Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM AO SENADOR NELSON CARNEIRO. DESPEDIDA DE S.EXA. DO SENADO FEDERAL.

Autor
Affonso Camargo (PPR - Partido Progressista Reformador/PR)
Nome completo: Affonso Alves de Camargo Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AO SENADOR NELSON CARNEIRO. DESPEDIDA DE S.EXA. DO SENADO FEDERAL.
Aparteantes
Elcio Alvares, Esperidião Amin, Nelson Carneiro.
Publicação
Publicação no DCN2 de 19/01/1995 - Página 857
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, VIDA PUBLICA, NELSON CARNEIRO, SENADOR.
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, MOTIVO, DESPEDIDA, SENADO.

O SR. AFONSO CAMARGO (PPR-PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desde o início da sessão, eu me fiz presente, porque sei que o Senador Nelson Carneiro pretende fazer, hoje, o seu discurso de despedida do Senado Federal. Enquanto aguardamos a presença de S. Exª no plenário, onde vários colegas nossos esperam para prestar ao Senador Nelson Carneiro a homenagem que ele merece, vou tecer alguns comentários sobre a minha ida para a Câmara dos Deputados.

Se não me engano, o Senador Magno Bacelar e eu fomos os dois Senadores que se elegeram para a Câmara dos Deputados. O Senador Magno Bacelar retorna à Câmara, enquanto eu vou fazer o caminho inverso da tradição dos políticos brasileiros, que normalmente se elegem Deputado Federal e, posteriormente, Senador.

Quero fazer um registro histórico, já que minha intenção não era abandonar a nossa Casa, mas como político há vários anos, sei que temos que nos submeter à conjuntura. No Paraná se formaram duas grandes coligações, e por razões diversas meu Partido não teve possibilidades em uma e outra coligações de apresentar candidato à eleição majoritária.

Confesso, inclusive para ficar escrito nos Anais, que ficamos tão arraigados àquele cargo que exercemos que, quando não tive condições de disputar a eleição para o Senado, apesar de estar muito bem situado nas pesquisas eleitorais, a primeira reação foi encerrar minha carreira política, que já é longa. Iniciei a atividade política no primeiro Partido Democrata Cristão, em 1956 - completarei 40 anos de vida política - e me pareceu que seria normal até que eu me retirasse dela com a consciência tranqüila de ter servido ao meu País no que pude. Sou engenheiro civil, não me considero um profissional de política, tenho minhas atividades particulares e imaginei que estivesse na hora de eu me voltar para a família e para essas ações particulares.

Mas me ocorreu também que se abandonasse a vida pública sem o julgamento das urnas, alguém poderia não entender meus motivos reais. Resolvi assim me candidatar a Deputado Federal, para o povo decidir: se quiser que continue defendendo o meu Estado seria eleito; caso contrário iria tranqüilamente cuidar da minha vida particular, onde sempre atuei a favor do nosso País. Sempre tive a consciência de que tanto na função pública quanto na particular, como cidadãos, não perdemos o caráter de político nem aquela idéia de trabalhar pelo bem comum, e então tudo estaria bem. Quis o povo da minha terra que eu me elegesse. Fiz uma campanha de 120 dias sem apoio de prefeitos, de vereadores, sem experiência na Câmara Federal, mas, de qualquer forma, consegui ser eleito.

Hoje, pela manhã, comecei a viver o problema das duas Casas. Tínhamos uma sessão no Senado e uma reunião da Bancada do meu Partido na Câmara a que tive que comparecer. Espero, evidentemente, pelas ligações de amizade que deixo aqui, que possa ser alguém que, na Câmara, trabalhe para que haja uma maior integração dos trabalhos nas duas Casas do Congresso Nacional entre esta Casa e a Câmara. Vivi aqui 16 anos e conheço os problemas que sempre tivemos quando os projetos vinham já resolvidos da Câmara; inclusive, no final de sessões legislativas, quantas dessas proposições não podíamos mais examinar, nem emendar devido à exigüidade do tempo.

Pretendo, então - até tenho obrigação - trabalhar para que possamos fazer um trabalho harmônico entre as duas Casas. Hoje, ainda conversávamos sobre esse assunto com alguns Senadores para ver se conseguimos examinar as mensagens enviadas pelo Governo à Câmara, conjuntamente, para que não fiquemos sempre como segunda opção, pressionados pelos prazos aqui no Senado Federal.

