Discurso no Senado Federal

TRANSCURSO, NESTE DIA 15 DE MARÇO, DOS 95 ANOS DE NASCIMENTO DO SOCIOLOGO E ANTROPOLOGO GILBERTO FREYRE.

Autor
Joel de Hollanda (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Joel de Hollanda Cordeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • TRANSCURSO, NESTE DIA 15 DE MARÇO, DOS 95 ANOS DE NASCIMENTO DO SOCIOLOGO E ANTROPOLOGO GILBERTO FREYRE.
Publicação
Publicação no DCN2 de 16/03/1995 - Página 3177
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, GILBERTO FREYRE, SOCIOLOGO, ANTROPOLOGO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).

O SR. JOEL DE HOLLANDA (PFL-PE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pernambuco festeja neste 15 de março os 95 anos de nascimento do sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, figura símbolo da cultura nacional, a quem o País muito deve pela importância da sua vasta obra e o pioneirismo da sua expressiva contribuição aos diferentes campos do conhecimento.

O Brasil e o mundo reconhecem no autor da Casa Grande & Senzala o descobridor do homem brasileiro e o inovador dos métodos científicos de conceituação de nossa miscigenação étnica e social.

Considerado em recente pesquisa a 2ª obra literária mais importante de nosso País - só perdendo para os Sertões, de Euclides da Cunha -, esse livro promoveu uma verdadeira revolução nos meios intelectuais do Brasil e no exterior. Como se não bastasse o seu estilo, estética e forma poética admiráveis, produziu Gilberto Freyre uma obra multifacetada, tão importante á Ciência Social quanto à Literatura.

A semelhança d Os Lusíadas, poema épico que sintetiza as facetas da vida portuguesa, Casa Grande & Senzala abrange, estuda e conceitua a problemática brasileira em todos os seus prismas, nos diversos aspectos de implicação tropical.

Posteriormente, com as publicações de Sobrados e Mocambos e Ordem e Progresso, o "mestre de Apipucos", como assim ficou conhecido - apesar de não lhe agradar o título de "mestre", porque professoral -, completou com o seu livro máximo a trilogia que analisa densa e intensamente a realidade nacional, vista então como uma vitória da unidade na variedade.

Poder-se-à afirmar que já era conhecida essa lição, legado inesquecível dos Guararapes. O que não se sabia, entretanto, era que nessa unidade havia o sentimento de igualdade cultural das raças.

Entre Gilberto Freyre e Joaquim Nabuco - dois expoentes da cultura pernambucana -, havia uma forte identificação, a começar pelo estilo de escritores telúricos, ambos regionalistas e universalistas ao mesmo tempo.

Quando Deputado Federal, na sua rápida incursão pela seara política, o autor de Como e Porque Sou e Não Sou Sociólogo criou o então Instituto de Pesquisa Sociais Joaquim Nabuco, hoje transformada em Fundação. Presidida pelo Dr. Fernando Freyre, a Fundação Joaquim Nabuco é uma entidade internacionalmente respeitável pelos seus estudos e pesquisas, e pelo fomento da cultura em Pernambuco, no Nordeste, no Brasil e em vários países do mundo, com os quais mantém saudável intercâmbio.

Gilberto Freyre, tão presente à vida do seu povo, idealista e cultuador dos gestos e feitos de Pernambuco, criou o neologismo "pernambucanidade", definindo-o como um estado de espírito, um permanente amor à sua terra-berço.

Alcançou grande repercussão o seu "Manifesto Regionalista, Tradicionalista e a seu modo modernista de 1926" - o condão da sua ingente obra de sociólogo nordestino com visão abrangente da brasileiridade regional.

Com centenas de livros, conferências, estudos e artigos publicados e traduzidos para diferentes idiomas, sua obra atravessou fronteiras, tornando-o autor lido e estudado em importantes Universidades e instituições de pesquisa da Europa e dos Estados Unidos. Todavia, o livro do seu especial afeto não foi o clássico Casa Grande & Senzala, mas sim o Nordeste, conforme assegura a sua dedicada esposa e admirável colaboradora Dona Madalena Freyre, á página 19 do livro O Cotidiano em Gilberto Freyre. Editado pela FUNDAJ, essa excelente publicação contém um depoimento afetivo daquela que permanentemente incentivou o marido na sua profícua vida de cientista e pensador social, tantas vezes premiado pelas expressivas assembléias literárias, instituições culturais e científicas do mundo.

Já no ocaso da sua presença entre nós, o autor de Aventura e Rotina, com a concordância da família, fez a doação da sua casa em Apipucos e de todo o seu acervo cultural á Fundação que recebeu o seu nome. Presidida magistralmente deste sua criação por D. Madalena, a Fundação Gilberto Freyre se constitui hoje num espaço votivo daquele homem singularmente plural. Uma instituição aberta aos pesquisadores e estudiosos do Brasil e do exterior e de tantos quantos desejem conhecer e se aprofundar na interpretação da extensa obra freyriana. Uma Casa que bem se pode dizer toda ela impregnada da presença de Gilberto Freyre e também de eternidade, para lembrar um outro grande pernambucano, o poeta Manuel Bandeira.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores:

Nesta tarde, com a aquiescência de todos, fica registrado nos Anais do Senado Federal, em nome do meu Estado, essa palavras de homenagem desse modesto Senador que desde os bancos escolares aprendeu a ler Giberto Freyre, admirando a sua genialidade e recolhendo pedagogicamente as suas lições de pernambucanidade e de brasileiridade.

É o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 16/03/1995 - Página 3177