O SR. MANSUETO DE LAVOR (PMDB - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, quero registrar, da tribuna do Senado Federal, um dos mais significativos acontecimentos culturais de nosso País. A mais importante láurea, o Prêmio lnteramericano de Cultura Gabriela Mistral -1993, foi conferida a artista plástico brasileiro, a um nordestino, o pintor e ceramista pernambucano Francisco Brennand.

    Um acontecimento dessa ordem, num momento em que se registram tantos fatos negativos na nossa vida pública, econômica e social, é motivo de júbilo e mostra-nos que, pelo menos culturalmente, o Brasil é um País confiável, viável e, com certeza, será também capaz de superar suas dificuldades em todos os demais níveis da vida nacional.

    Não se trata, pois, Sr. Presidente, de apenas mais um prêmio a ser conferido a um membro de nossa comunidade cultural, mas, também, um prêmio ao próprio País, ao Brasil, um reconhecimento de que possuímos um patrimônio cultural merecedor do respeito não só das Américas, mas de todos os segmentos culturais do mundo.

    Seria necessário dizer algumas palavras sobre a origem desse prêmio. Ele foi criado pela Organização dos Estados Americanos, na 15^a Reunião Ordinária do Conselho Interamericano para Educação, Ciência e Cultura, em Washington, em maio de 1977(?).

    Do ponto de vista cultural, esse prêmio tem importância equivalente ao Prêmio Nobel, pois participam do júri especialistas da Europa, Ásia, África e Américas, o que não ocorre em relação ao famoso prêmio distribuído pela Academia Sueca.

    Concorreram ao prêmio 38 Países de toda a América, inclusive os Estados Unidos da América e o Canadá, sendo cada ano dedicado a uma determinada atividade cultural. No ano de 1993, o Prêmio Gabriela Mistral para cultura foi dedicado às áreas de ciências e artes plásticas e foi destinado àqueles que se distinguiram nesses campos, nos Estados-membros, contribuindo para a identificação e enriquecimento da cultura própria das Américas e de suas regiões ou de individualidades culturais.

    Muitos especialistas consideravam que o Prêmio Gabriela Mistral dificilmente seria concedido ao Brasil este ano, em razão de já haver sido atribuído, em 1986, ao grande pintor italiano AIfredo Volpi, radicado em São Paulo e representante do nosso País. Mas a grande arte de Francisco Brennand conseguiu trazê-lo de volta ao nosso País, em apenas sete anos.

    Isso merece registro pelo fato de que o prêmio se destina a um rodízio entre os Estados-membros da OEA e o Brasil já o ganhou por duas vezes, após a sua criação em 1984. Convém, entretanto, observar, que o primeiro brasileiro nato a ganhá-lo é Brennand, pois o grande Volpi, como eu já disse anteriormente, era italiano de nascimento.

    Sr. Presidente, Srs. Senadores, no início deste meu registro, estabeleci uma relação entre o Prêmio Nobel e o Prêmio Gabriela Mistral. É agora conveniente mostrar as diferenças entre essas duas láureas: o Nobel é um prêmio de estímulo, enquanto o Gabriela Mistral se destina ao reconhecimento de uma obra inteira já realizada, que, - como disse antes - represente uma contribuição à cultura própria da América, onde o próprio Continente possa, como num espelho, nela mirar-se e reconhecer-se.

    Sendo um prêmio novo, ainda não marcou na opinião pública do Brasil o significado e importância do seu valor. É um prêmio destinado ao coroamento de um trabalho contínuo, o trabalho de toda uma vida, como ocorre agora com o pintor e ceramista Francisco Brennand, que, contando 66 anos de idade, dedicou mais de 46 anos inteiramente às artes plásticas, sempre em Pernambuco, abrangendo desde a pintura de cavalete às esculturas, placas em cerâmicas, e os grandes murais espalhados por todo Brasil e outros países da América e Europa.

    Um de seus grandes painéis se encontra na cidade de Miami.

    Hoje, sua oficina de criação cerâmica, que vem sendo erguida continuamente pelo artista sobre as minas de uma velha olaria que pertenceu a seu pai, não é só uma escola da arte da cerâmica mas, também, um centro experimental dessa arte, que com ele atingiu esplendor artístico comparável apenas aos ceramistas gregos.

    Como vêem V. Exªs, o Prêmio Gabriela Mistral, atribuído a esse artista brasileiro, representa o reconhecimento do vigor de nossa cultura corporificada na obra de Brennand.

    Brennand sempre fugiu ao improviso.

    Quando mais jovem, estudou na Europa, com Fernand Leger e André Lhote, e nos centros cerâmicos da Umbria, na Itália.

    Trabalhador incansável, continua com suas pesquisas cerâmicas no isolamento da sua oficina-mosteiro da Várzea, na Grande Recife.

    Participou da famosa Bienal de Veneza e expôs no corrente ano, individualmente, 500 trabalhos no grande Staathliche Kunsthalle, de Berlim.

    Ainda em 1993 foi premiado como o melhor ceramista na 2^a Exposição Internacional de Cerâmica de Florianópolis, como uma antecipação da láurea que iria ganhar com o Prêmio Gabriela Mistral.

    Era este, Sr. Presidente, o registro que desejávamos fazer, até há mais tempo, uma vez que o referido prêmio foi conferido a Francisco Brennand pela Organização dos Estados Americanos no dia 4 do corrente mês.

    É um importante registro para a cultura brasileira e que deve, por isso mesmo, permanecer na história dos Anais desta Casa. Muito obrigado!