Discurso no Senado Federal

CONJUNTURA NACIONAL. OPINIÃO PUBLICA SOBRE O CONGRESSO NACIONAL. TRANSFORMAÇÕES PELAS QUAIS DEVE PASSAR, OBRIGATORIAMENTE, O CONGRESSO NACIONAL. CONVITE A TODOS OS SRS. SENADORES PARA COMPARECEREM A ENTREVISTA COLETIVA A SER CONCEDIDA POR S.EXA., MARCADA PARA HOJE AS 15 HORAS E 30 MINUTOS, OBJETIVANDO EXPOR AS SUAS IDEIAS E PROPOSTAS PARA O SENADO FEDERAL E CONGRESSO NACIONAL, ESCLARECIMENTOS QUANTO A DISPUTA INTERNA NO PMDB E AO QUADRO POLITICO NACIONAL.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CONGRESSO NACIONAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPREITEIRO. LEGISLATIVO.:
  • CONJUNTURA NACIONAL. OPINIÃO PUBLICA SOBRE O CONGRESSO NACIONAL. TRANSFORMAÇÕES PELAS QUAIS DEVE PASSAR, OBRIGATORIAMENTE, O CONGRESSO NACIONAL. CONVITE A TODOS OS SRS. SENADORES PARA COMPARECEREM A ENTREVISTA COLETIVA A SER CONCEDIDA POR S.EXA., MARCADA PARA HOJE AS 15 HORAS E 30 MINUTOS, OBJETIVANDO EXPOR AS SUAS IDEIAS E PROPOSTAS PARA O SENADO FEDERAL E CONGRESSO NACIONAL, ESCLARECIMENTOS QUANTO A DISPUTA INTERNA NO PMDB E AO QUADRO POLITICO NACIONAL.
Aparteantes
João Calmon.
Publicação
Publicação no DCN2 de 28/01/1995 - Página 1390
Assunto
Outros > CONGRESSO NACIONAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPREITEIRO. LEGISLATIVO.
Indexação
  • COMENTARIO, NECESSIDADE, DEBATE, PAIS, TRANSFORMAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.
  • DECLARAÇÃO, VOTO, CONFIANÇA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, COBRANÇA, PROMESSA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, INJUSTIÇA, CRITICA, OPINIÃO PUBLICA, CONGRESSO NACIONAL.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, LEGISLATURA, CONGRESSO NACIONAL, REALIZAÇÃO, IMPEACHMENT, FERNANDO COLLOR DE MELLO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), ORÇAMENTO.
  • CRITICA, INEXISTENCIA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPREITEIRO.
  • SOLICITAÇÃO, ITAMAR FRANCO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, NOMEAÇÃO, COMISSÃO, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, EMPREITEIRO.
  • CRITICA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXTINÇÃO, COMISSÃO, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, EMPREITEIRO.
  • CRITICA, CONGRESSO NACIONAL, AUMENTO, SUBSIDIO, DEPUTADOS, SENADOR.
  • CRITICA, OCORRENCIA, IRREGULARIDADE, GRAFICA, SENADO.
  • CONVITE, SENADOR, PARTICIPAÇÃO, ENTREVISTA, EXPOSIÇÃO, PENSAMENTO.
  • ELOGIO, CONVITE, JOÃO CALMON, SENADOR, PARTICIPAÇÃO, CONSELHO NACIONAL DE ECONOMIA (CNE).
  • DEFESA, QUEBRA, SIGILO BANCARIO, DEPUTADOS, SENADOR, PREFEITO, GOVERNADOR, MINISTRO, SECRETARIO.
  • DEFESA, INEXISTENCIA, IMUNIDADE PARLAMENTAR, CRIME COMUM.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, atendendo a sugestões dos Senadores Josaphat Marinho, Eduardo Suplicy e do Comitê de Imprensa do Senado, fui para a tribuna e defendi a tese de que estavam corretos.

Vamos ter, na próxima semana, a eleição do novo Presidente do Senado Federal. Achava que debater, discutir, apresentar as propostas era algo muito importante. Por isso, quando o Senador Josaphat Marinho me aparteou num pronunciamento, dizendo que estava ouvindo minhas manifestações e que esperava oportunamente ouvir as manifestações e os propósitos dos outros candidatos, para que a Casa, conhecendo o pensamento de todos os candidatos, pudesse, então, decidir - Não foi isso, Senador? O Senador Josaphat Marinho, que fica aqui, para alegria minha, e assiste ao meu pronunciamento, está confirmando com um gesto que foi essa a sua manifestação -, eu disse a S. Exª que tinha toda razão.

