Discurso no Senado Federal

GRAVIDADE DA SITUAÇÃO CRIADA PELA ATUAL ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL DO ACRE.

Autor
Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO ACRE (AC), GOVERNO ESTADUAL.:
  • GRAVIDADE DA SITUAÇÃO CRIADA PELA ATUAL ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL DO ACRE.
Publicação
Publicação no DCN2 de 08/04/1995 - Página 4946
Assunto
Outros > ESTADO DO ACRE (AC), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL, RESPONSABILIDADE, ORLEIR CAMELI, GOVERNADOR, ESTADO DO ACRE (AC).
  • CRITICA, ORLEIR CAMELI, GOVERNADOR, ESTADO DO ACRE (AC), DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, PERIODO, CAMPANHA ELEITORAL, ALTERAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL, INFRAESTRUTURA, ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA, FUNCIONARIO CIVIL, RESULTADO, FALTA, PAGAMENTO, SERVIDOR PUBLICO CIVIL.
  • ESCLARECIMENTOS, MOTIVO, IMPOSSIBILIDADE, TRANSFERENCIA, RECURSOS FINANCEIROS, DESTINAÇÃO, ATUALIZAÇÃO, FOLHA DE PAGAMENTO, FUNCIONARIO PUBLICO, ESTADO DO ACRE (AC), EFEITO, AMEAÇA, FALENCIA, BANCO ESTADUAL.
  • CRITICA, GOVERNO ESTADUAL, MOTIVO, AMEAÇA, EXECUÇÃO, DEMISSÃO COLETIVA, FUNCIONARIO PUBLICO, ESTADO DO ACRE (AC).
  • EXECUÇÃO, REPASSE, DOTAÇÃO ORÇAMENTARIA, LEGISLATIVO, JUDICIARIO, DESTINAÇÃO, EXECUTIVO, POSSIBILIDADE, INTERVENÇÃO FEDERAL.
  • COMENTARIO, IMPOSSIBILIDADE, SOLUÇÃO, PROBLEMA, INEXISTENCIA, AULA, ATUALIDADE, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, ESCOLA PUBLICA, ESTADO DO ACRE (AC), MOTIVO, FALTA, PRESTAÇÃO DE CONTAS, ANTERIORIDADE, RESPONSABILIDADE, GOVERNO ESTADUAL.
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, SETOR, SAUDE, TRANSPORTE, ESTADO DO ACRE (AC), PRECARIEDADE, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO.
  • INEXISTENCIA, LIGAÇÃO, MUNICIPIOS, ESPECIFICAÇÃO, MUNICIPIO, SENA MADUREIRA (AC), BRASILEIA (AC), EPITACIOLANDIA (AC), ASSIS BRASIL (AC), ESTADO DO ACRE (AC), DIFICULDADE, ABASTECIMENTO, MERCADORIA, COMBUSTIVEL, REGIÃO.
  • CRITICA, FALTA, APOIO, GOVERNO FEDERAL, MUNICIPIOS, ESTADO DO ACRE (AC), ESPECIFICAÇÃO, MUNICIPIO, TARAUACA (AC), SENA MADUREIRA (AC), RIO BRANCO (AC), SANTA ROSA (RS), CRUZEIRO DO SUL (AC), MOTIVO, ATRASO, DECRETAÇÃO, ESTADO DE EMERGENCIA, CALAMIDADE PUBLICA, RESULTADO, INUNDAÇÃO, EFEITO, IMPEDIMENTO, EXECUÇÃO, ASSISTENCIA, POPULAÇÃO, RESPONSABILIDADE, ADMINISTRAÇÃO FEDERAL.

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB-AC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho por obrigação íntima, nas atividades como cidadão e como homem público, o senso de responsabilidade e o respeito a todas as pessoas, até mesmo aos mais ferrenhos adversários. Jamais, em 32 anos de vida política e parlamentar, fiz acusações levianas ou críticas açodadas. Em momento algum permiti que as paixões falassem mais alto que a razão e o senso de justiça.

