1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
55ª LEGISLATURA
Em 12 de novembro de 2015
(quinta-feira)
Às 11 horas
202ª SESSÃO
(Sessão Especial)

Oradores
Horário

Texto com revisão

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O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.
A presente sessão especial destina-se a comemorar o transcurso dos 120 anos das relações diplomáticas entre o Brasil e o Japão, nos termos dos Requerimentos nºs 878 e 1.196, de 2015, do Senador Hélio José e outros Senadores.
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Queria agradecer a presença de todos e registrar, também, a presença do Senador Wellington Fagundes.
Queria, também, convidar para compor a Mesa o Sr. Embaixador Kunio Umeda - que possa nos dar o privilégio de compor a Mesa de honra.
Também gostaria de convidar a Srª Chieko Aoki, Presidente e fundadora da Blue Tree, aqui, de certa forma, simbolizando também a presença da mulher japonesa no Brasil, e, assim, estaríamos contemplando os empreendimentos, os empreendedores e todos os que nos ajudam na construção dessa Amizade Brasil-Japão há mais de um século.
E, por fim, convidaria, também, o Sr. Monge Shôjo Sato, que é responsável pelo Templo Budista aqui em Brasília - que nos dê a honra de sua presença na Mesa.
Agora, neste momento, convido a todos para, em posição de respeito, acompanharmos o Hino Nacional do Japão e, em seguida, o Hino Nacional Brasileiro.
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(Procede-se à execução dos Hinos Nacionais do Japão e do Brasil.)
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O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Também registro a presença do Senador Anastasia, que com ela nos honra.
Quero agradecer a presença das convidadas e dos convidados. São muitos os que estão aqui hoje para celebrar os 120 anos da Amizade Japão-Brasil.
Neste momento, antes das falas, nós queríamos convidar todos a assistirem a uma apresentação do Grupo Matsuri Daiko Brasília de Tambores Japoneses. Eles vão fazer uma apresentação, celebrando esses 120 anos de Amizade Brasil-Japão.
Peço um pouco de atenção. Pedindo desculpas, gostaria de convidar o Cônsul Geral Honorário do Japão em Belo Horizonte, que está aqui, o Sr. Wilson Brumer, para compor a Mesa de honra. Peço desculpas ao nosso Cônsul.
Agora, vamos à apresentação do Matsuri Daiko Brasília de Tambores Japoneses.
(Procede-se à apresentação do Grupo Matsuri Daiko Brasília de Tambores Japoneses.)
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Procede-se %1
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O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Queria, mais uma vez, agradecer pela apresentação do Grupo Matsuri Daiko Brasília de Tambores Japoneses, que celebraram do melhor jeito, com a expressão da cultura, essa amizade Brasil-Japão.
Nós vamos passar a palavra aos convidados que estão aqui na Mesa e, em seguida, às Srªs e Srs. Senadores. Então, concedo a palavra ao Sr. Wilson Nélio Brumer, Cônsul-Geral Honorário do Japão em Belo Horizonte, para que possa fazer a sua saudação.
O SR. WILSON NÉLIO BRUMER - Sr. Presidente, em cujo nome saúdo todos os Senadores, Sr. Embaixador.
Foi-me solicitado, Sr. Presidente, que fizesse um breve relato sobre as relações econômicas entre o Japão e o Brasil.
Como já foi bem dito, é uma relação que já dura mais de um século - começando sob o ponto de vista das relações bilaterais - e, certamente, nesse período nós tivemos um grande incremento das atividades de empresários japoneses, de parceiros japoneses aqui do Brasil, que contribuíram para o desenvolvimento econômico e para o desenvolvimento social do nosso País.
Se pudéssemos dividir em alguns pontos a forma desse relacionamento, eu diria aos senhores e senhoras aqui presentes que, principalmente na década de 70, década de 80 e início da década de 90, as relações se davam muito de governo para governo, ou seja, os grandes projetos que foram implementados no Brasil tinham uma grande participação do governo japonês, assim como, do lado brasileiro, também do governo brasileiro.
Eu presidi a Vale durante muitos anos, assim como outras empresas do setor minerometalúrgico, e esse foi um período - lembramos bem - em que foram implementados projetos como Carajás, Albrás, Alunorte, Cenibra, enfim, grandes projetos com grande participação do governo.
Esses projetos certamente foram importantíssimos para o desenvolvimento da economia brasileira e do Japão, ficando clara a complementariedade entre essas duas economias. E aqui nós não estamos falando apenas de projetos ligados ao setor industrial, mas também ao setor agrícola, no qual o Japão teve um grande papel no desenvolvimento do Projeto Cerrado - algumas décadas atrás, poucos acreditavam que o Brasil seria capaz de produzir a quantidade de grãos que produzimos hoje naquela região e, certamente, a tecnologia, a perseverança e o papel dos japoneses foi fundamental para que aquele projeto pudesse se desenvolver.
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O que nós temos hoje é uma relação um pouco diferente. Certamente, as economias mudaram muito desde esse período, e hoje temos uma economia privada japonesa muito mais pujante do que era naquela época, assim como, do lado brasileiro, também temos uma economia mais disposta a essas parcerias.
Então, o que estamos vendo hoje são projetos japoneses presentes no Brasil, com várias empresas. Com isso, há um grande aumento de exportações e de importações envolvendo o Japão, o que fica demonstrado neste gráfico que eu apresento aos senhores. Fica claro, então, que o Brasil tem, com o Japão, uma grande relação de exportação e, ao mesmo tempo, de importação.
Este é um ponto para o qual eu queria chamar atenção: nessa relação, o que vemos, sob o ponto de vista da exportação, é que o Brasil é um grande exportador de matéria-prima para o Japão e, ao contrário, vemos o Japão exportando para o Brasil produtos de mais valor agregado. Então, está aí um grande desafio nessa complementariedade das duas economias. Temos que criar, cada vez mais, um ambiente favorável no Brasil - estou falando como brasileiro - para que possamos aproveitar essa relação de 120 anos e trazer para o Brasil empresas que possam também agregar tecnologia e desenvolvimento ao nosso País.
Essas são algumas imagens, algumas figuras de empresas já presentes no Brasil, nessa nova era, com mais agregação de valor, mais tecnologia.
(Soa a campainha.)
O SR. WILSON NÉLIO BRUMER - Bom, nessa relação Brasil-Japão há pontos importantes para os quais eu queria chamar a atenção do setor privado.
Os grandes problemas que os japoneses enfrentam hoje, no Brasil, são, de certa maneira, os problemas da economia brasileira. Há uma grande demanda por melhor infraestrutura, maior segurança jurídica e melhores custos, de uma maneira geral, para o desenvolvimento da economia.
Os investimentos estão aí. Fica claro que, até o ano 2011, houve um vácuo de empreendimentos. Melhorou um pouco, mas ainda está muito longe daquilo que pode ser a relação entre os dois países.
Nesse comércio bilateral fica caracterizado, hoje, que há certo equilíbrio, como eu disse, entre as importações e as exportações, mas certamente o Brasil está exportando mais produtos de menor valor agregado e importando mais produtos de maior valor agregado.
Aí está a relação dos principais produtos, deixando caracterizado o que eu acabei de falar: somos um grande exportador de minério e de grãos, mas, ao contrário, na outra linha, os senhores podem observar que há a importação de produtos japoneses de maior valor agregado.
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Como podemos melhorar a relação Brasil-Japão? Entendo que são duas economias complementares. No início, como eu disse, tivemos a participação de grandes empresas. Apesar de existirem vários acordos entre os governos, entendo que temos, agora, um grande papel, que é encontrar um caminho para aproveitar essa relação de 120 anos e fazer com que principalmente as médias empresas brasileiras possam usufruir mais dessa relação. Certamente, o pequeno e o médio empresário brasileiro conhece muito pouco de Japão, como o médio empresário japonês conhece muito pouco de Brasil. Então, esse é o grande desafio que, entendo, está à nossa frente - certamente poderemos tirar muito proveito dessa relação.
Sei que a apresentação deve ser muito breve, não queria tomar mais tempo, mas entendo que temos aí grandes potencialidades que, certamente, o Japão, o tempo todo, estará interessado em discutir, em ver a possibilidade da participação de capital japonês: energia renovável, infraestrutura, transportes, áreas médicas, gás - que é um grande desafio que o Brasil tem para a geração de mais energia - e, como eu disse, médias empresas.
Enfim, isso é um pouco do que nós estamos tratando aqui hoje, comemorando estes 120 anos. Que possamos, daqui a 120 anos, estar comemorando com mais desenvolvimento, com mais ousadia, e com uma parceria cada vez mais frequente nessa relação entre Brasil e Japão.
Muito obrigado.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Cumprimento o Cônsul-Geral Honorário do Japão em Belo Horizonte, o Sr. Wilson Nélio Brumer, pela exposição, e convido a Srª Chieko Aoki, fundadora e presidente da Rede Blue Tree de hotéis, para que possa, também, fazer uso da tribuna.
A SRª CHIEKO AOKI - Sr. Presidente, muito obrigada pela oportunidade de falar sobre os 120 anos - e também sobre as mulheres! Eu gostaria, realmente, de agradecer a todas as autoridades presentes e ao Embaixador Kunio Umeda por poder falar. É a primeira vez que venho aqui, então é uma honra muito grande.
Eu havia feito uma apresentação um pouco mais longa, mas já vi que preciso ser breve, então vou dar uma cortada.
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Antes do meu depoimento, eu gostaria de me apresentar rapidamente, se me permitem.
Eu nasci no Japão, e meus pais vieram para o Brasil quando eu tinha seis anos. Estudei aqui, toda a minha formação é brasileira e, praticamente, a minha primeira língua é o português. Sou brasileira naturalizada porque sou brasileira de corpo e de alma. Mas, como a gente também não é perfeita, casei com um japonês e fui morar no Japão. Com esse meu casamento, aprendi realmente a conhecer profundamente os dois povos, os japoneses e os brasileiros. E, aí, cheguei à conclusão de que os japoneses e os brasileiros têm, como disse o Cônsul Brumer, muita complementaridade - há muitas diferenças, mas há muita complementariedade.
Vou citar algumas, rapidamente, como vocês podem ver ali.
Quando aqui é noite, está amanhecendo no Japão; no Brasil, escreve-se nome e sobrenome, no Japão vem o sobrenome e depois o nome; no Brasil, abre-se o livro da direita para esquerda, no Japão, da esquerda para a direita; feedback, no Brasil, é positivo - sempre se fala: "Você fez bem, tal..." - depois dá umas bronquinhas, né? - no Japão, é sempre corretivo, fala-se: "Você não fez direito"; o brasileiro é expansivo, o japonês é mais reservado. Então, somos como peças de quebra-cabeças que se complementam, mas, digo para os senhores, são dois povos muito humanos, solidários, que amam a paz. E quando um se refere ao outro, diz: "Aquele povo do outro lado do mundo".
