar aqui - estou com 4 anos e meio no Senado, nunca fui candidato a nada, nunca tinha sido político - e ver uma reversão tão grande daquele movimento das ruas, de justiça para todos, o fim da impunidade no país, a Operação Lava Jato, aquilo que me inspirou, como muitos brasileiros, a vir para a política, e a gente vê hoje aquelas pessoas, servidores públicos exemplares do Brasil, da força-tarefa, estarem hoje sofrendo todo tipo de perseguição implacável, de cassação. Literalmente, os valores estão invertidos hoje. Pautas em defesa da vida, por exemplo, que nós já aprovamos aqui, como a questão contra as drogas, contra porte de droga, aborto, tudo está sendo ameaçado em outras instâncias, tirando dos eleitos legitimamente pelo povo para fazer isso... E nós nunca deixamos aqui de legislar sobre isso, muito pelo contrário. Se tem um assunto que é debatido é sobre esses princípios e valores, sobre essas pautas em defesa da vida desde a concepção, a favor de uma vida saudável para os jovens, contra o jogo de azar, aposta. Tudo é corrupção de valores, e há um lobby poderoso atuando aqui que vai propiciar não só a destruição da família, ao que nós estamos tentando resistir, mas também lavagem de dinheiro e corrupção, porque esse é o grande objetivo.
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Então, que continuemos juntos acompanhando a política e cobrando de nossos representantes para que seja conforme o interesse do brasileiro, que é de 80%, no mínimo, nessas pautas a favor da vida. Que isso possa ser respeitado no Brasil. Sem falar - não é, Felipe? - em marco temporal, Lei das Estatais, uma série de outras interferências que a gente tem tido, mas isso faz parte, para o despertar de todos nós.
Vamos, agora, ouvir as perguntas de vocês. Nós temos recebido aqui muitas perguntas pela internet, direcionadas, algumas. E já vou deixar, para uma reflexão... Mas eu queria privilegiar primeiro quem está aqui, no final eu faço essas perguntas que têm chegado aqui aos nossos palestrantes.
Quem gostaria de iniciar?
Giuliano.
É só clicar nesse botãozinho aí que já abre o seu microfone.
O SR. GIULIANO LOUREIRO - Acho que está com som.
Senador, primeiro, queria agradecer, mais uma vez, a oportunidade de a gente estar aqui no Senado Federal resgatando essas ideias. A gente escuta todos vocês falarem, e todos nós temos muitas coisas para fazer. Raramente a gente para a fim de refletir e pensar sobre as ideias.
Então, eu queria pedir à Profa. Lúcia que pudesse desenvolver mais um pouco a ideia da qual o Prof. Luis Carlos falou, sobre a importância de que a gente possa tratar mais todo esse dilema que você vem pontuando, as causas. A gente tem que trabalhar nas causas. O Prof. Luis Carlos sempre dá esse exemplo para a gente: não se resolve uma goteira colocando um balde embaixo. A gente tem que ir lá descobrir de onde está vindo tudo isso. O fato de a gente ter essa prática de sempre ir para a ação, "vamos resolver", de sempre ir para o embate, talvez faça a gente ficar com essa sensação de que está enxugando gelo. Como o próprio Luiz Felipe falou, já são 20 anos de tentativas e erros, e a gente tem a história para nos ensinar. Então, é sempre importante a gente olhar para trás e perceber que, quando a sociedade está no ápice, os valores estão no ápice; quando a sociedade decai, os valores já decaíram muito tempo atrás.
Então, eu acho que tem uma causa para ser tratada, que é exatamente a ideia de que a gente está falando aqui. Eu acho que a Profa. Lúcia talvez possa contribuir um pouco mais com essa minha fala.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muito obrigado, Giuliano. Obrigado por ter obedecido ao tempo de dois minutos.
Vou passar imediatamente a palavra aqui para nossa Profa. Lúcia Helena.
A SRA. LÚCIA HELENA GALVÃO MAYA (Para exposição de convidado.) - Bom dia, mais uma vez.
A pergunta é bastante oportuna. Eu poderia resumi-la numa questão fundamental que a gente sempre enfrenta, em sala: por que pensamos de um jeito e agimos de outro? É basicamente isso.
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Eu fico imaginando, no futuro, se algum arqueólogo tentar descobrir a nossa civilização e descobrir o que ela pensava a partir da nossa vida. Nada escrito restou, só restou a história das nossas vidas: o que será que eles deduziriam que eram as nossas ideias? Talvez não fosse equivalente àquilo que a gente pensa serem as nossas ideias. Nós enfrentamos sempre o velho dilema, existe inclusive uma passagem bíblica que fala sobre isso: pelas vossas obras, vos conhecerei. Estamos todos cheios de ideias maravilhosas. Aí a filosofia nos inspira a ter contato com as grandes ideias da história, mas a filosofia também nos inspira a vivê-las.
Então, nós temos uma dificuldade muito grande de trazer as nossas ideias à prática; ainda que elas sejam muito bem-intencionadas, ainda que haja essa retidão de intenções, nós, na prática, continuamos agindo de uma maneira, como dizia o Prof. Luis Carlos, que está mais para a consciência animal do que para a consciência humana. E aí eu chamo a atenção para que nós paremos para pensar e nos perguntemos sobre em que realmente acreditamos, porque aquilo que nós, quando nos movimentamos, deixamos como rastro é o que nós realmente acreditamos.
Então, é passar a um questionamento em que nós nos sentamos conosco mesmos e nos perguntamos: eu realmente acredito nessas ideias? Isso realmente é o meu guia na vida? Ou eu simplesmente tenho um mundo intelectual para dar resposta às questões intelectuais, mas, na prática, eu vivo totalmente amparado no eu animal porque acredito que neste contexto histórico é isso que dá certo?
Então, se eu estou numa situação difícil, "bom, Platão não vivia no século XXI, não sabia o que era isso; o que ele diz não serve para cá; aqui tem que ser do meu jeito". E o "meu jeito" é aquele que nós recebemos de berço, que é: sempre tire vantagem em tudo, sempre procure liberar apenas a sua pele, sempre procure estar no primeiro lugar do pódio, sozinho, ou seja, esse jeito que criou essa situação caótica em que estamos. Esse é o jeito em que nós continuamos acreditando e continuamos respondendo à vida através dele.
Então, o que eu chamo à atenção é que cada um procure ver, como o Prof. Luis Carlos falou muito bem, quais são os seus reais valores. Procure olhar no seu rastro e veja em que ele realmente acredita, que é o fundamental para que a gente possa mudar o mundo, mudar cada um de nós. A natureza não dá saltos, e não há como mudar a humanidade, mudar as instituições... Instituições, pessoas jurídicas são fantasias. O que existe verdadeiramente são seres humanos. Mudar a humanidade sem mudar os valores de cada ser humano um por um é uma utopia, é uma loucura que nunca vai acontecer. Estarmos sempre esperando de pessoas jurídicas, de instituições uma mudança, quando nós mesmos não nos propomos a mudar os nossos valores de vida é uma ilusão.
E o que exatamente a filosofia propõe é: transforma a ti mesmo, conhece a ti mesmo, transforma-te a ti mesmo, para que a gente possa construir um mundo amparado em valores. Gosto muito de uma passagem de um diálogo platônico, que é o Crítias, em que Sócrates chega para um determinado personagem, que era um sofista, e diz: "Não fuja do debate, porque se tu me convenceres de que essa é a ideia correta, amanhã me encontrarás na rua vivendo aquilo que tu disseste". Eu acho isso muito bonito. Se alguém me convence de que essa é a forma justa de viver, amanhã me encontrará na rua vivendo dessa maneira.
