3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
57ª LEGISLATURA
Em 14 de novembro de 2025
(sexta-feira)
Às 14 horas
169ª SESSÃO
(Sessão Especial)

Oradores
Horário

Texto com revisão

R
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP. Fala da Presidência.) - Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.
A presente sessão especial foi convocada em atendimento ao Requerimento 297, de 2025, de autoria desta Presidência e de outros Senadores, aprovado pelo Plenário do Senado Federal.
A sessão é destinada a celebrar o pioneirismo da Biofísica no Brasil e o legado de Carlos Chagas Filho.
R
Hoje, reverenciamos um dos maiores nomes da ciência nacional, um homem cuja visão, rigor acadêmico e dedicação à pesquisa transformaram para sempre a história da ciência biomédica no Brasil e projetaram mundialmente a excelência do nosso país.
Convido, para compor a mesa desta sessão especial, os seguintes convidados: Sra. Maria Pia Chagas, bisneta do homenageado e representante da família Carlos Chagas, por favor (Palmas.); Sr. Kildare Rocha de Miranda, Diretor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, representando o instituto fundado por Carlos Chagas Filho (Palmas.); Sra. Caroline Alves da Costa, Presidente da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Palmas.); Sr. Antonio José da Costa Filho, Presidente da Sociedade Brasileira de Biofísica (Palmas.); Sra. Eliete Bouskela, Presidente da Academia Nacional de Medicina (Palmas.); e o Revmo. Sr. D. Denilson Geraldo, Bispo Auxiliar de Brasília, representando o Arcebispo Cardeal Paulo Cezar Costa. (Palmas.)
Compõem a mesa estendida - e registramos com honra a presença - as seguintes autoridades e representantes institucionais: Sr. Luiz Carlos Galvão Lobo, Médico, Professor e Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Palmas.); Sr. Marcelo Marcos Morales, Pesquisador da Academia Brasileira de Ciências (Palmas.); Sr. Eduardo Colombari, Presidente da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Palmas.); Sr. João Torres de Mello Neto, Pró-Reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. (Palmas.)
Convido a todos para, em posição de respeito, acompanharmos o Hino Nacional brasileiro.
(Procede-se à execução do Hino Nacional.) (Palmas.)
R
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP. Para discursar - Presidente.) - Boa tarde! Boa tarde a todos. Boa tarde a quem nos acompanha também nas galerias. Boa tarde a todos que nos acompanham também pela rede Senado, TV Senado.
Eu queria começar agradecendo a presença de cada um. Quero agradecer a consideração e dizer que hoje é um dia extremamente especial para a ciência do Brasil.
É com elevada honra que abrimos esta sessão especial para celebrar um capítulo essencial da construção do Brasil moderno: o nascimento da biofísica como área estratégica e o legado de dois nomes que marcaram nossa história científica, Carlos Chagas e Carlos Chagas Filho.
Hoje prestamos homenagem não apenas ao talento individual, mas ao projeto de país que esses dois cientistas ajudaram a erguer, um Brasil que compreende que ciência não é gasto, nem luxo, nem detalhe; é investimento, soberania e desenvolvimento nacional.
R
Vivemos em um país cujo futuro depende da capacidade de transformar conhecimento em políticas públicas, inovação e progresso social. A ciência abre caminhos para autonomia sanitária, para tecnologias estratégicas e para respostas efetivas aos desafios do século XXI. É ela que protege vidas, que impulsiona a economia e que reafirma a esperança de um país mais justo e preparado.
A trajetória dos nossos cientistas, muitas vezes silenciosa, é feita de coragem, persistência e compromisso com o bem comum. É a história de mulheres e homens que escolheram permanecer no Brasil para construir aqui centros de excelência, formar gerações e servir ao povo brasileiro.
Quando falamos em pioneirismo, falamos também de instituições. A biofísica não surgiu por acaso. Ela nasceu do esforço coordenado que reuniu o Instituto Oswaldo Cruz, a antiga Universidade do Brasil, a Sociedade Brasileira de Biofísica, a Academia Brasileira de Ciências, a Academia Nacional de Medicina, a ABL e tantas outras casas centrais da nossa vida intelectual. Foi nesse ambiente que germinou a convicção de que o Brasil poderia produzir ciência de ponta e exportá-la para o mundo.
A disciplina da Biofísica, ao unir física, biologia e tecnologia, mostrou que o conhecimento brasileiro tem capacidade de dialogar com as fronteiras mais avançadas da ciência contemporânea. Ela floresceu porque houve visão, estrutura e, sobretudo, vontade de construir uma ciência nacional forte.
Nesse cenário, o papel de Carlos Chagas é incontornável: seu trabalho no Instituto Oswaldo Cruz transformou a pesquisa em política pública e colocou o Brasil no mapa mundial das grandes descobertas biomédicas. Sua obra nos lembra que a ciência é, antes de tudo, serviço à vida.
É impossível falar do pai sem mencionar o filho. Carlos Chagas Filho, ao fundar o Instituto de Biofísica, hoje com 80 anos, estruturou um modelo de ciência experimental inovador e permanente. Como professor e liderança científica, formou gerações. Como articulador internacional, levou o nome do Brasil a instâncias de prestígio e diálogo global, entre elas, a Pontifícia Academia das Ciências, do Vaticano.
Esta homenagem, porém, vai além dos dois nomes extraordinários, ela representa o reconhecimento de que todos os cientistas que enfrentam adversidades criam soluções e transformam a escassez em engenhosidade. São pessoas que mostram, todos os dias, que ciência é condição de liberdade e instrumento de soberania.
Ao celebrarmos a biofísica e o legado institucional que ela inspirou, reafirmamos a necessidade de fortalecer as bases que sustentam o conhecimento: universidades robustas, investimento público, estabilidade de longo prazo e políticas de Estado, e não de governo. Nenhum país se torna forte sem ciência forte. Nenhum país decide seu próprio destino sem domínio do conhecimento.
R
Senhoras e senhores, que esta sessão especial seja mais do que uma cerimônia, que seja um compromisso renovado com a ciência brasileira, com os jovens que desejam transformar o mundo, com a soberania intelectual e sanitária do Brasil e com a certeza de que o verdadeiro desenvolvimento nasce da inteligência coletiva do nosso povo.
E, para que esse legado não permaneça apenas na memória, mas que se transforme em política de Estado, apresentamos - e esta Casa discute - dois projetos de lei que consagram o papel da ciência na história da República: o PL 3.967, de 2024, que propõe inscrever Carlos Chagas no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, reconhecendo formalmente sua contribuição única para a medicina e para o Brasil, e o Projeto de Lei 138, de 2024, que institui o Dia Nacional do Biofísico, em 12 de setembro, data do nascimento de Carlos Chagas Filho, celebrando uma área que permanece essencial para a saúde, a inovação e o futuro do Brasil.
São iniciativas que reafirmam a convicção de que a ciência brasileira merece reconhecimento, estabilidade e projeção. A Carlos Chagas e Carlos Chagas Filho, e a todos que abriram caminhos para a biofísica e para a ciência nacional, expressamos nossa profunda gratidão. Que o legado deles continue a inspirar políticas públicas, instituições, professores, estudantes e pesquisadores, e nos lembre de que a ciência é uma das formas mais nobres de servir o Brasil.
Neste momento, eu peço a todos uma salva de palmas para a ciência brasileira.
Muito obrigado. (Palmas.)
Neste momento, iniciando a nossa sequência de oradores, eu concedo a palavra ao Sr. Kildare Rocha de Miranda, Diretor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por cinco minutos, para a sua fala.
O SR. KILDARE ROCHA DE MIRANDA (Para discursar.) - Exmos. Senadores e Senadoras, demais autoridades presentes, ilustres convidados, colegas e membros da comunidade científica brasileira, é com profunda emoção que o Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, recebe essa solene homenagem por ocasião dos seus 80 anos de dedicação à ciência e à formação de cientistas brasileiros.
O reconhecimento desta Casa demonstra a grandeza da nossa missão e renova o nosso compromisso com a pesquisa científica de qualidade, com ética e compromisso com o futuro do Brasil. Neste momento de celebração, é fundamental recordar e homenagear aqueles que, de forma visionária, abriram caminhos e criaram possibilidades que iluminaram gerações futuras.
Homenageamos Carlos Chagas, um dos mais notáveis cientistas que o Brasil já produziu. Seu legado científico, sem dúvida, marcado pela descoberta da tripanossomíase americana, doença que hoje leva o seu nome, transcendeu as fronteiras da medicina e da saúde pública, estabelecendo os pilares de uma das mais importantes áreas de investigação científica do país, que contribuiu para a formação de gerações de cientistas e colocou o Brasil definitivamente no mapa da ciência mundial, na área das doenças infecciosas.
R
E, não menos importante, honramos aqui também a memória e a visão de Carlos Chagas Filho, patrono do nosso instituto. Sob sua liderança, o Instituto de Biofísica se consolidou como uma genuína casa da ciência e dos saberes e um importante pilar da ciência contemporânea no país. Seu legado deixou não apenas um instituto, mas uma comunidade que cultiva pesquisas de fronteira e permanece livre e engajada com os grandes desafios da humanidade.
Ao longo de suas oito décadas, o Instituto de Biofísica tem se mantido na vanguarda da ciência experimental brasileira, abordando temas de extrema relevância para a nossa sociedade. As pesquisas ali conduzidas não se limitam aos laboratórios, elas se estendem para a compreensão de complexas interações que afetam a vida das pessoas. Atuamos na interseção da saúde única e da saúde ambiental, buscando soluções para o equilíbrio entre o bem-estar humano e o meio ambiente; estudamos doenças infecciosas, que persistem como ameaças; e doenças crônicas e degenerativas, que desafiam a longevidade e a qualidade de vida da humanidade.
