Notas Taquigráficas
3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
57ª LEGISLATURA
Em 1º de dezembro de 2025
(segunda-feira)
Às 14 horas
180ª SESSÃO
(Sessão Não Deliberativa)
| Horário | Texto com revisão |
|---|---|
| R | O SR. PRESIDENTE (Confúcio Moura. Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO. Fala da Presidência.) - Há número regimental, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos. A presente sessão não deliberativa destina-se a discursos, comunicações e outros assuntos de interesse partidário ou parlamentar. As Senadoras e os Senadores poderão se inscrever para o uso da palavra por meio do aplicativo Senado Digital, por lista de inscrição que se encontra sobre a mesa ou por intermédio dos totens disponibilizados na Casa. Passamos à lista de oradores, hoje temos poucos inscritos. O primeiro da tarde é o Senador Paulo Paim, do PT, do Estado do Rio Grande do Sul, que terá até 20 minutos para o seu pronunciamento. O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS. Para discursar.) - Exmo. Sr. Presidente Confúcio Moura, sempre é uma satisfação usar a tribuna com V. Exa. na Presidência. Aos convidados que estão na tribuna o meu abraço, o meu carinho, o meu respeito. Saibam que esse é um dos grandes mestres na área da educação. Na área de educação, eu diria, ele, o Senador Confúcio Moura, dá aula para nós. Senador, hoje vou falar e espero que eu não faça aqui um discurso de despedida. Na verdade, ontem eu homologuei, no Rio Grande do Sul, por decisão minha, o meu último mandato, depois de sete mandatos - quatro de federal, sendo um de Constituinte, e três de Senador. Eu vou discorrer aqui um pouco sobre aquele momento. Mas, claro, que um discurso para me despedir... As pessoas iam dizer assim: "Mas tem mais um ano ainda". É verdade, é no fim do ano que vem. Sr. Presidente, ontem, pela manhã, participei do encontro do PT do Rio Grande do Sul. Foi um momento histórico na construção de uma frente ampla em defesa do povo gaúcho e de todos os brasileiros. Lá ficou acordada a importância de trabalharmos muito para elegermos Lula Presidente. Edegar Pretto saiu como pré-candidato ao Governo do Estado; Paulo Pimenta, como pré-candidato ao Senado; e Manuela d'Ávila, ainda sem partido, candidata também ao Senado. Quero, Sr. Presidente, aproveitando este espaço, aqui na tribuna do Senado da República, agradecer a todos, desde o Presidente do PT do Rio Grande do Sul, Deputado Valdeci Oliveira, ao grande Líder do nosso estado, ex-Constituinte comigo, o ex-Governador Olívio Dutra. |
| R | Quero agradecer também ao ex-Governador do meu estado, líder respeitadíssimo, Tarso Genro; agradecer ao ex-Prefeito de Porto Alegre, que foi também Deputado, Raul Pont; agradecer ao Líder do PT na Assembleia Legislativa, que já foi Deputado Federal e foi sindicalista junto comigo, o Deputado Estadual Miguel Rossetto, que já foi também Ministro, como o Olívio foi; agradecer ao companheiro Júlio Quadros - o nome já diz -, um grande quadro da classe trabalhadora, um defensor das políticas humanitárias; agradeço às Executivas Estadual e Nacional, a todos os Deputados Estaduais e Federais, Vereadores, Vereadoras, Prefeitos e a todas as correntes internas do PT gaúcho, que, até a última hora, Presidente, queriam que eu liberasse e que lhes apresentasse uma carta entregue ao partido, para que eu continuasse com mais um mandato para o Senado. Tivemos naquela manhã-tarde também um ato que contou com as representações do Psol - sempre estivemos juntos em todas as minhas campanhas, a quem agradeço também aqui -; do PCdoB, que sempre estiveram junto comigo em todas as campanhas; do PSB, que sempre esteve comigo em todas as campanhas - me lembro aqui do Beto Albuquerque e de tantos outros -; do PV, Rede e Avante, aqueles que compõem hoje a proposta da Frente Ampla no Rio Grande do Sul. Fica aqui um carinho especial - estavam lá também ontem - ao movimento sindical, a todas as centrais nacionais e estaduais, que inclusive viajaram comigo pelo estado, fazendo o bom debate das pautas dos trabalhadores, como o da previdência, da CLT, da pejotização, que são preocupações nossas, da própria escala 6x1, para que nós