Discurso no Senado Federal

COMUNICANDO HAVER ATENDIDO CONVITE PRESIDENCIAL PARA ASSUMIR O MINISTERIO DA INDUSTRIA, COMERCIO E TURISMO. SOLIDARIEDADE REAFIRMADA AO SENHOR ITAMAR FRANCO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

Autor
Elcio Alvares (PFL - Partido da Frente Liberal/ES)
Nome completo: Élcio Alvares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • COMUNICANDO HAVER ATENDIDO CONVITE PRESIDENCIAL PARA ASSUMIR O MINISTERIO DA INDUSTRIA, COMERCIO E TURISMO. SOLIDARIEDADE REAFIRMADA AO SENHOR ITAMAR FRANCO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
Aparteantes
Aureo Mello, Beni Veras, Francisco Rollemberg, Iram Saraiva, Irapuan Costa Júnior, Jonas Pinheiro, Josaphat Marinho, José Eduardo, João Calmon, Jutahy Magalhães, Marco Maciel, Mauro Benevides, Ronan Tito, Saldanha Derzi, Valmir Campelo.
Publicação
Publicação no DCN2 de 25/01/1994 - Página 316
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • INFORMAÇÃO, ATENDIMENTO, CONVITE, ITAMAR FRANCO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACEITAÇÃO, ORADOR, NOMEAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA INDUSTRIA DO COMERCIO E DO TURISMO (MICT).
  • CONVITE, CONGRESSISTA, POSSE, ORADOR, MINISTERIO DA INDUSTRIA DO COMERCIO E DO TURISMO (MICT).
  • SOLIDARIEDADE, ATUAÇÃO, ITAMAR FRANCO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNO, PAIS.

   O SR. ELCIO ALVARES (PFL-ES. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, eminentes Colegas com alguma emoção venho a esta tribuna, hoje, para comunicar que, a partir de amanhã, atendendo ao convite do Presidente Itamar Franco, assumo o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo.

   O Presidente, ao me convidar, fez questão de frisar que era um gesto pessoal. Mas, nem por isso deixo, neste momento, de me declarar um Ministro inteiramente ligado ao Partido da Frente Liberal e, muito mais ainda, um Ministro ligado a todos os Senadores que compõem este Plenário.

   A vida pública oferece vários momentos: momentos de emoção, de dúvida, de angústia. Neste instante, fazendo esta comunicação, desejaria expor uma relembrança, não só em homenagem aos idos de três anos aqui registrados, mas também a esta convivência admirável que me valeu a certeza de que o Senado da República é constituído de amigos exemplares. Não me afasto. Se dissesse que vou sair, para me afastar, eu não estaria sendo sincero e correto comigo mesmo. Vou manter, permanentemente, enquanto no exercício da função ministerial, este mesmo diálogo de convivência, que considero fundamental. Também sou homem realista, de pés no chão; não vou anunciar aqui, desta tribuna, que vou realizar um projeto, vou modificar tantas coisas, porque tenho a noção exata do tempo e da realidade do momento que estamos vivendo.

   Quero reiterar, de público, ao Presidente Itamar Franco, a minha solidariedade que, desde os momentos da Comissão Especial que processou o impeachment do Presidente Fernando Collor, ficou manifesta pelo meu gesto de profunda isenção.

   Através dos tempos, convivi com o Presidente da República, e de Sua Excelência somente recebi exemplos de probidade e preocupação com os problemas do País. Estava criado, por certo, um vínculo de respeito de minha parte, pela atuação do Presidente Itamar Franco. Lógico, quando recebi o convite, que considero uma homenagem ao meu Estado, não poderia relutar em atendê-lo. Mesmo porque, nos instantes que antecederam o convite presidencial, conversei longamente com o admirável Líder Pedro Simon, dizendo da visão que tinha das coisas, sobrelevando sempre a posição do Senado da República. Após, conversei com o Ministro Fernando Henrique Cardoso, que mostrava muita preocupação com a situação econômica do País e enfatizava, com insistência, a importância do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo dentro do plano de estabilização que S. Exª vem sugerindo ao País, por meio da participação decisiva e valiosa do Congresso Nacional.

   Portanto, Sr. Presidente, este discurso não é uma despedida nem uma fala de quem vai ausentar-se, mas é a comunicação que devo, por dever de amizade aos meus companheiros do Senado, fazer no dia de hoje.

   O Sr. Jonas Pinheiro - V. Exª me permite um aparte?

   O SR. ELCIO ALVARES - Pois não, ouço V. Exª com muita alegria, Senador Jonas Pinheiro.

   O Sr. Jonas Pinheiro - Nobre Senador, eu começaria por repetir um juízo emitido pelo Senador Jarbas Passarinho na Presidência da CPI do Orçamento: "há convites que honram o convidado e há convites que honram a quem formula o convite". É por este ângulo que vejo V. Exª sendo conduzido a chefiar o importante Ministério da Indústria, Comércio e Turismo. Esta Casa se sente honrada por mais esta escolha presidencial para composição de sua equipe de Governo, porque vem Sua Excelência o Presidente Itamar Franco buscar mais um, entre os outros que já recrutou para o serviço público, para o serviço da Pátria, aqui no Senado. Na verdade, tenho dito que esta Casa é um celeiro de homens experimentados, de ex-Ministros, de ex-Governadores, até de ex-Presidentes da República, de políticos tarimbados, homens que encaneceram na vida pública, homens que já se afizeram ao árduo trabalho da Administração Pública e às dificuldades imensas, aos problemas complexos da atividade política. V. Exª é um desses mais valorosos exemplos que esta Casa tem. O Estado do Espírito Santo, que já o teve como Deputado Federal, que já o teve como Governador, que hoje o tem como Senador e que o terá, a partir de amanhã, como Ministro da República, naturalmente que está extremamente orgulhoso, como estamos todos nós, que temos o verdadeiro privilégio de conviver com V. Exª. Esse homem sábio, ponderado, equilibrado, esse poço de bom-senso, esse manancial de prudência, de experiências, tem sido para nós, aqui no Senado, uma luz, um guia, um orientador, que, nos momentos mais difíceis, rado na superação de tão graves momentos que já vivemos. De modo que V. Exª leva, para conduzir o Ministério, toda essa experiência e, com certeza, não só o apoio de seus 80 Pares, não só o apoio desses 80 Senadores que o homenageiam, a cada dia, a cada hora, pelo que V. Exª representa, mas levará, com certeza, o apoio integral e irrestrito da unanimidade desta Casa pelo conhecimento que temos de V. Exª. Acrescento, nobre Senador, que V. Exª agora se faz mais próximo do Presidente Itamar Franco, e homem competente que é, certamente, haverá de contribuir e de aconselhar o Presidente a buscar, nesta Casa, o relacionamento, a confabulação, a discussão dos problemas, para que, mais próximo deste Senado, possa ter o apoio de que necessita para viabilizar cada vez mais o seu projeto de Governo. Aproveito também para afirmar que não é de bom-senso, nesta hora, extinguir-se ministérios. Digo isso em razão das notícias que estão traduzidas pelos jornais de há muito tempo. Pensa o Presidente em extinguir o Ministério da Ação Social, bem como o da Integração Regional. Não é mais hora disso. Estamos caminhando para o final do Governo. Não dá, sequer, para desmontar os ministérios. É muito mais prudente que Sua Excelência o Presidente da República deixe esta tarefa para o seu sucessor, que já entrará, embutido em seu plano, com o planejamento de extinção de um Ministério e criação de outro. Espero que V. Exª, a par da grande contribuição ao trabalho já feito pelo Ministro e Senador José Eduardo, em seqüência, de forma adequada e correta, às políticas já traçadas, leve aquela Pasta ao sucesso que todos desejamos. Assim sendo, sabemos que teremos êxito na missão que V. Exª exercerá junto ao Presidente da República, que é também a missão política e de fortalecimento das relações do Congresso Nacional com aquele órgão. Era só isso, nobre Senador, com os nossos parabéns e a nossa admiração.

   O SR. ELCIO ALVARES - Senador Jonas Pinheiro, recolho as palavras de V. Exª como mais uma demonstração da amizade que nos une.

   V. Exª foi excessivamente generoso; contudo, investiu-me de uma responsabilidade maior. Não sou um Senador que vai exercer o Ministério como figura isolada. Gostaria que todos que estão aqui fossem solidários comigo na divisão dessa homenagem que se presta ao Senado.

   Não recolho a indicação como mérito pessoal. Recolho-a como respeito a esta Casa, mesmo porque vou suceder a uma outra magnífica figura, que aqui tem assento com muito brilhantismo que é o Senador José Eduardo, a quem declaro, neste momento, de público, que nada mais vou fazer do que dar seguimento aos seus projetos e àquela colocação de patriotismo que S. Exª sempre reiterou, no Ministério; agora, nos primeiros contatos, percebo que sua atuação foi decisiva, que suas marcas são indeléveis. Sair daqueles projetos que foram preestabelecidos seria, na verdade, desviarmo-nos de meta traçada com profunda e rigorosa destinação.

   O Sr. Rachid Saldanha Derzi - V. Exª me concede um aparte?

   O SR. ELCIO ALVARES - Senador Saldanha Derzi, ouço V. Exª.

   O Sr. Rachid Saldanha Derzi - Nobre Senador Elcio Alvares, V. Exª não pode avaliar o meu contentamento, a minha satisfação em ver o Presidente da República agir com alto descortino. Com o alto interesse de servir este Brasil, foi procurar um dos homens mais dignos desta Casa, um homem de capacidade de trabalho, um homem de espírito público. Fomos colegas, por muitos anos, na Câmara dos Deputados e aqui, no Senado; cada vez eu o admiro mais pela correção dos seus atos, por sua postura, sua inteligência, sua capacidade de trabalho e, sobretudo, seu amor ao Brasil. V. Exª, realmente, é um extraordinário Parlamentar, um extraordinário Senador. Sentimos a saída de V. Exª desta Casa, porque realmente V. Exª aqui é um esteio, é uma garantia, ao nosso lado, para a solução desses grandes problemas que aí estão. O nobre Ministro José Eduardo deve estar bastante satisfeito por ver que V. Exª vai substituí-lo nas suas funções, ele que foi extraordinário na condução daquela Pasta. S. Exª deve estar satisfeitíssimo por ser substituído por um homem do seu caráter, da sua envergadura, da sua postura, do seu patriotismo, do seu espírito público. Congratulo-me com o Presidente da República. Não poderia ter escolhido melhor nome para aquela Pasta, de grande importância. Está aí o Ministro que está deixando o ministério, ao qual deu uma outra forma, adotando um outro método de trabalho, que, tenho certeza, V. Exª há de dar continuidade, vindo a aperfeiçoá-lo, o que por certo servirá muito ao nosso País. V. Exª tem inteligência e espírito público. Felicito o Presidente da República pela escolha do seu nome para conduzir o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo. Meus parabéns, nobre Senador.

   O SR. ELCIO ALVARES - As suas palavras, Senador Saldanha Derzi, são um estímulo muito vigoroso a minha atuação. Sei da sua probidade, da sua honradez, da sua dignidade. E o nosso conhecimento não é um conhecimento de hoje. Ele vem dos idos de 1970. Então, nos conhecemos não só pelo afeto, mas pelo respeito recíproco no momento em que nos colocamos por inteiro a favor dos nossos Estados e a favor do País. Suas palavras neste momento representam advertência, porque o seu elogio generoso me adverte para as graves responsabilidades que vou exercitar, e praza aos céus que eu jamais decepcione esse extraordinário homem público que é Rachid Saldanha Derzi.

