Discurso no Senado Federal

EM DISCURSO DE ESTREIA, ENUMERA AS POTENCIALIDADE DO ESTADO DE GOIAS.

Autor
Iris Rezende (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Iris Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • EM DISCURSO DE ESTREIA, ENUMERA AS POTENCIALIDADE DO ESTADO DE GOIAS.
Aparteantes
Ademir Andrade, Eduardo Suplicy, Elcio Alvares, Esperidião Amin, Geraldo Melo, Gilberto Miranda, Hugo Napoleão, Humberto Lucena, Jader Barbalho, Josaphat Marinho, José Roberto Arruda, Junia Marise, Lúcio Alcântara, Mauro Miranda, Pedro Piva, Pedro Simon, Ramez Tebet, Ronaldo Cunha Lima, Valmir Campelo.
Publicação
Publicação no DCN2 de 20/04/1995 - Página 5748
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, ESTADO DE GOIAS (GO), CAPITAL FEDERAL, HOMENAGEM, PEDRO LUDOVICO TEIXEIRA, JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA, POLITICO, EMPENHO, DESENVOLVIMENTO, INTEGRAÇÃO, INTERIOR, BRASIL.
  • ANALISE, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), VIDA PUBLICA, ORADOR.
  • COMENTARIO, PRETENSÃO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, REALIZAÇÃO, FISCALIZAÇÃO, EXECUTIVO, REFORMULAÇÃO, ESCLARECIMENTOS, SOCIEDADE, DESIGUALDADE REGIONAL, EDUCAÇÃO, VIOLENCIA, NATUREZA SOCIAL, OBSERVAÇÃO, DIFERENÇA, EMPRESA ESTATAL, PRIVATIZAÇÃO, INFLAÇÃO, APOIO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • CONCLAMAÇÃO, POPULAÇÃO, CONGRESSISTA, OBJETIVO, CONSTRUÇÃO, MELHORIA, BRASIL.

O SR. IRIS REZENDE (PMDB-GO. Como Líder.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, inicialmente agradeço a gentileza das Lideranças que desistiram de suas inscrições, a fim de que eu usufruísse desta oportunidade na sessão de hoje. Saliento que me inscrevi na segunda-feira, em segundo lugar. Seria o primeiro, uma vez que o primeiro inscrito não compareceu. De modo que sou absolutamente agradecido pela generosidade das Lideranças.

Sr. Presidente, recém-chegado a esta nobre Casa Legislativa, na qual devo cumprir o meu primeiro mandato de Senador, honrosamente conferido pelo valoroso povo goiano, sinto-me no dever de dizer algumas palavras aos meus pares, aos cidadãos que me elegeram, ao povo do meu Estado - que aqui representarei durante os próximos oito anos - e ao povo do meu País, ao qual devo servir, nos limites da minha capacidade, com ilimitada abnegação e acendrado patriotismo.

Não sou avezado nem inclinado a falar de mim. Não o tenho feito, ao longo de uma trajetória política que já se tornou longa. Entretanto, nesta oportunidade - meu primeiro discurso no Senado do meu País -, e neste momento tão importante e tão marcante, para mim, no curso da minha atuação política e na incessante escalada da assunção de responsabilidades, sinto que devo - e posso - falar um pouco de mim.

Venho para esta Casa Legislativa graças à confiança, que nunca me faltou, do povo do meu querido Estado de Goiás. Um Estado que corresponde a um território que, em sua maior parte, foi acrescentado ao Brasil graças à transgressão dos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas, cometida pelos bandeirantes e pioneiros dos séculos XVII e XVIII. Até a promulgação da Constituição Federal de 5 de outubro de 1988, Goiás era um dos quatro maiores Estados da Federação. Com a criação do Estado do Tocantins, foi reduzido mais ou menos à metade do seu território; mas, apesar disso, é um Estado que, pela riqueza atual e pela riqueza potencial, se caracteriza como uma região verdadeiramente abençoada e privilegiada - no Brasil e no mundo. Goiás tem sido visto, com fundadas razões, como uma Canaã brasileira - terra de abundância, de clima ameno, onde as chuvas se revezam regularmente com os períodos de seca, tudo a fazer desse trecho do mundo um espaço bastante propício à vida humana. Terra habitada por uma gente dotada de uma decisiva virtude: coragem. Gente que veio de todas as partes do Brasil e do mundo disposta a criar riqueza e cultura. Gente dotada da bravura do bandeirante e da constância do pioneiro.

De certo modo, pertenço a uma geração de políticos que devem o seu aparecimento e desenvolvimento à feliz conjunção de circunstâncias que integraram os dois acontecimentos centrais e essenciais da história recente da imensa região do Brasil Central, que foram a fundação e construção, e o crescimento e desenvolvimento de duas capitais: Goiânia e Brasília.

Nada do que fiz, até hoje, e do que tenho intencionado realizar, seria possível sem o acontecimento Goiânia e sem o acontecimento Brasília. Duas ocorrências históricas importantíssimas e capitais - se me permitem esse adjetivo - na vida de nosso País e, em particular, na invenção e ampliação de decisivos rumos novos no desenvolvimento da civilização brasileira.

Goiânia representou, como disse o jornalista goiano José Leão de Souza Filho, uma reação do sertão contra si mesmo. É uma obra colossal, da qual se orgulha, com justa razão, o povo goiano. Inaugurada há apenas 53 anos, foi uma idealização e projeto seculares do povo goiano, e afinal uma realização inteiramente goiana. Iniciativa do poder público estadual, mas uma realização do povo, que acreditou no governo e o apoiou. Goiânia foi um acontecimento de profundíssimos efeitos transformadores. Em menos de duas décadas, contadas da sua inauguração em 1942, retirou Goiás da posição de um dos Estados mais atrasados da Federação, e o elevou a uma condição de pioneiro do desenvolvimento nacional. Foi o governo goiano que começou a construí-la, mas a magnífica cidade em que rapidamente se transformou foi obra coletiva, do povo, de cada indivíduo e de cada família, do conjunto das multifárias e iniciativas individuais.

