Discurso no Senado Federal

LEMBRANDO A TRAGEDIA VIVIDA PELA POPULAÇÃO JAPONESA DURANTE O TERREMOTO DO DIA 17 DO MES PASSADO. SOLIDARIZANDO-SE COM BRASILEIROS ENTERRADOS DO TERREMOTO, E COM TODO O POVO JAPONES.

Autor
Esperidião Amin (PPR - Partido Progressista Reformador/SC)
Nome completo: Esperidião Amin Helou Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA.:
  • LEMBRANDO A TRAGEDIA VIVIDA PELA POPULAÇÃO JAPONESA DURANTE O TERREMOTO DO DIA 17 DO MES PASSADO. SOLIDARIZANDO-SE COM BRASILEIROS ENTERRADOS DO TERREMOTO, E COM TODO O POVO JAPONES.
Publicação
Publicação no DCN2 de 10/03/1995 - Página 2936
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, OCORRENCIA, ABALO SISMICO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, PROVOCAÇÃO, MORTE, POPULAÇÃO.
  • SOLIDARIEDADE, BRASILEIROS, POPULAÇÃO, VITIMA, ABALO SISMICO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO.
  • COMENTARIO, TRABALHO, BRASILEIROS, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, CONTRIBUIÇÃO, REFORÇO, ECONOMIA NACIONAL, MOTIVO, REMESSA, PARTE, SALARIO, INVESTIMENTO, BRASIL.

O SR. ESPERIDIÃO AMIN (PPR-SC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, são ainda recentes, em nossa memória, as imagens da grande tragédia vivida pela população japonesa e, especialmente, pelos moradores da cidade de Kobe, afetada por um terremoto que atingiu 7,2 graus na escala Richter, no dia 17 do mês passado. Os números da tragédia são impressionantes: cerca de 6 mil mortos e 300 mil desabrigados, além de danos equivalentes a 50 bilhões de dólares. Em apenas 20 segundos, o terremoto, desencadeado próximo à superfície e cujo epicentro ficou a apenas 30 quilômetros da cidade de Kobe, derrubou 20 mil prédios, descarrilou trens, provocou incêndios e deixou os moradores sem água, sem luz e sem mantimentos.

O tremor de terra - o maior dos últimos 70 anos, naquele país - aconteceu pouco antes das 6 horas da manhã, quando a maioria dos moradores de Kobe ainda estava em casa. Se ocorresse um pouco mais tarde teria ceifado ainda mais vidas e ferido milhares de outras pessoas. Os depoimentos dos que sobreviveram à catástrofe são dolorosos: prédios, pontes e viadutos ruíam como se fossem caixas de papelão, e muitas vítimas morreram lentamente, sob os escombros, pedindo socorro.

Entre os mortos, Sr. Presidente e Srs. Senadores, estavam oito dos milhares de dekasseguis brasileiros que partiram para o Japão com a intenção de trabalhar duro, formar uma poupança e melhorar de vida. Pessoas que, diante da crise econômica e da falta de perspectivas no Brasil, deixaram aqui seus familiares e foram ganhar a vida como operários, levando na bagagem o sonho de voltar com recursos suficientes para comprar uma casa própria ou abrir seu próprio negócio. 

Diante de tamanha dor, Sr. Presidente, não poderia deixar de registrar minha solidariedade para com os dekasseguis brasileiros que sobreviveram à catástrofe e para com seus familiares; como não poderia, também, deixar de associar-me ao pranto coletivo do povo japonês, ao qual estamos unidos por laços de profundo respeito e de sincera amizade, fortalecidos pela corrente migratória que se estabeleceu entre nossos países.

A cidade de Kobe abriga o porto marítimo de onde zarpou rumo ao Brasil, no dia 27 de abril de 1908, o vapor Kasato Maru, trazendo 168 famílias de imigrantes. Inaugurava-se, ali, um ciclo de imigração que traria ao solo brasileiro, nas décadas seguintes, cerca de 200 mil japoneses, que aqui se estabeleceram e criaram filhos, netos e bisnetos.