Das diferenças complementares nasceram sentimentos mútuos e grandes laços humanos e parcerias estratégicas em várias áreas.
Eu poderia dizer, por exemplo, que a popularidade do futebol no Japão deve-se em grande parte aos técnicos e jogadores brasileiros que treinam os jogadores japoneses e com eles jogam.
A música brasileira: não sei se os senhores sabem - isso me impressiona demais - mas a Bossa Nova e a MPB são tocadas com frequência, praticamente o dia todo, em todo o Japão.
O Ayrton Senna ainda continua sendo o grande ídolo do Japão.
E nos últimos anos, como todos sabem, o frango domina a mesa e o supermercado japonês. E há também hoje no Japão até pão de queijo - chamam de "pã de queijo", não sei falar direito - e Carnaval, com calendário anual, em Tóquio.
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No Brasil, temos muitos descendentes empreendedores e profissionais que fazem grandes contribuições ao País.
E, também, naturalmente, como vocês sabem, há a variedade de verduras, legumes e frutas que temos no Brasil.
E não sei se os senhores sabem também que temos mais restaurantes japoneses do que churrascarias, por exemplo, em São Paulo.
Eu gostaria também de reforçar um ponto que poucos sabem: muitos universitários japoneses, influenciados pelos brasileiros que moram no Japão, vêm para o Brasil nas férias para conhecer e colaborar com comunidades carentes do Nordeste. Eles chegam e constroem comunidades, bibliotecas, escolas, ensinam a empreender, a produzir em comunidades simples de pescadores, como em Canoa Quebrada. E por que isso é tão bom? Porque os japoneses fazem com muito amor, mas o fazem, também, para o seu próprio crescimento pessoal, voltando muito melhores e mais felizes para o Japão.
E também os brasileiros ajudam muito os japoneses, como aconteceu no tsunami em 2011.
Como eu tive oportunidade de empreender no Brasil, eu, como empresária e como mulher, quero muito contribuir para o Brasil. E é com esse sentimento que eu gostaria de falar sobre Mulheres do Brasil. Nós temos um grupo formado pela empresária Luiza Helena Trajano, que os senhores conhecem, com o objetivo de que cada uma das mulheres do grupo seja protagonista na construção de um Brasil forte e positivo. Queremos também colaborar para a maior participação das mulheres no crescimento do PIB brasileiro - da ordem de 30%. Em dois anos, somos mais de 600 participantes, somos um grupo apartidário, unido, realizador e protagonista na construção de um Brasil cada dia melhor.
E eu gostaria de falar um pouquinho da viagem que nós fizemos para o Japão e como isso influenciou na vida de cada uma das 32 mulheres que foram para o Japão.
Hoje, o Japão é um grande protagonista do novo papel da mulher na sociedade. Assim, o Primeiro-Ministro Shinzo Abe apoia esta causa e criou políticas focadas na mobilização das mulheres com maior potencial para o crescimento do Japão, querendo criar uma sociedade em que as mulheres brilham - bonito isso, não é?
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Com esse objetivo e reconhecendo a crescente participação das mulheres na sociedade brasileira, o grupo Mulheres do Brasil fomos convidadas pelo governo japonês para o fórum WAW! 2015 - Word Assembly for Women 2015 -, onde fomos recebidas pelo próprio Primeiro-Ministro, com honraria e grande destaque. Fomos todas uniformizadas com camisa - a Sumiko aqui está com essa camisa - que contém a bandeira do Brasil, a bandeira do Japão e o símbolo dos 120 anos da amizade Brasil e Japão. Voltamos muito animadas, energizadas e com vontade de fazer transformações aqui no Brasil, porque vimos as oportunidades que os dois países juntos temos a realizar.
Passamos no teste da cultura japonesa - nós todas brasileiras - com nota dez, superando nossas próprias expectativas de sermos brasileiras-japonesas no Japão. Todas fomos pontualíssimas! Éramos as primeiras a chegar aos locais, seguindo à risca o rigor japonês com o horário, com as organizações, com a disciplina e no cumprimento dos compromissos.
Sentimo-nos japonesas tomando chá verde - em cerimônia do chá - ou passeando pelas ruas de Tóquio, vestidas de quimono dos pés à cabeça. Era incrível como as pessoas nos paravam na rua para tirar fotos. Imaginem, nós nos sentimos como celebridades. Ao mesmo tempo, sentimos, muito fortemente, as extraordinárias qualidades humanas dos brasileiros. A nossa capacidade de acolher as pessoas sem distinção, com espontaneidade, com respeito ao individualismo, com carinho, com emotividade, com paixão, com alegria, é o nosso grande coração brasileiro, que tem tanto atraído os jovens japoneses aqui no Brasil.
Tivemos o impacto de sentir na pele o incansável trabalho dos japoneses pela paz, valor que também prezamos profundamente no Brasil. Compartilhamos o cuidado quase religioso com a natureza e com a tradição, que nos inspirou para a preservação de nossas cidades. Compartilhamos a reverência à harmonia, o respeito ao coletivo e a busca pela excelência e pela cultura da limpeza desde a infância, para zelar pela limpeza do Planeta.
Senhores, tenho certeza de que o Brasil e o Japão têm muitas coisas em comum e em complementariedade. O Primeiro-Ministro do Japão, em sua visita ao Brasil em 2014, deixou uma mensagem que mexeu muito comigo. Ele disse: "Brasil e Japão, vamos progredir juntos, liderar juntos, inspirar juntos". Isso é maravilhoso. Nós mulheres queremos fazer isso acontecer.
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Vamos todos juntos colaborar para que as relações entre os dois países sejam, cada vez mais, fortalecidas, ainda mais nos próximos cem anos ou mais ainda. E uma coisa muito importante: com a grande participação das mulheres brasileiras e japonesas. Nós todas, juntas, para a criação de nossos países e de um mundo melhor.
E vamos cantar juntas a música que temos no grupo Mulheres do Brasil, que provavelmente o senhor sabe, que diz o seguinte:
Sonho que se sonha só
É um sonho que se sonha só.
Mas sonho que se sonha junto é realidade.
Parabéns, Brasil e Japão, pelos laços que unem os nossos países.
Muito obrigada pela oportunidade de depor. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Nós é que agradecemos. Eu queria dizer que fico impressionado. Talvez a Srª Chieko Aoki seja a expressão dessa relação de amizade, por ter vivido e estar vivendo a vida que vive, cultuando essa relação. Fico muito orgulhoso de tê-la aqui, nesta sessão.
A SRª CHIEKO AOKI (Fora do microfone.) - Ah, muito obrigada pelas suas palavras. Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - E ela trouxe, também, com muita propriedade, o envolvimento das mulheres brasileiras e japonesas nesta celebração dos 120 anos.
Eu queria convidar para compor a Mesa, também, simbolizando o Grupo Parlamentar Brasil-Japão, do qual é Vice-Presidente, o Deputado Federal William Woo, para que possa estar conosco. O Senador Flexa já é parte do... Ele, inclusive, vai fazer uma fala daqui a pouco, vai falar em nome de todos nós. Mas é bom, é um colega Parlamentar, da Câmara, não é, Senador Flexa?
Agora, vou conceder a palavra ao Sr. Monge Shôjo Sato, para que possa nos dirigir algumas palavras. Em seguida, vamos ouvir o Sr. Embaixador.
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Quero também fazer o registro do Senador Flexa Ribeiro, que tem trabalhado intensamente nas relações de amizade entre Brasil e outros povos, e também anunciar a presença do Comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, o Sr. Florisvaldo Ferreira Cesar.
Com a palavra, o Sr. Monge Shôjo Sato, responsável pelo Templo Budista de Brasília.
O SR. SHÔJO SATO - Bom dia a todos.
Ainda bem que duas pessoas muito qualificadas me antecederam falando das relações do Brasil com o Japão, do Japão com o Brasil, o Sr. Cônsul Wilson Nélio Brumer e a famosíssima Srª Chieko Aoki. Eu também não me sinto a pessoa mais qualificada para falar sobre as relações Brasil-Japão. Certamente, aqui na plateia, há outras pessoas mais significativas do que eu para estar aqui no meu lugar, mas eu queria agradecer à Mesa e também à Srª Aoki, ao Sr. Nélio, ao próprio Embaixador do Japão aqui no Brasil, Sr. Kunio Umeda, ao Senador Wellington Fagundes, ao Senador Hélio José, ao Presidente da Mesa, Senador Jorge Viana, ao Sr. Deputado William Woo e ao Sr. Tenente-Coronel Evaldo Soares Vieira, que representa...
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Há também a Deputada Keiko - a quem eu peço desculpa por não ter anunciado antes - que representa também a presença das mulheres no Parlamento, que no Brasil ainda é tão rara.
O SR. SHÔJO SATO - Especialmente, eu queria expressar minha emoção por reencontrar com o Senador Jorge Viana depois de muito tempo. Eu estava voltando da semiclandestinidade na Bahia para São Paulo, em 1980, e, lá pelo ABC, nós nos encontrarmos. E também o Senador Hélio José, que, desde que eu cheguei a Brasília, em 1986, privamos de amizade.
Eu acho isso muito significativo, porque eu, com 6, 7 anos, em São Paulo, fui perseguido nas ruas pelos meninos, que tacavam pedra em mim, dizendo: "Japonesinho, vai embora para sua terra. Seu país perdeu a guerra". Eu me lembro disto, até com muito temor, até hoje: "Vai embora para casa, japonesinho". Eu até não entendia, porque ele me xingava de arigatou: "Japonesinho arigatou, vai embora para casa. O Japão perdeu a guerra".
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Eu sou neto de japoneses. Meu pai é um caipira nascido em uma fazenda de café perto de Araçatuba, como filho de imigrante japonês. Eu sou mestiço, assim como, certamente, a maioria das pessoas aqui é mestiça. Além de nós, de alguma forma, com muita, digamos, culpa - ainda tenho esse resquício cristão -, tomarmos as terras dos indígenas e de nós termos trazido para cá, em escravidão, os africanos, somos mestiços de portugueses, espanhóis, italianos, eslavos, árabes.
(Soa a campainha.)
O SR. SHÔJO SATO - Essa é a nacionalidade brasileira.
Eu fiquei muito emocionado com a apresentação do grupo Matsuri Daiko. Eu busquei neles a figura dos meus netos, que são filhos de pernambucanos e de brasilienses. Talvez as pessoas possam achar engraçado, porque havia muitos com cara de não japonês. Talvez os meninos japoneses não pudessem faltar às aulas para estar aqui presente, mas, de todo modo, essa interação cultural é a brasilidade.
(Interrupção do som.)
O SR. SHÔJO SATO - Eu expresso isso. Eu aprendi o japonês dos cinco aos quinze anos, quatro horas por dia, por causa da minha mãe, que é japonesa, de Fukushima, mas tenho todo o jeito de caipira brasileiro por conta do meu pai, que já é nissei.
