Discurso no Senado Federal

FALECIMENTO DO ESCRITOR MOREIRA CAMPOS, EM FORTALEZA-CE.

Autor
Mauro Benevides (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/CE)
Nome completo: Carlos Mauro Cabral Benevides
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • FALECIMENTO DO ESCRITOR MOREIRA CAMPOS, EM FORTALEZA-CE.
Publicação
Publicação no DCN2 de 12/05/1994 - Página 2253
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MOREIRA CAMPOS, ESCRITOR, ESTADO DO CEARA (CE).

    O SR. MAURO BENEVIDES (PMDB-CE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a cultura cearense acaba de sofrer doloroso golpe, que atingiu em cheio um dos mais eminentes vultos da moderna Literatura do País. Faleceu, sábado, dia 7, em Fortaleza, o Escritor Moreira Campos, considerado por Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos e Aurélio Buarque de Holanda um dos nossos maiores contistas contemporâneos, com brilhante folha de serviços prestados à inteligência, em meu Estado natal, sobretudo na área da ficção, como um dos mestres de maior expressão do conto brasileiro.

    Acompanhei-lhe os passos, ou a trajetória cheia de glórias e de êxitos marcantes, desde a fase auspiciosa do Grupo Clã, na década de 1940 ao seu ingresso na Academia Cearense de Letras, cuja segunda vice-presidência ocupava, ao falecer. Li, com o maior interesse, quase todos os seus livros, a partir de Vidas Marginais, de 1947 ou Portas Fechadas, de 1949 aos dias atuais, sempre se destacando num dos gêneros mais difíceis da criação literária - o conto chamado adequadamente "de arte do implícito". Como poeta bissexto, na classificação de Manuel Bandeira, publicou, em 1976, um volume de poemas, revelando, igualmente, o seu extraordinário poder de criar em qualquer setor das Letras. E foi, em todos os textos que divulgou, um extraordinário criador de tipos e personagens inesquecíveis, servindo-se, para tanto, de seu fulgurante talento e de uma experiência humana das mais ricas e vivenciada na capital cearense e nos sertões nordestinos.

    Portador de grande caráter, foi respeitado e elogiado por todos aqueles que o conheceram, ou privaram, como privei, de sua estima, como colega que éramos de Academia. E como nasceu com vocação natural para contar histórias e recriar, através delas, a própria existência, destacou-se também como excelente professor de Literatura, na Universidade Federal do Ceará, que lhe concedeu, por ocasião de sua aposentadoria, o título de Professor Emérito, enquanto o Governo do Estado lhe conferia a Medalha da Abolição, láurea com que reconhece, perante a História, o trabalho nobilitante das grandes personalidades do Ceará e do Brasil.

    Moreira Campos, que nos deixou aos 80 anos, nasceu em Senador Pompeu, mas viveu sua infância e parte da adolescência na cidade de lavras da Mangabeira, terra do jurista e ex-deputado Vicente Augusto e do romancista João Clímaco Bezerra, do poeta Linhares Filho e do crítico literário Dimas Macedo. Seu pai foi um construtor de estradas, no Ceará e na Paraíba, residindo por algum tempo na Fazenda Acauã, onde esteve refugiado, nas lutas pela República, o famoso Frei Caneca.

    O notável homem de letras, que teve sua obra traduzida para o inglês, o italiano e o alemão, integrando quase todas as antologias publicadas no País, era casado com a nobre senhora D. Maria José Alcides Campos e deixou três filhos: a escritora Natércia Maria, também contista e premiada pela Bienal de São Paulo, a artista plástica Marisa e o Dr. Cid Campos, alto funcionário do Banco do Brasil.

    Os intelectuais, os estudantes, a sociedade e o povo de meu Estado lamentaram, de forma comovente, o seu desaparecimento, considerando-a uma das mais irreparáveis perdas para a Literatura Cearense e, de modo especial, para a Academia de Letras, a Academia da Língua Portuguesa e o Grupo Clã, a que emprestou todo o potencial de sua cultura humanística e de sua mente privilegiada.

    Ao registrar, desta tribuna, a morte desse inolvidável coestaduano desejo, em nome da bancada cearense no Congresso Nacional  render tributo de saudade à sua memória imperecível!


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 12/05/1994 - Página 2253