Para enfrentar esses desafios, o instituto alicerça seus esforços em ciência de fronteira, aplicando ferramentas de biologia computacional para modelar sistemas biológicos complexos, na decifração de componentes genéticos das doenças, dos processos imunológicos e cognitivos, e no desenvolvimento de abordagens inovadoras para a medicina de precisão. É com essa visão - um legado claro de Carlos Chagas Filho - que garantimos que a ciência brasileira contribua de forma decisiva para o avanço global do conhecimento.
Estamos profundamente honrados com a tramitação do projeto de lei que visa alçar o nome de Carlos Chagas ao panteão de heróis e heroínas nacionais. É um reconhecimento mais do que merecido a um homem que dedicou sua vida ao povo brasileiro. Da mesma forma, o instituto se orgulha imensamente da perspectiva de ver o dia 12 de setembro, data de nascimento de Carlos Chagas Filho, ser declarado o Dia do Biofísico. Será um marco que celebrará a ciência e a dedicação de todos aqueles que, em seu nome, continuam a construir o futuro da investigação científica do país.
Estendemos nossos cumprimentos e reconhecimento a parceiros fundamentais.
Parabenizamos a Sociedade Brasileira de Biofísica, longa parceira do instituto, pelos seus 90 anos de dedicação à ciência biofísica - uma trajetória que se confunde com a própria história do instituto; a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa (Faperj), pelo seu legado em construir ciência feita por e para pesquisadores, que estruturou a pesquisa fluminense e que permeia as fronteiras do estado e do país; e, de forma muito especial, expressamos a nossa gratidão à família Chagas, que originou e nutriu pesquisadores de tamanha relevância e que tanto contribuíram para a ciência do nosso país.
O Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho segue forte na sua missão de fazer e disseminar ciência no país, com os olhos no futuro e os pés firmes no presente. Que possamos, juntos, projetar mais 80 anos de sucesso do nosso querido instituto.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) - Muito obrigado ao Sr. Kildare Rocha de Miranda, Diretor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Neste momento, eu concedo a palavra ao Sr. Luiz Carlos Galvão Lobo, Médico, Professor e Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, por cinco minutos. (Pausa.)
Aproveitamos para registrar a presença, na galeria, dos alunos do ensino médio do Colégio Aprovação, de Planaltina, Brasília. (Palmas.)
Bem-vindos.
Com a palavra o Prof. Luiz Carlos Galvão Lobo.
R
O SR. LUIZ CARLOS GALVÃO LOBO (Para discursar.) - Sras. Senadoras e Senadores, outras autoridades presentes, colegas de pesquisa na ciência brasileira, todos aqui honrando essa cerimônia merecida ao Prof. Carlos Chagas Filho, eu represento aqui o Instituto Fiocruz e a sua Diretora Regional em Brasília, a Profa. Fabiana Damásio.
Essa foi uma boa representação porque, afinal, no Instituto Oswaldo Cruz se criou toda a pesquisa científica no Brasil, e foi no Instituto Oswaldo Cruz, sob a égide dessa grande figura que foi Oswaldo Cruz, que se desenvolveram as pesquisas com Carlos Chagas e com vários outros pesquisadores que lá labutaram. E formaram dois filhos de Carlos Chagas: Evandro Chagas, figura nobre e heroica, que desenvolveu toda a parte de endemias rurais no país; e Carlos Chagas Filho, que veio para ser um jovem professor - naquele tempo, da física biológica, que ele logo transformou em biofísica. Ele dizia que biofísico, para ele, era qualquer pesquisador de alta qualidade nas ciências básicas que pudesse constituir uma equipe no seu instituto. Naquele tempo ainda não era instituto, mas enfim.
Foi com essa visão que Carlos Chagas criou, desde o início, e trouxe para a ciência grandes pesquisadores, como Aristides Pacheco Leão, Manoel da Frota Moreira, Hargreaves, e vários outros. O Chagas tinha uma visão de mundo, mais do que uma visão de país, e propunha sempre uma perspectiva inovadora e criativa para tudo que fazia. Às suas custas, criamos o Laboratório clínico de Radioisótopos, culminando na grande emenda que foi a utilização de radioisótopos no país, e que foi precursor da medicina nuclear. Naquele tempo não se tinha esse nome.
Foi às custas e com a injunção do Carlos Chagas que se fez pesquisa sobre bócio e cretinismo endêmico, fazendo estudos de campo em todos os estados do Centro-Oeste do país. Foi com ele que se criou o processo de medicina integrada na área de Ciências da Saúde - deu todo o apoio a isso, à medicina integrada -, e foi essa noção que norteou a criação da Faculdade de Medicina da UnB, que tivemos a honra de também dirigir durante alguns anos.
Foi por injunção do Carlos Chagas que se criou o Instituto de Núcleos de Tecnologia Educacional. Era um departamento da biofísica, mas quando foi ser apreciado pela congregação da Universidade de Brasília, já virou um núcleo, o Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, hoje elevado ao nível de instituto, o Instituto Nutes.
Isso porque o Carlos tinha uma grande preocupação com que se introduzissem novas tecnologias e que se refinasse todo o problema da didática em medicina e saúde, de tal forma que não se ficasse simplesmente com a ideia das grandes cátedras e grandes professores, e, sim, de um trabalho em equipe.
R
Graças a essa visão de trabalho em equipe, devo dizer, é que se criou, no Instituto de Biofísica, uma plêiade de gente mais jovem, como Antonio Paes de Carvalho, Eduardo Oswaldo Cruz, Leopoldo de Meis, que foram pessoas de grande nome e que tiveram, durante toda a vida, o impulso e o estímulo do Carlos Chagas para se desenvolver.
Por isso tudo, eu acho que Carlos Chagas foi quem realmente introduziu a pesquisa na Universidade Federal do Rio de Janeiro, fazendo com que uma grande parte - já no início - de seus pesquisadores trabalhasse em regime de tempo integral, com dedicação exclusiva. E é isso que nós devemos a ele: o começo da ciência e da tecnologia na nossa Universidade do Rio de Janeiro, da qual eu sou, aliás, aposentado.
Muito obrigado, senhores. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) - Muito obrigado ao Sr. Luiz Carlos Galvão Lobo, Médico, Professor e Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz.
Neste momento eu concedo a palavra ao Sr. Antonio José da Costa Filho, Presidente da Sociedade Brasileira de Biofísica, por cinco minutos.
O SR. ANTONIO JOSÉ DA COSTA FILHO (Para discursar.) - Boa tarde a todos e a todas.
Queria iniciar minha fala saudando o Senador Marcos Pontes, na figura de quem cumprimento todos os Senadores e Senadoras e demais membros do Poder Legislativo do Congresso Nacional.
Gostaria de saudar também o nosso amigo Prof. Marcelo Morales, na figura de quem cumprimento todos os demais participantes desta sessão, que nos acompanham pela internet também.
É uma honra estar aqui hoje representando a mais antiga sociedade científica do nosso país, a Sociedade Brasileira de Biofísica, que no ano que vem, 2026, completará 90 anos de existência. É uma responsabilidade também estar na posição que outrora foi ocupada pelo homenageado desta tarde, o Prof. Carlos Chagas Filho, um dos seus presidentes, no biênio de 1963 a 1965.
O Prof. Carlos Chagas Filho foi um cientista visionário. Visionário porque, já na década de 30, um momento muito raro para isso no Brasil, identificou, percebeu a necessária união indissociável entre o ensino e a pesquisa. Dizia: aqui "se ensina porque se pesquisa". Criou institutos de pesquisa dedicados à biofísica, como o Instituto de Biofísica, que hoje leva o seu nome, e também um dos homenageados desta tarde. Visionário porque entendeu a importância da internacionalização para o avanço da pesquisa brasileira, e a internacionalização feita em uma via de duas mãos, Senador - não só de mandar estudantes e pesquisadores brasileiros para centros de referência no exterior, mas também de receber importantes lideranças internacionais nos laboratórios brasileiros para trabalhar lado a lado com os nossos jovens pesquisadores. Visionário até na escolha do modelo de estudo que elegeu para as suas pesquisas.
Interessado que estava no fenômeno de produção de energia elétrica pelos seres vivos, escolheu trabalhar com o poraquê, o peixe elétrico do Amazonas, nada mais atual em tempos de COP 30 no Pará - veja que sensacional.
R
Visionário também porque entendeu que um país genuinamente soberano, justo e próspero só se faz com ciência e tecnologia. E fazer ciência é uma atividade humana que requer necessariamente o debate arrazoado de ideias. Requer tolerância, requer saber entender e conviver com as diferenças.
Senador, Prof. Marcelo Morales, muitas pessoas desejam no mundo a imortalidade. A ciência, inclusive, é cobrada em vários momentos por pesquisas que façam a gente viver mais. Na ciência, assim como nas artes, a imortalidade é alcançada pelo legado de suas figuras seminais. Hoje, celebramos aqui a imortalidade do Prof. Carlos Chagas e do Prof. Carlos Chagas Filho.
Vivam eles! Viva a biofísica! Viva a ciência brasileira!
Muito obrigado a todos. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) - Muito obrigado e parabéns ao Sr. Antonio José da Costa Filho, Presidente da Sociedade Brasileira de Biofísica.
Neste momento eu concedo a palavra à Sra. Eliete Bouskela, Presidente da Academia Nacional de Medicina, por cinco minutos.
A SRA. ELIETE BOUSKELA (Para discursar.) - Boa tarde a todos!
Caríssimo Senador Marcos Pontes, caríssima Carol Alves, Maria Pia, é com enorme prazer e uma honra que eu estou aqui hoje. Quis o destino que eu fosse, no momento, Presidente da Academia Nacional de Medicina, da qual fazia parte Carlos Chagas Filho.
