Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM POSTUMA AO EMPRESARIO SEBASTIÃO FERRAZ CAMARGO PENTEADO POR SUA GRANDE CONTRIBUIÇÃO SOCIAL A FRENTE DO GRUPO CAMARGO CORREA.

Autor
Júlio Campos (PFL - Partido da Frente Liberal/MT)
Nome completo: Júlio José de Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM POSTUMA AO EMPRESARIO SEBASTIÃO FERRAZ CAMARGO PENTEADO POR SUA GRANDE CONTRIBUIÇÃO SOCIAL A FRENTE DO GRUPO CAMARGO CORREA.
Publicação
Publicação no DCN2 de 27/01/1995 - Página 1226
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, SEBASTIÃO FERRAZ CAMARGO PENTEADO, EMPRESARIO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho a esta tribuna para prestar minhas homenagens a um grande brasileiro, recentemente falecido. Estou aqui para falar da vida e da obra de Sebastião Ferraz de Camargo Penteado, principal dirigente da Construtora Camargo Corrêa. Empresa líder de um conglomerado que é considerado o 4º maior do País, com negócios que tem receita operacional líquida de mais de 3 bilhões de dólares por ano. Segundo o Balanço Anual - 1992, publicação editada pela Gazeta Mercantil, o Grupo Camargo Corrêa dá emprego a cerca de 35 mil brasileiros e tem um patrimônio líquido da ordem de 1 bilhão e 800 milhões de dólares.

Num tempo em que a meta fundamental dos governos é assegurar a criação de empregos, propiciando salário e dignidade às pessoas, a figura de Sebastião Camargo ganha o nosso reconhecimento por tudo que fez pelo Brasil e pelos brasileiros.

Hoje, mais do que nunca, nosso País precisa de homens empreendedores, que gerem riquezas, proporcionem emprego e que tenham fé no futuro.

O nome de Sebastião Camargo está indissociavelmente ligado às grandes obras que mudaram a face do Brasil nos últimos 40 anos. Na verdade, entre os anos 50 e 70, o Brasil mudou de cara: inúmeras estradas foram abertas em todas as direções; grandes usinas hidrelétricas foram construídas e outras notáveis obras de engenharia foram concluídas. Todas elas contribuíram, efetivamente, para que o Brasil passasse de nação eminentemente rural a uma incontestável potência industrial. Sebastião Camargo foi um dos principais atores dessa transformação.

Embora tenha iniciado pela construção de estradas, no final dos anos 30, a Camargo Corrêa daria seu grande salto de crescimento com a entrada na área de edificação de barragens. O coroamento desse trabalho veio em 1990, com a plena capacidade de funcionamento da Usina Itaipu, a maior do mundo, cujo consórcio de construção foi liderado pela empresa de Sebastião Camargo. Mas, além de estradas e barragens, a empresa atuou na construção de linhas de metrôs, aeroportos, eclusas e pontes.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Sebastião Camargo, que ao falecer era considerado um dos homens mais ricos do País, começou a trabalhar muito cedo. Começou pobre. Nascido em 1908, em Bauru, São Paulo, deixou sua cidade natal aos 17 anos. Foi trabalhar com carrinhos puxados a burro no transporte de terra retirada para a abertura de estradas. Inicialmente, foi empregado, mas logo passou a subempreiteiro.

Mais adiante, começou a trabalhar com aquele que seria o seu companheiro de criação da grande construtora - o advogado Sylvio Brant Corrêa. Em 1939, com pequeno capital social de 200 mil réis, constituíram a Camargo Corrêa & Ciª Ltdª - Engenheiros e Construtores.

Inicialmente, a empresa executava serviços de terraplanagem e pavimentação, trabalhos que aos poucos se foram tornando mais complexos, maiores e mais frequentes. Em 1940, quando comprou seu primeiro trator, a empresa deu um salto tecnológico - traço que seria no futuro seu diferencial em relação às demais companhias do ramo.

Em 1940, veio também o primeiro contrato de empreitada - para o trabalho de terraplanagem de um trecho de 12 quilômetros da estrada Banhado Grande-Mina de Pescaria-Mina de Espírito Santo, no Estado de São Paulo.

