Discurso no Senado Federal

AGRADECENDO E DESPEDINDO-SE DE SEUS PARES E COLABORADORES NESTA CASA.

Autor
Ronan Tito (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MG)
Nome completo: Ronan Tito de Almeida
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • AGRADECENDO E DESPEDINDO-SE DE SEUS PARES E COLABORADORES NESTA CASA.
Aparteantes
Alfredo Campos, Carlos Patrocínio, Eduardo Suplicy, Esperidião Amin, Gilberto Miranda, Guilherme Palmeira, Hugo Napoleão, Irapuan Costa Júnior, Jonas Pinheiro, Josaphat Marinho, José Sarney, João Rocha, Junia Marise, Levy Dias, Mauro Benevides, Ney Suassuna, Pedro Simon, Pedro Teixeira.
Publicação
Publicação no DCN2 de 01/02/1995 - Página 1819
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • AGRADECIMENTO, SENADOR, MESA DIRETORA, SERVIDOR, SENADO, MOTIVO, DESPEDIDA, ORADOR.

O SR. RONAN TITO (PMDB-MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, é comum ouvirmos um senador, um parlamentar, em época de final de mandato, dizer que não é dado a despedidas. Eu não vou despedir-me. Não quero fazê-lo. Mas quero agradecer aos colegas, aos funcionários da Casa, que me ajudaram - e muito - suprindo as minhas deficiências e permitindo assim que eu chegasse ao final do meu mandato da maneira que cheguei.

Quero agradecer, inicialmente, aos funcionários do meu gabinete. Quero agradecer também a todos os taquígrafos. Muitos Senadores não sabem, mas nós temos um contrato: eu falo errado, e eles sempre escrevem certo; dessa forma, meu discurso passa a ter uma aparência melhor.

Quero agradecer à Mesa pela tolerância que tantas vezes teve comigo; quero agradecer também a paciência dos companheiros, que foi muita.

Finalmente, creio que é tempo de pedir perdão. Vem do latim a palavra perdonare; hiper donare quer dizer doar muito. Então, peço a todos aqueles que já doaram bastante da sua paciência a este roceiro, modesto Parlamentar, que perdoem as indelicadezas, muitas vezes a falta de competência, de acuidade no trato de assuntos. Gostaria de dizer que, verdadeiramente, em alguns momentos, exorbitei e peço esse perdão arrependido, mas não envergonhado. Devo dizer que, dos dezesseis anos que aqui estive no Congresso Nacional, tenho muito do que me arrepender, mas nada do que me envergonhar.

O Sr. Josaphat Marinho - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador Ronan Tito?

O SR. RONAN TITO - Ouço o aparte do nobre Senador Josaphat Marinho.

O Sr. Josaphat Marinho - V. Exª começou, Senador Ronan Tito, por dizer que tinha que agradecer. Compreendo que assim houvesse de proceder. Era o gesto de delicadeza, de correção, de cordialidade, não apenas com os seus companheiros, mas com toda a Casa. Mas também nós outros temos que lhe agradecer. V. Exª não é daquelas pessoas a quem se agradeça pelo trato ameno, mas pelo trato franco. Essa é a característica de V. Exª. Ao assinalá-la, quero invocar circunstâncias exatamente que determinaram que V. Exª, no plenário desta Casa, quando do julgamento do Presidente Fernando Collor de Mello, proferisse um esclarecimento que era, entretanto, desnecessário. A imprensa publicara que V. Exª havia feito determinadas afirmações que poderiam ser, se não ofensivas, desagradáveis a alguns dos seus colegas, inclusive a quem lhe dá este aparte. E, sem que ninguém lhe houvesse pedido coisa alguma, V. Exª, de uma dessas cadeiras, cuidou do assunto, esclareceu; e, sem que também fosse necessário, V. Exª pediu desculpas por qualquer expressão que pudesse ter sido considerada inadequada. Hoje, suas palavras são como as daquele momento: inteiramente adequadas. Este é o testemunho que quero dar a V. Exª, no momento em que, acentuando que não se despede, recebe de todos nós a declaração da cordialidade, da boa estima e da continuidade das relações que hão de nos aproximar pelos dias afora.

O SR. RONAN TITO - Muito obrigado, nobre Senador Josaphat Marinho. Certa vez, o Presidente do meu Partido, Ulysses Guimarães, nosso comum amigo, num discurso memorável em Belo Horizonte, pretendendo me homenagear, lembrou-se de Rimbaud e disse: "Rimbaud afirmou: "J´ai perdu ma vie pour ma délicatesse"; o Ronan não perdeu a vida dele por delicadeza". Isso, às vezes, machuca o interlocutor, mas digo a V. Exª que me machuca muito mais a posteriori. Muito obrigado.

O Sr. Esperidião Amin - Nobre Senador Ronan Tito V. Exª me concede um aparte?

O SR. RONAN TITO - Ouço, com prazer, o nobre Senador Esperidião Amin.

O Sr. Esperidião Amin - V. Exª não poderia deixar de consentir que este seu amigo, este seu colega de Casa, que apreendeu a admirar a veemência inteligente - não apenas a veemência, mas a veemência inteligente - das suas participações nos grandes momentos em que vivemos, fizesse este registro, ainda que rápido. V. Exª engrandeceu o seu Estado e engrandece a política do Brasil, porque teve e tem coragem e espírito público e os coloca sob um ideal. Acho que isto resume a visão de quem apreendeu, nesta Casa, a admirar, ouvir e respeitar a presença e a participação do homem público Ronan Tito em todas as questões que nos desafiaram e vão nos desafiar certamente. Receba, por isso, um abraço muito afetuoso de quem espera que este registro não seja uma despedida. 

O SR. RONAN TITO - Agradeço a V. Exª e quero me lembrar de Edmond Rostand, naquela sua peça extraordinária, Cyrano de Bergerac, em que, num determinado momento, diz: "Ser eleito Papa num conclave de homens tão nulos quanto graves? Não, obrigado" mas que ele gostaria de receber o reconhecimento daquelas pessoas que ele verdadeiramente respeitava.

Quero dizer a V. Exª que essas suas palavras carinhosas calam-me muito fundo, porque partem de V. Exª. Certa vez, disse alguma coisa de V. Exª à boca pequena e quero deixar registrado nos Anais: V. Exª, sem dúvida nenhuma, foi o melhor candidato a Presidente da República que se apresentou na televisão, com proposta, com seriedade, com os pés no chão e respeitando o povo.

O Sr. Hugo Napoleão - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador?

O SR. RONAN TITO - Ouço, com prazer, o Senador Hugo Napoleão.

O Sr. Hugo Napoleão - Eminente Senador e estimado amigo Ronan Tito, estou completando 20 anos no Congresso Nacional e recordo-me e evoco, até com saudades, a época em que colegas fomos também na Câmara dos Deputados. De lá para cá, V. Exª é o mesmo. Quando V. Exª ia encerrando o seu discurso, percebi que, imediatamente, por todo o plenário, armaram-se os microfones de aparte, e pensei cá com os meus botões: o nosso amigo Senador Ronan Tito não nos escapará tão facilmente, porque eu também desejo dirigir-lhe uma palavra, que, se Deus quiser, longe de ser a última, é apenas uma prova de admiração e de apreço. Sempre vi em V. Exª um adversário leal, um homem público limpo, aguerrido e destemido, em certos momentos. Eu o vi brilhar neste Senado da República e hei de vê-lo brilhar por tantos anos afora, pela vida, se Deus quiser. Receba também o meu afetuoso abraço.