Goiânia não foi um feito - nem um efeito - da Marcha para o Oeste, patrocinada pelo Governo Federal durante o Estado Novo de Getúlio Vargas. A Marcha para o Oeste foi um movimento político, pensado na orla litorânea do Brasil, de centrípeta direção. Ceres e Rialma - a colônia agrícola fundada, no interior de Goiás, pelo engenheiro carioca - Bernardo Sayão - que, por sua compulsão criadora e realizadora, fundiu, na sua personalidade, as características do bandeirante e do pioneiro, tais como as traçou Vianna Moog, sim, foram efeito e obra do movimento Marcha para o Oeste. Goiânia, diferentemente, constituiu-se, primeiro, em sonho, acalentado pelo povo goiano desde muito tempo antes daquela Marcha: durante os cem anos que separaram a presidência provincial de Miguel Lino de Morais - nos últimos anos da década de 1820 - da interventoria de Pedro Ludovico Teixeira, iniciada em 1930. Sonho que se converteu em realidade graças à decisão corajosa de um pugilo de homens valorosos, comandados pelo gênio do grande estadista Pedro Ludovico Teixeira, o qual, depois de governar Goiás, por duas vezes, honrou esta Casa também durante dois mandatos.

Goiânia teve o condão de despertar, deflagrar e desenvolver as infinitas energias criadoras do povo goiano - as quais respondem pelo admirável progresso que vem fazendo de Goiás um Estado em acelerado processo de enriquecimento e modernização, que o coloca em oitavo lugar na economia nacional.

A partir de Goiânia o desenvolvimento econômico, cultural e social passou a ser, em Goiás, uma quase obsessão coletiva e individual. Goiânia começou a infundir nos goianos um justo sentimento de orgulho da sua extraordinária capacidade de sonhar e de realizar belos sonhos, de se fazer vanguarda e pioneiro.

E o bissecular isolamento geográfico, histórico, social, cultural, moral e psicológico em que vivia o povo goiano, desde os dois séculos anteriores, começou a ser vencido.

Entretanto, Goiânia não foi a primeira grande aspiração e objetivo que os goianos alcançaram transformar em realidade. Cumpre, quanto a esse ponto, assinalar algumas notáveis façanhas do povo da minha terra.

Um dos primeiros jornais brasileiros foi fundado em Meia-Ponte, a atual Pirenópolis, em 1830. Goiás passou a contar com uma escola pública que se tornou fortemente tradicional, o Liceu de Goiás, já no ano de 1846. Em 1864, instalou-se em Goiás o Gabinete Literário Goiano, que, existente até hoje, é um dos mais tradicionais do País. Goiás emancipou os seus escravos antes da Lei da Abolição: no dia do sepultamento do grande poeta abolicionista, Félix de Bulhões, em 1887, concedeu-se a liberdade ao último escravo existente em território goiano. Goiás foi um dos primeiros Estados a contar com uma faculdade de Direito, criada em 1898 e instalada em 1903. Foi de uma mulher, Eurídice Natal e Silva, a iniciativa de fundar-se, em Goiás, em 1904, a Academia Goiana de Letras.

A partir de fins de 1956, interveio, no processo de desenvolvimento dessa região e de todo o País, o imenso acontecimento que foi - e é - Brasília. Graças a esta cidade, que o grande escritor francês André Malraux cognominou de "Capital da Esperança", o Planalto Central sofreu uma transformação econômica, cultural e política, cuja velocidade não encontra, ao que eu saiba, paralelo em nenhuma outra região do mundo.

O Sr. Elcio Alvares - Permite V. Exª um aparte?

O SR. IRIS REZENDE - Com muito prazer, Senador Elcio Alvares.

O Sr. Elcio Alvares - Tivemos a oportunidade de fazer um registro, com muita simpatia, em relação ao primeiro pronunciamento do Senador José Roberto Arruda. Agora V. Exª nos traz, no início do seu discurso, uma certeza de que a terra e o homem identificam-se por inteiro. Não importa que o Senador seja Iris Rezende, o grande Líder do PMDB, mas o que ele tem dentro de si, na ligação afetiva com uma das regiões mais lindas, produtivas e, acima de tudo, mais importantes para o desenvolvimento econômico do País. V. Exª chegou a esta Casa como um autêntico vitorioso; já é o Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, onde está realizando uma atividade notável, demonstrando uma capacidade de trabalho que está sendo exaltada por todos os seus pares, e incluo-me prazerosamente entre aqueles que são titulares da Comissão. Traz V. Exª uma história de vida ligada a todo o seu Estado de Goiás. V. Exª foi realmente uma estrela luzente dentro desta constelação extraordinária da última eleição que renovou dois terços do Senado Federal. Disputou V. Exª a Presidência do Senado Federal, ao lado do Senador Pedro Simon e do Senador José Sarney - hoje nosso Presidente da Casa -, demonstrando o potencial da sua liderança. Neste instante do seu discurso, ressalto exatamente o que considero muito bonito na vida do homem público: a identificação do homem com a terra. Fala V. Exª do Planalto Central como "a grande tenda" dos seus ideais, esta região que é a sua saga e o seu destino. O Estado de Goiás sente-se muito feliz por ver que o grande político nacional, Iris Rezende, não esqueceu a terra e, no preâmbulo do seu discurso, a exaltação maior é para o Estado de origem. Cumprimento V. Exª, com muita simpatia. Sentimo-nos muito felizes por estarmos vivendo um novo instante nesta Casa. E a sua construção, o seu jeito de imprimir à vida pública a seriedade que ela merece não nos deixa dúvida de que marcará o novo comportamento dos novos Senadores e do novo Senado. Parabéns, Senador Iris Rezende, é muito bonito ver que, acima de tudo, o homem, principalmente o homem público, é a imagem dos seus, é, acima de tudo, aquele que tem amor acendrado à sua origem. Louvo seu discurso nesse preâmbulo, tendo a certeza de que o fechamento dessa oração estará, por certo, à altura de sua inteligência e do seu inestimável valor, já patenteado a nível nacional.