temos uma proposta aqui e de que V. Exa. é um dos signatários como apoiador, claro, para o debate que reduz a jornada sem redução do salário. Agradeço a todos que têm essa visão de que o direito dos trabalhadores e das trabalhadoras tem que ser respeitado. Discutimos, nas viagens que fizemos, o trabalho escravo, a questão dos MEIs, a questão da uberização da economia. Enfim, agradeço também ao movimento negro, que, até o último minuto, Sr. Presidente, fez apelos para que eu continuasse mais um mandato. E V. Exa. me apoiou muito aqui. Todos os projetos que apresentamos - foram dezenas - aprovamos, no Senado primeiro e depois na Câmara, em defesa dos homens negros e mulheres negras, para que não haja nenhum tipo de discriminação no nosso país. |
| R | O movimento dos aposentados e pensionistas, que sempre estiveram ombro a ombro, do nosso lado, na caminhada pela construção de um Brasil melhor para todos, o movimento das mulheres, o movimento dos estudantes, da juventude, o movimento das pessoas com deficiência, o movimento dos trabalhadores da área pública e da área privada, enfim, todos os movimentos sociais estavam lá com representações. Quero agradecer a todas e todos que, de uma forma ou de outra, sempre expressaram carinho e solidariedade ao longo destes meus 40 anos de vida pública, já colocando, claro, o ano que vem. Quero aqui, Presidente Confúcio, enfatizar a minha admiração e o orgulho que eu tenho das minhas duas suplentes, uma mulher negra e uma mulher branca: Cleonice Back, uma mulher agricultora, muito preparada, que me representava na maioria dos eventos lá no Rio Grande do Sul enquanto eu estava aqui, fazendo o bom trabalho junto com V. Exa. e tantos outros Parlamentares. Cumprimento também Reginete Bispo, uma mulher negra que nos ajudou, porque, quando ela assumiu aqui, como titular, a Câmara dos Deputados - ela foi Deputada Federal -, me ajudou muito a aprovar inúmeras leis, entre elas, a dos Lanceiros Negros no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, que aprovamos aqui, e também o do feriado de 20 de novembro, de Zumbi dos Palmares, de que ela foi Relatora lá. Estou falando dois exemplos, porque não vou falar todos, mas quero aqui, com muito carinho, se elas estiverem me ouvindo neste momento, Cleonice Back e Reginete Bispo... Ambas assumiram, inclusive, no estado, o diálogo com todos os setores, fazendo um apelo para que eu aceitasse concorrer mais uma vez. Elas são incansáveis, sempre levando o nosso mandato a todos os cantos e recantos do nosso querido Rio Grande do Sul. Aceitem as duas o meu carinho, o meu abraço e as minhas palmas. São palmas talvez lentas, que vocês não ouvem aí, mas são palmas do coração. São palmas... (Interrupção do som.) O SR. PRESIDENTE (Confúcio Moura. Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO) - Um, dois, três, um, dois, três. Caiu tudo aqui, está sem som de tudo. Pronto, chegou. O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS) - Voltou. Presidente, eu falava e V. Exa., notei, ouvia com muita atenção esse relato que eu faço dessas duas mulheres, que, repito, uma branca e uma negra... Porque eu sonhei com isto: um país onde brancos e negros caminham juntos, constroem juntos um país para todos. Nós somos um país que é, praticamente, eu diria... Temos aí cinquenta e poucos por cento de brancos e, de negros, a mesma coisa, se não me engano, 54%, não estou precisando o número exato aqui. |
| R | Eu dizia que elas são incansáveis e sempre levaram o nosso mandato a todos os cantos e recantos do nosso querido Rio Grande do Sul. Eu dizia palmas à Cleonice Back e palmas à Reginete Bispo. São de fato, na minha ótica, as suplentes mais titulares que eu já vi desde o início até hoje e continuarão, claro, no ano que vem. Demonstraram um profundo conhecimento político e a certeza de que a boa luta é a base de construção de um Rio Grande do Sul melhor e de um Brasil gigante com justiça e igualdade social. Vamos em frente, sempre buscando a felicidade das pessoas, fazendo política com alma e coração - com alma e coração, - sempre sem se esquecer de onde viemos, olhando o presente e rumando para o futuro. Por fim, quero registrar que recebi, nos