3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA
57ª LEGISLATURA
Em 4 de dezembro de 2025
(quinta-feira)
Às 15 horas
185ª SESSÃO
(Sessão Especial)

Oradores
Horário

Texto com revisão

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O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF. Fala da Presidência.) - Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.
A presente sessão especial foi convocada em atendimento ao Requerimento 465, de 2025, de autoria desta Presidência e de outros Senadores, aprovado aqui no Plenário do Senado Federal.
A sessão é destinada a homenagear Rorion Gracie pelos cem anos do jiu-jítsu no Brasil - 1925 a 2025.
Convido, para compor a mesa desta sessão especial, os seguintes convidados: Sr. Rorion Gracie, homenageado desta sessão especial, Grande Mestre de jiu-jítsu brasileiro, conhecido por ser o cofundador do UFC e por ter levado o jiu-jítsu brasileiro para o mundo. (Palmas.)
Convido o Sr. Carlos Alberto da Cunha Júnior, Subprocurador-Geral do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. (Palmas.)
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Convido também o Sr. Luis Roberto de Moraes Duarte, representante da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer do Governo do Estado do Rio de Janeiro. (Palmas.)
Convido também a Sra. Pricila Menin, Presidente do Instituto InvestBrasil. (Palmas.)
A Presidência informa que esta sessão terá também a participação do seguinte convidado: Sr. João Alberto Barreto, faixa vermelha de jiu-jítsu e um dos discípulos do Grande Mestre Hélio Gracie. (Palmas.)
Convido a todos para, em posição de respeito, acompanharmos o Hino Nacional.
(Procede-se à execução do Hino Nacional.) (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF. Para discursar - Presidente.) - Registro, aqui, a presença do nosso nobre colega Senador Chico Rodrigues, que convido para compor a mesa.
Convido também a mestra e campeã brasileira de jiu-jítsu, Sra. Yvone Magalhães Duarte. (Palmas.)
Quero cumprimentar aqui meu querido Senador Chico Rodrigues; o nosso Subprocurador-Geral da Procuradoria-Geral do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, Carlos Alberto da Cunha Júnior; Luis Roberto de Moraes Duarte, representando aqui a Secretaria de Esporte do Estado do Rio de Janeiro; o Sr. Rorion Gracie, Grande Mestre de jiu-jítsu e homenageado; a Presidente do Instituto InvestBrasil, Sra. Pricila Menin; e a Sra. Yvone Magalhães Duarte, mestra e campeã brasileira de jiu-jítsu.
Quero cumprimentar aqui também todos os atletas, todos os professores, convidados.
No século passado, uma semente estrangeira encontrou solo brasileiro, e foi nesse solo que essa semente batalhou para crescer, porque sabia que era no chão que a luta de verdade começava.
Em 1925, no Rio de Janeiro, o jiu-jítsu japonês chegou silencioso, quase tímido, sem imaginar que aqui acabaria encontrando uma identidade própria, moldada pelo caráter de um povo que transforma dificuldade em oportunidade; limite em superação; força em vitória.
Os frutos que vieram dessa semente não pertencem apenas a uma modalidade esportiva; pertencem ao Brasil e pertencem a todos que, ao longo desses cem anos, deram coração, forma, método e alma ao que hoje conhecemos como jiu-jítsu brasileiro. E, entre todos esses nomes, um se ergue como referência, marco e símbolo: Rorion Gracie.
Homenagear Rorion nesta Casa é reconhecer que certos patrimônios culturais não nascem de políticas públicas; nascem de persistências familiares, de garagens improvisadas, de sonhos que insistem em sobreviver mesmo quando o resto do mundo ainda não os compreende.
Foi assim com Carlos e Hélio Gracie, que receberam o jiu-jítsu japonês como quem acolhe um ilustre visitante e ousaram fazer dessa arte marcial algo novo. Foi então que o jiu-jítsu se transformou, se recriou, se abrasileirou.
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Assim, crescia uma tradição viva. Porém, tradições vivas precisam de representantes capazes de levá-las além das paredes onde nasceram. E foi exatamente aí que o destino apresentou ao Brasil e ao mundo a figura singular de Rorion Gracie, homem que acreditou que o jiu-jítsu brasileiro não deveria permanecer somente onde foi criado, mas onde fosse necessário.
Aos 26 anos, com mais coragem que recursos, Rorion atravessou o continente e desembarcou na América. Levava pouco na bagagem, mas levava consigo tudo o que realmente importa quando o mundo parece um grande adversário: conhecimento, preparo, serenidade e a crença de que não existe posição impossível para quem tem técnica e disciplina.
E foi em uma garagem, assim como surgiram as grandes ideias do século XX, que aquele jovem brasileiro iniciou uma das maiores revoluções esportivas e culturais de nosso tempo. A garagem de Los Angeles tornou-se a extensão da garagem do Rio, como se as duas fossem portas de um mesmo templo: o templo do jiu-jítsu brasileiro.
A Gracie Academy, fundada por Rorion e seus irmãos, transformou-se em referência mundial. Mas o mundo ainda precisava ver, de forma incontestável, aquilo que o Brasil já sabia desde os anos 30: que inteligência vence brutalidade, que estratégia supera força e que técnica, trabalhada com humildade, vale mais que qualquer impulso.
Em 1993, Rorion concebeu o título UFC. Não era apenas um evento; era um experimento prático, um laboratório ao vivo para responder a uma pergunta antiga: qual arte marcial é realmente eficaz quando tudo se resume ao corpo, à mente e à coragem?
A escolha de Rorion Gracie para representar a família foi um capítulo à parte. Em um cenário de gigantes, surgia um lutador leve, de aparência comum, sereno como os grandes mestres que não precisam provar nada. E o mundo assistiu perplexo, enquanto ele, com técnica refinada e postura tranquila, derrubava a lógica e vencia um adversário após o outro, dominando oponentes aparentemente indomáveis. E foi ali, diante de milhões, que uma verdade ancestral tornou-se visível: a força pode impressionar, mas a técnica transforma.
Aquele momento não mudou apenas a história das artes marciais; mudou a história do esporte mundial. Deu origem ao MMA, hoje uma das modalidades mais populares do planeta, colocando o Brasil no centro de uma revolução cultural que influenciou academias, projetos sociais, polícias, escolas e famílias inteiras, porque o jiu-jítsu brasileiro, mais que arte marcial, tornou-se ferramenta de vida: em comunidades vulneráveis, desviou jovens do crime; em corporações de segurança, ensinou que controle subjuga a violência; em lares, tornou-se ponte entre pais e filhos; e, em academias pelo mundo, formou cidadãos mais fortes no corpo e mais sábios na mente.