É enorme a minha honra de estar aqui, porque eu devo muito do que sou hoje ao Prof. Chagas Filho. Infelizmente, eu não tive o prazer de conhecer o Prof. Carlos Chagas. Reconheço perfeitamente a sua importância, mas eu conheci muito, e muito de perto, o Carlos Chagas Filho. Então, encontrar a sua neta, Maria Pia...
Inicialmente, antes de falar um pouco mais sobre Carlos Chagas Filho, que eu conheci muito, quero saudar os meus confrades da Academia Nacional de Medicina, que tem hoje 196 anos - é a instituição científico-cultural mais antiga do país.
Eu começo a minha saudação com o Presidente Rubens Belfort, o acadêmico Wanderley de Souza, o acadêmico Mauricio Pereira, o acadêmico Walter Zin, Maurício Magalhães e Henrique Salvador, e, muito especialmente, Marcelo Morales, que organizou esta sessão, a quem eu agradeço muito.
Quero agradecer também a presença dos membros do Instituto de Biofísica, a que eu pertenci, na pessoa de Antonio Carlos Campos de Carvalho, que foi meu colega de iniciação científica no Instituto de Biofísica.
O Prof. Chagas, além de ser um pesquisador, era um ser humano incrível, que ensinou para nós muitas coisas, além da ciência. Quando ele foi perguntado o que se fazia de ciência no Instituto de Biofísica, ele respondeu: "Tudo o que os meus amigos gostariam de fazer." Porque ele era uma figura humana, que gostava das pessoas, além de gostar da ciência, que eu acho uma coisa fundamental.
Ele nos ensinou que era muito importante fazer ciência, criando essa frase mágica sobre a Universidade Federal do Rio de Janeiro, que é a seguinte: "Aqui se ensina porque se pesquisa."
R
Então, eu acho que isso é fundamental, Senador. Nós temos que ter certeza de que existe financiamento para pesquisa, porque eu acho que uma das coisas mais importantes para a pesquisa neste país é que nós possamos ter certeza da continuação do seu financiamento, porque a incerteza faz com que a gente não ouse. Para fazer ciência disruptiva neste país, a gente precisa ter certeza de que nós vamos continuar sendo financiados. Não é possível que a gente, para fazer ciência, precise fatiar os nossos achados, publicar - porque nós não podemos ter certeza do financiamento a longo prazo.
Financiamento de pesquisa é fundamental. Conforme o senhor disse muito bem, nós não podemos ser uma nação verdadeiramente independente e soberana, se nós não tivermos ciência financiada neste país. Não é possível que a gente tenha financiamento hoje e não tenha financiamento amanhã.
E como pesquisadora e cientista da saúde, eu quero dizer que nós temos que olhar também muito profundamente, muito seriamente, para as faculdades de Medicina que estão sendo abertas neste país. Elas têm que ter qualidade, porque o Brasil, hoje...
(Soa a campainha.)
A SRA. ELIETE BOUSKELA - ... é o país que envelhece mais rapidamente no mundo e nós temos que criar condições para que essa porção da população - que é vulnerável, assim como as crianças -, possa ter qualidade de vida, e isso depende muito dos médicos que nós estamos formando.
Acho que isso faz parte do legado de Carlos Chagas, que foi um pesquisador muito à frente do seu tempo, então eu agradeço muitíssimo a possibilidade de estar aqui falando sobre isso e enaltecendo a memória de Chagas.
Eu quero dizer que, quando me formei em Medicina, eu queria ir para o exterior. Imediatamente, Carlos Chagas liga para o Diretor da Pan American Health Organization e arranja uma bolsa para eu viajar. O Chagas não tinha... Como é que eu vou dizer? Ele não tinha essa história de "qual é a regra?". Não. "Existe essa possibilidade? Vamos fazer". Ele não tinha protocolos, ele não tinha essas coisas pequenas que fazem com que não haja possibilidade de as pessoas se adiantarem na vida.
Quando meu pai ficou doente no Brasil, eu estava fazendo doutorado nos Estados Unidos, com bolsa organizada pelo Prof. Chagas. Eu liguei para ele e disse: "Prof. Chagas, eu preciso voltar para o Brasil". Ele, imediatamente, me colocou em contato com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e eu consegui um emprego.
A gente podia contar com o Prof. Chagas para todas as coisas: para discutir ciências, para discutir problemas pessoais, para discutir rumos da ciência. Então ele era um ser humano incrível, e eu acho que é muito importante que a gente o homenageie, porque ele não só fez ciência, como criou um grupo de pessoas que pensam Ciência, com "c" maiúsculo.
Então eu quero realmente dizer o quanto estou honrada de participar desta homenagem ao Prof. Chagas. Muito obrigada, Senador. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) - Muito obrigado, Sra. Eliete Bouskela, Presidente da Academia Nacional de Medicina.
Eu cumprimento os nossos visitantes na galeria, sejam bem-vindos. Obrigado pela presença aqui no Senado Federal.
Gostaria também de cumprimentar a Dra. Eliete Bouskela. Para quem não sabe, ela é a primeira mulher Presidente da Academia de Medicina...
A SRA. ELIETE BOUSKELA (Fora do microfone.) - Em 194 anos.
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) - ... em 194 anos. Parabéns. (Palmas.)
R
Em uma parte da fala da nossa Presidente, também um ponto extremamente importante que nós temos aqui é o projeto de lei - aqui neste Senado -, de minha autoria, sobre o exame de proficiência médica. E esse é um fator - não é nenhuma ideia de dificultar a vida dos alunos; não, nada disso - para proteger a saúde da população, e que isso fique bem claro: a necessidade.
Nós contamos com o apoio da academia e o apreciamos muito, assim como do Conselho Federal de Medicina e de todos aqueles que, na verdade, realmente entendem de medicina no país e que estão do lado da população nessa busca de melhorar a saúde do país.
Nós queremos melhorar as universidades e as faculdades? Queremos, sem dúvida nenhuma. Mas, até que isso seja feito, e que tudo seja colocado com a infraestrutura adequada, com os professores, com tudo isso, vai demorar um certo tempo, e nós não podemos deixar a população exposta a qualquer tipo de problema durante esse período.
Então, eu agradeço muito o apoio, e esse é um apoio, para o nosso país, extremamente importante.
Neste momento, eu concedo a palavra ao Sr. Marcelo Marcos Morales, Pesquisador da Academia Brasileira de Ciências, por cinco minutos.
O SR. MARCELO MARCOS MORALES (Para discursar.) - Boa tarde a todos, Exmo. Senador Astronauta Marcos Pontes, senhoras e senhores, autoridades, colegas cientistas, representantes das instituições aqui reunidas, querida Maria Pia, em nome da família Chagas. Eu agradeço a oportunidade de homenagear dois grandes cientistas.
Há dias, Senador, que pertencem à história, e há dias, como este, que pertencem à memória viva de um país. Hoje este Plenário se converte em espaço de gratidão: gratidão à ciência, à cultura e à fé no poder transformador do ser humano. A gente personifica tudo isso em dois brasileiros que fizeram da inteligência um gesto de amor à humanidade: Carlos Chagas e Carlos Chagas Filho.
Carlos Chagas, médico e cientista de espírito renascentista, descobriu, em um só momento de razão e sensibilidade, o agente, o vetor e a doença que levaria o seu nome: a única tríplice descoberta da história da medicina. Dirigindo o Instituto Oswaldo Cruz entre 1917 e 1934, transformou esse instituto em um farol da ciência tropical, onde pesquisa se tornava serviço e o microscópio, um instrumento de compaixão. Ali nascia não apenas uma instituição, nascia uma ideia de Brasil: um país capaz de produzir ciência, de cuidar de si mesmo e de entender que saúde pública é também soberania nacional.
Anos depois, seu filho, Carlos Chagas Filho, herdaria não o nome, apenas, mas o sentido da missão. Fundou em 1945 o Instituto de Biofísica que hoje carrega o seu nome e completa 80 anos. Uma escola de pensamento, de ciência, de ética.
R
Presidindo a academia de ciências a qual eu represento hoje, a ABC, por 16 anos, Carlos Chagas Filho deu forma à comunidade científica brasileira, defendendo que a ciência não é um conjunto de técnicas, mas uma forma de pensamento, e que o cientista deve ser, antes de tudo, um humanista a serviço da humanidade.
Foi também incansável na preservação da memória de seu pai, restaurando, com serenidade e firmeza, o reconhecimento que o tempo e a angústia haviam ensombrado, quando da descoberta da doença de Chagas - ela foi recebida, à época, com certa desconfiança por alguns de seus pares.
Em cada gesto, parecia compreender que o preço de servir à verdade, por vezes, é o silêncio que a antecede; e a grandeza, o consolo que a sucede.
Como Presidente da Academia Pontifícia das Ciências, no Vaticano, Carlos Chagas Filho falou ao mundo que a fé e a razão não se excluem, mas se completam na busca do bem.
Hoje, nós celebramos 114 anos de Carlos Chagas Filho e 146 anos de Carlos Chagas. Celebramos, também, o tecido institucional que eles teceram com suas vidas: a Fiocruz, guardiã de nossa saúde, de nossa memória científica; a Academia Nacional de Medicina, onde Chagas ocupou uma cadeira criada especialmente para ele; a Academia Brasileira de Ciências, fundada por Chagas...
(Soa a campainha.)
O SR. MARCELO MARCOS MORALES - ... e elevada por seu filho ao diálogo internacional; a Academia Brasileira de Letras, que acolheu Carlos Chagas Filho na cadeira nº 9; a Sociedade Brasileira de Biofísica, prestes a completar 90 anos; a Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE); o Instituto de Biofísica, que é o herdeiro do sonho de unir a biologia, a física e o espírito humano no mesmo ato criador.