últimos meses, muitas e muitas homenagens e apelos para ser novamente candidato. E é por isso que quero fazer uma breve homenagem aos militantes que sempre defenderam as causas sociais, militantes da vida, militantes dos direitos, militantes que sempre olharam para a nossa gente com um olhar carinhoso e respeitoso de melhorar a qualidade de vida de todos. Sr. Presidente, eu escrevi a carta aos militantes e entreguei a eles. E, se V. Exa. permitir, nesses sete minutos que me faltam, eu vou ler essa carta aos militantes que escrevi. O mar formado pelas bandeiras dos militantes é muito mais do que um símbolo do povo brasileiro: é um conceito de mudança. Esse mar fica agitado quanto maiores forem os ventos. No entanto, jamais se submete aos açoites das tempestades, porque eles são rebeldes, rebeldes com causas. Tampouco ele se submete às calmarias, não permitindo que o deixem inerte. Ele segue sempre agindo, com silêncio ou com gritos, mas sempre em movimento. Os militantes sabem que correm o risco dos naufrágios, correm o risco de serem levados pelas ondas, mas, no fim das contas, isso não importa, pois há uma missão a ser cumprida: eles querem alcançar as areias da praia. |
| R | Aqueles que militam dedicam-se, de corpo e alma, aos serviços de uma luta boa e justa. Quanto mais e mais o povo pede ajuda, lá estão os militantes anônimos martelando, forjando o aço, lapidando a pedra da sabedoria e ajustando os seus ângulos, muitas vezes com a voz rouca e bandeira sempre levantada ao tremor do vento em direção aos céus. Não importam os descaminhos, eles, os militantes, sempre darão um jeito de escalar as montanhas e concretizar os sonhos da plena liberdade humana, da justiça social e do trabalho digno. Presidente, e tudo isso é ser um verdadeiro militante. Com eles muito eu aprendi. Com muito orgulho, eu digo: como é bom amar todos vocês. (Manifestação de emoção.) Aprendi também que, a partir dos anseios, dos gritos dos discriminados e dos excluídos, dos que passam fome, mas que você ouve somente o seu andar de tamanco, de chinelo ou até mesmo de pés descalços nas ruas, nas avenidas e nas praças das nossas cidades, do aroma que emerge dos campos e das florestas trazido pela nossa gente, é assim que se constrói uma nação: ouvindo o rufar dos tambores. Dias magníficos tenho vivido nestes meus 40 anos - e vai dar 50 anos, se eu contar o meu tempo de líder estudantil e mais cinco de sindicalista. Eu posso dizer, repetindo: dias magníficos vivi ao lado de vocês, militantes, alguns tristes, alguns de luto, quando perdíamos, no bom combate, a aprovação de uma ou de outra lei, mas muitos mais de alegria, porque, mesmo quando eu estava triste... Muitas vezes chorei, e não tenho vergonha de dizer isso, chorei porque eu queria melhorar a qualidade do nosso povo, mas vocês vinham juntos e cantavam com uma cumplicidade, com uma simplicidade eterna. Aprendi, Presidente, a ser construtor de um Brasil com direitos e oportunidades iguais para todos e que também respeita sempre as diferenças. Vocês me deram lições, eu jamais esquecerei, meus queridos e queridas militantes. Aprendi com vocês. Eu comecei a trabalhar muito cedo e, quando eu dizia que, com oito anos, eu amassava barro lá com um velhinho muito querido, que já faleceu, mas, se eu pudesse, eu faria uma homenagem a ele, Atílio Bovo, que dizia: "Amasse o barrinho, entregue para mim, eu vou fazer os vasos, eu vou te ajudar para que você possa comprar as coisas, para que você vá para o colégio"... |
| R | Aprendi com eles que lugar de criança é na escola. Aprendi com eles que filho de pedreiro também pode ser doutor. Aprendi com eles que essa história que eu conto... Não é negar a história, mas sempre digo no fim: lugar de criança é na escola, meu Professor. V. Exa. também, na tribuna, fala isso. Aprendi que negros, índios, mulheres, idosos, pessoas com deficiência também têm o direito de dizer em alto e bom tom: "Nós somos brasileiros; queremos ocupar os nossos espaços". Os partidos, aprendi com os militantes, devem ser ferramentas para defender os ideais de um povo. Os partidos não podem perder a sua essência. As causas estão acima de siglas e de nomes. O coletivo é