Celebrar Rorion Gracie é celebrar o Brasil que não se dobra às dificuldades, o Brasil que cruza fronteiras sem abandonar suas raízes, o Brasil que reinventa tradições e traduz sua genialidade em linguagem universal.
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Rorion é lutador, educador, empreendedor, divulgador cultural, mestre e guardião de um legado que não pertence apenas à família Gracie; pertence ao nosso país e pertence ao mundo, que aprendeu com ele que disciplina é liberdade, que paciência é força, que técnica é inteligência aplicada ao movimento.
Hoje, registramos essa história construída com suor e dedicação. Ao celebrarmos o centenário do jiu-jítsu no Brasil, afirmamos diante desta Casa que não seria possível contar essa história sem reconhecer o homem que abriu caminhos, derrubou obstáculos e levou o Brasil para dentro de academias, arenas e de corações ao redor do mundo.
Mestre Rorion, o seu legado é simbólico, cultural e profundamente educativo, com lições que ensinam ao mundo e que ecoam neste Plenário: a força nasce da técnica; a estratégia se adapta ao improviso; e não existe o impossível quando se acredita, de verdade, no propósito que nos guia.
Que sua história continue inspirando gerações dentro e fora do tatame, porque o jiu-jítsu, tal como o Brasil o reinventou, é mais que uma arte marcial; é a semente de onde nasce uma filosofia de vida.
Muito obrigado. (Palmas.)
Solicito à Secretaria-Geral da Mesa a exibição de um vídeo que apresenta os relatos sobre o homenageado desta sessão especial.
(Procede-se à exibição de vídeo.) (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF) - Quero registrar a presença aqui do Sr. Deputado Federal Coronel Assis e do Sr. Terceiro Secretário da Embaixada da República Dominicana, Ariel José Liranzo Martinez.
Quero registrar também a presença - e dar boas-vindas a estes que estão na galeria - dos nossos alunos do ensino médio do colégio Império Win, na cidade de Paracatu, Minas Gerais.
Sejam bem-vindos!
Concedo a palavra ao Senador Chico Rodrigues.
O SR. CHICO RODRIGUES (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - RR. Para discursar.) - Sr. Presidente e requerente desta sessão, Senador Izalci Lucas; Sr. Subprocurador-Geral do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, Carlos Alberto da Cunha Júnior; representando a Secretaria de Esporte e Lazer do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Sr. Assessor Luis Roberto de Moraes Duarte; Sr. Grão-Mestre de jiu-jítsu Rorion Gracie; Sra. Presidente do Instituto InvestBrasil, Pricila Menin; mestra e campeã brasileira de jiu-jítsu, Sra. Yvone Magalhães Duarte, do Estado de Roraima, estado que eu represento no Congresso Nacional, no Senado da República; senhoras e senhores, cem anos de uma arte que se tornou um estilo de vida, disciplina, respeito e resiliência para gerações; um século dos Mestres Carlos e Hélio Gracie, que aqui estão representados pelo mais antigo de seus alunos, o Grande Mestre João Alberto Barreto (Palmas.), e pela enorme família e que muito honraram seus nomes e nossa arte marcial; um século sendo ferramenta de transformação, fortalecendo pessoas na superação de desafios com coragem e autoconfiança. É um verdadeiro legado compartilhado com o mundo da luta que se transformou em uma arte genuinamente brasileira.
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Hoje o Senado Federal se reúne em sessão especial para celebrar um marco histórico do esporte brasileiro, os cem anos do jiu-jítsu em nosso país, e para homenagear um de seus maiores expoentes, Rorion Gracie, responsável por difundir ao mundo essa arte marcial que levou o nome do Brasil a patamares inimagináveis.
Não é exagero afirmar que poucas expressões culturais conseguiram, ao longo de um século, produzir impactos tão profundos e permanentes na formação de jovens, na construção de valores sociais e na projeção internacional do nosso país quanto o jiu-jítsu brasileiro. O que nasceu como adaptação de técnicas milenares trazidas ao Pará por Mitsuyo Maeda, o Conde Koma, encontrou na família Gracie um terreno fértil para florescer, se transformar e, sobretudo, para se tornar patrimônio nacional.
Rorion Gracie, figura que homenageamos nesta ocasião, não apenas perpetuou um legado: ele levou o jiu-jítsu a uma dimensão global. Foi responsável por apresentar ao mundo uma filosofia de vida que combina estratégia, disciplina, autocontrole, superação e respeito. Seu trabalho na difusão internacional da modalidade, inclusive com a criação do UFC, fez com que o Brasil fosse reconhecido como berço de uma das artes marciais mais influentes do planeta.
Porém, o que nos traz aqui hoje não é apenas uma celebração esportiva. É um momento de reafirmar que o jiu-jítsu é ferramenta de transformação social.
Senhoras e senhores, o esporte escolar é uma das mais poderosas políticas públicas de inclusão e desenvolvimento humano. Crianças e adolescentes que encontram na escola espaços para a prática esportiva tornam-se jovens mais disciplinados, mais confiantes, com maior capacidade de concentração e com valores éticos muito mais sólidos.
E quando falamos em jiu-jítsu, falamos justamente da soma perfeita entre atividade física, saúde mental, disciplina, autocontrole, respeito e convivência social. É uma modalidade que ensina o estudante a compreender limites, resolver conflitos, lidar com frustrações, superar desafios e trabalhar em equipe.
Por essas razões, e por sugestão do meu filho Thiago Henrique Ferreira Rodrigues e de alguns amigos que participam da Academia Gracie, aqui presentes, nós tomamos a iniciativa de apresentar um projeto aqui nesta Casa, o Projeto de Lei n° 4.478, de 2019, que inclui o jiu-jítsu como componente curricular opcional em todas as séries do ensino fundamental.
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A proposta, agora em análise na Câmara dos Deputados - o processo legislativo é muito lento, mas estamos procurando, através do atual Presidente da Câmara, acelerar essas avaliações e análises -, não obriga as escolas a adotarem a modalidade, mas abre a porta para municípios e estados que desejarem incorporar esta prática, de forma estruturada, segura, orientada por profissionais qualificados e alinhada com os princípios pedagógicos da educação brasileira.
Defendo essa iniciativa, porque acredito que o jiu-jítsu é capaz de mudar realidades. Já vimos inúmeros relatos de escolas que ao adotarem essa arte marcial em seus projetos pedagógicos reduziram drasticamente episódios de indisciplina, melhoraram o desempenho dos alunos e criaram ambientes muito mais saudáveis na convivência escolar. Isso não é acaso. O jiu-jítsu é, por natureza, uma prática que convida à reflexão, ao autocontrole e à humildade. Ensina que força não é tudo, que inteligência e técnica superam impulsividade, que respeito é a primeira regra do tatame. Ensina, sobretudo, que a grande luta é contra nós mesmos, contra nossos medos, ansiedades e limitações.