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Meu pai, como outros imigrantes ou filhos de imigrantes, passou por muitas dificuldades, como muitos aqui passaram. Meu pai, por exemplo, por ter dupla nacionalidade, teve que servir o exército japonês, ficou em Manchúria três ou quatro anos e, quando retornou ao Brasil, casado com a minha mãe, foi preso. Foi preso por causa do álbum do exército japonês, que ele guardava com tanto amor em casa.
Ou seja, são 120 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Japão. Mas não são relações só econômicas, não são relações só políticas, a que certamente o Embaixador vai se referir, nesse campo diplomático, que é tão difícil. São relações culturais. São relações culturais, especialmente aqui em Brasília, para onde o saudoso Presidente Juscelino Kubitschek chamou os japoneses. Para quê? Para que a mesa dos brasilienses fosse uma mesa equilibrada, com verdura, com ovos, com frango. Os japoneses foram chamados - deve haver aqui testemunhas - porque a terra não era boa. Dizem que Juscelino respondeu: "Poxa, imagine! Se a terra fosse boa, não precisava chamar os japoneses!". E os japoneses, além de nos trazer alimentos, trouxeram flores.
(Soa a campainha.)
O SR. SHÔJO SATO - Trouxeram flores e frutas, e também trouxeram a cultura japonesa, na forma de budismo. Hoje eu sou budista, mas sou budista desde 1995 apenas. Mas eu tenho muito orgulho em dizer que sou brasileiro de ascendência japonesa.
Eu só queria terminar dizendo: muito obrigado, Brasil! Arigatou, Japão! Paz para todos. Namandabu. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu quero cumprimentar o querido amigo Monge Sato e dizer que, quando caminho ali na Asa Sul e...
(Interrupção do som.)
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... passo ali no templo, encontro um ambiente sempre de paz. Há duas palavras na passagem, escritas em uma tabuleta: uma é pureza e a outra é serenidade.
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É bom caminhar bem cedo e ler essas palavras. Estou falando de pureza e serenidade, que são palavras escritas nas tabuletas à frente ali do templo, no final da Asa Sul. É muito bacana. Eu sempre faço questão de parar e tentar introduzir, no começo do dia, essas palavras.
Mais uma vez, eu faço o registro da presença aqui, no plenário, da nossa Deputada Keiko Ota, que está aqui nos honrando com a sua presença.
O Deputado William Woo pediu que pudesse também fazer um cumprimento, em nome do Grupo Parlamentar Brasil-Japão.
Com a palavra V. Exª.
O SR. WILLIAM WOO (PV - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Bom dia a todos. É uma grande alegria estarmos aqui, no Senado Federal, juntamente com minha companheira Keiko Ota.
Lá na Câmara, somos cinco descendentes nikkeis na Bancada. Aqui no Senado, ainda não temos nenhum, Presidente, Senador Jorge Viana. Mas a alegria maior de ver esta sessão aqui é a relação que temos, o Brasil e o Japão, não somente com a Câmara dos Deputados, mas com o Senado Federal.
O Senador Jorge Viana, para alguns que não sabem, foi nosso Governador no Acre e Prefeito de Rio Branco. Ele conhece bem uma questão que todos nós nikkeis defendemos, que é a questão ambiental. Como engenheiro florestal, ele sabe de muita contribuição, principalmente dos imigrantes japoneses que vieram do Peru ao Acre, na produção da borracha naquele Estado.
Eu quero cumprimentar o Senador Hélio José, o Senador Wellington Fagundes, nosso Embaixador, Sr. Kunio Umeda, que teve a honra de, neste mês, receber a família imperial e visitar diversos Estados, inclusive o Mato Grosso, nosso Senador.
Eu quero aqui cumprimentar o meu amigo Senador Flexa Ribeiro, nosso Vice-Presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Japão. Em 2008, fizemos o grande projeto do Centenário da Imigração Japonesa, quando, inclusive, V. Exª unificou a comunidade japonesa no Pará, em Tomé-Açu, naquela solenidade.
Cumprimento aqui o monge Shôjo Sato, aqui de Brasília; a minha amiga Chieko Aoki, nossa grande empreendedora; e também o nosso Cônsul Geral Honorário do Japão em Belo Horizonte, Sr. Wilson Nélio Brumer. Em Minas, temos a Usiminas, que é um grande orgulho.
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Venho aqui, com uma palavra rápida, em nome do Grupo Parlamentar Brasil-Japão, da Câmara dos Deputados, agradecer, neste momento, os 120 anos de relações bilaterais. Esse tratado trouxe a possibilidade de o maior número de imigrantes fora do Japão estar no Brasil. Hoje somos mais de 1,9 milhão descendentes e também registramos o maior número de brasileiros que já estiveram no Japão. No auge, fomos mais de 300 mil; hoje somos quase 180 mil brasileiros residentes no Japão.
A história é longa. Meu pai e minha mãe, Sugiko Tanaka, de Tóquio, migraram para o Brasil, há 55 anos, mas muito antes disso, a Toyota - a maior montadora do mundo - escolheu, como local para sua primeira indústria fora do Japão, o Brasil. Instalou-se, em 1954, 1955, no bairro em que eu nasci, o Ipiranga, que detinha um grande orgulho de ter uma montadora, já naquela época, no Brasil.
A todos vocês Senadores, em nome do nosso Grupo Parlamentar Brasil-Japão, muito obrigado por esta sessão solene. Desejamos sempre a continuidade das relações tão próximas de dois países que são irmãos.
Viva o Brasil! Viva o Japão!
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu agradeço as palavras generosas do Deputado William Woo e passo agora a palavra ao Exmo Sr. Kunio Umeda, Embaixador do Japão no Brasil.
O SR. KUNIO UMEDA - Bom dia a todos.
Exmo Sr. Jorge Viana, Vice-Presidente do Senado Federal; Exmo Sr. Hélio José, Senador da República; Exmo Sr. Wellington Fagundes, Senador da República; Exmo Sr. Flexa Ribeiro, Senador da República; Exmo Sr. Deputado William Woo; Exma Srª Deputada Keiko Ota; senhores representantes de associações nipo-brasileiras, senhoras e senhores,
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primeiramente, gostaria de manifestar os meus agradecimentos em nome do governo do Japão por esta oportunidade maravilhosa para celebrar os 120 anos de estabelecimento de relações diplomáticas entre Japão e Brasil.
No Brasil, a comunidade nipo-brasileira é composta de, aproximadamente, 1,9 milhão de pessoas, e no Japão existe uma comunidade brasileira de 180 mil pessoas, o que representa um forte laço pessoal entre os dois países.
Por outro lado, como Embaixador do Japão, sinto imenso orgulho de que muitos nipo-brasileiros, através de sua atuação em diversas áreas da sociedade brasileira, estejam contribuindo para o desenvolvimento deste País.
Há 107 anos, no dia 18 de junho, chegava ao Porto de Santos o navio Kasato Maru com os primeiros imigrantes japoneses nesta terra onde tudo, como ambiente e língua, é diferente. Os imigrantes acumularam seus trabalhos sem se esquecer de seus sonhos e esperanças, e os seus descendentes tornaram-se hoje membros importantes da sociedade brasileira.
O Japão e o Brasil já implementaram, através da união de suas forças, diversos projetos conjuntos nipo-brasileiros, como o projeto de desenvolvimento do Cerrado, Prodecer; a Usiminas; a Cenibra; a Albras; e o projeto de desenvolvimento de Carajás.
O Japão atribui especial importância, no âmbito da cooperação com o Brasil, à formação de recursos humanos. No ano passado, o Primeiro-Ministro, Shinzo Abe, anunciou, durante sua visita ao Brasil, que nos próximos três anos o Japão aceitará, aproximadamente, 900 brasileiros através do Programa de Capacitação da Jica. Atualmente, esse programa está em plena implementação.
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Além disso, estamos empenhados na expansão do Programa Ciência sem Fronteiras - através do qual mais de 500 estudantes brasileiros, no total, já foram ao Japão - e da bolsa do Governo japonês, que atualmente possibilita, todos os anos, que 60 bolsistas brasileiros pesquisem e estudem no Japão.
Além disso, o Japão tem muito interesse em áreas indispensáveis para o desenvolvimento do Brasil, como o desenvolvimento agrícola, e as obras de rede de infraestrutura de transporte, para a exportação de cereais, e de infraestrutura urbana.
Na área de segurança pública, o Governo do Japão coopera com o Governo brasileiro e Governos estaduais, para a introdução do modelo de polícia comunitária Koban em todos os Estados brasileiros.
O Japão busca cooperar com o Brasil para o desenvolvimento econômico e social do País, através do fortalecimento de suas relações com a comunidade nipo-brasileira. Por exemplo, as contribuições na área médica e de saúde feitas pelos hospitais nipo-brasileiros e promoção de judô e de beisebol através do envio de voluntários.
Ao longo deste ano, em que celebramos os 120 anos de relações diplomáticas entre os dois países, estão sendo realizados, em todo o Brasil, aproximadamente 450 eventos comemorativos, contando com a participação de milhões de brasileiros.
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Além festivais do Japão em cidades de São Paulo e Paraná, também em Brasília, Salvador, Belo Horizonte, Belém, Palmas, Porto Alegre, Florianópolis, Cuiabá, Porto Velho e outros locais em todo o País, estão sendo realizados diversos eventos relacionados à cultura japonesa, contando com a participação de governadores, Parlamentares de cada localidade e da população local.
De 28 de outubro a 8 de novembro, em comemoração aos 120 anos, as Suas Altezas Imperiais o Príncipe e a Princesa Akishino estarão, além de Brasília, em cinco Estados, ou seja, São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Pará e Rio de Janeiro. As Suas Altezas Imperiais foram calorosamente recebidos pela Presidente Dilma Rousseff, representantes do Poder Legislativo, governadores de Estado, representantes de associações nipo-brasileiras e por cidadãos brasileiros. As Suas Altezas desfrutaram, do fundo do coração, dessa visita ao Brasil, e, em nome do Governo japonês, eu gostaria de reiterar os meus sinceros agradecimentos por tão cordial acolhida.
Agora, como ponto mais alto...
(Soa a campainha.)
O SR. KUNIO UMEDA - ... das celebrações do Japão deste ano memorável, estamos trabalhando para a visita da Presidenta Dilma Rousseff ao Japão. Estão agendadas conversações sobre diversas áreas, como economia, educação, ciência e tecnologia, esporte, turismo, segurança, entre outras. O Japão e o Brasil são parceiros que partilham de valores fundamentais, como democracia, independência do Poder Judiciário e liberdade de expressão.
Em agosto do ano passado, em seu pronunciamento sobre a diplomacia japonesa para a América Latina, feito em São Paulo, o Primeiro-Ministro, Shinzo Abe,...
(Interrupção do som.)