o mais importante. Sr. Presidente, com certeza precisamos analisar os erros cometidos para que eles nunca mais se repitam. Se em algum momento nós erramos, é porque nós saímos da orientação do nosso povo, do caminho que os militantes nos ensinaram. Vocês são os verdadeiros líderes militantes. O leme está em suas mãos. E nós temos que entender, respeitar e seguir essa orientação. Somos irmãos; somos companheiros, somos caminhantes a fazer o caminho que vocês nos ensinaram, baseados no poeta que já disse que o caminho a gente faz caminhando. (Soa a campainha.) O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS) - Vamos continuar lado a lado da nossa gente, ao lado das suas dores e do seu direito sagrado de continuar sonhando. Podem dizer, se quiserem, que somos sonhadores, mas ninguém - ninguém - vai nos proibir de continuar a lutar e a sonhar para melhorar a qualidade de vida de toda a nossa gente. Se fosse preciso, tenho certeza de que faríamos tudo outra vez, como jovens, caminhantes e estradeiros que somos, ouvindo e abraçando com a absoluta certeza de que o verbo esperançar, tão bem nos lembrado no legado de Paulo Freire, ainda continua sendo a única fonte inesgotável de vida, das nossas vidas, do nosso país. Sim, esperançar é preciso. A luta que começamos lá atrás... Outros vieram antes de nós, os nossos mais velhos, nossos bisavós, tataravós, e já fizeram um bom combate. |
| R | E nós agora estamos, na verdade, recém-começando, aprendendo com vocês. Por isso, Presidente, termino dizendo: vivam os militantes e suas bandeiras! Vivam os trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade! Viva o Brasil! Viva a democracia! (Soa a campainha.) O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS) - Com a democracia, tudo; sem ela, nada. Vida longa aos nossos aposentados! Se nós estamos aqui é porque eles construíram as estradas para a gente poder, neste minuto, estar na tribuna do Senado da República do nosso querido Brasil fazendo este pronunciamento. Viva toda a nossa gente! Viva todo o povo brasileiro! Muito obrigado, Presidente Confúcio, por essa oportunidade que V. Exa. me deu, presidindo a sessão para que eu fizesse esse pequeno, mas pode crer... pronunciamento que eu fiz, dando aquilo que vinha na minha alma e no meu coração até a conclusão. Obrigado, Presidente. O SR. PRESIDENTE (Confúcio Moura. Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO) - Senador Paulo Paim, se eu fosse gaúcho, eu também pediria a mesma coisa: para você continuar mais um mandato. Isso não é à toa: essa devoção, esse apelo coletivo dos militantes gaúchos são pela sua folha de serviço prestado ao Brasil; não só ao Rio Grande do Sul, mas ao país inteiro. O senhor, aqui dentro, goza de um respeito profundo de todos - todos -, de todos os extremos. O senhor consegue permear e andar tranquilo, pelo seu decoro, respeito que tem a todos os companheiros, tanto lá na Câmara quanto aqui no Senado. O senhor é um Parlamentar raro, precioso, é um diplomata por natureza, um homem de bom senso, um homem de acordo. E quando a V. Exa. pega uma causa para defender, um projeto para apresentar ou relatar, o senhor o faz com o coração, e não desiste nunca - o senhor não desiste nunca -, até que a lei seja efetivamente aprovada ou, caso contrário, emendada ou rejeitada, mas o senhor vai até o final. Então, esse apelo gaúcho é um apelo extremamente justo. Tem raros políticos no Brasil que merecem o que o senhor recebeu, esse apelo emocionado, esse apelo do coração da militância gaúcha. É pelo seu legado, o seu trabalho. E aqui mesmo, se a gente fizesse uma eleição aqui entre nós, de todos os partidos, o senhor seria reconduzido, devido ao seu trato fino, raro neste mundo de polarização, este mundo de gritos, onde não se tem mais os focos nos debates de alto nível, os debates mais realmente divergentes, mais eloquentes e convincentes. O senhor persiste em ser um Parlamentar extremamente cordial com todos os colegas. Isso é muito bonito e muito precioso. Então é por isso que o senhor está emocionado, é por isso que os companheiros gaúchos todos pediram, conclamaram a sua participação em mais uma eleição, mas o senhor é que realmente julga a conveniência de mais um mandato, porque é realmente exaustivo. |