Com esse espírito prudente e construtivo, esperei que transcorressem os primeiros três meses do novo Governo do Estado do Acre para dele fazer uma análise lúcida, equilibrada e objetiva, sem distorções ou açodamentos quanto aos méritos e aos erros eventualmente registrados. Não que fosse minha intenção trazer assuntos paroquiais para este plenário, mas hoje sou obrigado a alertar a Casa e a nacionalidade representada no Senado da República para a gravidade dos problemas que a atual administração estadual agravou ou criou ante o desespero das populações mais pobres e desassistidas.

A representação paritária nos Estados da Câmara Alta tem como objetivo, justamente, estabelecer um conhecimento recíproco e a convivência de todos os brasileiros, integrando-os, estabelecendo mecanismos de interação política e administrativa. É importante que, hoje, os demais cidadãos saibam o que todos os acreanos já viram: o Estado vive dias de grandes dificuldades, em que muitos setores, até mesmo o próprio Governador, admitem a necessidade do recurso a medidas extremas para salvá-lo da ingovernabilidade. Os erros cometidos na gestão anterior, agravados pela atual, autora de muitos outros, preocupam e, não raro, assumem proporções que ameaçam elementares regras de moralidade e eficiência administrativas.

O Governador Orlei Cameli, em suas promessas de campanha, anunciou que faria profundas alterações na máquina administrativa e na estrutura do funcionalismo público estadual, deixando claro que efetuaria grandes cortes na máquina e na equipe.

E está fazendo muito mais: relegou a plano tão inferior os trabalhadores do Estado que esses, até hoje, sequer receberam salários ainda relativos a novembro e dezembro do ano passado; não existe, ademais, qualquer horizonte confiável de quando irá o Governo honrar essa elementar obrigação.

Muitas soluções têm sido aventadas para atualizar a folha de pagamentos do Estado. Uma delas estaria no emprego de verbas carimbadas para outras finalidades, como o Fundo Previdenciário, mas o problema aí é duplo: primeiro, por óbvias irregularidades na transposição de natureza orçamentária, ou seja, o emprego de recursos característicos de um setor para outro, por mais justificável que seja a sua motivação; o segundo, que é o realmente decisivo, hoje, está na fraqueza econômica do Banco do Estado, que correrá risco de falência se o dinheiro nele entesourado, base de suas aplicações e de rentabilidade, for subitamente liberado para pagar o funcionalismo.

A situação é grave e merece também, aqui, um especial esclarecimento. Como disse, estão depositados no Banco do Estado do Acre recursos de grande monta, arrecadados da folha de pagamento para constituir o Fundo Previdenciário do funcionalismo estadual. É com esse lastro que o BANACRE vem se capitalizando, através das aplicações que faz no mercado interbancário e nas operações de crédito remuneradas com as altas taxas de juros hoje verificadas no País. Transferir tais recursos para a folha de um funcionalismo esfaimado e com imensas carências econômicas representará o saque imediato de tudo, capaz de até mesmo quebrar o tradicional e importante estabelecimento, patrimônio do povo acreano e base de seus projetos desenvolvimentistas.

Ainda sobre o BANACRE, é importante registrar a ameaça que paira sobre ele de ter as suas atividades encerradas, caso medidas urgentes e indispensáveis não sejam adotadas para o seu saneamento financeiro. A se confirmar essa ameaça à comunidade acreana, principalmente a do interior do Estado, será altamente afetada pelo fechamento de agências em localidades onde só o referido Banco opera. Para agravar ainda mais esse quadro, cogita-se insistentemente a extinção de várias agências do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal em diversos Municípios do Estado.

Voltamos, entretanto, à questão do funcionalismo, um problema que ronda os lares diretamente envolvidos em proporções assustadoras. Fala-se de demissão de até 8 mil servidores, o que causa pânico à sociedade acreana.