E aqui também está o Vaticano - representado por nosso bispo -, representando a universalidade do saber e do diálogo entre ciência e transcendência.
Mas há ainda uma presença que nos comove: a da família Chagas, aqui representada por Maria Pia Montenegro, neta primogênita de Carlos Chagas Filho, filha de Sylvia Amélia, uma das suas quatro filhas (de Carlos Chagas Filho); ele costumava dizer que tinha quatro filhas únicas. Como a nossa presidente mostrou, o humanismo de Carlos Chagas Filho.
E é com especial reconhecimento que rendemos homenagem ao senhor, Senador Marcos Pontes, porque o senhor olha para a ciência de forma especial. E eu me emociono ao falar disso, porque o senhor me deu a oportunidade de falar com a comunidade científica em seu nome, e fazer muito pelo país - como cientista - através da possibilidade que o senhor me entregou.
Eu vi isso durante o Ministério da Ciência e Tecnologia, quando o senhor era Ministro, e agora, como Senador da República. E o seu legado está no coração da República, agora com o PL 3.967, que inscreve Carlos Chagas no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, e o PL 138, que institui o Dia Nacional do Biofísico, dia 12 de setembro - o nascimento de Carlos Chagas Filho.
Esses atos legislativos não são apenas homenagens, são pontes entre a história e o futuro, entre a ciência e a cidadania, entre o gesto político e a gratidão nacional.
R
Aqui, ao homenagear a Fiocruz, a ABC, a Academia Nacional de Medicina, a ABL, o Instituto de Biofísica, a FeSBE, a SBBf, todas convergem, hoje, no mesmo ponto luminoso: a certeza de que a ciência brasileira tem rosto, tem alma e tem destino.
Obrigado, Senador. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) - Obrigado, Dr. Marcelo Morales, Pesquisador da Academia Brasileira de Ciências, nosso ex-Secretário nacional de Pesquisa, do Governo Bolsonaro.
Eu anuncio também a presença, representando o Diretor-Presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Sr. Marcelo de Oliveira Nicolau, analista da Unidade de Políticas Públicas. Obrigado pela presença também aqui conosco.
Concedo a palavra, neste momento, ao Sr. Eduardo Colombari, Presidente da Federação das Sociedades de Biologia Experimental, por cinco minutos.
O SR. EDUARDO COLOMBARI (Para discursar.) - Sr. Presidente, Senador Astronauta Marcos Pontes, Sras. e Srs. Senadores, autoridades presentes, colegas cientistas, representantes das instituições da sociedade civil, família Chagas.
É uma grande honra representar, nesta sessão solene, a Federação de Sociedade de Biologia Experimental (FeSBE), em homenagem a dois gigantes da ciência brasileira: Carlos Chagas e Carlos Chagas Filho, personagens, figuras, cientistas, pessoas humanas que sintetizam a convergência exemplar entre rigor científico, compromisso público e visão de futuro para o Brasil.
A FeSBE congrega dezenas de sociedades científicas da área biomédica, entre elas a Sociedade Brasileira de Biofísica (SBBf), uma das mais antigas entidades da nossa federação e, com orgulho, a sociedade biofísica mais antiga do mundo. Esse fato ressalta o papel pioneiro da biofísica brasileira no cenário internacional, muito influenciado pelo legado de Chagas Filho.
A biofísica, assim como toda pesquisa biomédica experimental, é um dos pilares para o avanço das ciências da vida. Ela nos permite compreender os mecanismos fundamentais que sustentam a saúde e o funcionamento do organismo, transformando o conhecimento básico em soluções concretas, novas terapias, tecnologias médicas, vacinas, métodos de diagnósticos e políticas eficazes de prevenção. Esse é o espírito que move a FeSBE: pesquisa a serviço da vida e do desenvolvimento do país.
Mas nada disso se faz sem instituições sólidas, pessoas, instituições, universidades, financiamento. Carlos Chagas Filho, além de um cientista brilhante, foi um dos arquitetos do nosso Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, do CNPq, da Finep, da Capes e da Academia Brasileira de Ciência. Todas carregam a marca de sua liderança, visão estratégica e compreensão de que a ciência é uma política de Estado.
R
A FeSBE segue essa trilha, defendendo o fomento contínuo e estável à ciência, à educação e à tecnologia; a formação qualificada de jovens pesquisadores; infraestrutura robusta e a ciência como patrimônio coletivo do povo brasileiro.
Vivemos um momento crucial de reconstrução e valorização da ciência. Após anos de dificuldades, retomamos a convicção de que não existe projeto de país sem conhecimento, sem inovação, sem educação científica. As sociedades científicas, como a FeSBE e todas que a integram, têm hoje um papel decisivo: contribuir ativamente com políticas públicas, garantir condições para fazer ciência de excelência, dialogar com a sociedade e ampliar oportunidades para os nossos jovens. Homenagear Chagas e Chagas Filho é, portanto, assumir responsabilidade nessa missão.
Inspirados por esse legado de coragem e inteligência, reafirmamos nosso compromisso com a ciência, a parte da ética e a democracia inclusiva, diversa e aberta ao mundo, inovadora e conectada às necessidades do país, promotora do desenvolvimento humano sustentável.
Que esta sessão solene seja mais do que uma homenagem, seja uma semente de futuro.
Que o exemplo de Carlos Chagas e Carlos Chagas Filho continue iluminando nossos caminhos, demonstrando que o Brasil pode e deve ocupar um lugar de protagonismo na ciência mundial.
Financiamento à ciência, à tecnologia e à educação não é gasto, é investimento.
E viva a ciência brasileira.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) - Muito obrigado, Sr. Eduardo Colombari, Presidente da Federação de Sociedades de Biologia Experimental.
Neste momento, concedo a palavra à Sra. Caroline Alves da Costa, Presidente da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, por cinco minutos.
A SRA. CAROLINE ALVES DA COSTA (Para discursar.) - Boa tarde a todos. Boa tarde, Senador Marcos Pontes. Boa tarde, Pesquisador Marcelo Morales, à minha Presidente Nacional Brasileira de Medicina, Eliete Bouskela, e às demais autoridades.
É uma grande honra representar, nesta Casa, a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - a nossa querida Faperj - nesta sessão solene dedicada a celebrar um dos maiores nomes da ciência brasileira e mundial: Carlos Chagas Filho.
Filho do notável Carlos Chagas, descobridor da doença que leva seu nome, Chagas Filho contribuiu um legado que ultrapassa os limites da biomedicina. Ele foi um verdadeiro arquiteto da institucionalização da ciência no Brasil. Um cientista que, sem jamais perder a sensibilidade humana, soube combinar excelência acadêmica, atuação internacional e compromisso público para fortalecer as bases que sustentam até hoje o sistema de pesquisa do nosso estado e do nosso país.
R
Foi justamente essa visão estratégica e institucional que criou os alicerces que, décadas depois, permitiram o surgimento das Fundações de Amparo à Pesquisa - entre elas, a Faperj. A compreensão de Chagas Filho de que ciência requer estabilidade, continuidade, política de Estado, e não uma política de Governo, ecoou profundamente na formulação das políticas públicas que culminaram com a criação de estruturas jurídicas e orçamentárias sólidas para o fomento científico.
Não é por acaso que, em 2000, a Faperj passou a incorporar oficialmente o nome de Carlos Chagas Filho. A mudança, realizada por meio do Decreto 26.040, não foi apenas uma homenagem. Foi um reconhecimento de que a própria missão da Fundação está ligada à obra e a valores que ele defendeu por toda a vida. Ao associar Chagas Filho à Faperj, ele passou a assumir publicamente o compromisso com uma ciência que transforma, emancipa e desenvolve - uma ciência que faz rigor com autonomia e com responsabilidade social.
Senhoras e senhores, ao longo de mais quatro décadas, essa visão se materializou quando o Estado do Rio de Janeiro instituiu, por lei, o repasse dos 2% da receita líquida tributária de fomento à ciência, à tecnologia e à inovação. Deu forma concreta aos princípios defendidos por Chagas Filho, e essa decisão se sustenta ao longo dos anos. Foi determinante para que a Faperj se consolidasse com uma das maiores, sólidas e respeitadas agências de fomento do Brasil.
Hoje, a Faperj é reconhecida nacionalmente e internacionalmente, não apenas pelo seu orçamento, mas pela sua capacidade de transformar seu recurso em conhecimento, inovação e oportunidade realizados pelos nossos cientistas. É um desenvolvimento, com milhares de pesquisadores apoiados, editais de inovação e atuação em todos os 92 municípios do Estado do Rio de Janeiro. A Fundação tem a honra, diretamente, de levar no legado o seu patrono.
Esse trabalho só vem avançando com o Governo do Estado do Rio de Janeiro tendo reafirmado, com clareza e convicção, seu compromisso com a ciência e a inovação. Sob a liderança do nosso Governador Cláudio Castro e do nosso secretário Anderson Moraes, a Faperj vem ampliando o investimento, modernizando o programa,...
(Soa a campainha.)
A SRA. CAROLINE ALVES DA COSTA - ... fortalecendo a presença da ciência na vida da sociedade fluminense.
Programas como Cientista do Nosso Estado, Jovem Cientista, Hub de Inovação, Prioridade Rio, Pensa Rio, Programas de Doenças Raras e Líder de Inovação do Nosso Estado são iniciativas que alcançam a universidade pública e privada, e institutos de pesquisas que podem criar nos parques tecnológicos de empreendedores da região do Estado do Rio de Janeiro, em ações que transformam ciência em vetor real e em desenvolvimento econômico, social e ambiental.