| R | E eu olhando para trás: a sua folha de serviço é irreparável, é maravilhosa. Então, eu quero me somar a todo esse coro dos seus admiradores, para que realmente, se o senhor pudesse repensar, seria um bem para todos nós, mas respeitamos a sua opinião, os seus motivos, a sua própria decisão. Assim como o senhor entrou, o senhor está querendo sair com as suas próprias pernas, na hora em que o senhor julgar mais conveniente, e isso é maravilhoso, isso é simplesmente fantástico! Então, parabéns pelo seu discurso e parabéns a todos os militantes do Estado do Rio Grande do Sul! Eu não sei da sua agenda. Eu gostaria de falar aqui um discurso também, mas, se o senhor tiver compromisso, o senhor está liberado. O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS. Fora do microfone.) - Se eu tivesse compromisso, eu suspenderia. O SR. PRESIDENTE (Confúcio Moura. Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO) - Então, muito obrigado. (Risos.) O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS. Fora do microfone.) - Com muito orgulho, vou assumir a Presidência para ouvir V. Exa. O SR. PRESIDENTE (Confúcio Moura. Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO) - Muito obrigado, muito obrigado! (O Sr. Confúcio Moura, Segundo-Secretário, deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. Paulo Paim.) O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS) - Senador (Fora do microfone.) ... Confúcio Moura, se V. Exa. me permitir, eu gostaria que a sua fala eu pudesse colocar no fim do meu pronunciamento, quando V. Exa. aqui expressou o seu ponto de vista em relação à trajetória deste seu simples amigo, para que possa, quando me pedirem cópia, ir a sua opinião junto. O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO. Fora do microfone.) - Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS) - Eu que agradeço. O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO. Para discursar.) - Sr. Presidente, Senadores e Senadoras que estão à distância, eu quero, assim, cumprimentar as galerias, as pessoas que estão aí nos assistindo. Hoje, segunda-feira, é uma sessão só de discursos, debates, encaminhamentos, e os Parlamentares ou estão nos gabinetes, ou estão cumprindo agendas, ou estão nos seus estados, e apenas, hoje, aqui, só estamos o Senador Paulo Paim, do Rio Grande do Sul, e eu, do Estado de Rondônia. Eu quero iniciar o meu discurso nesta tarde pedindo licença para falar do Flamengo. (Risos.) Realmente, mexeu com os brios do povo brasileiro... O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS) - Sou parceiro, viu? Sou parceiro! O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO) - ... mexeu muito! Essa vitória do Flamengo, lá em Lima, no Peru, foi realmente... mexeu com esta nação rubro-negra brasileira, e foi uma euforia muito grande, 40 milhões de torcedores muito alegres, entusiasmados. Você sabe que a gente tem nossas mazelas, nossas dificuldades, nossos clamores, nossas injustiças, nossas desigualdades, mas o futebol nos une em parte, porque realmente é um esporte das multidões, e nós gostamos do futebol, cada um torce pelo seu time - eu torço pelo Flamengo e fiquei muito feliz com essa vitória na Libertadores. Mas eu quero começar este pronunciamento para falar do time, do futebol, e faço isso, porque o título deste discurso é o "Brasil que tem CEP". CEP é aquele endereço postal dos Correios. Todos nós, vocês que estão aqui e quem está me ouvindo, moramos num lugar que tem CEP, uma identificação postal. |