Em um país que enfrenta tantos desafios na educação e convive com altos índices de evasão escolar, violência juvenil e desigualdade, oferecer aos nossos jovens ferramentas que desenvolvam corpo, mente e espírito é mais do que desejável, é urgente.
Rorion Grace e sua família nos mostram que o jiu-jítsu é mais que um esporte. É uma filosofia de vida. É educação. É construção de caráter. É política pública de segurança, saúde e cidadania.
Por isso, esta homenagem não é apenas a ele pessoalmente, mas a todo o legado de um século de jiu-jítsu brasileiro, aos mestres e professores que dedicam suas vidas a formar jovens nos tatames, aos atletas que levam nossa bandeira ao mundo e às famílias que encontraram na modalidade um caminho para afastar seus filhos das ruas, das drogas e da violência.
Encerrando, deixo meu compromisso como Parlamentar e como cidadão. Continuarei defendendo o esporte como um meio de transformação. Continuarei trabalhando para que o jiu-jítsu esteja cada vez mais presente nas escolas, nos projetos sociais e nas políticas públicas deste país. E seguirei honrando a história que Rorion Grace e sua família construíram com tanto esforço, disciplina e, mais que tudo, amor pelo Brasil.
Parabenizo Rorion Grace pelos 100 anos de jiu-jítsu no Brasil.
Parabenizo o esporte brasileiro e, sobretudo, parabenizo o povo brasileiro que fez desta arte marcial um símbolo de identidade, superação e orgulho nacional.
Muito obrigado. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF) - Concedo a palavra à Sra. Yvone Magalhães Duarte, uma das precursoras do jiu-jítsu no Brasil, que lutou pela implantação de campeonatos femininos e é nossa grande campeã brasileira.
A SRA. YVONE MAGALHÃES DUARTE (Para discursar.) - Boa tarde a todos e a todas. Cumprimento a mesa, na pessoa do Sr. Izalci Lucas, nosso Senador do Distrito Federal, que teve a iniciativa de fazer essa homenagem tão nobre para o jiu-jítsu brasileiro, que completa 100 anos de existência, e nos brinda com a presença de um dos maiores familiares proponentes do jiu-jítsu no mundo, que é o Rorion, a quem eu tenho hoje a satisfação de ver pessoalmente. Para mim, ele sempre foi uma lenda viva do jiu-jítsu brasileiro.
Gostaria também de saudar todas as escolas que estão aqui representadas e, aqui, eu vejo um dos alunos do nosso saudoso Dr. Roberto Barreto, que faleceu recentemente e foi um grande também professor nesta cidade do jiu-jítsu. Inclusive, preparou uma luta do Rickson com o Zulu aqui em Brasília - ele foi um partner nessa luta.
Bom, a minha ideia de vir aqui hoje, Senador e toda a mesa, é também para mostrar que, durante esses 100 anos, nós mulheres só pudemos entrar no jiu-jítsu em 1985, não porque houve um veto da sociedade carioca, mas existia um decreto que nos proibia de entrar no tatame, em todas as modalidades de artes marciais.
Havia um decreto presidencial, que foi rompido pelas meninas do judô brasileiro quando ganharam o campeonato. Todas elas trouxeram medalhas para o Brasil. Esse decreto é de 1979, e caiu por terra.
Então, em 1985, a minha geração, colegas minhas, foram até o Prof. Hélio Gracie solicitar a participação das mulheres nos campeonatos, porque até então era vedado para nós participarmos de competições. Já praticávamos nas academias, já éramos bem recebidas, mas não existia a possibilidade de que a gente competisse.
Eu não sabia que estava fazendo história, mas fui lá: “Prof. Hélio Gracie, nós gostaríamos de lutar, a gente já está treinando...”, e ele concedeu no campeonato seguinte - ele presidia a federação do Rio de Janeiro. Marcelo Behring - saudoso Marcelo Behring - e o Rickson Gracie foram lá e organizaram uma competição feminina.
E, assim, nós chegamos ao tatame para nunca mais sair do tatame - nós mulheres.
Eu me tornei mestra pela Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu há pouco mais de três anos, depois de 45 anos praticando jiu-jítsu. Vão somando aí que vocês vão chegar à minha idade. (Risos.)
E, depois de 31 anos - que, vocês sabem, é quando nós podemos pedir à confederação o título de mestra; você tem que estar praticando como faixa preta há 31 anos -, eu cumpri as etapas da confederação e tive a satisfação de receber, das mãos do Prof. Carlos Gracie Jr., Presidente da Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu, que teve o exercício, a paciência de organizar um esporte que era tão pouco organizado do ponto de vista da sua estrutura organizativa, de fazer os campeonatos e organizar as graduações... Ele fez um belíssimo trabalho.
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Eu sou capaz aqui de citar muitos nomes que contribuíram com o jiu-jítsu, mas gostaria, como nós temos aqui um conjunto de homens, de citar algumas mulheres. Uma delas, que também é da família Gracie, foi Reila Gracie, que organizou a biografia de seu pai, Carlos Gracie Jr., que agora foi relançada, depois de 17 anos. Acho que é um bom livro para vocês lerem.
Uma outra é uma historiadora que está estudando a história do jiu-jítsu feminino, se chama Tainá Farrielo, da PUC, de São Paulo. Tem uma publicação fantástica na sua tese de doutorado, falando da força, das dificuldades, da resiliência, de como as mulheres conseguiram alcançar o tatame, praticar o jiu-jítsu, da ajuda na formação educativa, da ajuda naquilo que o Senador Chico Rodrigues já falava, que é tão importante. Ele é autor de uma iniciativa que eu ia citar aqui, que está hoje na Câmara, passou pelo Senado, mas ele, como autor, claramente já falou.
E nós estamos há cinco anos esperando que a Câmara dos Deputados aprove uma legislação em que o jiu-jítsu possa, ao lado de outras artes marciais, de outros esportes, contribuir com as questões cognitivas. Eu, como psicóloga, posso dizer que pode contribuir com uma formação intelectual, com uma formação cognitiva, com a questão emocional, com a organização do controle das emoções das crianças.
E não posso deixar de dizer, embora a gente esteja em um dia de celebração dos 100 anos, que nós estamos num contexto social em que nós mulheres estamos estarrecidas e com medo, porque há neste país um número de feminicídios crescente - isso é algo assustador. E o jiu-jítsu pode muito colaborar para diminuir isso, para que a gente possa erradicar a violência contra as mulheres neste país. Como nós podemos? A gente pode se perguntar: como? Somando esforços. Nós somos dispositivos, nós temos a capacidade de educar, de contribuir com a formação educativa. Então, seria com esse chamamento nacional que nós estamos ouvindo, um movimento nacional de combate ao feminicídio, que nós podemos contribuir.
