Discurso no Senado Federal

APOIO A INDICAÇÃO DO ESCRITOR PERNAMBUCANO JOÃO CABRAL DE MELO NETO PARA O PREMIO NOBEL DE LITERATURA.

Autor
Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CONCESSÃO HONORIFICA.:
  • APOIO A INDICAÇÃO DO ESCRITOR PERNAMBUCANO JOÃO CABRAL DE MELO NETO PARA O PREMIO NOBEL DE LITERATURA.
Publicação
Publicação no DCN2 de 26/04/1994 - Página 2002
Assunto
Outros > CONCESSÃO HONORIFICA.
Indexação
  • APOIO, INDICAÇÃO, JOÃO CABRAL DE MELO NETO, POETA, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), PREMIO LITERARIO, PAIS ESTRANGEIRO, SUECIA.
  • CONCLAMAÇÃO, SENADO, APOIO, INDICAÇÃO, JOÃO CABRAL DE MELO NETO, POETA, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), PREMIO LITERARIO, PAIS ESTRANGEIRO, SUECIA.

    O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, João Cabral de Melo Neto foi indicado à Academia Sueca, para o Prêmio Nobel de Literatura.

    À iniciativa - oportuna e justa - de tantas instituições culturais do País, associou-se a Academia Pernambucana de Letras, através de seu Presidente Luiz Magalhães Melo.

    João Cabral já tem onze livros traduzidos em várias línguas e conquistou prêmios da maior importância, como: Prêmio José de Anchieta de Poesia do IV Centenário de São Paulo, em 1954; Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras, em 1955; Melhor Autor Teatral do Festival Nacional de Teatros de Estudantes, pela peça Morte e Vida Severina, em 1958; 1º Prêmio no Festival do Teatro Universitário em Nancy - França, em 1966; e outros igualmente reputados - Prêmio de Poesia do Instituto Nacional do Livro; Prêmio Jabuti da Câmara do Livro de São Paulo; e Prêmio do Pen Clube do Brasil. Ano passado, foi agraciado com o Neustadt Internacional Prize, um prêmio literário dado nos Estados Unidos e considerado uma espécie de escala para o Prêmio Nobel.

    Apreciado internacionalmente, João Cabral de Melo Neto ocupa a cadeira de número 19 na Academia Pernambucana de Letras, para a qual foi eleito em 1991 e, na Academia Brasileira de Letras, a de número 37, na qual sucedeu a Assis Chateaubriand, eleito por unanimidade em 15 de agosto de 1968. Não terá ocorrido caso semelhante na história dessa prestigiosa instituição.

    A vasta produção de João Cabral, centrada na poesia, engloba também uma bela prosa a exemplo de seus discursos de posse na ABL e pronunciado ao receber a comenda dos Guararapes, e, sobretudo, o seu célebre ensaio sobre o pintor Juuna Miró. Também ocupou-se em algumas excelentes traduções.

    Temperamento exemplar do homem do Nordeste, avesso às efusões estéreis, aos fáceis derramamentos, toda sua obra guarda a característica marcante de manter um aceso espírito crítico ante coisas e situações, configurando-as sempre uma realidade sem retórica, sem os florilégicos da linguagem, numa "faca só lâmina".

    A crítica, aliás, como ele próprio confessa, foi sua primeira tendência: "Eu nunca pensei em ser poeta, nem nunca me considerei (e até hoje não me considero) com temperamento de poeta. Eu tenho temperamento de crítico. Meu ideal foi sempre ser um crítico literário. Ocorre que aos 17 ou 18 anos não se tem cultura nem discernimento para ser crítico. Então eu comecei a fazer poesia, apenas para produzir alguma coisa, enquanto me preparava para a crítica. Muito pouca gente notou isso, mas a minha poesia, apenas para produzir alguma coisa, enquanto me preparava para a crítica. Muito pouca gente notou isso, mas a minha poesia é sempre crítica".

    Exerceu também, durante mais de quarenta anos, a carreira diplomática, bem representando o Brasil, nos mais diferentes lugares, entre os quais, citamos: Barcelona, Sevilha (cidades onde produziu parte significativa de sua obra), Madri, Marselha, Genebra, Berna, Assunção, Dacar, Quito e Honduras.

    Natural de Recife, que já nos havia dado outros grandes poetas, a exemplo de Manuel Bandeira, por coincidência seu primo, teve João Cabral o reconhecimento de seu estado natal, recebendo, entre outros, a Ordem do Mérito Pernambucano e Mérito Guararapes.

    Em toda a história do Prêmio Nobel, nenhum representante da língua portuguesa foi contemplado, embora não faltem expressões altamente qualificadas nos vários países que se utilizam desse idioma como instrumento de criação artístico-literária.

    Pretendo, neste instante em que desejamos ver o Senado associar-se a essa justa aspiração em torno do Prêmio Nobel, salientar apenas um outro aspecto da densa e limpa poesia cabralina: o telurismo. Sua produção exala pernambucanidade (o rio, o mar, a flora e a fauna, a paisagem social, as tradições).

    Nessa linha, observa Gustavo Maranhão na apresentação de Poemas Pernambucanos, o poeta João Cabral, "está teluricamente fixado, como Guimarães Rosa, nas veredas do grande sertão, e encontra, na busca natural, suas raízes, mar e canavial.

    Onde o poeta está epicamente identificado, qual Camões plantado em sonho lusitano, fincando seu verso no Forte de Orange, Itamaracá".

    João Cabral não esconde seu amor à sua terra. Em discurso sobre Guararapes, indaga e responde:

    "Haver falado tanto de Pernambuco em minha poesia? Mas neste caso fui eu quem recebeu, e se falo tanto dele é porque fui fortemente marcado por sua atmosfera, não somente a do Recife, onde nasci, mas a de todo o Estado, que procuro sempre viajar e do qual procuro impregnar-me ao máximo. Assim, eu é que devo a Pernambuco: tanto o que me deu e me dá ainda, como matéria de poesia, como, pela insubserviência de sua história, o encorajamento que ele me deu o me dá para tentar a aventura de escrever; do mesmo modo como, por sua paisagem inexcessiva, o modelo de dicção que ele me dá para tentar a textura do que eu gostaria de realizar como poesia."

    A escolha do seu nome vai tomar o Brasil mais presente e Pernambuco mais conhecido. E a língua portuguesa mais viva no chamado concerto das nações. Com óbvias repercussões positivas para todos os usuários desse idioma, nas diversas partes do mundo. E a maior difusão de sua vasta obra, à premiação, vai acender em todo o mundo o interesse em melhor conhecer o nosso País e, especialmente, o Nordeste - seus problemas e suas soluções, sua saga, sua natureza, sua cultura.

    Por essas razões, exorto a direção da Casa - assim como ocorreu com outras acatadas instituições nacionais - a que o Senado Federal também se manifeste à Academia Sueca indicando o nome do Embaixador João Cabral de Melo Neto ao Prêmio Nobel de Literatura, ensejando assim a esperança de que o Brasil venha, enfim, a ter o seu representante entre os agalardoardos com tão elevada distinção.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 26/04/1994 - Página 2002