Pronunciamento de Aureo Mello em 26/01/1995
Discurso no Senado Federal
CONSIDERAÇÕES SOBRE PROPOSIÇÕES DE S.EXA QUE DEFENDEM RESERVAS ECOLOGICAS NO ESTADO DO AMAZONAS.
- Autor
- Aureo Mello (PRN - Partido da Reconstrução Nacional/AM)
- Nome completo: Aureo Bringel de Mello
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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DIVISÃO TERRITORIAL.:
- CONSIDERAÇÕES SOBRE PROPOSIÇÕES DE S.EXA QUE DEFENDEM RESERVAS ECOLOGICAS NO ESTADO DO AMAZONAS.
- Aparteantes
- Hugo Napoleão, Mansueto de Lavor.
- Publicação
- Publicação no DCN2 de 27/01/1995 - Página 1235
- Assunto
- Outros > DIVISÃO TERRITORIAL.
- Indexação
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- JUSTIFICAÇÃO, APRESENTAÇÃO, PROPOSIÇÃO, AUTORIA, ORADOR, ESTABELECIMENTO, TERRITORIOS FEDERAIS, ESTADO DO AMAZONAS (AM).
O SR. AUREO MELLO (PRN-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, o assunto que me traz a esta tribuna são as proposições que apresentei estabelecendo os Territórios Federais do Alto Rio Negro e do Alto Solimões, ambos no Estado do Amazonas.
Sr. Presidente, o Alto Rio Negro, além de ser uma região fertilíssima, é extremamente encantadora, mágica, maravilhosa. Em Alto Rio Negro, fica o Município de São Gabriel da Cachoeira, que, apesar de não ser dos mais conhecidos do País...
O Sr. Hugo Napoleão - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. AUREO MELLO - Concedo o aparte a V. Exª.
O Sr. Hugo Napoleão - Senador Aureo Mello, V. Exª falou em São Gabriel da Cachoeira, que fica na Cabeça do Cachorro. V. Exª vinha dizendo, no seu discurso, que não sabia se algum dos Senadores presentes conhecia a região. Eu a conheci em missão. Realmente, ela nos fazer sentir orgulho de sermos brasileiros.
O SR. AUREO MELLO - É um privilégio conhecer aquela região, porque é uma das mais belas do nosso País. Embora amazonense, não a conheço, mas o que se diz dela e das riquezas que ela entesoura é de tal modo maravilhoso que a vontade que se tem é de se ir até lá.
Realmente, os habitantes de lá precisam desse Território, porque não há progresso na região. O Estado do Amazonas é, hoje em dia, inviável. O próprio Governador Amazonino Mendes, recentemente eleito, sente a necessidade de criar novos Territórios, porque, como está, o Amazonas não pode ser governado.
O Sr. Mansueto de Lavor - V. Exª me permite um aparte?
O SR. AUREO MELLO - Com muita honra, ouço V. Exª, nobre Senador Mansueto de Lavor, voz pernambucana deste augusto Plenário.
O Sr. Mansueto de Lavor - Quero louvar o pronunciamento de V. Exª em defesa da expansão demográfica do País, em defesa da Amazônia e do direito que têm os brasileiros daquela região à assistência médica, à educação, aos equipamentos comunitários, a tudo aquilo que já se tenta fazer por meio do trabalho meritório de civis e militares que lá estão assentados. O que precisamos, Senador Aureo Mello, é tirar o pensamento do restante do País de que um trabalho naquela região é um castigo, é um degredo. Isso não pode ocorrer. Lá está o futuro deste País. Quando a capacidade econômica, as vias, as fontes de riqueza aqui se esgotarem, lá está o futuro, lá estão as reservas. Não tenho dúvida também de que essa riqueza tão disputada hoje do subsolo, o petróleo, o ouro negro, existe em abundância na Amazônia brasileira, assim como existe na Amazônia peruana e também, em grande escala, na Venezuela. Não tenha dúvida de que o seu Estado, além de ser um Estado grande, é um grande Estado. O mundo inteiro faz campanhas de preservação de florestas, as ONGs estão aí, na Inglaterra, na Alemanha, na Suécia, nos Estados Unidos, querendo trazer para cá lições de preservação da natureza. Ora, um Estado como o Amazonas, que tem mais de 90% de suas matas, de suas florestas virgens preservadas, não precisa receber lição de nenhuma entidade nacional ou internacional acerca de preservação da natureza. O Governador Gilberto Mestrinho tinha razão: é preciso colocar essa riqueza da floresta, sem destruí-la, a serviço do bem-estar da população. Esse é o desafio do Brasil inteiro e não só do povo do Amazonas, para que essa imensa riqueza natural gere benefícios econômicos e sociais para o povo da própria região.