Acredito que realmente não abandono a Casa por um problema apenas de cor de tapete verde ou roxo. Vou continuar trabalhando na Câmara com o mesmo espírito que tivemos aqui no Senado, ou seja, contribuindo para que o povo brasileiro resolva os seus problemas, com toda essa expectativa que se criou hoje no Brasil - da qual participo porque sinto sinais de que tudo vai melhorar. Creio que o Governo Fernando Henrique Cardoso, que hoje é um Governo praticamente de união nacional, poderá realmente resolver problemas que até hoje não foram resolvidos.

O Sr. Elcio Alvares - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. AFFONSO CAMARGO - Com prazer, ouço V. Exª.

O Sr. Elcio Alvares - O discurso de V. Exª é uma peça que se vai transformar numa convocação permanente nesses últimos dias, principalmente no momento em que o colega que nos deixa fala a sua palavra de despedida. V. Exª vai continuar a sua vida pública com muita intensidade porque a Câmara dos Deputados, inegavelmente, é um colégio político da mais alta vivência e - por que não dizer - tem, realmente, o sentido de ser o grande estuário das questões políticas deste País. Eu, ao longo desse tempo, me incluí entre os seus amigos pessoais. Tive o privilégio de freqüentar a sua casa, de sentir de perto o seu gesto de amabilidade e, acima de tudo, reiterar o conhecimento antes da minha posse aqui, quando o Senador Affonso Camargo trabalhava com tanta dedicação em favor do Paraná. Portanto, diria que em sua fala de hoje deve ser registrada a nossa participação por um dever indeclinável de amizade. Percebemos, neste momento em que V. Exª consegue uma eleição brilhante e difícil no Estado do Paraná - conforme V. Exª falou, seu Partido ficou praticamente sem o respaldo e sem o pálio de uma candidatura majoritária - V. Exª teve o mérito - que todos nós já sabíamos - de conseguir o sufrágio do povo paranaense e continuar representando-o aqui no Congresso Nacional. Evidentemente, não é uma despedida. V. Exª, cada vez mais, vai abrilhantar os debates aqui dentro, participar intensamente porque, hoje, Senado e Câmara se fundem nesse esforço notável que irá ocorrer que é o de dar ao Congresso o seu lugar de proeminência nessa nova quadra do Governo Fernando Henrique Cardoso e, desta maneira, como seu amigo, seu admirador, como uma pessoa que o tem na conta como uma das melhores figuras que nós temos aqui, pelo trato pessoal, pela amabilidade, pela cortesia no relacionamento, eu desejo apenas, nessa nova caminhada - que é o prolongamento do seu mandato de Senador - que V. Exª continue sempre timbrando, com esse ornato do seu caráter que é, indiscutivelmente, um traço que vai nos ligar, cada vez mais dentro e fora do Senado. A sua pessoa é merecedora de toda a nossa admiração e respeito. Só poderia dizer, encerrando, que V. Exª vai ser tão feliz na Câmara quanto o foi aqui no Senado, porque o seu modo de agir é um uniforme, e, a partir deste instante, Deputado Affonso Camargo, vai deixar aqui um vácuo muito grande pela sua participação sempre intensa e os seus cuidados com os projetos realmente importantes; mas nós vamos continuar, não vamos nos cingir a este limite de tapetes de cores diferentes. Vamos continuar cultivando, como sempre, uma amizade que acredito foi altamente gratificante para mim, que cheguei aqui nos idos de 91. Muito obrigado.

O SR. AFFONSO CAMARGO - Muito obrigado, nobre Senador Elcio Alvares, ainda bem que V. Exª inicialmente falou da nossa amizade. Então peço que todos vejam exatamente nessa amizade todos os conceitos que V. Exª fez sobre mim, porque foram exagerados e porque todo amigo sempre tece conceitos exageradamente positivos dos outros amigos. Eu dizia, durante a campanha, que é muito difícil conseguirmos em qualquer ambiente - e creio que também na Câmara dos Deputados, porque são 513 - o relacionamento que temos aqui no Senado; nossa convivência nesta Casa é muito boa. Eu dizia que o ponto positivo do Senado é a forma amena e amistosa como nós todos, de Partidos os mais diferentes, convivemos e o respeito que existe no nosso dia a dia.