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O SR. KUNIO UMEDA - ... expressou a determinação de caminhar junto com o Brasil. Estou certo de que as relações bilaterais se tornarão ainda mais sólidas com a visita da Presidente Dilma Rousseff ao Japão.
Além disso, no próximo ano, serão realizados os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro. Espero que a parceria entre Rio de Janeiro e Tóquio, que realizará os jogos de Tóquio, em 2020, aprofunde cada vez mais os laços que nos unem, aumentando não só o intercâmbio esportivo, mas também o movimento de pessoas entre os dois países.
Para terminar, manifesto os meus votos de que as relações entre Japão e Brasil se aprofundem cada vez mais e reitero os meus agradecimentos ao Exmo Sr. Jorge Viana, Vice-Presidente, e ao Exmo Sr. Senador Hélio José, pela iniciativa de realizar esta audiência.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Cumprimento o Sr. Embaixador Kunio Umeda, que já é um amigo, pela maneira como tem trabalhado para aproximar ainda mais os nossos povos.
Antes de passar a palavra para os colegas Senadores, gostaria de me dirigir rapidamente às senhoras e aos senhores nesta sessão que realizamos aqui no Senado Federal, uma sessão especial, celebrando os 120 anos de amizade Brasil e Japão. Desde a chegada do navio Kasato Maru, em 18 de junho de 1908, o Brasil só tem colhido bons resultados dessa relação entre nossos povos, entre Brasil e Japão. Até a década de 1940, aproximadamente 200 mil imigrantes deixaram seus lares no Japão para fazer do Brasil sua nova casa. E, desde 1958, os empreendimentos de grande peso tecnológico se iniciaram, com a inauguração da Usiminas; desde 1976, novo impulso de produtividade foi dado com a exploração, com o trabalho e as parcerias no Cerrado brasileiro.
(Soa a campainha.)
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O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu eu sou do Acre. E, no Acre também, caro amigo Kasatu, meu pai conta - obviamente, o mundo viveu conflitos, as guerras mundiais - que no Acre nós tínhamos uma família, um pequeno grupo de imigrantes japoneses. E eles tiveram que ter uma proteção naquele período difícil, em que havia um confronto mundial.
Daqui a pouco, o Senador Flecha vai certamente falar com muita propriedade, porque, no Pará, nós temos talvez, na Amazônia, o mais forte exemplo da presença dos descendentes japoneses na Amazônia brasileira, cumprindo um papel muito importante na economia do Pará, em toda a Amazônia. A presença nipônica no Brasil ocorreu em todo o País, de Norte a Sul. Mas, especialmente na Amazônia, há uma presença que vale o registro histórico, e o Senador Flexa certamente vai falar com mais propriedade.
O segundo país que conheci, quando comecei a viajar, ainda recém-formado, foi o Japão. Visitei a Bolívia ainda como mochileiro, mas a primeira vez em que sai de uma missão no Brasil foi exatamente para ir a Tóquio, por conta de uma organização internacional que tem sede em Yokohama, ITTO, uma organização internacional de madeiras tropicais. E foi em função dessa relação que nós tivemos o apoio do Governo japonês para desenvolver um projeto de estudo das nossas florestas, e que hoje é uma referência na perspectiva do manejo sustentável das florestas, ou seja, da conservação da floresta, o que mostra, como também já foi dito aqui, a preocupação que tem o povo japonês na busca do equilíbrio da atividade humana com a conservação dos recursos naturais.
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Eu sou uma testemunha. Eu já estive, pelo menos, em dez oportunidades, no Japão. É um país pelo qual tenho muito respeito e admiração. E, na última viagem, era um sonho meu, fui a Kyoto, passei por Hiroshima e fui até Kyoto, para ver um pouco a história bonita de Kyoto.
E há um exemplo meu: estava um pouco quente, e eu fui tomar um sorvete. Eu gosto muito de andar a pé, quando estou viajando; gosto muito de caminhar. Comprei o sorvete e, quando o terminei, estava com uma sobra - a embalagem do sorvete, o palito -, e disse: "Bem, vou atrás de uma lixeira", e não encontrei lixeira.
Eu jamais jogo coisas no chão, sempre guardo. E refleti, dizendo: "Nossa! Kyoto evoluiu tanto que não há mais lixeira na rua." Isso para mim foi marcante.
E eu falei: "Nós agora vamos ter que trabalhar para não haver lixeira, porque, se há lixeiras, é porque há lixo." Não precisa haver lixo nem na casa da gente, nem em nenhum lugar. São resíduos que a gente pode manusear, e o guardei até chegar em algum lugar.
Na primeira viagem que fiz ao Japão, Senador Hélio José, Senador Flexa, senhores convidados, fiz questão de visitar o local onde, no prédio em que fiquei, hospedado na casa de um amigo, punham-se os resíduos - isso ocorreu em Tóquio. E eu digo sem problema: não havia diferença, do ponto de vista da higiene, da limpeza, entre esse local onde se colocam os dejetos, os resíduos das famílias, e o meio da rua. A limpeza era igual, tudo muito organizado, acondicionado separadamente, e eu estou me referindo a 1987.
Então, esse exemplo que eu vivi nas ruas de Kyoto... Depois de andar um quarteirão, dois, eu falei: "Não é possível!" Mas é óbvio: encher a cidade de lixeiras é uma coisa atrasada, porque há alguém produzindo lixo no meio da rua. O certo é termos outro tratamento, e vi isso na cidade de de Kyoto.
Queria também dizer que essa presença, que chega a quase 2 milhões de descendentes - está perto de 2 milhões -, ajudou-nos muito. Vieram aqui para nos ajudar com a mão de obra. Foi isto o que, de alguma maneira, estimulou boa parte dos que vieram para nos ajudar: mão de obra na lavoura do café, essa presença.
Mas, no fundo, depois nos aproximamos também dessa cooperação. Óbvio que foi muito desfavorável para o Brasil, porque o Brasil, desde o seu descobrimento, segue um caminho muito ruim, que é o caminho de exportar matéria-prima. Isso é terrível.
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Nós já tentamos com pau-brasil, nós já tentamos com ouro, com diamante, com madeira de toda ordem, com minério de ferro. E é óbvio que esse não é o melhor caminho. Ninguém faz isso.
Eu estava, há pouco, em uma palestra do Presidente Bill Clinton. Nunca vi alguém tão otimista sobre o nosso País, sobre o Brasil. Eu vou reproduzir daqui a pouco na sessão o que ouvi dele.
Talvez dê uma boa lição a todos nós brasileiros. Ele que falou que já veio 11 vezes ao Brasil. Eu estava lá.
Mas o nosso País teima em fazer algumas coisas erradas, há séculos. E uma delas é esta, o fato de ser fornecedor de matéria-prima, exportar soja em grão. É óbvio que a gente perde muito quando faz essa opção.
E o caminho é um pouco do que o Japão... Eu sempre uso o Japão como exemplo. O que o Japão tem em abundância? Sua cultura, seu povo, seu jeito de viver.
Mas, no Japão, nem o território pode ser ocupado. Não há estrada ligando o Japão a lugar nenhum do mundo. É uma ilha.
O clima tem extremos terríveis a serem enfrentados. E eles conseguem se firmar como uma das maiores economias do mundo. Tem um PIB duas vezes o do brasileiro.
Óbvio! E nós não vamos a lugar nenhum, seguindo esse caminho de exportar minério de ferro - é óbvio que esse não é o caminho. Estamos há 500 anos, pegando esse caminho.
Não é culpa de agora ou de antes. Há 500 anos! Até de diamantes nós já fomos exportadores.
Então, não importa o valor do que é exportado in natura. Ao exportar in natura, perde quem faz essa opção. Por isso, lamento que a gente não tenha ainda conseguido, mas sou otimista de que nós vamos promover mudanças.
Eu estive também, na última viagem que fiz ao Japão, em novembro do ano passado, visitando o Parlamento. E já havia uma expectativa.... Nós tivemos a visita aqui do Vice-Presidente do Senado, tive a honra de recebê-lo aqui, juntamente com o Presidente Renan; o Sr. Embaixador nos fez uma cerimônia em sua residência oficial, o Deputado e a Deputada também estavam, outros Parlamentares Senadores estavam juntos. E já havia uma preocupação de celebrarmos esses 120 anos.
Por isso que eu queria felicitar e agradecer ao Senador Hélio José, que foi o primeiro signatário dessa proposta; todos os que subscreveram, em que me incluo; o Senador Wellington Fagundes; o Senador Flexa, que tem uma atenção muito especial e também porque eu sei que lá no Estado do Pará há uma quantidade muito grande de nipo-brasileiros, que vão se sentir bem, ouvindo o Senador Flexa falar daqui a pouco sobre a história deles, sobre a epopeia que eles viveram, o heroísmo deles em nos ajudar a desenvolver o Brasil em toda parte,especialmente, na Amazônia brasileira.
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Acho que a vinda de um casal da família real aqui é uma demonstração também do afeto do Estado japonês com o Brasil.
Fico feliz por saber que, nos 120 anos, no começo de dezembro, a Presidenta Dilma vai estar no Japão levando a mensagem dos 200 milhões de brasileiros, que só são 200 milhões porque há quase 2 milhões de descendentes japoneses.
Eu cheguei aqui correndo e queria concluir dizendo que a Lesley, uma assistente do meu gabinete, me contou - ela também é nipo-brasileira - que o seu avô chegou ao Brasil em um navio de laranja. O pai dela tem 60 anos, já nascido no Brasil, e ela é acriana, do meu Estado, e agora está aqui. Estudou e trabalha comigo. Então, em todo parte nós temos exemplos dessa relação, dessa amizade dos nossos povos.
No discurso que me preparam, há uma passagem que é uma singela e corriqueira maneira de japoneses e brasileiros mostrarem o quanto temos de relação. Tornou-se evidente, há muito tempo, a marca dos nipo-descendentes no nosso Brasil: na agricultura, na indústria, na ciência, nas artes, na política, no comércio. No Brasil, já se tornou quase uma piada, como dizemos, uma anedota, que se inicia assim: "Qual é a cidade onde há mais japoneses?" A resposta que o brasileiro dá imediatamente é: "São Paulo". Aí o interlocutor diz: "Não. É Tóquio". Por conta da presença tão forte, normalmente nas ruas, as pessoas respondem automaticamente: "Onde há mais japoneses? Em São Paulo." Alguém tem que dizer: "Não, não. É lá em Tóquio." De fato, no Estado de São Paulo há uma presença muito forte, que concorre com outros lugares. E essa presença de quase 1,9 milhão de nipo-descendentes é parte viva da cultura do nosso País.
Acho que os que me antecederam já deixaram o tema bem claro e fico também feliz. Nas vezes em que vou ao Japão, sempre vejo grupos de brasileiros, nipo-descendentes, que estão lá buscando estreitar mais as relações culturais e também conhecer mais a cultura dos seus antepassados. Acho isso muito bonito. Chega a aproximadamente 180 mil o número de brasileiras e de brasileiros que vivem no Japão.