Estamos vivendo um momento novo. O Senador Josaphat é mais ou menos da minha geração - não é como o jovem Senador Esperidião Amin, ainda com os seus sonhos -, e sabe que a tradição no Senado e na Câmara, em relação à composição da Mesa, era de se tentar um entendimento: desta vez é fulano, ou é beltrano. Mas nós estamos vivendo uma hora diferente.

O Senador Josaphat Marinho, quando esteve aqui no seu mandato anterior, talvez não fizesse, naquele momento, uma afirmativa dessa, porque a hora era outra. A história faz com que estejamos vivendo uma hora diferente. E é o que tenho dito. A hora que estamos vivendo não é a hora de se fazer um entendimento em torno de se ter maioria de um ou de dois. Estou sendo criticado pela imprensa por não falar com o Senador Nabor Junior, ou com o Senador fulano de tal, no sentido da busca do voto. É que eu acho que a hora que estamos vivendo é a de um debate com a Nação. A Nação inteira está acompanhando o Congresso Nacional. Vivemos transformações profundas e muito sérias. Essas transformações foram vividas e nós estamos agora num momento crucial. Por isso, tenho afirmado que Fernando Henrique Cardoso está na Presidência da República com a maior responsabilidade que alguém que esteve à frente dos destinos desta Nação já teve.

O meu respeito e o meu voto de confiança no Senhor Presidente Fernando Henrique Cardoso não é incondicional. Dou o meu voto de confiança, confio - votei nele -, mas pretendo cobrar. Espero que Sua Excelência cumpra o que prometeu e o que nós esperamos dele.

Na verdade, ninguém chegou à Presidência da República com vantagens, com condições, com características, com perspectivas tão positivas quanto o Presidente Fernando Henrique Cardoso. Sua Excelência disse que vai mudar. Eu acredito que vai, e o Brasil inteiro olha, torcendo para que isso aconteça.

O Brasil também olha para o Congresso Nacional, mas não com o mesmo otimismo com que olha para Fernando Henrique Cardoso. Tenho andado e tenho sentido um lastimar e uma mobilização de mágoa e de ressentimento com relação ao Congresso Nacional. Injusta, na minha opinião.

Tenho dito que esta Legislatura deveria sair daqui sob os aplausos da Nação. Este Congresso tomou, nesses quatro anos, duas grandes decisões inéditas neste País: este Congresso teve coragem de, auscultando o povo, fazer o impeachment de um Presidente, por corrupção; e este Congresso teve a coragem de debater e criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito que cortou a sua carne, que foi a CPI do Orçamento.

Não sei se algumas das restrições que alguns têm com relação a mim se devem, coincidentemente, ao fato de eu ter estado à frente dos dois movimentos. Fui o primeiro a, daquela tribuna, falar em PC e sobre a questão de que tínhamos que levantar. Muita gente, na Câmara e no Senado - até o Dr. Ulysses Guimarães -, dizia que o Congresso não podia se transformar numa delegacia de polícia. É que achavam e tinham medo que aquela CPI se transformasse, como aconteceu com relação a Getúlio e com relação a Jango, num movimento para depor um Presidente. Em determinado momento, até eu me assustei. Será que estávamos fazendo papel de bobos? Mas, na verdade, nunca passou pela nossa cabeça, quando criamos a CPI para analisar as acusações ao Sr. PC Farias, que o Sr. Collor estivesse envolvido, como estava. Queríamos era apurar as denúncias de corrupção, de envolvimento em torno de esquema de governo; depois é que se viu que o Presidente estava envolvido.

Eu lutei para que a CPI fosse instalada. Quando era apenas o Senador Eduardo Suplicy a lutar por ela, a CPI não saiu. Saiu quando eu assumi o controle, coordenei, ajudei. Não aceitei ser Presidente, nem Relator, porque foi no meu gabinete que se debateu, que se discutiu, e onde nós, diariamente, nos reunimos para levar aquela questão adiante. E começou quando o Senador Esperidião Amin e eu conversamos, e S. Exª concordou em dar uma vaga para o Senador José Paulo Bisol. E o voto do Senador Bisol foi o de minerva, pois foi com o voto de S.Exª que conseguimos eleger o Presidente, eleger o Relator, e as coisas seguiram seu caminho.