   O Sr. José Eduardo - Permite-me V. Exª um aparte?

   O SR. ELCIO ALVARES - Ouço V. Exª com prazer.

   O Sr. José Eduardo - Como bem disse o Senador Rachid Saldanha Derzi, para mim também é uma alegria muito grande saber da indicação de V. Exª para o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo. Conhecendo V. Exª como conheci, em dois anos de trabalho, juntos nesta Casa, depois, no Ministério, durante todo um ano, apreciando seu zelo e empenho, a participação ativa e sempre presente de V. Exª nos trabalhos desta Casa, buscando contribuir para a definição dos melhores rumos para o País nesta fase tão tumultuada, difícil, que temos vivido, cada vez mais cresce nossa admiração pelo seu trabalho. Por isso, é enorme nossa alegria ao sabermos da indicação de V. Exª para o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo. Não poderíamos ter notícia melhor do que essa que recebemos, da sua indicação. Obviamente, nos dedicamos profundamente a realizar um trabalho no ministério que fosse uma contribuição efetiva para o crescimento do nosso Brasil. De conversas anteriores com V. Exª, sabemos das boas intenções e do empenho com que V. Exª assumirá esse Ministério, para dar continuidade a esse trabalho. E temos certeza, e isso também nos tranqüiliza muito, que V. Exª saberá corrigir os rumos daqueles programas e projetos que precisam de correção, porque a economia é dinâmica, a vida sócio-política do País sofre alterações e V. Exª, com a experiência de Governador, de Deputado, de Senador, saberá, no momento oportuno, promover as alterações, correções, e criar os novos programas que se farão necessários para que o trabalho realizado por nós tenha a sua continuidade, não só garantida, mas melhorada pela sua experiência, pela competência com que V. Exª tem se desincumbido das missões que seus eleitores lhe confiaram. Isso nos tranqüiliza muito, porque o nosso País precisa realmente do empenho e do esforço de homens da sua capacidade, da sua estatura moral, ética e profissional. Por isto, estamos muito felizes com a sua indicação. Parabéns.

   O SR. ELCIO ALVARES - O Senador José Eduardo marcou com uma esteira luminosa a sua participação no Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo. E afirmo isto para todos os colegas, tocado de justo orgulho, porque quando chegamos a esta Casa, nos idos de 1991, a idéia que se tinha de José Eduardo era a do banqueiro do Banco Bamerindus Era difícil desassociar o banqueiro da figura do José Eduardo.

   Depois, veio a convivência, esse entusiasmo quase juvenil de José Eduardo nas lutas aqui dentro do Senado. Depois, ocorreu um outro fato que me fez respeitá-lo como brasileiro que acredita no País: fui conhecer, lá no Paraná, a sua fábrica de celulose e de papel, que é uma afirmação de trabalho e de confiança no Brasil. Como se não bastasse isso, houve outro episódio que marcou efetivamente a nossa admiração, uma fazenda chamada Mitacoré. Um dia em que cada palmo de terra andado por nós dava uma lição exata da confiança de José Eduardo na agricultura brasileira. E aí o outro lado do banqueiro: José Eduardo não era o banqueiro, era o agricultor, essa a razão do seu chapéu como símbolo de campanha, porque jamais se desassociou da terra.

   Então, no momento em que o Presidente o convocou, numa hora em que precisava realmente da sua participação, José Eduardo foi o somatório de todas aquelas idéias e valores que tínhamos formulado sobre ele. E proclamo hoje, neste instante: para mim vai ser difícil a tarefa de dar continuidade, com o mesmo brilhantismo, àquilo que foi a sua atuação no Ministério que vou ocupar a partir de amanhã.

   Portanto, com este elogio manifesto ao Senador José Eduardo o meu mais profundo reconhecimento por suas palavras generosas. E não tenha dúvida, uma das minhas preocupações é não permitir de forma nenhuma que suas idéias, os seus projetos, deixem de ter a continuidade que todo nós almejamos.

   O Sr. Josaphat Marinho - V. Exª me permite um aparte?

   O SR. ELCIO ALVARES - Pela ordem, concedo o aparte ao Senador Josaphat Marinho, nosso grande mestre, figura que honra sobremodo o Senado da República.

   O Sr. Josaphat Marinho - Caro Senador Elcio Alvares, como seu companheiro de Partido, e pelas boas relações que estabelecemos nesta Casa durante a presente legislatura, quero traduzir-lhe minha satisfação por vê-lo elevado às funções de Ministro de Estado. Para o cargo, V. Exª leva dupla experiência: a do profissional da advocacia e a do político que já foi Governador, foi Deputado e hoje é Senador. Conseqüentemente, V. Exª reunirá todos esses fatores que o têm orientado na vida para a direção de um Ministério, cujos problemas variam, por vezes instantaneamente, por força de problemas de tecnologia e de comércio. Então, a sua experiência de advogado também o ajudará bastante a contornar situações que poderão ser tanto mais difíceis, porque V. Exª vai para o Governo na última fase da gestão do Presidente Itamar Franco. Só tenho que esperar que a sua inteligência e o seu poder de decisão o ajudem a cumprir bem a tarefa que lhe foi confiada. Eu lhe faço esta manifestação com uma grande isenção porque, como é notório nesta Casa, se apoio atos do Governo, também tenho feito manifestações de contrariedade a diversas proposições. Espero vê-lo no Ministério e poder lhe dar a contribuição que me for possível, dentro da linha que me tem orientado neste período de atividade legislativa em que a nossa convivência foi tão cordial. Mais não lhe preciso dizer, porque o mais será dito pelo nosso Líder. Só lhe desejo felicidades.

   O SR. ELCIO ALVARES - Tenho pelo Senador Josaphat Marinho, desde o primeiro dia que cheguei a esta Casa, respeito profundo.

   Sou operário da oficina do Direito, a todos aqueles que, como eu, advogados, empregam na faina diária verdadeiro sacerdócio de respeito à Constituição, à lei, não podem deixar de apregoar publicamente que a figura do Senador Josaphat Marinho é uma figura lapidar. Não podem deixar de dizer, de modo nenhum, que o Senador Josaphat Marinho é, na verdade, uma das maiores inteligências na interpretação do texto constitucional.

   Aqui, mesmo em regime de divergência, uma divergência que é acatada por unanimidade, o Senador Josaphat Marinho tem timbrado por uma posição que merece respeito, e por que não dizer, uma admiração que se renova no exercício do mandato, dia a dia.

   Portanto, suas palavras, Senador Josaphat Marinho, são recebidas por mim como as de um homem justo, correto, que tem uma história na vida política brasileira, sabendo colocar cada expressão com a justeza daqueles que, na verdade, têm o dom da inteligência e, sobretudo, o discernimento para aconselhar no momento exato.

   O Sr. Ronan Tito - V. Exª me permite um aparte?

   O SR. ELCIO ALVARES - Senado Ronan Tito, com muita alegria concedo ao meu eminente Colega, companheiro de ideal, a palavra nesse momento em que estou comunicando à Casa minha breve saída para exercer uma função ministerial. Ouço, com satisfação imensa, o Senador Ronan Tito.

   O Sr. Ronan Tito - Nobre Senador Elcio Alvares, lembro-me de quando trabalhávamos juntos na questão da inadimplência do Brasil com os credores internacionais e que tive, por dever de ofício, de manter contato com banqueiros internacionais, com nosso embaixador e com bancos oficiais. Num belo dia, à tarde, fazendo uma avaliação de todos aqueles contatos, escutei do nosso representante na negociação da dívida externa, o Sr. William Rhodes, uma pergunta, para mim difícil de responder. Ele indagou: "O que há com o nosso País, com o nosso Brasil?" Descobri, no Sr. William Rhodes, um americano, muito amor pelo Brasil, porque, quando criança, ele morou aqui durante 4 anos, o seu pai foi funcionário de uma empresa de navegação, e ele estudou aqui no Brasil. Então, fiz uma provocação ao Sr. William Rhodes, dizendo o seguinte: "Pois é, um País tão rico em matérias-primas e em recursos naturais..." Ele disse-me: "Riquezas naturais importam pouco na época em que vivemos, se isso importasse muito, o Japão, talvez, não estivesse onde está. Estou cobrando do Brasil, porque este País não tem só riquezas naturais em abundância, mas também tem cérebros, cabeças, homens e valores’’. Naquele momento, ele começou a nomear mais de uma dezena de brasileiros ilustres, capazes de levar este País para frente. Ele disse: "O que há com o nosso País?" Eu, na hora, lembrei-me de uma expressão de um jornalista brasileiro: o Brasil continua um elefante amarrado em um pé de alface. Temos as riquezas naturais, homens com capacidade de levar este País para frente, porém, sempre encobrimos a nossa capacidade, o nosso arranque com diversos cobertores, quase sempre com mentiras palmares. A mais importante delas, nos últimos tempos, é que o Brasil ostentava a maior dívida externa do mundo: patranha das patranhas, mentira das mentiras, engodo dos engodos. Vêm sempre as mentiras, uma se sucedendo a outra. Achei algo interessante, nobre Senador: o Brasil importava discursos. Os discursos, hoje, é que acabam por catequizar o País. Antigamente, quando se queria colonizar um país, este era invadido por forças militares, e depois a colonização era estudada. Hoje, a colonização se faz principalmente através do imaginário coletivo. Interessante: os discursos proferidos lá fora pela extrema-direita, para nos amarrar, são repetidos, com denodo, pela extrema-esquerda. Há uma apropriação enorme: a esquerda se apropria e se agarra a um discurso da extrema-de tudo, os heróicos. Ah, os heróicos! Nós precisamos tanto deles na época da ditadura, e muitas vezes estavam debaixo da cama, agora precisamos dos competentes e só aparecem heróicos. Outras vezes aparecemos até com o tapete do moralismo para encobrir a ineficiência ou a mediocridade! Precisamos desamarrar o elefante, só homens capazes poderão fazê-lo. Quando V. Exª disse que a escolha de seu nome para ocupar o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, pretendia homenagear o Senado, quero dizer que se o Senhor Presidente da República assim pensou, homenageou. Acertou em cheio. Todos nos sentimos homenageados pela escolha de V. Exª, Ministro que sai desta Casa. Como disse muito bem o eminente professor e Senador Josaphat Marinho, V. Exª não leva só a competência do político, do parlamentar, mas leva também a experiência do executivo, do governador. É com homens, só com homens competentes, sérios, com amor a esta Pátria, com civismo, seremos capazes de desatar o nó que prende o elefante. Tenho certeza de que V. Exª dará enorme contribuição no Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo. Saiba V. Exª que já fui comerciante e já fui industrial, hoje, sou aprendiz de político. Mas, pelo meu feeling, devo dizer que deposito em V. Exª, pela sua experiência, pelo seu bom senso, uma esperança enorme à frente do Ministério que vai assumir. Quero dizer que este amigo que V. Exª conseguiu cativar já nos primeiros dias de seu mandato nesta Casa - e a cada dia que passa mais solidifica a nossa amizade e o respeito que lhe tenho - está aqui às suas ordens, no plenário e na Comissão de Economia. Disponha. Até hoje não descobri bem para que servem os parlamentares. Há certa confusão na democracia. Pelo menos há uma confusão institucionalizada. Para que servem? Não sei. Mas, para o que servir, conte com o seu amigo. Não digo até logo nem até breve, mas até sempre!