O SR. RONAN TITO - Muito obrigado a V. Exª, nobre Senador. V. Exª sabe da minha admiração e da amizade que tenho por V. Exª, que contaminou também a sua família. A partir do encontro que tive com seu pai na Embaixada na China, quando ele era embaixador, passei a ter por ele uma admiração muito grande. Parece que é um traço da família a educação e a generosidade.

Muito obrigado a V. Exª.

O Sr. Ney Suassuna - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. RONAN TITO - Pois não, nobre Senador Ney Suassuna.

O Sr. Ney Suassuna - Senador Ronan Tito, também quero agradecer e lamentar. Agradecer os momentos que tive de convivência com V. Exª, quando eu, paraibano rude, aprendi muito com as suas atitudes humildes nas horas necessárias, como também com as ações de altivez que vi tantas vezes V. Exª ter. Até mesmo lá na nossa Fundação Pedroso Horta, observava o comportamento de V. Exª em relação àqueles que, de última hora, depois de terem sido consultados por mais de quatro meses e não terem respondido aos formulários, chegavam com fórmulas mágicas, querendo apresentar uma nova lei, um novo programa. Aprendi a ver a lhaneza com que V. Exª trata todos os seus pares e todos os funcionários. Aprendi a ver V. Exª, mesmo nos momentos difíceis, com o maior bom humor, contornar as crises sem deixar de ser forte. E, principalmente, aprendi muito com os "causos" que V. Exª conta com tanta propriedade. Eu conto uma história e não tem graça nenhuma; V. Exª mal começa a contar e nós já iniciamos a rir desde o primeiro momento. Então, todo esse bom humor, toda essa altivez, toda essa lhaneza, toda essa humildade fazem com que eu lamente a interrupção dessa nossa convivência nesta Casa - fora dela, a nossa convivência continuará - nos próximos quatro anos em que estarei aqui. Agradeço a convivência que tive com V. Exª, e tudo farei para que continuemos a nos encontrar de quando em vez, a fim de continuar esse meu aprendizado. Muito obrigado.

O SR. RONAN TITO - Nobre Senador Ney Suassuna, eu é que agradeço. V. Exª chegou aqui como no Le Cid, em que o autor colocou na boca do personagem certas frases inesquecíveis, tais como: "Você, para estreante, já chegou com golpes de mestre. Não precisou de aprendizado; chegou ensinando". Assim ocorreu com V. Exª aqui no Senado.

O Sr. Irapuan Costa Júnior - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. RONAN TITO - Com prazer, concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Irapuan Costa Júnior - Meu caro Senador Ronan Tito, estava em meu gabinete, preparando a minha mudança, uma vez que, a partir de hoje, à meia-noite, não quero nem posso mais ocupar o gabinete e o apartamento funcional, quando percebi que V. Exª ocupava o microfone. Deixei de lado a mudança e vim até o plenário para lhe dizer que convivemos na Câmara Federal por quatro anos, mas aquele ambiente, por demais repleto, não permitiu que tivéssemos uma aproximação maior. Queria lhe dizer, do fundo do coração, que, nesses oito anos que aqui passamos juntos - e o tempo flui linearmente -, a minha admiração por V. Exª não cresceu linearmente, mas, sim, exponencialmente. A cada dia, V. Exª se mostrou um homem mais preparado, mais amadurecido, mais altivo, mais corajoso. Gostaria de privar, fora deste Senado, da amizade de V. Exª.

O SR. RONAN TITO - Será um privilégio para mim, nobre Senador, do qual não abro mão. Gostaria imensamente de conviver com V. Exª. V. Exª diz que aprendeu e acredito nisso, porque aprendemos com todos neste mundo - quem tem humildade aprende com todos, até o professor universitário Irapuan Costa Júnior com este roceiro, Senador de Minas Gerais.

Não abro mão do privilégio de conviver com V. Exª. Muito obrigado.

O Sr. Pedro Teixeira - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. RONAN TITO - Ouço V. Exª, com prazer, nobre Senador Pedro Teixeira.

O Sr. Pedro Teixeira - Lembro-me, nobre Senador Ronan Tito, de que certa feita o Senador Valmir Campelo e eu ficamos agastados com uma interferência, uma sugestão de V. Exª, ao ensejo das emendas à Revisão Constitucional, no sentido de que Brasília sofresse uma transmutação nos propósitos que estavam vicejando e sendo objetivados pelos políticos que representavam Brasília. Realmente, V. Exª fez, neste plenário, uma interferência que colocou um biombo entre V. Exª e a Representação de Brasília, deixando-nos um pouco assustados. Mas, posteriormente, sentimos que V. Exª tinha, na realidade, um substancial propósito de transformar a Capital de todos os brasileiros em uma capital, efetivamente, de qualidade, naquilo para o qual ela foi criada. A sua intenção era a de que esse propósito não se desvirtuasse, de que não se abrisse tanto o leque para a geração de problemas que já existem e com os quais vamos nos defrontar. Então, desde aquela assentada, passei a acompanhar o trabalho de V. Exª e senti principalmente que V. Exª tinha honestidade de propósito. Esse norte que V. Exª nos inspirou em todas as oportunidades fez com que crescesse a nossa admiração por V. Exª, e aquele início de indiferença ou separação foi superado porque, retornando ao meu princípio, convenci-me de que V. Exª tinha muita razão quando dizia fazer-se mister repensar a capital de todos os brasileiros. Não atropeladamente, não deixando de dar continuidade àquilo a que já se deu início, que talvez não seja o melhor, nem o prioritário, mas é o que já existe e, nesse sentido, não podemos ser irresponsáveis. O atual Governo não iria deixar de dar continuidade ao social, creio que ele vai demonstrar que não. De maneira que avalio ser muito importante dar este testemunho e dizer ainda mais: estou no Partido Progressista, com meu grande Líder Irapuan Costa Júnior, mas estou com cócegas na mão para atender ao convite de V. Exª e trabalhar na Fundação Pedroso Horta, mudando minha camisa do PP para o PMDB, com o intuito de contribuir nos estudos, dos quais também gosto, sob sua orientação, o que me fará crescer em todos os sentidos. Vamos sentir saudades de V. Exª; aliás, os outros Senadores vão; eu, talvez não, porque devo ficar muito próximo de V. Exª.

O SR. RONAN TITO - Agradeço muito a V. Exª e gostaria de esclarecer que, desde o início, o que eu pretendia com aquela emenda era preservar a sede administrativa do Brasil, que foi criada por uma inspiração. E, outro dia, li neste plenário que Milton Campos disse que, muitas vezes, o político não é um erudito, nem um técnico, nem sabe de tudo, mas governar é uma obra de inspiração, e o inspirado Juscelino Kubitschek, quando quis criar Brasília, pensou nesta cidade como a sede administrativa do País. E tenho medo de que ela se desvirtue de eleições em eleições. Todas as sedes administrativas de um país, quando são criadas para isso, devem evitar eleições, porque, na verdade, o administrador dessa sede é o homem que cuida da casa do Presidente da República.