Na CPI do Orçamento, foi a mesma coisa. Entrei, debati, coloquei a minha assinatura, ao lado da do Senador Eduardo Suplicy, no documento que criou a Comissão. Muita gente nem queria, outros queriam praticamente arquivar, esconder: "O que é isso?" "Isso é para ser mandado para a Promotoria!" Foi um belo trabalho! Foi um grande trabalho! Foi um excepcional trabalho!

Lamentavelmente, não saiu a terceira CPI, aquela que também defendi, a das empreiteiras. Como ela não saiu, fiz uma carta ao Presidente Itamar Franco, que, atendendo à minha solicitação, nomeou uma comissão, composta por membros do Governo e da sociedade, tendo o Ministro da Administração como presidente. Essa comissão fez um levantamento duro, firme, da corrupção no Governo, e o entregou ao Presidente Fernando Henrique Cardoso. Não entendo o motivo pelo qual o meu amigo Fernando Henrique Cardoso extinguiu aquela comissão, sob a alegação de que esse trabalho será feito não sei por que setor. Lamento que o Senhor Fernando Henrique não tenha falado comigo ou com o Presidente Itamar para extinguir aquele organismo. Penso que essa deveria ser uma comissão permanente no seu Governo, para, além de fazer o levantamento da situação, também investigar. O Senhor Fernando Henrique, ao assumir o governo, tinha que dar continuidade - não é continuísmo, mas é continuidade - a esse trabalho. Ao invés de ter que fazer o levantamento das coisas que aconteceram, o Presidente Itamar Franco lhe entregou, em mãos, o dossiê com estudos feitos pelo seu Governo.

Penso que esse trabalho valeu. Acho que esta Legislatura deveria terminar com louros de vitória, e, no entanto, saímos sob críticas duras da Nação. Erros nossos, muitas vezes; injustiças cruéis, outras vezes. Erros nossos como, por exemplo, quando aumentamos nossos subsídios. Eu disse que, em vez de 15 salários, fossem 12. Doze vezes não sei quanto. Agora, em vez de 12, criarmos 15 salários. Foi isso que nos deu a antipatia, a repulsa da sociedade. E eu disse que isso aconteceria.

Os Congressistas têm fama de que ganham muito, o que não é verdade. Agora, nós, além da fama de ganharmos muito, vamos ficar com a fama de que foi neste Legislatura que se inventou os 15 salários. Foi uma decisão, antes de mais nada, burra, e estamos pagando o preço.

O negócio da Gráfica do Senado também foi por aí. Na lei que foi aprovada, dissemos que era ilícito aquilo que, ao longo dos últimos 30 anos, muita gente tem feito. Eu nunca fiz, mas muita gente fez.

Na verdade, este Congresso tinha que sair com o respeito da Nação, mas isso não está acontecendo. Nós, o Poder Legislativo, estivemos à frente da luta pela anistia, da luta contra o regime militar, da luta pela democracia, da luta pela liberdade, da luta contra a tortura, da luta pela reimplantação das eleições diretas e pela convocação da Constituinte. E eu, modéstia à parte, lutando na oposição. Era guri ainda, Deputado Estadual, quando cassaram todos os que estavam à minha frente e fui feito Presidente do Partido. Dediquei a minha vida a essa luta. Dos vinte e poucos anos até hoje, essa foi a minha luta, esse foi o meu trabalho, essa foi a minha dedicação, e considero cumprida essa etapa.

Concordo com o Senhor Fernando Henrique Cardoso quando disse, daquela tribuna, que considerava encerrado o ciclo da transição. Acho que Sua Excelência também tem razão quando diz que, na Presidência da República, vai colocar em execução as suas idéias, as transformações. Mas, pergunto: E o Congresso Nacional? O Congresso Nacional tem que mudar, porque agora chegou o momento. Seria ridículo querer que, na época nas administrações dos Senadores Humberto Lucena e Mauro Benevides, no momento passado, se pensasse naquilo que se tem que pensar agora: as transformações necessárias ao Congresso Nacional. É este o debate que estou levantando.