O SR. IRIS REZENDE - Agradeço a V. Exª, nobre Senador Elcio Alvares. Permita-me V. Exª incorporar o seu aparte ao meu discurso, embora reconheça que grande parte das suas referências a minha pessoa se deve a um homem cuja vida se pauta pela generosidade.

No curto espaço de tempo de menos de 39 anos, o Planalto Central converteu-se em um pujantíssimo centro irradiador de progresso.

O papel que vem desempenhando Brasília no desenvolvimento do Brasil ainda não mereceu dos nossos sociólogos, economistas e historiadores a atenção de estudos condignos. Uma das verdades que estudos dessa ordem encontrariam é que Brasília - um sonho nacional de quase dois séculos - conferiu ao Brasil o seu verdadeiro tamanho: entregou ao Brasil a posse de si mesmo. Pode-se dizer que a História do Brasil tem, após a chegada dos primeiros colonizadores, em 1531, dois acontecimentos decisivos: a Independência, em 1822 e a inauguração de Brasília em 21 de abril de 1960.

A história do Brasil se divide em dois períodos principais: antes e depois de Brasília.

Diga-se, de passagem e entre parênteses, para o efeito de estabelecer uma verdade - e uma justiça - histórica, que foram os goianos, mormente a partir da Assembléia Nacional Constituinte de 1891, os principais, e muitas vezes solitários, defensores da idéia da mudança da capital federal para o Planalto Central do Brasil. É esse um capítulo da História do Brasil que ainda não foi escrito, mas que certamente o será, algum dia.

Graças a Brasília, o Brasil vai deixando, rapidamente, de ser aquele País dividido contra si mesmo - o Brasil do litoral voltado para a Europa, e o Brasil do interior isolado por 300 anos de esquecimento, abandono, pobreza, atraso e solidão.

Brasília vem deslocando, aos poucos, para o centro do País o eixo da vida político-administrativa nacional. Em conseqüência, passaram os brasileiros do interior a ter uma voz mais ativa nos debates e na busca de soluções dos problemas do Brasil. E homens - e mulheres - que antes das novas oportunidades criadas por Brasília não poderiam, de modo algum, aspirar a essa participação, e eu me incluo entre eles, passaram a poder fazê-lo.

Provém das poderosas forças da História que confluíram para fazer surgir a solução Goiânia e a solução Brasília o meu compromisso político - que é um compromisso histórico. Atuam dentro de mim, a um tempo obscuramente e claramente, nos subterrâneos do inconsciente e nos patamares iluminados da consciência, os determinantes exemplos de vida de Pedro Ludovico Teixeira, que tanto lutou e que muito fez pelo desenvolvimento de Goiás, proporcionando oportunidades às camadas mais humildes da sua população, e propiciando a efetiva incorporação da região goiana ao processo geral da vida brasileira, e de Juscelino Kubitschek de Oliveira, que, sendo ele próprio homem de humílima origem social, realizou uma obra que pode ser vista sob inúmeros ângulos, mas que, neste instante, contemplo sob o ponto-de-vista do seu papel e efeito redentores para os milhões de deserdados do interior do Brasil. Um Brasil marginal, que convivia com o Brasil oficial do litoral, num contraste que foi a principal motivação da formidável denúncia e protesto formulados por Euclides da Cunha no seu grande livro Os Sertões.

Foi nesse Brasil deserdado que eu apareci no mundo. Dentro dele, sem jamais dele ter saído senão para cumprir compromissos e obrigações de homem público, me construí a mim mesmo.

O Sr. Jader Barbalho - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. IRIS REZENDE - Com muito prazer.

O Sr. Jader Barbalho - Senador Iris Rezende, cumprimento V. Exª, que brinda o Senado nesta tarde com um pronunciamento a respeito da história da sua terra, da grande Goiás, dos bandeirantes do Brasil Central, daqueles que, efetivamente, colonizaram, ocuparam e fizeram o desenvolvimento do Centro do Brasil. Foram os seus conterrâneos. E os seus conterrâneos, inclusive, em grande parte viabilizaram também o desenvolvimento de outras regiões, inclusive do meu Estado, o Pará.

A presença dos goianos, atravessando o rio que fazia os nossos limites, o Araguaia, muito contribuiu para o desenvolvimento do sul do meu Estado. Atualmente já não há limites porque Goiás se dividiu para fazer nascer o Estado do Tocantins. Ficamos sensibilizados ao ouvir a manifestação de V. Exª na crença do desenvolvimento do Brasil a partir do exemplo que é o Estado de Goiás. Quero, caro companheiro Íris Rezende, manifestar os cumprimentos ao Senado Federal por ter V. Exª como um dos seus integrantes. V. Exª é o protótipo do homem público que o País precisa, fez carreira e honra-se de ser político; V. Exª, apesar de tragado num determinado momento pelo arbítrio e pela violência política, por ser um político nato e por ser reconhecido pelos seus méritos, pelos seus coestaduanos, voltou à vida pública e teve a oportunidade de duas vezes governar o seu Estado, exercer o cargo de Ministro da Agricultura e ser reconhecido pelo Brasil pelos resultados que alcançou à frente do Ministério da Agricultura. As duas vezes em que governei o meu Estado foram exatamente nos períodos em que V. Exª governou também. Como seu colega, tive a honra de haver recebido sempre da sua parte manifestações da mais elevada solidariedade para com o povo do meu Estado. Assim, quero cumprimentá-lo pelo discurso que faz, que seria o discurso inaugural da presença de V. Exª na tribuna do Senado. Como foi dito há pouco pelo Senador Elcio Alvares, desde o primeiro momento, V. Exª ocupou um posto fundamental nesta Casa, que é o de Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, onde vem brindando a todos nós com a sua competência e com o seu discernimento. Quero, em meu nome e creio que em nome de toda a Bancada, festejar o fato de Íris Rezende integrar a Bancada do PMDB no Senado da República.