Falando sobre estes tempos pioneiros, disse certa vez Sebastião Camargo:

      Na época em que comecei a trabalhar, todo o transporte de terra era feito por aquelas carrocinhas pequenas, chamadas caçambas. Por ocasião da fundação da Camargo Corrêa, Sylvio e eu lançamos talvez as duas primeiras máquinas do setor. Eram aqueles tratorzinhos pequenos, que não tinham muita capacidade de trabalho em comparação com as máquinas de hoje. Mesmo assim, a rentabilidade da construção era extrema e, por isso, podíamos entrar em concorrências com quase certeza de que apresentaríamos o menor prazo de conclusão.

Ainda no início dos anos 40, a empresa trabalhou na construção de um trecho de 3 quilômetros da Via Anchieta, que liga São Paulo a Santos, bem como na preparação de pistas de pouso da Base Aérea de Santos e do Aeroporto do Campo de Marte, na capital paulista.

A década de 50 marca a participação freqüente na construção de rodovias, pistas de pouso, ferrovias e serviço de terraplanagem tanto em áreas industriais quanto residenciais. Na década seguinte, a Camargo Corrêa se engajaria no trabalho de construção de Brasília e na abertura de estradas pioneiras na Região Amazônica.

Mas o segmento que se transformaria no propulsor do extraordinário ritmo de crescimento da empresa seria mesmo o da construção de usinas hidrelétricas. Tudo começou com a participação nas obras das usinas hidrelétricas de Euclides da Cunha e Limoeiro, as duas no Rio Pardo, que se estenderam de 1955 a 1959.

Nesses canteiros, pela primeira vez, a Construtora trabalhou com a compactação de barragens de terra e com a concretagem de estruturas hidráulicas, acumulando assim experiências para o grande surto de crescimento que iria realizar a partir de 1962, com a execução completa da Usina de Jupiá, no Rio Paraná.

A Usina de Jupiá representou um grande desafio devido às complexidades das tarefas e à dimensão das obras. Era uma obra dez vezes maior do que a maior obra até então realizada pela empresa. O acampamento para a construção transformou-se numa cidade, que chegou a contar com 12 mil moradores. Concluída em 1968, a obra exigiu muitos equipamentos especiais.

Ainda durante as obras de Jupiá, a Camargo Corrêa começou os estudos para a Usina de Ilha Solteira, duas vezes maior e distante 60 quilômetros dali, no mesmo Rio Paraná. Oito anos foram consumidos neste trabalho, que também foi tocado isoladamente pela empresa de Sebastião Camargo.

Para edificar a Usina de Ilha Solteira foram trazidos especialistas dos Estados Unidos. O trabalho de dragagem e transporte de seixos, em barcaças de 900 toneladas, foi uma operação fluvial jamais vista em nosso Brasil.

Foi realizada ali, também, pela primeira vez no País, a técnica de concretagem a baixa temperatura. Para isso, foi montada no local a maior fábrica de gelo que o Brasil já teve, a fim de que os trabalhos se desenvolvessem a uma temperatura de zero grau.

Jupiá e Ilha Solteira foram duas das maiores entre as 18 hidrelétricas feitas pela Camargo Corrêa. Mas o grande desafio estava por chegar. Ele veio em 1975, quando foram desencadeadas as obras de Tucuruí, a quarta maior usina do mundo, e de Itaipu, a maior do Planeta.

"Em Tucuruí, passamos por grandes dificuldades, não só econômicas, mas também técnicas. É uma obra que me fala muito de perto", dizia Sebastião Camargo.

Sem dúvida, trata-se de uma megausina com capacidade prevista para a geração de 7.920 megawatts, que serão usados principalmente na exploração de recursos minerais da própria Amazônia, como a bauxita nos Rios Trombeta e Capim; o ferro na Serra de Carajás; e os projetos de alumínio da ALUNORTE e da ALBRÁS.

Já a gigantesca Usina de Itaipu foi construída - por um consórcio brasileiro-paraguaio - no Rio Paraná, 22 quilômetros a montante da confluência do Rio Iguaçu, na fronteira entre Brasil e Paraguai. A Camargo Corrêa participou como integrante de um consórcio, levando toda a sua excepcional capacidade tecnológica desenvolvida ao longo de décadas. Com sua plena capacidade instalada em 1990, a Usina de Itaipu gera 12.600 megawatts de energia.

Paralelamente a estas duas grandes obras, a Camargo Corrêa, a partir de 1978, liderou o consórcio construtor da Usina de Guri, na Venezuela. Inaugurada em 1986, com capacidade para 10.132 megawatts, é a segunda maior hidrelétrica do mundo em funcionamento.