   O SR. ELCIO ALVARES - Eu diria que essa é uma intervenção formosa, porque o Senador Ronan Tito tem uma formosura de falar, às vezes, nos momentos mais ásperos, que me leva a uma indagação: como esse grande Líder nacional, que marcou a sua presença de forma definitiva nessa Casa, sabe abordar esses pontos com tanto discernimento? Entre o Senador Ronan Tito a mim surgiu uma amizade sólida. Não diria que é o atavismo dos mineiros porque, sempre digo isso: a minha honra de ser Senador pelo Espírito Santo é inexcedível, mas, perdida nas minhas Minas Gerais está a cidade-berço, Ubá. Em determinados momentos busco, nessa mineirice sadia do Senador Ronan Tito, inspiração para que possa me situar dentro dos grandes problemas nacionais. Toda essa Casa sabe que a Comissão de Assuntos Econômicos, sem a presença do nobre Senador, perde aquele brilhantismo e aquela tranqüilidade que precisamos ter nos momentos decisivos.

   Na discussão da dívida externa, ninguém foi mais assíduo, ninguém foi mais brilhante - perdoem-me os demais colegas, porque faço um pleito de justiça aberta - do que o Senador Ronan Tito. O seu patriotismo o levou muitas vezes, a título de reuniões de trabalho, a discutir o que representava o legítimo interesse nacional. Essa característica do Senador Ronan Tito será inapagável no dia em que contarmos a história dos verdadeiros representantes do povo, que tinham preocupação com o País e não faziam as filigranas douradas das lantejoulas da publicidade.

   O Senador Ronan Tito não diz uma palavra para agradar quem quer que seja. O Senador Ronan Tito não assume uma postura para que amanhã encontre uma repercussão que não represente o íntimo do seu sentimento. Às vezes é até duro na maneira de falar. Às vezes é até áspero no modo de abordar os problemas. Quando todos estão a ouvir elogios, filigranas, o Senador Ronan Tito se levanta sempre com sua autenticidade para alertar a todos nós.

   Portanto, Senador Ronan Tito, como se não bastasse essa grande e imensa amizade, recolho nesse instante o aparte de um dos Senadores mais patriotas que o Senado da República já teve oportunidade de conhecer.

   O Sr. Beni Veras - Permite V. Exª um aparte?

   O SR. ELCIO ALVARES - Senador Beni Veras, V. Exª terá a palavra agora. Estou fazendo essa despedida de forma coloquial, porque estou deixando a minha Casa, a Casa dos meus amigos, dos meus fraternos amigos. V. Exª, Senador Beni Veras, notável revelação que o Ceará nos mandou, muito me ensinou na convivência da Comissão do Desequilíbrio Inter-Regional Brasileiro, cujo relatório é uma obra-prima e que, por certo, ao longo dos tempos marcará a posição do Senado no questionamento dos desequilíbrios regionais.

   Ouço V. Exª, Senador Beni Veras.

   O Sr. Beni Veras - Obrigado pelas palavras, nobre Senador Elcio Alvares. Essa nossa convivência na Comissão do Desequilíbrio Inter-Regional Brasileiro proporcionou-me a oportunidade de conhecer de perto e sentir o patriotismo que motiva V. Exª Andamos pelo País afora, vendo as misérias que infelizmente nosso País ainda acumula. Tivemos a oportunidade de conversar a respeito desses problemas e pude ver a sensibilidade que marca a personalidade de V. Exª e, além disso, o seu enorme patriotismo, a sua dedicação ao País. Como foi dito em uma dessas reuniões, os Parlamentares, às vezes, eram Parlamentares dos seus Estados, mas a seu respeito sempre se disse que V. Exª é um Parlamentar do País, tal a sensibilidade que sempre revelou no trato das questões nacionais. Essa convivência na Comissão de Estudo dos Desequilíbrios Inter-Regionais proporcionou-nos a chance de ter certeza de que a chegada de V. Exª ao Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo não só manterá o alto nível das ações desse Ministério, como dará ao País essa contribuição que V. Exª tem latente, que não pode de nenhuma maneira ser omitida. Meus parabéns a V. Exª e, mais do que isso, meus parabéns ao Governo Itamar Franco.

   O SR. ELCIO ALVARES - Se no meu lugar estivesse o Senador Beni Veras, eu diria que o Governo estava de parabéns por inteiro, porque o Senador Beni Veras tem a formação de verdadeiro homem público. E não somente a formação, é o seu conhecimento que lhe dá autoridade de ser a palavra ouvida nos momentos exatos.

   Vejo o Senador Beni Veras pela ótica da fraternidade e tenho dito a S. Exª sempre: feliz do Ceará que nos mandou essa esplêndida vocação de vida pública e que aqui, tenho certeza, ao longo dos cinco anos que ainda nos restam, dará exemplos não só ao Senado, mas a todo o País, do que é capaz e daquilo dentro dele é uma lição permanente de amor ao Brasil.

   Muito obrigado, Senador Beni Veras.

   O Sr. Francisco Rollemberg - Senador Elcio Alvares, V. Exª concede-me um aparte?

   O SR. ELCIO ALVARES - Ouço o Senador Francisco Rollemberg, Senador que, como eu, habitou o Partido da Frente Liberal, Senador que, como eu, representante de um Estado pequeno, traz sempre dentro de si o pulsar de realizações, que são manifestações permanentes de vida pública.

   Senador Francisco Rollemberg, recolho sua palavra com satisfação.

   O Sr. Francisco Rollemberg - Eminente companheiro, Senador Elcio Alvares, V. Exª não se despede de nenhum de nós, V. Exª apenas nos comunica que por alguns dias, por algum tempo, que esperamos que seja breve, mas proveitoso para este País. V. Exª irá ocupar o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo do Brasil. Vejo isto, Sr. Senador, como uma notícia alvissareira, como um gesto de inteligência do Senhor Presidente da República, que decide lhe dar as mãos e convocar, do Congresso Nacional, um homem da sua estatura e dizer: "Senador, vamos dar as mãos pelo Brasil." E V. Exª, num gesto de grandeza, concede-lhe esse pedido. V. Exª vai dar-lhe as mãos e, dando-lhe as mãos, oferecer-lhe a sua presença e a sua inteligência no Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, ministério tão bem comandado, até há pouco tempo, pelo nosso eminente colega José Eduardo. V. Exª, ao iniciar o pronunciamento nesta tarde, em que faz essa comunicação, fez questão de frisar que o Presidente o fizera em seu nome pessoal. De início, isso fez parecer a alguns de nós que o Presidente da República não queria vinculação com o partido, mas mostrou-nos, logo em seguida, que o Presidente só poderia agir assim, porque estava substituindo um homem digno, inteligente e competente por outro também competente, digno e inteligente, que é V. Exª O Presidente da República não substituiu o partido por outro partido, mas um Senador por outro. Substituiu o homem que tem história e tradição na vida empresarial brasileira por um homem que conheci há muitos anos, em 1971, quando jovens, iniciávamos nossa carreira política na Câmara dos Deputados. Um jovem que aqui chegou e, de logo, empolgou esta Casa e, porque empolgou esta Casa, foi Líder do Governo, porque como Líder do Governo, de tão elevada estatura, mereceu, naquela ocasião em que os Governadores não eram eleitos, mas escolhidos, a escolha dos seus Pares, entre aqueles que compunham a bancada do Espírito Santo, para ser o seu Governador. V. Exª foi um Governador admirável, eu sei. Disso tenho o testemunho do povo da sua terra. V. Exª governa, volta para sua profissão e, novamente, volta para a vida pública, atendendo ao chamamento do seu Estado. Aqui vem e novamente com proficiência, com inteligência, com cultura, com sabedoria, com experiência - a experiência do saber feito - se destaca nesta Casa. E tanto se destacou que quase todas as comissões parlamentares de inquérito tem contado com a sua contribuição. V. Exª lançou, na semana que passou, um livro falando da Comissão Parlamentar de Inquérito que fez o impeachment. V. Exª honrou o seu Partido e o nosso quando - designados que fomos pelo nosso Líder Marco Maciel, Líder do Partido da Frente Liberal - teve atuação marcante na CPI da Corrupção do Orçamento. E, pela sua postura íntegra, pela sua inteligência e raciocínio rápido, éramos tão necessário que não foi preciso lhe dizermos que não nos deixasse antes que terminassem os trabalhos dessa CPI. V. Exª, então, vai até o último instante, até a última hora levando a sua contribuição estelar; daquela estrela que brilha sempre, não daquela estrela que é cadente e se consome na sua trajetória. V. Exª não se deixou consumir e brilhou nessa CPI. Vai para o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo e - tenho certeza - vai honrar esta Casa, honrar o Espírito Santo, honrar seus familiares, que estão a ouvi-lo neste instante e, principalmente, honrar os seus amigos, que não aceitam a sua presença nesta tarde, na tribuna, senão como mero ato de comunicação. Não há despedida, não há "até breve", não há "até logo", não há "até sempre": há um abraço fraterno e amigo daqueles seus companheiros que dizem neste instante: "Estamos juntos, Elcio Alvares, Senador da República, Ministro do Brasil!"

   O SR. ELCIO ALVARES - Obrigado.

   A viagem da memória nos conduz a emoções. O Senador Francisco Rollemberg despertou-me a emoção do primeiro instante no Congresso, quando, vindo do Espírito Santo, desempenhei um mandato de Deputado Federal. Por uma coincidência do destino, ao seu lado, outro companheiro da leva de 1970, o Senador Marco Maciel.

   Éramos jovens, diria mesmo meninos, começando a viver o primeiro impulso da vida pública em nível nacional.

   O Senador Francisco Rollemberg, através do tempo, tornou-se figura legendária no seu Sergipe; pela sua dignidade moral, pela verticalidade das suas posições, por um trabalho que hoje já está consagrado na história política do seu Estado.

   Segui outros caminhos, mas, por mais distantes que fossem os nossos caminhos: Sergipe, na Região Nordeste e o Espírito Santo, dentro da Região Sudeste, sempre estivemos nos ligando; laços de amizade, laços de patriotismo e a convicção de que o exercício da vida pública não era uma atividade meramente desempenhada em razão de impulso pessoal, mas era, na verdade, o sacerdócio de ideal que em nenhum momento poderia sofrer qualquer dúvida. Senador Francisco Rollemberg, muito grato pela relembrança, que me fez voltar aos idos de 1970.

   O Sr. Marco Maciel - V. Exª me permite um aparte?

   O SR. ELCIO ALVARES - Meu discurso, que não é um discurso e, sim, a simples comunicação, estaria necessitando de algo mais se o Líder Marco Maciel não concretizasse a sua participação.

   Antes de Marco Maciel falar, quero dizer que quando aqui cheguei, encontrei, no seu companheirismo, na sua lealdade, portas abertas e francas; portas abertas que me convidavam ao trabalho; e, acima de tudo, um norte e uma luz, me dizendo que o exercício do mandato de Senador é missão profundamente séria e precisa ser exemplificada em pessoas do porte do Senador Marco Maciel.

   Senador Marco Maciel, meu grande Líder, neste instante, com emoção, ouço o seu aparte.

