Discurso no Senado Federal

REITERANDO SUA PREOCUPAÇÃO COM A INDEFINIÇÃO DO GOVERNO FEDERAL QUANTO A AGILIZAÇÃO DE UM PROGRAMA SOCIAL PARA O BRASIL.

Autor
Junia Marise (PDT - Partido Democrático Trabalhista/MG)
Nome completo: Júnia Marise Azeredo Coutinho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • REITERANDO SUA PREOCUPAÇÃO COM A INDEFINIÇÃO DO GOVERNO FEDERAL QUANTO A AGILIZAÇÃO DE UM PROGRAMA SOCIAL PARA O BRASIL.
Aparteantes
Ney Maranhão.
Publicação
Publicação no DCN2 de 21/04/1994 - Página 1957
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DENUNCIA, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, FOME, MISERIA, POPULAÇÃO CARENTE, PAIS, OMISSÃO, GOVERNO, PERDA, ALIMENTOS, ARMAZEM, Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
  • REITERAÇÃO, SOLICITAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, URGENCIA, IMPLEMENTAÇÃO, PROGRAMA, NATUREZA SOCIAL, COMBATE, FOME, MISERIA, PAIS.

      A SRA. JÚNIA MARISE (PDT - MG. Para uma breve comunicação. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o que nos traz a este Plenário e à tribuna do Senado é a nossa preocupação e perplexidade diante de uma situação que o País conhece há muitos anos e que já foi objeto de uma grande mobilização nacional de solidariedade para matar a fome de 30 milhões de brasileiros.

      Alguns jornais de ontem e de hoje retratam esse quadro vivo da miséria e da fome por que passa, hoje, essa grande e imensa maioria de nosso povo. O Correio Braziliense, em matéria de primeira página, destaca o drama do lixo e num lixo em Olinda, revela com intensidade o drama retrata a fome de 32 milhões de pessoas. O caso da viúva, Leonildes Cruz Soares, que serviu aos filhos e netos restos de um seio humano, encontrado uqe viem em completo esta de isensidade o drama dos 32 milhões de brasileiros que vivem em completo esta de indigência. Metade dessas pessoas concentra-se na Região Nordeste, de acordo com o mapa da fome.

      Diz o Globo:

      Carne humana mata fome de mendigos, em lixo de hospital. O desespero causado pela miséria está levando favelados a recursos extremos para atenuar a fome: comer carne humana.

      Outra manchete: "Autoridade não se entendem sobre lixo e fome em Olinda.

      E, ainda mais grave, é a divulgação e publicação, também no Correio Brasiliense, de uma denúncia em que diz o seguinte:

Arroz apodrece em armazém alugado.

      Com tanta gente passando fome, o descaso do Governo com o estoque de alimentos se transforma em um escândalo no Rio Grande do Sul. Desde 1991, 850 mil sacos de arroz da CONAB estão apoderecendo nos armazéns da Cachoeira do Sul; com os armazéns lotados, o arroz, principal produto da região, que deveria ser motivo de orgulho, se transformou na principal preocupação dos agricultores.

      Pois bem, Sr. Presidente, Srs. Senadores, este retrato mostrado à Nação, certamente, causa a todos nós indignidade e perplexidade.

      Não podemos mais permitir que num País de 150 milhões de brasileiros, o Governo continue apenas a estimular ou a apoiar o programa da fome no nosso País sem a implementação de programas, os quais efetivamente possam viabilizar e possibilitar o resgate dessa imensa dívida social.

      Setenta milhões de brasileiros estão vivendo na mais completa miséria social; 32 milhões, passando fome; 15 milhões de crianças não podem estudar porque não há um banco de escola para esse fim, 14 milhões de trabalhadores estão sem emprego. Tudo isso sem falar no grande déficit da moradia popular, que hoje já alcança cerca de 16 milhões.

      Eu gostaria, neste momento, de reiterar o apelo ao Presidente da República: de reiterar o apelo aos órgãos do Governo Federal: é preciso parar e pensar; deixar de voltar as suas atenções para a eleição presidencial, buscando apoio ao candidato do Governo, e pensar mais um pouco no Brasil, cuja população está hoje comendo carne humana, porque não tem condições de matar a sua fome.

      Esta é a preocupação que quero ver por parte do Governo Federal, a fim de que, através de uma ação efetiva, de uma ação pragmática e objetiva, esses problemas possam ser sanados.

      E quero crer, Sr. Presidente, que se não for tomada nenhuma providência, se não for agilizado um programa social neste País, certamente teremos, para o próximo ano, uma das maiores heranças, na área social, deixadas por este Governo, que, provavelmente, não assumiu o compromisso de envidar esforços, numa ação conjunta, para atender aos reclamos da nossa sociedade.

      O SR. NEY MARANHÃO - Permite-me V.Exª um aparte?

      A SRA. JÚNIA MARISE - Com prazer, nobre Senador.