Essa capacidade de trazer verdadeiras ideias à prática, acreditar nelas de fato, ou seja, transformar os valores em função dos quais vivemos, e não apenas em função dos quais opinamos de maneira intelectual. "Honrai as verdades com a prática", como dizia outra antiga e muito importante pensadora.
É isso. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Ouvindo essa resposta da Professora, veio-me aquela frase de Francisco de Assis em que ele diz assim: "As palavras podem até convencer, mas é o exemplo que arrasta". E Platão, trazendo para a política: "O destino das pessoas boas e justas que não gostam de política é serem governadas por pessoas nem tão boas e nem tão justas que gostam de política". Então, a participação... Não tem que estar separado. Nós fazemos parte, todos juntos, dessa situação e vamos sair juntos disso, com esse aprendizado, com essa dura lição que estamos tendo, mas que vai propiciar redenção nossa e do nosso país, porque estamos conectados.
Mais alguém?
Quem gostaria de fazer...
Inclusive eu fui informado que tem um microfone, que foi providenciado, já está ali, um microfone sem fio. Se vocês quiserem fazer alguma manifestação, é só pedir que ele leva o microfone.
Alguém gostaria de fazer alguma colocação? (Pausa.)
Ótimo.
Você diz o seu nome, por favor, e para quem é direcionada a pergunta.
A SRA. ALINE NASCIMENTO FREITAS ALMEIDA - Certo.
Bom dia. Eu sou Aline. Gostaria de direcionar a minha pergunta para o Professor Luis Carlos, em relação a essa formação cidadã. Como essa visão estoica pode contribuir na formação, no desenvolvimento da cidadania? É isso.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muito bem. Muito obrigado, Aline.
Com a palavra, o Professor Luis Carlos.
O SR. LUIS CARLOS MARQUES FONSECA (Para exposição de convidado.) - Bom, é lógico que, se eu influencio as pessoas que estão ao meu lado, que influenciam uns aos outros, nós vamos gerando uma transformação profunda na forma natural como vivemos. Como agora: eu influencio o Senador e o Senador me influencia. Nós estamos em esferas diferentes de trabalho e os dois vão fazer um trabalho maravilhoso com aquilo que um aprendeu com o outro.
Mas, se a gente, além disso, resolver não só propagar dentro do seu campo de influência natural, se você quiser ter uma força de propagação maior, então nós teremos que nos organizar. Os bons deveriam se organizar mais, porque, quando os bons não se organizam, seremos dominados por aqueles que estão organizados, e às vezes são pessoas que não são tão boas.
Então, cabe à gente também fazer isso e, para chegar a essas coisas, até que possamos influenciar as escolas, os professores, e fazer chegar em todas as partes, não somente dentro do nosso ciclo de interesse.
Daí que nós propomos uma organização como a Nova Acrópole, onde nós procuramos nos organizar e trazer pessoas que queiram se organizar conosco, para a gente chegar com mais força e atingir um grau maior de influência dentro da sociedade, inclusive as escolas, os processos de educação, como a gente já faz com dois projetos grandes que nós temos. Temos um projeto com 200 crianças, que é o Criança para o Bem, aqui em Brasília, que praticamente é conduzido por voluntários. A gente pega as crianças com cinco anos, e hoje já temos criança com doze que já está interessada, inclusive, em trabalhar, para ajudar a mudar as demais crianças, que também necessitam.
Então, vamos crescendo e multiplicando. Creio que depende de um esforço nosso, juntos, coletivo. Temos que unir esforços. Os bons têm que se organizar. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muito bem, Aline! Ótimo! Muito boa a definição, e, assim, quando se vê uma resposta com essa sabedoria dos nossos palestrantes aqui, me vem outro pacifista, humanista, que é o Martin Luther King, que diz: "O que me [...] [incomoda] não é o grito [...] dos violentos. [...] [mas] o silêncio dos bons"; e, aí, você vai para Edmund Burke, que coloca que o mal só triunfa quando os bons nada fazem, cruzam os braços.
Na hora em que você estava na tribuna, tinha chegado um outro grupo e eu não pude fazer aqui a saudação, mas faço-a aqui para um novo grupo de brasileiros que vêm conhecer aqui o Senado Federal, a Câmara dos Deputados.
Sejam muitíssimo bem-vindos aqui!
Estamos numa sessão não deliberativa, uma sessão especial para debater a Escola do Estoicismo.
São de vários estados diferentes, vocês? Quais são?
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Paraná!
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Rio de Janeiro!
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Ó, o Ceará está em todas! Estão vendo? O Ceará está em todas!
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Paraíba!
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Santa Catarina!
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - São Paulo!
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Acre!
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Mato Grosso do Sul!
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Rio Grande do Sul!
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Você falou, eu não ouvi.
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Daqui do Distrito Federal, olha só que coisa boa!
É p guia que está aí?
Você que é o... Como é seu nome?
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Mateus. Prazer! Muito obrigado.
Mais uma vez, para você visitar o Congresso Nacional, fazer como esses brasileiros que estão acompanhando aqui a vida política, a história, basta acessar o site www.congressonacional.leg.br/visite. Aí, você vai lá e faz o seu cadastramento. O pessoal aqui é super-rápido, ágil, e já vai ser agendada a sua visita, que pode ser realizada em dias úteis, exceto às terças e quartas, porque a gente tem muitas Comissões atuando ao mesmo tempo, votações, mas, nos finais de semana e feriados, das 9h às 17h, também está aberto aqui.
Vamos à próxima participação.
Quem gostaria de fazer alguma pergunta ou comentário?
Fiquem muito à vontade aqui.
Ótimo! Excelente! O seu nome e para quem você vai fazer a pergunta.
Obrigado.
A SRA. TATIANA SÁ VINHAS BARATA - Meu nome é Tatiana. Eu sou aluna da Nova Acrópole do Lago Sul e eu queria agradecer por esta oportunidade ao senhor e a todos que estão dando esta oportunidade de termos essa lucidez, porque eu acho que é isso que nós estamos precisando: esse despertar, essa lucidez que a Nova Acrópole, neste ano, traz para a gente. E eu queria agradecer ao senhor também por estar defendendo a família, os valores, porque nós estamos aqui muito preocupados com o que está acontecendo. Então, queria lhe agradecer. Eu o acompanho e tenho fé de que tudo vai seguir o caminho daquilo que o Luis Carlos falou, do amor, da bondade.
Eu queria comentar - e, talvez, seria interessante tanto o Luis Carlos quanto a Lúcia Helena continuarem - que nós estamos com uma sociedade muito doente: depressão, ansiedade, pessoas tomando medicação - pessoas inteligentes, com potenciais enormes, mas não conseguem ficar sem uma medicação para ter uma vida com qualidade, para dormir bem.
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Eu queria comentar - e talvez seja interessante tanto o Luís Carlos quanto a Lúcia Helena continuarem - que nós estamos com uma sociedade muito doente: depressão, ansiedade, pessoas tomando medicação; pessoas inteligentes, com potenciais enormes, mas que não conseguem ficar sem uma medicação para ter uma vida com qualidade, para dormir bem. Então, eu queria que vocês pudessem falar sobre isso, sobre como o estoicismo pode ajudar nessa fase tão difícil que a gente está passando.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Luciana, não é?
A SRA. TATIANA SÁ VINHAS BARATA - Tatiana.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Tatiana. Muito obrigado pela sua participação, Tatiana.
Antes de passar a palavra aqui para os dois palestrantes que vocês gostariam de ouvir, eu queria só dar um adendo, porque a gente tem feito muitos debates aqui sobre essa questão de depressão, de suicídio e de automutilação. E, pelo que a gente tem visto de especialistas, as progressões serão dramáticas nos próximos dois, três anos. E como podemos de alguma forma auxiliar, amparar? Qual a visão de vocês como sociedade? Também aqui, se alguém tiver alguma sugestão para nós de medidas legislativas nesse sentido... Porque são vidas importantes e que no desespero, no materialismo esgarçado, tenham perdido essa vontade de viver. E a gente sabe que sempre há uma luz. Nada como um dia atrás do outro. Eu queria muito ouvir vocês sobre essa...
