Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM POSTUMA A MEMORIA DO COMENDADOR E LIDER EMPRESARIAL ALAGOANO TERCIO WANDERLEY.

Autor
Guilherme Palmeira (PFL - Partido da Frente Liberal/AL)
Nome completo: Guilherme Gracindo Soares Palmeira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM POSTUMA A MEMORIA DO COMENDADOR E LIDER EMPRESARIAL ALAGOANO TERCIO WANDERLEY.
Publicação
Publicação no DCN2 de 28/01/1994 - Página 395
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, TERCIO WANDERLEY, EMPRESARIO, ESTADO DE ALAGOAS (AL).

    O SR. GUILHERME PALMEIRA (PFL-AL. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente. Srªs e Srs. Senadores, no último dia 3 de janeiro, o Estado de Alagoas perdeu seu maior líder empresarial. Faleceu em Maceió, aos 93 anos, o Comendador Tércio Wanderley, um homem que poderia ostentar, com toda justiça, o título de homem de visão. É para reverenciar sua memória, para prestar-lhe uma homenagem, que ocupo, hoje, a tribuna desta Casa.

    Tércio Wanderley era pernambucano de Bom Conselho, onde nasceu em 1900, e só aos 11 anos veio morar, com toda a sua família, no Município de Palmeira dos Índios, em Alagoas. Cedo preferiu dar asas a seu aguçado tino de comerciante que o transformaria, mais tarde, em um dos maiores empresários deste século em todo o Estado. Com o apoio do pai, montou sua primeira firma comercial, aos 18 anos, a Wanderley & Melo, com um capital de cinco contos de réis.

    Dedicou-se inteiramente à luta pela sobrevivência e pela consolidação do empreendimento, sem se importar com o desconforto dos meios de transporte mais facilmente disponíveis na época: trem e lombo de burro. Seu ramo de negócios era estivas em geral. "Vendia de tudo. Do charque ao palito... Tudo em grosso. Viagens cansativas pelo interior de Alagoas, e até de Pernambuco, marcaram a minha luta de comerciante.", dizia ele, ao rememorar o início de sua longa trajetória de empresário.

    Crescendo nos negócios e tendo por objetivo dedicar-se à atividade industrial, Tércio Wanderley montou em Maceió uma fábrica de sabão e uma de velas. Em 1936, passou a dedicar-se ao ramo de tecidos, adquirindo o controle acionário da Fábrica Têxtil, em Sergipe, que continuou a existir até 1952. O encerramento das atividades naquele Estado não significou, entretanto, que o empresário estava abandonando o setor têxtil. Continuou nesse ramo de negócios até 1956, controlando a Companhia Pilarense de Fiação e Tecidos, sediada na cidade do Pilar, em Alagoas.

    Lutas não o desanimavam. Confessava não gostar das calmarias e nunca ter tido medo das tormentas. Com as atividades cada vez mais diversificadas, Tércio Wanderley deu a grande arrancada para tornar-se o dono do maior complexo empresarial do Estado em 1941, quando assumiu o controle acionário da S.A. Usina Coruripe, que produzia, naquela época, 33.454 sacos de açúcar de 60 quilos. Hoje, a unidade é o maior complexo industrial do gênero no Nordeste. Essa Usina, juntamente com a destilaria Camaçari, surgida tempos depois, têm, hoje, uma capacidade instalada para produzir mais de 5 milhões de sacos de açúcar de 50 quilos.

    Na esteira do crescimento da Usina Coruripe, várias empresas foram nascendo, numa demonstração inconteste de que o caminho trilhado era seguro. A diversificação das atividades empresariais do Grupo Tércio Wanderley veio como conseqüência natural do sucesso dos empreendimentos. A ampliação das atividades da Coruripe motivou, em 1961, a criação da CIPESA - Comércio e Indústria de Postes e Engenharia S/A, empresa de construção civil especializada na fabricação de postes para a eletrificação e de pré-moldados de concreto, na construção de imóveis e em outras atividades do ramo da construção civil.