O fluxo migratório, que praticamente cessou nas últimas décadas, se restabeleceria mais recentemente no sentido inverso. A partir de 1990, quando foram modificadas as leis de imigração japonesas, milhares de brasileiros, estimulados inicialmente pelo confisco da poupança no Governo Collor, e ao longo dos últimos anos pela crise econômica, deixaram o País. O Japão abriga hoje uma colônia de 170 mil brasileiros que para lá se dirigem em busca de bons salários. O perfil dos dekasseguis brasileiros mostra que 90% completaram o segundo grau e 25% têm curso superior. 74% são homens e 26% são mulheres, e mais da metade tem entre 21 e 30 anos. Levantamento feito pelo Banco do Brasil revela que São Paulo, Paraná e Distrito Federal, nessa ordem, são as unidades federativas que mais exportaram dekasseguis.

Embora longe de suas famílias e do Brasil, Sr. Presidente, os dekasseguis têm contribuído intensamente para o fortalecimento de nossa economia. Trabalhando na construção civil e na indústria automobilística, principalmente, eles quase não se divertem. Trabalham 12 horas por dia e ganham em média 3.500 dólares por mês. Dessa quantia, conseguem economizar entre 2.000 e 2.500 dólares, que enviam para sejam investidos no Brasil. Essa poupança é tão significativa - estima-se em dois bilhões de dólares por ano - que o Sebrae montou um balcão de atendimento na agência do Banco do Brasil em Tóquio, com o intuito de orientar os dekasseguis e canalizar sua poupança, de preferência para atividades produtivas no Brasil.

Ao registrar solidariedade aos dekasseguis brasileiros vitimados pelo terremoto, bem como aos seus familiares, não poderia deixar de estender tal sentimento, como salientei há pouco, a todo o povo japonês. A propósito, se me permitem, lembraria que Brasil e Japão comemoram este ano o centenário de suas relações diplomáticas. As relações entre os dois povos, porém, ultrapassam os limites da diplomacia. Já há algum tempo, as empresas japonesas vêm transferindo suas linhas de produção para outros países, como forma de reduzir os custos e manter a competitividade no cenário internacional. É importante observar que o mercado brasileiro sempre atraiu o empresariado japonês, fato que agora ocorre com maior intensidade, em função da estabilização econômica e também das potencialidades de crescimento do mercado de capitais.

Não há exagero em afirmar que as relações excedem o puro interesse comercial. Lembraria que o Brasil se credenciou e foi contemplado com recursos do Fundo Nakasone para projetos como a despoluição da Baía de Guanabara e do Rio Tietê, além de outros projetos de preservação do ambiente. Brasil e Japão estudam também a celebração de convênios nos setores de tecnologia avançada e pesquisa espacial. Além disso, ciente e atento ao fato de que o Japão tem um importante papel a desempenhar na nova ordem internacional, que começa a se desenhar, ambos os governos têm procurado desempenhar um trabalho conjunto que lhes garanta assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O terremoto que ocorreu em Kobe, Sr. Presidente e Srs. Senadores, é mais uma dessas grandes tragédias que, de tempos em tempos, assolam o Japão. Ao longo dos anos, o povo japonês tem convivido com terremotos, incêndios ou guerras e, a cada nova tragédia enfrentada, parecem fortalecer-se ainda mais, numa atitude estóica e serena. Os brasileiros, unidos por laços de amizade ao povo japonês, têm muito a aprender com aquela civilização milenar, ao mesmo tempo que têm encantado os japoneses com sua capacidade de improvisação, sua alegria e sua espontaneidade.

Neste momento, mais uma vez, brasileiros e japoneses estão irmanados - tristemente irmanados na dor, na impotência da ação e da vontade humanas perante desígnios que estão acima de nossas capacidades. Ao expressar meus sentimentos de solidariedade, com a certeza de estar individualizando um sentimento coletivo desta Egrégia Casa e de toda a sociedade brasileira, rogo a Deus que dê forças aos familiares das vítimas para que, qual Fênix ressurgindo das cinzas, possam reagir com serenidade e fé em meio aos escombros, possam reconstruir seus lares e suas vidas, e possam superar as trágicas conseqüências deste infortúnio!

Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 10/03/1995 - Página 2936