   O Sr. Marco Maciel - Prezado amigo, ilustre Senador Elcio Alvares, ao aparteá-lo, neste instante, de alguma forma me sinto movido por três tipos de reação: a primeira é a reação do amigo. O amigo que vê um companheiro de décadas de convivência alçado à condição de Ministro de Estado, ou seja, coroando uma longa e rica vida pública. V. Exª, que em sucessivos cargos, quer no Executivo, quer no Legislativo, tem merecido o reconhecimento não somente dos seus co-cidadãos, dos seus coestaduanos, mas, por que não dizer, de toda a Nação brasileira. E V. Exª vai, significativamente, ocupar um Ministério que de alguma forma é nacional, pela sua abrangência, pela multiplicidade de temas que ali são feridos, mas que, ao mesmo tempo, é um Ministério que tem uma funda ligação com a vida do seu Estado. E, de alguma forma, uma ligação muito funda também com a obra que V. Exª realizou como Governador do Espírito Santo. Porque falar no Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo lembra a questão da cafeicultura, porque seu Estado é um produtor de cafés de primeira qualidade; cafés finos, da melhor qualidade; lembra a questão siderúrgica, envolvendo aí não somente o seu transporte, mas também o seu processamento; lembra projetos industriais de grande significação, que se desenvolveram ao tempo em que V. Exª governava o Espírito Santo; lembra, por que não dizer, por fim, o turismo, que é uma vocação também do seu Estado; que tem não somente um povo acolhedor, descontraído, mas também recursos naturais que não podem ser menosprezados. Por outro lado, a ida de V. Exª para o Ministério me deixa satisfeito também como colega de convivência parlamentar na Câmara - momento muito denso da vida política nacional. E, depois, o reencontro aqui no Senado. Nas duas oportunidades, tanto na Câmara quanto no Senado, pude de alguma forma aproximar-me mais do ilustre amigo; conviver de forma mais solidária. Significativamente, nesses sucessivos episódios, estivemos sempre sob o pálio do mesmo Partido, vivendo na mesma organização partidária. E, aqui, V. Exª, oportunamente, lembrou a convivência, ao tempo em que aqui chegamos, com o hoje Senador Francisco Rollemberg, com o então Deputado Federal José Carlos Fonseca, dando exemplo de colegas que vieram na geração de 70, que foram eleitos em 70 e que, durante a década de 70, exerceram funções relevantes no País e no Congresso. A minha terceira reação, nobre colega Elcio Alvares, é de alguém que se tornou admirador das suas qualidades. V. Exª é singularmente múltiplo, porque, sem perder sua autenticidade, sem deixar de ser um amigo leal e afetivo, consegue administrar magistralmente o tempo e destacar-se nas mais diferentes atividades, quer em nível partidário, quer em nível congressual. Por tudo isso, eu diria que este momento é, para a Casa, de alegria - pode parecer paradoxal o que vou dizer - em vê-lo alçado à condição de Ministro e, ao mesmo tempo, um momento de tristeza, porque o vemos partir, ainda que por um curto período, do nosso convívio, para exercer funções a que V. Exª não poderia se recusar, porque funções em que, de forma mais direta, V. Exª poderá servir ao País e às suas instituições. Enfim, a função política - já houve quem o dissesse - exerce-se de forma mais decisiva no Executivo, porque é no Executivo que a pessoa converte de forma mais direta - aquilo que De Gaulle, certa feita, disse que era o sentido da política-idéias em realidade. É através do Executivo que as idéias, como sabe muito bem V. Exª, se convertem em realidade. Por isso, eu diria a V. Exª que sentimos este misto de alegria e de tristeza. Brasília tem suas virtudes. É certo que o fato de deixar, por um período, a Casa e o Congresso não quer dizer um afastamento físico, porque além da convivência, que certamente continuaremos a manter, a Esplanada dos Ministérios é muito próxima da Praça dos Três Poderes. Executivo e Legislativo cada vez mais - e isto é um preceito constitucional - precisam agir integrada e harmonicamente. Tenho consciência de que, se os Poderes são e devem ser independentes - e faço questão de frisar que é um preceito constitucional - eles não podem deixar de ser também harmônicos, sob pena de ferir este mesmo preceito. E V. Exª vai contribuir, com a sua maneira peninsularmente aberta de agir, para a aproximação entre os dois Poderes. Por fim, quero dizer que a ida de V. Exª vai representar, para nós do Senado e para todos do Congresso, uma forma de enlace entre as atividades do Executivo e do Legislativo. V. Exª vai ser alguém que sai do Legislativo para o Executivo, mas que vai estar com olhos atentos a tudo que passa no Senado e na Câmara dos Deputados. Por isso, de alguma forma já antecipando saudades, com muito alegria, efusivamente o cumprimento a aproveito a ocasião para lhe desejar muito êxito, muito sucesso. Sei que Deus, que não lhe poupou qualidades, não deixará de abençoá-lo neste instante de transição do Legislativo para o Executivo. Quero prolongar os meus cumprimentos não somente aos seus coestaduanos aqui presentes, inclusive o Presidente do Partido no Estado, o ex-Deputado Emir, mas também aos seus familiares, significativamente representados por sua esposa, a Irene, amiga de minha esposa Ana Maria, e ao seu pai, que dá, de alguma forma, na sua octogenária juventude, lições de civismo e cotidianas provisões de saber. Por isso, quero dizer a V. Exª que os meus cumprimentos entendem-se os, mas também - por que não dizer? - aos seus familiares. V. Exª tem uma família exemplar, e isto também contribui, e muito, para que V. Exª tenha a serenidade e a disponibilidade de que necessita o homem público para bem incumbir-se de suas funções. Portanto, meus cumprimentos.

   O SR. ELCIO ALVARES - Se soubesse que esta comunicação que estou fazendo agora seria tão marcada por manifestações dessa ordem, ter-me-ia preparado melhor. Vim de forma despretensiosa, mas apartes como esse do Senador Marco Maciel induzem-me a reflexão que quero prolongar no exercício da Pasta ministerial.

   Tenho pelo Senador Marco Maciel respeito e admiração. Desde o primeiro momento em que chegamos aqui no Senado, Marco Maciel ensinou-me os caminhos corretos do exercício de mandato parlamentar pautado pelo extremo amor ao País e consciente das graves responsabilidade que todos temos. É muita emoção que começo a assimilar. Digo a esse notável Líder e companheiro: suas palavras serão permanentes, palavras que não posso deixar de cultivar, palavras que marcaram nossa conversa inicial. Agradeço até hoje pela clarividência das observações e pelo exemplo de probidade que V. Exª tem me transmitido permanentemente. Se alguém tem de agradecer, sou eu, seu modesto liderado.

   O Sr. Valmir Campelo - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador?

   O SR. ELCIO ALVARES - Ouço o Senador Valmir Campelo, com a alegria permanente que cultivamos na nossa amizade do dia-a-dia.

   O Sr. Valmir Campelo - Obrigado, nobre Senador. Meu prezado amigo, Senador Elcio Alvares, o que eu poderia acrescentar diante de figuras tão eminentes da República? Penso que todos os Senadores já falaram aquilo que eu gostaria de dizer, inclusive o meu Líder, o meu amigo, meu irmão, Senador Jonas Pinheiro, que convive também diuturnamente com V. Exª Meu amigo Elcio Alvares eu não poderia deixar aqui de prestar uma homenagem a V. Exª, em meu nome pessoal, já que o meu Líder falou em nome do meu Partido; e, como representante do Distrito Federal, esta Cidade que acolhe todos os Congressistas do Brasil inteiro, eu não poderia deixar de dizer da minha satisfação, da convivência amiga que tive e tenho com V. Exª Eu não poderia deixar de expressar o meu agradecimento pelos ensinamentos que V. Exª me deu e fez com que eu seguisse a passos tão difíceis nesta Casa. Prezado amigo, Senador Elcio Alvares, aprendi a admirá-lo pelo seu conceito, pela sua capacidade, pela sua honestidade, o seu exemplo, e, principalmente, pelo homem, pelo pai de família que V. Exª representa para o País e para a nossa Nação. Eu não poderia deixar também de dizer da minha satisfação nesta amizade, e deixar de transmiti-Ia a uma pessoa ainda tão importante como V. Exª, que é a figura aqui presente do Sr. Ulisses Alvares, o seu pai, que representa um marco nesta família; e dizer também da presença amiga da Srª Irene Alvares, esta pessoa que tão bem se relaciona com todas as esposas dos Senadores da República. Meu amigo Elcio Alvares, o Senado Federal perde, temporariamente, um Senador competente, exemplo para a nossa Nação; mas o nosso País, a partir de amanhã, estará, naturalmente, ganhando um grande homem público na esfera do Executivo: o Senador Elcio Alvares, Ministro da Indústria, do Comércio e do Turismo do Brasil. Que Deus o proteja, que Deus o conserve assim, um homem simples, honesto e competente, e que sirva sempre de lição para a minha geração e para outras gerações que se aproximam. Muito obrigado.

   O SR. ELCIO ALVARES - No exercício do mandato parlamentar, de cada um recolhi lições. Às vezes, não há convivência, mas há elos profundos nos ligando no ideal comum de representar cada um dos nossos Estados.

   Com o Senador Valmir Campelo, a história é um pouco diferente. Cada dia de convivência serviu para construir o edifício da amizade. A preocupação do Senador Valmir Campelo não era propriamente com o Senador Elcio Alvares, o Parlamentar; era com o homem que tem sonhos, tem ilusões, tem desencantos. Vivemos a intimidade da amizade. Talvez seja a coisa mais bonita que exista, a intimidade da amizade, onde confessamos aquilo que é o nosso anseio, a vontade de conquistar, onde confessamos as fraquezas - somos humanos e, como tal, às vezes somos fracos. Mas Valmir Campelo teve sempre uma palavra, que eu diria, não de solidariedade, mas de carinho. Às vezes, quando sentia que estávamos preocupados, S. Exª nos trazia palavra de estímulo e levantava o suporte do ego de cada um.

   Portanto, Senador Valmir Campelo, se este mandato aqui no Senado Federal vai me deixar a gratificação do exercício permanente de vida pública, talvez, um dos maiores patrimônios que levarei é a amizade de V. Exª

   O Sr. Jutahy Magalhães - Permite-me V. Exª um aparte?

   O SR. ELCIO ALVARES - Concedo o aparte a V. Exª, a quem também erigi, desde os primeiros momentos, como Senador-padrão, como Senador-modelo, pela atitude retilínea, pelo comportamento exemplar e pelo acendrado amor não só ao Senado da República, mas também a este País, o qual quereremos ver com dias bem melhores do que os atuais.

   O Sr. Jutahy Magalhães - Senador Elcio Alvares, com as palavras de V. Exª, transfiro para mim a emoção que eu não gostaria de transmitir a V. Exª Eu queria, exatamente, aproveitar este aparte para V. Exª poder se recompor um pouco da emoção que sei deve esta vivendo, neste momento, com tantas lembranças que aqui são trazidas pelos seus Colegas que o admiram, pelas amizades muito profundas que fizeram no decorrer desses anos e que, aqui, já se manifestaram a respeito dos conhecimentos jurídicos de V. Exª, de sua experiência administrativa, de sua ação parlamentar, da força de seu caráter. Tudo que foi dito aqui, eu só teria de subscrever, mas me sinto, neste momento, naquela situação que V. Exª não deseja colocar como despedida. V. Exª vai participar agora de um ministério, de qualquer maneira afastado do dia-a-dia do Senado Federal, e, quando retornar, estarei na minha Bahia, gozando as delícias de um ócio que espero ter merecido. Estou certo, Sr. Senador, de que V. Exª, com sua inteligência, com seu espírito público, vai exercer essa função, esse cargo para o qual está sendo convocado, para dar orgulho e satisfação aos seus companheiros do Senado. Daqui, acompanharemos o trabalho de V. Exª Lamento profundamente não estar, amanhã, em Brasília, para, abrindo uma exceção, ir à posse de V. Exª Mas não é necessário transmitir o abraço pessoalmente; este será transmitido, diariamente, no decorrer do seu trabalho, no exercício da sua missão. Seja feliz. Espero, quando retornar, que de longe eu possa continuar aplaudindo V. Exª

   O SR. ELCIO ALVARES - O Senador Jutahy Magalhães muito contribuiu para que tivéssemos uma transição após o impeachment, feita com clarividência e patriotismo.