Eu lhe agradeço muito, Tatiana, pela pergunta bem atual. É a pandemia do momento. A pandemia do "virusinho" pequenininho passou, mas tem essa pandemia do momento, que é a questão de depressão e suicídio.
Com a palavra, o Prof. Luis Carlos, a Profa. Lúcia Helena, como quiserem. Quem quiser falar primeiro fique à vontade.
O SR. LUIS CARLOS MARQUES FONSECA (Para exposição de convidado.) - Bom, realmente é um tema importante.
Eu acredito assim, eu vejo assim: o ser humano... você pode desfrutar de todos esses prazeres que os animais também desfrutam, uma boa carne, o sexo, as emoções - o meu animal lá em casa é super emocional também -, as sensações, gostar de brincar, de correr, de visitar coisas, de conhecer coisas, tudo isso é bom, mas vai ter uma dor dentro, que é alguma coisa que não se está expressando, o que é o humano, porque o humano tem outros tipos de prazeres além desses. Porque nós podemos... Se eu quiser imitar um poste aqui: eu fico parado e vou ter os prazeres de ser um poste. Tem ser humano que está imitando um cachorro e parece que gosta. São possibilidades, como falava o Pico della Mirandola: você pode imitar as bestas e ser como elas, como pode imitar os deuses e ser anjo no céu. O que você quer ser?
Só que nós não estamos dando ao ser humano - no nosso processo de formação, nos nossos valores familiares - a opção de ser humano. Nós não cultivamos o prazer do belo. E olha como é bonito olhar os arco-íris, as flores, as músicas... Quem ensina isso? Nós ensinamos o sabor das carnes, o conforto das camas, o ar-condicionado e tudo o que é agradável para o corpo, mas esquecemos a alma humana, e a alma é como um filho que quer nascer; se não nasce, ele mata a mãe. Se a alma não aflora e se expressa... E se expressa na forma de gerar beleza, de gerar ordem, como falavam os estoicos. Porque o universo é organizado; se você quer se harmonizar com ele você tem que participar da vida do universo, então você tem que participar da ordem cósmica. Então, onde eu estou tem que ter ordem, e existe um prazer nas coisas organizadas. Tanto é que às vezes nós deixamos o nosso quarto desarrumado, mas, quando vamos para um hotel de cinco estrelas, não aceitamos entrar num quarto desorganizado. Por quê? Porque não gostamos. E por que não organizamos o nosso quarto? Por preguiça, porque nós temos vocação também para pedra, não queremos mexer.
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Então, por que não ensinamos que os seres humanos podem desfrutar dos prazeres da alma, da bondade? Todos nós gostamos de fazer carinho nos cachorros, alimentá-los bem, ninguém gosta de vê-los sofrer, não queremos que nossos filhos sofram, não queremos que as pessoas sofram. Por que não exercitamos a bondade? Daí eu penso que, se a gente exercitasse o prazer da bondade, o prazer da beleza, o prazer da justiça, haveria muita felicidade se expandindo, e não iríamos necessitar tanto de estímulos externos. Porque, como nós estimulamos muito os prazeres sensíveis, uma hora a gente se cansa deles. Então, a gente tempera mais para ver se aguça, aí cansa; aí vem a droga que tempera um pouco mais. Aí você se vicia na droga; depois, fica dependente dela; e, depois, essa alma não se expressa. Então, a angústia e a ansiedade continuam por dentro, como: "Olhe para mim, deixe-me nascer! Eu também tenho o direito de vir à vida. Eu nasci também para isso".
Nós não acreditamos que nós temos uma alma e que ela necessita se expressar. Nem sabemos o que é a alma, o que é o corpo. Então, há uma confusão geral, que está dentro de nós, e por isso essas confusões todas que nós estamos vendo se expressarem. Estamos desequilibrando o processo e somos pessoas muito fortes dentro da Terra.
Bom, eu concordo que o grande problema hoje estão sendo esses estímulos, porque os jovens só estão vivendo em função disso. Eu fico impressionado com o que nos está chegando. É assim: "Ah, esse pessoal está fazendo 'tal' curso" - eu não vou falar qual é -, e são profissionais sérios que não conseguem entrar para uma festa sem uma droga. Não conseguem! Esses serão os nossos dirigentes do futuro. Como será, então, o futuro? Nós estamos criando essa problemática com os nossos valores. Então, temos que mudar essas coisas.
Agora, às vezes, pessoas adoecem por estarem vivendo isso e, às vezes, precisam de medicamento. Então, quanto ao fato de estarem tomando medicamento receitado por um médico, por um profissional, eu não tenho nada contra, mas, quanto a usar o medicamento para se estimular ou para poder evitar um esforço de transformação, aí, sim, eu acho... E há muita coisa nesse sentido. Eu creio que 95% dos casos são de pessoas medicadas para manterem da forma como querem viver as suas vidas ou para poderem estimular determinados tipos de situações, porque, sozinhos não conseguem estimulo para aquilo. Então, para isso, o medicamento é muito perigoso, não só as drogas oficiais, que são censuradas - por enquanto, não é? - pela lei, mas essas que são oficialmente aceitas e que, às vezes, são receitadas para pessoas suportarem a vida que escolheram e não terem que mudar nada.
Agora, existem casos de doenças, sim, que têm que ser tratadas, e isso eu acho justo e necessário.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muito bem.
Professora.
A SRA. LÚCIA HELENA GALVÃO MAYA (Para exposição de convidado.) - Bem, eu não teria muito a acrescentar àquilo que o Prof. Luis Carlos disse.
Sintetizando, eu poderia dizer que, na grande maioria dos casos, eu acredito que, por trás desses processos, existe uma frase: "Se a vida é só isso, não me interessa". Eu acho que essa afirmação está por trás de todos esses casos: "Se a vida é só isso, ela não me interessa". Só que a vida não é só isso, e essa é a grande constatação que nós temos que fazer para que ela tenha sabor, para que ela tenha sentido e não sejam pensados esses recursos extremos.
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Nós vemos que na natureza tudo ocupa um papel: as plantas se realizam fazendo fotossíntese, fazendo trocas gasosas com o meio; os animais se realizam exercendo instintos de sobrevivência e de perpetuação da espécie; o homem se realiza tendo valores, exercendo esses valores, construindo a si próprio e mudando o mundo através desses valores.
Quando a sociedade não oferece nada que possa indicar a ele essa direção ou ajudá-lo a descobrir essa direção, a angústia é inevitável, porque somos seres incompletos, somos seres pela metade. Como dizia Khalil Gibran em uma poesia, quando fazemos o vinho com má vontade, matamos só a metade da sede daquele que o bebe; quando vivemos com essa vontade limitada, matamos só a metade das nossas necessidades, as materiais, e as necessidades humanas começam a gritar.
Aí a sociedade já tem todas as rotas de fuga preparadas: "Você está angustiado? Vem cá, consome mais". Aí vem o consumismo, aí vêm as críticas, aí depois vêm os programas de televisão, o Big Brother, a telenovela. Não dá só isso? Redes sociais; todo mundo olhando o que o outro está fazendo na vida do outro. Enfim, não dá? Chegamos até as drogas, como vício, e às vezes chegamos à autodestruição como ponto final desse processo de simulação da vida, de fuga da vida, de criação de algo artificial que nos libere desse tédio de apenas sobreviver. O ser humano não veio apenas para sobreviver.
