Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM POSTUMA AO MAESTRO WALDEMAR HENRIQUE.

Autor
Artur da Tavola (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RJ)
Nome completo: Paulo Alberto Artur da Tavola Moretzsonh Monteiro de Barros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM POSTUMA AO MAESTRO WALDEMAR HENRIQUE.
Aparteantes
Jader Barbalho.
Publicação
Publicação no DCN2 de 29/03/1995 - Página 4161
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, PRONUNCIAMENTO, ADEMIR ANDRADE, SENADOR, HOMENAGEM POSTUMA, WALDEMAR HENRIQUE, MUSICO, COMPOSITOR, ESTADO DO PARA (PA).

O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB-RJ. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ouvi, há pouco, a fala do nobre Senador Ademir Andrade sobre a morte de Waldemar Henrique e não poderia deixar de dizer uma palavra de respeito e homenagem à sua obra, muito bem lembrada e acentuada, pelo nobre Senador do Pará. Num dos momentos da fala do Senador, ele aludiu, de passagem, ao fato de que Waldemar Henrique é uma figura do Pará e do Brasil. Eu diria que a cultura brasileira perdeu muito com a sua morte. O maestro Waldemar Henrique tem uma trajetória muito curiosa na música brasileira. De certa forma ele se consagra no Pará e na década de 30 e 40 parte, como tantas pessoas do Norte e Nordeste, na direção do então centro de irradiação cultural da época - o Rio de Janeiro, onde desenvolve uma atividade das mais ricas e produtivas.

À época, o Brasil não se intercomunicava como hoje; éramos ilhas culturais distantes e diferentes. Havia um conhecimento relativamente baixo das várias regiões do País, da sua cultura, da sua tipicidade. Waldemar Henrique consegue, com a música e os temas do Pará, mais do que do Pará, amazônidas, algo que já foi fixado numa frase muito feliz, quando alguém disse: "Pinta a tua aldeia e serás universal". É a exata idéia de que a universalidade, na obra de arte, muitas vezes, está presente na tipicidade, porque ali latejam conteúdos universais.

E para este País o significado da cultura paraense e da cultura da Amazônia, então desconhecidas do Rio de Janeiro, como o eram, na década de 30, a do Nordeste e a do Sul. Foram necessários na literatura inúmeros outros esforços de toda uma geração para trazer a saga do Nordeste - José Lins do Rêgo - e da Bahia - Jorge Amado - para o conhecimento do grande centro. Eu ficaria aqui a citar nomes importantes que significaram, pela capacidade de pintar a tipicidade de sua aldeia, a universalidade desejada e sonhada por todo artista.

Waldemar Henrique apresenta-se ao rádio, àquela época, consegue um intérprete à altura das suas músicas, também já falecido, Jorge Fernandes, de quem alguns, possivelmente, aqui ainda se recordam, e, obra a obra, ele canta o tambatajá, a história do boto, as lendas do Pará e consegue, pela qualidade da sua melodia, pela importância da temática de suas letras, o auge que o leva a sair do Brasil, a visitar a Europa e, com o passar do tempo, deixar uma obra até hoje recordada por todos aqueles que interpretam a música brasileira na sua essencialidade.

Waldemar Henrique não é um mero episódio na cultura brasileira, é uma das mais importantes figuras da cultura musical deste país em todos os tempos. Assemelho a figura de Waldemar Henrique à de Dorival Caymmi, com a diferença de que, para Dorival Caymmi houve, talvez, nos últimos anos, um grau maior de reconhecimento da chamada mídia eletrônica. Waldemar Henrique parece não ter penetrado na mídia eletrônica, mesmo porque a mídia eletrônica, normalmente, está sempre mais voltada para os ritmos de fora deste País, por razões às vezes imponderáveis.

Uma obra de arte se qualifica não pela opinião dos seus contemporâneos, mas por sua duração no tempo. O que caracteriza a obra de arte é exatamente a sua capacidade de se eternizar. Waldemar Henrique, a meu juízo, se eternizou no populário brasileiro como um grande pintor, se me permitem a expressão, um grande escritor, um grande poeta e um grande músico, tudo condensado na mensagem singela da canção. A canção é um dos maiores milagres da criação humana, ela consegue, em breves versos e em três ou quatro minutos de melodia, carregar pelo espaço vivências inteiras, histórias inomináveis.

O Sr. Jader Barbalho - Senador Artur da Távola, V. Exª me permite um aparte?

O SR. ARTUR DA TÁVOLA - Com muito prazer, nobre Senador.

O Sr. Jader Barbalho - Senador Artur da Távola, não tive a oportunidade regimental de apartear o Senador Ademir Andrade na homenagem póstuma que prestou a Waldemar Henrique. Quero fazê-lo agora, neste aparte em que V. Exª ressalta a importância para as letras, para a arte e, de modo especial, para a música, do trabalho realizado por Waldemar Henrique. Como paraense, me sinto muito gratificado ao apartear V. Exª, porque o testemunho aqui dado pelo Senador Ademir Andrade é o de todos nós do Pará, mas o testemunho de V. Exª é muito mais importante, porque é o de um representante de outro estado, o Estado do Rio de Janeiro e, muito mais, é o testemunho de uma pessoa como V. Exª, que é reconhecido como um intelectual preocupado com as artes e fundamentalmente com a música no Brasil. Quero, como representante do Estado do Pará, unir-me à manifestação anteriormente feita pelo Senador Ademir Andrade e, gratificado, poder unir-me agora à manifestação de V. Exª, porque se Waldemar Henrique era, e é, uma unanimidade no meu estado, a palavra de V. Exª demonstra que Waldemar Henrique conseguiu extrapolar os limites do Estado do Pará para ter o reconhecimento nacional. Meus cumprimentos e os meus agradecimentos a V. Exª.

O SR. ARTUR DA TÁVOLA - Agradeço a V. Exª a gentileza e a homenagem do aparte.

Há poucos anos, uma editora publicou um livro sobre e com Waldemar Henrique. É uma editora do Pará cujo nome infelizmente me escapa. Neste livro sobre Waldemar Henrique, além de registrar toda a sua trajetória, mostra uma outra feição: Waldemar Henrique era um escritor de primeira linha. Ele apresenta, em forma de diário, reflexões, observações altamente interessantes sobre a vida, de extrema agudeza, que, em outra oportunidade, sem dúvida, poderiam ser comentadas com os Srs. Senadores. Não hoje em que dedicamos uma palavra de homenagem a Waldemar Henrique. Registro, portanto, a homenagem da cultura brasileira a essa grande figura, que a honrou, deixando uma obra imperecível.

Tivéssemos aqui a oportunidade de sessões sonoras, além da pobreza de nossas vozes, e, por certo, escutaríamos hoje, com enlevo, algumas das mais belas canções do populário brasileiro, criadas por Waldemar Henrique em seu labor, que vai da década de 30 até, praticamente, finais da década de 80, em plena criatividade.

Era o que tinha a dizer. Agradeço a V. Exª a concessão da palavra.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 29/03/1995 - Página 4161