Para finalizar, celebrar Carlos Chagas Filho é celebrar o fomento e a dedicação à casa cientista, crença inabalável da ciência, um caminho do futuro. Seu legado está vivo dentro da instituição, laboratório, em cada sala de aula, em cada espaço de pesquisa.
Viva os 45 anos da Fundação de Amparo Carlos Chagas Filho de Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. Viva cada servidor que compõe essa instituição, e viva os nossos colaboradores.
Muito obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) - Muito obrigada, Sra. Caroline Alves da Costa, Presidente da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. E nós temos conosco também o nosso querido Senador Wellington Fagundes, do Partido Liberal, do Mato Grosso, e a qual eu concedo a palavra.
R
Wellington, tem a palavra por cinco minutos. (Pausa.)
Está sem som aqui ainda.
O SR. WELLINGTON FAGUNDES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - MT. Por videoconferência.) - Agora está com som?
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) - Agora sim, cinco por cinco, na linguagem de piloto aqui.
O SR. WELLINGTON FAGUNDES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - MT. Para discursar. Por videoconferência.) - Perfeito!
Senador Marcos Pontes, eu quero aqui cumprimentá-lo, como a todos que estão à mesa, a todos que estão presentes nesta sessão.
Eu estou aqui no meu Mato Grosso, no interior do Mato Grosso, e eu quero agradecê-lo pela companhia, pelo trabalho que fazemos juntos na Liderança do Bloco Vanguarda, em que eu tenho a honra de tê-lo como meu Vice-Líder, mas também pela experiência de V. Exa. de ter sido o Ministro da Ciência e Tecnologia e ter implantado aqui o nosso Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal.
Eu hoje posso festejar com V. Exa., porque temos o Estatuto do Pantanal, já aprovado pelo Senado e pela Câmara, e também com a sanção presidencial. Portanto, hoje o nosso Pantanal tem lei, também graças a V. Exa. E vamos trabalhar para que a gente, através da ciência, da pesquisa, do desenvolvimento, possa também fazer com que o nosso Pantanal volte a ser uma região rica, onde o homem pantaneiro, que é o quilombola, o indígena, o ribeirinho, todos aqueles que acreditam na maior área alagada do mundo... Sem dúvida, a ciência é fundamental também para que a gente preserve e possa também fazer o desenvolvimento sustentável.
Hoje, Senador Marcos Pontes, celebramos os 80 anos do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da nossa Universidade Federal do Rio de Janeiro - falo nossa porque é do Brasil e é do mundo, né? -, essa universidade com toda a referência. O instituto, com certeza, é mais do que uma instituição acadêmica: é um gerador de vida, acima de tudo, e também de inovação e de esperança.
E, durante oito décadas, seus cientistas produziram descobertas que impactaram diretamente a medicina, bem como a biotecnologia, a fisiologia, a farmacologia e a formação de milhares de pesquisadores. A ciência, então, que nasce nos laboratórios, chega às mesas das famílias, aos hospitais, ao SUS - que é o maior programa de saúde público do mundo -, e também à prevenção do câncer, às vacinas, aos avanços. Celebramos, com certeza, hoje, ciência, e celebramos também vidas salvas.
Eu quero também dizer a todos que é impossível pensar o futuro do Brasil sem compreender o papel estratégico da pesquisa. Nenhum país se torna grande ignorando o seu capital intelectual. Nenhum país se torna competitivo sem ciência. Nenhum país se torna sustentável sem inovação. Nesse sentido, então, eu reitero: desenvolvimento econômico e preservação ambiental não são caminhos opostos. A ciência é exatamente a ponte que une os dois.
Essa visão tem, e muito, orientado também o meu trabalho agora, na COP 30 - eu estava em Belém, cheguei essa madrugada de Belém -, e lá com agenda sobre logística sustentável, bioeconomia e também a descarbonização.
R
E eu quero aqui também destacar algo essencial: a ciência não pode ser privilégio de regiões específicas; o Brasil só será potência quando crianças, jovens e pesquisadores do Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste tiverem as mesmas oportunidades de conhecimento e infraestrutura. Levar pesquisa ao interior, às universidades estaduais, aos institutos federais e aos polos tecnológicos é uma missão nacional.
E eu quero ainda dizer que Carlos Chagas Filho compreendeu isso desde muito cedo: ciência é comunidade, ciência é país. Por isso, esta sessão homenageia não apenas uma biografia brilhante, mas um conjunto de valores, rigor científico, compromisso público, amor pelo Brasil e fé na educação como ferramenta de libertação social.
Ao parabenizar o Instituto de Biofísica pelos seus 80 anos, quero registrar aqui, também, o meu respeito e admiração a todos seus profissionais - docentes, pesquisadores, servidores, técnicos e estudantes também. Por isso, eu aqui quero repetir e dizer de forma enfática: a ciência brasileira resiste porque vocês resistem, a ciência brasileira avança porque vocês avançam. E deixo aqui uma homenagem que pode ecoar para as futuras gerações: quando um país decide investir na inteligência do seu povo, ele já decidiu vencer.
Por isso, Ministro e Senador Marcos Pontes - de mais de 10 milhões de votos -, a todos vocês que aqui estão, eu deixo, do interior do Mato Grosso - bem aqui, neste estado de três biomas, do Pantanal, do Cerrado, com a sua capacidade de produzir alimentos para a cesta básica do brasileiro e ainda para exportarmos, gerando divisa, e também da nossa Amazônia mato-grossense -, eu deixo aqui, então, um abraço a todos vocês. E tenho certeza de que esta sessão, Senador Marcos Pontes, é uma das sessões mais importantes que o país fez na minha vida política.
Grande abraço. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) - Muito obrigado ao Senador Wellington Fagundes, do Mato Grosso, por sua participação. Dá para perceber que é um dos membros, eu posso dizer, da bancada científica, da bancada da ciência aqui do Senado. Somos poucos, mas somos existentes, para conseguir lutar pelo nosso orçamento e tudo aquilo que interessa para a ciência - e, em consequência, para o Brasil também.
Quero agradecer a presença daqueles que estão aqui na nossa galeria, sejam bem-vindos. Obrigado por acompanhar um pedaço desta sessão especial.
Neste momento, eu concedo a palavra ao Sr. João Torres de Mello Neto, Pró-Reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por cinco minutos.
O SR. JOÃO TORRES DE MELLO NETO (Para discursar.) - Sr. Presidente, Senador Marcos Pontes, nosso astronauta e colega de ofício na aventura do conhecimento; Sras. Senadoras, Srs. Senadores; familiares, amigas e amigos da família Carlos Chagas; é uma honra representar o Reitor Roberto Medronho - que está em missão no exterior - e, por conseguinte, representar a UFRJ nesta cerimônia.
Tomo a palavra neste Plenário para homenagear um brasileiro cuja vida sintetiza, ao mesmo tempo, a grandeza da ciência, a coragem ética e a delicadeza humanista: Carlos Chagas Filho.
R
Desde cedo esse jovem médico compreendeu que amar o Brasil significava, também, construir instituições duradouras, abrir novos caminhos de pesquisa e formar gerações. E foi precisamente isso que ele fez.
Chagas Filho ingressou na Faculdade de Medicina da então Universidade do Rio de Janeiro em 1926. Não foi apenas um bom aluno, terminou o curso como o estudante de melhores notas de sua turma, laureado com um prêmio acadêmico e, ao mesmo tempo, mergulhado na prática hospitalar e nos laboratórios de Manguinhos.
Um momento de revelação o levou a mudar de rumo: um encontro com uma nova maneira de olhar os fenômenos biológicos, sob a luz conjunta da física, da química e da matemática. A biologia podia ser quantificada, modelada, pensada em termos de energia, de cinética, de leis gerais - e isso o fascinou. Ele fez a travessia da patologia para a físico-química dos processos celulares e iniciou uma trajetória original no país, a implementação de um modo de fazer ciência em que o rigor experimental, o cálculo e a interdisciplinaridade caminhavam juntos.
Ao tomar posse na cátedra, em 1937, dirigindo-se à Congregação da tradicional Faculdade de Medicina, ele retoma as palavras do pai e afirma, com uma convicção que viria a marcar toda a sua obra - como já foi mencionado várias vezes aqui -, que na universidade não se pode separar ensino e pesquisa. O ensino deve brotar da pesquisa viva, da curiosidade em ato, da disposição de enfrentar o desconhecido. Essa ideia, simples e revolucionária, tornou-se o lema do instituto que viria a criar.
Em 1945, no contexto da chamada lei da autonomia universitária, nasce o Instituto de Biofísica. Nasce com algo incomum para a época - e, ouso dizer, ainda hoje exemplar: um regimento que explicitava a prioridade da pesquisa científica sobre o ensino, entendendo que este deveria nascer daquele.
Hoje, quando celebramos seu legado neste Senado, é inevitável lembrar que o modelo de universidade que ele sonhou - pública, autônoma, orientada pela pesquisa socialmente responsável - continua sendo uma das principais alavancas de desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e humano do Brasil.
No campo estritamente científico, Carlos Chagas Filho escolheu o caminho do difícil, do sofisticado, do que exige paciência e tenacidade: o estudo dos mecanismos bioelétricos dos seres vivos. Olhar para a trajetória dele é perceber como a curiosidade jamais foi abstrata. Ao mergulhar nos detalhes da bioeletricidade, ele não buscava apenas satisfazer um interesse teórico, mas abrir caminhos que ajudassem a compreender e tratar doenças, a aliviar sofrimento, a trazer ciência para perto da vida concreta das pessoas.