Atualmente a empresa participa de duas obras: a construção da Usina do Porto Primavera, também, no Rio Paraná, na divisa entre os Estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo; e da Usina da Serra da Mesa, no rio Tocantins, que terá uma potência instalada de 1.200 megawatts, que serão empregados para suprir a demanda energética do Estado de Goiás e do Distrito Federal.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, além da construção de grandes usinas, trabalho que tornou internacionalmente conhecida, a Construtora Camargo Corrêa atuou também em várias outras obras que marcaram um extraordinário processo de crescimento do Brasil entre os anos 50 e 70, particularmente as rodovias.

Entre as principais realizações da Construtora neste setor estão trabalhos desenvolvidos na Rodovia dos Bandeirantes, dos Imigrantes, dos Trabalhadores, da Régis Bittencourt, bem como na Ferrovia do Aço.

Na Rodovia dos Bandeirantes, por exemplo, a Camargo Corrêa foi encarregada de construir um trecho de 19 quilômetros, no qual foi preciso lutar contra uma topografia particularmente acidentada, que exigiu a construção de 33 obras de arte, além de grandes escavações.

Em cada uma dessas obras havia um desafio tecnológico a ser vencido. Na Rodovia dos Trabalhadores, a Camargo Corrêa executou um trecho de 12 quilômetros, que exigiu a remoção de solos brejosos, terraplanagem especial e a construção de nove viadutos e pontes. Na Ferrovia do Aço, a empresa trabalhou em trechos de 57 quilômetros entre Andrelândia e Madre de Deus, e 55 quilômetros entre Itabirito e Congonhas, em Minas Gerais.

No que se refere a aeroportos, destacam-se as obras do Aeroporto de Manaus, erguido em plena selva, a 15 quilômetros da capital do Estado; e a do Aeroporto Internacional de Guarulhos, hoje orgulho de São Paulo e do Brasil, que incorporou os mais modernos conceitos aeronáuticos.

Poucas obras no mundo podem ser comparadas a da construção da ponte Rio-Niterói, no Governo do Presidente Médici, por suas dimensões, características técnicas, dificuldades de execução, vulto do investimento e sua importância para o desenvolvimento regional do Grande Rio. Foi vital. A Camargo Corrêa liderou o consórcio que construiu a ponte de 13 quilômetros, que exigiu, entre outras coisas, 1.140 tubulões de grande profundidade, alguns penetrando até 70 metros abaixo do nível do mar.

Entre as obras especiais, temos que destacar a construção de trechos do metrô de São Paulo, considerada a maior obra urbana de engenharia já realizada em nosso País.

Por tudo isso, um homem que realizou tanto, não poderia deixar de receber, neste instante, a nossa homenagem pelo seu passamento.

O Estado de Mato Grosso também tem a sua gratidão especial para com o Sr. Sebastião Camargo, que sempre acreditou e investiu naquele Estado. Sebastião Camargo foi um dos pioneiros na utilização da técnica da moderna ocupação do Pantanal Mato-grossense.

Lembro-me pessoalmente de tê-lo conhecido na sua fazenda, na Ilha Camargo, em pleno Pantanal de Barão de Melgaço, onde ele, nos finais de semana, estava presente em todos os momentos, participando da vida em defesa do desenvolvimento do Estado e em defesa da ecologia e do Pantanal Mato-grossense.

Para encerrar esta singela homenagem a um dos grandes brasileiros deste século, a um dos grandes brasileiros da atualidade, o empreendedor Sebastião Camargo, quero apenas registrar aqui a nossa gratidão pelo muito que fez em termos de rodovias, em termos de energia elétrica, em termos de ponte e de grandes obras, sendo bastante destacar esses dados.

Sebastião Camargo comandou uma empresa que construiu nesses últimos tempos 7 mil quilômetros de rodovias e participou da potência instalada das dezoito usinas hidrelétricas, somando cerca de 17.481 megawatts, suficientes para iluminar 60 cidades com mais de um milhão de habitantes. O concreto que usou em suas obras seria suficiente para construir 272 estádios iguais ao Maracanã. Tenho certeza absoluta que o homem que realizou tudo isso pelo Brasil, hoje, merece o respeito da nossa Pátria e do seu povo.

À família Camargo Corrêa, à família do Sr. Sebastião Camargo, os nossos mais sinceros votos de que continue a sua grande obra em prol do Brasil, em prol do nosso querido País.

Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 27/01/1995 - Página 1226