Agradeço a V. Exª e, se Deus quiser, iremos trabalhar juntos porque, afinal de contas, os mineiros se entendem muito bem.

O Sr. Eduardo Suplicy - Permite V. Exª um aparte?

O SR. RONAN TITO - Com prazer, ouço V. Exª.

O Sr. Eduardo Suplicy - Senador Ronan Tito, desde que passamos a conviver, diariamente, nos últimos quatros anos, foram inúmeras as vezes em que V. Exª discordou de mim, do meu Partido e de pessoas ligadas a ele. Em diversas ocasiões, ouvi V. Exª fazer avaliações críticas sobre declarações do Presidente da Central Única dos Trabalhadores, Sr. Jair Meneguelli; ao candidato à Presidência do PT e, posteriormente, à Presidência do Brasil, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva. De vez em quando, também, V. Exª formulava críticas à atuação do meu Partido e até a respeito de atitudes e posições minhas, inclusive na Comissão de Assuntos Econômicos, tivemos algumas divergências. Imagino que, provavelmente, nos próximos quatro anos, quando estiver fazendo pronunciamentos aqui em plenário ou na Comissão de Assuntos Econômicos, pensarei que V. Exª, se aqui estivesse, com certeza faria alguma observação sobre o assunto, como que a provocar-me no sentido de que eu, ainda com maior vontade, assuma a responsabilidade de defender os meus pontos de vista. Mas, como é próprio do diálogo democrático, muitas vezes, através das palavras de V. Exª, eu passava a ver outras situações em que antes não havia pensado. E é neste sentido que o Senado Federal constitui lugar de grande enriquecimento mútuo. Gostaria de dizer a V. Exª que, se porventura - como V. Exª é um observador atento -, tiver vontade de, algum dia, dizer-me algo, fazer alguma sugestão ou mesmo crítica, que tenha muita liberdade de fazê-lo, onde quer que esteja, e eu o ouvirei como se estivéssemos aqui lado a lado. Desejo a V. Exª que consiga, através de outras atividades que estiver realizando, também servir ao interesse do povo brasileiro.

O SR. RONAN TITO - Nobre Senador Eduardo Suplicy, quando no início do meu discurso cheguei a pedir perdão às pessoas que ofendi, talvez um dos endereços mais óbvios do meu pedido tenha sido V. Exª.

Não tenho curso superior, fui empresário a vida toda. A vida para mim foi muito dura, enfrentei-a trabalhando e não tive tempo de cultivar essas firulas parlamentares, tão importantes e tão necessárias. Tancredo Neves dizia, e dizia com primor: "Briguem as idéias, nunca os homens." Por isso, muitas vezes, fui tão agressivo com V. Exª.

No entanto, gostaria de revelar a V. Exª, agora, um fato: quando da criação do PT, fomos 36 parlamentares ao ABC, porque queríamos criar um partido progressista, cuja sigla era PP, com parlamentares afinados com os líderes sindicais, o Lula e todo aquele pessoal. Essa identidade havia nascido justamente durante as greves tão reprimidas no ABC, quando estávamos lá, todos os dias, em Santo André, São Caetano, São Bernardo. Mas ali fomos dispensados pelo Jacó Bittar, que dizia que os trabalhadores queriam um partido do trabalhador; não um partido laboral, não um partido trabalhista, mas um partido do trabalhador.

Naquele momento, fomos dispensados, embora eu, no passado, tivesse sido motorista de caminhão, confesso que hoje não sou mais. E saímos dali até um pouco pesarosos; ficou o Henrique Santillo, que, mais tarde, acabou sendo defenestrado do Partido.

Mas acredito, Senador, só para que o nosso debate não fique em água com açúcar, que o Partido de V. Exª tem obrigação moral com o Brasil, neste instante, de dizer que tipo de socialismo ele abraça. Há poucos dias, numa entrevista, Michel Rocard foi primoroso quando disse que devemos repensar inclusive o socialismo democrático e dizer em que termos ele tem que ser colocado. Entendo que este é o momento em que o PT deve isso ao Brasil; e mais do que ao Brasil, ele deve a si mesmo essa definição. Pode-se alegar que, feita essa definição, alguns sairão por aqui, outros por ali. Não tem importância. É uma definição que considero da maior importância.

Nobre Senador Eduardo Suplicy, trabalhei no programa do meu Partido durante dois anos e meio, lutando diuturnamente para que as pessoas entendessem o que é e o que não é o Partido.

Estou numa idade que já me permite dar conselhos. Mas se não for aceito, não tem importância.

O Sr. Mauro Benevides - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. RONAN TITO - Concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Mauro Benevides - Nobre Senador Ronan Tito, no instante em que V. Exª ocupa a tribuna desta Casa, no último dia de seu mandato, para formalizar suas despedidas ao Senado Federal, sinto-me no dever, como seu antigo liderado dois anos atrás, e hoje exercendo com imensa honra a condição de Líder da nossa representação parlamentar, de levar a V. Exª a manifestação reiterada da nossa admiração, do nosso apreço e, sobretudo, do nosso reconhecimento pelo que V. Exª tem sido na vida pública do País. Deputado Federal atuante; Secretário de Estado da mais absoluta confiança do saudoso Presidente Tancredo Neves, que realizou uma administração notável à frente da Secretaria de Trabalho em Minas Gerais; parlamentar que, nas comissões, neste plenário, pontificou como uma das figuras estelares do Senado Federal; homem que, no âmbito do Partido, assumiu a imensa responsabilidade de dirigir o Instituto Pedroso Horta, que é exatamente um setor vital para a formação da consciência programática de um partido moderno; V. Exª realmente vai desfalcar os quadros da nossa agremiação no Senado Federal. Aqui virão outros companheiros em condições de cumprir também a missão de representantes do povo brasileiro nesta Casa, mas, quando se fizer uma retrospectiva desta Legislatura, não há dúvida de que V. Exª despontará como um dos Senadores de atuação marcante no Senado, pela sua combatividade, pela sua competência, pela sua decisão, pela sua afirmação em momentos difíceis para a vida política nacional. V. Exª sempre teve coragem de assumir posições e o fez rigorosamente dentro daqueles princípios que nortearam a sua conduta na vida pública do seu Estado, Minas Gerais, e do próprio País. Como seu Líder no momento, também em final de mandato, sinto-me no dever, sem que isso impeça os outros companheiros de também se manifestarem, mas, na titularidade da Liderança, sinto-me no dever de levar a V. Exª neste instante o nosso profundo reconhecimento por tudo quanto V. Exª fez em favor do PMDB, em favor do Senado, do Congresso, em favor de Minas Gerais e do País. Seja feliz, nobre Senador Ronan Tito!

O SR. RONAN TITO - Obrigado, Senador. Agradeço muito o testemunho do meu Líder e credito mais suas palavras a sua generosidade do que realmente à capacidade deste modesto parlamentar.

A Srª Júnia Marise - V. Exª me permite um aparte?

O SR. RONAN TITO - Ouço V. Exª com prazer, minha colega de Minas.