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Então, eu agradeço muito a presença de todos e faço aqui o registro da visita que tivemos de uma delegação, há poucas semanas. O Senador Azuma Koshiishi, Vice-Presidente do Senado, veio após um convite que eu mesmo, lá em Tóquio, formulei no ano passado, e que depois fiz formalmente, com uma carta do Presidente Renan, em nome do Senado. Ele veio com outros dois colegas senadores, compondo essa busca que nós devemos ter, porque, se há uma relação muito forte das nossas culturas, dos nossos povos, das nossas famílias, ainda não temos uma reciprocidade do ponto de vista do Parlamento, Senador Flexa, o senhor que trabalha tanto essa questão na Casa.
Então, Deputado William, nós temos aqui um desafio: estreitar mais ainda, Deputada Keiko, a relação entre o Parlamento japonês e o Parlamento brasileiro. Acho que fica esse compromisso, esse desafio que nós devemos nos impor, para que sigamos aprofundando a relação dos nossos povos.
Eu queria agradecer e passar, imediatamente, a palavra para o Senador Hélio José e, em seguida, para o Senador Flexa Ribeiro, para que possam usar a tribuna.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. HÉLIO JOSÉ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Quero cumprimentar o Vice-Presidente do Senado Federal, Sr. Jorge Viana, Senador da República pelo Estado do Acre, pela condução dos trabalhos e por estar aqui presente, representando a todos nós, como instituição, a Casa, e representando o nosso Senador Presidente, Renan Calheiros - que não pode vir aqui, também, e deixa um grande abraço a todos.
Quero agradecer ao Embaixador do Japão, Sr. Kunio Umeda, que gentilmente me recebeu na Embaixada. Dialogamos, fizemos um almoço e conversamos sobre uma série de assuntos fundamentais com relação à tecnologia, com relação à infraestrutura, a energias renováveis e a uma série de ações que a relação Brasil-Japão só tende a acentuar.
Quero agradecer também ao meu amigo, responsável pelo Templo Budista de Brasília, de que eu tenho muito orgulho, o Monge Shôjo Sato, que é um orientador espiritual de muitas pessoas aqui neste País, principalmente em Brasília.
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Quero agradecer à fundadora e presidente da Rede Blue Tree de Hotéis, Srª Chieko Aoki, o extraordinário discurso que a senhora fez aqui. Orgulha-nos muito a força da mulher.
Quero agradecer ao Cônsul Geral Honorário do Japão em Belo Horizonte, Sr. Wilson Nélio Brumer, cuja exposição demonstra o quanto estamos corretos em cada vez mais acentuar e melhorar essa relação Brasil-Japão.
Quero agradecer a presença, também, dos representantes da Polícia Militar do Distrito Federal, uma das melhores deste País, o nosso querido Comandante da PM, Coronel César, e o Sr. Tenente-Coronel Evaldo Soares Vieira, que nos orgulham muito por estarem aqui presentes.
Quero agradecer aos nossos Deputados William Woo e Keiko a presença; o nosso Senador e Líder do PMDB e do Bloco da Maioria, Senador Eunício Oliveira; o nosso Senador Flexa Ribeiro, muito bem já aqui colocado; e demais Senadores que passaram pela Casa, neste momento ou um pouco antes, como o Senador Fagundes e outros.
Quero também cumprimentar neste plenário o Heitor Kanegae, primeiro nissei a nascer em Brasília - ele está aqui presente -, afilhado de JK e pioneiro na região da Fazenda Sucupira, que está aqui nos dando este apoio; e todas as mulheres, como Marinete Blanco, uma pessoa que me representou muito lá, no meu gabinete, no dia a dia como Senador.
Quero dizer que, inicialmente, esta sessão seria no dia 5, quando da visita do casal imperial, mas, devido ao acúmulo na agenda, acertamos com o Embaixador, que foi muito gentil e cordial no trato com o Senado Federal, para realizá-la no dia de hoje, uma grande alegria para todos nós, porque pudemos fazê-la com mais calma, com mais tranquilidade, embora na Casa, neste momento, também estejamos todos apertados no tempo pelo excesso de votações, mas tentarei dizer algumas palavras sobre esta importante ação.
Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, em Brasília, temos dois eventos marcantes da cultura nipo-brasileira: a Festa do Morango, em Brazlândia, que acolhe 200 mil pessoas por ano e já está na sua 20ª edição; e a quermesse do Templo Budista, no Plano Piloto, em sua 42ª edição, sempre comandada pelo nosso Sato. Ambos representam um pouco da riqueza que nossos irmãos orientais compartilharam conosco; ambos alimentos: um, para o corpo; outro, para o espírito.
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A quermesse, por sinal, retomou no DF uma tradição de 2,5 mil anos, criada para prestar homenagem aos antepassados, como se os pais e os avós representassem Deus, por conta de todo o bem que fazem aos familiares.
Essa dupla presença, da cultura e da agricultura, com todos os encontros destas, incluindo o gastronômico, deve-se ao visionário Juscelino Kubitschek e seu escudeiro-mor, Israel Pinheiro, o primeiro prefeito de Brasília.
Em 1957, com a construção da nova capital, onde tudo seria importado, incluindo os alimentos, Israel Pinheiro convidou famílias já residentes em Goiânia, Belém e São Paulo para virem fertilizar o solo do Cerrado, plantando hortaliças e legumes para os candangos. Das poucas dezenas de pessoas há, hoje, 2.200 famílias de descendentes japoneses em nossa Brasília, e mais da metade deles ainda são lavradores nos campos aqui de Brazlândia, Planaltina, Paranoá e etc.
Falando em presença cultural, em São Paulo temos um dos maiores festivais da tradição japonesa, reunindo centenas de milhares de pessoas no Bairro da Liberdade, em São Paulo. No Paraná, as cidades de Londrina, Maringá e Curitiba igualmente hospedam belos exemplares da arquitetura japonesa, assim como as festas e o melhor da contribuição gastronômica de nossos irmãos - isso lá no Paraná, em Londrina e em Maringá.
É desta maneira, lembrando os marcos culturais, que desejo iniciar esta homenagem aos 120 anos do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e o Japão.
Sendo o Brasil uma Nação constituída, predominantemente, por povos que para cá migraram, é com muita satisfação que identificamos mais de 1,5 milhão de descendentes japoneses no Brasil, ao mesmo tempo em que podemos localizar quase duas centenas de milhares de brasileiros, nipo-descendentes, morando e trabalhando lá no Japão.
A japonesa é a segunda maior colônia de brasileiros no exterior, sendo a primeira a dos Estados Unidos; é a quarta maior comunidade estrangeira no Japão, estando os chineses, coreanos e filipinos nas três primeiras posições, respectivamente.
Sendo o Japão uma das nações mais desenvolvidas do mundo, não apenas em termos do peso do Produto Interno Bruto (PIB), mas também em dimensões filosóficas, científicas e culturais, há muitas vantagens para nós brasileiros na manutenção dessa amizade e no desdobramento desta entre outras frentes para o futuro.
Em um mundo, agora, marcado pela força dos blocos econômicos, é com muita satisfação que vemos o interesse do Japão em estabelecer a parceria econômica com o Mercosul, com a Aliança do Pacífico e com a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, em especial com relação à questão das energias alternativas, que é o futuro para o nosso País e para vários países da América Latina.
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As economias do Brasil e do Japão estão profundamente conectadas. Dos primeiros migrantes, que vieram para o interior de São Paulo e Paraná para ocuparem-se da lavoura do café, aos dias de hoje, em que notamos um padrão tecnológico de televisão digital, há muitos episódios que consolidaram essa cooperação. Naqueles primeiros anos, tanto o Brasil carecia de trabalhadores quanto o Japão necessitava realocar parte de seus nacionais, enviando-os aos Estados Unidos, ao Peru e também ao Brasil. Para a nossa economia, aquela chegada do Kasato Maru, em 1908, foi providencial.
Já em décadas mais recentes, em 1958, teve início a operação da Usiminas, com o apoio de capital e tecnologia japonesas. De 1965 a 1972, tivemos a instalação de grandes corporações japonesas, as quais trouxeram não apenas empregos e bens, mas também tecnologia. As tão conhecidas Toshiba, Panasonic, Yakult, NEC, Yamaha, Honda, Sharp e Sony são apenas algumas dessas empresas que participaram do boom industrial brasileiro e estão presentes no cotidiano dos brasileiros do transporte ao entretenimento, passando pela mesa de jantar. Então, essas palavras viraram comum para nós, porque tomaram conta do mercado.
(Soa a campainha.)
O SR. HÉLIO JOSÉ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - DF) - Já na década de 1970, o início da cooperação tecnológica e econômica com o Brasil criou o Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento do Cerrado (Prodecer), uma iniciativa que revolucionou o uso do solo em nosso País e que é um dos fatores de liderança que o Brasil tem nas exportações de commodities.
Eu, como Vice-Presidente da Frente Parlamentar do Cerrado, quero deixar claro que é muito importante a colaboração japonesa nas tecnologias de produção no nosso Cerrado brasileiro, que é um importante bioma e que nós temos que procurar preservar.
Essa aliança de 120 anos levou o Japão, em 2014, a ser o segundo maior parceiro comercial do Brasil na Ásia, com intercâmbio comercial de US$12,6 bilhões. A cooperação econômica nos últimos tempos ocorre, por exemplo, na indústria naval, sobretudo pelas perspectivas de exploração das reservas do pré-sal...
(Interrupção do som.)
O SR. HÉLIO JOSÉ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - DF) - ... e pela demanda por petróleo e gás. Essa parceria ocorre, principalmente, pelo pioneirismo e maestria da indústria naval japonesa, que tem demonstrado interesse não apenas em investir no Brasil, mas também em transferir tecnologia, o que é essencial para a sustentabilidade de nosso País.
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Dessas relações econômicas, naturalmente, advêm ganhos de natureza educacional, científica e tecnológica, pois o Japão é um dos mais relevantes parceiros nas áreas de cooperação técnica: em 38 anos, investiu no Brasil aproximadamente U$100 milhões. Além da já mencionada TV Digital, há outras áreas de cooperação científica e tecnológica, como as de oceanografia e ciências do mar, biotecnologia, ciências médicas, nanotecnologia, novos materiais, satélites, tecnologia espacial e tecnologia da informação e comunicação.
(Soa a campainha.)
O SR. HÉLIO JOSÉ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - DF) - E, agora, há a tão propalada necessidade de investir nas energias alternativas, que queremos ver - a questão da energia solar, a questão da produção de inversores.
Em um programa fundamental para a juventude brasileira, o governo japonês tem demonstrado grande interesse em receber estudantes e pesquisadores brasileiros no âmbito do Programa Ciência sem Fronteiras, com uma meta de ofertar 1,3 mil vagas para os brasileiros.
