Discurso no Senado Federal

CERCEAMENTO DA LIBERDADE DE IMPRENSA, COM FINS ELEITOREIROS, PRATICADO PELO GOVERNADOR DE GOIAS.

Autor
Irapuan Costa Júnior (PP - Partido Progressista/GO)
Nome completo: Irapuan Costa Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DE GOIAS (GO), GOVERNO ESTADUAL. IMPRENSA.:
  • CERCEAMENTO DA LIBERDADE DE IMPRENSA, COM FINS ELEITOREIROS, PRATICADO PELO GOVERNADOR DE GOIAS.
Publicação
Publicação no DCN2 de 31/03/1994 - Página 1446
Assunto
Outros > ESTADO DE GOIAS (GO), GOVERNO ESTADUAL. IMPRENSA.
Indexação
  • DENUNCIA, INTERFERENCIA, GOVERNADOR, ESTADO DE GOIAS (GO), CANDIDATO, SENADO, ATIVIDADE, IMPRENSA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, IMPEDIMENTO, CRITICA, OPOSIÇÃO, GOVERNO ESTADUAL, RESULTADO, DEMISSÃO, CASSIM ZAIDEN, DIRETOR, JORNALISMO, EMPRESA, TELEVISÃO.
  • QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, IMPRENSA, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DE GOIAS (GO), TROCA, PARTE, LIBERDADE DE IMPRENSA, SEGURANÇA, VERBA, GOVERNO, PROMOÇÃO, CAMPANHA, GOVERNADOR, SENADO.

    O SR. IRAPUAN COSTA JÚNIOR (PP-GO. Como Líder. Para uma comunicação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, quero mencionar aqui alguns fatos recentemente ocorridos no Estado de Goiás, às vésperas da saída do Sr. Governador do cargo que abandona para se candidatar a esta Casa, e que dizem respeito, primordialmente, ao rígido controle a que está submetida a imprensa do Estado de Goiás.

    Dizia Winston Churchill que “quem troca a liberdade por um pouco de segurança, não merece a liberdade nem conquista segurança’’. E o que está a acontecer no Estado de Goiás - e, infelizmente, não só no Estado de Goiás, mas também em outras unidades da Federação - é que a imprensa está trocando parte de sua liberdade pela segurança das verbas públicas.

    O que se tem gasto, Sr. Presidente, Srs. Senadores, na promoção pessoal, no culto à personalidade do Sr. Governador e no benefício da sua campanha ao Senado Federal, com verbas públicas, são somas verdadeiramente astronômicas. E como se não bastasse isso há o reverso da medalha ainda mais pernicioso, ainda mais perverso: a Oposição não pode levar as suas idéias e muito menos as suas críticas ao papel dos jornais ou às ondas da rádio e das televisões.

    Eu próprio, há poucos dias, compareci a um semanário goiano para a concessão de uma entrevista; e qual não foi a minha surpresa quando, antes da entrevista, o proprietário do jornal, a portas trancadas, pede-me que não fizesse críticas ao Governo, porque se isso acontecesse o jornal sofreria graves sanções econômicas. Fui obrigado a dizer-lhe que como integrante da Oposição a minha função política é criticar o Governo - criticar construtivamente, porque sempre o faço -, e não poderia me abster das minhas colocações em criticar aquilo que julgava errado. E concedi a entrevista. Mas a entrevista não saiu na íntegra; as partes em que as críticas ao Governo eram formuladas - e todas elas no mais alto nível; os colegas hão de convir que sempre procuro criticar no mais alto nível -, nem assim foram publicadas. E o dono do semanário, muito preocupado, com razão, com a sobrevivência econômica do seu jornal, ainda buscou o candidato oficial ao Governo do Estado - candidato de “bolso de colete’’ do Sr. Governador - para dar uma entrevista paralelamente à minha.

    Mas não é só isso, Sr. Presidente. Há coisas mais sérias. Repórteres têm sido perseguidos porque levam ao ar entrevistas criticando o Governo. Há uma emissora - aliás de propriedade do Governador do Distrito Federal - que sofreu sanções econômicas graves porque dá abrigo à Oposição. E, na semana passada, um dos mais eminentes diretores de jornalismo, que é também dublê de entrevistador, o Jornalista Cassim Zaiden, que trabalha na empresa associada ao SBT, em Goiás, cometeu a inadvertência de entrevistar uma deputada da Oposição que criticava a venda das ações das Centrais Elétricas de Goiás pelo Sr. Governador do Estado às vésperas de sua saída. Julgando polêmica essa venda de ações, a Deputada se prestou a uma entrevista e o Sr. Cassim Zaiden a ouviu. Preocupado com o contraditório, ouviu também o Presidente das Centrais Elétricas de Goiás. Mas o Governo tomou aquilo como a mais séria das ofensas e exigiu a demissão do diretor de jornalismo da empresa televisiva; e ele foi demitido.

    Esse tipo de censura, Sr. Presidente e Srs. Senadores, é muito mais grave do que aquela que todos nós condenamos quando existia um ciclo de governos militares neste País, porque aquela censura, ainda que alguns pudessem discordar, obedecia alguns preceitos filosóficos - certos ou errados - ou preceitos morais. Essa obedece apenas à vaidade do governante e à pressão do dinheiro público. Muito obrigado.

    Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. (Muito bem! Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 31/03/1994 - Página 1446