| R | Então, o Brasil é um país que tem CEP, isto é, ele conversa diretamente com aquilo que o futebol nos ensina: quando há estrutura, quando há base, quando há organização, até um menino da rua esburacada tem chance de vencer. Assim também são os jogadores de futebol: grande parte são pessoas muito simples, meninos pobres, que desenvolvem esta habilidade, este reflexo cerebral de pegar uma bola e jogar a bola onde ele quer, e isso não é fácil. Você estar ali jogando e imaginar... Aquilo é uma decisão de segundos. E joga aquela bola lá para o companheiro ou chuta a gol. Então, são reflexos de uma capacidade, um talento inato da pessoa. Quando um clube é sério, quando ele tem gestão, planejamento, base estruturada, nutrição adequada, psicólogos, treinadores competentes, um sistema claro de evolução do menino pobre, aquele que treina no chão batido, aquele que sonha com uma chuteira nova, aquele que dribla com dificuldades desde cedo encontra uma oportunidade real de mudar o seu próprio destino. O talento ele já tinha, e faltava a estrutura de um time. Foi a oportunidade que transformou o caminho de cada atleta no mundo inteiro. E é exatamente aí é que começa a reflexão sobre o Brasil que tem CEP. Um país só cria oportunidades quando entrega base sólida, quando dá condições reais, quando reconhece seus jovens como cidadãos inteiros; não pela região onde nasceram, mas pelo projeto de país que os abraça. O Brasil vive um momento tenso. O cidadão sente que a vida ficou difícil demais, e, por vezes, parece que o país perdeu o compasso. Há uma distância crescente entre o que as pessoas precisam e o que as pessoas realmente conseguem receber. E nada ameaça tanto uma nação quanto o sentimento de abandono. Hoje, no Brasil, o Código de Endereçamento Postal (CEP) ainda define o tamanho da cidadania da pessoa, e é essa uma ferida que não fecha. Existem brasileiros tratados como mais ou menos brasileiros, de acordo com o endereço onde nasceram - essa desigualdade geográfica que fere, que divide, que humilha e que não pode ser normalizada. Eu venho de Rondônia e, quando percorro aldeias, comunidades ribeirinhas, ramais quase intransitáveis, periferias esquecidas, o que eu encontro são brasileiros completos, dignos, trabalhadores, mas que recebem do Estado apenas algumas migalhas, como se vivessem em regiões sem o Código de Endereçamento Postal, sem o CEP. Vejo jovens indígenas com sede de conhecimento. Eu fiquei muito satisfeito - aqui eu abro um parêntese - quando, na semana passada, o Presidente Lula lançou a universidade para as comunidades, para os povos indígenas. |
| R | Eu achei, assim, o máximo, uma universidade aqui, em Brasília, dedicada especialmente à manutenção das tradições, das línguas, das culturas das comunidades indígenas brasileiras. Uma homenagem extremamente gratificante, uma homenagem grandiosa para o povo brasileiro como um todo, porque, se analisarmos a genética nossa, nós vamos ver que essa mestiçagem brasileira é composta de sangue europeu, de genes europeus, indígenas, negros, e nós somos, antes de tudo, mestiços. Essa mestiçagem é que dá essa beleza ao povo brasileiro. Vejo filhos de agricultores com sonhos maiores que as estradas que precisam enfrentar e que seguem sem CEP. Vejo mães que fazem milagres para que os filhos estudem, comam, cresçam, lutando todos os dias para aproximá-los daqueles que têm um código melhor. Essas pessoas não pedem favor; elas pedem justiça, elas pedem presença do Estado, elas pedem reconhecimento, elas pedem que o Brasil olhe para elas com o mesmo respeito com que olha para qualquer grande centro urbano, aqueles que têm um CEP diferenciado e especial. Fala-se muito em futuro neste país, futuro promissor, futuro tecnológico, futuro moderno, mas para milhões de brasileiros esse futuro nunca chega, e não chega porque falta dignidade no presente. Quando não falo em presente, não falo de milagres, falo de funcionamento. A escola que ensina e acolhe, a saúde que atende e resolve, a infraestrutura que liga dois pontos e protege, a cultura que amplia horizontes, o saneamento que evita doenças, a segurança que dá a paz, o trabalho que garante a autonomia. É no cotidiano que o país se constrói, é na vida real que o Brasil precisa estar presente. Eu já ouvi muitas promessas de modernização durante toda a minha vida, mas aprendi que modernizar não é importar máquinas; é incluir pessoas - isso que é modernização. É garantir que ninguém fique para trás - esse é o grande objetivo. O que um jovem brasileiro quer não é milagre; ele quer coerência, previsibilidade, oportunidade real; é saber que, se ele estudar, se ele trabalhar, se ele fizer a parte dele, o Estado também fará a sua parte. E volto ao futebol, porque o exemplo é simples e poderoso. Um clube sério não promete título; promete estrutura, promete formação, promete trabalho diário, promete caminho para os seus atletas e para os seus torcedores. E o caminho é que cria o talento. O Brasil precisa oferecer aos seus jovens exatamente isto: um caminho possível, um ambiente fértil, um projeto nacional claro, que diga: "Você tem valor, você tem direitos, você tem um lugar neste país". O jovem que sente que o Brasil desistiu dele desiste do Brasil também, mas o jovem que se sente visto levanta o país inteiro. E é isso que precisamos garantir, não para o futuro, mas para o presente que está acontecendo. |
