Discurso no Senado Federal

CRITICAS AOS DESDOBRAMENTOS POLITICOS DO ASSASSINATO DO SINDICALISTA OSWALDO CRUZ JUNIOR.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SEGURANÇA PUBLICA. POLITICA PARTIDARIA.:
  • CRITICAS AOS DESDOBRAMENTOS POLITICOS DO ASSASSINATO DO SINDICALISTA OSWALDO CRUZ JUNIOR.
Aparteantes
Josaphat Marinho.
Publicação
Publicação no DCN2 de 11/01/1994 - Página 49
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SEGURANÇA PUBLICA. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • VOTO DE PESAR, FAMILIA, OSWALDO CRUZ JUNIOR, EX PRESIDENTE, SINDICATO, VITIMA, HOMICIDIO.
  • SOLICITAÇÃO, LUIZ ANTONIO FLEURY FILHO, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DESIGNAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, INCLUSÃO, REPRESENTANTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ACOMPANHAMENTO, INQUERITO POLICIAL, DELEGACIA, HOMICIDIO.
  • CRITICA, TENTATIVA, VINCULAÇÃO, HOMICIDIO, OSWALDO CRUZ JUNIOR, EX PRESIDENTE, SINDICATO, PLANEJAMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PREJUIZO, CANDIDATURA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

          O SR. EDUARDO SUPLICY (PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, gostaria de aqui externar o meu pesar, em especial à família e a todos os condutores rodoviários do ABC e do Brasil, pelo falecimento do Sr. Oswaldo Cruz Júnior, assassinado na última semana em função de disputa pessoal ocorrida na sede do Sindicato. Trata-se de verdadeira tragédia, ocorrida na disputa entre dois trabalhadores, e que, infelizmente, vem sendo objeto de exploração de natureza política-eleitoral.

          Seria importante que aqui os fatos fossem colocados em seus devidos lugares e, em especial, que fosse realizada uma investigação policial isenta, firme, com a maior responsabilidade.

          Gostaria de, aqui, aproveitando este ensejo, propor ao Governador Luiz Antônio Fleury Filho que, pela Assembléia Legislativa de São Paulo, se designe uma comissão de parlamentares, em que esteja incluída representação do Partido dos Trabalhadores, para acompanhar, de perto, o inquérito que a Delegacia de Homicídios está realizando.

          Por que essa sugestão? Exatamente, Sr. Presidente, Srs. Senadores, para que não se repitam episódios de exploração política indevida, como aconteceu em eleições anteriores.

          Vou aqui citar exemplos. Em 11 de julho de 1986, ocorreu incidente grave no Município de Leme, onde trabalhadores rurais da cana-de-açúcar realizavam uma greve. Parlamentares do Partido dos Trabalhadores estavam em Leme, na madrugada, por volta de 5 ou 6 horas da manhã, justamente procurando evitar que ocorresse repressão das forças policiais aos trabalhadores. Eis que começou um tiroteio, de responsabilidade da polícia, que reagiu a agressões realizadas com pedradas, por parte dos trabalhadores, quando a força policial tentou cercear um piquete de trabalhadores rurais. Pois bem, a polícia reagiu dando tiros, e aconteceu que, ao longo daquele dia, no noticiário da imprensa e, durante a noite, no noticiário nacional, pelos meios de comunicação, se dizia indevidamente que os tiros tinham partido de Parlamentares do Partido dos Trabalhadores.

          Aquilo causou enorme impacto pelo Brasil afora. Eu mesmo era então o candidato a Governador do Estado de São Paulo pelo PT e pude sentir o que provocou aquela visão distorcida que somente muito mais tarde foi esclarecida. Ou seja, nada tinham que ver os Parlamentares do Partido dos Trabalhadores com o porte de armas e muito menos com o tiroteio que veio a provocar a morte de duas pessoas, uma trabalhadora e um trabalhador, que se encontravam no local dos incidentes.