O SR. IRIS REZENDE - Muito obrigado, Senador Jader Barbalho. O aparte de V. Exª muito me honra, e não me surpreende a sua solidariedade, uma vez que nos acostumamos, ao longo da vida pública - como bem disse, governadores por duas vezes juntos: eu em Goiás e V. Exª no Pará -, sempre juntamos as nossas forças na defesa dos interesses do Centro-Oeste e do Norte, uma vez que metade do território goiano integrava o Norte deste País. Peço também a V. Exª que o seu aparte integre o meu discurso, a fim de valorizá-lo ainda mais.

Como dizia, em Goiás, formei e desenvolvi minha consciência do mundo, da vida, dos problemas da vida e das suas soluções, em meio e através de incessantes lutas e esforços. A partir da minha origem e formação de homem do interior do Brasil, tive sucessivas oportunidades de, em contato com as outras partes do nosso País, e com outros países e culturas, poder alargar, cada vez mais, minha visão das coisas.

Minha trajetória de político - parlamentar e principalmente administrador público - sempre partiu da experiência prática para o conhecimento que ilumina a experiência. Sempre acreditei na força das intuições fundadas no tirocínio corajoso construído no desassombrado enfrentamento dos problemas e das tarefas. Nunca adiei a realização de tarefas. E nunca vacilei em pôr em prática as soluções intuídas como as adequadas.

Venho para o Senado Federal, devo dizê-lo, trazido por um partido político, o PMDB, que congrega e bem representa a mais progressista corrente de pensamento e de ação política atuante em Goiás há mais de cem anos.

O PMDB é o partido que sucedeu ao MDB e ao PSD. A corrente política estadual aglutinada e representada nesses partidos é a mesma que, já no século passado, preconizou a mudança, para um outro sítio mais favorável, da Capital da Província, que se encontrava, desde os primeiros tempos da capitania, na tradicional e estremecida cidade de Goiás, a antiga Vila Boa fundada pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o segundo Anhangüera; a mesma que lutou pela abolição e pela República; a mesma que implantou em Goiás, no início deste século, uma das mais antigas e tradicionais academias de Direito do Brasil; que pugnou pela extensão da estrada-de-ferro, que terminava no Triângulo Mineiro, ao Estado de Goiás; que começou, na Assembléia Nacional Constituinte de 1891, a lutar pela mudança da Capital Federal para o Planalto Central do Brasil e, que, nas décadas seguintes, esteve sempre engajada, precursoramente, no esforço nacional de se construir a nova Capital do Brasil em território goiano; que participou da renovação política e econômica conseqüente da Revolução de 1930, e, principalmente, da luta pela construção de Goiânia, a partir de 1933; que promoveu a abertura de estradas rodoviárias e a construção das usinas hidrelétricas de Rochedo e de Cachoeira Dourada, provendo Goiás - e, por alguns anos, Brasília - da indispensável e inadiável eletrificação.

Em síntese, Sr. Presidente, pertenço à corrente política que vem lutando em Goiás, há mais de 150 anos, pelo objetivo de romper o isolamento geográfico, econômico, político, cultural e psicológico em que, durante mais de 200 anos, vinha vivendo não somente o povo goiano, mas a imensa maioria do povo brasileiro habitante do interior do País. Corrente política que, no âmbito nacional, tem prestado imensos serviços ao Brasil; entre os quais, basta citar a recente redemocratização da nossa vida política. O PMDB lutou, tenazmente, pelo restabelecimento das eleições diretas de governadores e do Presidente da República; e pela convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte. E devo assinalar que foi em Goiânia que se realizou o primeiro comício público da campanha das Diretas-Já.

Sou, com muita firmeza, um homem partidário, um político fiel e leal a esta corrente política a que pertenço desde que me elegi vereador à Câmara Municipal de Goiânia, em 1958.

A minha experiência política e social de goiano responde por meu entranhado e constante otimismo.

O goiano se acostumou, com a sua intensa experiência deste século, a julgar que o Homem pode mudar o curso da História. Goiás e todo o Centro-Oeste, em menos de 60 anos, deram um altíssimo salto econômico, cultural, social e político. Não há outra região, repito, em nenhum país do mundo, que tenha vivido uma transformação tão rápida e tão profunda e em tão pouco tempo, como o Centro-Oeste brasileiro.

O Sr. Humberto Lucena - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. IRIS REZENDE - Concedo o aparte com muita honra ao nosso Senador, companheiro e ex-Presidente desta Casa, Humberto Lucena.