| R | Senhoras e senhores, nenhuma nação se torna soberana sem cuidar integralmente da sua gente. A Amazônia não será protegida enquanto os amazônidas forem esquecidos; o Brasil não será integrado enquanto o brasileiro for dividido pelo Código de Endereçamento Postal, pelo CEP; e a esperança não voltará enquanto o Estado não voltar para perto das pessoas. A minha missão aqui é contribuir para isso, para que o Brasil reencontre o seu projeto, a sua unidade, a sua dignidade, e para que cada jovem, do Oiapoque ao Chuí, da Zona Leste de São Paulo às margens do Rio Madeira, lá no Estado de Rondônia, possa levantar a cabeça e dizer: "Eu sou o Brasil, o Brasil acredita em mim; agora eu tenho o endereço, um código postal que não me discrimina, que não me elimina, que não me desqualifica. Agora, finalmente, eu vou vencer". É esse o meu discurso, Sr. Presidente. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS) - Muito bem, Presidente Confúcio Moura. V. Exa., brilhante como sempre, deu uma aula para todo o Brasil; mostrou qual é o caminho. E V. Exa., com uma inteligência, que eu diria, especialíssima... V. Exa. começou falando do futebol - eu também sou flamenguista, viu? -, do jogo do Flamengo e do Palmeiras, daquele gol magnífico, em que aquele zagueirão foi lá no terceiro andar, cabeceou e liquidou o jogo. E V. Exa. buscou o exemplo do futebol e terminou na linha da educação, do conhecimento, do saber, da formação, para que qualquer brasileiro, esteja onde estiver - se estiver lá em Manaus, se estiver lá no meu Rio Grande do Sul, se estiver no seu estado, enfim -, acredite que pode chegar. Nós chegamos aqui; o Flamengo chegou lá, pela quarta vez, se eu não me engano. Pela quarta vez campeão da América, da Libertadores, né? Da Libertadores. Isso que eu joguei futebol quando era moleque, viu? Eu só quero cumprimentá-lo com muito carinho e dizer que sempre é uma alegria ouvir V. Exa. O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Democracia/MDB - RO. Fora do microfone.) - Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - RS. Fala da Presidência.) - Hoje deu mais uma aula. Registramos a presença, na galeria, dos alunos do curso de Relações Internacionais da Ânima Educação, do Rio de Janeiro. Aceitem as nossas palmas e sejam sempre bem-vindos aqui. (Palmas.) Como disse o Senador Confúcio, hoje é uma segunda-feira, e a maioria dos Parlamentares está em atividade nos seus estados; outros, por motivos próprios e que os levaram... Eu vim fazer um balanço de uma atividade que eu tive no Rio Grande no Sul e por isso eu estou aqui, mas eu queria que vocês soubessem que, na terça, quarta e quinta, é o espaço de mais agitação aqui. Agitação no bom sentido, né? Plenário lotado, o embate político é duro, e sempre um embate que eu entendo que tem que ser firme, corajoso, mas respeitoso, né? Respeitar os que pensam diferente. Assim que nós vamos construir um país para todos. Sejam bem-vindos! |
| R | A Presidência informa às Senadoras e aos Senadores que estão convocadas as seguintes sessões para amanhã, terça-feira: sessão especial, às 10h, destinada a comemorar os dez anos de atuação da Liga do Bem, que fez, inclusive, um belíssimo trabalho no Rio Grande do Sul - levaram jamantas e jamantas de doações do Brasil todo para lá, naquela época das enchentes. Teremos também sessão deliberativa ordinária, às 14h, com pauta divulgada pela Secretaria-Geral da Mesa. Enfim, cumprida a finalidade desta sessão, a Presidência declara o seu encerramento. Muito obrigado a todos. (Levanta-se a sessão às 14 horas e 44 minutos.) |