Uma dimensão especialmente singular é a sua atuação na fronteira entre ciência e fé, entre reflexão científica e reflexão ética. De 1972 a 1988, presidiu a Academia das Ciências do Vaticano, convidado pelo Papa Paulo VI, e mantendo uma convivência estreita também com João Paulo II. Nesta função, desempenhou um papel crucial na abertura de um canal de diálogo franco entre Igreja e ciência, num momento em que o mundo enfrentava a corrida armamentista, tensões ideológicas e desafios éticos inéditos.
R
Como físico, para mim, é importante, porque foi ele quem conduziu o processo de reabilitação de Galileu Galilei, quatro séculos depois da condenação do astrônomo pela Inquisição. Esse gesto histórico não foi apenas um ajuste de contas com o passado: foi um símbolo poderoso de que a busca da verdade científica não é inimiga da fé e de que instituições milenares podem, sim, rever decisões, reconhecer erros e aprender.
Num tempo em que, ainda hoje, assistimos à disseminação de negacionismos, teorias conspiratórias e manipulações da boa-fé das pessoas, a figura de Carlos Chagas Filho aparece como um antídoto: um cientista crente, um crente científico, alguém que mostrou, na prática, que fé e razão podem caminhar juntas, desde que ambas estejam ancoradas em valores éticos e no respeito à dignidade humana.
O prestígio de Chagas Filho ultrapassou fronteiras. Ele integrou comissões na Organização das Nações Unidas, presidiu o Comitê Científico para a Aplicação da Ciência e da Tecnologia ao Desenvolvimento e foi representante do Brasil na Unesco entre 1966 e 1970, sempre levando a marca de um país que queria participar, com seriedade, da conversa global sobre ciência, cultura e desenvolvimento.
Foi o segundo brasileiro a ser aceito na Academia de Ciências da França - o primeiro havia sido D. Pedro II -, recebeu 16 títulos de doutor honoris causa, de universidades nacionais e estrangeiras, e foi a quarta personalidade a receber o Prêmio Del Duca, uma espécie de equivalente francês ao Nobel da Paz. Mas talvez o mais importante seja dizer que, apesar de todo esse reconhecimento internacional, ele jamais deixou de se entender, antes de tudo, como professor. Continuou a dar aulas, a orientar jovens, a insistir na ideia de que a ciência não se faz sozinho, nem se faz apenas para si.
Ao homenagearmos Chagas Filho neste Plenário, não estamos apenas voltando os olhos para o passado. Estamos, na verdade, perguntando: que lições sua vida oferece para o Brasil de hoje?
Em primeiro lugar, ele nos mostra que não há projeto de país sem projeto de ciência e educação. Em segundo lugar, sua atuação na Academia das Ciências do Vaticano e nos organismos internacionais nos lembra que a ciência tem uma dimensão ética e política incontornável. E em terceiro lugar, sua capacidade de conciliar fé, razão e compromisso público é um convite ao diálogo num mundo frequentemente polarizado. Em vez de cultivar trincheiras, Chagas Filho cultivou pontes: entre disciplinas, entre culturas, entre modos de ver o mundo.
Senhoras e senhores, ao olhar para a vida de Chagas Filho, vemos uma linha que une Lassance, Manguinhos, a Faculdade de Medicina, o Instituto de Biofísica, ambos na UFRJ, a ONU, a Unesco e a Academia das Ciências do Vaticano. Essa linha não é apenas a trajetória de um indivíduo brilhante. É a prova de que o Brasil é capaz de gerar figuras de projeção mundial quando aposta na educação pública, na pesquisa de longo prazo e na liberdade de pensamento.
A iniciativa do Senador Marcos Pontes, astronauta e cientista, de trazer para este Plenário a memória de Carlos Chagas Filho, cria um elo simbólico importante: do espaço sideral às profundezas da célula, da biologia à engenharia, da investigação básica às práticas de Estado, tudo isso faz parte de um mesmo esforço humano de compreender e cuidar do mundo em que vivemos.
Que esta homenagem não se esgote nas palavras de hoje. Que ela se traduza em compromissos concretos, com o financiamento estável - como a nossa colega já mencionou - à ciência e à universidade pública, com o fortalecimento de instituições como a UFRJ e outras, com a defesa do método científico no debate público, com a promoção da paz e do desarmamento, com o respeito às diferentes formas de fé, sem abrir mão da autonomia da razão.
R
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) - Muito obrigado ao Sr. João Torres de Mello Neto, Pró-Reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Parabéns pelo trabalho.
Eu aproveito este momento também para anunciar a presença do Sr. Francisco Augusto Vargas de Resende e da Sra. Heloisa Leite, proprietários da Fazenda Bom Retiro, localizada no Município de Oliveira, Minas Gerais, onde nasceu Carlos Chagas.
Obrigado. Obrigado pela presença também. (Palmas.)
Eu concedo a palavra agora ao nosso Revmo. Sr. D. Denilson Geraldo, Bispo Auxiliar de Brasília, representando o Arcebispo Cardeal Paulo Cezar Costa. Obrigado.
O SR. DENILSON GERALDO (Para discursar.) - Prezado Senador Astronauta Marcos Pontes, prezada Sra. Maria Pia Chagas, prezados senhores e senhoras, hoje nos reunimos nesta Casa, símbolo do diálogo e da responsabilidade pública, ao celebrar a memória de um brasileiro cuja vida foi marcada pela inteligência, pela integridade e pelo serviço ao bem comum, Carlos Chagas Filho.
Filho de Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, médico e pesquisador de renome internacional, recebeu de sua família não apenas um nome ilustre, mas o exemplo de uma vida dedicada à verdade e à dignidade humana.
Contudo, o mérito de Carlos Chagas Filho está em ter transformado esta herança em vocação pessoal, em ter feito de sua própria existência um testemunho de generosidade, de fé também no poder transformador do conhecimento humano.
Nascido no Rio de Janeiro, cresceu em um ambiente guiado por valores cristãos, onde a fé se unia naturalmente ao estudo e ao trabalho. Desde cedo aprendeu que o saber deve servir à vida e que a grandeza humana se mede pela responsabilidade e pela honestidade com que se exerce uma missão. Esses princípios moldaram a personalidade: um homem sereno, firme nos valores e aberto ao diálogo entre razão e fé.
Ao longo de sua trajetória, Carlos Chagas Filho destacou-se não apenas pela competência científica grandiosa, mas pela capacidade de unir sabedoria e consciência moral. Foi um verdadeiro servidor público, no sentido mais nobre, alguém que via na ciência uma forma de cuidar do outro e de promover a dignidade da pessoa humana.
R
Essa visão o levou a um dos postos mais honrosos que um brasileiro já ocupou na Santa Sé - um brasileiro leigo, isto é, não clérigo, sacerdote ou bispo -, a presidência da Pontifícia Academia das Ciências, de 1972 a 1989. Durante esse período, sob os pontificados de São Paulo VI e São João Paulo II, tornou-se, de fato, uma ponte viva entre a Igreja e a comunidade científica. Defendeu com convicção, portanto, esta relação necessária e intrínseca entre fé e razão, e o desenvolvimento da ciência e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento da fé.
Exmo. Sr. Senador, senhoras e senhores, ao rendermos esta homenagem, portanto, recordamos um brasileiro que honrou o país com a força tranquila da inteligência e da integridade. Que o seu exemplo inspire as novas gerações a unir competência e generosidade, conhecimento e humildade, ciência e fé.
Esta é a mensagem do nosso Cardeal Arcebispo de Brasília, D. Paulo Cezar Costa, a esta tão bela e importante sessão.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) - Muito obrigado ao Revmo. Sr. D. Denilson Geraldo, Bispo Auxiliar de Brasília, representando o Arcebispo Cardeal Paulo Cezar Costa.
Neste momento, eu concedo a palavra à Sra. Maria Pia Chagas, bisneta do homenageado e representante da família Carlos Chagas.
A SRA. MARIA PIA CHAGAS (Para discursar.) - Eu gostaria de falar sem ler, mas falar de coisas do coração sem ler é muito difícil. Então eu vou ler aqui.
Senhoras e senhores, Senadores, autoridades, acadêmicos, cientistas, familiares e queridos amigos, é com profunda emoção que tomo a palavra nesta Sessão Especial em homenagem ao protagonismo da biofísica brasileira, aos 146 anos de meu bisavô Carlos Chagas e aos 114 anos do nascimento de Carlos Chagas Filho, meu avô, e também aos 80 anos da fundação do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho.
Falar deles, para mim, é falar de amor: amor pela ciência, pela ética, pela humanidade e pelo Brasil. Foram homens que uniram o que para uns é impossível, eles uniram a ciência à fé, a pesquisa à ética, e a razão à sensibilidade.
Carlos Chagas, meu bisavô, não só descobriu a doença de Chagas do começo ao fim - vetor, parasita e nova enfermidade -, fato inédito no mundo da ciência, como transformou o destino da saúde pública do Brasil, até antecipando o que viria a ser o SUS.
R
Em 1920, quando ninguém pensava nisso, ele foi o primeiro Diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública. Ele centralizou e organizou as ações de saúde no Brasil.
Imaginem: os navios chegavam, e não tinha nenhuma inspeção. Ele combateu endemias, estabeleceu inspeção nos portos, o serviço de higiene infantil, combateu também doenças como tuberculose e hanseníase, além de estruturar o ensino para profissionais de saúde. E fez tudo isso pensando no nosso país, de dimensões continentais.
Carlos Chagas Filho, meu avô, não herdou apenas o nome, mas também a vocação de servir ao Brasil através da ciência. Ele foi, como já disseram, o fundador do Instituto de Biofísica da Universidade do Brasil, hoje UFRJ; presidiu a Academia Brasileira de Ciências, a Sociedade para o Progresso da Ciência; foi Delegado e Embaixador do Brasil na Unesco em Paris. Eu me lembro bem dessa ocasião, quando fui a primeira vez a Paris para visitá-lo com minha mãe - eu tinha apenas três anos.