Quando o Comitê de Imprensa, vários jornais e rádios decidiram fazer o convite para um debate, a intenção era expor as idéias, e, em cima das idéias, fazer a votação. O pessoal da Folha de S.Paulo ficou muito magoado comigo, porque não aceitei participar de um debate organizado por aquele jornal. Mas, uma vez que o Senador José Sarney não participaria, disse a eles que também não poderia participar. Aceitei um convite do Comitê de Imprensa e fui à tribuna do Senado dizer que, a pedido dos Senadores Josaphat Marinho e Eduardo Suplicy, deveríamos fazer esse debate. Não poderia, portanto, ir à Folha de S. Paulo e participar de um debate, sabendo que o Senador José Sarney não estaria presente. S. Exª teria argumentos para dizer: "Não compareci porque, antes do prazo, o Senador Pedro Simon participou de uma debate na Folha em que eu não estava presente".

Fui à tribuna e fiz todos os apelos: fiz um apelo para virmos a uma sessão - como propôs o Senador Josaphat Marinho -, expor, cada um de nós, os nossos planos; fiz um apelo no sentido de aceitarmos a proposta do Senador Eduardo Suplicy para que nós três viéssemos para um debate; fiz um apelo para que aceitássemos a proposta do Comitê de Imprensa do Senado para que fizéssemos um debate entre os três, com a imprensa presente; fiz um apelo no sentido de que a Bancada do PMDB, que vai ouvir os candidatos, convidasse os 81 Senadores para assistirem à reunião, já que todos não podem votar; fiz um apelo no sentido de que outros Senadores tivessem acesso à minha exposição.

O Senador Mauro Benevides convocou uma reunião, a qual S. Exª gostaria que fosse marcada para as 11h30min. - conheço o PMDB, quando marcamos uma sessão para as 11h30min. é porque desejamos que termine logo, uma vez que 13h. já é hora do almoço -, dando, segundo li nos jornais, um tempo de vinte minutos para cada candidato.

Parece-me que as cartas estão marcadas. Estranho porque o Senador Mauro Benevides, embora um ilustre e brilhante Parlamentar, deveria deixar essas questões. Mas é justamente S. Exª quem está coordenando. Simpatizante que é da candidatura do Senador José Sarney - o que é absolutamente normal -, marcou uma reunião para terça-feira, às 11h30min., considerando-se que à tarde teremos ilustres Senadores que se despedirão, e teremos de estar aqui. Não deixaria de comparecer à despedida de ilustres e importantes amigos Senadores.

Vejo que o Partido não aceitou a minha proposta. Fiz até uma outra, considerando ser essa uma situação muito delicada, pois os que irão decidir o futuro do Congresso Nacional são não mais do que cinco Senadores. Alguns já estão votando no Senador José Sarney, que está fazendo sua campanha há longo tempo; outros estão votando no Senador Íris Rezende; e outros, em mim. Então, são três ou quatro os que darão a palavra final. Propus que os três debatessem no plenário do Senado. Disseram-me que eu estava louco, pois o Senador José Sarney tem todo o PFL, é um ex-Presidente da República e ganhará fácil. Não tem importância. Não me preocupo em ganhar ou perder, apenas em que tenhamos uma resposta concreta. O PMDB está indicando três candidatos. Não haverá interferência dos outros sobre nós. Mas a decisão entre os três será feita por 81 Senadores, em vez de apenas quatro. Também não aceitaram essa minha proposta.

Sr. Presidente, comunico que hoje à tarde, às 15h30min., irei a uma comissão, aqui no Senado, dar uma entrevista coletiva ao Comitê de Imprensa do Senado e a outros órgãos da imprensa convidados. Também convido todos os Senadores, de todos os Partidos, os que estão aqui - que são poucos - e os que não estão - estou enviando um convite aos seus gabinetes nesse teor. Farei uma exposição do que penso e defendo, daquilo que a minha longa vida parlamentar me diz, e que tenho a obrigação de expor, ganhando ou perdendo. É quase certo que perderei, pois hoje sou quase uma pessoa estranha - quem diria - dentro do PMDB, Partido que criei, construí, defendi e pelo qual lutei, junto com as suas grandes Lideranças, como Teotônio Vilela, com quem percorri o Brasil inteiro na luta pela anistia.