   A participação do seu filho, jovem com todos os predicados de político honrado, de um político que tem uma visão do problema social como poucos, pintou, por inteiro, o retrato de seu pai. Eu diria que o Deputado Jutahy Magalhães Júnior é o milagre da renovação do Senador Jutahy Magalhães. O pai que tem um filho como o nosso Ministro Jutahy Magalhães Júnior, o pai que tem o prazer de vê-lo aqui brilhando na participação do seu Partido, o Partido Social Democrático Brasileiro, só pode ter um orgulho, eu diria, acima, talvez, dessas fatuidades que ornamentam a vida humana.

   Jutahy Magalhães Júnior, seu filho, Senador Jutahy Magalhães, foi um Ministro indormido. No nosso Estado, o Estado do Espírito Santo, dir-se-ia, hoje, o Espírito Santo reivindique da Bahia aquilo que considero fundamental, ou seja, o direito de tê-lo como filho dileto, porque no Espírito Santo, se houve Ministro que gravou com letras de ouro a sua participação no Ministério do Governo Itamar Franco foi o Ministro Jutahy Magalhães Júnior. Não descurou um minuto sequer dos problemas da grande Vitória; estendeu seu braço de administrador nas cidades interioranas, e o nome do Ministro Jutahy Magalhães é um nome que se tornava popular, como se não bastassem as sólidas correntes de ligação familiar com a família capixaba que honra o nosso Estado.

   Portanto, só queria fazer um reparo: homens do porte do Senador Jutahy Magalhães nunca podem dizer que estão à procura do ócio, mesmo que esse ócio seja o prêmio de uma vida ilibada; eles têm que estar sempre na posição de convocação. Tenha V. Exª a convicção, no íntimo do seu peito, de que não houve um momento sequer, no exercício do seu mandato, que fraudasse ou vilipendiasse a confiança legítima do povo baiano.

   Senador Jutahy Magalhães, neste momento, permita-me, quando tenho oportunidade de ocupar esta Tribuna, dizer que a participação de V. Exª no Senado da República é exemplar; é paradigma para todos aqueles que aqui estão ou que hão de vir.

   Não há nesta Casa nenhum funcionário, Senador, jornalista ou pessoa que freqüente o plenário do Senado da República que diga que o Senador Jutahy Magalhães deixou de ser o grande Senador da Bahia. Muito obrigado pela sua intervenção.

   O Sr. Iram Saraiva - Permite-me V. Exª um aparte?

   O SR. ELCIO ALVARES - Ouço o Presidente da nossa Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, Senador Iram Saraiva. Quando aqui chegamos, não tínhamos nenhuma identidade. Iram Saraiva era mais um Senador dentro desse elenco de representantes magníficos que dão ao Senado da República a moldura exemplar de homens públicos. Mas tenho a certeza, hoje, Senador Iram Saraiva, de que entre nós há um grande vínculo de amizade. Queira Deus que possa, ao longo do tempo, corresponder à sua confiança e amizade e reiterar a admiração que mais cresce ainda no exercício permanente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Ouço V. Exª com prazer.

   O Sr. Iram Saraiva - Como é bom ser Elcio Alvares, caminhar pelos corredores do Senado e da Câmara, sempre com a paradinha carinhosa de quem toca fundo, assim como se fosse aquele irmão que de repente conhecemos, a todos, sem exceção, Deputados, Senadores, servidores da Casa, jornalistas. Quando V. Exª afirma que não tínhamos aquela intimidade, quero confessar a V. Exª que eu já era um seu admirador. Esse homem público retilíneo, esse homem público que a Nação inteira aprendeu a admirar, não por ser o excepcional Elcio Alvares que conheço, mas, sobretudo, por ser esse político que o povo brasileiro vem procurando, vem reclamando. Quando nos atacam, por meio de ofensas ao Congresso Nacional, o que fere profundamente a sensibilidade de V. Exª, sei que esse povo o exclui dessas críticas. Apenas generalizam. Quem não conhece o Elcio Alvares com quem convivi na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, meu professor, que me orientava com os seus pareceres judiciosos, pareceres dados com tanto conhecimento doutrinário e jurídico, que faz até mesmo do Presidente um aluno tão insignificante, que haverá de crescer, cada vez mais, ao ler o que V. Exª escreve? Vou continuar lendo, como estou fazendo, atentamente essa obra que recebi com carinho desse gigante que comandou aquela Comissão que, para o País, era a Comissão da limpeza, mas que V. Exª soube conduzir com isenção, como magistrado, como a Nação precisava tanto, não preocupado com os flashes, nem com o editorial fácil. Analisando passo por passo, o judicioso Elcio Alvares dava-nos lições que nem o Código de Processo Penal nos ensina. Eu diria que, sem exagero algum, se Clóvis Bevilácqua e Rui Barbosa estivessem aqui no Senado, sentir-se-iam honrados em ser seus colegas. E busquei no Direito Civil homens do maior conhecimento jurídico brasileiro. Também sei que, se Heleno Fragoso estivesse aqui, beberia em suas linhas ensinamentos, porque, quando V. Exª manifesta o seu parecer, queira escrito, queira oralmente, sinto uma pedagógica colocação do que é a verdadeira aplicação da justiça, com equilíbrio e com eqüidade. Tenho dito, lá em casa, que fiz muitos amigos no Senado; em Elcio Alvares, todavia, tenho um conselheiro. Continuarei buscando esses conselhos lá no Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo; vou buscar para este Senador humilde, para o Estado que aqui represento e que sei V. Exª trata com muito carinho. Nobre Senador, não se esqueça nunca de Caldas Novas, que é um primor para o turismo brasileiro, ou de Vilas Boas de Goiás.

   O SR. ELCIO ALVARES - É o primeiro pedido que estou recebendo, como futuro Ministro.

   O Sr. Iram Saraiva - Lembro, ainda, de Pirenópolis das Cavalhadas, onde os mouros e os cristãos são vivenciados e relembrados sempre. Convido V. Exª, que já esteve lá como Senador, a visitar esses pontos, como Ministro. Senador Elcio Alvares, quero dizer à Dona Irene que nós o consideramos de nossa casa - eu, Cida e meus filhos - , e ao Sr. Ulysses, que é o mesmo Ulysses da "Odisséia", que conseguiu, com os anos, singrar os mares, chegar até aqui e ver um filho alçar justamente os mais altos postos na República. Desejo-lhe toda a felicidade. Não nos separaremos. Ao contrário, unirnos-emos mais. Agradeço a Deus por me permitir ser seu amigo. Muito obrigado.

   O SR. ELCIO ALVARES - Senador Iram Saraiva, V. Exª fez uma referência à qual gostaria de registrar, de coração. Meu pai está aqui ouvindo todos os meus colegas e, na modéstia de sua vida, deve estar se indagando sobre esses conceitos tão generosos, que realmente me trazem consciência das lições ensinadas por ele, ao longo da vida. Papai tem 92 anos, é um homem que sabe tudo. Quando conversamos, ele faz comentários sobre todos os problemas brasileiros, cobrando-me nosso comportamento aqui dentro do Senado. É um brasileiro comum, mas que representa o espelho do meu comportamento. Imaginem V. Exªs, nesta breve e despretensiosa locução, sabendo que meu pai, há poucos dias, começou a ouvir novamente, a importância de tê-lo aqui percebendo exatamente o que está ocorrendo. Antes ele não ouvia, agora já consegue fazê-lo, graças aos milagres da tecnologia, e isso me faz feliz.

   Senador Iram Saraiva, vamos fortalecer mais os laços de amizade, as almas afins, os sentimentos iguais, a compreensão da vida; tudo nos conduz ao estuário comum, ao estuário da fraternidade, que é mais forte que o interesse material, o interesse por postos, cargos ou funções.

   Tive de V. Exª ensinamentos e, em nenhum momento, deixou de ser para mim o exemplo de homem que sabe se afirmar, exemplo de homem forte, exemplo de homem que está a mostrar aquilo que considero o maior estandarte da sua posição, a inteligência. V. Exª venceu todos os obstáculos e, hoje, não deixa de ser para mim modelo de personagem. Diria, passado o meu mandato, que o meu tipo inesquecível, um dia, quem sabe, foi o Senador Iram Saraiva.

   O Sr. Mauro Benevides - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Elcio Alvares?

   O SR. ELCIO ALVARES - Iria prosseguir, logicamente tocado pelo sentimento que o Senador Jutahy Magalhães, que já me fotografou, sabe exatamente estar acontecendo dentro de mim. Estou me segurando aqui com pertinácia, para usar o termo do Senador Mauro Benevides. Porém, tenho de abreviar, por causa do tempo e porque as emoções estão começando a formar no meu interior um peso que, para mim, é o mais importante: o da amizade.

   Irei ouvir, logo, o Senador Mauro Benevides. Todavia, concedo, antes aparte ao Senador Irapuan Costa Júnior, que vai me honrar com sua intervenção, a qual considero importante no momento em que estou fazendo a comunicação de breve despedida para exercer o cargo de Ministro da Indústria, do Comércio e do Turismo.

   Ouço, pois, o Senador Irapuan Costa Júnior e, em seguida, como alegria, o Senador Mauro Benevides, a quem quero dedicar uma palavra do afeto mais profundo.

   Senador Irapuan, por favor.

   O Sr. Irapuan Costa Júnior - Agradeço ao meu Líder Mauro Benevides pela compreensão, e digo que não permitiria que V. Exª fizesse a sua peroração sem antes ouvir este meu aparte. Eu não abriria mão dele, porque conheço V. Exª há 20 anos, desde que assumiu o Governo do seu Estado, em que se houve com muita proficiência, com muita seriedade, com muita honestidade. E eu era, nessa época, seu colega no Governo de Goiás. Estivemos várias vezes juntos e falamos dos sonhos que saíam dos nossos corações, das idéias que elaboravam as nossas mentes e até do trabalho que com nossas mãos estávamos executando, V. Exª no seu Estado e eu no meu. E hoje, quando V. Exª assume um importante Ministério neste País, gostaria de dizer que é com muita satisfação que vejo essa Pasta entregue em suas mãos, porque se há uma palavra para defini-lo, meu caro Senador Elcio Alvares, essa palavra é a seriedade. A seriedade não é uma qualidade só, são muitas, e V. Exª as tem. Homem sério é aquele que usa a sua inteligência para desempenhar bem a sua função e, no caso nosso, desempenhá-la em benefício do povo brasileiro, e V. Exª não tem feito outra coisa nesta Casa; homem sério é aquele que respeita o dinheiro público, e esse é um traço na vida de V. Exª; homem sério é aquele que trata com lhaneza os seus colegas, e ninguém mais lhano do que V. Exª nesta Casa; e que trata bem também os seus funcionários, e todos nesta Casa hão de concordar comigo que V. Exª é um homem, é um professor no trato com aqueles que convivem com V. Exª Então, quando falo que V. Exª é, para felicidade de nós, seus colegas, do Governo que passa a integrar e de todo esse povo brasileiro que se debate em uma crise, eu falo para economizar palavras, mas fico repetindo que quando digo que V. Exª é um homem sério é porque vejo nossa qualidade muitas outras resumidas. Muito obrigado.

   O SR. ELCIO ALVARES - Agradeço comovido a intervenção do Senador Irapuan Costa Júnior, que foi meu companheiro nos mesmos anelos de governadoria.

