Discurso no Senado Federal

VISITA DE S.EXA. A VOLTA REDONDA PARA DEBATER OS PROBLEMAS BRASILEIROS COM OS INTEGRANTES DO SINDICATO DOS METALURGICOS DAQUELE MUNICIPIO.

Autor
José Eduardo (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/PR)
Nome completo: José Eduardo de Andrade Vieira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRIVATIZAÇÃO.:
  • VISITA DE S.EXA. A VOLTA REDONDA PARA DEBATER OS PROBLEMAS BRASILEIROS COM OS INTEGRANTES DO SINDICATO DOS METALURGICOS DAQUELE MUNICIPIO.
Publicação
Publicação no DCN2 de 20/04/1994 - Página 1924
Assunto
Outros > PRIVATIZAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, VISITA, ORADOR, MUNICIPIO, VOLTA REDONDA (RJ), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DEBATE, PROBLEMAS BRASILEIROS, MEMBROS, SINDICATO, METALURGICO, POSTERIORIDADE, PRIVATIZAÇÃO, COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL.
  • DEFESA, PRIVATIZAÇÃO, EMPRESA ESTATAL, NECESSIDADE, CONVOCAÇÃO, TRABALHADOR, PARTICIPAÇÃO, GESTÃO, EMPRESA, CONTROLE ACIONARIO.

    O SR. JOSÉ EDUARDO (PTB - PR. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, semana passada, tive a honra e a alegria de debater os problemas brasileiros com os integrantes do Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro.

    A Companhia Siderúrgica Nacional, onde esses sindicalistas trabalham, tem uma importância histórica destacada na economia brasileira. Desde 1941, quando foi criada, é um símbolo de nossa industrialização, por ter sido a primeira indústria brasileira de grande porte e atualmente ser a maior empresa privada nacional.

    Neste momento de desemprego, crise e recessão, o exemplo da CSN merece ser registrado nos Anais do Senado Federal, porque o início de suas atividades nos anos 40 marca o choque do emprego formal no Brasil. Até então, nos anos da República Velha, o trabalhador não tinha proteção legal e os conflitos sociais eram considerados "coisa de polícia".

    Além da proteção legal, o operário de Volta Redonda, normalmente o imigrante mineiro ou nordestino expulso do campo pelas péssimas condições de vida no interior brasileiro ganhou outro direito elementar, o direito à educação profissionalizante. Foi em Volta Redonda que a formação escolar profissional teve início, espalhando-se pelo resto do País e dando ao Brasil a configuração de nossos dias.

    Em Volta Redonda, cidade fundada pelos técnicos americanos trazidos pela CSN para um lugar onde, antes, havia apenas uma fazenda, o brasileiro comum, vindo dos lugares mais distantes e mais pobres, aprendeu a ler e virou cidadão. Lá também, em 1944, esse operário, mostrando que aprendera a se organizar, fundou um sindicato que fez história.

    Àquela época, Sr. Presidente, Srs. Senadores, o aço era a indústria mais próspera nos países ricos e a U.S. Steel era a maior empresa do mundo. Nesse ambiente fermentaram, por exemplo, as discussões para as reformas de base propostas pelo ex-presidente João Goulart, de nosso Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB, no famoso comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Pois os trabalhadores de Volta Redonda sempre estiveram na frente, na vanguarda dos movimentos políticos de organização popular no Brasil.

    Liderados por Juarez Antunes, esses trabalhadores participaram da fundação da Central Única dos Trabalhadores - a CUT - tanto no Estado do Rio de Janeiro quanto no âmbito nacional. Com a morte de Juarez Antunes, assumiram a liderança dos trabalhadores da CSN os líderes Luiz de Oliveira e Luiz Albano.

    Em 1988, eles mobilizaram os trabalhadores para a greve histórica, que terminou com a invasão da usina por tropas do Exército e a morte de três grevistas, William, Walmir e Barroso. Os reflexos daquele movimento de paralisação terminaram se espalhando pelo Brasil inteiro, ajudando a eleger Luiza Erundina para a Prefeitura de São Paulo, a maior cidade do País, e outros candidatos de esquerda no restante do território nacional.

    A grande lição da greve de 1988, contudo, foi a descoberta pelos trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional de que a luta política passava, em primeira instância, pelo controle acionário da empresa pelos trabalhadores. Desde então, os trabalhadores organizados por Luiz de Oliveira e Luiz Albano, passaram a empregar uma senha que dá acesso ao mundo contemporâneo, o mundo de depois da derrubada do Muro de Berlim, da dissolução do império soviético e da integração econômica continental, representada pela queda das fronteiras alfandegárias na Comunidade Econômica Européia.

    A palavra-chave, Sr. Presidente, Srs. Senadores, é parceria. O grande objetivo da luta sindical em Volta Redonda - explicaram-me os trabalhadores organizados da Companhia Siderúrgica Nacional - é a reforma patrimonial do Estado-patrão, não mais a luta política pela manutenção de privilégios patrimonialistas, que é a bandeira dos militantes do Partido dos Trabalhadores, o PT, que os sindicalistas de Volta Redonda também ajudaram a fundar.

    Esta é a grande lição que trago de meu debate com os trabalhadores da CSN. A classe trabalhadora brasileira está amadurecida o suficiente para participar da grande discussão nacional para a reforma do Estado, passo indispensável para enfrentar a atual crise econômica. Digo-lhes ainda mais, Sr. Presidente, Srs. Senadores. A CSN foi privatizada e tem mostrado ser a privatização um bom negócio para todos. Mas isso só ocorre quando o trabalhador participa.

    Minha visita a Volta Redonda reforçou a idéia que tenho a respeito da privatização. Ela é necessária. Mas só deve ser feita se o trabalhador for convocado a participar da gestão da empresa no controle acionário, prova a correção deste item da "Revolução Trabalhista", proposta que apresentei aos companheiros do PTB na última convenção nacional.

    Quero, pois, Sr. Presidente, Srs. Senadores, desta insigne tribuna, prestar minha homenagem aos trabalhadores brasileiros, muito bem representados pelos operários da usina da CSN de Volta Redonda, sob a liderança firme e lúcida dos companheiros Luiz de Oliveira e Luiz Albano.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 20/04/1994 - Página 1924