Nunca me esqueço da sessão histórica do Congresso Nacional, onde o Presidente da ARENA, Senador José Sarney, foi para a tribuna defender o projeto de lei do General que extinguia os Partidos. Fui para a tribuna defender a manutenção do MDB, dizendo que nunca tinha visto isto na vida. Muitas vezes, vi extinguirem-se partidos por ato de força, por ato de violência, por ato de arbítrio, mas nunca tinha visto, no Congresso Nacional, um Presidente de Partido ir para a tribuna pedir a extinção do seu próprio Partido! E eu protestava em nome do MDB, dizendo o que iria acontecer: "Não adianta extinguir a ARENA, o maior Partido do Ocidente - hoje não é mais, porque perdeu a credibilidade - e o MDB, que era um Partido de Oposição consentida - hoje ele conseguiu vencer isso e é um Partido com respeitabilidade nacional. Eles iriam construir outro" - o tal do PDS, sobre o qual debateram longamente por causa do nome. Disse que não iria adiantar a mudança apenas da fórmula exterior, se não se modificasse o conteúdo. Afirmei ainda: "Esse Partido que vocês vão criar, querendo se perpetuar, vai durar menos tempo do que durou o anterior!" E observem a ironia do destino: o próprio Senador José Sarney saiu desse Partido para uma dissidência, que fez com que se mantivesse no poder ao lado do PMDB e terminasse Presidente da República.

Sr. Presidente, sinto-me em situação difícil, mas permaneço com as mesmas idéias. Sou uma pessoa que vem de longe, mantendo a tradição de ser sempre o mesmo. Alguns afirmam que o Senhor Fernando Henrique Cardoso teria dito que eu até seria um bom Presidente, mas que eu não gostava de trabalhar em conjunto, em equipe. Isso não corresponde à verdade, pois a minha vida inteira só trabalhei em conjunto. Nunca tive uma vida pessoal, no sentido do interesse pessoal, individual. Poderia, por exemplo, ter sido Governador do Rio Grande do Sul, em 1982, era só ter ficado com o Brizola. No entanto, rompi com Brizola, pois ele não quis ficar no PMDB. Nunca vou me esquecer da ocasião em que a lei que extinguia os Partidos, defendida pelo Senador José Sarney, foi vitoriosa: era uma sexta-feira, como hoje, e às 17h foi promulgada a lei. Encerrava-se em dezembro a Sessão Legislativa e nós iríamos embora e só voltaríamos em março. Brizola tinha andado por aqui e tinha feito um estrago enorme em termos de obter a adesão de pessoas para o então PTB. Não sabíamos o que fazer. O Dr. Ulysses estava na sede do Partido, sentado com a cabeça baixa, e não sabia também o que fazer. Também estávamos Teotônio Vilela e eu, que nunca me perdoou, porque ele queria que fosse ele a lançar, e eu fui ao gabinete e trouxe o Dr. Ulysses. E, numa sexta-feira, às 17horas, reunimos a imprensa e fizemos um chamamento, um apelo aos companheiros do MDB - pois, embora extinto o partido, permaneciam as suas idéias -, no sentido de que não assumissem compromisso partidário com outro grupo antes da reunião que pretendíamos fazer no mês de janeiro, pois nós teríamos um compromisso - e não tínhamos o que dizer - com o sucedâneo - foi este o termo que usamos - que encontraríamos para prosseguir com as mesmas idéias e com as mesmas bandeiras. Em janeiro, estávamos aqui. E nascia o PMDB, com as mesmas idéias, com as mesmas bandeiras.

Sempre fui fiel a isso. Quando cheguei aqui, Senador, o MDB se dividia entre autênticos e moderados, e havia uma disputa cruel e violenta em torno dessa divisão. Ambos vieram me procurar. Três dias após aqui chegar, tornei-me Secretário-Geral. E, na Secretaria-Geral do Partido, praticamente montei a sua estrutura: criou-se a Fundação Pedroso Horta, ocupamos espaços no rádio e na televisão, criamos a coleção Alberto Pasqualini, e tudo começou a funcionar. Dois anos depois, eu era 1º Vice-Presidente e, ao lado do Dr. Ulysses, permaneci no Partido permanentemente. Não aceitei ser Vice-Presidente de Orestes Quércia. Ele veio ao meu gabinete, convidando-me para ser seu Vice. Disse-lhe que seria uma injustiça tirar o Dr. Ulysses da Presidência, pois seria o momento de ele ser o Presidente do Partido. "Antes, ele era Presidente e apenas sonhava com a Presidência da República. Naquele momento, era Presidente e sabia que não tinha mais o sonho da Presidência da República. Naquela hora podíamos aproveitarmos a experiência dele nesse sentido".