A Srª Júnia Marise - Dou aqui um testemunho como companheira de mandato e, principalmente, como amiga e conterrânea. Mais do que o reconhecimento dos mineiros pela atuação de V. Exª nesta Casa, pude pessoalmente comprovar seu trabalho parlamentar sério, decidido e correto na interpretação dos anseios de Minas e do Brasil. Fico envaidecida, sobretudo, porque tive a oportunidade de dar-lhe voto para Senador da República na nossa memorável campanha de 1986. 

O SR. RONAN TITO - Muito obrigado, me honra muito.

A Srª Júnia Marise - Naquela época, estivemos juntos nos palanques por toda Minas Gerais, difundindo uma proposta de mudanças, de renovação e, sobretudo, uma proposta de edificação de melhores dias para o nosso povo. Vejo que V. Exª, nesses quatro anos, desempenhou o seu mandato voltado principalmente para os compromissos lançados naquela campanha. V. Exª dizia aos mineiros, na oportunidade, tendo à frente milhares de pessoas, que queria vir para o Senado da República não apenas para continuar a sua carreira política, mas para desenvolver uma ação entre Minas e o Brasil. Vamos sentir muito a sua falta. No passado, estivemos juntos na grande luta pela redemocratização do País, no antigo MDB; e, apesar do PP de Tancredo Neves, ficamos juntos no PMDB, em Minas Gerais. Éramos apenas sete deputados federais, mas representávamos a luta pela redemocratização e a resistência ao arbítrio. Estou certa, Senador Ronan Tito, de que V. Exª não iniciará outro mandato a partir de amanhã porque assim o quis. V. Exª teria hoje o novo mandato, renovado pelas mãos de Minas Gerais para continuar nesta Casa, mas a opção de voltar a suas atividades particulares na iniciativa privada dar-lhe-ão, também, a oportunidade de poder continuar servindo a Minas Gerais assim como ao Brasil. Quero também dizer, como já o fiz pessoalmente há poucos instantes, que gostaria de falar com V. Exª freqüentemente, receber suas sugestões e, inclusive, suas opiniões. E quem sabe eu as possa transmitir aqui não com o brilho da inteligência de V. Exª, mas, com toda certeza, com a coerência, sinceridade e seriedade que temos dotado, até o momento, o nosso mandato nesta Casa. Em nome de nossa Minas Gerais, desejo fazer a V. Exª o nosso preito de admiração e reconhecimento a esses oito anos de mandato como senador por nosso Estado. Estou gratificada pelo voto que dei a V. Exª e também ao Senador Alfredo Campos. E, sem dúvida nenhuma, todos os eleitores que votaram em V. Exª se sentem como eu neste momento.

O SR. RONAN TITO - Agradeço a V. Exª, Senadora Júnia Marise. Talvez nossa amizade, durante essa convivência longa no MDB, no PMDB, tenha inspirado V. Exª com essas palavras tão generosas.

O Sr. Carlos Patrocínio - V. Exª me permite um aparte?

O SR. RONAN TITO - Ouço o nobre Senador Carlos Patrocínio.

O Sr. Carlos Patrocínio - Nobre Senador Ronan Tito, foi muito bom que V. Exª, já no ocaso desta legislatura e, portanto, da sua participação brilhante neste Parlamento, nos propiciasse esta oportunidade de lhe abraçar; abraçar-lhe por tudo aquilo que aprendemos com V. Exª, um dos mais intransigentes defensores das matérias aqui apresentadas. Sempre as discutiu com veemência, rejeitou ou aprovou quando necessário, mas jamais as tratou com rodeio, com subterfúgios ou com camuflagem; sempre foi muito claro nas suas colocações, e esta é uma característica de V. Exª que vai ficar marcada em nós. Quero dizer que foi um privilégio ter convivido com V. Exª nesses seis anos, e foi um aprendizado muito grande, pela sua lealdade, pela sua sinceridade na condução dos seus pronunciamentos, pelo respeito a todos os seus colegas. Tenho certeza de que o Estado de Minas, as Alterosas se fizeram muito bem representadas aqui, através de V. Exª, do eminente Senador Alfredo Campos e continuarão bem representadas na pessoa da eminente Senadora Júnia Marise. Espero, nobre Senador Ronan Tito, que aqueles que amanhã chegarão a esta Casa para representar o nosso querido Estado de Minas Gerais possam reeditar aqui o mesmo trabalho que V. Exª desempenhou. Quero lhe desejar toda sorte de felicidades nesta nova empreitada de sua vida que, com certeza, será coberta de sucesso, como foi o seu mandato de representante de Minas Gerais no Congresso Nacional. Muito obrigado.

O SR. RONAN TITO - Quem agradece sou eu, nobre Senador Carlos Patrocínio. Veja os desígnios de Deus como são: V. Exª nasce em Minas Gerais, em Montes Claros; eu, no Triângulo Mineiro. O mundo dá voltas. V. Exª se forma em medicina lá no meu Triângulo e vai exercer a sua profissão no Tocantins. Vem para cá como senador e nós nos encontramos. Foi um encontro feliz para mim. Aprendi muito com V. Exª, que é daquela estirpe de homem que Minas Gerais tem o orgulho de exibir para o Brasil. Muito obrigado a V. Exª.

O Sr. Alfredo Campos - Senador Ronan Tito, V. Exª me concede um aparte?

O SR. RONAN TITO - Ouço o nobre Senador Alfredo Campos.

O Sr. Alfredo Campos - Senador Ronan Tito, estava eu decidido a não vir a este plenário para apartear os colegas em suas despedidas. Considero esse momento, não posso dizer tristonho, não posso dizer que seja ruim, mas havia decidido que não faria um discurso de despedida e não apartearia os colegas que estivessem se despedindo. Após a despedida do Senador Nelson Carneiro, a quem tive o prazer de apartear, neguei-me a vir aqui na despedida do Senador João Calmon. No entanto, Senador Ronan Tito, sua despedida é diferente. Tenho a mais absoluta certeza de que se V.Exª quisesse ser Senador por Minas Gerais, V.Exª o seria. E se nós dois quiséssemos enfrentar novamente aquela belíssima campanha que fizemos há oito anos, V.Exª retornaria para o Senado pela segunda vez e eu pela terceira vez. O povo de Minas Gerais sabe muito bem quem luta por ele, sabe o que é possível e o que não é possível fazer-se no Senado. Ao aparteá-lo agora, Senador Ronan Tito, lembro-me de uma das primeiras viagens que fizemos juntos, de avião, na nossa campanha, quando V.Exª dizia: "É, Alfredo, a campanha está muito difícil. Estamos com pouquíssimo percentual nos prognósticos eleitorais". Ao que eu respondia: Ronan, pode ter certeza, você está eleito e será o mais votado. Nesse aparte, Senador Ronan Tito, devo dizer-lhe que V.Exª foi um excelente Senador, um dos melhores desta Casa e, por que não dizer, o melhor. Durante o tempo todo em que exerceu, neste plenário, não só a palavra, mas também a Liderança, V. Exª soube mostrar aos seus colegas o seu fervor pela causa pública e uma amizade que todos nós reconhecemos. V. Exª sempre foi o grande comandante deste Senado por suas posições assumidas aqui dentro deste plenário. Foi V. Exª Líder, e eu também o fui. Conheço, pois, as dificuldades da Liderança. Sair dela com a amizade que V. Exª granjeou e soube manter é, não resta a menor dúvida, o sinal de que foi talhado para exercer cargos públicos, para exercer a política. Todavia, V. Exª não está se despedindo desta Casa e do Congresso Nacional. V. Exª ainda continuará como Presidente da Fundação Pedroso Horta. Nas próximas eleições, V. Exª terá a oportunidade, se assim o desejar, de galgar qualquer cargo em Minas Gerais, tais como: Governador, Senador ou Deputado Federal. Só a sua cidade, Uberlândia, consegue eleger um Deputado Federal folgadamente. Mas, nesta última eleição, V. Exª não quis disputar cargo algum. Não sei se o critico, não sei se o parabenizo pelo fato de não ter voltado ao Senado, pois quis dar-se um tempo para refletir e poder ver o Brasil com os olhos de um qualquer do povo. É o que irei fazer também. No entanto, espero que a nossa amizade, que se transformou em amizade de fato da campanha e do exercício do mandato para cá, possa ser robustecida. Hoje, meus filhos são amigos dos seus; minha mulher é amiga da sua; somos amigos e temos vários amigos em comum. Vamos, portanto, continuar fazendo política juntos. Felicidades, Senador Ronan Tito.