Meu avô foi como um embaixador da ciência brasileira no exterior, sendo convidado para membro de inúmeras academias de ciência e medicina mundo afora, que já foram até citadas.
Anos mais tarde, ele presidiu a Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano, cargo em que serviu com muita sabedoria e fé por 17 anos e no qual teve um papel extremamente importante, pois ele abriu a academia para cientistas oriundos de outras religiões. Eu me lembro bem que, antigamente, só católicos podiam falar com o Papa. A partir dali, ele chamou médicos e cientistas do mundo inteiro e também de várias religiões. Isso antes era impossível, mas ele sempre acreditava que a fé sem ciência é cega, e a ciência sem fé é vazia. Para assumir esse cargo, ele colocou uma condição, isso eu me lembro bem: ele jamais ficaria três meses longe do Brasil, do seu Instituto de Biofísica. Ele amava ser brasileiro, ele amava o Brasil.
Foi nesse período que vivi um dos momentos mais marcantes da minha vida, quando participei, levada por meus avós, de uma audiência privada com o Papa João Paulo II em sua biblioteca no Vaticano. Imaginem: era uma manhã - eu me lembro que estava bastante frio em Roma -, nós estávamos todos vestidos de preto em respeito ao Papa e fomos passando por aquelas várias salas lindas, pintadas com afrescos maravilhosos, até chegarmos à biblioteca. Quando eu cheguei àquela biblioteca e a porta se abriu, o Papa veio na minha direção. Eu fiquei tão emocionada que, quando João Paulo II perguntou o meu nome, eu simplesmente não consegui responder, mas, graças a Deus, minha avó Annah estava do meu lado e respondeu por mim: "O nome dela é Maria Pia". Ele sorriu e repetiu: "Maria Pia, Maria 'Piedosa'. Que belo nome!" E naquele instante a minha fé... (Manifestação de emoção.) (Palmas.) É difícil falar de emoção. Naquele instante, a minha fé e a minha forma de ver o mundo se transformaram para sempre, e, durante anos, sonhei com esse momento mágico, que carrego no meu coração até hoje.
Meu avô tinha a capacidade de unir ciência e espiritualidade, de compreender o homem como um ser completo, feito de razão, de sensibilidade e de alma. Ele era extremamente sensível. Eu o vi viver com sabedoria, amor e leveza. Ele tinha umas frases simples que revelavam o espírito leve e o encantamento pela vida. Ele falava - esta até já foi citada pelo nosso Prof. Marcelo -: "Tenho quatro filhas únicas". E ele falava uma frase da qual eu sempre me lembro: "Sou um homem feliz, pois sou pago para me divertir". Para ele, trabalhar era sinônimo de grande prazer e dar aula no Fundão era a sua maior alegria. Certa vez minha mãe me contou que, ao voltar de uma viagem à Europa - eles viajavam e ficavam muito tempo a trabalho e dando palestras -, foi receber os meus avós no porto do Rio de Janeiro e, ao ver meu avô com os cabelos já brancos, começou a chorar. E ele, sempre com muito senso de humor, a abraçou e disse: "Filha, isso aqui é só um pouco de tinta branca do navio que caiu no meu cabelo".
R
Imaginem que, aos 27 anos, ele passou no concurso para professor catedrático, quando a maioria dos professores estão apenas começando a dar aulas.
Ah, o amor! O amor entre meu avô e minha avó Annah é um exemplo para todos nós. Lembro-me de uma cena inesquecível. Já fragilizado em seu quarto, na casa da Rua Francisco Otaviano, quando o médico chegou para examiná-lo, meu avô virou-se para minha avó e perguntou com ternura: "Annahzinha, o que eu estou sentindo?". Era o reflexo de uma vida inteira de muito amor, respeito e confiança, uma cumplicidade única, um casamento real de conto de fadas.
A sua casa, entre o Arpoador e o Forte de Copacabana, na Rua Francisco Otaviano, foi um daqueles lugares encantados que ficaram gravados para sempre na minha alma e na minha memória. Era uma casa repleta de amor, alegria e sempre aberta para mais um. Por lá passaram poetas, escritores, cientistas, músicos, políticos, como Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira - que fez um poema para cada filha única -, Santiago Dantas, Pedro Nava, Jorge Amado, Dorival Caymmi, até Oppenheimer - no meio desses todos - e tantos mais amigos queridos. Todos se sentiam sempre acolhidos pela minha avó Annah, que era a pessoa mais doce, generosa e agregadora. (Manifestação de emoção.) Nossa grande matriarca! Até hoje temos um grupo no WhatsApp da família chamado Annahzetes, onde falamos diariamente sobre diversos assuntos e honramos seu legado. A admiração por meu avô ultrapassou fronteiras, e isso até hoje nos surpreende. Eu me lembro de que, uma vez, em fevereiro de 2006, eu estava numa viagem à China e fui atendida no Hospital Santa Teresa, cujo nome jamais esquecerei, tamanha a devoção da minha avó por Santa Teresinha. Quando o médico soube que eu era neta de Carlos Chagas, o médico chinês me recebeu de tapete vermelho, pois havia estudado o trabalho do meu avô e o trabalho do meu bisavô. Com isso eu fiquei muito impressionada. Naquele instante, percebi que o nome do meu avô havia transcendido o tempo e o espaço, levando para nós brasileiros muito orgulho e reconhecimento. Hoje, ao celebrarmos suas memórias, honramos não apenas os brilhantes cientistas, mas também homens íntegros, educadores generosos, brasileiros que acreditavam no poder da ciência para transformar o país e o mundo.
R
Que a trajetória de Carlos Chagas e Carlos Chagas Filho continue inspirando os jovens cientistas, os professores e todos aqueles que acreditam que o conhecimento é o caminho para um Brasil mais justo, culto e solidário.
Em nome da minha família; da minha tia Maria da Glória; da minha mãe, Silvia Amélia; das minhas tias Margarida e Cristina, que não estão mais aqui; dos 13 netos do meu avô; dos 36 bisnetos; de uma tataraneta, filha da minha filhinha Sylvia Amélia, que está aqui presente; e especialmente da minha muito amada avó Annah, que partilhou cada conquista, cada sonho do meu avô, agradeço profundamente ao Senado Federal, ao Senador Astronauta Marcos Pontes, ao Prof. Marcelo Morales, por essa maravilhosa homenagem.
E lembrem-se sempre de que, segundo meu avô, a fé sem ciência é cega, e a ciência sem fé é vazia.
Muito obrigada. (Palmas.) (Pausa.)
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) - Dando sequência a esta sessão, neste momento nós prosseguimos registrando o reconhecimento do Senado Federal ao protagonismo da biofísica brasileira e à contribuição monumental de Carlos Chagas Filho para a consolidação da pesquisa biomédica no Brasil.
Na qualidade de autor do Requerimento nº 297, de 2025, tenho a honra de apresentar um Certificado de Reconhecimento, que simboliza o apreço do Parlamento Brasileiro ao legado de um cientista que dedicou a sua vida à ciência, à formação de talentos e à institucionalização da pesquisa nacional. Sua trajetória, marcada pelo rigor científico, pelo compromisso com o país e pela projeção internacional da ciência brasileira, permanece como inspiração para todos nós.
Convido os representantes das instituições homenageadas, quando nominados, a se dirigirem à frente da mesa, nesta posição, para a entrega simbólica deste certificado.
Prof. Kildare Rocha de Miranda, Diretor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Palmas.), recebendo homenagem em nome do instituto fundado por Carlos Chagas Filho em 1945, reconhecido nacional e internacionalmente por sua contribuição decisiva à biofísica, a neurociências e à biologia molecular, à fisiologia e à formação de gerações de pesquisadores que moldaram a ciência brasileira moderna.
Prof. Antonio José da Costa Filho, Presidente da Sociedade Brasileira de Biofísica (Palmas.), recebendo homenagem em nome da sociedade, fundada em 1935 e responsável por 90 anos de contribuição contínua ao desenvolvimento científico nacional. A SBBf consolidou a biofísica como campo estratégico do Brasil, articulou programas de pós-graduação, promoveu congressos de impacto e fortaleceu a pesquisa multidisciplinar que projeta o país internacionalmente. Dra. Eliete Bouskela, Presidente da Academia Nacional de Medicina (Palmas.), recebendo homenagem em nome da academia, instituição fundada em 1829 e que, ao longo de quase dois séculos, formou gerações de médicos, pesquisadores e líderes da saúde. A ANM acolheu e reconheceu figuras históricas como Carlos Chagas e Carlos Chagas Filho, mantendo-se até hoje como um dos mais importantes fóruns científicos do país. Dra. Caroline Alves da Costa, Presidente da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
R
(Palmas.), recebendo homenagem em nome da Faperj, criada em 1980, essencial para o fomento à pesquisa de excelência. A fundação apoia projetos estratégicos, fortalece laboratórios de referência, fomenta a inovação e contribui decisivamente para a formação de pesquisadores que sustentam o avanço científico do Brasil. Dra. Maria Pia Chagas Marcondes Ferraz Montenegro, representando a família Carlos Chagas (Palmas.),
recebendo homenagem pelo legado histórico de Carlos Chagas e Carlos Chagas Filho, responsáveis por alguns dos maiores marcos da ciência brasileira. O primeiro, ao descobrir integralmente a doença de Chagas em 1909; o segundo, ao fundar o Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1945, e estabelecer bases modernas para a ciência nacional. Uma linhagem cuja contribuição permanece viva em instituições, pesquisas e na formação de gerações dedicadas ao conhecimento e ao serviço público. Dr. Marcelo Marcos Morales, Pesquisador da Academia Brasileira de Ciências (Palmas.), recebendo homenagem em nome da comunidade científica nacional, representada pela academia desde 1916. A academia exerce papel fundamental na defesa da ciência, da educação, da inovação e da soberania tecnológica brasileira, reunindo alguns dos mais destacados cientistas do Brasil e promovendo políticas públicas que impulsionam o avanço do conhecimento.