Existe uma frase interessante que foi utilizada num filme chamado Coração Valente, que eu achei muito bonita, que dizia o seguinte: "Todos os homens morrem, mas [...] [poucos] homens vivem". Alguns apenas sobrevivem. Eu duvido que esses homens que realmente vivem estejam dentro dessa estatística dos deprimidos, dos angustiados e dos com ideação suicida, eu duvido. Esses homens, ainda quando a vida está se esgotando, gostariam de mais um momento, mais um fôlego, para fazer mais alguma coisa pela humanidade, para deixar o mundo um pouquinho melhor, para realizar um pouco mais dos seus sonhos. Esses homens sabem o valor que a sua vida tem e empregam esse valor da maneira adequada, empregam esse valor a favor de si próprios e da humanidade; são fator de soma, querem fazer diferença, e um minuto da sua vida é dotado de valor. Eu não acredito que os homens que sabem viver integrem a estatística dos desencantados.
Eu acredito que, cada vez mais, como o Prof. Luis Carlos explicou muito bem, temos que encontrar o nosso lugar no mundo, realizarmo-nos, como diziam os estoicos, na prática das virtudes, no encontro dos valores humanos. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muito bem! Debate de altíssimo nível. Estamos aqui aprendendo; estou aprendendo muito aqui.
Inclusive, em um dos trechos que eu até postei nas minhas redes sociais, do Flow da Professora com o Igor, aquele debate, se falou em rede social: até que ponto ela está nos empurrando para o abismo, precisa ser controlada, está contribuindo para esse caos que a gente vive? E a Professora, com muita sabedoria, mostrou que elas não são nem ruins nem más; é o que a gente faz delas - é mais ou menos isso, não é, Professora? Deu uma demonstração ali de muita... É como o dinheiro, não é? O dinheiro não é ruim nem mau; o que a gente faz dele é que vai definir a situação. Então, nós estamos vivendo um momento no Brasil de controle, de tentativas para controlar a mídia, censura, e as redes sociais têm incomodado muitos políticos - especialmente políticos -, as críticas. E aí, a resposta da professora me deu, assim, uma luz muito grande, porque a gente tem que saber como levar, mas jamais controlar esse tipo de situação.
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Ótimo!
Vou passar a palavra aqui para a... Como é o seu nome?
A SRA. MELISSA ANDRADE COSTA (Fora do microfone.) - Melissa Andrade.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Melissa Andrade Costa, que vai fazer ou sua pergunta ou seu comentário.
Muito obrigado pela sua participação.
A SRA. MELISSA ANDRADE COSTA - A minha pergunta é para o Luiz Felipe Dávila.
O senhor falou sobre a aplicação do estoicismo à política, e a gente sabe que nós estamos vivendo um momento agora de bastante ruptura e falta de diálogo e oposições. Eu gostaria que o senhor comentasse um pouco como princípios como o do estoicismo poderiam ser aplicados para poder gerar mais diálogo e maior unidade.
Obrigada.
O SR. LUIZ FELIPE D´AVILA (Para exposição de convidado.) - Ótima pergunta, Melissa.
Eu acho que é fundamental a gente resgatar, como eu disse, a tolerância, a civilidade e o respeito, porque a democracia sem esses elementos não funciona. Como criar esse espaço, para mim, é a questão fundamental. A professora Lúcia Helena disse da questão dos valores. Eu acho fundamental; a gente não discute mais valores. E o pior: eu acho que tem uma coisa gravíssima que está acontecendo no país - e não só no Brasil, no mundo -, que é a decadência das humanas na formação dos jovens e das pessoas.
Antigamente, filosofia, história, geografia, todas essas humanas eram discutidas na sala de aula. Eu falo que eu fiquei apaixonado pela filosofia em discussões de sala de aula, porque, primeiro, como estudante, a gente sempre tentava adivinhar de que lado o professor estava, porque ele sempre era aquela pessoa neutra que estimulava o debate. E é justamente isto que vai lapidando os nossos valores, as nossas crenças: é testando contra a realidade, contra o embate. E acho que o pensamento crítico está se esvaecendo, e vejo isso como um grande problema por causa dessa decadência da cultura humanista na sala de aula. E mais: passa não só a não ter o pensamento crítico, como a ter uma postura doutrinária, o que é pior ainda, porque emburrece ainda mais em vez de estimular o pensamento crítico.
Então, eu entendo que essa ágora das redes sociais, Senador Girão, vai ficando poluída quando você vai para um debate muito dissociado de valores e coisas. Aí o debate, realmente, fica um bate-boca. Os gregos, naquele tempo, já se incomodavam - porque, na verdade, a ágora é o espaço, vamos dizer, das redes sociais hoje, o que seria antigamente -, e era justamente a crítica que se fazia aos sofistas, que eram os demagogos, que usavam a palavra apenas para fazer sucesso entre as pessoas, mas estavam ali destituídos da defesa de valores.
Então, eu entendo que a defesa de valores é fundamental hoje. E eu entendo que valores a gente acaba só definindo quando a gente tem um embate com a realidade. É isso que molda.
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E, digo mais, acho que é nos momentos de maior dificuldade da sua vida que você sabe quais são aqueles valores que você preza ou não, o que Kant chamava de categórico imperativo. E eu acho muito complicado a gente viver num mundo em que a gente não sabe os nossos categóricos imperativos, quais são os nossos valores inegociáveis. Sem isso, eu acho que a gente acaba entrando no mundo da depressão, da ansiedade, e tal, porque, no fundo, a gente se sente num lugar sem norte.
Eu entendo que a política... o que a gente tem que fazer é restabelecer esse mínimo denominador comum de entendimento, e essa é a parte mais difícil, porque no mundo radical, quando você estende a mão para o outro e diz: "Puxa vida, Líder da Oposição, eu tenho um grande apreço pelo que você fez", você é automaticamente linchado pelos seus seguidores, que começam a achar que você é uma pessoa frágil, que já está cedendo à pressão dos outros. Mas eu digo que a liderança de maior coragem no mundo são os construtores de ponte.
E eu quero dar um último exemplo aqui, que é o do Nelson Mandela, um sujeito que foi eleito e que teve que reconciliar uma sociedade dividida pelo apartheid durante tanto tempo, e teve uma grandeza extraordinária ao fazer isso, com seus gestos, com suas atitudes, sempre dizendo que ele queria construir a Nação Arco-Íris.
Eu acho que hoje está faltando essa grandeza no nosso país, e as pessoas têm medo de reconhecer na oposição as coisas boas para criar esse mínimo denominador comum, pacificar o país e fazer com que nós possamos passar por este período sombrio da história. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muito bem.
Mais alguém gostaria de se manifestar, de fazer alguma pergunta?
Então, vamos... Opa, tem.
A senhora... o seu nome e para quem?
Muito obrigado pela sua participação.
É esse botãozinho aí.
A SRA. CATARINA COSTA DE ARRUDA FALCÃO - Está me ouvindo?
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Estou.
A SRA. CATARINA COSTA DE ARRUDA FALCÃO - Tá.
Eu não vou fazer nenhuma pergunta, nenhum questionamento. Eu só gostaria de fazer um pedido.
Tudo o que eu ouvi aqui hoje, da Profa. Lúcia e dos demais, me tocou muito, e eu gostaria de pedir ao Senador Girão, que teve a iniciativa de nos trazer aqui, que todos esses ensinamentos estoicos sejam percebidos.
Levem, tragam mais representantes do Governo para ouvir, para entender esses ensinamentos estoicos, para que possam ser aplicados à nossa política, que seja referente às virtudes, às verdades, ao respeito, à tolerância, à harmonia de Poderes de que estamos precisando neste momento.
É uma coisa que o senhor citou, que tudo isso... eu acredito que, se cada um dos nossos governantes ouvir um pouquinho desse estoicismo que ouvimos aqui hoje nesta Casa - a participação individual de cada um -, eu acredito que nós vamos vencer e que teremos um país melhor.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muito bem. (Palmas.)