Chamem-nos para contribuir, chamem outros esportes para contribuir, porque nós temos muito a contribuir para dizer - educar - e para mostrar para os homens que não é na força bruta, que eles podem exercer também o seu lado, aquilo de que Gilberto Gil fala, "o meu lado feminino". Mas não é o lado feminino, o homem também pode ser afetuoso; educado; dividir as suas responsabilidades com as suas mulheres em casa, a educação dos seus filhos. Por que agora nós estamos com esse número crescente de violência? Que absurdo é esse? Nós não podemos deixar.
O Estado brasileiro, que tem a responsabilidade da segurança pública, precisa fazer esse chamamento - o Senado, a Câmara, a sociedade. Não é um trabalho para uma pessoa, não é um trabalho para um esporte, é um trabalho para todos.
E eu não posso deixar de dizer, numa data como essa, porque aconteceu nesses dias tanta barbaridade, tantos crimes. Uma mulher que vai ficar lesada, sem as suas pernas, tendo dois filhos, porque o cara não aceita um "não". Ora, vai cuidar do seu "não", vai atrás de outra pessoa. O que é isso? Nós não podemos aceitar esse estado.
Então, eu não podia deixar de dizer isso. Eu gostaria de contribuir com muitas coisas, mas uma delas que eu não posso deixar de dizer é que nós temos hoje um número crescente de mulheres fazendo esse esporte.
Muito obrigada a vocês, muito obrigada ao grande mestre Rorion, à família Gracie, a todos que praticam o jiu-jítsu de qualidade, de uma forma educativa.
Viva o jiu-jítsu brasileiro! Por mais cem anos de jiu-jítsu! (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF) - Concedo a palavra ao Sr. Luis Roberto de Moraes Duarte, representante da Secretaria do Esporte e Lazer do Governo do Estado do Rio de Janeiro.
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O SR. LUIS ROBERTO DE MORAES DUARTE (Para discursar.) - Boa tarde a todos.
Fui convidado para participar desta homenagem, representando o nosso Governador Cláudio Castro, o Secretário de Esporte Rodrigo Scorzelli e o nosso Deputado Rafael Pizani. Muito me honrei por conta da minha vida: são 43 anos praticando jiu-jítsu! (Manifestação de emoção.)
Até me emociono um pouco, porque o jiu-jítsu mistura um pouco da minha história, minha vida foi forjada dentro de um tatame, comecei a treinar com 18 anos, hoje eu tenho 61. Também sou mestre, 31 anos de faixa preta - aquele cara que insiste, que não desiste, que continua até o fim. Aliás, pretendo continuar até o fim, não vou parar de treinar jiu-jítsu.
O jiu-jítsu é muito importante na minha vida. Através do jiu-jitsu eu me tornei a pessoa que eu sou, consegui chegar aonde eu cheguei. Então, assim, é difícil medir palavras para dizer quanto benefício o jiu-jítsu trouxe para a minha vida.
Então, o Rorion eu considero como um pai, um irmão mais velho, porque a gente foi criado no mesmo ambiente. Eu convivo com a família Gracie - eu tenho essa sorte -, sou um dos poucos, vamos dizer assim, que tem mais de 40 anos no entorno da família Gracie. E, porra... desculpem a forma de falar, mas o Rio de Janeiro foi onde tudo começou, foi onde se alastrou, e a gente estava ali no cerne. Então, eu estava ali, do lado, nos primeiros campeonatos - os esporros, as brigas, as discussões, tudo que engrandeceu o nosso esporte, como ele foi forjado.
Hoje em dia, encontrar do jeito que está é mole, é ótimo, mas o que aconteceu lá atrás, o que a gente passou, os campeonatos que foram feitos, a rejeição que todo mundo tinha, "pitboy", escrevam os nomes, quantos vocês quiserem, dos apelidos pejorativos - quando entrava alguém pedindo alguma coisa por um lutador, a pessoa saia pela outra porta para não ter que atender.
Mas, graças a Deus, a gente conseguiu mostrar que tinha muito mais coisa através do jiu-jítsu do que só aquele rótulo de "pitboy", ou, sei lá, de arruaceiro, o cara que briga na rua. Graças a Deus, o UFC foi lançado, nós conseguimos mostrar que a nossa força não era só nos músculos, a gente também pensava. Nós temos massa cinzenta, o pessoal pensa, o lutador de jiu-jítsu joga xadrez. Não falando mal das outras lutas, das outras artes marciais, mas a minha é melhor, não tem jeito! Isso foi comprovado. (Risos.) É, eu tenho que... Porra, não tem como eu falar diferente, não faz sentido, eu não vou ser hipócrita. Não tem como.
Então, assim, cara, Rorion - desculpe-me chamá-lo de Rorion, mas não tem jeito, né, a gente conviveu muito tempo -, é demais, é muito emocionante para mim estar aqui falando para homenagear o jiu-jítsu, os cem anos do jiu-jítsu. Eu não sei como seria a minha vida hoje se não tivesse jiu-jítsu na minha vida.
Então, eu agradeço a você (Manifestação de emoção.), desculpe, ao seu pai, ao seu tio, ao meu mestre, Carlson Gracie, que me proporcionou isso. Boa tarde.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF) - Concedo a palavra ao Sr. Carlos Alberto da Cunha Júnior, Subprocurador-Geral do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro.
O SR. CARLOS ALBERTO DA CUNHA JÚNIOR (Para discursar.) - Boa tarde a todos e a todas.
Cumprimento a mesa, na pessoa do Exmo. Sr. Presidente, Senador Izalci Lucas; Exmo. Sr. Senador Chico Rodrigues; meu mestre Rorion Gracie, a quem cumprimento; Sr. Luis Roberto; Dra. Pricila Menin; Mestra Yvone - fiquei muito feliz em ouvir suas palavras.
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Assim como nosso Mestre Luis Roberto, também percorro esse caminho há 30 anos. Fui forjado dentro da Academia Gracie, sou faixa preta do Mestre Royler Gracie, do Mestre Rolker Gracie. Tive a honra de tomar aulas com o mestre Hélio Gracie. Estou aqui hoje graças ao jiu-jítsu, mas hoje represento o Presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, o Conselheiro Márcio Pacheco, que vem desenvolvendo um trabalho grandioso em combate ao feminicídio.
O Tribunal de Contas, Mestre Yvone, inaugurou um projeto de defesa pessoal para mulheres, que vem ganhando uma repercussão e uma aderência muito grande. Esse projeto foi uma homenagem à servidora Analista de Controle Externo, muito inteligente, Karen Mancini, que passou em seis concursos públicos e foi vítima de feminicídio. Hoje, o Tribunal de Contas preparou um dojo do qual nós tivemos a honra de ter como padrinho o nosso Mestre Rorion Gracie. A gente desenvolve esse trabalho. Eu coordeno esse trabalho e sou professor de jiu-jítsu há 17 anos.