Dr. Eduardo Colombari, Presidente da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Palmas.), recebendo homenagem em nome da federação, fundada em 1986 e responsável por integrar algumas das mais relevantes sociedades científicas brasileiras. A FeSBE fortalece a pesquisa experimental, promove congressos conjuntos e estimula a formação de novas gerações de cientistas, ampliando continuamente o impacto da biologia no cenário nacional. Prof. Luiz Carlos Galvão Lobo, médico, professor e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz
(Palmas.), recebendo homenagem em nome da Fiocruz, instituição centenária criada em 1900 por Oswaldo Cruz, que se tornou pilar da saúde pública, referência global em pesquisa biomédica, ensino, inovação e produção de tecnologias essenciais e que guarda parte fundamental do legado científico de Carlos Chagas e Carlos Chagas Filho. Com este ato, nós premiamos aqui algumas das instituições mais importantes da ciência brasileira.
R
Eu tenho certeza de que os nossos jovens que estão assistindo têm essas instituições como referência, e a minha expectativa é que cada um deles, com o desejo e os sonhos de trabalharem com ciência no país, siga o seu propósito, porque nós precisamos desses talentos.
(Procede-se à entrega do Certificado de Reconhecimento aos homenageados.) (Pausa.) (Palmas.)
R
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) - Com este ato, nós também reafirmamos o compromisso desta Casa com a ciência e com a construção de um Brasil cada vez mais forte, inovador e preparado para os desafios do futuro.
Antes de nós seguirmos para o encerramento, eu concedo novamente a palavra - pode ser feito diretamente daqui ou, se quiser... - à nossa Presidente da Academia Nacional de Medicina.
A SRA. ELIETE BOUSKELA (Para discursar.) - Eu acabei de vir da COP 30 e lá eu aprendi um provérbio africano de origem desconhecida que eu acho muito apropriado para a sessão de hoje. O provérbio diz o seguinte: "Se você quiser ir depressa, vá sozinho; se você quiser ir longe, vamos juntos". É só isso.
Obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Astronauta Marcos Pontes. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP. Para discursar - Presidente.) - Chegamos ao final da nossa sessão.
Ao encerrar esta sessão especial, eu sinto que não estamos apenas prestando uma homenagem; estamos reafirmando um compromisso: um compromisso com a ciência, com a educação, com o futuro do nosso país. Hoje, celebramos a vida e o legado de um homem que acreditava no poder transformador do conhecimento: Carlos Chagas Filho. Seu trabalho não foi apenas acadêmico; foi patriótico, foi movido por um profundo amor pelo Brasil e por um senso de responsabilidade que transcende gerações. Ele entendeu que a verdadeira soberania de um país começa na sala de aula, se fortalece nos laboratórios e se concretiza nas políticas que valorizam a pesquisa e o talento humano.
Como astronauta, pude ver o nosso país e o nosso planeta lá de fora. Lá de cima, não existem fronteiras nem diferenças, só um pequeno ponto azul repleto de desafios e possibilidades. E foi justamente com esse olhar ampliado que eu tive a noção exata do papel importantíssimo da ciência e da cooperação. Carlos Chagas Filho, com sua visão global e ação local, também nos mostrou isto: que o Brasil pode - e deve - ocupar seu lugar de destaque no cenário científico mundial.
R
A biofísica brasileira, que ele ajudou a estruturar com tanto esforço e dedicação, é hoje uma das colunas que sustentam o edifício da ciência nacional. E ver aqui, nesta Casa, tantas instituições representadas - universidades, academias, fundações, centros de pesquisa - é a prova viva de que o sonho daquele jovem cientista, nascido há 114 anos, continua vivo e pulsante.
Eu gostaria de, antes do encerramento propriamente dito, também ressaltar algumas das situações que nós vivemos no nosso país e que, de certa forma, foram evidenciadas em alguns dos discursos que nós ouvimos aqui hoje. Eu ressalto, por exemplo, uma parte da fala do nosso querido D. Geraldo sobre a importância da integridade e da inteligência. São momentos que nós vivemos, e nós precisamos ter isso no Brasil. É muito bom que nós tenhamos isto refletido na nossa política, da sociedade para a política, da política para a sociedade: integridade e inteligência.
Eu gostaria até que todos os pais - eu falei isto ontem, aliás, em outra sessão... Um dos meus desejos, dos meus sonhos aqui no Brasil é que todos os pais tenham na sua mente o seguinte mote: "Que meu filho ou minha filha seja mais preparado, seja um melhor cidadão do que eu". Se a gente tiver esse esforço continuado da nossa população, de cada pai, de cada mãe, eu tenho certeza de que o Brasil seguirá num caminho continuamente melhor, gradualmente se aproximando de integridade e inteligência, coisas de que a gente precisa, sem dúvida nenhuma, no nosso país.
Eu fico muito honrado também de ter proposto a colocação do nome ou a inscrição do nome de Carlos Chagas Filho no Livro dos Heróis da Pátria - é uma homenagem merecida. Nós precisamos reconhecer, neste nosso país, aquelas pessoas que definitivamente lutaram pelo desenvolvimento do país, com o sacrifício de uma vida inteira para que isso fosse feito - e ele merece essa homenagem.
Há outro ponto importante com relação à ciência e à religião também, nosso D. Geraldo. Eu vejo que o que une esses dois lados, que algumas pessoas menos avisadas, eu diria, acham que são antagônicos, mas não o são, é justamente o amor: o amor pelas pessoas, pelo bem comum, que tanto a religião quanto a ciência têm como essência estabelecer e promover. Então, eu acho que isso é a ponte que une esses dois lados.
Nós ouvimos aqui o Senador Wellington Fagundes, que também faz parte, vamos chamar assim, da bancada científica, assim como o Senador Izalci. Nós lutamos aqui, a cada dia, para que nós tenhamos mais financiamento; aliás para que nós tenhamos a continuidade, a consistência no financiamento da ciência no Brasil. Parece incrível a gente ter que falar isso continuamente, porque me parece uma coisa tão óbvia. Se olharmos todos os países desenvolvidos - todos eles, sem exceção -, o que eles têm em comum não é língua, não é região geográfica, não é cultura, não é religião. O que eles têm em comum é o financiamento consistente, o foco, a prioridade dada a uma educação, uma educação de qualidade focada em resultados, ciência, tecnologia e inovação para transformar ideias em nota fiscal, empregos, desenvolvimento, qualidade de vida e proporcionar um ambiente de negócios que seja favorável ao desenvolvimento das nossas empresas, principalmente as empresas de tecnologia que hoje se destacam em todas as áreas do conhecimento.
R
Parece simples essa receita, mas, quando a gente vai explicar isso para tantas autoridades, a coisa fica complicada, como se isso fosse rocket science, vamos dizer assim, e não o é. Isso é simples, é estratégico para o país, e não é para amanhã, não é para depois da manhã, não é para daqui a dez anos, como o pessoal costuma dizer: "Nisso aqui eu vou colocar investimento agora, mas só para daqui a dez anos". Não, é agora que precisa. A gente já viu tantas situações no mundo em que a ciência salvou literalmente o planeta. Então, é agora o momento de se investir nisso.
Nós estamos, neste momento, aqui, no Senado, tratando de Orçamento. Muitas vezes eu ouço muitas falas bonitas a respeito do apoio à ciência, do apoio à educação, mas, na hora H, quando se chega ao Orçamento, o que se vê, muitas vezes, são outros projetos ganhando projeção em termos de Orçamento, e a ciência e a educação, que são definitivamente o pilar que sustenta o desenvolvimento, acabam ficando para trás.
Então, é importante que, em uma sessão como esta, em que nós temos uma honra muito grande de estar homenageando pessoas que contribuíram para o nosso país, também nós lembremos que o futuro tem que ser escrito através do compromisso. E aí é importante lembrar o compromisso de todos nós, fora daqui e dentro desta Casa, principalmente dentro do Congresso, para que o Brasil realmente ocupe o seu lugar. Para fazer isso, nós precisamos de orçamento, nós precisamos de que o que for falado seja feito. É aquele negócio que se trata como integridade: pensa, fala e faz tudo na mesma direção. Integridade e inteligência, nós precisamos disso no nosso país.
Eu queria terminar com uma mensagem que trago comigo desde os tempos difíceis da infância, dos estudos técnicos, da aviação e da jornada até o espaço: não existem sonhos impossíveis; existem objetivos que exigem mais esforço, mais estudo e mais determinação. Que o nosso Brasil chegue lá também!
Que a história de Carlos Chagas Filho inspire cada jovem brasileiro a acreditar no seu potencial, a valorizar o estudo, a buscar soluções e nunca desistir diante das dificuldades. Que esta homenagem não fique apenas na memória, mas que também ecoe em ações concretas de apoio à ciência, à inovação e à educação.
Muito obrigado a todos pela presença, pelo respeito e, principalmente, pelo compromisso com um Brasil mais justo, mais inteligente, mais íntegro e mais preparado para o futuro.
Cumprida a finalidade desta sessão especial do Senado Federal, agradeço às personalidades que nos honraram com sua participação. Agradeço também a presença de todos aqueles que estão aqui e daqueles que nos acompanharam pela TV Senado e pelas redes do Senado.
Neste momento está encerrada a sessão especial.
Muito obrigado a todos. (Palmas.)
(Levanta-se a sessão às 16 horas e 11 minutos.)