O Sr. Humberto Lucena - Permaneci em plenário, adiando compromissos no meu gabinete de apoio parlamentar, para ouvir pelo menos a parte inicial do discurso de V. Exª, que assoma a essa tribuna para fazer um pronunciamento da maior importância para esta Casa. V. Exª realmente merece todas as nossas homenagens, não só de todos os Senadores que conhecem V. Exª de perto pela sua trajetória na vida pública nacional, mas, particularmente, nós, do PMDB, que temos em V. Exª uma das nossas maiores lideranças pela sua firmeza de posições, pelas suas atitudes, pela sua coerência política e pelo seu dinamismo administrativo. V. Exª realmente pertence a um grupo de homens públicos em Goiás que fizeram, por assim dizer, a história gloriosa daquele Estado. V. Exª lembra os tempos áureos do velho PSD de Pedro Ludovico e depois do MDB, que juntos fundamos, com tantos outros, nesta Casa, na hora da resistência ao arbítrio institucionalizado no movimento militar de 1964, da qual não só V. Exª foi vítima, mas também dois outros goianos ilustres: Mauro Borges e Pedro Ludovico. Lembro-me bem, nobre Senador Iris Rezende, de que ainda era Deputado Federal, quando participei da nossa grande resistência na Câmara dos Deputados para evitarmos, no Governo Castello Branco, a aprovação da proposição que decretava a intervenção no Estado de Goiás, de caráter nitidamente político. Naquele instante, como se lembra V. Exª, engrandeceu-se perante o País a figura de Mauro Borges, então Governador do Estado, que opôs tenaz resistência em nome do povo goiano àquela iniqüidade afinal aprovada no Congresso Nacional, graças à situação de ditadura militar que se instalava no Brasil. Mas quero, sobretudo, em V. Exª, exaltar o político coerente e digno que sempre honrou seu partido, que nunca negou apoio e solidariedade às candidaturas do PSD, MDB e PMDB. Foi em Goiânia, na época, V. Exª como Governador do Estado, que iniciamos o grande movimento das Diretas Já e lá, em seguida, fizemos o primeiro comício pela candidatura de Tancredo Neves, para implodirmos, logo depois, o Colégio Eleitoral, como única forma de retomarmos o poder civil no Brasil. Quero, ainda, exaltar a figura de V. Exª como governante, administrador dinâmico, dirigente da coisa pública que criou a figura do mutirão para a construção das casas populares. Com isso V. Exª ganhou um nome nacional e passou a integrar, no coração do povo brasileiro, sem dúvida nenhuma, um lugar muito próprio daqueles que fazem do bem comum um dos objetivos maiores da sua vida pública. Eu quero saudar, portanto, V. Exª, neste instante, na tribuna do Senado, e desejar que, a exemplo do que ocorreu no Executivo, V. Exª, também no Legislativo, tenha sempre iniciativas importantes. Desejo ainda que V. Exª deixe aqui, como deixou no Executivo de Goiás, como deixou no Executivo Federal ao exercer o Ministério da Agricultura no governo José Sarney, a sua presença marcante e inconfundível de patriota, de homem público competente e de grande espírito público. Meus parabéns a V. Exª.

O SR. IRIS REZENDE - Muito obrigado, Senador Humberto Lucena. Será sempre para mim motivo de alegria e de honra receber um aparte de V. Exª, cuja história política identifica-se e confunde-se com a própria história do PMDB. Peço a V. Exª permissão para que o seu aparte passe a integrar o meu pronunciamento desta tarde.

O Sr. Esperidião Amin - Senador Iris Rezende, V. Exª me concede um aparte?

O SR. IRIS REZENDE - Ouço-o com muito prazer, Senador Esperidião Amin.

O Sr. Esperidião Amin - Eu serei muito breve, Senador Iris Rezende, em função dessa nobilíssima plêiade de Senadores que desejam aparteá-lo. Quero apenas me associar às expressões de júbilo pela sua manifestação, pelo seu pronunciamento, que não é o primeiro, porque já teve oportunidade, S. Exª, de se pronunciar através de atos, ações e atitudes que já contribuíram para o bom desenvolvimento tanto dos trabalhos do Senado quanto, especialmente, da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania que V. Exª preside com tanta proficiência. Mas, o que quero dizer pode se resumir a um bem-vindo, bem-vindo com a experiência, bem-vindo com o entusiasmo, bem-vindo com o espírito criativo e com a capacidade de iniciativa que tive a honra de conhecer, não há muito tempo, mas há doze anos, quando juntos assumimos, V. Exª no Estado de Goiás e eu no Estado de Santa Catarina, os destinos das unidades da Federação onde estão localizados os nossos domicílios. O Senado e a sociedade brasileiros certamente se beneficiarão desse atributos que todos lhe reconhecemos e com certeza são os grande fiadores do desempenho de V. Exª nesta Casa.

O SR. IRIS REZENDE - Muito obrigado, Senador.

O Sr. Ademir Andrade - V. Exª me concede um aparte?

O SR. ÍRIS REZENDE - Com todo prazer, Senador Ademir Andrade.

O Sr. Ademir Andrade - Senador Iris Rezende, o nome de V. Exª é conhecido por todo esse País há muito tempo. Eu iniciava na política quando já ouvia falar em V. Exª e o conheci mais de perto aqui nesta Casa, na nossa Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania do Senado. Quero dar o testemunho do eficiente trabalho, do correto trabalho que vem desempenhando V. Exª naquela Comissão, interessando-se para que, efetivamente, a mesma funcione, para que os Srs. Senadores compareçam, para que os processos sejam agilizados, de forma a darmos uma satisfação à opinião pública brasileira e a ela mostrarmos que este Senado tem vontade de trabalhar, de fazer alguma coisa. Fico feliz em vê-lo na tribuna, fazendo um pronunciamento a respeito de sua região, de sua história política. Quero apenas lhe desejar muito sucesso. Que o seu trabalho venha a ajudar a melhorar a vida do povo brasileiro! Era o que tinha a dizer. Muito obrigado.

O Sr. Pedro Simon - Permita-me V. Exª um aparte?