Numa de nossas áreas de excelência, a pesquisa agropecuária, a Embrapa e o Centro Internacional Japonês para Pesquisas em Ciências Agrícolas (Jircas) assinaram acordo para a criação do Labex Japão, um laboratório virtual da Embrapa, com o propósito de aprofundar a cooperação entra a empresa brasileira e o Jircas, uma experiência que teve início em 1995. Um dos projetos é o de desenvolvimento de tecnologia de engenharia genética para culturas com tolerância à degradação do meio ambiente global, com ênfase na soja modificada com grande resistência contra secas; e outro é o de desenvolvimento de tecnologias de cultivo para melhoramento da produção e oferta estável de culturas em altitude.
Vou considerar como lida parte do meu discurso por causa do avançar da hora.
Quero dizer o seguinte.
Srªs e Srs. Senadores, só há motivos de júbilo para esse feliz encontro de culturas. Esperamos, sobretudo, que a harmonia que tem marcado essas relações sirva como um parâmetro para que o mundo inteiro repense os movimentos migratórios que hoje fervilham, principalmente na Europa.
Sem pretensões de dar lições a qualquer nação, entendemos que a postura do Brasil perante esses fenômenos migratórios tem sido de grande proveito para todos: para os que vêm e para os já aqui chegados.
Sem entrar no mérito das injustiças históricas com nossos indígenas, primeiros moradores, o Brasil é marcado por ser um país de migrantes. Desde os primeiros europeus que aqui aportaram, sob o signo do domínio; passando pelo africanos forçados a vir trabalhar em cativeiro; inovando com alemães, italianos e japoneses, de imigração estimulada, nos séculos XIX e XX. Por outras razões, particularmente as dificuldades em seus países de origem, tivemos a vinda de sírios, libaneses, palestinos e jordanianos, cujos descendentes, aqui chegados desde o início do século XX, somam um milhão de brasileiros; também do Oriente Médio, vieram os judeus, com colônia de mais de 100 mil pessoas.
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Mais recentemente, 50 mil haitianos também enxergaram no Brasil oportunidades de refazer suas vidas - grande parte, inclusive, entrando pelo Acre.
(Soa a campainha.)
O SR. HÉLIO JOSÉ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - DF) - Por fim, ultimamente, segundo dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), 2.077 sírios receberam status de refugiados do governo brasileiro de 2011 até 2015 -. um número que pode chegar a 50 mil, nas palavras do Professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas Oliver Stuenkel.
Enfim, o que quero dizer é que a tolerância tem sido uma marca dos brasileiros, e esperamos que siga sendo, assim como esperamos que esses padrões de convivência, fraternidade e colaboração sejam um espelho para os movimentos migratórios.
Eram essas as minhas palavras de homenagem aos 120 anos de amizade entre Brasil e Japão, com meus desejos de que ela se sustente pelos próximos séculos.
Teria muito mais a dizer, por isso é que fiz questão de ser o primeiro signatário, de defender esta audiência pública para homenagear esses irmãos que tanto têm nos ajudado a avançar na tecnologia, no desenvolvimento e, principalmente, na harmonia entre os povos.
Quero homenagear minha esposa, que está aqui no plenário, Edy Gonçalves Mascarenhas, homenagear minha filha Izabella Tainá, que é uma apaixonada pela cultura japonesa, minha filha Potira, minha outra filha Maíra e o meu filho Hélio Gabriel, deixando um grande abraço a todos e desejando um sucesso imenso.
Peço licença ao nosso Presidente, porque eu tenho que correr para a CMO, que está com problema de quórum - fiz questão de ficar até o momento da minha fala aqui, mesmo que a toda hora estivessem me pressionando para eu ir para lá.
Então, muito obrigado, Sr. Presidente, e um abraço a todos.
Que Deus nos ajude. Um abraço. (Palmas.)
SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR HÉLIO JOSÉ.
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Antes de passar para o Senador Flexa, eu só queria contar que, nessa minha primeira viagem internacional, eu passei o maior aperto da minha vida, porque eu praticamente não falava nenhuma palavra em japonês. Mas esse não era o problema: é que eu também não falava nenhuma palavra em inglês!
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Eu fui, a convite de um amigo que morava lá, para trabalhar, para fazer um trabalho, em 1986, 1987. Fui pela JAL - quase dois dias de viagem. Na JAL, não teve problema, eu comi, tudo bem. Cheguei a Narita - havia combinado com meu amigo. Não havia celular naquela época, fui procurar uma ficha para fazer uma ligação em um telefone público, porque meu choque maior foi que ele não estava no aeroporto me esperando. Eu pensei: "E agora, o que faço eu em Tóquio?" Eu fui atrás de uma ficha telefônica para ligar para ele. Ele, tranquilo: "Não, estou em casa. É fácil você chegar aqui." "Como eu vou chegar a sua casa? Estou aqui no aeroporto de Narita." Ele falou: "Olha, você troca o dinheiro aí, faz um câmbio, e sai." - eu não tinha dinheiro para pagar táxi. "Você sai. Tem um ponto de ônibus em tal lugar. Você pega o ônibus tal, tal, desce em uma estação depois de uma hora e meia. São dois ou três andares. Você vai subir e encontrar um ponto de táxi. Você pega um táxi e diz que está indo para o kosaten". É a única palavra que ainda lembro: kosaten é cruzamento. O pior é que não tem endereço, não tem rua tal, número tal, prédio tal, é entre um cruzamento e outro. Isso, numa ligação só, sem celular, não tinha como ligar de novo. Eu saí e, duas horas depois, cheguei ao kosaten que ele tinha mandado. Ele estava lá fora. Eu cheguei com uma mala enorme - um caipira vindo da Amazônia em Tóquio. Eu acho que só cheguei e só voltei daquela viagem porque era Tóquio. Lá tudo funciona, tudo é organizado. Até quem não sabe falar nada, que não sabe andar nada, consegue se sair bem, mesmo que seja marinheiro de primeira viagem.
Então, nunca me esqueço dessa minha estreia em viagem internacional, Senador Flexa - o senhor que viaja tanto -, logo para Tóquio e nessas circunstâncias!
Convido, para fazer uso da tribuna, o Senador Flexa.
Vou passar a Presidência, como homenagem também, ao Senador Wellington Fagundes. Eu tenho que votar na Comissão de Relações Exteriores, onde temos trabalho agora pela manhã - eu tinha que estar lá votando. Vou tentar retornar.
O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Antes de V. Exª se ausentar: depois me dê o nome desse seu amigo lá do Japão...
O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC. Fora do microfone.) - Amigo da onça!
O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Eu ia lhe dizer exatamente isso! É para que ele não nos receba lá da forma como recebeu V. Exª!
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Saúdo o Presidente, Senador Wellington Fagundes. Saúdo também o Senador Jorge Viana, Vice-Presidente do Senado Federal e que até este momento presidia a sessão solene em que comemoramos os 120 anos das relações diplomáticas e de amizade entre o Brasil e o Japão.
Cumprimento também o Senador Hélio José, que foi o primeiro signatário do requerimento da presente sessão; o Senador Wellington Fagundes, que preside, como disse, neste momento a sessão; o Sr. Embaixador do Japão Kunio Umeda; o responsável pelo Templo Budista de Brasília, Sr. Monge Shôjo Sato; a fundadora e presidente da Rede Blue Tree de hotéis, Srª Chieko Aoki; o Vice-Presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Japão, Deputado Federal William Woo; o Cônsul-Geral Honorário do Japão em Belo Horizonte, Sr. Wilson Brumer, ex-presidente da Companhia Vale, que tem uma ligação muito estreita e importante com o meu Estado, o Estado do Pará, e uma relação também estreita com o Japão, em vários empreendimentos que foram implantados em parceria com empresas japonesas - aqui foram citadas algumas delas, como é o caso da Albrás e várias outras no Estado do Pará - o Sr. Tenente-Coronel Evaldo Soares Vieira, que representa o Comandante da Polícia Militar do Distrito Federal; a Deputada Federal por São Paulo, Srª Keiko Ota; os Srs. Embaixadores; os senhores representantes do corpo diplomático, as senhoras e os senhores presentes.
Há 120 anos os Governos do Brasil e do Japão celebraram, na cidade de Paris, o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação que marcou o começo de nossas relações diplomáticas recíprocas.
Recuando no tempo, observamos que, antes da celebração do referido Tratado, as relações entre o Brasil e o Japão eram quase inexistentes, senão nulas.
Contudo, os esforços diplomáticos empreendidos à época para que se chegasse a um texto que atendesse as expectativas dos dois países frutificaram e resultaram, ao longo dos anos, em benefícios inequívocos para ambas as sociedades.
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Foi o Tratado, por exemplo, que propiciou o início, nos primeiros anos do século XX, da imigração japonesa para o Brasil, sendo fundamental para a formação dos laços de amizade que hoje unem os dois povos.
De fato, precisamente em 18 de junho de 1908, a embarcação Kasato Maru aportou na cidade de Santos, transportando 165 famílias de imigrantes japoneses, que deixaram seu país para enfrentar, na sua maioria, o trabalho árduo da lavoura cafeeira.
Em 2008, quando foi comemorado o centenário da imigração japonesa no Brasil, estava eu, com muita honra, como Vice-Presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Japão, juntamente com o Deputado William Woo, que àquela altura era o presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Japão. À época, tivemos a honra, a alegria e a felicidade de receber a família imperial para uma série de compromissos em razão da data comemorativa.
Lembro que marcamos o fato com um quadro feito com origamis, que se encontra no salão da Câmara Federal e que mostra a bandeira do Japão e a bandeira do Brasil - feita em origamis. Se não me falha a memória, há alguma coisa como 500 mil origamis, que foram produzidos no Brasil e no Japão - no Brasil, em várias cidades onde a colônia japonesa se fazia presente, inclusive no meu Estado, o Pará. Esse quadro se encontra lá na Câmara Federal como testemunho da amizade entre os dois povos irmãos, o brasileiro e o japonês.
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No meu Estado do Pará, a imigração japonesa tem como marco o dia 16 de setembro de 1929, quando um grupo de 43 famílias japonesas desembarcava em Belém, capital paraense. O fluxo migratório continuou ao longo do século XX, basicamente, durante dois períodos: de 1929 a 1937; e depois, de 1952 a 1962. Vários foram os aspectos que atraíram a população japonesa ao Estado do Pará.
No primeiro período migratório, a grande motivação para atrair famílias japonesas se dava pela possibilidade de o povo oriental se tornar proprietário de 25ha de terras no meu Estado do Pará. Para o governo do Estado, na época, a chegada dos japoneses era importante, porque a Amazônia e o Pará precisavam ser povoados e precisavam do auxílio do povo irmão, para que pudessem ajudar os paraenses de nascimento a desenvolver aquele rincão do nosso Brasil. Já para o governo japonês, o fluxo seria a saída para o grande número de camponeses com dificuldades, desde a reforma Meiji, em 1868.