Amém.
Qual é o nome da senhora?
A SRA. CATARINA COSTA DE ARRUDA FALCÃO - Catarina.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Catarina. D. Catarina, muito obrigado.
O propósito é esse. O propósito é trazer para este ambiente, para esta Casa revisora da República, ao Senado... foi falado aqui do Senado de Roma. Este é o Senado do Brasil, que vai completar o seu bicentenário do ano que vem.
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E nós estamos tendo a oportunidade, graças aos Senadores, que permitiram, o Presidente Rodrigo Pacheco... E embora segunda-feira seja um dia realmente em que eles estão vindo... Eles estão nos seus estados, os Senadores, e estão vindo a Brasília; não puderam participar pessoalmente, e é compreensível isso. Mas pode ter certeza, porque eu já vi aqui muitos assessores deles que estão passando, de que isto aqui vai ecoar. Vai ecoar, pode ter certeza.
Todas essas falas dos palestrantes, de vocês que fizeram perguntas, a apresentação do Luiz Felipe D´Avila, que foi feita no material, os nomes de vocês - eu estou com todos aqui e eu já quero pedir para a Secretaria-Geral da Mesa incluir no histórico desta sessão - vão ficar nos Anais da Casa, tudo isso.
E de alguma forma, este é o primeiro momento; teremos outros. E eu vejo muita sensibilidade, muitos colegas estão refletindo sobre tudo que está acontecendo no Brasil. E vamos continuar esse despertar, sim. Todos nós estamos nesse caminho aí para transformar o Brasil no que ele merece, colocar o Brasil onde ele merece, essa humanidade, um país que tem tudo para estar no topo do mundo, não tenho a menor dúvida disso. Tem tudo para estar.
Nós somos a maior nação católica do mundo, a maior nação espírita do mundo, a segunda maior evangélica, quase chegando ao primeiro. Todo mundo se relaciona bem, se respeita - o seu posicionamento -, está junto em causas. Nós somos um povo trabalhador, empreendedor. Então seremos, sim, o coração do mundo, a pátria do Evangelho e temos muito a colaborar. Todos nós aqui fazemos nosso papel.
Então eu vi que não tem mais - pelo que eu percebi - ninguém querendo fazer colocações. Eu vou agora dar sequência para o encerramento da sessão, fazendo a leitura de algumas perguntas para os nossos palestrantes - alguns, coloquei o nome aqui -, se quiserem, fazerem uma resposta. Muitas perguntas parecidas, que eu acho que para o encerramento aí, uns cinco minutos para cada um fazer essa resposta.
Então, do Yago Bezerra, do Ceará: "Como desenvolver uma pedagogia estoicista na educação pública brasileira [pública brasileira], não somente como prática individual, mas como prática social?" Para o Luiz Felipe D'Avila.
Para a Profa. Lúcia Helena, da Patrícia de Oliveira, de Minas Gerais: "Como a aplicação dos conhecimentos estoicos pode ajudar na formação de estudantes/cidadãos mais lúcidos e comprometidos com a sociedade?"
Para o Prof. Luís Carlos, de William Petrachini, de São Paulo: "Como extrair o melhor do estoicismo para os dias contemporâneos nas escolas e [na] vida política?"
O Bruno Gaione, do Paraná, pergunta ao Luiz Felipe D'Avila: "Como o estoicismo poderia ser incorporado no currículo do ensino básico [do MEC] para promover o desenvolvimento de habilidades emocionais e éticas?"
A Daniela Lima pergunta para a Profa. Lúcia Helena; Daniela Lima, de São Paulo: "Como a filosofia estoica pode influenciar a maneira como as pessoas lidam com o sucesso e [com] o fracasso?"
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E, para encerrar, a Aynne Carmencita, de Rondônia, pergunta também para a Profa. Lúcia Helena: "Como a filosofia estoica pode colaborar com o combate à ansiedade?"
A Cinthya Naiara, do Piauí, vizinho ali da gente, lá do Ceará, pergunta para o Prof. Luís Carlos: "Como se espera que os profissionais da educação sejam preparados corretamente para transmitir [...] [a escola] do estoicismo?"
O Erick Breno, de Rondônia, para o Felipe D'Avila: "Como garantir que os princípios estoicos sejam ensinados de forma imparcial e inclusiva nas escolas?"
Fala aqui dessa doutrinação que existe, hoje, em universidades, escolas... É uma pergunta bem do momento aqui.
Diego Barbosa, de Minas Gerais, para a Profa. Lúcia Helena: "Como os estoicos compreenderam a relação entre a ausência de perturbações emocionais e a busca da excelência moral em suas filosofias?"
O Douglas Storchi, do Rio Grande do Sul, pergunta para o Prof. Luís Carlos: "Como a filosofia estoica pode contribuir para a aperfeiçoamento da ação/consciência coletiva, superando feição individualista contemporânea?"
E a última: Jaqueline Reis, da Bahia - a última pergunta é da Bahia, onde fomos descobertos. "A prática do estoicismo [...]". Ela deixou essa pergunta aberta para os palestrantes aqui. Quem quiser responder fique à vontade. "Como a prática do estoicismo na educação corrobora para a valorização da subjetividade dos estudantes?".
Então, feitas as perguntas aqui do Portal e-Cidadania que foram chegando durante a sessão, uma excelente audiência estamos tendo. E, aqui, como vai pela TV Senado e Rádio Senado e vai pelo YouTube e tudo, vai para os rincões do Brasil. A gente nem imagina onde é que está chegando... E fora do Brasil também.
Então, vamos começar, professora? Pode começar?
A SRA. LÚCIA HELENA GALVÃO MAYA (Para discursar.) - No caso, eu acho que é um pouco difícil responder a todas. Talvez seja o caso de deixar aquelas que são mais próximas dos demais oradores e responder àquilo que é mais particular, que é o caso de como o estoicismo pode lidar com o sucesso e o fracasso, por exemplo. Eu acho uma pergunta bem peculiar.
A primeira coisa que o estoicismo nos aconselharia é mudar a nossa noção de sucesso e fracasso. Nós temos uma noção construída em torno de "vencer sobre" e não "vencer junto". Nós, se tivemos algum sucesso, contamos para alguém: "Olha, eu cheguei em primeiro lugar numa maratona de rua". Essa pessoa vai nos perguntar: "Quantos concorrentes havia?" E nós vamos dizer: "Havia mil". E que lugar eles tiraram? "Todos tiraram primeiro lugar". Automaticamente, acabou a graça. Graça só existe quando você é vitorioso sobre 999 fracassados.
É lógico que, com essa mentalidade de "ganhar sobre" e não "ganhar junto", o sucesso que teremos será sempre baseado no egoísmo, que é um dos principais males, se não o principal mal, que atingem a humanidade; a incapacidade de fazer com que a sua satisfação seja baseada em mais pessoas do que simplesmente na sua própria pele. Como dizia a tradição tibetana: "A heresia da separatividade"; a base dos males da sociedade.
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O nosso sucesso deveria ser o sucesso do nosso eu humano sobre o nosso eu animal; o sucesso dos nossos valores sobre simplesmente as tendências sociais da sobrevivência a qualquer preço; o sucesso da nossa capacidade de pensar sobre a massificação; o sucesso da condição humana sobre a condição animalizada que muitas vezes nos oferecem.
Quando nós criamos isso como sucesso e isso como fracasso, nós estamos coincidindo com aquilo que os estoicos diziam. Daquilo que depende de nós e daquilo que não depende de nós. O nosso sucesso e o nosso fracasso dependeriam de nós. E com ambos nós aprenderíamos e estaríamos sempre crescendo.