O SR. IRIS REZENDE - Concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Pedro Simon - Senador Iris Rezende, não é preciso dizer com que admiração e carinho recebo esse esperado e importante pronunciamento de V. Exª neste momento. Eu me emociono ao ver a análise que V. Exª faz, o tema que V. Exª escolheu para o seu grande pronunciamento, para iniciar a sua vida aqui nesta Casa: o seu Goiás. Não poderia ser diferente. Provavelmente, no final desse pronunciamento e em outros, V. Exª haverá de analisar as várias questões do nosso País, das diversas regiões do nosso Brasil. Mas V. Exª tinha que começar pelo seu Goiás, pela sua história, pela sua biografia, por esse Centro-Oeste, que, ao longo da História, representou um grande caminho no desenvolvimento deste País. Tenho dito, nobre Senador Iris Rezende, que as comparações entre o Brasil e os Estados Unidos não são feitas apenas no sentido de dizer que os americanos são gênios e que nós somos incompetentes. Os americanos tiveram algumas vantagens e uma facilidade inicial com relação ao território e, nós, algumas dificuldades, o que exigiu mais tempo para serem superadas. Não tenho nenhuma dúvida com relação ao nosso futuro; haveremos de chegar lá, mas os nossos caminhos foram muito mais difíceis. Nos Estados Unidos, não apenas o petróleo foi achado quando tentavam encontrar água num poço artesiano; nós o buscamos, com a mais moderna tecnologia, a milhares de metros no fundo do mar. A conquista do oeste, nos Estados Unidos, com o Atlântico, com o Pacífico, com o Golfo do México, com o Mississipi e com o Missouri foi em direção ao centro e lá foram encontrar as Montanhas Rochosas. Aqui no Brasil, saindo da costa atlântica, encontra-se a Serra do Mar, pela qual seria feito o transporte, subindo-a e descendo-a, para depois encontrar-se um Brasil fantástico, que estava do lado de lá, muito mais importante e muito mais significativo que o Brasil do lado de cá, inclusive. V. Exª está demonstrando que certa ou errada, a marcha para o oeste foi importante para o Brasil. V. Exª e uma multidão de gente fantástica, os goianos, não ficaram apenas à espera da vinda do homem do mar para criar, para desenvolver, para prosperar e para avançar. V. Exª está fazendo um chamamento para a biografia daqueles que, ali nascendo e se desenvolvendo, ali viram e previram, como é o caso de Goiânia - antes do que seria Brasília -, o que seria, o que poderia ser e o que haveria de ser isso que será o grande e o extraordinário desenvolvimento do Brasil, que passa por Goiás e que passa pelo Centro-Oeste. Tenho, V. Exª sabe, um carinho muito grande por V. Exª.

O SR. IRIS REZENDE - É verdade.

O Sr. Pedro Simon - Tenho uma admiração muito profunda por V. Exª, que é um homem de bem, é um extraordinário chefe de família. V. Exª é um homem de fé, e sou um homem de fé; V. Exª é um homem de princípios, e sou um homem de princípios; V. Exª é - eu não o sou - um grande político eminentemente popular. Não quero usar, nobre Senador, esta expressão, senão no mais profundo respeito: V. Exª é o grande líder populista de Goiás. Andei, várias vezes, com V. Exª por esse Estado e vi o carinho, o respeito, o afeto e a admiração que aquela gente tem por V. Exª. Caso típico no Brasil de hoje, V. Exª está invicto aqui, é único; não temos parelha com V. Exª. Foi Vereador, Deputado, Presidente da Assembléia, Prefeito em Goiás e, no arbítrio e na violência, tiraram-lhe o mandato. Mas V. Exª voltou pelo voto popular. O importante é que, em nenhum outro partido ou Estado, ocorre como em Goiás: em 1982, V. Exª venceu as eleições; em 1986, quem V. Exª indicou; em 1990, V. Exª; em 1994, quem era apoiado por V. Exª. Esse é um fato do qual não temos similar, do Rio Grande do Sul ao Amazonas; é um caso atípico. Em outros Estados, temos a mesma agremiação partidária, mas não conseguiu vencer quatro vezes; chegou-se a três, e não com a mesma pessoa apoiando o candidato. V. Exª, em determinado momento, deixou o Governo de Goiás e veio a ser Ministro da Agricultura. Foi muito importante a participação de V. Exª, porque, até então, os Ministros da Agricultura eram originários dos Estados do Rio Grande do Sul ou do Paraná, dos grandes Estados agrícolas, celeiros do Brasil. V. Exª, representando o Centro-Oeste, chamou a atenção para a necessidade de a agricultura ser intensiva porque no mundo inteiro essa atividade é cada vez mais intensiva, moderna e revolucionária no sentido de, em menor quantidade de terras, buscar maior quantidade de produtos, mas, ao mesmo tempo tem que ser extensiva porque temos áreas enormes como os Estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso, enfim, esse Centro-Oeste que precisa ser cultivado porque ele será o grande celeiro, o fator de crescimento, de explosão e de garantia de alimentação para o século vindouro. V. Exª, na sua Pasta, chamou a atenção do Presidente do Brasil e da imprensa nacional. Dizem que não há produção agrícola como deveria haver. Em primeiro lugar, tem produção, tem mais até do que os senhores imaginam; em segundo lugar, se não há tanto quanto poderia ser é porque o Brasil ainda não descobriu o imenso potencial de que dispõe. Vários gaúchos saíram do meu Estado e foram para Goiás e Mato Grosso, percorreram aquelas regiões dentro dessa nova realidade de produção agrícola. Certa vez, fui com V. Exª e o ex-Ministro Lázaro Barboza até sua fazenda para conhecê-la e lá vi uma produção que me pareceu interessante em termos da dupla cultura que V. Exª introduziu: arroz e soja. V. Exª foi candidato, em uma convenção, à Presidência da República; na ocasião, ganhou o Dr. Ulysses Guimarães. Não houve nenhum problema. V. Exª arregaçou as mangas, Senador Iris Rezende. V. Exª foi candidato à Presidência do Senado, poderia ter ganho, mas não ganhou. V. Exª é o mesmo, é um homem de idéias, de princípios e de partido. Quando o nome de V. Exª esteve em jogo, diretamente ligado ao povo, V. Exª sempre ganhou. Isso é que é importante. Por onde V. Exª passou, quer ministério, quer prefeitura, quer assembléia, quer Câmara de Vereadores, quer governo de estado, deixou suas marcas, tais como: seriedade, integridade e preocupação com o social. Os mutirões para construção de casas populares que V. Exª idealizou, o Jornal Nacional os noticiou para todo o Brasil. Aquilo foi uma bofetada na Nação, pois nos deu uma demonstração do que pode ser feito. Claro que sim! Até hoje lá estão as casas feitas no governo de V. Exª. Aí está a demonstração. Com que alegria e emoção o povo participa da construção de suas próprias casas. A construção é bem barata. Claro que nas casas que V. Exª construiu não apareceu qualquer empreiteira, qualquer organização que ganhasse grande fortuna. As casas eram singelas, simples, não eram grandes edifícios com 300, 400 ou 1000 apartamentos. Eram casas simples em que não se gastava muito dinheiro. Não havia gasto com mão-de-obra, pois os engenheiros do seu governo orientavam as pessoas. As famílias se organizavam e construíam as casas. Não havia desvios de materiais pois cada um fazia o seu controle de material. Eu mesmo andei com V. Exª e vi a fiscalização sendo exercida por eles. Eles tinham a sua orientação nesse sentido: como é que é, quanto é, chegou, não chegou; se o material não chegou, como isso ocorreu. A fiscalização era deles, porque eles estavam ali construindo seu lar, seu futuro, seu sonho, sua realização como família. Por isso, fiquei aqui especialmente para assistir ao discurso de V. Exª e trago-lhe o meu carinho, o meu abraço, Senador Iris Rezende, na convicção de que V. Exª é uma das pessoas pelas quais temos de ter respeito. Podemos ter várias questões, podemos divergir, ter pensamentos diferentes, mas temos que honrar na vida pública aqueles que ao longo do tempo vêm fazendo tudo para que sejam honrados. Meu carinho e meu abraço a V. Exª.