O SR. AUREO MELLO - Recentemente, quando estive nos Estados Unidos, ouvi una voce do pessoal que comigo conversou a respeito que a Amazônia é aquela região onde se desbastam as florestas, onde se age destrutivamente, que é um lugar que precisa ser defendido pelos estrangeiros, quando em realidade eles desconhecem - de boa-fé, a bem da verdade -, o que acontece na Região Amazônica. Mas existem sempre os mal-intencionados que divulgam essas notícias para tirar certos proveitos e vantagens. A maioria dos povos do mundo acredita que a Amazônia é um lugar que está sendo destruído criminosamente pelos próprios brasileiros, que não teriam capacidade para administrá-la, quando, em realidade, a Amazônia é realmente um lugar altamente aprazível, maravilhoso, com cidades muito boas, como Manaus, que a cada dia progride mais. E o seu subsolo é um chamamento às potências financeiras e econômicas que existem em nosso País. Alguns colegas nossos com quem tenho conversado, inclusive aqueles que me dão notícia das suas próprias fortunas pessoais, deveriam estar lá, fomentando e desenvolvendo aquela região.
O Sr. Mansueto de Lavor - Quero terminar o meu aparte, solidário com V. Exª, em defesa da Amazônia, visto que é sua obrigação defender o seu Estado. Realmente, creio que ele terá vozes tão autênticas e tão autorizadas como a de V. Exª, na próxima legislatura, a partir do dia 1º de fevereiro.
O SR. AUREO MELLO - Vêm aí dois bons Senadores.
Sr. Senador Mansueto de Lavor, quero, antes de mais nada, sublinhar que eu sempre via em V. Exª um dos expoentes desta Casa. V. Exª é um homem de alta intelectualidade; e não só pelo fato de ter passado pelos educandários mais profundos, onde se ensina realmente o cidadão a aprender, a ter cultura, V. Exª é um homem bem-intencionado, é um puro, é um idealista - e não adianta jogar resquícios de lama sobre sua pessoa porque V. Exª é como o ar: a lama atirada contra o ar cai, sem atingi-lo. Assim, admiro-o assim como ao Senador Chagas Rodrigues, que formamos nesta Casa um triângulo de ausências que, modéstia à parte, o Senado deveria sentir muito, pois em matéria de idealismo e de conhecimento especializado das suas respectivas regiões não há a menor dúvida.
Senador, eu passei no Município de Codajás quando era ainda um garoto atuante e batalhador em prol de sua eleição para Deputado Federal. Codajás é a cidade mais triste que já vi, na região do rio Solimões, que é o rio Amazonas descendo das Cordilheiras do Peru e alcançando o grande talvegue, o chamado baixo Amazonas. Era um lugar abandonado, onde havia casas de palha podre se deteriorando, casas de madeira carcomida, onde os escorpiões saiam de dentro das frestas para morder as pessoas que residiam ali, onde todos dormiam em rede, mais ou menos acostumados com aquela perspectiva de sofrimento que era o diuturno lá de Codajás.
Passaram-se muitos anos e fui para o Rio de Janeiro. Tive a honra até de ser eleito Deputado Federal pelo Rio de Janeiro. Transformei-me num Deputado carioca e, anos depois, lá fui eu passar pelo Rio Solimões e ver Codajás outra vez. Sr. Senador, o Município de Codajás não tinha mudado em nada. Estava, sim, mais podre, mais acabado, mais melancólico, mais dorido diante dos meus olhos.
Sr. Presidente, o Amazonas é ingovernável, se não for desdobrado em vários segmentos, em vários territórios, como aconteceu com relação a Rondônia, ao Acre, que virou Estado, e como acontecerá - espero eu - com o Território do Alto Solimões, o Território do Alto Rio Negro e o Território do Alto Juruá. Porque o Amazonas é grande, é fantástico, mas era preciso que o Governador dispusesse de dois ou três aviões a jato e as autoridades, cada uma, também para poder perlustrar toda aquela imensidão e conhecer todos os detalhes.
Por isso, Sr. Presidente, apresentei esse projeto. Espero que a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania opine sobre ele o mais rápido possível e que venha à tramitação. Se eu tiver possibilidades, inclusive, não hesitarei em pleitear regime de urgência para ele ; o artigo regimental que permite que, depois de um certo prazo de apresentação do projeto, venha a ser apreciado pelo Plenário.
Sr. Presidente, é um dos últimos clamares de um amazonense sincero e positivo em relação aos assuntos do seu Estado, mas que fique reboando neste Senado o velho apelo e a certeza de que a Amazônia não será esquecida pelo eminente Colegiado que vai assumir. Até porque seremos substituídos por dois Senadores muito bons, que são o já conhecido Bernardo Cabral, com a sua oratória estonteante e a sua cultura indiscutível, e o pacato e misantrópico Jefferson Peres, irmão do nosso já conhecido Senador Leopoldo Peres, mas que é uma das jovens e maiores culturas do Amazonas, possuidor de uma grande capacidade verbal.
O Amazonas não perece. Obrigado, Sr. Presidente.