   Vivemos um momento particularmente ímpar na História do País. Lá no Estado de Goiás, a participação de Irapuan Costa Júnior foi intensa para a fixação de comportamento de vida pública. Hoje, esse eminente Senador tem tido aqui uma posição que em todos os momentos honrou a confiança do povo de Goiás. Por certo, como comunheiros do futuro, vamos ainda dizer as mesmas palavras de compreensão, como se fossem os idos de 1975, quando tivemos a responsabilidade de dirigir nossos respectivos Estados.

   Muito obrigado, Senador Irapuan Costa Júnior.

   Permita-me o Senador Mauro Benevides fazer uma colocação. Vejo, com ternura fora do comum, o Senador João Calmon. E se até agora não lhe dei o aparte que ele merece - os colegas vão me perdoar - é porque eu gostaria de encerrar esta moldura - se o Senador João Calmon me permitisse -, com a sua palavra. João Calmon, em todos os momentos, na convivência de amizade fraterna, tem sido um conseIheiro. O seu comportamento como Senador e Deputado do Espírito Santo marcou fase dourada na vida parlamentar do meu Estado. Se o Senador João Calmon me permitir essa pequena reivindicação, me dê o privilégio de ser o último dos meus colegas a falar, porque vou levar as suas palavras no mais recôndito da minha alma, como advertência e conselho.

   Com a aquiescência do Senador João Calmon, ouço o Senador Mauro Benevides. Se me permitir o Senador Mauro Benevides, estou fazendo ao contrário, porque a homenagem é minha para todos os colegas. Não estou abrindo mão de dizer isso, nesses momentos inesquecíveis.

   Sobre o Senador Mauro Benevides, diante dos meus familiares, da minha mulher, do meu pai, dos meus amigos, digo, porque é preciso que eles saibam: se, em muitas vezes, pude dar o melhor do meu esforço em favor do País e desta Casa, a presença de Mauro Benevides foi fundamental. Em nenhum momento deixei de recolher sua palavra de estímulo. Lembro-me de instante histórico em minha vida, quando, evidentemente, nos albores do mandato, existiam dúvidas daquilo que seria capaz ou incapaz de fazer.

   Na escolha do Presidente da Comissão Especial que processou o impeachment do Presidente Fernando Collor, a intervenção do Senador Mauro Benevides foi decisiva, entregando-me uma das tarefas da mais alta responsabilidade que desempenhei até hoje, com palavras que foram não palavras generosas, mas palavras de estímulo e de confiança. Tenho - declaro isso de público, para que todos ouçam - o maior respeito pela probidade do Senador Mauro Benevides, pela sua inteireza e, acima de tudo, por uma vocação de vida pública que considero insubstituível para o Estado do Ceará.

   Senador Mauro Benevides, o seu aparte, neste momento, fecha longo ciclo de gestos generosos de sua parte, dando-me a noção da responsabilidade do meu mandato, mas muito mais ainda, demonstrando amizade inestimável e que quero declarar, neste momento, enquanto viver, imorredoura. Ouço V. Exª

   O Sr. Mauro Benevides - Muito grato a V. Exª, nobre Senador Elcio Alvares, que praticamente me inibe, pelo impacto da emoção, de proferir aquele aparte que eu gostaria de fazer neste instante, absolutamente tranqüilo de que a Mesa, presidida pelo Senador Beni Veras, não seria nunca implacável, inflexível na aplicação do rigor regimental, limitando o nosso tempo no instante em que exaltamos a sua figura como Parlamentar e, sobretudo, o acerto da escolha do Presidente Itamar Franco, que veio pinçar, nesta Casa, V. Exª para servir no primeiro escalão do atual Governo da República. V. Exª mencionou, há poucos instantes, aquele episódio inapagável para a sua vida pública, espetáculo inolvidável, diria eu, para a história político-institucional do País, quando o Senado, em 1992, teve que julgar o ex-Presidente Fernando Affonso Collor de Mello. E, dentro daquele roteiro que se traçaram de normas procedimentais que, instaurado o processo, teriam de ser seguidas de modo rígido, pelas recomendações da Lei nº 1.079, pelos incisos constitucionais e, sobretudo, porque o juiz processante, trazendo para esta Casa toda a sua experiência judicante, as estabeleceu todas, precisávamos fazer com que o Senado Federal cumprisse, de forma exemplar, todo aquele rito de medidas e de providências, inclusive aquelas que deveriam assegurar ao acusado o seu direito de defesa. V. Exª ressalta que, como Presidente da Casa e com o apoio indiscrepante das Lideranças, conseguimos identificar em V. Exª a figura ideal para assumir uma posição delicada. V. Exª reunia os atributos de jurista com longo tirocínio, com experiência, com atuação no foro do seu Estado e com intervenções, também, junto aos Tribunais Superiores aqui em Brasília, e V. Exª aliava tudo isso a sua condição de político experimentado, um homem que tinha trânsito junto a todas as bancadas. Então, naquele momento, V. Exª despontou, diante de mim, Presidente da Casa, e diante de todos os seus companheiros, como a escolha ideal, como o homem talhado para presidir aquela Comissão, que teve como Relator o nobre Senador Antônio Mariz. E, daquela conjugação de esforços, resultou um parecer lapidar, iniciando por ele todas as normas que se seguiram àquela primeira manifestação que, em menos de 24 horas, o Senado tomou conhecimento, pelo empenho de V. Exª, pela clarividência do Relator e pela manifestação de confiança dos 21 membros daquele colegiado que constituímos imediatamente com a instalação do processo. Neste instante, nobre Senador Elcio Alvares, poderia destacar, como já o fizeram outros companheiros, o trabalho de V. Exª nas comissões, a sua atuação neste plenário, atuação permanente, na tribuna, nos apartes, nos conciliábulos, promovendo a superação de dificuldades imensas. Recordo-me que, numa manhã de sexta-feira, V. Exª assomou a esta tribuna, que hoje honra e dignifica mais uma vez, e defendeu as Santas Casas de Misericórdia de todo o País, que atravessavam, naquele momento, uma situação de verdadeira insolvência, pela inadimplência do Ministério da Previdência e os órgãos do Governo Federal que se recusavam, criminosamente, a repassar os recursos devidos às Misericórdias. V. Exª, como homem que apóia o Governo, vem à tribuna e, de forma contundente, incisiva, profligou aquele atraso e fez um apelo lancinante; depois, ocupou muito mais do que a tribuna do Senado Federal, onde ressoa a sua voz tonítrua, ocupou uma cadeia de televisão, por delegação do próprio Presidente da República, que via em V. Exª a figura escolhida para conclamar a Nação naquele momento a um posicionaia, e a afirmação de que o poder público não faltaria, naquele instante, àquelas instituições beneméritas. Tudo isso insere-se em seu currículo. Eu me permitiria, agora, citar um fato recente: há poucos dias, quinta-feira passada, no Salão Nobre do Senado Federal, sob o patrocínio da própria Mesa Diretora da Casa, com a nossa adesão espontânea, V. Exª, autografava seu livro sobre o impeachment, revelando, ao mesmo tempo, o jurista, o político e o historiador, que permitiu, não a nós, contemporâneos desse fato, mas, sobretudo, às gerações porvindouras, o conhecimento exato do que foi um dos grandes momentos da vida política do nosso País. V. Exª há de se recordar que estava eu à direita do Presidente Sydney Sanches e fui instado a ouvir o advogado Moura Rocha ler, dirigida a mim, Presidente do Congresso, e não ao Juiz Processante, Sydney Sanches, aquela carta singela de renúncia do Presidente Fernando Affonso Collor de Mello. Minutos antes, talvez uma hora antes daquela sessão, em meu gabinete - gabinete hoje ocupado pelo Senador Humberto Lucena - , V. Exª e eu havíamos prognosticado aquela hipótese que afinal se configurava. Discutiu-se, na ocasião, quem seria a autoridade competente para receber a carta de renúncia: se o Presidente da sessão, Ministro Sydney Sanches, ou se eu, que não ocupava a cadeira principal, mas que integrava a Mesa na condição de Presidente do Senado. Recordo-me, com absoluta precisão, que V. Exª disse: - Meu Colega, meu Presidente, a autoridade para receber a renúncia é o Presidente do Congresso Nacional. V. Exª é que deverá recebê-la, se realmente for essa a intenção do Presidente da República. - Aquela situação configurou-se com absoluta nitidez, V. Exª teve a visão de futuro para me identificar aquele caminho. Tenho certeza de que o seu livro está fadado a ter a mais ampla repercussão junto aos historiadores, sociólogos, estudiosos de todos os níveis, e não apenas junto aos profissionais de Direito; enfim, a toda gama de pessoas que desejar conhecer um dos episódios mais delicados da nossa história política. Esse livro será lançado, nos próximos dias, junto aos seus conterrâneos, daqui seguindo João Calmon, que é um capixaba cearense, e Gerson Camata; os Deputados e todos nós que nos agregaremos, numa adesão espontânea para vê-lo autografar seu livro, tendo ao seu lado essa dama extraordinária que é D. Irene Alvares e seu pai que, na vitalidade dos 90 anos, também vibrará quando seus conterrâneos o aplaudirem vendo-o consagrar uma atividade político-parlamentar, transplantada naquele livro, que sinaliza, sem dúvida, um trabalho profícuo e fecundo que V. Exª vem realizando como Senador da República, representando o Estado do Espírito Santo. Lamento que V. Exª tenha que deixar o Senado Federal por algum tempo para servir ao Governo Itamar Franco, para levar, naturalmente, ao Presidente Itamar a marca de apoio desta Casa, representada não apenas pela sua bancada, mas pela expressão indiscrepante, generalizada, de todas as bancadas. Para desgosto nosso - e falo como Líder do PMDB, neste instante - V. Exª não integra os quadros peemedebistas. V. Exª chega ao Poder Executivo com a unanimidade do Senado Federal. Quando o Presidente Itamar Franco ouvir os apartes e o discurso de V .Exª, na tarde de hoje, ele proclamará para si próprio e para aqueles que integram o círculo mais próximo das decisões governamentais: - Finalmente, acertei! Escolhi um grande Ministro que no Congresso terá trânsito suficiente para superar, às vezes, a falha e a omissão de lideranças dos partidos que me apóiam. - Não é que eu queira hipertrofiar V. Exª para assumir uma postura de coordenação no Governo. Não! Sei que V. Exª conhece as limitações do seu cargo e das suas atribuições, mas isso seria como uma força telúrica que V. Exª irradiaria sobre seus colegas do Senado, para que nós nos dispuséssemos a dar uma colaboração, não apenas ao Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, mas, sobretudo, ao Governo Itamar Franco como um todo, já que ele teve o privilégio de contar, na pessoa de V. Exª, com um auxiliar direto , capaz, competente, de espírito público inexcedível, que deixa o Senado abrindo uma lacuna entre nós, seus amigos, mas vai trabalhar com a dimensão bem maior, não apenas na tribuna, nem nas Comissões desta Casa: V. Exª vai atuar como Ministro da Indústria, do Comércio e do Turismo, e vai, sem dúvida, impulsionar esses setores vitais da máquina administrativa federal. A nossa saudação, Senador Elcio Alvares, a minha própria e da minha bancada, o PMDB!

   O SR. ELCIO ALVARES - Se emudecesse agora, nessa tarde-noite tão gratificante para mim, a culpa seria do Senador Mauro Benevides. Já falei tanto pela vida afora, já discursei, já fui para comícios, já negociei coisas de Governo e sempre fiz da palavra meu instrumento de emoção e de trabalho, mas há essa afirmação comum de que, às vezes, as pessoas emudecem porque não sabem dizer aquilo que a emoção perturba.