          O outro episódio extremamente grave ocorreu em dezembro de 1989, quando era Governador o Sr. Orestes Quércia, Secretário de Segurança, o Sr. Luiz Antônio Fleury Filho, hoje Governador de São Paulo, sendo o responsável pela delegacia de Atividades Policiais Anti-Seqüestro exatamente o Sr. Nelson Silveira Guimarães - ou, pelo menos, ele colaborou, como um dos responsáveis, para desvendar o seqüestro do Sr. Abílio dos Santos Diniz, ocorrido no dia 11 de dezembro, poucos dias antes da eleição presidencial de 17 de dezembro de 1989, segundo turno, em que se defrontavam Fernando Collor de Melo e Luiz Inácio Lula da Silva.

          Na véspera da eleição, no dia 16 de dezembro, quando a polícia tinha conseguido desvendar onde estava o Sr. Abílio dos Santos Diniz, logo na manhã daquele sábado, véspera do domingo de eleições, apesar de não ter partido do Sr. Nelson Silveira Guimarães o conceito de qualquer vinculação do Partido dos Trabalhadores, os policiais que estavam sob o seu comando divulgaram a versão de que teria sido o Partido dos Trabalhadores que seqüestrara o Sr. Abílio dos Santos Diniz.

          Aquilo explodiu com extraordinária força exatamente durante o fim de semana das eleições. Em jornais, basta lembrar a manchete do jornal O Rio Branco, que dizia: PT seqüestra empresário. Mas por todo o País usou-se daquela tragédia, o seqüestro do Sr. Abílio dos Santos Diniz - que, felizmente, não levou à perda de qualquer vida -, com extraordinária força, para prejudicar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva.

          Pois bem é exatamente o Secretário de Segurança de então, Luiz Antônio Fleury Filho, Governador de São Paulo, resolveu avocar para a Delegacia de Homicídios, cujo Delegado é Nelson Silveira Guimarães, o inquérito policial relativo ao assassinato do Sr. Oswaldo Cruz Júnior. E, nestes primeiros dias, já surge com força a tentativa de se vincular o assassinato à eventual ação premeditada e indevida - o que não é verdadeiro, acredito - por parte do Partido dos Trabalhadores. Obviamente, todas as hipóteses têm que ser serena e rigorosamente examinadas.

          Avalio que o Partido dos Trabalhadores deva contribuir para esses esclarecimentos e, daí, uma razão a mais para esta sugestão que coloco para o Governo do Estado de São Paulo: de nossa parte, nós, do Partido dos Trabalhadores, gostaríamos de acompanhar de perto a apuração presidida pelo Delegado Nelson Silveira Guimarães. Faço minha sugestão: que alguns Parlamentares, incluindo pelo menos um do Partido dos Trabalhadores, em nome da Assembléia Legislativa, acompanhe de perto esse inquérito policial para garantir a isenção do mesmo. Que seja um parlamentar, Deputado Estadual do PT, designado, escolhido de comum acordo, além de parlamentares de outra Bancada; isso pode ser resolvido a nível da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

          Sr. Presidente, gostaria de ressaltar que conhecia o Sr. Oswaldo Cruz Júnior desde o tempo em que fui Deputado Estadual, de 1979 a 1983. O Sindicato dos Condutores Rodoviários de Santo André estavam sob intervenção do Governo Militar; ele e seus companheiros lutaram muito para que houvesse eleições livres no Sindicato. Como Deputado Estadual, fui procurado por eles e empenhei o meu apoio para a realização das eleições que resultaram na escolha de Oswaldo Cruz Júnior para presidente.

          Ele foi um parlamentar muito dinâmico, destacado e nosso companheiro nas fileiras do Partido dos Trabalhadores. Trata-se de uma pessoa que, em alguns momentos, criou diversas polêmicas. Em 1990, pretendendo candidatar-se Deputado Federal, surgiu uma denúncia a respeito de um seu procedimento, de caráter privado, mas de conseqüências importantes sob o ponto de vista da dignidade do ser humano, da mulher. Em função do episódio, durante a Convenção Estadual do Partido dos Trabalhadores, em encontro regional, esta o censurou e avaliou que não deveria ser candidato.