O SR. RONAN TITO - Nobre Senador Alfredo Campos, gosto muito de música. Sou um amante da música do tipo não muito ortodoxo. Gosto de moda de viola e adoro Beethoven e Bach. Mas quando V. Exª falou da nossa amizade, veio à minha lembrança o Bolero de Ravel. O Bolero de Ravel começa com uma flauta tênue esboçando o tema de maneira suave, pequena; entra o oboé; depois entram os metais, as cordas e a bateria; finalmente, entra toda a orquestra repetindo o mesmo tema.

Já houve quem escrevesse que o Bolero de Ravel é qualquer coisa que enfeitiça. Nossa amizade também, felizmente, graças a Deus, foi assim. Começou tênue e até com uma certa desconfiança, pois nós dois disputávamos uma cadeira para o Senado na mesma época. Éramos dezessete candidatos e só havia duas vagas. No meio da campanha - pasmem os Srs. Senadores -, fizemos uma dobradinha e passamos, dentro do nosso próprio partido, a provocar ciúmes, pois eram quatro candidatos e saímos nós dois, em dobradinha, fazendo a campanha por Minas Gerais. Graças a Deus, vitoriosa.

Não quis me despedir, estava apenas agradecendo e pedindo perdão, porque eu sou muito estouvado - essa é a palavra. E na defesa das idéias que acredito serem corretas, chego - e isso me machuca e me magoa - a agredir os companheiros. Só quero pedir perdão aos meus companheiros por algum excesso que eu tenha cometido e agradecer a todos, principalmente aos funcionários da Casa: ao pessoal que nos serve café; aos assessores, que nos ajudam tanto nos estudos das matérias e ao pessoal da Mesa. V. Exª verdadeiramente tem razão, assim como a Senadora Júnia Marise também. Eu tinha possibilidades de me eleger: cheguei a ter 26 ou 28% das intenções de votos nas pesquisas, quando o segundo colocado tinha menos de 20%, e nós tínhamos duas vagas. Mas quero fazer uma confissão: não me candidatei não foi por desapreço a esta Casa, pelo amor de Deus! Esta é a Casa mais extraordinária do Brasil, a Casa mais alta, está aqui o selecionado brasileiro, está aqui o selecionado do civismo, da inteligência, mas, principalmente, de devoção e amor à pátria. Foi por uma certa exaustão, cansaço e uma certa frustração. Perdemos um momento extraordinário de rever a Constituição brasileira. Se não a revermos nos mínimos detalhes vamos amarrar o pobre à pobreza; o desempregado ao desemprego; o miserável à miséria. E nós não temos esse direito.

Fui o autor do artigo que previa a revisão constitucional. Eu acalentava esse sonho. Eu olhava para a Constituição e dizia: isso tem que ser mudado. Não por mim, não para mim. Para mim a Constituição está muito boa. Mas será que é possível - restritiva do jeito que a Constituição é - a criação de empregos para a população?

Nobre Senador Alfredo Campos, este País só tem uma saída: é uma política de pleno emprego, é abrir a possibilidade de criar emprego para todos os brasileiros. Só há essa saída. Não há outra.

Salário por votos? Isso é brincadeira. Vamos votar um salário de 100 reais para o trabalhador. Se pudéssemos fazer o salário do trabalhador através do voto, por que não votar um salário de 1.000 reais? Sabemos que não é possível. Entretanto, faremos uma salário extraordinário para os nossos trabalhadores no dia que criarmos uma política de pleno emprego que este País nunca teve. E a oportunidade extraordinária de tê-lo era revendo a Constituição brasileira.

O Sr. Levy Dias - Nobre Senador Ronan Tito, V. Exª me concede um aparte?

O SR. RONAN TITO - Ouço-o com todo prazer.

O Sr. Levy Dias - Senador Ronan Tito, somos amigos desde a Câmara dos Deputados, onde trabalhamos juntos na Comissão de Agricultura, que era presidida por um Deputado do Paraná. Conheci-o de perto no dia em que V. Exª foi às lágrimas, na defesa de um assunto da maior gravidade e da maior importância: o assentamento rural. Depois, conheci-o mais de perto, quando V. Exª adotava atitudes duras e posições desassombradas e fazia colocações muitas vezes agressivas no plenário; fora do plenário, V. Exª é um homem extremamente carinhoso, extremamente amigo, que tem um "coração de manteiga". Talvez esta tarde seja muito importante para o Senado Federal, porque, neste dia, 31 de janeiro, em que termina a 49ª Legislatura, V. Exª fala com a mesma veemência, demonstrando ter o mesmo amor ao Brasil e as mesmas posições adotadas durante toda a sua vida pública. Por isso, quando V. Exª não se candidatou ao Senado Federal, eu lhe disse: o Senado perderá. A Nação perderá. E todos nós sentiremos muito a sua ausência. Tenho certeza de que V. Exª continuará a ter o mesmo amor ao Brasil, a mesma devoção e o mesmo desassombro, levando - sempre que a oportunidade lhe propuser - essa mensagem não só ao povo do seu Estado, mas de todo o País. Cumprimento-o por chegar aos cabelos brancos com essas posições firmes e definidas, com o conhecimento e a sensibilidade do homem do campo. Cumprimento-o por defender as teses do produtor rural, porque descobriu, há muitos anos, que não se combate a fome com "filmete" de televisão, mas com a produção de alimentos, não só pelo emprego que a agricultura proporciona, como também pela possibilidade de produzir. Ontem, ouvia um produtor do meu Estado, Mato Grosso do Sul - Estado eminentemente produtor de alimentos -, dizer que o Plano Real baixou a inflação para todos menos para o produtor rural. Dizia ele que "a maldita TR continua castigando, colocando o produtor rural numa situação extremamente difícil". V. Exª, com brilhantismo, com patriotismo, sempre defendeu aqui essas idéias e o produtor rural, sem defender causas ou mentalidades menores. V. Exª estava sempre pronto a defender a grandeza do Brasil, começando pelo homem mais importante de qualquer nação, que é o produtor de alimentos. Eu o cumprimento por essa postura. Nesta tarde, neste 31 de janeiro, o Senado é engrandecido, mais uma vez, pela sua palavra. Seja feliz V. Exª e sua família.