Sempre analisei, e esse é um problema que nós fazemos permanentemente, esse nível de decisão do Senado que está bem abaixo do nível de decisão da Câmara dos Deputados. Este me parece ser um problema que temos que consertar, é um problema que levo comigo, até por consciência de 16 anos nesta Casa. Não sei de que maneira, mas temos que pensar.

Ainda hoje, na reunião da Bancada do meu Partido, na Câmara, eu dizia que tinha inveja, porque gostamos de participar do que acontece, quando a Câmara fazia aquelas conhecidas e repetidas reuniões de Colégio de Líderes, que já sabíamos que de lá ia sair algum projeto, alguma redação, que viria para o Senado e, provavelmente, iam solicitar que não mudássemos nada. V. Exª sabe que, normalmente, acontecia assim. E que está errado, porque somos uma Câmara Revisora e não podemos ser impedidos de fazer o principal que é apresentar ou revisar um projeto que vem da Câmara dos Deputados.

De qualquer forma não direi que estou frustrado. Fiquei assim no primeiro momento, porque penso que aquilo que chamo de resistência às mudanças, quem é Senador gostaria de continuar sendo Senador. Na verdade, é isso, mas depois vi que não era tão importante. Nós, políticos, temos que ter a sabedoria de adaptar-se às condições do momento. Realmente, fiquei um pouco frustrado, mas depois fui adquirindo um certo ânimo, ímpeto de campanha mesmo, e depois comecei a me animar com essa nova perspectiva de poder ajudar o País na Câmara dos Deputados. Então, é um caso que creio realmente ser o único, porque o Senador Magno Bacelar retorna para a Câmara e eu vou fazer uma experiência naquela Casa pela primeira vez. Não sei como vai ser; sei que é diferente, mas estamos de qualquer forma dispostos, animados e conscientes do trabalho que faremos na Câmara dos Deputados.

O Sr. Esperidião Amin - Nobre Senador Affonso Camargo, V. Exª me permite um aparte?

O SR. AFFONSO CAMARGO - Com o maior prazer, nobre Senador e Presidente do meu Partido.

O Sr. Esperidião Amin - Espero que esteja interrompendo a parte final de seu discurso.

O SR. AFFONSO CAMARGO - Perfeitamente.

O Sr. Esperidião Amin - Estou interrompendo na hora adequada. Não poderia na condição de seu amigo pessoal, que me orgulha muito, e Presidente do Partido, deixar de dizer que V. Exª honra exercendo o cargo de Secretário-Geral; na condição de seu par e colega no Senado Federal e, também, na condição de partícipe de muitas de suas preocupações legítimas - não angústias - V. Exª felizmente não tem essa vocação, mas tem sim a vocação e a feição do analista lúcido, absolutamente racional como são os bons engenheiros. Então, na condição de partícipe das suas preocupações fundadas, das suas propostas e diretrizes que V. Exª ajudou a que nosso Partido abraçasse, na condição de seu admirador de colocações elementares, uma delas eu vou aqui repetir sobre uma questão que vai ser muito polêmica este ano. Não se pode privatizar o que é monopólio natural. V. Exª é autor de frases que brotam de raciocínios elementares, como este. Tudo que é simples é bom, ao invés de ficar discutindo se é possível ou não, por exemplo, privatizar o abastecimento de água de uma cidade. Basta essa frase para resumir a solução de raciocínio que nos deve conduzir e muitas outras que ilustraram e que ilustram o programa do nosso partido. O manifesto do nosso Partido a respeito de revisão constitucional, a posição que o nosso Partido está construindo a respeito desta questão, do Projeto de Lei das Concessões, enfim, por toda esta gama de contribuições que estou aqui, muito sucintamente, resumindo. Quero dizer que, em absoluto, poderia admitir que esse seu discurso fosse uma despedida, mas não é. Pelo contrário, é um até breve para uma outra guarnição, V. Exª vai exercer aquilo que é da sua obrigação, é do seu dever colocar os seus talentos a serviço do país, é do seu e do nosso dever. Cada qual com os talentos que soube construir ou que Deus lhe deu, como diz a parábola. V. Exª na outra Casa, não tenho dúvida em dizer, tem muito mais energia mas tem muito menos racionalidade do que numa Casa de menor porte, com pessoas mais experientes, como deve ser o Senado. Na outra Casa V. Exª poderá exercer, poderá cumprir com esse seu dever, exercer o seu ministério, o seu mandato com uma utilidade muito grande, não diria maior, mas igualmente grande para esse País. Como não é uma despedida, na condição privilegiada de seu companheiro de executiva do Partido, estaremos juntos, na condição de seu companheiro, amigo e admirador não teríamos como nos despedir, quero apenas fazer o registro no Senado, ainda que esta não seja a última sessão, de que tenho absoluta convicção de que o homem público Affonso Camargo vai, na Câmara dos Deputados, poder exercitar isso que é motivo de orgulho para todos nós seus companheiros. Particularmente, a respeito deste tema, deste projeto ao qual V. Exª endereçava palavras neste momento, tenho a convicção de que nosso Partido haverá de se orientar pela experiência que V. Exª tem como homem público, como Ministro e como Parlamentar.