Para mim, é uma honra muito grande, Mestre, estar aqui hoje, porque, graças a Deus, eu digo que tudo o que tenho hoje é também graças à família Gracie. A família Gracie iniciou no Rio de Janeiro com uma força maior, mas o mundo hoje tem um DNA Gracie. Gratidão ao Mestre Hélio, na sua pessoa, como primogênito.
Eu gostaria muito de agradecer também ao Mestre Barreto, que está aqui conosco. É uma honra muito grande estar na presença do senhor, uma pessoa que respeito muito e por quem tenho muita consideração. Obrigado por tudo o que o senhor fez por nós também.
Eu gostaria de cumprimentar também os irmãos de armadura trançada. Obrigado por tudo! Assim como disse o Mestre Luis, as palavras são as mesmas. Somos forjados com o jiu-jítsu Gracie, e o jiu-jítsu hoje faz muito por nós. Eu acho que o projeto, realmente, deve seguir adiante. Eu dou aula para crianças autistas, crianças carentes, e digo que o jiu-jítsu transforma.
Sem muitas delongas, quero agradecer.
Mestre, muito obrigado! Mestre e os irmãos, obrigado! (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF) - Solicito à Secretaria-Geral da Mesa a exibição do vídeo preparado pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro.
(Procede-se à exibição de vídeo.) (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF) - Concedo a palavra à Sra. Pricila Menin, Presidente do Instituto InvestBrasil.
A SRA. PRICILA MENIN (Para discursar.) - Senhoras e senhores presentes neste momento histórico, primeiramente eu quero agradecer, em nome do setor público, do setor governamental e legislativo do nosso país, através da figura do nosso Sr. Presidente da Mesa, que hoje preside os trabalhos, o Senador Izalci Lucas, e também ao Senador Chico Rodrigues, pelo brilhante trabalho que exerce nesta Casa Legislativa.
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Também quero agradecer, em nome da entidade pública, ao Sr. Subprocurador Carlos Alberto Cunha Júnior.
Em nome dos setores governamentais, também quero agradecer ao Assessor Especial Luís Roberto Duarte.
Em nome, também, dos mestres e grão-mestres aqui presentes, quero saudar a figura do Rorion Grace.
Em nome dos diplomatas presentes, também quero saudar a presença de Yasha Mitch.
E, em nome da sociedade civil organizada, eu faço também uma saudação ao Tito, da Bodytech.
Por fim, e sempre ressaltando o poder e a figura feminina, em nome dos atletas presentes, eu quero saudar a Mestra e Campeã Brasileira de Jiu-Jítsu Yvone Magalhães Duarte.
Como disse, e como todos falaram aqui, esta sessão especial, através do reconhecimento de Rorion Grace, não é simplesmente um reconhecimento formal. A gente está falando de patrimônio histórico da humanidade.
Nós estamos falando do reconhecimento do jiu-jítsu internacional, porque foi graças a essa família que se conseguiu estruturar as técnicas do jiu-jítsu, que são milenares, de mais de 2 mil anos, através do Japão, e hoje, graças a Deus, na categoria dos Jogos Olímpicos, você enxerga Jiu-Jítsu Brasil.
Então, o Brasil hoje é o protagonista internacional, e não só o futebol brasileiro, que é super famoso e considerado, mas, esse grande Mestre Rorion, e também pelo que foi ensinado por seu pai Hélio, e pela gastronomia do seu tio Carlos, conseguiu transformar essa nova realidade em patrimônio histórico da humanidade.
Também quero agradecer pela oportunidade dessas entidades internacionais, governamentais e nacionais, que buscam essa equiparação no jiu-jítsu, trazendo a modalidade feminina, o desenvolvimento da mulher também como história, que teve também processos de melhoria dentro da sociedade política, da sociedade esportiva. Aos poucos, nós estamos conquistando e trazendo esse espaço incrível da igualdade. Nós brasileiros somos privilegiados por não termos esse tipo de preconceito, como tem em outros países, em que a gente enxerga uma maior discriminação da mulher.
O feminicídio, infelizmente, acontece em todos os lugares do mundo, e no Brasil não é diferente. Então, nós temos que mostrar que essa situação existe, porque, quando a gente mostra que existe, a gente transforma e tenta mudá-la. E, cada vez mais, a voz da mulher nesse segmento tem sido relevante.
Dentro desse cenário histórico, nós também ressaltamos que o jiu-jítsu não é só uma arte marcial. Ele é um poder cultural, educacional e de relações diplomáticas internacionais. Se os senhores não sabem, nos países árabes principalmente, o jiu-jítsu é uma articulação institucional governamental de alto poder. Inclusive, eu estive conversando com o Embaixador Sidney, que é dos Emirados Árabes, e, quando a gente mostrou a aprovação desse conteúdo histórico dos cem anos do jiu-jítsu, da Academia Gracie, Sidney disse: "Você, Pricila, e o Senador Izalci estão por trás disso, porque isso faz parte da história do jiu-jítsu aqui nos Emirados Árabes".
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Então, nós temos também essa arma de articulação positiva, em que a gente agrega o esporte ao desenvolvimento sustentável, ao desenvolvimento cultural, à educação e, principalmente, à entrega do país com credibilidade, porque o esporte requer disciplina, requer trabalho árduo e respeito. Então, o Brasil é respeitado no mundo através dessa comunicação, que é o esporte, o jiu-jítsu no país.
Eu, como secretaria e secretária da Frente Parlamentar em Apoio aos Investimentos Estrangeiros para o Brasil, não posso deixar de falar também sobre a importância da frente parlamentar, através da Presidência do Senador Izalci, que tanto nos alegra, trabalhando em prol dos investimentos internacionais, das relações bilaterais e do desenvolvimento do país.
Ele, que é um Senador atuante - todos sabem que ele trabalha muito em prol do nosso país -, também é atuante na educação, no esporte, nas ciências e na tecnologia e trabalha para o povo brasileiro.
Então, neste momento, eu quero agradecer a todos os presentes por essa manifestação de legado feita ao Mestre Rorion Gracie. Parabéns, fico muito feliz por ser sua amiga e estar aqui, junto de ti, trazendo, dentro deste ano de cem anos, mostrando a toda comunidade do nosso país, mostrando ao mundo - porque isso fica registrado na Casa - que o jiu-jítsu faz cem anos e, graças a essa família abençoada, graças à visão do visionário Rorion, a gente consegue, neste momento, celebrar e terminar um ano com chave de ouro.
Deus abençoe a todos, e muito obrigada pela oportunidade. Obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF) - Quero, aqui, registrar a presença, na galeria, dos jovens que fazem parte do programa esporte, capacitação profissional e empreendedorismo da ONG Associação Educacional Voz Ativa, de Manaus. Sejam bem-vindos. (Palmas.)
