Discurso no Senado Federal

TRANSCURSO, NA DATA DE HOJE, DO 'DIA MUNDIAL DO TEATRO'.

Autor
Joel de Hollanda (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Joel de Hollanda Cordeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL. :
  • TRANSCURSO, NA DATA DE HOJE, DO 'DIA MUNDIAL DO TEATRO'.
Publicação
Publicação no DCN2 de 28/03/1995 - Página 4129
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, TEATRO, RELEVANCIA, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).
  • ELOGIO, FAMILIA, IMPLANTAÇÃO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, TEATRO, PATRIMONIO CULTURAL, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).
  • PROTESTO, ADOÇÃO, ESTADOS, MUNICIPIOS, LEGISLAÇÃO, TRIBUTAÇÃO, FOMENTO, ARTES, IGUALDADE, GOVERNO FEDERAL, INCENTIVO, CULTURA.

O SR. JOEL DE HOLLANDA (PFL-PE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Calendário histórico-social consagra, neste 27 de março, o Dia Mundial do Teatro.

Datas como essa são emblemáticas e repletas de simbolismo. Ensejam festividades, comemorações e, também, reflexões.

Desejo, mais uma vez me reportar a propósito do meu Pernambuco cultural, à minha terra-berço que represento com muito orgulho nesta Casa. Estado vertical que não se basta diante da sua história e das suas tradições; da sua arte diversificada e e multifacetada; do seu rico acervo humano e do raro talento dos seus artistas.

Pernambuco ocupa no cenário nacional a posição de terceiro pólo brasileiro de produção teatral.

Esse destaque, mais do que uma distinção, tem sido fator de desenvolvimento da cultura pernambucana, do turismo e da sua própria economia, através da geração de empregos e aproveitamento de inúmeras vocações.

Pernambuco vem obtendo crescente prestígio nacional e internacional em relação aos grandes espetáculos apresentados a céu aberto, indutores do turismo cultural e importante vertente do desenvolvimento sócio-econômico da região.

Agora mesmo, em abril próximo, durante 15 dias ininterruptos, será levado a efeito mais uma vez em Fazenda Nova, município do Brejo da Madre de Deus - na maior cidade-teatro do mundo, a "Nova Jerusalém" -, o artisticamente belo espetáculo do "Drama da Paixão de Cristo", na sua 28º apresentação.

O 12 (doze) palcos-platéia lembram a Cidade dos Reis e dos Profetas, recordando com fidelidade os tempos de Cristo.

Em cena, 50 atores e mais de 400 figurantes representando personagens bíblicos, partícipes à época do drama que conduziu Cristo ao Calvário.

No dia 07 de abril próximo para a encenação extra destinada aos convidados especiais, já confirmaram presença o Presidente Fernando Henrique Cardoso, o Vice-Presidente Marco Maciel, além de centenas de jornalistas brasileiros e estrangeiros.

Essas honrosas presenças são um testemunho eloqüente do quanto a República está preocupada neste Governo com as coisas do espírito, da inteligência e das artes.

As atividades teatrais em Pernambuco, não se restringem apenas ao espetáculo da Paixão de Cristo. Outros, de igual grandiosidade, edificam o nosso patrimônio artístico-cultural, a exemplo d "O Calvário de Frei Caneca", apresentado pelas ruas do Recife e a "Batalha dos Guararapes", em Jaboatão, no local de onde expulsamos os invasores holandeses, consagrando, além da nossa liberdade, a nossa nacionalidade.

Pena que esses dois espetáculos nesses últimos anos, em razão da falta de recursos, não tenham sido viabilizados. Eles resultavam em aulas vivas da história de Pernambuco e numa aculturação necessária e de grande alcance popular. Os estudantes em diversos grupos, de várias escolas, se aglutinavam para assistirem curiosos o que somente lhes era contado pelos professores em exposições verbais ou lido nos livros especializados, já que os de natureza didática quase não se reportam aos fatos e feitos de Pernambuco.

Nesse dia Mundial do Teatro merece menção especial a verdadeira saga empreendida pela ilustre e tradicional família pernambucana dos Oliveira, que, com o Teatro de Amadores de Pernambuco - TAP, implantou uma verdadeira escola de teatro em nosso Estado. Tendo formado centenas de atores e atrizes e de exibido tanto no Brasil como no exterior, o TAP representa um dos mais sérios e bem sucedidos movimentos teatrais do País. Encenando ainda hoje, ora autores clássicos ora autores mais modernos, o Teatro de Amadores de Pernambuco permanece fiel à idéia força dos seus criadores e se constitui em um valioso patrimônio cultural dos pernambucanos.

Á margem das comemorações inerentes à data, tanto os regozijos que aqui poderiam ser proferidos, gostaria de trazer à reflexão alguns pontos que considero importantes.

a) Primeiro, oi teatro hoje já não é visto com os olhos de antigos preconceitos, principalmente por parte dos pais que não admitiam ver um filho na condição de artista, por considerá-lo marginal.

b) A arte-educação levada às escolas é outro fator positivo. Crianças e jovens subindo ao palco e transformados em artistas. Um espaço aberto para a descoberta de vocações e de novos talentos. Alunos sentados na platéia, assistindo às encenações de peças. O teatro na escola, ou a escola no teatro, são práticas pedagógicas recomendáveis à formação plena das gerações mais novas.

c) A eterna escassez de recursos é um ponto negativo para financiamento das atividades relacionadas ao teatro. Faltam mecanismos ágeis de apoio à criação e produção cênicas.

A classe política e os empresários, os Governos e a sociedade civil, todos poderiam - e deveriam - apoiar, estimular, promover essa arte, que, fazendo rir ou fazendo chorar, mais do que um cometimento espiritual, é um exercício da cidadania.

O Governo Federal tem a sua Lei de Incentivo á Cultura. Alguns Estados e cidades, também. Propõe-se que os Estados brasileiros, bem como os municípios, adotem esse dispositivo fiscal de fomento às artes.

Em Pernambuco, no Governo passado, a Assembléia Legislativa aprovou, à unanimidade, sua Lei de Incentivo à Cultura, logo depois sancionada pelo Governador Joaquim Francisco. Na gestão atual, essa Lei está sendo infelizmente descumprida ou deixada de lado, acarretando um prejuízo colossal à produção do mundo artístico pernambucano.

Essa é uma nota triste neste dia de alegria para os valores da minha terra. Porém, com denodado esforço e criatividade, esses equívocos e obstáculos serão superados em nome da arte, da cultura e da cidadania.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o País deve muito ao teatro e aos seus teatrólogos e artistas. Durante o período autoritário pós-64, quando ao censura tolhia as tribunas e a imprensa, as casa de espetáculo cumpriam através das peças encenadas sua missão, denunciavam e faziam a crítica social, clamando por dias melhores.

É em nome da democracia e da cultura que neste Dia Mundial do Teatro homenageio a todos os homens e mulheres que muito contribuíram e ainda hoje contribuem para a continuação desse grandioso espetáculo pelos palcos desse Brasil afora, apresentando principalmente a vida nas suas múltiplas manifestações culturais.

Era o que eu tinha a dizer. Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 28/03/1995 - Página 4129