   Conversamos tanto, Mauro Benevides e eu, numa linguagem coloquial, numa linguagem de amizade: Mauro me contando sua vida, e eu dizendo a ele as minhas coisas. Em momento algum, fomos Senadores da República. Simplesmente amigos diletos.

   Penso que um dos sentimentos mais importantes no homem é o da gratidão. O homem que não é grato não merece nenhuma amizade. Se, neste momento, proclamo desta tribuna minha gratidão a Mauro Benevides, quero dizer, por inteiro, porque os gestos, as palavras foram fundamentais para sentir, com toda a intensidade, a grande alma desse cearense que presidiu esta Casa com tanto brilhantismo, com tanta inteligência.

   Lembro-me de Mauro Benevides nas sessões do Congresso, dando toques geniais de inteligência. Mauro Benevides, às vezes, até com perspicácia, fazia observações que eram marcas vivas daquilo que é seu maior patrimônio, e ninguém tenha dúvidas disto: o espírito aformoseado pelas coisas da cultura, do talento e - diria mais - da vida pública.

   Senador Mauro Benevides, há expressão singela, mas que, quando dita da maneira como vou dizê-la agora, é a expressão total de gama infinita de vivências, síntese perfeita das nossas conversas do dia-a-dia: Senador Mauro Benevides, muito obrigado!

   O Sr. Aureo Mello - V. Exª permite-me um aparte?

   O SR. ELCIO ALVARES - Senador Aureo Mello, o Amazonas está lá em cima, e o Espírito Santo está ali na costa do Brasil, recebendo o afago do Atlântico; mas nós conseguimos um milagre: juntamos o Espírito Santo ao Amazonas em uma vizinhança que, para nós, para a minha família, é altamente honrosa.

   Senador Aureo Mello é homem que tem a sensibilidade na ponta dos dedos; o Senador Aureo Mello é um homem de coração imenso, que abriga dentro dele as amizades infinitas.

   Senador Aureo Mello, ouço sua palavra.

   O Sr. Aureo Mello - Muito obrigado, Senador Elcio Alvares. Tenho a impressão até de que eu é que vou ser o Ministro e não V. Exª (Risos). Realmente há um provérbio, muito conhecido, que diz que por trás de um grande homem sempre existe uma grande mulher. Eu, antes de qualquer outra coisa, quero fazer aqui uma saudação muito amiga e sincera à ilustre cantora e intelectual e grande esposa e grande amiga, que é a Dona Irene Alvares. Nessa vizinhança, a que V. Exª acabou de aludir, D. Irene tem nos revelado uma coisa que realmente não é fácil descobrir: aquela infinita bondade espontânea, que não é formada de uma postura ou de uma atitude artificial; é alguma coisa que nasce dela própria e, por isso mesmo, atinge diretamente o nosso coração e nos comove. Realmente impressiona porque é muito rara, é muito incomum. No infausto acontecimento da morte da minha filha, Neomênia, em um desastre de automóvel, que ontem completou três meses, D. Irene foi uma amiga, uma irmã, uma mãe, foi até uma visão celestial. O carinho com que nos tratou, a assistência que nos dispensou, a solidariedade humana que revelou a todo instante fizeram de nós seus amigos imperecíveis a fizeram a nossa gratidão ser absoluta e imorredoura, naturalmente extensiva a toda a família de V. Exª, Senador Elcio Alvares. Realmente, por trás de um grande homem, sempre existe uma grande mulher. Por isso, antes de mais nada, quero formular esta saudação a D. Irene na certeza de que, em toda a trajetória de grandeza de V. Exª, está presente aquela manifestação de inteligência, de bondade, de amor e de carinho espontâneos, que são peculiaridade dela, para nós revelada naquele infausto ensejo. V. Exª irá ocupar o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, da mais profunda responsabilidade e significação neste País. Quem sabe o que é gerir ou comandar a indústria no Brasil, quem sabe o que será lidar com todas as instituições e com toda a coletividade comerciante do Brasil; quem sabe, afinal, que, partindo dessas duas alas prosaicas, V. Exª também terá sob a sua responsabilidade a importante tarefa de coordenar o turismo brasileiro, pode imaginar o que o espera, qual o tremendo encargo que lhe é atribuído e qual, ao mesmo tempo, a prova de confiança que o Presidente Itamar Franco está depositando na sua pessoa de jurista, na sua pessoa de Parlamentar, de homem de inteligência, de sensibilidade e de lhanura indiscutíveis. Somente assim poderá V. Exª capitanear, ser o bom timoneiro dessas parcelas importantíssimas da sociedade brasileira e vir a bom porto fazer com que a indústria se veja feliz, satisfeita e integrada, ao mesmo tempo, com as suas tarefas essenciais, que representam o futuro deste País; o comércio, que é uma atividade tradicional no Brasil desde os tempos do seu descobrimento, e também essa porta nova, quase celestial que se abriu e está abrindo ainda agora, cada vez mais - o turismo brasileiro -, que alcançará Estado por Estado porque cada Estado brasileiro é um pedaço do paraíso, é um reino encantado, cheio de coisas maravilhosas, é uma trajetória para ser feita pelos anjos e por aqueles que querem conhecer um pedaço do céu. Senador Elcio Alvares, V. Exª tem pela frente uma missão gigantesca, mas tenho certeza - e tenha V. Exª essa certeza - de que V. Exª saberá se desincumbir plenamente, em função da sua cultura, da sua inteligência e do seu temperamento. Encontrará também no Senado a solidariedade dos seus companheiros e amigos, que estão preparados e dispostos a ajudá-lo e a fazer com que o nome de V. Exª cresça na mesma proporção que o seu Ministério se alevantará. Portanto, nobre Ministro Elcio Alvares, bom êxito na sua nova missão; que o Presidente Itamar Franco se sinta realmente recompensado pela inspiração que teve em apontar o nome de V. Exª para seu Ministério; que o seu partido também se sinta gratificado pelo fato de tê-lo apontado como seu representante para o Ministério. Encerrando as minhas palavras com chave de Aureo - não com chave de ouro, porque quem vai encerrar com, chave de ouro é o nobre Senador João Calmon - desejo sinceramente a V. Exª todas as venturas; à sua senhora, toda a alegria possível, decorrente dessa sua nova atividade; ao seu venerando pai, aquele orgulho indiscutível que todos os pais sentem pelo triunfo dos seus filhos; e ao Espírito Santo, ao glorioso e rico Estado do Espírito Santo, envio os parabéns e a certeza de que, através desse ilustre filho seu, ele estará sendo vitorioso, mais uma vez, no campo da atividade pública. Concluo, pedindo a V. Exª que não esqueça aquele Estado pequenino e modesto, humilde e próximo, chamado Amazonas, que lá, no extremo norte, abre os seus braços para acolher os turistas e para ser transformado, quem sabe, numa fábrica de navios potentes, que possam singrar aqueles rios, estradas líquidas que ali estão e, ao mesmo tempo, a fábrica das armas poderosas que impeçam a cobiça internacional de levá-lo de uma vez do Brasil. Parabéns, portanto, Senador Elcio Alvares e muito sucesso na sua nova missão de Ministro mais poderoso de toda a República.

   O SR. ELCIO ALVARES - Num mundo de violência e de incompreensões, há que se colocar a poesia. A poesia é fundamental para que os homens entendam que são racionais e têm sentimento.

   O Senador Aureo Mello, que nos honra com a lhaneza do seu espírito e da sua amizade, coloca poesia em tudo que diz, em tudo que fala. Hoje, me surpreendo aqui quando o Senador Aureo Mello - Senador, por inteiro, me leva também a reflexões de ordem administrativa e de posicionamentos que têm que ser feitos em favor do seu Estado, o Amazonas, para o qual, dentro da visão do turismo ecológico, certamente merecerá lugar de destaque em qualquer projeto do Ministério do Turismo.

   Se o Senador Aureo Mello me permitir, em nome de minha mulher Irene, devolvo, com o mesmo carinho, o mesmo afeto, todas as demonstrações de ternura que ensejou a minha mulher viver um momento importante na sua vida. Devolvo à D. Tereza essa expressão de alma interior que V. Exª transmite a todo momento, dando aos fatos não o lado material, mas o lado espiritual, o lado que realmente alimenta aquilo que temos de mais sagrado: a sensibilidade e o íntimo que, às vezes, é insondável, diante das agruras a dores humanas.

   Senador Aureo Mello, somos vizinhos, tão juntos e tão perto; nos momentos de alegria, sempre estivemos presentes; na ausência, nos momentos de dor, dediquei-lhe uma prece; acho que foi muito mais importante quando a Irene disse aquilo que pensávamos: que minha prece não fosse uma prece solitária.

   Portanto, muito obrigado, muito obrigado mesmo, e, tenha certeza, sua palavra foi momento de ternura; ternura que só os poetas sabem fazer.

   Chego na fase derradeira, não diria sucumbido pela emoção; chego à fase derradeira consciente das graves responsabilidades. E inverto, da maneira mais informal possível, o sentido do discurso: não concedo o aparte, exijo-o.

   Para encerrar essa grinalda tão bonita de palavras, que hoje ornamentaram minha personalidade, faladas por vozes inesquecíveis, convoco, reclamo, exijo o aparte desse grande Senador do Espírito Santo, meu dileto e fraterno amigo, Senador João Calmon, de quem recolho as palavras finais com emoção e muita amizade.

   O Sr. João Calmon - Sr. Presidente, nobre Senador Elcio Alvares, Srs. Senadores, neste momento, falo por delegação do nosso eminente Colega, Senador Gerson Camata, que ficou retido em nosso Estado, mas me pediu que saudasse V. Exª, em nome do nosso futuro Governador e dileto amigo de todos os membros do Senado Federal. Falo também por delegação de um irmão de V. Exª, nobre Senador Elcio Alvares: José Carlos da Fonseca, ex-Deputado Federal, aqui presente, e que desde o primeiro minuto aqui permaneceu para lhe prestar esta homenagem, que é uma das mais emocionantes de que participei nos 31 anos de minha vivência no Congresso Nacional. A minha homenagem maior, nobre Senador Elcio Alvares, dirige-se à doce Irene, que aí está na tribuna de honra, e ao seu amado pai, nos seus 90 anos, bem vividos, que tem como título maior de glória da sua vida V. Exª, nobre Senador Elcio Alvares. O nosso Estado, geograficamente tão pequeno, vai ter, a partir de amanhã, o seu quarto ministro, depois de Eurico Sales Aguiar, que foi titular da Pasta da Justiça de Ernane Galvêas, Ministro da Fazenda; do recentíssimo Ministro Romildo Canhim, titular da Pasta da Administração. Estou certo de que depois da sua fulgurante atuação na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o impeachment do então Presidente Fernando Collor e da CPI do Orçamento, V. Exª ocupará um lugar de singular relevo na História da terra capixaba. Por mero acidente, V. Exª nasceu em Ubá, Minas Gerais, mas todos nós não abrimos mão da sua condição de capixaba, capixaba que adora a nossa terra e que honra o nosso Estado. Creio, nobre Senador Elcio Alvares, nesta rápida saudação, que V. Exª preenche as três condições que, segundo aprendi em uma visita a uma academia política na então República Federal da Alemanha, devem marcar a vida de um homem público: o primeiro requisito é ficar em paz com a sua consciência, e é o que V. Exª tem feito ao longo de toda a sua fulgurante carreira política; em segundo lugar, defender os interesses do seu país - e V. Exª não tem feito outra coisa ao longo do exercício dos seus mandatos de Deputado Federal, Governador do Estado e Senador da República - vindo apenas, em terceiro lugar, seguir as diretrizes do seu partido. Creio que V. Exª, que cultiva a modéstia, talvez ainda não tenha feito uma análise sobre sua carreira política. V. Exª passou quatro anos como Governador do nosso Estado. Lembro-me de um momento culminante da sua vida, quando estava no plenário do Auditório Petrônio Portella, não na Mesa que dirigiu os trabalhos. Era apenas, eu diria, um dos numerosos membros da CPI. De repente, sem que V. Exª sequer tivesse sido programado como um dos oradores, naquele momento culminante da vida do Congresso brasileiro, em todos os tempos, V. Exª pediu a palavra e, num improviso realmente antológico, que jamais esquecerei, arrebatou não apenas aqueles que se encontravam no Auditório Petrônio Portella, mas eu diria milhões de brasileiros que acompanhavam, através da televisão, todos os detalhes daquela sessão inesquecível. Agora, como coroamento desta fase da sua fabulosa vida pública, porque outros êxitos o esperam, V. Exª se prepara para assumir um Ministério do Governo Itamar Franco. Estou certo de que V. Exª vai honrar cada vez mais aquele Estado que elegeu como a terra do seu coração. A sua honestidade, a sua correção como homem público, como chefe de família, como amigo, cuja capacidade de conquistar amizade, de mantê-las e consolidá-las cada vez mais representam um tipo de glória. Eu não poderia deixar de dirigir estas palavras em nome de todos os seus conterrâneos do Espírito Santo, desde o distrito mais humilde à nossa bela Capital. Que Deus o abençoe, nobre Senador Elcio Alvares, honrando a vida pública deste País como um dos seus astros mais fulgurantes.

