Discurso no Senado Federal

IMPROPRIEDADES E INVERDADES DE ALGUMAS AFIRMAÇÕES CONTIDAS NO RELATORIO LIDO PELO SR. EDUARDO SUPLICY.

Autor
Jarbas Passarinho (PPR - Partido Progressista Reformador/PA)
Nome completo: Jarbas Gonçalves Passarinho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • IMPROPRIEDADES E INVERDADES DE ALGUMAS AFIRMAÇÕES CONTIDAS NO RELATORIO LIDO PELO SR. EDUARDO SUPLICY.
Publicação
Publicação no DCN2 de 10/02/1994 - Página 603
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • CRITICA, TRECHO, RELATORIO, AUTORIA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DENUNCIA, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, POPULAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, RESULTADO, FAVORECIMENTO, EMPRESA MULTINACIONAL, SUBSIDIOS, ENERGIA ELETRICA.

      O SR. JARBAS PASSARINHO (PPR - PA. Para uma comunicação de Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, muito obrigado.

      Pedi a palavra e sei que o nosso tempo para comunicação de liderança é de cinco minutos, mas gostaria da atenção do Senador Eduardo Suplicy, do Senador Amir Lando e do Senador Gilberto Miranda para não termos aparte, Sr. Presidente, para não prejudicarmos o início da Ordem do Dia.

      Sobre o discurso feito pelo Senador Eduardo Suplicy e a leitura de um documento escorreito, muito bem redigido, mas cheio de possibilidades de conflito de opiniões, esse que é atribuído ao Presidente do PT.

      Eu começaria pela opinião do Senador Amir Lando, que disse com muita propriedade. Temos tido, na Amazônia, algumas incidências de versões intelectuais que são estupefacientes. Primeiro, porque passam por lá 5, 6 ou 10 dias, saem e escrevem um livro a respeito da Amazônia, e nós que moramos lá, vivemos lá e temos lá o nosso umbigo sabemos como é perigoso fazer essas análises a partir de uma viagem que não passa de uma coisa superficial, apesar de um grupo importante de pessoas que acompanharam o Presidente do PT.

      O Senador Amir Lando citou Agassiz. Eu citaria Paul Ie Cointe, que levou 10 anos para escrever uma palavra a respeito da região na sua maravilhosa obra L'Amazonie Brésiliene - 10 anos examinando a área -, e agora aparecem coisas como O Inferno Verde e outra como Euclides que, de passagem na direção da Amazônia, escreve que, lá, vivemos no bochorno de 35 graus permanentes na atmosfera, como clima e, automaticamente, então, somos levados, até, se não a uma vadiagem, a um desestímulo de trabalho. Essas interpretações são radicais, perfunctórias e discutíveis.

      Em muitas coisas que disse, o Senador Gilberto Miranda tem inteira razão. Isso não nos agrada, não nos ajuda. Mas o que se verifica, como algumas mazelas da Amazônia são mazelas maiores fora da Amazônia do Brasil. Houve o tempo em que eu, como Oficial do Estado Maior, começava uma conferência qualquer, inclusive para a Escola do Estado Maior, para a Escola Superior de Guerra, dizendo: "O Brasil é o País amigo mais próximo da Amazônia". Porque não se preocupavam conosco.

      Perdemos uma oportunidade extraordinária, lá, por exemplo, com relação à borracha, porque o Governo Central nunca se preocupou com aquilo. E, hoje, acusamos os ingleses que compravam o quê? Compravam a borracha com o Núcleo de Tabatinga para fazer muito maior peso do que na verdade tinha. Nós éramos, na verdade, desonestos.

      Pois bem, agora aparece esse problema - e pinço apenas um ponto do relatório assinado pelo Presidente do PT - que é um grave equívoco, Senador Eduardo Suplicy, é um grave equívoco provocado por uma distorção de natureza ideológica, essa de dizer que nós temos lá, por exemplo, grandes barragens, e eu me referi a uma apenas que é Tucuruí, onde também esteve, se não me engano, a caravana, no rio Tocantins, para dizer que lá nós fazemos o povo sofrer para servir a multinacionais.

      Isso é uma análise particular feita de maneira que eu não diria leviana, mas com leveza antes de se saber a verdade. Quer dizer, nós geramos lá a maior usina hidrelétrica que o Brasil tem, independente de Itaipu que é binacional. Pois bem, sem ela nós não teríamos a possibilidade de jamais aproveitar, por exemplo, o pólo aluminífero do Pará, que pode ser o pólo mais desenvolvido do mundo. Agora, dizer que damos a ela uma vantagem de natureza de tarifa, muito bem, nós temos uma joint venture com o Japão, e bastaria a nós que existisse uma joint venture com o Japão, e nós não podemos evidentemente competir com a Venezuela, que tem um trabalho muito mais favorável em matéria de benefício que aplica na tarifa para exportação do seu produto de alumínio primário.

      Então, dizer isso é evidentemente dizer sob a ótica de pessoas que induziram o Presidente do PT, induziram o Senador Eduardo Suplicy, que lê isso aqui, a fazer uma afirmativa totalmente desprovida de verdade.

      Acontece um problema em relação ao Maranhão, que passou a ter a Alumar, isso é diferente, mas é preciso caracterizar a diferença que há entre uma joint venture e uma multinacional.

      Por outro lado, disse muito bem o Senador Gilberto Miranda que não teria cabimento falar sobre a Amazônia quando se vê o resultado de São Paulo. Eu era Governador do Pará, Sr. Presidente, chego lá no início da minha aprendizagem política e vejo um trapiche, porque não havia porto, e um navio. O navio estava lá, carregando juta, esse navio fazia exportação de juta para São Paulo, e eu, de pergunta em pergunta, cheguei a uma conclusão: os fornecedores de juta, pobres colonos produtores de juta, ribeirinhos da Amazônia, estavam vendendo para São Paulo pagar dentro de 160 dias e dessa mesma área de São Paulo as pessoas compravam o tecido de aniagem para pagamento à vista. O que significava que o colono amazônico, o pobre colono da Amazônia, estava financiando a indústria de São Paulo.

      Isso me faz lembrar uma frase do General Maurice Gamelin, que foi a única missão que lecionou o Exército brasileiro, a missão francesa, quando disse: "Oficial que sou de um Exército de um país que tem um império, é a primeira vez que vejo a metrópole e a colônia no mesmo segmento territorial". Era a primeira vez que via.

      Pedi a palavra, tirando partido dessa oportunidade que o meu Líder Affonso Camargo proporciona-me, para fazer esse pequeno reparo iniciai, e dizer, entretanto, que todos os pontos colocados pelo manifesto - isso é um verdadeiro manifesto político, com uma interpretação - não nego, evidentemente, que é muito interessante que os candidatos a Presidente possam fazer pelo menos uma viagem à Amazônia, mas é preciso que eles também não tomem a nuvem por Juno. E preciso ter cuidado com as afirmativas a partir de superficialidades.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 10/02/1994 - Página 603