A comunidade japonesa, no Estado do Pará, estabeleceu-se mais fortemente - e até hoje - no Município paraense de Tomé-Açu, onde ajudaram a fortalecer a economia local, introduzindo o cultivo da pimenta-do-reino, a partir de sementes por eles compradas em Cingapura.
(Soa a campainha.)
O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - No Pará, em pouco tempo, a pimenta-do-reino se tornou o maior produto de exportação regional, depois da borracha. O sucesso retumbou como um gongo, entre as comunidades japonesas. No final da década de 1950, o Município de Tomé-Açu já produzia mais de 5 mil toneladas de pimenta-do-reino por ano, chegando a ser conhecido como o "diamante negro da Amazônia".
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Em Tomé-Açu,  Município do meu Estado, o Pará, as tradições japonesas se mantêm preservadas em plena Floresta Amazônica. O Distrito de Quatro Bocas é onde se encontra a maior colônia japonesa do Pará.
E, Sr. Embaixador, V. Exª sabe...
(Interrupção do som.)
O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - ... que a colônia de descendentes de japoneses no Pará é a quarta do Brasil - a primeira é São Paulo; depois, Paraná, Mato Grosso e Pará.
Como dizia,  no Distrito de Quatro Bocas, onde se concentra a maior colônia japonesa do Pará - aí é importante e interessante destacar isto, de que tenho certeza de que o Sr. Embaixador tem conhecimento -, há uma escola  em que o ensino é ministrado em japonês e os esportes mais populares são o sumô, o beisebol e o golfe. Lá, na Amazônia brasileira, no meu Estado do Pará, no Município de Tomé-Açu, no Distrito de Quatro Bocas, existe essa escola onde o ensino é feito na língua japonesa.
Realmente, trata-se de um feito espetacular o de conseguir manter e disseminar a língua, as festas, a religião, enfim, a cultura e as tradições nipônicas em território amazônico, êxito que somente pode ser alcançado, porque a comunidade se manteve unida ao longo dos mais de 85 anos de presença na região.
Para comemorar a presença nipônica em solo paraense ao longo dessas oito décadas, recebemos agora, no início de novembro, no nosso Estado, a visita do Príncipe Akishino, filho mais novo do Imperador Akihito, do Japão, e da sua esposa, a Princesa Kiko, que cumpriram, por dois dias, uma intensa agenda de compromissos, dividida em encontros com autoridades e com representantes da comunidade Nikkei e visitas a pontos turísticos da cidade.
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É importante ressaltar que a contribuição dos imigrantes japoneses vai muito além do setor agrícola. Conforme lembrou recentemente o Embaixador do Brasil no Japão, Sr. André Corrêa do Lago, na esteira das comemorações dos 120 anos do estabelecimento das relações diplomáticas nipo-brasileiras, foi decisiva a demanda da indústria siderúrgica japonesa, a partir dos meados dos anos 50, para a consolidação da mineração de ferro no Brasil. Daí vem, como me referi no início, a relação do governo do Japão, via empresas japonesas, com a companhia Vale do Rio Doce - hoje Vale.
Neste ano de 2015, por diversos fatores, inclusive pela continuidade da queda do preço do minério de ferro, há uma tendência de inversão na balança comercial entre o Brasil e o Japão, que sempre foi superavitária para o Brasil, e que, neste ano, deverá apresentar um resultado contrário: será superavitária para o Japão, nas trocas comerciais. De qualquer forma, as relações comerciais e a cooperação tecnológica com o Japão permanecerão sólidas.
(Soa a campainha.)
O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Eu quero destacar que a relação do Japão com o Brasil, em especial com o meu Estado, é para nós paraenses de fundamental importância, pela amizade, pelas relações culturais e também pela ajuda que o povo japonês que migrou deu e continua dando ao Pará para o nosso desenvolvimento. Ainda agora, o Governo japonês, através da sua agência de desenvolvimento, a Jica, está financiando o Governo do Estado do Pará para a instalação do BRT na região metropolitana da capital da nossa cidade de Belém.
(Interrupção do som.)
O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - O convênio já foi assinado, os recursos já estão disponibilizados, e as obras devem se iniciar no início do próximo ano. É, sem sombra de dúvida, uma obra de importância vital para o nosso Estado e para a região metropolitana de Belém.
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É importante, Embaixador. O Brasil, lamentavelmente, vive um tempo de crise.
O Senador Hélio José - que foi o primeiro subscritor do requerimento - é funcionário do Ministério de Minas e Energia, engenheiro da área de infraestrutura, que é um dos maiores ou talvez o maior problema para o desenvolvimento do Brasil. Aí nós temos muito o que aprender com o Japão. Lembro que, quando ocorreu, lamentavelmente, o tsunami em Fukushima, a estrada que foi interrompida foi corrigida em dez dias e a recuperação ocorreu num tempo, em relação ao que ocorre aqui no Brasil, infinitamente menor, o que demonstra as condições de desenvolvimento do Japão, que tem muito a oferecer para que nós possamos aprender com a disciplina milenar do povo japonês.
Muito falei sobre a imigração japonesa para o Brasil, mas também não posso deixar de mencionar o movimento emigratório de dezenas de milhares de brasileiros nipo-descendentes, que, em diversos momentos da estagnação da economia brasileira, foram acolhidos no Japão, onde puderam trabalhar e construir suas vidas. Hoje, mais de 170 mil brasileiros vivem no Japão - muitos dos quais remetendo mensalmente recursos financeiros para familiares no Brasil -, e outros já retornaram, trazendo consigo suas economias com o objetivo de aqui investir em novos negócios.
Os laços de amizade e de identidade entre o Brasil e o Japão, reforçados pela fluxo migratório entre as nossas nações, têm o condão da perenidade, cujo marco inicial se registrou há 120 anos, com a assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação.
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Ao concluir, eu quero fazer um registro final e uma homenagem à colônia japonesa do meu Estado. Eu gostaria de poder citar todos os meus amigos descendentes japoneses no meu Estado, mas não tenho espaço para isso. Então, vou fazê-lo em nome do Yuji Ikuta, que é o Presidente da Associação Pan-Amazônica Nipo-Brasileira, e do Michinori Konagano, que é o Presidente da Camta (Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu), exatamente aquele Município a que me referi ainda há pouco.
(Soa a campainha.)
O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Quero também saudar o Sr. Gilberto Yamamoto, Presidente da Sociedade de Beneficência Nipo-Brasileira da Amazônia. E, por último, vou saudar uma família de imigrantes japoneses que construiu um grupo de empresas no Pará. A imigração para o Pará tem alguma coisa em torno de 86 anos, e a empresa tem 60 anos que foi fundada no Estado do Pará, que é o Grupo Y.Yamada. Faço a homenagem ao Grupo Y.Yamada em nome do Fernando Yamada, nosso amigo, que hoje é o Presidente da Associação Brasileira de Supermercados.
Em nome desses amigos da...
(Interrupção do som.)
O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - ... colônia japonesa no meu Estado, eu quero saudar a todos descendentes, a todos os integrantes da colônia japonesa no meu Estado do Pará, que são paraenses e que nos ajudam a desenvolver, com seu trabalho, com a sua inteligência, com o seu amor - isso que é importante - pelo Brasil e, em especial, pelo Pará.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - Gostaria de parabenizar o Senador Flexa pelo seu conhecimento. Ele fez um pronunciamento com muito conhecimento de causa vivida. Eu só acho que ele se esqueceu de falar um detalhe extremamente importante: ele tem uma nora japonesa.
O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - É verdade! E uma neta descendente.
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O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - Quero aqui, no exercício da Presidência, cumprimentar o nosso companheiro Vice-Presidente do Senado, Senador Jorge Viana, que presidiu esta sessão; também o primeiro signatário da presente sessão, o Sr. Senador Hélio José; o Vice-Presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Japão, meu companheiro de Câmara dos Deputados, Deputado Willian Woo. Na Câmara pudemos também, como o Senador Flexa falou, trabalhar juntos sob a sua Presidência no grupo Brasil-Japão, quando se implantou aqui o painel do origami, onde nós, os Parlamentares, a população colocou os seus desejos através dos papeizinhos. A Presidente Dilma também, que à época era Ministra da Casa Civil, colocou o seu desejo lá. Não sabemos, mas provavelmente foi para Deus dar-lhe a oportunidade de ser Presidente da República. Hoje, claro, depois de reeleita, ela tem todas as dificuldades que o Brasil passa no momento econômico, mas, sem dúvida alguma, a primeira mulher brasileira a ser Presidente e a fazer parte da nossa história. Com esse gesto, já demonstrava a sua amizade, o seu carinho pelo povo japonês. Esse painel tem mais de duas toneladas e eu, lá, fazendo parte desse grupo, levei esse trabalho, essa homenagem aquela época ao Estado de Mato Grosso porque temos lá uma colônia muito grande.
Quero também cumprimentar o Embaixador do Japão, Sr. Kunio Umeda, e em seu nome também todos os funcionários, todos os trabalhadores da embaixada japonesa aqui no Brasil.
Quero cumprimentar o carismático Monge Shôjo Sato, com quem tive a oportunidade de conversar poucas palavras. Ele é responsável pelo Templo Budista de Brasília e até me convidou para ir lá conhecer. Faço questão de estar lá presente.
Cumprimento também a fundadora e Presidente da Rede Blue Tree de Hotéis, a Srª Chieko Aoki, que eu já conhecia há muito tempo. Fui cliente dela lá no Blue Tree, onde morei alguns meses, e até faço aqui questão de convidá-la para estar em meu Estado principalmente para conhecer os potenciais turísticos do meu Estado. Agora, provavelmente estaremos aprovando a lei dos jogos no Brasil e, com isso, a possibilidade de implantar cassinos, principalmente em áreas de águas termais, porque temos um potencial muito grande ali na região Sul de Mato Grosso, bem como na cidade de Barra do Garça, na divisa de Mato Grosso com Goiás.
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Com isso, claro, quero parabenizá-la por ser uma mulher empreendedora. Isso também é extremamente importante. Cada vez mais, as mulheres brasileiras, aquelas que aqui estão, estão avançando na participação da sociedade brasileira. Então, eu a cumprimento, em nome de todas as mulheres que aqui estão e também de todas as mulheres empreendedoras, lutadoras, do Brasil.
Quero aqui cumprimentar também o Cônsul Geral Honorário do Japão em Belo Horizonte, Sr. Wilson Nélio Brumer, que já falou aqui também, com bastante conhecimento de causa, inclusive da sua participação em obras importantes do nosso País.
Quero aqui também cumprimentar o Presidente da Associação Nikkei, Sr. Waldemar Umeda, que está aqui conosco; o Presidente da Sociedade Cultural Nipo-Brasileira de Brasília, Sr. Pedro Matsunaga - espero que eu esteja aqui falando pelo menos próximo da pronúncia -; e o Sr. Evaldo Soares Vieira, tenente-coronel que representa o Comando da Polícia Militar do Distrito Federal.