Concedo a palavra ao Deputado Federal Coronel Assis para uma breve mensagem.
O SR. CORONEL ASSIS (Para discursar.) - Sr. Presidente desta sessão solene, Senador Izalci, quero cumprimentar a V. Exa. e também o Senador Chico Rodrigues aqui presente. Quero cumprimentar também, aqui, o nosso grande, grandioso, brilhante Mestre Rorion Gracie, e dizer da satisfação de poder estar aqui com V. Exa. também nesta data tão significativa. Quero cumprimentar também o Mestre Barreto e, na sua pessoa, os amigos lá de Cuiabá que aqui se encontram, o Secretário Municipal Pablo Queiroz e também o nosso atleta mato-grossense Igor Queiroz. Quero cumprimentar também toda a nossa assistência aqui na plateia desta Casa, o Senado da República.
Sr. Presidente, quero parabenizar V. Exa. por ter tido essa iniciativa, dessa distinta homenagem, uma vez que entendemos que Rorion Gracie, assim como outros grandes nomes que fomentaram a arte do jiu-jítsu no Brasil e no mundo, tem, sim, uma contribuição gigantesca para a educação no Brasil.
Eu, Mestre Rorion, sou policial militar de carreira.
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Eu fiquei quase 30 anos dentro da minha instituição, lá na Polícia Militar do Mato Grosso, e percorri várias unidades. As mais emblemáticas foram as unidades especializadas, das quais aqui eu destaco o Batalhão de Operações Policiais Especiais, o Bope, onde eu fui capitão, fui comandante.
Nós sempre buscamos, na arte do jiu-jítsu, promover a manutenção, sim, do espírito de guerra dos nossos policiais. Nossos policiais são formados de uma forma muito própria, em que se aflora todo esse espírito justamente porque nós atuamos, Senador Izalci, onde a sociedade mais precisa, contra assaltantes de banco, contra pessoas faccionadas que estão armadas com armamento de alto poder ofensivo.
Então, não se tem como treinar pessoas se não dentro dessa temática. E o jiu-jítsu, no pós-treinamento, mestre Rorion, sempre foi uma grande ferramenta para que a gente pudesse, sim, promover a manutenção desse espírito de prontidão desse homem.
Mais do que isso, nós também, na década dos anos 2000, nós criamos um projeto chamado inicialmente de Judô Bope, no qual nós tínhamos cerca de 40 crianças e, no passar dos anos, chegamos a quase 400 crianças a quem ensinavam, além do judô, também o jiu-jítsu e, posteriormente, também o sambo, mostrando que, com certeza, a junção das artes marciais faz diferença na vida de pessoas carentes, de crianças que precisam um pouco de disciplina.
Aqui, mais uma vez, eu quero, em nome nosso também, lá da Câmara dos Deputados, parabenizar V. Exa., mestre Rorion, por essa linda trajetória que o senhor fez e entregou ao Brasil, representando o nosso país e entregou ao mundo, porque, com certeza, a arte marcial do jiu-jítsu faz parte da vida de muitas pessoas, assim como faz parte da minha vida também.
Mais uma vez, quero parabenizar o Senado da República, na pessoa do Presidente desta sessão, Senador Izalci, e dizer que nós queremos estar aqui, com certeza, comemorando os 101, 102, 200, 300 anos do jiu-jítsu no Brasil.
Parabéns e uma boa tarde. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF) - Concedo a palavra ao Sr. João Alberto Barreto, faixa vermelha, grande mestre do jiu-jítsu, e um dos discípulos do grande mestre Hélio Gracie.
O SR. JOÃO ALBERTO BARRETO (Para discursar.) - Para mim, num dado momento da minha existência, tive, vamos dizer assim, o privilégio e com muita honra o convite do meu querido menino Rorion Gracie, com quem estive desde o seu nascimento até hoje.
E num momento tão sublime como o nosso, aqui na Casa do Povo, dos nossos eminentes Senadores, Presidente da sessão, como o nosso Chico Rodrigues, que está na vanguarda, vamos dizer assim, do grande projeto do lançamento do jiu-jítsu graciano educativo, voltado para a formação dos nossos futuros guerreiros do bem social, nas escolas públicas deste país, a começar pela nossa Brasília, onde nós temos a satisfação, neste momento, de representar a Escola Barreto Jiu-Jitsu - graciana educacional.
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Aprendi com Hélio e Carlos Gracie, através de uma máxima latina si vis pacem, para bellum e si vis pacem, para pacem. Aprendi, desde 1951, a entender a importância do jiu-jítsu graciano de Carlos e Hélio Gracie, irmãos siameses, que foram a nossa fonte para entender como nós tínhamos, desde daquela época, a luta pela educação dos meninos e das meninas mais fraquinhas brasileiras, dentro de uma máxima, vamos dizer assim, de se tornarem verdadeiras guerreiras. Foi justamente dentro dessa visão si vis pacem, para bellum que o jiu-jítsu graciano pousou todo esse trabalho, vamos dizer, e até hoje vem trabalhando para fortalecer cada vez mais o equilíbrio psicológico dos nossos meninos e meninas através de um poder de blindagem fisiopsicoemocional e social de nossas crianças, de nossa juventude e de nossos adultos.
Si vis pacem, para bellum, se queres paz, prepara-te para a guerra, porque os Gracie desenvolveram, como um mantra, que o jiu-jitsu era o maior veículo de educação que eles poderiam dar aos seus alunos e a seus agregados.
Eu sou o mais antigo agregado graciano brasileiro, porque eles defenderam e até hoje continuam defendendo com essa dinastia fantástica, no centenário dessa dinastia... eu faço parte do agregado mais antigo, porque dizem para mim que eu estou, aos 90 anos, ainda em condições de fazer esse pequeno discurso em relação aos meus grandes mestres.
Eles me ensinaram, antes de eu aprender, no campo da psicologia e da filosofia estoica, que eu poderia ser um educador, porque eles me educaram, através desse jiu-jitsu brilhante, desse jiu-jitsu fantástico, desse jiu-jítsu psicopedagógico, que eles transformaram, vamos dizer assim, o jiu-jítsu Gracie, no maior veículo de formação de guerreiros no mundo inteiro. E não foi somente a Família Gracie. Hoje nós temos um agregado de milhões de pessoas, no mundo inteiro, fazendo jiu-jítsu graciano.
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Aqui, nós temos, em nosso país, grandes Senadores, grandes Deputados, grandes educadores, que estão vendo, através da ajuda do nosso Chico, nosso Senador, a vantagem de...
(Soa a campainha.)