Sr. Presidente, por isso, sou um homem de idéias. Sou um homem firme, resoluto, tomo as minhas posições na hora em que devem ser tomadas. Não tenho vaidades. Nunca pertenci à Mesa da Assembléia Legislativa, onde fui Deputado por dezesseis anos. E o MDB esteve dez anos na Presidência. Nunca ocupei qualquer cargo, aqui, no Senado da República. Se perguntarem ao Senador Mauro Benevides, S. Exª dirá que havia um movimento para me eleger Presidente quando cheguei a esta Casa, neste mandato. Se perguntarem ao Senador Humberto Lucena, S. Exª vai dizer o seguinte: O candidato era o Senador Pedro Simon, havia um movimento para que S. Exª fosse eleito. Nunca aceitei, como não aceitei ser Presidente da CPI do impeachment, como não aceitei ser Presidente da CPI da Comissão de Orçamento. Não aceitei ser Ministro do ex-Presidente Itamar Franco, bem como ser presidente da Comissão de Orçamento, e, também, ser Ministro do Presidente Itamar. Não tenho pretensões. Aceitei ser Líder do Governo itamar, mas por imposição. Renunciei várias vezes e S.Exª não aceitou minha renúncia, porque era um momento difícil e acreditava que eu podia ajudar, pela amizade, pela compreensão e respeito recíprocos. Acreditei que podia ajudar e a minha consciência diz que eu o ajudei.

Penso que estou numa posição muito difícil, dentro do contexto interno, vendo as composições serem realizadas dessa forma. O Senador Mauro Benevides, por exemplo, tem direito a ocupar um cargo importante na vida pública.

Sou daqueles que acham que as pessoas que ocuparam posições de destaque, com competência, devem ser aproveitadas.

Fui informado de que o Senador João Calmon será convidado para fazer parte do Conselho Nacional de Educação. Quando o Ministro Paulo Renato tomou conhecimento, viu com alegria essa proposta. Um homem com a competência, com a garra, com a experiência, com os anos de luta do Senador João Calmon não poderia deixar de atuar numa outra trincheira tão importante quanto essa do Conselho Nacional de Educação.

Quanto a mim, Sr. Presidente, eu querer ser candidato a presidente, prometer para o João Calmon, para o fulano, para o líder ou para quem quer que seja qualquer missão, foge ao meu estilo.

Pode existir alguém que esteja magoado quanto à minha atuação. Quando Líder do Governo Itamar, fiz questão de dizer que a questão das nomeações, com o PFL, era com Elcio Alvares, com o PMDB, era com o Mauro Benevides. Eu fiquei de fora. Há pessoas que pensam: "Mas ele era Líder do Governo, podia conseguir isso e tal". Mas também não consegui nada para mim. Também não busquei nada no Governo Itamar Franco, nenhum benefício pessoal.

Outro dia, apareceu no jornal que a Dona Tânia Lira, do Ministério da Agricultura, estava lá por indicação do Pedro Simon. Ela e eu escrevemos cartas afirmando que era mentira, que eu não havia indicado a Srª Tânia Lira, como não fiz nenhuma indicação no Governo Itamar Franco, não fiz nenhum pedido.

Fui Líder do Governo, não tive gabinete de líder, nem aceitei gabinete de líder. Recentemente, os jornalistas foram me procurar em meu gabinete e perguntaram: "O senhor deixou de ser Líder e continua no gabinete". Eu respondi: "Mas este é meu gabinete, vocês não querem me tirar do gabinete que é meu".

Não nomeei nenhum funcionário no gabinete da Liderança, tanto que não precisei demitir ninguém. Não requisitei nenhum funcionário, nem do Poder Executivo, nem do Poder Legislativo, a mais do que aquilo a que tenho direito.

É o meu estilo.

Apresentei um projeto de lei defendendo a tese de que não devemos ter sigilo bancário. Há pessoas que não gostam. O que vou fazer? Eu defendo isso. Parlamentar, Deputado, Senador, Vereador, Prefeito, Governador, Ministro, Secretário não devem ter sigilo bancário. Defendo a tese de que a imunidade parlamentar é sagrada, mas não pode atingir crimes comuns. O Senado e a Câmara não podem engavetar pedidos que envolvem questões graves e que não têm nada a ver com a vida parlamentar. Eu sou assim, Sr. Presidente. Não vou alterar, não vou mudar, não vou pensar diferente.