O SR. IRIS REZENDE - Muito obrigado. A esse amigo cuja amizade se consolidou, assumindo ele e eu responsabilidades administrativas em nossos respectivos Estados, Senador Esperidião Amin, agradeço o aparte.

Gostaria de agradecer também o aparte ao Senador Ademir Andrade, esse jovem que passei a admirar desde suas lutas estudantis, cujos princípios e objetivos se confundem com os nossos objetivos, com os nossos princípios.

Agradeço as palavras que, na verdade, me emocionaram profundamente do Senador Pedro Simon, que não é apenas um companheiro de Partido. V. Exª é muito mais do que isso. É um irmão político, irmão de lutas, irmão de fé, irmão de confiança no futuro do Brasil. Sempre estivemos juntos, e tenho certeza de que estaremos sempre juntos, até que um dia possamos proclamar que os nossos objetivos foram alcançados e que fizemos deste País uma grande Nação. Agradeço as suas palavras e quero mais uma vez dizer que um dos motivos da minha alegria em estar no Senado é estar muito perto de V. Exª.

O Sr. Ramez Tebet - V. Exª permite-me um aparte?

O SR. IRIS REZENDE - Com muito prazer, Senador Ramez Tebet.

O Sr. Ramez Tebet - Senador Iris Rezende, quero unir-me às vozes dos demais Srs. Senadores para saudar V. Exª nesta tarde, e o faço também como um homem do Centro-Oeste. Parece até que a tarde de hoje é a tarde do Centro-Oeste. Não tive o prazer de estar presente aqui quando falou o Senador José Roberto Arruda, do Distrito Federal; mas quero dizer da grande admiração e do grande apreço que tenho por V. Exª, que foi meu contemporâneo, governando Goiás, quando também eu, por dez meses, governava o Estado do Mato Grosso do Sul, haurindo as lições da grande administração que V. Exª realizava em Goiás. O nome de V. Exª não pertence só a Goiás: pertence ao Centro-Oeste, pertence ao Brasil. V. Exª teve a delicadeza - lembro-me bem -, na campanha de 1986, de atravessar a fronteira de Goiás e chegar ao meu Estado e, juntos, no mesmo palanque, pudemos defender os ideais da democracia, da liberdade e da justiça social no nosso País. Lembro-me até da expressão de um companheiro humilde do interior, de uma cidade chamada Cassilândia - e V. Exª deve lembrar bem -, quando V. Exª transpirava, e alguém dizia: "Veja como o Governador Iris Rezende transpira!" E outro respondeu: "Transpira de civismo, transpira de patriotismo, transpira de amor ao Brasil." Quero, portanto, saudá-lo efusivamente, se fui seu contemporâneo de administração, se fui seu contemporâneo também de lutas políticas - recordo-me - num instante difícil da vida nacional; parece que Goiás foi o primeiro Estado da Federação, ao juntar mais de 50 mil pessoas em praça pública, a gritar pelo restabelecimento da democracia em nosso País. Também tive o prazer de estar lá presente e, agora, tenho a felicidade de conviver com V. Exª no Senado, sob sua Presidência na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, trabalhando incansavelmente. Também V. Exª demonstra que realmente tem tudo a dar e vai fazê-lo, e o Senado e a Nação brasileira esperam a grande contribuição que V. Exª vai continuar prestando para o bem-estar social da população não somente do Centro-Oeste, mas também de todo o Brasil. De sorte que Mato Grosso do Sul, pelo minha humilde voz, se congratula com V. Exª, que hoje estréia na tribuna do nosso Senado.