O SR. JOÃO ALBERTO BARRETO - ... estar nos ajudando, na Escola Barreto, na implementação do jiu-jítsu graciano de guerreiros futuros do bem social. As escolas são formadoras da cidadania dentro de uma cultura geral. Mas, no campo da emocionalidade, eu aprendi da Família Gracie que as emoções fazem a diferença no menino e na menina.
Então, o jiu-jítsu nos brinda, me brindou com o conhecimento dessa família, com a qual eu aprendi, através dos seus ensinamentos, vamos dizer assim, a filosofia histórica, a filosofia das virtudes humanas; uma coisa fantástica, aprender, naquela época, o que era uma família voltada para a educação psicológica, educação física, educação cultural geral, baseada justamente naquela frase em latim de que não era preparar o indivíduo para a guerra, mas, sim, preparar... Si vis pacem para pacem - eu aprendi isso na Família Gracie: se queres paz, prepara-te para a paz. É a paz que nós precisamos.
Rorion Gracie, primogênito de Hélio Gracie; Carlson Gracie, primogênito de Carlos Gracie.
Rorion Gracie, com a educação que teve, tornou-se CEO da educação através do jiu-jítsu graciano no mundo inteiro. Hoje nós temos milhões de agregados, no mundo inteiro, com a formação filosófica, educativa, em todos os sentidos, de uma família que veio para ajudar o nosso país a ser um país com autoestima, controles emocionais de modo geral. Uma das coisas mais importantes é a formação das personalidades assertivas criadas dentro do nosso arcabouço de defesa dos mais fracos contra os mais fortes.
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Aprendi com eles a importância da filosofia rousseauniana - de Jean-Jacques Rousseau -, a importância da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Você não encontra um Gracie hoje que não tenha fraternidade para ensinar o jiu-jítsu que eu aprendi com o Carlos e Hélio Gracie, aquele jiu-jítsu do amparo para os mais frágeis. Foi com essa visão que Carlos e Hélio Gracie fizeram com que o jiu-jítsu se tornasse o maior instrumento de educação. E hoje nós estamos, nesta Casa do Povo, tendo a possibilidade de homenagear essa dinastia liderada pelos grandes educadores Carlos e Hélio Gracie.
Hélio Gracie seguia tudo que o Carlos, que era o regente mais antigo, ensinou para os irmãos e ensinou também para Hélio Gracie. Carlos Gracie descobriu em Hélio Gracie o gênio do jiu-jítsu nacional. É um gênio. Por que gênio? Porque ele tanto entendia o jiu-jítsu como também era educador. Como educador, foi o maior educador que eu já conheci. Nós colocamos Hélio Gracie, que teve a felicidade de ter um filho como Rorion Gracie. Grande mestre, voltado para aquela visão imperiosa de estar fazendo pelo Brasil no campo internacional, a partir justamente dos Estados Unidos.
Eu me lembro muito bem da ida dele para os Estados Unidos. Até Hélio Gracie, meu grande mestre - meu saudoso grande mestre -, me pediu uma carta para dar para ele. Eu escrevi uma carta, porque tinha que ser em inglês, e ele levou para os Estados Unidos essa carta. Uma coisa fantástica! De repente, a criatividade, pela inteligência do primogênito de Hélio Gracie, cria o vale-tudo brasileiro nos Estados Unidos.
(Soa a campainha.)
O SR. JOÃO ALBERTO BARRETO - Mas não é o vale-tudo para quebrar a cara de um e de outro. Tinha também essa visão da violência, mas de uma violência calculada, porque Hélio Gracie nos dizia - e ensinou para o seu primogênito -: "Enquanto os adversários nos agridem, nós vamos lutando com eles. Não precisa quebrar braço de ninguém, não precisa quebrar a cara de ninguém, não precisa nocautear com violência o adversário".
Então, o que nós aprendemos, eu e os nossos companheiros em todo o mundo? Que o jiu-jítsu graciano é um jiu-jítsu que está pronto. Não é preciso mexer com ele; ele está pronto, não precisa de mais nada. Olhe a importância - compreendeu? - de um jiu-jítsu em que não se precisa acrescentar mais nada; já está pronto. Esse jiu-jítsu é o que nós aprendemos. E quem mexe nesse jiu-jítsu está contrariando os algoritmos da eficácia graciana do nosso jiu-jítsu.
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Não mexe nisso! Eu vejo tantas coisas aí no Google, compreendeu? Mas não é isso. Estão, vamos dizer assim, mostrando um jiu-jítsu que não é o nosso.
Hélio Gracie me convidava - e eu o convidava - para assistir aqui no Brasil aos campeonatos de jiu-jítsu esportivo. Ele dizia assim: "João Alberto, esse já não é mais o nosso jiu-jítsu".
Então, a importância do jiu-jítsu para todos nós, que somos, vamos dizer assim, os agregados gracianos...
(Soa a campainha.)
O SR. JOÃO ALBERTO BARRETO - ... é que os nossos meninos e meninas precisam se brindar desse jiu-jítsu que não é de violência; é um jiu-jítsu da formação da personalidade de cada criança.
Nós temos que generalizá-lo. Eu li num artigo aí que só 12% das escolas públicas brasileiras têm psicologia. Estou lançando um livro agora sobre o ser humano global. Aprendi, com Carlos e com Hélio Gracie, que eles queriam formar um ser humano global. O que é o ser humano global? É aquele que foi humanizado pelo jiu-jítsu graciano, pela psicologia e pela filosofia histórica do Bushido nipônico. E todos entendem que Carlos e Hélio Gracie, irmãos siameses, queriam, cada vez mais, tornar cada brasileiro um brasileiro melhor.
Eu ouvi tantos discursos brilhantes aqui... Fico obviamente emocionado, porque eu sinto aqui, nesta Casa democrática, que nós temos muita coisa para fazer em relação à educação brasileira. Estou lançando um livro, brevemente, sobre o que eu aprendi para ser um ser humano global. Ensinar nas escolas jiu-jitsu graciano, que seria o neo-jiu-jítsu, o jiu-jítsu graciano acoplado com a Escola Barreto do lado, a psicologia aplicada e a filosofia histórica. Tudo isso.
Então, nós estamos colocando nas mãos dos nossos Senadores, da política brasileira educacional, a coisa mais importante para este país que é lutar para que esses meninos e essas meninas, sendo, vejam bem, educados por esse triângulo do neo-jiu-jítsu graciano brasileiro, e com Barreto, tenham a extinção dos medos e dos ódios. (Palmas.)
Esse é o nosso escopo, o nosso objetivo. Estamos juntos, Senador Chico Rodrigues... (Palmas.)
... para estabelecer, de uma vez por todas, que o senhor e outros grandes Senadores, outros Deputados não se esqueçam deste momento grandioso da dinastia graciana. Nós temos esperanças e a esperança nunca morre em nossos corações.