O SR. AFFONSO CAMARGO - Muito obrigado.

O Sr. Nelson Carneiro - Permite-me V. Exª um aparte.

O SR. AFFONSO CAMARGO - Está aqui o nosso grande Líder. Pois não, nobre Senador.

O Sr. Nelson Carneiro - Nobre Senador Affonso Camargo, V. Exª sai do Senado e continua sua trajetória brilhante na Câmara dos Deputados. Compreendemos que todas as atividades, todos os cargos, todos os encargos conquistados pelo voto popular, qualquer que seja a Assembléia que integrem, têm o mesmo valor e a mesma expressão. Quero recordar que dois grandes homens do passado, depois de uma larga vida nos postos maiores da República, se recolheram depois nas Câmaras Municipais e na Câmara Federal. Era eu repórter integrante da bancada de imprensa quando o Presidente Arthur Bernardes, depois da sua passagem pela chefia da Nação, foi integrar a Câmara dos Deputados, participando ativamente da vida pública, dando um exemplo magnífico de pontualidade, de dedicação e de capacidade de debater os problemas nacionais. E o meu grande, o meu saudoso chefe, José Joaquim Seabra, depois de ser duas vezes Governador da Bahia, depois de ter sido o grande Ministro de Rodrigues Alves e também um Ministro da Aviação de Hermes da Fonseca, se elegeu, por duas vezes, Vereador do Rio de Janeiro. Mas todos eles não perderam nada com isso, nem eles nem os outros, porque tinham chegado ali pelo voto popular. V. Exª, eleito Deputado Federal, não tem senão que se regozijar. Tanto faz a Câmara quanto o Senado, a Assembléia Legislativa como a Câmara de Vereadores, desde que cheguemos a esses postos pelo voto popular, teremos todos alegria em saber que cumprimos o nosso dever e merecemos a preferência do nosso eleitorado. Muito obrigado a V. Exª.

O SR. AFFONSO CAMARGO - Nobre Senador Nelson Carneiro, voltarei a me referir a V. Exª ainda neste meu pronunciamento.

Digo ao nobre Senador Esperidião Amin que, no momento em que iniciei o meu pronunciamento, não pretendia fazer um discurso de despedida. Mas sabia que o Senador Nelson Carneiro iria fazê-lo. Então, tentei, com as minhas palavras, o que chamamos de "segurar a sessão". E tive a oportunidade de, inclusive, receber apartes dos nobres Senadores Elcio Alvares e Esperidião Amin, que é o Presidente do meu Partido.

Quero dizer ao Senador Nelson Carneiro que vim ao plenário para homenageá-lo.

V. Exª , realmente, é um exemplo para todos nós. Não preciso tecer elogios à sua pessoa, porque os anos de luta, a sua coerência, enfim, tudo isso nos mostra o modelo de história política que é V. Exª e que deve ser seguido pelo mais moços.

Sr. Presidente, encerro o meu discurso, porque todos queremos ouvir o nobre Senador Nelson Carneiro. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 19/01/1995 - Página 857