          Esse fato, de alguma forma, levou-o a colocar-se gradativamente de forma crítica junto ao Partido dos Trabalhadores. É verdade que ele vinha formulando denúncias relativas ao uso de seu próprio sindicato - uma vez que ele era o seu primeiro responsável - em campanhas do Partido dos Trabalhadores.

          Não temos o que recear desses episódios, que devem ser devidamente apurados, mas certamente não terão sido a causa do assassinato do Sr. Oswaldo, causa esta que entendo deva ser investigada.

          Não considero adequado que já se esteja formulando acusações como se fosse esta a causa. O Sr. Luís Antônio Medeiros, Presidente da Força Sindical, procura atribuir a responsabilidade do ocorrido ao PT, querendo que Lula desista de sua candidatura. A candidatura de Lula não pertence a ele próprio, mas ao Partido dos Trabalhadores. Hoje, sabe-se, há 30% de brasileiros que o consideram a pessoa que está em melhor condição de ser tornar Presidente do Brasil.

          O Sr. Josaphat Marinho - Permite-me V. Exª um aparte?

          O SR. EDUARDO SUPLICY - Ouço V. Exª com muita honra.

          O Sr. Josaphat Marinho - Nobre Senador Eduardo Suplicy, não entrarei na análise do fato que V.Exª comenta, porque dele desconheço os pormenores. A advertência de V.Exª serve, entretanto, como uma observação para corrigir certa tendência que se está generalizando no País. A todo acontecimento de algum relevo, procura-se dar uma conotação política ou sobre ele se argúi uma suspeita muitas vezes sem nenhum fundamento. É preciso que se corrija isso, a bem da boa apuração dos fatos de maior relevo no País.

          O SR. EDUARDO SUPLICY - Agradeço o oportuno aparte de V.Exª Penso que, de fato, precisamos ter a devida prudência na questão relativa a episódios trágicos como este. Quando neste Congresso Nacional se quer aproveitar o episódio para dizer-se: “há que se instalar de pronto a CPI relativa à CUT e ao Partido dos Trabalhadores” entendemos que devam ser apuradas as relações entre os partidos políticos e as entidades sindicais. No nosso entender, isso não se deve restringir ao PT e à CUT; deve ampliar-se para todos os demais partidos, entidades sindicais, patronais e de trabalhadores - sem qualquer receio da apuração sobre o PT e a CUT. No entanto, deve-se ser prudente na formulação de acusações, pois muitos hoje estão tentando atribuir fatos não verdadeiros ao Partido dos Trabalhadores ou a sindicalistas da Central Única dos Trabalhadores.

          Em verdade, a própria viúva do Sr. Oswaldo Cruz Júnior deu um depoimento bastante sereno sobre esse assunto. E as pessoas que acompanharam de perto o episódio também têm opinião bastante semelhante à da viúva.

          José Benedito de Souza, apontado como autor dos tiros que mataram Oswaldo na tarde de quinta-feira, tinha tido uma briga com ele anteriormente. Há depoimentos no sentido de que eles teriam tido uma briga física na qual o Sr. “Zezé” havia levado vantagem; depois, o Sr. Oswaldo Cruz Júnior teria solicitado a pessoas que dessem uma surra no mesmo. Não sei exatamente se são verdadeiras essas informações. O importante é que seja feita a apuração rigorosa.

          Parece-me um pouco estranho o que disse o Delegado Nelson Silveira Guimarães, que aguardaria, até hoje, a apresentação de José Benedito de Souza, o Zezé. Espero que essa espera não signifique qualquer ação para tentar evitar apuração rigorosa e equilibrada desse fato.

          Tenho certeza, Sr. Presidente, de que se faz necessário, neste instante, sobretudo serenidade e muita capacidade de investigação, para não haver distorções.

          Muito obrigado.

          Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 11/01/1994 - Página 49