Não defendo o empreguismo como política de governo, mas é impossível desconhecer o fato de que, no Acre, o Poder Público ainda é o grande empregador, acima de tudo porque as ações federais nunca se voltaram efetivamente para a melhoria das condições econômicas regionais, para abertura de novas frentes de trabalho capazes de absorver a mão-de-obra compulsoriamente ociosa. Falar-se em 8 mil demissões, portanto, é alardear a iminência de uma situação caótica e explosiva, que traria no seu bojo sérios reflexos sociais e humanos, em nível de tornar ainda mais desesperadora a qualidade de vida do Estado.

Existem ainda outros aspectos perigosos nas atitudes tomadas pelo Governador do Estado, como no caso dos repasses orçamentários para os Poderes Legislativo e Judiciário, vitimados por cortes inopinados, que levam até mesmo à cogitação de medidas defensivas como o pedido de intervenção federal para garantir as dotações devidas. O próprio Tribunal de Justiça, padrão de equilíbrio e referência maior do Direito, já imagina as soluções para o problema criado quanto a seus recursos.

Além de todos esses percalços burocráticos e financeiros, outras denúncias ameaçam a própria imagem de austeridade que o Governador procurou construir na campanha e no início de sua administração. A imprensa tem levantado, com freqüência, graves aspectos ligados a negócios envolvendo empresas pertencentes a familiares de S. Exª, das quais ele mesmo é sócio; negócios que têm como fornecedor de recursos o próprio Estado.

O Deputado Vagner Sales denunciou, e o Tribunal de Contas está apurando com serena firmeza, irregularidades na execução de um convênio entre o Estado e a Prefeitura Municipal de Cruzeiro do Sul, destinado à implantação e à recuperação de estradas vicinais. Segundo informações do órgão sindicante, recursos que atingem 60 mil reais foram creditados na conta da Prefeitura e imediatamente repassados para a firma Cameli Comercial Distribuidora Ltda., em condições triplamente erradas: não houve licitação para aquisição dos combustíveis comprados para a referida empresa, as verbas foram aplicadas em finalidade diversa da autorizada pelo convênio, e o mesmo só poderia ser executado com uma contrapartida efetiva da prefeitura à razão de 10% do total, o que não aconteceu.

Outras denúncias têm surgido e merecem apuração exemplar, como a entrega, a uma irmão do Governador, de contratos para o transporte de combustíveis, destinados às usinas termoelétricas da ELETROACRE, no interior do Estado.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, V. Exªs certamente avaliarão a dificuldade em definir o equilíbrio entre a necessidade de fazer as graves denúncias que hoje me trazem à tribuna e a prudência quanto à força das palavras e das imagens empregadas. Estejam certos de que se trata de uma tênue linha separando a omissão da cautela, mas que existe e tem de ser considerada. E, na verdade, deixar de registrar fatos de tal gravidade seria fugir às obrigações do mandato a mim conferido pelo povo do Acre.

O que trago hoje ao Senado é apenas uma parte das reclamações que me chegam, pela imprensa, pelos companheiros e pelos coestaduanos que me enviam cartas ou procuram o meu gabinete. Muitos deles, por exemplo, reclamam da falta de aulas nas escolas da rede oficial, até hoje sem ver começado o ano letivo. Fora das classes, já no mês de abril, os alunos sabem que isso lhes causará um prejuízo irreparável no seu aprendizado e em termos de cumprimento do currículo escolar de 1995.

Consciente da gravidade do problema, acompanhei o Secretário de Educação a uma audiência com o Diretor do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, em busca de soluções e recursos que pudessem minorar a situação, mas isso se mostrou impossível, porque há dois anos o Governo do Acre não presta contas das verbas já recebidas e, portanto, não pode receber novas dotações. A alternativa seria o MEC transferir recursos diretamente para as prefeituras, passando por cima do Governo do Estado - mas nem mesmo nós, da oposição, gostaríamos de ver o Palácio Rio Branco sofrer tão vexatória humilhação.

