Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM POSTUMA AO MAESTRO WALDEMAR HENRIQUE.

Autor
Ademir Andrade (PSB - Partido Socialista Brasileiro/PA)
Nome completo: Ademir Galvão Andrade
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM POSTUMA AO MAESTRO WALDEMAR HENRIQUE.
Publicação
Publicação no DCN2 de 29/03/1995 - Página 4160
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, WALDEMAR HENRIQUE, MUSICO, COMPOSITOR, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO PARA (PA).

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB-PA. Como Líder, pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a cultura artístico-musical brasileira está mais pobre. Morreu ontem, em Belém do Pará, aos 90 anos de idade, o Maestro Waldemar Henrique.

Um dos últimos grandes expoentes da música popular brasileira da geração de Heitor Villa Lobos, Waldemar Henrique celebrizou-se por levar o canto e a música paraense aos mais importantes centros artístico-culturais do País e mesmo do mundo.

Em 1911, tendo se transferido com o pai e o restante da família para a cidade do Porto, em Portugal, logo após o falecimento de sua mãe, manteve seu primeiro contato com a música na escola em que iniciou seus estudos primários, aprimorando-os já a partir de 1918, quando do retorno da família a Belém.

Contrariando os interesses de seu pai, enveredou clandestinamente no estudo da viola, da harmonia, da composição e do canto, tendo como mestres Ulisses Nobre, Professora Philomena Baars e o Maestro Ettore Bossio.

Em 1933 decide abandonar suas atividades no comércio de Belém, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde abraça definitivamente a carreira musical, projetando-se de forma vertiginosa nas rádios, teatros e principais espaços culturais do eixo Rio-São Paulo-Belo Horizonte, iniciando nessa época uma série de excursões pela Argentina, Uruguai, França, Espanha e Portugal, sem contudo ceder ao permanente desejo de aperfeiçoar-se nas artes musicais, principalmente nas composições ao piano.

Sua vasta produção musical foi tomando forma peculiar, destacando-se a preferência pelas composições de ambientação folclórica, consideradas pelo maestro como a melhor forma de expressar para o mundo os encantos e o mistério da Amazônia, seu povo e a sua cultura.

São inumeráveis as obras de Waldemar Henrique registradas na fonografia nacional e internacional, sempre aludindo às coisas da terra paraense, numa trajetória que atravessou o próprio tempo e se fez notabilizar na voz de consagrados intérpretes da Música Popular Brasileira de nossos dias, como por exemplo, Zizi Possi, Fafá de Belém, Nilson Chaves, Vital Lima, entre tantos outros.

Independente da produção essencialmente musical, Waldemar Henrique compôs também trilhas e músicas para peças teatrais, como o tema para "Morte e Vida Severina", obra consagrada da dramaturgia brasileira, e ainda trilhas sonoras para filmes nacionais e internacionais.

Waldemar Henrique soube fazer da música brasileira um passaporte de destaque também na vida pública, servido no Departamento de Cultura e no Teatro Municipal no Rio de Janeiro como diretor da Seção de Música Orquestral de 1958 até 1967, e ainda em missões de representação oficial do Brasil, comissionado pelo Itamaraty, em eventos no exterior (França, Espanha, Portugal - 1949 e 1955), na América do Sul (Argentina, Uruguai, Paraguai - 1954 a 1955). Em 1967, esteve nos Estados Unidos, por 75 dias, a convite do Departamento de Estado daquele país, proferindo cursos, concertos e palestras onde o tema principal era música brasileira e a cultura amazônica em particular. Retornando a Belém no fim dos anos 60, foi nomeado diretor do Teatro da Paz, exercendo essa função por muitos anos, além das atividades como membro do Conselho Estadual de Cultura e da Academia Paraense de Letras, onde ocupou a cadeira de nº 7.

Entristecido, o povo paraense rende as últimas homenagens a um de seus filhos mais ilustres, e vem à tribuna desta Casa, pela voz deste Senador, reverenciar sua memória, motivo pelo qual solicito ao Sr. Presidente, como homem de cultura brasileira, que faça registrar nos Anais do Congresso Nacional, o pesar do povo paraense, e por que não dizer, do povo brasileiro, pelo desaparecimento do Maestro Valdemar Henrique, que soube legar, pela força de sua inspiração, uma obra perene, que traduz a grandeza imensurável do nosso patrimônio cultural.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 29/03/1995 - Página 4160