Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ALIANÇA PSDB/PFL E O PLANO DE ESTABILIZAÇÃO ECONOMICA.

Autor
Dirceu Carneiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SC)
Nome completo: Dirceu José Carneiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE A ALIANÇA PSDB/PFL E O PLANO DE ESTABILIZAÇÃO ECONOMICA.
Publicação
Publicação no DCN2 de 04/05/1994 - Página 2079
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • CRITICA, COLIGAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), OBJETIVO, DISPUTA, ELEIÇÕES, CARGO PUBLICO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, INCOMPATIBILIDADE, IDEOLOGIA.

   O SR. DIRCEU CARNEIRO (PSDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, venho à tribuna do Senado Federal para fazer uma reflexão sobre a tese absurda da aliança do meu partido, o PSDB, com o PFL e sobre os interesses que se escondem por trás do desejo dos liberais nessa união com a Social Democracia.

  As elites nunca levaram a sério os partidos políticos no Brasil. Influenciaram nos que puderam, dando preferência aos mais afins. Aceitaram sempre o jogo hipócrita e ambíguo do discurso político, que faz no Brasil o partido mais conservador chamar-se paradoxalmente Partido ‘’Progressista Reformador’’. Prosperaram em 64, agindo de acordo com suas conveniências. Recentemente, compuseram com Sarney e com Collor. Agora, mais ‘’confiantes’’ do que nunca, querem apropriar-se da candidatura de FHC.

  No Brasil, os partidos que melhor abrigam as concepções do capitalismo selvagem estão sem candidatos viáveis. PFL, PPR e outras siglas satélites que defendem a visão e os interesses dos ricos, não têm perspectivas eleitorais próprias de poder. Ambíguas, desacreditadas, não comandam seus possíveis eleitores e buscam formas de continuar sem se eleger.

  Estas elites levaram um susto com o Plano FHC. Afinal, acabar com o déficit público significa deixar de transferir do Tesouro para os bancos pelo menos US$10 bilhões anuais. Expõe, além disso, os setores monopolistas e oligopolistas, grandes fabricantes da inflação, à luz. O Plano FHC quebra a espinha dorsal de um sistema que produz inflação para dela se beneficiar.

  O capitalismo selvagem necessita do mecanismo de concentração da renda para sobreviver. Algo que, no Terceiro Mundo, ocorre grosseiramente pela inflação, enquanto, no Primeiro Mundo, acontece por outros fatores mais sutis e sofisticados, como produtividade, tecnologia avançada, desregulamentação, integração de mercados, etc. Nenhum plano econômico, como o de FHC, que contraria esses pressupostos concentracionistas, terá a simpatia dos banqueiros e da elite econômica brasileira.

  O Governo é um instrumento útil para a elite. Para ela, tudo é válido para aderir e fisiologicamente continuar no poder. As articulações para a sucessão, agora, revelam essa postura. Para elas, partido é algo descartável. Usado, vai para o lixo. Agora, esse partido é o PSDB.

  O Partido da Social-Democracia Brasileira é um dos poucos capaz de operar alguma transformação nesse quadro dramático para o País. É pluralista, social-democrata, ético, dono de um projeto sério. Por se constituir assim uma ameaça e ter candidatura consistente, está sendo literalmente cercado numa grande conspiração das elites conservadoras industriais, financeiras, políticas, de comunicação, contra um eventual sucesso da Social-Democracia.

  O PFL neste momento é a ponta do iceberg. Mas o PPR poderá aparecer também (ou esvaziar-se). Toda uma unidade de interesses, confessos e inconfessáveis, se articulam rapidamente visando não desembarcar do poder.

  Se o PSDB aceitar esse jogo, a Social-Democracia será comida tenra e precoce e seu projeto de partido morre no nascedouro. A alternativa PT isolou-se no corporativismo monoclassista, frágil. Se, porventura, ganhasse a eleição, não governaria.

  Caso o PFL logre aliar-se com o PSDB, o plano econômico será mudado. Os banqueiros, nessa aliança, não irão perder por ano US$ 10 bilhões do Tesouro. A brutal e injusta concentração de renda, então, talvez deixe de ocorrer pela via grotesca da inflação, mas continue por mecanismos mais modernos e sutis, como produtividade, agregado tecnológico sofisticado, automação, integração de mercado, etc. Como já começamos a fazer, aliás, igualzinho ao Primeiro Mundo. Irresistível proposta!

  Portanto, a cidadania digna, ética e decente no Brasil tem de ter um pé atrás. Não bastasse as origens do PFL (a Arena), seu fisiologismo, vamos buscar a companhia de um partido que poderá vir a ser apontado como o mais corrupto pela CPI das Empreiteiras?! A cúpula do PSDB, até aqui negociadora antidemocrática autoprorrogada, pode vir a não precisar consultar suas bases, que, ironicamente, serão insignificantes, comparadas às bases do PFL e, quiçá, do PPR.

  Eu que acredito no confronto da Social-Democracia X Liberalismo neste final de século, após o fim da guerra fria vejo como absurda a idéia da aliança de correntes radicalmente opostas, tão opostas que não comportariam um programa comum coerente, uma farsa, aliás, que vem sendo difundida. Os liberais inviabilizariam o Brasil como nação.

  Os que defendem a aliança PSDB/PFL transformarão o quadro partidário brasileiro numa geléia geral e o projeto de esperança que o PSDB construiu simplesmente acaba aí.

  O imediatismo, para chegar à Presidência da República, não pode derrotar mais uma vez o povo brasileiro. 

  Eram essas as considerações que desejava fazer.

  Muito obrigado, Sr. Presidente, Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 04/05/1994 - Página 2079