O SR. RONAN TITO - Nobre Senador Levy Dias, V. Exª, como eu, é um homem oriundo do campo, que não nasceu em berço de ouro - não conto isso como uma vantagem, porque gostaria de ter nascido em berço de ouro - e sofreu, por isso mesmo, as agruras. A luta, às vezes, endurece-nos um pouco; o sofrimento quando é demais acaba criando em nós certa carapaça, certa rigidez, certa dureza. Mas V. Exª saiba de uma coisa: só levo desta Casa e do relacionamento que tive com todos os Srs. Parlamentares a melhor das lembranças. Aprendi muito, aprendi de tudo, mas o que mais aprendi foi o civismo e amor a este País.

O Sr. Jonas Pinheiro - Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. RONAN TITO - Ouço, com prazer, meu amigo querido, o nobre Senador Jonas Pinheiro.

O Sr. Jonas Pinheiro - Nobre Senador Ronan Tito, V. Exª, seguramente sem o saber, constituiu-se para mim num dos mais importantes instrutores que tive nesta Casa durante minha convivência com os nobres Pares. Fui, silenciosamente, um observador constante do comportamento de V. Exª, das atitudes, do gesto afável, amigo e enérgico, quando necessário. Vi como V. Exª atuou bravamente nas Comissões e espero que entre os novos Senadores que, brilhantemente, haverão de compor esta Casa haja outro Ronan Tito. Não é possível imaginar este plenário ou as Comissões, principalmente a de Assuntos Econômicos, sem alguém que substitua V. Exª, ou melhor, que o suceda, porque V. Exª é insubstituível. Mas alguém haverá de empunhar a bandeira da dignidade e da independência desta Casa, para que se perpetuem na memória do Senado a sua figura, bem como o papel que V. Exª desempenhou. Neste momento de despedida, aproveito para apresentar-lhe os meus cumprimentos e expressar o meu agradecimento por ter tido o privilégio de ser considerado um amigo de V. Exª.

O SR. RONAN TITO - Sr. Presidente, não queria despedir-me, oficialmente, porque receava ser traído pela emoção. Assim, aproveitei para fazer alguns agradecimentos no instante em que éramos apenas três ou quatro no plenário. Por isso, atrevi-me a antecipar-me ao discurso do Senador Eduardo Suplicy, a quem peço perdão.

O Sr. Pedro Simon - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. RONAN TITO - Com prazer, ouço V. Exª.

O Sr. Pedro Simon - Senador Ronan Tito, gostaria de registrar o meu respeito e admiração por V. Exª. Fui uma das pessoas que lhe disse pessoalmente que não entendi o fato de V. Exª não se candidatar na última eleição. Todas as pesquisas de opinião pública revelavam que V. Exª, longe do segundo colocado, era a pessoa que o povo de Minas Gerais desejava que continuasse no Senado Federal. Entendo, com toda a sinceridade, que V. Exª deveria ter continuado no Senado Federal. Mas tenho que respeitar a sua decisão no sentido de fazer uma pausa em sua brilhante vida pública. V. Exª, nobre Senador Ronan Tito, é dessas pessoas das quais podemos discordar. Nós o admiramos por ser um homem de bem, digno, sério e bem-intencionado. V. Exª diz que não tem curso superior, e eu lhe digo: conheço uma infinidade de pessoas que têm curso superior e são semi-analfabetas; conheço muitas que não têm curso superior e, como V. Exª, têm cultura, conhecimento e grande facilidade para analisar a realidade do País. Lembro-me de que, certa vez, V. Exª viajou com o Dr. Ulysses Guimarães para o exterior. Ao regressar, ele disse-me que ficara profundamente impressionado pela cultura e pelo conhecimento de V. Exª, tanto em literatura, poesia, ou música clássica. Na verdade, V. Exª é um desses autodidatas que chegou ao clímax daquilo que se podia imaginar. V. Exª deixará um grande vazio nesta Casa, pois é uma daquelas pessoas que se agarram, que lutam, que se dedicam de corpo e alma à causa que defende. E isso é bom, é importante, porque é de pessoas desse tipo que estamos precisando. No próximo quadriênio, haverá necessidade de auto-afirmação do Congresso Nacional e, especialmente, do Senado. Portanto, sentiremos muito a falta de V. Exª, de seus conselhos, de sua orientação. Veja V. Exª que, para infelicidade minha, em algumas oportunidades temos divergido na vida interna do partido. Mas não é o fato de termos divergido que deixo de reconhecer em V. Exª o padrão de homem sério, o padrão de dignidade, o padrão de correção, pelo qual tenho o maior respeito, a maior amizade e o maior carinho. É uma pena, realmente, que nesta hora tão importante não tenhamos V. Exª para colaborar com os nossos trabalhos e deles participar.

O SR. RONAN TITO - Senador Pedro Simon, quando V. Exª falou em padrão de homem sério, de honestidade e de seriedade, estava traçando um auto-retrato, estava se olhando no espelho. Sabe V. Exª a admiração que tenho pela sua pessoa também. Talvez nas nossas discordâncias a nossa amizade tenha crescido. Deus nos livre, Senador Pedro Simon, dos homens que só dizem amém! Deus nos livre! De maneira que, muitas vezes, é na discordância, na luta e no debate, às vezes renhido, agressivo que cresce não só a admiração, mas a amizade e o respeito que um nutre pelo outro.

Quero dizer que, principalmente nas discordâncias, a nossa amizade se robusteceu, e muito.

Agradeço a V. Exª.

O Sr. João Rocha - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. RONAN TITO - Ouço com prazer V. Exª.

O Sr. João Rocha - Nobre Senador Ronan Tito, é uma satisfação muito grande participar, neste momento, dessa homenagem que V. Exª recebe de todos os seus Colegas do Senado. Nos quatro anos em que tivemos a oportunidade de conviver com V. Exª, comungamos nas opiniões com todos aqueles que falaram sobre o trabalho, sobre a capacidade, sobre o dinamismo que V. Exª empreendeu em tudo aquilo que discutiu, que debateu, e mais ainda: nos dois últimos anos, na Comissão de Assuntos Econômicos desta Casa, tivemos maior oportunidade de conviver mais intimamente com V. Exª, sentir a sua preocupação e verificar a bagagem de conhecimento que V. Exª tem dos problemas e das soluções que podemos dar ao nosso País. V. Exª sempre ponderou com muita clareza, com clarividência, que as soluções para os problemas do nosso País não partem dos fatores complicadores, mas exatamente das medidas que podem torná-las mais simples, mais realistas e mais concretas. Sinto-me muito feliz, neste momento, por estar aparteando V. Exª e, ao mesmo tempo, triste porque eu queria ter V. Exª, como bem assinalou o nobre Senador Jonas Pinheiro, como aliado, com essa bagagem de conhecimento, que discutiu em profundidade a rolagem da nossa dívida externa, os projetos de resolução mais importantes desta Casa, com experiência; deu oportunidade de diálogo e de abertura desse leque de mais informações com todos os órgãos do Governo vinculados à área econômica, uma das áreas mais importantes que consideramos. Quero dizer a V. Exª que esses dois anos de convívio e de intimidade me acrescentaram mais informações, mais conhecimentos, pelo espírito de debate de V. Exª, com companheiros combativos, como o nosso colega, Senador Eduardo Suplicy. No resultado final, sempre consideramos isso positivo: o debate, a discussão das idéias mais profundas, sem a preocupação de agradar ninguém, agradar o seu ego, a sua maneira de pensar, reagir, agir, dentro do conceito que V. Exª tem da economia e dos problemas do País, como acabei de citar. Espero que, quando eu estiver saindo desta Casa, daqui a 4 anos, esteja V. Exª retornando novamente a este convívio tão importante não só para os seus Colegas, pois essa bagagem de experiência é também muito importante para o futuro do nosso País.