      O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Nobre Senadora Júnia Marise, gostaríamos de pedir ao eminente Senado Ney Maranhão que fosse muito rápido, porque não são permitidos apartes em brevíssimas comunicações.

      O SR. NEY MARANHÃO - Sr. Presidente, peço a V.Exª sei que tem “paciência de Jó”” - que permita o aparte, pois a Senadora mencionou Olinda e Recife, a minha terra, Pernambuco. O aparte será oportuno e rápido.

      O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Tem V.Exª o aparte.

      O SR. NEY MARANHÃO - Senadora Júnia Marise, V.Exª está tratando, nesta hora, de um assunto da maior gravidade, quando diz que, em Recife e Olinda, a população está se alimentando de carne humana. É verdade, Senadora, veja a que ponto chegamos! Nem em Biafra, onde há muito mais miséria, onde o povo está morrendo de fome há muito temo, chegou-se a tanto. V.Exª e eu fomos convidados a fazer uma viagem à China.

      A SRA. JÚNIA MARISE - É verdade!

      O SR. NEY MARANHÃO - V.Exª e eu nos deparamos com um país de população dez vezes maior que a do Brasil. Sessenta e cinco por cento da sua agricultura é feita com as mãos; V.Exª viu! Percorremos aquelas províncias, paramos nas pequenas cidades chei

      as de poeira, de casas pobres. Havia também uma feira parecida como as do interior de Minas Gerais e de Pernambuco. Experimentamos uma melancia para ver ser era igual a nossa. Mas o queríamos ver realmente, Senadora, era se havia gene descalça pedindo esmolas ou morrendo de fome. Não encontramos isso em lugarf nenhum! Porém, neste País, produzimos uma safra de 70 milhões de grãos e 30% se perde no interior, nos campos e na Ladroagem dos armazéns. Senadora Júnia Marise, enquanto não houver uma reforma constitucional, enquanto não houver uma prioridade para a nossa agricultura, para a produção, a fome não deixará de existir - e não existe coisa piro do que a fome! É o que está acontecendo, Senadora. V.Exª viu, na China, a grande revolução que houve. Por quê? Porque o povo estava morrendo de fome. Essa experiência é um retrato para nós. Num País como o Brasil onde há o melhor clima do mundo, vemos o povo morrer de fome! Temos, na Comissão de Economia, um projeto de equivalência/produto. Ia ser votado neste plenário e foi devolvido, a pedido do Líder. Não perguntei ainda a razão. No seu Estado, Minas Gerais, se um agricultor ou um pecuarista toma dinheiro emprestado em um banco para plantar 10 mil sacos de feijão, planta-os e fica devendo 30. É o resultado que estamos tendo neste País!. Quero solidarizar-me com V.Exª V.Exª passoua por vários processos de representação popular: é Senadora, tem uma grande experiência política e social e ocupou o Governo do segundo Estado brasieliro, Minas Gerais. Hoje, no Senado da República, V.Exª vem à tribuna fazer uma declaração, fazer uma alerta à Nação. O que está acontecendo é uma vergonha para todos nós, Senadora Júnia Marise. É isso não pode continuar porque senão, amanhã, nós e os nossos filhos vamos pagar caro por essa irresponsabilidade. Vamos alertar a Nação, como V.Exª está fazendo neste momento, porque um País civilizado, um País cristão, um País em que o povo tem suas Lideranças, tem que ter responsáveis pelo que está ocorrendo. Não adianta apenas a tribuna; precisamos que isso seja solucionado rapidamente. Portanto, solidarizo-me com V.Exª por este oportuno pronunciamento, do qual a Nação está tomando conhecimento. Comida oportuno pronunciamento, do qual a Nação está tomando conhecimento. Comida barata para o povo e produção agrícola; que, depois, venha o resto. Parabéna a V.Exª!

      A SRA JÚNIA MARISE - Concluindo, Sr. Presidente, agradeço a manifestação do nobre Senador Ney Maranhão, que tem demonstrado, neste plenário, sua preocupação com relação a todas as questões que envolvem os problemas mais emergenciais do nosso Estado.

      Finalizo dizendo o seguinte: quando o Presidente Itamar Franco lançou, no ano passado, juntamente com o nosso conterrâneo, o mineiro Betinho, o programa contra a fome, o Presidente disse a Nação: "O País esta em estado de emergência!

      Pois bem, Sr. presidente, hoje, mais do que nunca, o País está em estado de emergência. E é preciso, efetivamente, que o Governo do Presidente Itamar Franco junte todas as suas forças - para implementar programas e possibilitar que estas questões sociais do nosso País - a fome, a miséria, a falta de moradia, o emprego e, principalmente, a questão da saúde pública, que hoje virou o maior caos em nosso País - sejam atacadas de frente, com a responsabilidade de quem detém hoje o comando da Nação e que certamente não deseja concluir o seu mandato deixando o País na miséria, com a fome e com o desemprego.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 21/04/1994 - Página 1957