Inicialmente, eu quero aqui, em nome também do meu Estado, da minha comunidade, da minha cidade natal, Rondonópolis, na região sul de Mato Grosso, homenagear o Sr. Massao Ishizuka. Ele é um dos primeiros que chegaram ao Mato Grosso, junto com a sua esposa, D. Tereza.
Ele veio do Japão, formou-se em odontologia, no interior de São Paulo, e depois escolheu a nossa cidade para morar. Lá ele também implantou muito da cultura japonesa. Nós temos uma colônia japonesa muito grande lá na cidade de Rondonópolis. O Clube Nipo-Brasileiro é muito tradicional. O nosso time é, inclusive, campeão estadual. O Sr. Massao construiu uma história.
Eu quero aqui até lembrar um ditado japonês que ele costumava dizer. Segundo ele:
Quem quiser colher amanhã, planta grão de cereais. Quem quiser colher daqui a dez anos, planta frutos. Quem quiser colher daqui a 20, 30 anos, planta árvores. Quem quiser colher daqui a cem anos, cria a personalidade do homem.
Ele dizia que isso resume o papel da educação e da filosofia de vida dele.
Com isso, então, eu aqui homenageio e cumprimento toda a comunidade nipo-brasileira do Estado de Mato Grosso, em especial da minha cidade, a cidade de Rondonópolis.
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Inicialmente, quero dizer o quanto nos honra estarmos aqui comemorando os 120 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre Brasil e Japão. Isso nos honra não somente em razão da nossa histórica relação política, mas, sobretudo, pela construção de uma genuína e sólida amizade.
À primeira vista, poderíamos questionar como dois países tão distantes, tão diferentes, poderiam, hoje, ser tão próximos. Mas, seguramente, vemos que temos mais semelhanças do que diferenças.
Nesses 120 anos, Brasil e Japão testemunharam a ascensão e a queda de potências mundiais. Assistiram ao sofrimento de vidas humanas em duas grandes guerras. E, acima de tudo, defendem, senhores e senhoras, com veemência, um padrão das relações internacionais pautado pelo pacifismo, pelo diálogo e pela amizade.
Creio que seja impossível qualquer registro deste dia histórico, nesta Sessão Especial de comemoração, sem mencionarmos a contribuição dos imigrantes dos dois países.
Realizamos um dos maiores intercâmbios migratórios do mundo. Seja no começo do século XX, com a chegada de japoneses, seja nas últimas décadas, com o deslocamento de milhares e milhares de brasileiros ao nosso querido Japão. Uma coisa nos une, sem dúvida alguma, o invariável desejo de nossas populações por melhores condições de vida.
Atualmente, o Brasil é considerado o país com a maior quantidade de descendentes de japoneses fora do Japão. São cerca de 1,5 milhão de pessoas. E, olha, que somos um dos países geograficamente mais distante do Japão. Brasília está há mais de 17.000km de Tóquio. Apesar disso, tenho convicção de que somos um dos povos mais próximos na amizade e no compartilhamento de interesses mútuos.
Presto aqui a minha homenagem às primeiras famílias que aqui aportaram em 1908, numa verdadeira epopeia, digna dessa história fascinante. Aquelas 781 famílias de lavradores ajudaram a plantar o Brasil de hoje.
(Soa a campainha.)
O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - Mato Grosso, o meu Estado, particularmente testemunhou um importante salto qualitativo na forma de conceber e produzir bens, principalmente no campo.
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Ainda uno, a cidade de Campo Grande, hoje capital de Mato Grosso do Sul, foi uma das cidades que mais receberam imigrantes japoneses no decorrer do século passado. Hoje, estima-se que 10% da população da capital do Mato Grosso do Sul seja formada por descendentes desses imigrantes.
Senhoras e senhores, como Parlamentar de Mato Grosso, quero registrar ainda a fundamental importância dos projetos de cooperação técnica, iniciados em meados da década de 70, que tornaram possível a produção, em larga escala, de grãos no nosso cerrado. Se hoje somos um dos maiores produtores de soja do mundo, responsáveis por mais de 50% da produção de soja brasileira, foi a partir dessa cooperação de grandes proporções que logramos alcançar os elevados patamares de produtividade em um solo ácido e, até então, considerado um dos mais estéreis do Brasil em termos agrícolas.
Entre os muitos fatos que considero de grande relevância nessa relação Brasil-Japão, um ocorreu em 1979, quando teve início o Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento Agrícola dos Cerrados, o Prodecer, que contou com o apoio técnico e financeiro da Agência Internacional de Cooperação do Japão por mais de 20 anos, inclusive criando a empresa binacional Brasil-Japão-Campo.
Além da promoção de inovações tecnológicas, a cooperação japonesa ainda contribuiu para significativos saltos institucionais, como o uso da terra em forma cooperativa, essencial para o desenvolvimento do cerrado brasileiro. Nesse sentido, sua atuação ajudou a Embrapa a tornar-se uma referência mundial em pesquisa científica e na prestação de cooperação técnica para outros países em desenvolvimento.
Foi a partir de projetos como esse que o Brasil é, hoje, um dos mais importantes celeiros do mundo e um ator central nas políticas de segurança alimentar de nosso Planeta. E podemos avançar muito mais. Só o Mato Grosso, hoje, tem condições de produzir tudo o que o Brasil produz, e só a região do Araguaia, que é a nova fronteira agrícola de Mato Grosso, tem condições de produzir tudo o que Mato Grosso produz.
Como se vê, o relacionamento entre Brasil e Japão, há muito tempo, deixou de ser meramente protocolar e pautado por interesses unilaterais. Nosso relacionamento é altamente estratégico.
Em julho passado, integrei a missão brasileira que esteve no Japão para discutir o comércio agropecuário bilateral, juntamente com a Ministra Kátia Abreu - está prevista, inclusive, a ida da Presidente Dilma ao Japão no próximo mês. E lá também olhamos os investimentos estrangeiros no Programa de Investimento em Logística, lançado pelo Governo Federal.
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Visitamos empresas empresas importantes do Japão que investem no Brasil, como a Sumitomo, que hoje tem uma empresa no nosso Estado, o Estado de Mato Grosso.
Fomos muito bem recebidos, como revela a tradição oriental; dialogamos intensamente, pautados na empatia, reciprocidade, hierarquia, lealdade e respeito.
Foi do Japão, que tem uma forma peculiar de enxergar as crises, que saí renovado de esperanças, certo de que o Brasil é um país que vai dar certo. Senti ali a crença e a confiança que vocês, japoneses, depositam em nós e na nossa capacidade de superar, crescer e nos desenvolver.
Espero, objetivamente, que, na viagem da Presidente Dilma ao Japão, prevista para dezembro, tenhamos passos significativos no avanço dessa relação comercial de fundamental importância para o nosso País e, sobretudo, para o meu Estado, que é também o maior produtor de carne. O Japão, hoje, é o maior importador de carne de aves; mas nós somos, também, o maior produtor de carne bovina. Há muito tempo o Japão não importa carne bovina. Lá estivemos, inclusive, com a Ministra da Saúde e acreditamos que na ida da Presidente Dilma haveremos de abrir esse mercado tão importante para o Brasil.
Portanto, nesta data, não celebramos somente os 120 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre Brasil e Japão. Celebramos, senhoras e senhores, a formação e a construção histórica de profundos laços de amizade e de confiança que, de maneira inequívoca, vinculam nossos povos.
Encerro, aqui, com dois provérbios japoneses que se completam. O primeiro diz: "Sabedoria e virtude são como duas rodas de uma carroça"; e o segundo determina: "Volta teu rosto sempre na direção do sol, e então, as sombras ficarão para trás".
Que nossas relações de amizade e negócios sejam sempre um olhar adiante.
Ao encerrar, quero aqui registrar o exemplo histórico que o Japão deixou para os brasileiros. Os japoneses são torcedores fanáticos do futebol e também do nosso querido Ayrton Senna, que deixou um legado muito grande por este País. O Japão veio jogar na Copa do Mundo, e os japoneses deram um exemplo de civilidade, de educação: ao terminarem os jogos, a torcida ia colher o lixo, os papéis, dando um exemplo de educação.
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E quero, inclusive, dizer que o nosso grande judoca Charles Chibana estará competindo nas Olimpíadas brasileiras, no Rio de Janeiro. E, claro, esperamos que nos dê a medalha de ouro. E também que o Japão dê oportunidade, nas próximas Olimpíadas, aos nossos atletas de ganharem as medalhas lá e consolidarem ainda mais esta amizade existente entre os nossos povos.
Muito obrigado.
Esse é o meu pronunciamento.
E, ainda, quero convidar a todos para acompanharmos um áudio com o trecho da reportagem especial intitulada "Uma história de amizade", alusiva aos 120 anos de amizade Brasil-Japão, produzido pela TV Senado. É um vídeo muito curto, que eu gostaria que fosse colocado. É um áudio.
Temos acesso ao áudio ou só à televisão?
Esta, com certeza, não é uma tecnologia japonesa, porque está falhando, mas haveremos de colocar o áudio, porque foi produzido com muito carinho pela equipe de comunicação da Casa. E, já que estamos transmitindo esta sessão, pelo televisão, pela Rádio Senado e por todos os meios de comunicação da Casa, gostaríamos de insistir ainda, para que pudéssemos colocar esse áudio.
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(Procede-se à reprodução de áudio. )
O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - Antes de encerrar, eu gostaria aqui de dizer o quanto eu admiro e gosto do povo japonês. E, para provar isso, eu quero dizer que o meu primeiro suplente para o Senado é um japonês, médico da cidade de Sinop, Dr. Jorge Yanai. É uma pessoa extremamente carismática, um homem correto, e foi muito importante o seu apoio para que eu pudesse estar aqui, nesta Casa, no Senado, depois da experiência de viver seis mandatos na Câmara dos Deputados.
Eu quero aqui, também, mais uma vez, chamar a população japonesa e principalmente o Governo japonês. O Brasil passa por momentos de crise. Nesses 25 anos que aqui estou, é o primeiro momento em que nós temos duas crises: uma crise política e uma crise econômica ao mesmo tempo.
E sabemos que temos que resolver primeiro a crise política, para que a gente possa solucionar os nossos problemas econômicos. Isso, porque potencialidade o Brasil tem muita, tecnologia o Japão tem, conhecimento o Japão tem. Ampliarmos esta nossa parceria, com certeza, será muito importante para o Brasil e, também, para o Japão, principalmente pela tradição do nosso povo.
Então, eu quero aqui, cumprida a finalidade da sessão, agradecer as personalidades que nos honraram com o seu comparecimento e declarar encerrada esta sessão solene muito importante, realizada aqui no Senado da República.
Muito obrigado. (Palmas.)
(Levanta-se a sessão às 13 horas e 35 minutos.)