Muito obrigado. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF) - Concedo a palavra ao Sr. Rorion Gracie, homenageado desta sessão especial, grande mestre do jiu-jítsu brasileiro, conhecido por ser o cofundador do UFC e por ter levado o jiu-jítsu brasileiro para o mundo.
O SR. RORION GRACIE (Para discursar.) - Boa tarde a todos, muito obrigado pela presença de vocês; Senador Izalci, pela iniciativa; Senador Chico Rodrigues, e todos os outros membros da nossa mesa. Eu só estou aqui hoje porque subo nos ombros de pessoas gigantes.
Meu tio Carlos, que foi quase que um segundo pai para mim, assim como foi para o meu pai também, era o guru da família Gracie. Nós, carinhosamente - ele tinha uma Casa em Teresópolis, no Rio de Janeiro, na montanha - o chamávamos de O Velhinho Guru da Montanha, porque ele lia muito, estudava muito filosofia e tudo, conceitos de saúde, dieta e esse troço todo.
A gente cresceu naquele ambiente muito positivo, muito construtivo e, numa família grande como a nossa - a gente tem gente de todo tipo, viu? E tem, para mim, sido uma experiência maravilhosa chegar a essa altura da minha vida lembrando de um passado inesquecível que eu tive com eles.
O meu pai, Hélio Gracie - tenho muito o que falar do velhinho também -, mas o que eu posso dizer aqui, rapidamente, é que foi uma figura, para mim, exemplar. Aprendi tudo com ele, fui o maior fã que meu pai teve, tive a oportunidade de assistir a ele dando aula a vida inteira, e fez com que eu me apaixonasse pelo jiu-jítsu e passasse a minha vida inteira dedicado a isso.
Hoje, eu vejo o resultado desse trabalho, de ter tido a oportunidade de sair do Brasil - como eu disse naquele vídeo, há alguns momentos atrás: aprendi o que eu aprendi no Brasil -, de ter partido para outro país, começar, literalmente, do zero. E, graças aos benefícios do jiu-jítsu, aos conceitos de filosofia Gracie, que me ensinaram a lidar com dificuldades de todo tipo, eu consegui romper essa barreira e compartilhar o jiu-jítsu com pessoas na América. Hoje em dia, o mundo inteiro se beneficia dessa arte maravilhosa.
Como disse o Professor, o grande Mestre João Alberto, não é só a família Gracie que ensina jiu-jítsu, mas temos milhares de representantes no mundo inteiro, carregando esse legado, beneficiando cada vez mais pessoas, e eu me sinto muito lisonjeado em ter, pelo menos, começado, e ter acendido esse pavio, para que hoje bote o jiu-jítsu onde está.
Eu vejo uma porção de conhecidos, amigos meus de muito tempo e que fazem parte dessa história, que vieram me prestigiar aqui hoje. Quero agradecer a todos vocês por essa iniciativa, e eu estaria sendo omisso e injusto se perdesse a oportunidade de agradecer a uma pessoa que está do meu lado há 30 anos, me deu filhos maravilhosos, minha mulher, Silvia, que está aqui do meu lado, aguentando as minhas loucuras. (Palmas.)
Eu quero passar a homenagear o Senador Izalci com o troféu da Academia Gracie por essa iniciativa que, como disse, estou muito honrado com isso, em nome da família Gracie toda.
(Procede-se à entrega do troféu da Academia Gracie ao Senador Izalci Lucas. ) (Palmas.)
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O SR. RORION GRACIE - Agora só falta o senhor botar um quimono também.
O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF. Fora do microfone.) - Começar a praticar.
O SR. RORION GRACIE - É isso aí.
Temos também um troféu para o Subprocurador Carlos Alberto, que vai receber em nome do...
(Procede-se à entrega do troféu da Academia Gracie ao Subprocurador-Geral Carlos Alberto da Cunha Júnior.) (Palmas.)
O SR. RORION GRACIE - Para completar, eu tenho que dizer a vocês o seguinte, eu estava imaginando o que seria estar hoje aqui nesse local, nesta Casa que a gente vê pela televisão tantas vezes, com tanta gente fazendo jiu-jítsu, uns de uniforme, outros à paisana... Eu fiquei essa noite pensando: Poxa, que coisa, hein? Imagina se todo esse grupo que estivesse aqui agora, praticantes de jiu-jítsu, fossem as pessoas que realmente trabalham na Casa? Tivessem que vir aqui todo dia trabalhar no Senado Federal?
Minha sugestão seria que a gente abrisse uma roda aqui, botasse um tatame grande aqui no meio. (Risos.)
Como vocês sabem, tanto quanto eu, o praticante de jiu-jítsu que você tem na sua academia, por mais que ele queira te estrangular, te dar uma chave de braço, é o teu melhor amigo. A gente vai treinar, vai se ajudar, vai pegar, vai finalizar, vai fazer aquela brincadeira toda.
E, no final do treino, aquele aulão maravilhoso que a gente ia ter aqui todo dia, duas horas de treino, depois do treino, ia rolar aquele papo de tatame que ninguém quer ir embora. E, se a gente tivesse oportunidade, com esse grupo que a gente está aqui hoje, se fossem as pessoas realmente que trabalhassem na Casa, e a gente tivesse a chance de treinar dessa maneira todo dia, e no final ter aquele papo confortável, em um mês as coisas no Brasil iam ser diferentes.
Muito obrigado mais uma vez a todos vocês. (Palmas.)
Eu quero agora dar um... Tem mais um troféu que eu quero dar agora, que é para o meu tio Carlos e o meu pai, Hélio Gracie, que eu acho que eles merecem também.
E vai ser recebido pela Rose Gracie, que é bisneta dele; Riane Gracie, que é outra bisneta dele; e pelos netos do Hélio Gracie, Rener e Ryron Gracie.
Todos são meus filhos.
(Procede-se à entrega do troféu da Academia Gracie aos familiares do Sr. Carlos Gracie e do Sr. Hélio Gracie.) (Palmas.)
O SR. RORION GRACIE - Senador, muito obrigado mais uma vez pela oportunidade, muito honrado com a presença de todos vocês.
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Mais uma vez, muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - DF) - Bem, quero dizer aqui da minha alegria de poder presidir esta sessão, com essa bela homenagem realmente a quem fez história para nós do Brasil e que está hoje no mundo inteiro. É um exemplo para que a gente possa incentivar cada vez mais o esporte e levar essa cultura para as escolas. Nem todos têm condição de fazer isso, mas o esporte faz parte da educação.
Então, eu quero mais uma vez agradecer a todos e parabenizá-los.
Cumprida, então, a finalidade desta sessão especial do Senado, eu agradeço às personalidades que nos honraram com sua participação e declaro encerrada a sessão.
Obrigado. (Palmas.)
(Levanta-se a sessão às 16 horas e 33 minutos.)