Agora, um sucesso baseado na competição, na vitória sobre os demais, construído sobre o fracasso alheio, é um dos elementos de decomposição da sociedade. O estoicismo com certeza nos levaria a essa reflexão. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Excelente!
Inclusive, o Juliano sabe, eu estive em 2002 na Índia e tive a oportunidade de conhecer - não estava nem na programação, mas fui conhecer - um método que eu jamais esperava existir, baseado em educação e valores humanos, que é o Instituto Sathya Sai, do Educare, lá da Índia, e que trata justamente sobre essa questão. Um dos pilares é cooperação e não competitividade. O Sai Baba foi o fundador. Tem até universidade lá na Índia com base nesse método. E quando eu cheguei ao Brasil, eu vi que já tinham várias escolas inspiradas lá no Instituto Sathya Sai. Inclusive, nós levamos uma para o Ceará também depois, em 2004. Educação e valores humanos, essas são as chaves realmente dessa reconstrução da humanidade.
Vamos agora ouvir o Luiz Felipe D’Avila. Inclusive, há algumas pessoas perguntando aqui, Luiz, para mim, no meu direct, sobre esse evento em que nós fomos juntos, de que nós participamos, em Minas Gerais. Foi em Ibitipoca, não é isso?
O SR. LUIZ FELIPE D´AVILA - Exatamente.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - No Projeto Ibiti, que é feito lá pelo nosso amigo, que é um dos líderes...
O SR. LUIZ FELIPE D´AVILA - Renato Machado.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - ... Renato Machado, que nos recebeu muito bem.
Com a palavra, Felipe D’Avila, de que eu tenho muita honra de participar junto aí do Novo. E que foi o meu voto, muito consciente, fugindo da polarização, no primeiro turno da eleição do ano passado.
O SR. LUIZ FELIPE D´AVILA (Para discursar.) - Muito obrigado, Senador Girão.
Eu vou tocar em dois assuntos aqui. São duas perguntas sobre educação básica e a questão sobre os valores do estoicismo.
Sobre educação básica, nós temos uma chance fundamental, Senador, que inclusive vai passar por esta Casa agora. Nós aprovamos uma reforma no ensino médio de extrema importância, para justamente incluir temas como filosofia no currículo. Porque hoje nós temos um dos currículos mais engessados do mundo, com 13, 14 matérias obrigatórias. E o que essa reforma do ensino médio fez foi justamente aumentar as eletivas, que é justamente para podermos reinserir essa volta das matérias humanistas no currículo.
É de extrema importância manter viva a reforma do ensino médio. E, infelizmente, os sinais que foram dados agora é que estão melando a reforma do ensino médio, Senador Girão. Então, essa reforma está voltando para ser discutida aqui, o que foi feito no Ministério da Educação, e eu acho fundamental manter esse currículo moderno, porque não é possível que nós tenhamos hoje um currículo tão engessado na escola que não se discutam as questões humanistas, como nós falamos aqui, e que 48% dos jovens abandonem o ensino médio antes de concluí-lo. Isso deveria ser um enorme sinal de alerta de que essa educação não interessa, não prende a curiosidade e não forma indivíduos.
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A Profa. Lúcia Helena tocou num ponto importante: educação não é uma coisa utilitária só para formar bons profissionais; tem que formar bons cidadãos, boas pessoas e tem que ter essa discussão de valores e essa riqueza das matérias humanas. Então, é fundamental, Senador, ficar de olho para deixar que essa parte das eletivas seja mantida na reforma do ensino médio, que tem enorme importância para que nós possamos debater assuntos como filosofia, história e tal.
A questão do estoicismo, sobre como se ensina de forma imparcial, eu vejo como é difícil para os bons professores. Quando o professor tenta ser imparcial, ele é pressionado pela sala de aula para tomar posição: "Como é que você atuaria em relação a isso?". Então, essa coisa da imparcialidade, fazer você aprender a pensar, a debater parece que virou uma coisa de uma pessoa que não toma postura ou posição.
Eu vou dar um exemplo aqui, Senador Girão, que foi interessante, em um curso que eu dei para Prefeitos recém-eleitos sobre essa questão de como se discute valor na política de forma prática. Eu coloquei aos Prefeitos a seguinte situação: vamos dizer que você possa criar a melhor escola pública no seu município. Você vai ter todos os recursos, todas as condições para criar a melhor escola pública. Quem você elegeria como alunos dessa escola pública? Você só pode escolher uma categoria: você escolheria os melhores alunos da escola pública para colocar na melhor escola pública; você escolheria aqueles que têm maior potencial de aprendizado naquela melhor escola pública; ou você escolheria os piores alunos da rede para colocar na melhor escola pública?
Veja só que coisa interessante: isso gerava um enorme debate, porque que cada um escolheu uma coisa. Só que isso é um debate filosófico em que, por trás, estão os valores, porque quem escolheu colocar os melhores alunos na melhor escola é porque preza excelência; quem escolheu colocar aqueles com maior potencial, que têm capacidade de crescer é porque preza a meritocracia; e quem escolheu os piores para colocar na melhor escola pública é porque coloca a justiça social como a primeira coisa, como primeiro grande valor. Veja só que interessante, como a gente escolhe política pública baseada em valores! É que, às vezes, a gente não tem noção disso. E, quando você força a pessoa a fazer uma única escolha, começa a florescer o valor que dirige a sua atuação. E, ao entender esse valor que norteia, fica muito mais fácil fazer as discussões de política pública.
Então, é interessante como nós podemos, no nosso cotidiano, estimular um debate de valores, tratando de coisas do cotidiano. E nós veremos que vão surgir, vão aflorar os reais valores que nos motivam a fazer as coisas.
Talvez seja isto que falta hoje na escola: alguém tentando, em vez de fazer grandes definições, provocar uma discussão para ver como é que nós reagimos a cada uma dessas coisas para saber quais são aqueles valores que nos norteiam. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Antes de encerrar com o Prof. Luis Carlos, eu queria apenas conceder a palavra - ele disse que quer fazer rapidamente um comentário - ao nosso querido Professor da Escola Superior do Ministério Público da União, Dr. Paulo Kramer, que nos dá o privilégio da sua presença e está conosco na mesa.
O senhor fique à vontade antes de a gente encerrar.
O SR. PAULO KRAMER (Para discursar.) - Eu, antes de mais nada, quero agradecer ao Senador Girão por esta oportunidade, dizer da minha alegria e dizer que realizei dois sonhos aqui: primeiro, conhecer esse meu ídolo, que é o Luiz Felipe D'Avila, que eu acompanho desde a revista República, em um momento em que o Brasil tinha um debate político mais maduro, menos emocional, menos emotivo - eu espero que a gente volte a recuperar esse momento em breve -; e o outro sonho que eu realizei foi conhecer representantes da Nova Acrópole, cujo trabalho eu admiro muito há muitos anos. Tive e tenho alunos e ex-alunos que foram ou que são da Nova Acrópole. E quero dizer que vocês fazem um trabalho muito bom, um trabalho maravilhoso mesmo.
Com relação ao estoicismo, eu estou, a convite... E foi um convite que me foi feito ainda no ano passado pelo Procurador-Geral da República, o Dr. Augusto Aras. Ele me convidou para fazer um curso sobre estoicismo na Escola Superior do Ministério Público da União. Eu achei um convite inusitado e desafiador, como não poderia deixar de ser. E o curso eu dividi da seguinte maneira: são algumas aulas de introdução à filosofia clássica, em que a gente vê os pré-socráticos - alguns -, os sofistas, uma aula para Sócrates, a outra para Platão, a outra para Aristóteles, e aí depois dessa introdução nós fazemos o nosso convite à filosofia estoica.