O SR. RONAN TITO - Muito obrigado, Presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, Senador João Rocha. V. Exª trouxe para aquela Comissão um novo alento, uma maior importância e uma gama de informação extraordinária. Pudemos saber a cada dia a arrecadação do Brasil, o seu endividamento, o custo de rolagem da dívida. Afinal, todos os números de que precisamos para apreciar uma política econômica neste País, V. Exª não só os requisitou, mas os forneceu a todos os membros da Comissão. A partir daí, tivemos a possibilidade de discutir, verdadeiramente, o cerne da economia deste País. Muito obrigado a V. Exª.

O Sr. José Sarney - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador Ronan Tito?

O SR. RONAN TITO - Ouço com prazer o sempre Presidente José Sarney.

O Sr. José Sarney - Senador Ronan Tito, não entendo bem por que os políticos falam em despedida. Acho que os políticos nunca têm despedida. Quando tomei posse na Academia Brasileira de Letras, fiz um elogio a um grande escritor e político brasileiro que foi José Américo, quando tive a oportunidade de dizer que a política só tem uma porta, que é a de entrada, não tem a porta da saída. De maneira que não podemos conceber V. Exª falando em despedida, porque o político teve a graça da vida dedicada ao bem comum. E V. Exª é um homem público que tem dedicado toda a sua vida justamente a essa missão que têm os políticos de defender, de lutar pelo bem comum. V. Exª tem sido um exemplar representante de Minas Gerais, defendendo os interesses do seu Estado, de acordo com a missão clássica do Senado de que cada um representamos os nossos Estados. Mas V. Exª também tem sido, durante esses tempos que passou no Senado da República, o Senador do País, defendendo as grandes causas nacionais, participando do debate dos grandes temas desta Casa e dos grandes temas do interesse do Brasil. Portanto, apenas vejo V. Exª saindo de uma trincheira e marchando para outra com o mesmo brilho, com a mesma inteligência e com a mesma dedicação com que V. Exª participou dos trabalhos do Parlamento enquanto aqui esteve. Tive a ventura e a felicidade de há algum tempo, durante o meu Governo, tê-lo como Líder aqui, no Congresso. E quantas vezes recebi de V. Exª, na Presidência da República, o aconselhamento, a visão dos trabalhos do Congresso, a experiência transmitida. Aqueles que governam e presidem o Poder Executivo têm necessidade de receber os anseios e os sentimentos que se cristalizam no Parlamento, onde os Líderes são os intermediadores. Portanto, Senador Ronan Tito, deixo, neste aparte, que será lido sem dúvida por muitos e muitos anos nos Anais do Congresso, como todos que foram proferidos, o testemunho de um ex-Presidente da República sobre o grande homem público, o político excepcional, o grande representante de Minas Gerais e patriota que foi V. Exª nesta Casa. E que continuará a ser porque, na política, só há uma porta, e ela lhe foi dada pelo nascimento, quando Deus lhe deu a graça da vida de ter a ambição do bem comum.

O SR. RONAN TITO - Muito obrigado, nobre Presidente José Sarney. Lembro-me de que, por um desses acasos da vida, quando fui escolhido Líder da Bancada, havia entre o PMDB do Senado e V. Exª uma certa dissensão. Anunciei-me antes de pedir audiência: "vou falar com o Presidente José Sarney". Os jornalistas ficaram todos aturdidos. Muitos acharam que aquela atitude minha, naquele momento, era temerária. Os jornalistas perguntaram-me "o senhor já pediu audiência ao Presidente?". E eu respondi-lhes: "Não, mas conheço o espírito democrático do Presidente."

Quero dar um depoimento: pedi audiência às 14:00h e às 16:00h estávamos sentados conversando sobre o Brasil e sobre a política.

Teria outros depoimentos a fazer, mas eu gostaria de fazer referência ao final do seu Governo: quando V. Exª, num ato de coragem, em um momento difícil da economia brasileira, veio ao Parlamento prestar contas - e todos aplaudimos aquele gesto do homem democrático, pois V. Exª foi o primeiro Presidente da República a fazer isso - lembro-me de que havia um Parlamentar mais afoito e admirador do ex-Presidente Fernando Collor de Mello que fez um comentário perto de mim:

      Já sai e já sai tarde.

Respondi-lhe então com uma frase profética:

Esse homem ficou cinco anos no Palácio e pôde vir despedir-se neste Parlamento e está saindo aplaudido. O seu candidato ainda vai entrar. Vamos ver como é que ele vai sair.

Sr. Presidente, se não fôssemos dez ou doze Parlamentares ali presentes, eu nem ousaria dizer o que disse e lembro-me daquele dia como se fosse hoje. V. Exª deixando o poder sob os aplausos do Congresso Nacional.

Recordo-me também de uma assertiva de V. Exª:

"A economia pode ser ajustada a qualquer momento, mas a minha grande obra, o que persegui o tempo todo foi a construção do estado democrático, da liberdade. Preservei isso o tempo todo." Sem dúvida, a História há de registrar essa verdade.

O Sr. Guilherme Palmeira - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. RONAN TITO - Ouço com prazer o nobre Senador Guilherme Palmeira.