   O SR. ELCIO ALVARES - Vou conversar com o Senador João Calmon como se estivesse conversando com o velho Ulysses, no alto dos seus 92 anos. Não que exista entre nós uma grande diferença de idade, mas sim poque tenho por João Calmon respeito que chega a ser filial. Quando vejo Calmon fazendo a pergunta - que para mim está sendo habitual: ‘’Onde anda o italianinho?", respondo-lhe sempre que Camata tem um modo de agir bem diferente do nosso. Camata é um vitorioso permanente. Camata é, talvez, o modelo de político no Espírito Santo que ganhou todas as eleições, um verdadeiro feiticeiro do voto. Mas quando João Calmon pergunta por Gerson Camata e a ele se refere de maneira tão afetuosa como "o italianinho", é o Calmon pai, o Calmon conselheiro, o Calmon que tem cuidado por nós.

   Sei que comigo João de Medeiros Calmon - nome que é uma legenda, que entrou na História do Brasil de maneira tão afirmativa pela coragem, "João Sem Medo" -, é excessivamente generoso. Generosidade que brota da convivência de tantos anos e, agora, neste grande milagre do Senado que vou revelar: esta Casa é uma usina permanente de amizades. Os que ingressam neste plenário são tocados por um feitiço, cujo sabor os que estão lá fora talvez não entendam. Não é corporativismo, não é espírito de classe; é irmandade, identidade de propósitos. E João Calmon reina aqui pela grandeza de seu exemplo, pela vida toda marcada por episódios que servem de reflexão. João Calmon não é somente esse paladino da educação constante, toda hora falando, pedindo verbas, pedindo respeito ao Texto Constitucional, dizendo ao Ministro Murilo Hingel da importância da sua visão de idealista. Às vezes, até, João Calmon é o Senador da Escola Técnica de Colatina, que foi na verdade a corporificação material dos seus sonhos. O João Calmon que fala, que vai ao exterior defender a educação; o João Calmon que para nós, permanentemente, é apóstolo da educação, um dia pegou o ideal dos infinitos do seu espírito, da sua inteligência e plantou o ideal lá em Colatina. Uma escola técnica que pelos tempos afora vai testemunhar, na força dos alicerces, do cimento, do ferro, a grandeza deste homem que teve o dom sublime de perceber que a educação é a pedra angular de um povo que deseja alcançar lugar privilegiado no concerto das outras nações.

   João Calmon foi companheiro nos meus albores na televisão, quando se iniciava, no Espírito Santo, os primeiros momentos de imagem - imagem fugidia. Mas era João Calmon que estava ali dando o toque de pioneirismo que o Espírito Santo viu. Ali, quem sabe, nas primeiras aparições no vídeo, o político Elcio Alvares começava a ensaiar os passos iniciais através dos Diários e Emissoras Associadas, representados pela TV Vitória.

   João Calmon é uma figura que o Camata um dia, na penitência dos seus pecados políticos - e teve alguns, inclusive em relação a mim - quando o destino do Espírito Santo foi decidido por um gesto de Camata, que nos deu uma penitência muito grande, que amarguramos até o dia de hoje, a derrota da eleição de 1986. João Calmon foi para Camata, num determinado momento, a absolvição do seu pecado político - se pode existir mais alguns que catalogo ao lado daquela memorável eleição de 1986. No momento em que Gerson Camata, na força do seu prestígio, Camata que era a grande força que comandava o processo eleitoral, percebeu que a força do poder econômico, a força dos conchavos políticos estava atropelando o homem santo no seu comportamento político, não teve dúvida e, atendendo às instâncias do amigo dileto do Senador João Calmon, o Rui, fez uma carta ao povo do Espírito Santo dizendo da importância da eleição de João Calmon. A voz de Camata ficou em 1986. É dessas vozes que têm a força de eco extraordinário e ela percute por todo o Espírito Santo. E agora, nas imediações da eleição de 1994, Gerson Camata não vai falar sozinho; Gerson Camata vai contar com um companheiro ao seu lado, chamado Elcio Alvares, dizendo ao povo do Espírito Santo que a luta de João Calmon pela Educação é tão nobre que deve ser a moldura de uma eleição, que será um preito de gratidão de todos os capixabas, àquele que, em nenhum momento, descurou do seu ideal e, com uma simplicidade de gestos, mas uma dedicação obsessiva à causa que abraçou, inscreveu-se neste País como o grande paladino da Educação brasileira.

   Meu amigo João Calmon, meu companheiro João Calmon, meu conselheiro João Calmon, sabemos como tudo começa. Amanhã, dou o primeiro passo para participar de experiência nova na minha vida pública. Vou dirigir um Ministério. O que será a trajetória desse Ministério, somente Deus poderia responder, se nos desse o privilégio da antevisão do futuro. Todavia, vou levar ao lado dessas preces que recolhi de votos de êxito, as palavras maiores daqueles que podem me falar, no sentido do aconselhamento.

   Tantas lições hoje recolhi, que estão dentro de escrínio dourado como provas vigorosas de que a amizade é a alavanca que nos leva a realizar e a fazer as obras e as tarefas.

   Encerro, João Calmon, dizendo a você que - e permita-me agora a intimidade, a intimidade do companheirismo, cadeira lado a lado - se alguma coisa posso pedir em seu favor, pela verticalidade do seu comportamento, é que o nosso povo do Espírito Santo, nos confins lá de Mucurici, nas barrancas do rio Itabapoana, esse rio Itabapoana tão claro e tão querido do Deputado José Carlos da Fonseca - que agora me honra com sua presença desde o primeiro momento, e que agradeço de coração, porque é toda história de vida, uma história dos primórdios da vida pública - então, João Calmon, quando você cruzar os mais longínquos rincões do Espírito Santo, ao passar pela sua Baunilha querida, onde estaria, ao lado da estrada, a casa em que nasceu João Calmon, Deus coloque a mão sobre sua cabeça, João Calmon, e o proteja da maneira mais sublime que um homem pode ter a proteção divina e faça com que todos os capixabas compreendam que sua missão não é uma missão que acabe com este mandato; sua missão é uma missão que nunca terá fim, porque os idealistas vivem em razão do ideal; e no dia em que morrem deixam exemplos que são cultivados como tochas ardentes e passadas de mão a mão, na carreira e no revezamento daqueles que, seguindo os exemplos, sabem perpetuar, pelo menos lá fora, os nomes que aureolam a vida pública brasileira.

   No dia em que se escrever a história do Espírito Santo, no dia em que se falar da Educação no Brasil, vamos colocar dentro de relicário exemplar a figura que diria, na luta em favor da Educação, quase santa, de João Medeiros Calmon, que, para honra minha, integra a bancada do Espírito Santo, e que, na última palavra desta comunicação, tocou no meu sentimento com a sensibilidade que somente os espíritos privilegiados são capazes de fazer. Muito obrigado, Senador João Calmon, orgulho e glória da representação do Espírito Santo no Senado da República.  

   Meus companheiros, agora faço o convite universal. Não tive tempo de redigir convites, e quero fazê-lo desta tribuna. A partir de amanhã o Ministério da Indústria, Comércio e Turismo será o prolongamento do gabinete de cada um. Quero recebê-los da mesma forma, de braços abertos, o que não me impede de fazer o cultivo diário desta Casa, porque aqui virei buscar, permanentemente, a fonte de inspiração para corresponder à confiança do Presidente Itamar Franco.

   Minhas palavras de convite para a posse amanhã, às 11 horas, no gabinete do Presidente da República, para a transmissão do cargo e, às 17h30min, no Edifício do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo representam o maior preito de agradecimento e homenagem a todos os Colegas que integram as bancadas de todos os partidos do Senado da República.

   Para encerrar, quero, neste momento, reafirmar, na força do meu ideal, na convicção da minha sinceridade, uma palavra de solidariedade permanente ao Presidente Itamar Franco. No período inicial em que aqui me coloquei a favor do Governo, buscando a governabilidade, tive momentos que me conduziram ao convívio pessoal com o Presidente da República. Não fui colega de Sua Excelência nesta Casa. Do Presidente sei de alguns atos e de participações em várias fases do processo legislativo.

   Conheci Sua Excelência no Exercício da Presidência da República e hoje quero proclamar aqui, de público, que no momento em que me invisto da responsabilidade de Ministro da lndústria, do Comércio e do Turismo, sou um dedicado e fiel companheiro do Presidente Itamar Franco.

   Neste instante, manifesto aos meus queridos Pares do Senado da República a certeza de que vou trabalhar denodadamente, para que o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo dê ao Presidente da República a sua parcela de colaboração; para que possamos, ao término da jornada, dizer que o Senado da República, da força viva da solidariedade que ora estou recebendo, fez-se presente, dando ao Presidente, não só o apoio necessário à governabilidade, mas, sobretudo, a convicção de que este Senado da República, onde estão presentes figuras que exornam a vida pública brasileira, em nenhum momento da vida nacional faltou com seu compromisso de dignidade. Nos vários processos que aqui ocorreram, o Senado disse ‘’presente’’, de forma afirmativa, patriótica e profundamente correta para com os destinos do País.

   Muito obrigado, Sr. Presidente, pela benevolência de nos aceitar além do horário. A todos os Colegas aqui representados e reunidos, diria, simplesmente, que o que ouvi hoje eleva a convicção de que, cada vez mais, tenho que ser humilde em razão dos desígnios de Deus. No momento em que deixo esta tribuna, só peço que Deus me proteja sempre, como o fez até hoje, porque, às vezes, as tarefas, aparentemente fáceis, são as mais difíceis. Aos meus queridos e fraternos amigos do Senado da República, gostaria de afirmar que, onde estiver, cada um estará muito perto de mim.

   Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 25/01/1994 - Página 316