Discurso no Senado Federal

PRIORIDADE DA INTERLIGAÇÃO DAS BACIAS DO TOCANTINS E DO SÃO FRANCISCO A TRANSPOSIÇÃO ISOLADA DAS AGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO.

Autor
Ruy Bacelar (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/BA)
Nome completo: Joaquim Ruy Paulilo Bacelar
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • PRIORIDADE DA INTERLIGAÇÃO DAS BACIAS DO TOCANTINS E DO SÃO FRANCISCO A TRANSPOSIÇÃO ISOLADA DAS AGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO.
Publicação
Publicação no DCN2 de 19/05/1994 - Página 2476
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, AUSENCIA, VIABILIDADE, NATUREZA TECNICA, TRANSPOSIÇÃO, AGUAS FLUVIAIS, RIO SÃO FRANCISCO, BENEFICIO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ESTADO DA PARAIBA (PB), ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), ESTADO DO CEARA (CE), REGIÃO NORDESTE, NECESSIDADE, INTEGRAÇÃO, BACIA DO TOCANTINS, BACIA DO SÃO FRANCISCO.
  • SOLICITAÇÃO, ITAMAR FRANCO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REEXAME, PROJETO, GARANTIA, ANTERIORIDADE, TRANSPOSIÇÃO, AGUAS FLUVIAIS, RIO TOCANTINS, RIO SÃO FRANCISCO, VIABILIDADE, COMBATE, SECA, REGIÃO NORDESTE.

    O SR. RUY BACELAR (PMDB - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, o Presidente Itamar Franco acaba de anunciar a sua aprovação a megaprojeto de transposição das águas do Rio São Francisco para quatro Estados do semi-árido nordestino: Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. O Governo estimou o custo desse programa ,gigantesco em dois bilhões e cem milhões de dólares, sendo que 50% desse total deverá ser obtido através de empréstimo junto ao Banco Mundial.

    O atual Governo, que tem apenas sete meses de mandato, pretende concluir a primeira etapa, com custos estimados em quinhentos e cinqüenta milhões de dólares, no final de dezembro, quando serão construídos 240 quilômetros de canais e mais quatro elevatórias. Como foi oficialmente anunciado, a meta do projeto é abastecer 220 cidades do semi-árido daqueles quatro Estados, elevando a capacidade de irrigação na área de 175 mil para um milhão e 600 mil hectares.

    Na primeira etapa, o projeto prevê a construção de um canal de 240 quilômetros para dar vazão a 50 metros cúbicos de água por segundo, beneficiando todo o Estado do Ceará e parte da Paraíba e Rio Grande do Norte. Na segunda etapa, será construído um canal de dois mil quilômetros, que transportará 250 metros cúbicos por segundo de água para beneficiar o restante da Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.

    Pode parecer meritório, Sr. Presidente, Srs. Senadores, o esforço do Governo Federal para solucionar definitivamente o crucial problema da seca do Nordeste. Trata-se, porém, como é fácil verificar, de uma decisão precipitada, que não leva em conta estudos técnicos abalizados, mostrando que o Rio São Francisco está enfermo, sofrendo os efeitos de criminoso desmatamento de suas margens, que intensificou o processo de assoreamento de seu leito, já degradado por várias fontes poluidoras.

    Acresce que o chamado "Rio da Integração Nacional" está com o seu potencial hídrico quase todo comprometido com a utilização de suas águas para as usinas hidrelétricas, na maior parte, e os projetos de irrigação já implantados ou em curso. Os especialistas sustentam que a atual capacidade do rio não autoriza a utilização de mais 300 metros cúbicos por segundo para garantir o êxito do projeto de transposição para aqueles quatro Estados. Como diz o adágio popular, não adianta descobrir um santo para cobrir outro.

    As forças vivas da Bahia estão se mobilizando para erguer tenaz resistência à viabilização desse projeto.

    Tecnicamente, foi demonstrado que a transposição das águas do Rio São Francisco para aqueles quatro estados irmãos do Nordeste só seria viável caso houvesse, também, a interligação do Rio Tocantins com o "Velho Chico", nos termos de projeto concebido, na década de 70, por especialistas convocados pelo então Ministro do Interior, o Coronel Mário Andreazza. Nestas condições, o Rio São Francisco seria utilizado, de fato, apenas como meio para a passagem das águas do Rio Tocantins, a fim de atender aos objetivos almejados.

    Se já havia sérias dúvidas sobre a viabilidade técnica desse projeto antes, hoje há pareceres de especialistas de grande conceito condenando a sua realização sem o socorro das águas do Rio Tocantins. O presidente do Comitê de Estudos Integrados da Bacia Hidrográfica do São Francisco, engenheiro José Theodomiro, já apontou os prejuízos que o megaprojeto provocará na Bahia.

    "Fazer a transposição - afirmou o engenheiro - é o mesmo que se desativar a Usina de Itaparica.

    O engenheiro estimou que a redução do volume das águas do rio, com a execução daquele projeto, é equivalente a toda a energia comercializada pela CHESF no território baiano. O Dr. José Theodomiro previu efeitos devastadores sobre os projetos de irrigação implantados ao longo de todas as comunidades banhadas pelo Rio São Francisco, na Bahia e em Pernambuco. Segundo ele, projeto semelhante nos Estados Unidos, para que a água fosse levada do Arizona para o Rio Colorado, passou 40 anos em discussão no Congresso norte-americano.

    Estudos técnicos realizados pelo Plano de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, o PLANVASF, ao longo de um período superior a dez anos, concluíram que as águas do "Velho Chico" são insuficientes para irrigar os solos férteis, aptos e irrigáveis, existentes no curso de toda a sua bacia. Parece ser muito mais sensato garantir o sucesso dos projetos implantados e em execução, partindo-se para obras de dragagem do leito do rio, paralelamente ao reflorestamento de suas margens com a indispensável mata ciliar, de lá criminosamente arrancada nos últimos anos.

    Está tecnicamente demonstrada a viabilidade da transposição das águas do Rio São Francisco, desde que se garanta, antes, a transposição das águas do Rio Tocantins para o "Velho Chico". Sem essa providência cautelar, estaremos embarcando em uma aventura que só não é grotesca, porque provocaria uma grande tragédia. Faço, desta tribuna, um apelo veemente para que o Presidente Itamar Franco reexamine esse projeto faraônico, ouvindo, antes, os especialistas na matéria sobre os seus gravíssimos inconvenientes.

    A integração de bacias de grandes rios é matéria hoje conhecida em todo o mundo. A interligação das bacias dos Rios Volga e Don, na União Soviética, trouxe grandes benefícios para as populações que vivem às margens daqueles grandes cursos d'água, e ainda permitiu a extensão de seus benefícios para populações de outras regiões. O racional e correto seria promover a integração das Bacias do Tocantins e do São Francisco, antes de partir para a transposição isolada das águas do "Velho Chico" para aqueles quatro Estados do Nordeste.

    Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 19/05/1994 - Página 2476