O setor médico-hospitalar também vive momentos de grande dificuldade, com hospitais e postos de saúde fechados ou atendendo da mais precária maneira à população que os procura. Até mesmo cirurgias de emergência vêm sendo canceladas pela Fundação Hospitalar, que é responsável pela manutenção do maior estabelecimento hospitalar da Capital e de toda a região; a opção seria a remoção dos pacientes em estado grave para outros Estados, mas isso está descartado, em conseqüência da falta de recursos para o custeio de passagens e pagamento de diária aos acompanhantes.

O transporte terrestre vive situações inéditas de dificuldades: Rio Branco passou vários dias sem ligações rodoviárias com as cidades mais próximas e ainda hoje não existe tráfego regular para várias delas, como Sena Madureira, Brasiléia, Epitaciolândia, Assis Brasil e outras localidades, o que deixa sua população à míngua de mercadorias básicas e de combustíveis. A BR-317, estrada federal cuja manutenção está delegada ao DERACRE, ficou interditada por longo tempo em vários trechos, principalmente entre Brasiléia e Rio Branco.

As periódicas - e, portanto, previsíveis - enchentes dos rios acreanos não foram levadas em conta pelo Governo e causaram tragédias, prejuízos e desespero a milhares de pessoas, atingidas violentamente pela elevação do nível do Purus, Iaco, Tarauacá, Acre e Juruá. Quem deixou os lares e perdeu tudo foi atirado nos abrigos de emergência, improvisados em colégios, clubes e na exposição agropecuária de Rio Branco.

Os prefeitos de Tarauacá, Sena Madureira, Rio Branco, Santa Rosa e Cruzeiro do Sul não receberam o apoio devido para suas comunidades, porque houve atrasos na decretação do estado de emergência ou calamidade pública e em seu reconhecimento oficial pelo Governo do Estado, o que impediu uma ação assistencial efetiva por parte da administração federal.

Tarauacá foi uma das cidades mais atingidas pela inundação, a ponto de ver dois terços de sua área urbana totalmente coberta pelas águas do rio que lhe dá o nome. Muitas casas desabaram, outras tiveram aparelhos e utensílios levados pela correnteza e, em todas, as famílias vão ter dificuldades imensas para reconstruir seus lares e repor o que perderam. No interior e na Capital, aliás, o quadro se mostrou dramático, agravado pela falta de assistência eficaz e imediata que se exigia devido à sua gravidade.

Sr. Presidente, não me deixo contaminar por intenções menores.

Venho reiterar, hoje, o pedido para que o Governo Federal socorra o Estado do Acre nos dias tenebrosos vividos por sua gente boa e trabalhadora. O importante não é saber quem ocupa o Governo do Estado, o importante é trabalhar por seu futuro.

Os meus mais sinceros votos são no sentido de que os problemas ora vividos pelo povo do Acre encontrem solução ou alívio a curto prazo. Sou adversário, leal e sincero, do atual Governador, mas conclamo S. Exª a uma ação conjunta em benefício da coletividade, que não pode ser prejudicada por divergências de natureza político-partidárias.

A imprensa acreana tem divulgado, nos últimos dias, declarações atribuídas a assessores do Governador, dando conta de que S. Exª já estaria admitindo a possibilidade de solicitar à União a decretação de intervenção federal no Estado, na eventualidade de não poder solucionar, no prazo de quatro a cinco meses, os graves problemas enfrentados pelo seu Governo.

Como se observa, a hora é extremamente grave e exige dos homens públicos, dos líderes políticos, de toda a sociedade acreana, uma ação conjunta e decidida junto ao Governo Federal, voltada para o apoio aos pioneiros que constroem e consolidam a fronteira noroeste do Brasil.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 08/04/1995 - Página 4946