Já se falou aqui de todas as dimensões, valores importantes que norteiam o estoicismo, e eu gostaria de lembrar de outro que não foi falado aqui, mas certamente estava implícito em todas as colocações, que é o ensinamento estoico de que a gente precisa escolher e interiorizar a ideia de um mestre, a ideia de um sábio. Os próprios estoicos reconhecem que esse modelo perfeito jamais existirá na realidade, mas é sempre um ideal a ser buscado, é sempre um ideal a ser procurado. Então, muitos estoicos atribuíram ao Sócrates esse papel, mas a gente aqui pode falar de muita gente: a gente pode falar do Confúcio, a gente pode falar do Nelson Mandela, a gente pode falar de uma figura da história do Brasil que eu acho muito subvalorizada, mas que valeria a pena sobretudo a juventude conhecer melhor, que foi o Oswaldo Aranha, um grande estadista, e um estoico - ele tinha uma paciência com o Getúlio que eu vou te contar.
Quero dizer isto: nós somos anões nos ombros de gigantes, como eu estava comentando aqui com o Giuliano um pouco antes de a gente começar esta sessão.
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Somos anões nos ombros dos gigantes, o que nos permite, ao subir nos ombros dos gigantes, olhar até um pouco além do que eles veem.
A gente precisa disto: a gente precisa buscar nos clássicos do pensamento. E, nisso aí, a Nova Acrópole desempenha um papel importante, assim como o Centro de Liderança Pública, comandado pelo Luiz Felipe D'Ávila, também desempenha um papel importante de mergulharmos nessa reflexão para que possamos nos tornar pessoas melhores.
Um grande abraço para todos.
Obrigado, mais uma vez, ao Senador Girão. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Muito bem. Somos nós quem agradecemos a sua honrosa presença, Dr. Paulo Kramer, Professor da Escola Superior do Ministério Público da União.
Ouvindo, há pouco tempo, esta reflexão de onde se coloca, na melhor escola, a questão da excelência, da justiça, eu me lembrei, Giuliano, daquele exercício de matemática da Escola Sathya Sai.
Olha só como são as coisas - matemática, Luiz Felipe. Tem cinco maçãs num cesto. Como é que nós aprendemos aqui? A maioria de nós aprendeu assim: passou uma pessoa, pegou três. Ficaram quantas maçãs? Como é o método de valores humanos lá da Índia? Tem cinco maçãs num cesto, passou uma criança com fome na rua, o dono das maçãs doou três maçãs para ela. Quantas maçãs ficaram? Ou seja, o resultado matemático é o mesmo, mas você colocou ali humanidade, solidariedade, fraternidade, compaixão. E isso aí é muito importante. Para se ver como na educação a gente pode, lá da criança...
E a autoestima das crianças é um negócio impressionante que a gente vê lá, onde são trabalhados estes valores: a paz, o amor, a retidão, a não violência e a verdade. São baseados em cinco princípios. Quem quiser pesquisar: Instituto Sathya Sai. Já tem escolas no Brasil inteiro, gratuitas. São projetos que não cobram - não há cobrança - e que têm feito um trabalho muito bacana a partir de doações de empresas, enfim.
Para encerrar aqui o nosso momento, eu passo a palavra, para responder a algumas das perguntas que foram feitas pelos nossos internautas que estão acompanhando a sessão, ao Luis Carlos Marques Fonseca, Diretor-Presidente da Nova Acrópole Brasil Norte.
O SR. LUIS CARLOS MARQUES FONSECA (Para exposição de convidado.) - Obrigado, Senador.
As perguntas foram relacionadas a sobre como fazer chegar o melhor do estoicismo, inclusive, às instituições, à educação. Eu considero que o melhor do estoicismo está nesta prática deles de produzir a unidade. Por isso é muito importante para um momento histórico de rupturas.
O primeiro nível da unidade que a gente pode ver é a unidade entre céu e terra, ou seja, entre ideias e aplicação das ideias. Às vezes, as pessoas pensam que filosofia é subjetivismo, são doutrinas. Como falou bem o Felipe D'Avila, as pessoas não querem ensinar as pessoas a pensar, querem convencê-las de uma doutrina, e às vezes bem-intencionadas. É um sistema de valores que considera um modelo histórico, mas não um sistema de valores que está fundamentado em leis, como propunham os estoicos.
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Eles consideravam que o universo estava organizado de acordo com leis - leis matemáticas - e que essas leis não são arbitrárias. Se você age de acordo com essas leis, você entra em harmonia consigo mesmo e com a natureza. Não são arbitrárias. Não são somente normas de conveniência para uma instituição ou para um país. Porque são necessárias as normas, mas há uma distância grande entre leis e regulamentos, e muitas vezes se tomam como valores regulamentos que foram úteis em determinadas sociedades, em determinado contexto histórico.
Portanto, os diálogos não buscavam defender pontos de vistas nem sistemas funcionais para esquemas fechados, para um país, para uma civilização. É como eu compreendo as leis e como eu traduzo essas leis em comportamento, de tal maneira que essas leis, ao serem vividas, harmonizam aquela maneira de pensar minha, com a minha maneira de sentir e com a minha maneira de atuar. Então, haveria uma conexão entre ideias e atitude, ou seja, entre a ética - o que rearmoniza com o universo - e a conduta, a parte moral, a parte prática. Então, se você lograsse isso dentro de si mesmo...
Agora, você teria que ter uma conduta para ver se isso estava certo ou errado, ou seja, não é uma questão só intelectual, como faz a ciência. Ela propõe uma equação para poder representar uma lei e, depois, testa para ver se funciona. Se não funcionar, ajusta-se a equação, até que se chega a uma equação precisa. E vai evoluindo essa equação, como foi o caso de Newton, depois Einstein, e outras que existem, e que vão se ajustando, que são as teorias da gravitação.
Agora, nós pensamos que tudo isso é artificial. Então, como introduzir isso no processo de educação? Através de uma metodologia. Você acredita no que está fazendo? Então vive. Se deu errado é porque está errado. Não é uma questão subjetiva. Foi por isso que se perguntou: como tirar a subjetividade do processo? Sendo objetivo. Se você não está bem, se você não está feliz, se você não está se harmonizando com as pessoas, é porque tem alguma coisa errada. "Ah, não. As pessoas estão fazendo errado". Sim, mas, tal como ela é, você tem que se ajustar em função da realidade do universo, daquele momento, e não em função de determinadas conveniências.
Então, você começa agora a transformar esse processo numa ciência, que pode ser introduzida dentro de uma metodologia da educação.
Na hora em que falam "vamos colocar filosofia dentro da universidade", eu já fico com medo das escolas, porque qual filosofia, qual doutrina? Esse é um perigo, porque começam a doutrinar os jovens desde criança. As pessoas não pensam mais, são pensadas. E chamam isso de valores. Bom, valores para esse grupo social, valores para esse. Não é uma questão de acordo. Ou se acredita que existe uma realidade...
O Felipe D'Avila falou uma coisa muito bonita: num diálogo, você percebe qual é a realidade que quer aflorar de você, ou seja, qual é a sua verdade, com a qual você vai contribuir para a sociedade? Mas essa verdade tem que ter uma base comum, significa o bem da pessoa, o bem do momento, como você harmoniza consigo mesmo, com a sociedade, com as coisas.
Então, nós temos que transformar o pensamento numa ciência, a filosofia em uma ciência, a política em uma ciência. Não são coisas arbitrárias. E para isso precisamos de muito diálogo, porque nós não somos donos da verdade, mas nós conhecemos um pouco da realidade. E levar isso para os colégios.
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E como nós vamos convencer? Através do exemplo: "Olha, eu faço e dá certo". Então, é um convencimento moral, não é uma doutrina que se transmite, através de uma crença, através de um convencimento, através de uma retórica. Você faz, dá certo, eu copio, como a gente faz quando vai ensinar uma criança a nadar: pula e nada; vai que é possível. Aí você a convence a pular também. Então, nós temos que mostrar com a nossa vida, com a nossa experiência.