O Sr. Guilherme Palmeira - Nobre Senador Ronan Tito, talvez eu não tivesse que acrescentar mais nada ao discurso de V. Exª e às palavras dos que o apartearam; elas fazem justiça à atuação de V. Exª. No meu primeiro discurso no Senado Federal, recebi o apoio, a solidariedade e o incentivo de V. Exª. Tal gesto marcou a minha trajetória política. No decorrer do nosso mandato, acompanhei a atuação de V. Exª. O que me deixa tranqüilo com relação ao que vai ocorrer nesta Casa, daqui em diante, como bem disseram os Senadores José Sarney e Pedro Simon é que nas idéias e nas lutas, até internas de um partido, o que vai sobrepujar tudo isso é a idéia de servir ao País. E não tenho a menor dúvida de que o Senador Pedro Simon, o Senador José Sarney e todos nós vamos dar seguimento àquilo que V. Exª tem pregado com propriedade nesta Casa. Além do primeiro aparte que marcou a minha carreira política neste Parlamento, lembro-me de que V. Exª foi colega do meu irmão, quando Secretário do Trabalho. E, antes de conhecê-lo, eu já sabia e tinha referências a seu respeito. Não é apenas o Estado de Minas que agradece a atuação parlamentar de V. Exª mas também o Brasil. O nobre Senador é o exemplo de que os políticos não são aquilo que determinada imprensa publica. Somos produtos, Senador Ronan Tito, do que é este País. E vamos amadurecendo, vamos aprendendo, neste convívio, com os discursos de V. Exª, com os do Senador Pedro Simon, com o exemplo do ex-Presidente José Sarney. Creio que estamos suficientemente amadurecidos. Ao fazer essa modesta saudação, faço-a também em nome de todo o Estado de Alagoas. Falo em nome do Senador Renan Calheiros que vai assumir amanhã; S. Exª me credenciou para falar em seu nome também; falo em nome do Governador Divaldo Suruagy, que assumiu o Governo do Estado. Seu trabalho, sua ação - repito - orgulha os políticos. Quero fazer uma provocação para o Senador Pedro Simon: o que ele prega é o que a maioria desta Casa quer que se torne realidade. E essas são também as idéias de V. Exª. Vamos batalhar por isso. Dou-lhe um até breve, porque, como disse o ex-Presidente José Sarney, a política está no sangue; afastamo-nos temporariamente. Tenho certeza de que V. Exª contribuirá com o nosso País, mesmo fora do Senado Federal, na ação política direta e imediata, pois precisamos das suas orientações. Vamos dar prosseguimento ao que V. Exª deixou aqui e vamos querer continuar ouvindo-o e aos outros companheiros que nos deixam a partir de amanhã. Precisamos ouvir, precisamos dialogar. A meu ver, esta é a meta dos que chegam e a dos que prosseguem. Meu caro amigo, Senador Ronan Tito, com minha admiração, com a admiração de Alagoas, com a admiração do Governador de Alagoas, Divaldo Suruagy, e com a admiração de todo País, seja feliz e continue a ajudar-nos e a ajudar o Brasil.

O SR. RONAN TITO - Nobre Senador Guilherme Palmeira, eu aprendi a admirar os homens de Alagoas, não só por intermédio dos escritores, dos generais, mas também por meio dos políticos.

Tive a honra de ter sido Colega, como Deputado Federal, de Renan Calheiros, que vem agora como Senador, e que vai enriquecer esta Casa. Ainda à época da ditadura, do AI-5, fazíamos reunião à noite, para escaparmos da vigilância.

Divaldo Suruagy, aquele encanto de pessoa, aquele Líder extraordinário, e Guilherme Palmeira - que trio, que coisa extraordinária! Alagoas merece! Aquilo ali é muito bonito, aquele povo é muito querido.

O Sr. Onofre Quinan - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. RONAN TITO - Ouço com prazer o Senador Onofre Quinan.

O Sr. Onofre Quinan - Meu caro Senador Ronan Tito, quando cheguei ao Senado, encontrei V. Exª como Líder do PMDB. Eu já o conhecia, mas não tinha essa convivência, essa feliz convivência desses quatro anos. O seu trabalho dignificou o Senado, dignificou a classe política; a sua sinceridade, a sua honestidade com os companheiros, com os propósitos de princípio, sem dúvida alguma, enalteceram a classe política. Quero, em nome do povo de Goiás, em nome dos meus Colegas de Senado que não estão aqui - tenho a certeza de que se aqui estivessem também estariam aparteando V. Exª -, desejar ao companheiro que continue com o mesmo dinamismo, o mesmo êxito, a mesma lealdade que teve aqui com os companheiros do Senado, com a classe política. Faço votos que V. Exª continue brilhando, porque os seus princípios demonstrados nesta Casa, sem dúvida alguma, dignificam e credenciam V. Exª a ocupar qualquer função tanto na iniciativa privada quanto na atividade pública. O meu abraço e muito obrigado.

O SR. RONAN TITO - Muito obrigado a V. Exª.

Srs. Senadores, o interesse inicial do meu discurso não era de despedir-me, mas de agradecer e de pedir que seja perdoado pelas inconveniências cometidas.

O Sr. Gilberto Miranda - Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. RONAN TITO - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Gilberto Miranda - Nobre Senador Ronan Tito, considero-o meu amigo, irmão, companheiro de horas difíceis. Com V. Exª aprendi - e muito - a andar nesta Casa. O coleguismo, o companheirismo e a forma querida, séria e honesta como olha as coisas públicas transformam-no em um exemplo de Parlamentar. Se constantemente fosse desenvolvido um trabalho com a seriedade, a garra, a força, a maneira de V. Exª tratar as questões deste País, sem dúvida nenhuma, teríamos um Brasil um pouco melhor, mais justo, talvez com uma vida parlamentar mais séria. Esse foi o primeiro e último aparte de despedida que faço, porque não gosto dessas coisas; mas não faço um aparte de despedida, porque V. Exª continua como meu companheiro e como Presidente da Fundação Pedroso Horta, à qual V. Exª conseguiu dar vida - pois estava abandonada -, melhorando, efetivamente, aquilo que era excepcional no PMDB. V. Exª não deixa esta Casa. Quem trabalhou, quem fez o que fez por esta Casa, pelo País, quem deixou todas as empresas, quem deixou a família durante praticamente 16 anos, como V. Exª, e a família soube compreender, dificilmente, como disseram todos que aqui usaram da palavra, deixa a vida política. Como ressaltou o Presidente José Sarney, para esses só há uma porta de entrada; porta de saída, jamais. Meu amigo, meu irmão, continue com a gente. Parabéns!

O SR. RONAN TITO - Senador Gilberto Miranda, V. Exª me honrou uma vez, ao solicitar-me que prefaciasse seu livro. Eu o fiz carregado de orgulho, e usei uma frase da qual não pretendo me esquecer: "V. Exª, como iniciante, já chegou dando aulas de mestre". Assim fez na Comissão de Orçamento. Nunca esta Casa procedeu da maneira como o fez quando V. Exª foi o relator daquela Comissão. Não só ela foi transparente, mas também justa e democrática. V. Exª convocou os governadores, os prefeitos das capitais e discutiu com eles. Às vezes, há uma certa mágoa quando, em um momento desses, vê-se um sujeito detentor de um conhecimento tão extraordinário, depois de um trabalho coletivo que mobilizou o Brasil inteiro, dizer: "Vou cortar isso, vou cortar aquilo". É uma tristeza. Fica, contudo, nobre Senador, o exemplo de V. Exª, que emagreceu mais de nove quilos quando da elaboração do Orçamento desta Nação, em um trabalho de dedicação, de abertura, de transparência e de democracia.

Para finalizar, nobres Senadores, eu gostaria de deixar aqui uma reflexão. Trinta e quatro Srs. Senadores terminaram seus mandatos este ano; doze não se candidataram a nenhum cargo. Isso é alguma coisa que nos provoca. O Senador José Richa, com a experiência e a competência que tem, chegar ao desencanto de decidir que não se candidatará mais, é algo que deve ser questionado. Cito também o Senador Dirceu Carneiro. Não me lembro de todos, mas 40% dos Senadores que tinham possibilidade de se eleger ou pleitear qualquer mandato não o fizeram.

Sr. Presidente, agradeço a todos novamente, pela última vez. Não é um adeus, é um até sempre. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 01/02/1995 - Página 1819