    O povoado de Camaçari ganhava dimensões sempre proporcionais ao crescimento da Usina Coruripe. Em 1969, o espírito empreendedor de "Seu Tércio", como era chamado, visualizou mais crescimento e criou a Agropecuária Tércio Wanderley Ltda, iniciada com um rebanho de apenas 350 reses e possuindo hoje mais de 6 mil cabeças de gado. Em 1978, o Grupo deu início à construção de uma destilaria anexa à usina, a Destilaria de Camaçari, cuja produção atual é de cerca de 50.000.000 de litros de álcool por dia.

    O transporte dos produtos sucro-alcooleiros, das peças de reposição das indústrias, dos equipamentos agrícolas e dos materiais de construção motivou a criação, em 1971, de uma transportadora que daria origem, no início da década de 80, à empresa Sapucaia, Comércio e Transportes Ltda. Esse não foi, porém, o último empreendimento do grupo. Mais tarde vieram a Capiatã Aqüicultura, Comércio e Exportação, em 86, que produz os camarões gigantes da Malásia, e a Usifértil, em 88, uma fábrica de fertilizantes que, hoje, se expande entre os mercados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Bahia.

    Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores, homem de muitos amigos, dentre os quais incluía-se o escritor Graciliano Ramos, Tércio Wanderley foi, durante a vida inteira, um homem simples, distinto, amigo e atencioso, sempre pronto a atender aos reclames de quantos o procurassem. Com seu inseparável boné, andava pelas ruas de Maceió e freqüentava os grandes eventos da comunidade como um homem comum, um desses que se perdem na multidão e não expõem o seu valor e a sua grandeza de industrial bem sucedido, inteligente e progressista.

    Uma única vez deixou-se dominar pelo espírito político, que herdara do pai, e disputou uma vaga de Deputado Constituinte, em 1946. Eleito, desenvolveu um trabalho positivo em favor da comunidade alagoana na Casa de Tavares Bastos. Findo o mandato, afastou-se da política para dedicar-se exclusivamente às suas atividades empresariais e à direção da Cooperativa dos Usineiros de Alagoas, da qual foi presidente de 1946 a 1960.

    Empresário de sucesso inconteste, o Comendador Tércio Wanderley foi também um homem público atuante e voltado para as causas sociais. Políticos, amigos, empregados de suas empresas, todos, sem distinção, eram unânimes em enfatizar o papel social de destaque que Tércio Wanderley desempenhou na estrutura da sociedade alagoana. Marido e pai exemplar, homem bem sucedido e de alma generosa, preocupado com a construção do bem-estar social, o Comendador cumpriu como poucos suas responsabilidades sociais e já garantia a seus empregados muitos direitos que só a partir de 1988 passaram a figurar na Constituição Federal. Sua capacidade de dar assistência aos que para ele trabalhavam era inequívoca. A saúde e a educação de seus empregados nunca foram negligenciadas. Os trabalhadores rurais e demais empregados das empresas do Grupo que compareceram aos funerais do Comendador deixaram transparecer em suas emoções um sentimento de perda incomum num relacionamento patrão-empregado.

    Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores, procurei traçar aqui, em rápidas pinceladas, o perfil desse homem admirável que foi o Comendador Tércio Wanderley. Ao encerrar meu pronunciamento, rendo, uma vez mais, as minhas maiores homenagens a esse alagoano de coração, o muito estimado "Seu Tércio" e reitero a toda a família enlutada meu pesar pelo seu falecimento. Concluo, citando sábias palavras por ele proferidas, que definem melhor do que quaisquer outras sua trajetória vitoriosa de nordestino empreendedor e corajoso, merecedor da admiração de todos os que tiveram o privilégio de conhecê-lo: "Caminhei caminhos agrestes, cursei as vicissitudes da vida, e, por Deus, nada, até agora, foi capaz de arrefecer o meu ânimo, destruir a minha coragem, e abater a minha fé.". Foi com essa fé e essa coragem que Tércio Wanderley trabalhou e lutou, até os 93 anos, pelo engrandecimento e pelo progresso do Estado de Alagoas.

    Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 28/01/1994 - Página 395