É o que acontece com os pais. Às vezes, eles querem introduzir valores para os filhos e eles traduzem conceitos precisos, com a melhor das intenções, e o filho faz outra coisa. Quando você olha para o filho dele, você fala: "Ele está copiando exatamente o que você é, não o que você está falando". Se for levar a um psicólogo para falar qual é o problema do filho, o psicólogo fala assim: "O problema não é do filho, é do pai". Ele só não fala isso para não perder o cliente, porque quem paga é o pai, mas está na cara isso.
Eu tenho uma filha que é veterinária, e ela fala que o comportamento dos cachorros é idêntico ao dos donos. Eles copiam aquilo que somos, aquilo que fazemos, a verdade que vivemos, não aquilo que falamos. Até as crianças percebem que nós estamos mentindo, daí elas olham para a gente assim... Por quê? Porque sabem que você não está falando a verdade.
Nós precisamos de sinceridade, de verdade, de busca da verdade, para buscar compreender as ideias, traduzir em conduta e ver se funciona, aí nós vamos ter um processo que vai evoluindo, vai nos ensinando. A vida vai nos ensinando, e, quem sabe, com o passar do tempo, chegamos à velhice, com um grau de sabedoria, com o poder de harmonizar qualquer situação, porque eu sei como fazê-lo, não é só a teoria.
Então, não gosto de defender "valores" - entre aspas -, por quê? Porque todo mundo está bem-intencionado. Todo mundo quer paz, todo mundo quer bondade, todo mundo quer beleza. Os homens são bons, 90% das pessoas eu acredito que são excelentes, só que, como diz o ditado popular, de pessoas bem-intencionadas o inferno está cheio. Quando Confúcio fala que quando os bons, inconscientemente, começam a defender, porque não compreendem as ideias que não são corretas, valores que, na verdade, não funcionam, não são reais, o mundo não tem solução, porque eles se filiaram inconscientemente ao mal.
Por isso, precisamos de muito diálogo, precisamos descobrir, realmente, o que são leis, como traduzir leis em conduta, como traduzir conduta em ações sociais, em relações sociais, ou seja, como transformar leis em política, como transformar as leis em uma política que faz com que os seres humanos se harmonizem, como transformar leis em equipamentos que funcionam, como transformar leis em beleza, como Mozart fazia, transformava ideias em beleza. Einstein transformava ideias em equações matemáticas. Mandela conseguiu transformar ideias em harmonia política. "Ah, essas parecem ser pessoas que entendem o que estão fazendo." Porque têm resultado, não são só bem-intencionadas.
Nós precisamos pegar os bem-intencionados e fazer com que eles reflitam um pouco. Por isso, é muito bonita essa proposta do Senador. Vamos refletir um pouco sobre as ideias. Nós não somos uma civilização que está começando do nada, temos milhões de anos de experiência. Além do mais, trazemos dentro de nós também muita sabedoria, que podemos puxar de dentro e, por aí, os diálogos. Quem sabe, através dos diálogos, conseguiremos descobrir coisas profundas em nós mesmos? Mas sempre pensando em gerar coisas boas. Por quê? Porque o ser humano, todos nós estamos querendo isto: harmonia, paz. Não sabemos como fazê-lo, mas estamos buscando.
Então, parabéns!
Obrigado pelas perguntas. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Obrigado.
Quero dar os parabéns também às cidadãs e aos cidadãos que estão visitando a galeria do Plenário do Senado Federal. É mais um grupo, repito, muitíssimo bem-vindo.
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Estão acontecendo cada vez com mais frequência aqui as visitações, que você pode fazer a solicitação... Eu peço até que se coloque na tela. Tem aí na tela...
Vocês são de que estados?
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Santa Bárbara D'Oeste, São Paulo.
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Pernambuco, Minas Gerais...
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Venezuela! Olha que coisa boa!
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - De onde: De onde vocês são?
(Manifestação da galeria.)
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) - Da Venezuela! Olhe aí: uma família! Uma família; irmãos vindos da Venezuela.
Sejam muito bem-vindos ao Plenário do Senado Federal!
Para visitar o Congresso Nacional, basta acessar o site www.congressonacional.leg.br/visite. A visitação pode ser realizada em dias úteis, exceto terças e quartas, nos fins de semana e feriados, das 9h às 17h.
Faça como essas pessoas aqui, do Brasil e de fora do Brasil, que estão nos visitando, o que nos faz muito bem.
Nós estamos agora encerrando este momento histórico deixando muito claro que quem não pegou do início, quem não assumiu, quem não conseguiu assistir desde as 10h - nós começamos às 10h01 -, eu peço que você, depois, possa ver, assistir no YouTube da TV Senado, um canal oficial. Vai ficar lá, como a gente fez a da Nova Acrópole aqui no ano passado, que também está lá, para fonte de pesquisa, enfim.
A D. Catarina fez uma pergunta - não uma pergunta, mas um comentário - dizendo que gostaria que autoridades assistissem, tivessem contato com essa filosofia estoica. Nós convidamos, o Senado Federal convidou todos os Deputados Federais, convidou embaixadores dos países e ministros de Estado para estarem aqui. Foram convites oficiais feitos, mas é aquela velha história: muitos são chamados, poucos os escolhidos.
Nós tivemos, e eu quero agradecer... Houve um imprevisto com o Embaixador de Marrocos. Olha só a embaixada que viria! Confirmou, mas aconteceu um imprevisto, e Marrocos, que recebe toda a nossa solidariedade... Nós já fizemos aqui, no Senado, nos manifestamos oficialmente, o Presidente da Casa, sobre a tragédia. Que eles recebam nossas orações e nosso apoio nessa força-tarefa internacional para ajudar a partir do terremoto que ceifou a vida de milhares de irmãos marroquinos.
Então, eu quero encerrar esta sessão dizendo também do Jovem Senador.
Tem um programa chamado Jovem Senador, que se encerrou aqui há 15 dias. Foi espetacular! Já existe há dez anos. E o que eu vi, Felipe D'Avila, de discursos aqui dos Jovens Senadores... É um de cada estado. Agora, como é que esse Jovem Senador chega aqui? É feita uma grande campanha nas escolas públicas com redação, e vêm o professor e o aluno; o Senado os recebe. Eles passam a semana indo às Comissões temáticas - de Direitos Humanos, CCJ, enfim. Teve uma audiência lá na CDH (Comissão de Direitos Humanos), depois eles vieram para o Plenário, elegeram o Presidente e discutiram propostas - inclusive, eu sou o Relator de uma delas -, propostas que lá na CDH chegaram a virar debate de projeto de lei. E, rapaz, se você pegar aqui a preocupação sobre cultura de paz deles e inclusão... Foi muito bonito o que a gente ouviu aqui, discursos emocionados. Isso nos dá muita esperança e muito otimismo, não é?
R
Tem turistas ali também, vindos da Alemanha, holandeses.
Sejam muito bem-vindos ao Senado Federal. Muito obrigado pela presença de vocês.
E, neste espírito de muito entusiasmo, nós encerramos esta sessão, chamando já para, às 14h, uma sessão não deliberativa, sessão de discursos, nesta segunda-feira.
Cumprida a finalidade desta sessão especial do Senado Federal, agradeço às personalidades que nos honraram com a sua participação.
Que Deus abençoe esta nação, muita paz a todos, uma ótima tarde! Começar a semana desta forma é muito bacana, debatendo sobre a Escola do Estoicismo.
Muito obrigado. Muita luz! (Palmas.)
Está encerrada a sessão.
(Levanta-se a sessão às 12 horas e 49 minutos.)