Eu gostaria de ser Presidente do Senado para mudá-lo. Mas eu, Pedro Simon, não vou mudar para ser Presidente do Senado. Como, lamentavelmente, Sr. Presidente, não consegui, com o Senador Mauro Benevides e com os outros candidatos, a oportunidade de fazer aquilo que, considero, um debate amplo, elegante, aberto, em que eu seria o grande prejudicado, porque o Senador Sarney, com a sua competência, cultura e experiência... Aliás, seria um fato inédito, porque, pela primeira vez, se S. Exª ganhar, irá para o livro dos recordes como o primeiro ex-Presidente da República a ser presidente de um outro Poder. Não conheço outro caso no Brasil. O Presidente Getúlio Vargas foi Senador como Juscelino Kubitschek e José Sarney. O Senador José Sarney foi candidato à Presidência da República até o último momento na Convenção do PMDB ou outro partido. E não conseguiu. As pesquisas mostravam que S. Exª era o único que poderia derrotar o Lula e, infelizmente, o PMDB não se preocupou com isso e o Senador não saiu candidato.

Creio que o Presidente José Sarney tem todas as condições, neste PMDB que aí está, de ser candidato na próxima eleição. A tribuna da Presidência do Congresso é para uma pessoa que tem uma outra perspectiva: mudar o Congresso e não acrescentar algo à sua imagem. Se é que, para um homem com a biografia do Senador José Sarney à Presidência do Senado pode aumentá-la. Quanto à candidatura de Íris Rezende - por quem tenho o maior apreço - é algo inédito, já que pela primeira vez um homem brilhante, extraordinário, Ministro, duas vezes Governador, Prefeito de Goiânia; mas que nunca foi Deputado Federal nem Senador chega aqui e, no dia seguinte, é Presidente do Senado.

Então, quando essas três candidaturas estão em disputa e a de Pedro Simon é a mais frágil, é que Pedro Simon tem erros, defeitos tão graves que não é aceito dentro da sua Bancada, porque tem restrições ao seu estilo, à sua maneira de ser.

Como não consegui realizar esse debate e pelo que disse o Sr. Mauro Benevides, pelo jornal, que serão 20 minutos para cada um, quer dizer, às 11h30min. e o almoço às 13horas e com os ilustres Senadores se despedindo durante a tarde, faço esse convite.

Por esse motivo, convido a Imprensa, o Comitê de Imprensa, para uma coletiva às 15horas e 30minutos, de hoje, onde estarei expondo as minhas idéias e convidando os meus colegas, Senadores, dizendo que eu ficarei muito honrado com a presença de todos os Partidos.

O Sr. João Calmon - Permite V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Pois não. Ouço, com o maior prazer, o aparte de V. Exª.

O Sr. João Calmon - Nobre Senador Pedro Simon, permita-me, inicialmente, saudar o meu nobre conterrâneo, glória da educação do Espírito Santo, Professor Joaquim Beato, que preside os nossos trabalhos nesta manhã.

O SR. PEDRO SIMON - É uma emoção para mim, nobre Senador, já que era do meu Partido, quando eu assumi, retirou-se. Tenho muita honra de tê-lo na Presidência.

O Sr. João Calmon - Mas, nobre Senador, apenas para um rápido aparte, V. Exª, com a sua magnífica oração, citou duas importantes Comissões Parlamentares de Inquérito no decorrer desta Legislatura que está findando: a do Presidente Collor e a do Orçamento. Faço a V. Exª, nobre Senador Pedro Simon, um apelo que sai do fundo do meu coração, para que, também, inclua entre as CPIs importantes que, sem dúvida, o que representa um enorme crédito para a nossa Casa, a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a evasão fiscal. Não por ser uma iniciativa do atual Presidente da República, que não precisaria dessa homenagem adicional, mas porque nela se contém e se insere a chave da solução dos problemas mais graves do Brasil. Resolvido o problema da sonegação, poderemos diminuir até a carga tributária. Faço-lhe este apelo com um tom um pouco dramático porque, realmente, sem mudarmos o sistema de arrecadação, que há de incluir necessariamente prisão para os sonegadores, como ocorre nos países mais desenvolvidos, chegaremos ao fim deste século, entraremos no próximo e o Brasil continuará a apresentar este quadro de profunda e vergonhosa injustiça social. Perdoe-me.

O SR. PEDRO SIMON - Eu estou plenamente de acordo com V. Exª. Só acho que hoje houve uma diferença de enfoque. Disse que o Congresso Nacional está saindo desgastado, no seu final de mandato, embora a opinião pública tivesse batido palmas, e nós tivéssemos tido a cobertura total de carinho da opinião pública por ocasião da CPI do Impeachment e da CPI do Orçamento. Não incluo a CPI que V. Exª está se referindo, porque, lamentavelmente, a esmagadora maioria do povo brasileiro não sabe dela, porque a imprensa não deu o devido destaque. Então, se V. Exª se referir, a quem quer que seja da opinião pública e da sociedade, à CPI do Impeachment todo mundo sabe que houve uma CPI que afastou Collor; se V. Exª se referir à CPI do Orçamento para a opinião pública todos sabem que houve uma CPI que afastou alguns Parlamentares.

Mas se V. Exª se referir à CPI da Evasão Fiscal, que é tão importante quanto as outras ou até mais, a esmagadora maioria do povo não sabe, porque a ela não foi dada a devida importância.

V. Exª mesmo contou, estou repetindo apenas o que V. Exª disse: quantas reuniões V. Exª fez, da maior importância, a que nem nós, Senadores, comparecemos, e dos quais, no outro dia, não saía uma linha nos jornais. Revelações as mais graves, as mais significativas, ficavam entre quatro paredes. Somente V. Exª, o Senador Ronan Tito e mais dois Senadores delas tomavam conhecimento.

Dentre as importantes iniciativas deste Congresso, eu coloco a Comissão que investigou a sonegação no País. Entretanto, ela não teve a cobertura que merecia.

E vou além: uma das questões que temos que debater neste Congresso é o relacionamento nosso com a imprensa. Não pode sair no jornal só o que a imprensa quer, e não podemos ser guiados pelo que a imprensa produz.

Na questão do impeachment, na questão da CPI do Orçamento, a imprensa exerceu um papel importantíssimo. Mas muitas vezes, como no caso da CPI da Evasão Fiscal, a imprensa foi omissa, não participou. E V. Exª disse bem, eu me lembro: "Como não estão as câmeras, os fotógrafos, como não vai sair nada no jornal, os senadores também não estão lá." V. Exª tinha razão. Claro que a imprensa é importante, é fundamental, mas, se por qualquer razão, a imprensa não publica uma matéria discutida pelo Congresso, nós temos a obrigação de publicar, nem que seja na forma de matéria paga.

Sr. Presidente, falo com muita tranqüilidade, com muita serenidade e com muita humildade - quem me conhece sabe: É a primeira vez na minha vida que estou disputando a um cargo. Já o fiz em outras áreas, mas nunca internamente, dentro do Partido.

Muitas vezes deixei de ser candidato, como agora, quando havia uma imposição para que eu fosse novamente candidato ao Governo do Rio Grande do Sul. Não aceitei. Se eu fosse candidato, não haveria nem disputa interna. O que perdeu a convenção terminou saindo do PMDB e votando no candidato do PT - o Sr. Mendes Ribeiro votou no candidato do PT ao invés de votar no nosso candidato. Os dois me apoiavam, mas eu não fui candidato, porque achei que a oportunidade deveria ser dada a outro. Temos que permitir a renovação, temos que dar oportunidade a gente nova. Quando o Presidente Itamar Franco insistia em que fosse Ministro, eu disse: já fui ministro, já passei por isto, temos que abrir oportunidade. Nunca disputei cargo da Mesa. Fui, durante 20 anos, presidente do Partido. É verdade que era época do regime militar, quando poucos se interessavam pela vida partidária. Mas nunca disputei. Desta vez é simbólico. Sou o anticandidato. Uma anticandidatura tem, às vezes, o seu simbolismo. A anticandidatura do Dr. Ulysses Guimarães trouxe a queda do Colégio Eleitoral. Quem sabe, a anticandidatura do Senador Pedro Simon não fará com que mudemos os métodos e as fórmulas de agir no Congresso Nacional?

Lamentavelmente, a fórmula da eleição do Presidente, não. Essa vai continuar sendo a mesma, com os mesmos acordos, com as mesmas promessas e com as mesmas buscas individuais de A, B ou C.

Eu não sei fazer isso, Sr. Presidente.

Mas, quem sabe, não colheremos os frutos mais tarde?


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 28/01/1995 - Página 1390