O SR. IRIS REZENDE - Muito obrigado, Senador Ramez Tebet.

Muito me honra e me agrada o aparte de V. Exª, uma vez que aqui chegamos juntos e juntos estaremos mostrando ao Brasil as potencialidades do Centro-Oeste e a necessidade de que este País volte sua atenção para essa Região que, indiscutivelmente, será a grande responsável pela solução dos problemas que afligem a população brasileira.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, chego ao Senado imbuído de uma viva e determinante consciência da urgência de se resolverem os grandes problemas brasileiros. Espero ajudar o Senado a contribuir, com a sabedoria da sua maturidade, no encontro das soluções.

Assembléia dos Estados membros da Federação, o Senado reúne, tradicionalmente, pessoas que bem conhecem os problemas da sua terra. Muitos de nós aprendemos a amá-la e a estremecê-la mediante penoso tirocínio na chefia do governo do seu Estado.

O Senado é uma assembléia de representantes dos Estados. Aqui se realiza o necessário e indispensável equilíbrio da Federação brasileira. Aqui não existem Estados ricos e Estados pobres. Somos iguais.

Tenciono desempenhar, nesta Casa, o papel de quem sabe seguir os melhores exemplos de comportamento. Não quero me constituir em exemplo, senão o de ser alguém que, com a devida humildade, procura escolher bem seus modelos de comportamento pessoal e político.

A primeira lição que procurarei pôr em prática é a daqueles Senadores que se caracterizaram no passado, e se caracterizam no presente, por sua dedicação ao trabalho: pela assiduidade aos deveres quotidianos. Outras lições, mais difíceis do que a primeira, me nortearão: as de produtividade, de amor ao trabalho, de amor à Nação, de patriotismo, e de sabedoria política.

Não podemos falhar às melhores e mais sadias expectativas do povo brasileiro em geral e, em particular, às do povo de cada um dos Estados que nos elegeu.

O Brasil inteiro nos contempla, nos examina, nos vigia. E clama por boas, construtivas, sábias e benéficas ações por parte dos seus representantes no Congresso.

Trago para o Senado uma atenta e aguda consciência de que o Poder Legislativo, juntamente com os demais Poderes do Estado, se encontra em profunda crise. A crise particular do Legislativo - a crise dos Parlamentos - é uma das características da nossa época. V. Exª, Sr. Presidente - reporto-me ao Senador José Sarney - referiu-se com muita propriedade, a essa grave questão, no seu discurso de posse na Presidência desta Casa. Para dirimir ou superar essa crise, não basta aos Parlamentares a autocorreção na assiduidade e dedicação ao trabalho. Essa autocorreção é indispensável, e certamente produziria, se realizada devidamente, salutares efeitos sobre a vigilante consciência política da Nação; mas ela não é, em si, bastante para conferir ao Congresso a confiança da Nação.

A crise do Parlamento é mais profunda.

Para ser totalmente útil e para desempenhar um papel determinante na direção histórica da vida nacional, o Congresso precisa exercer seus poderes na plenitude deles, sem abdicar de nenhum. Desnecessário acrescentar que precisa exercê-los bem. Além de legisladores, função que devemos aprender a cumprir com a devida celeridade reclamada pela urgência dos problemas, embora sem fazer concessões a qualquer espécie de improvisação, temos a faculdade e o dever de ser fiscais da atuação do Poder Executivo. Nessa qualidade, não podemos, nós, os Parlamentares, esmorecer ou nos distrair: temos de ser rigorosos, severos, atentíssimos, exigentíssimos.

As reformas que forem precisas, devemos ter a coragem de as fazer, a fim de prepararmos o Estado brasileiro para ser eficiente - com desenvoltura e rapidez e com o menor custo possível para a Nação.

Espero e tenciono me integrar ao esforço de todos os Senadores para dinamizar a atuação desta Casa, que é um templo de ponderação e sensatez - de que tanto necessita a Nação para encontrar os seus verdadeiros caminhos históricos.

Um dos nossos objetivos deve ser o de conduzir o Parlamento a recuperar - mais do que recuperar, conquistar a total confiança do povo brasileiro. Esse desideratum é de suprema importância, pois a confiança do povo nos seus representantes no Parlamento é uma garantia da democracia. E fora da democracia não há salvação - sabemo-lo todos muito bem.

Impõe-se também ponderar que muito do que se censura e condena na vida quotidiana do Congresso Nacional expressa e testemunha um grave desconhecimento, por grande parte da sociedade, não apenas do verdadeiro papel do Congresso, mas também do muito de positivo que aqui se realiza. Por conseguinte, é de todo conveniente que colaboremos com as Mesas Diretoras das duas Casas do Congresso para que encontrem meios de tornar a sociedade bem informada sobre a atuação dos congressistas. Esse é um importantíssimo ponto. Não podemos permitir que a sociedade continue tão desinformada sobre as atividades do Congresso. Mantendo-a bem informada, prevenir-se-á esse grande erro, essa grande injustiça, esse grande perigo para a democracia que é a equivocada e errônea opinião condenatória que a falta de informação leva a sociedade - o povo brasileiro - a formar a respeito do Congresso Nacional do Brasil, que é uma direta emanação do povo.

Pertenço a uma geração que aprendeu a cultuar o sentimento e o amor da nacionalidade como um valor preponderante na vida do cidadão - e, mais ainda, na dos representantes do povo, dos seus agentes políticos, dos seus administradores. O critério da utilidade e conveniência aos interesses da preservação da nacionalidade brasileira será, invariavelmente, um dos critérios das minhas escolhas, que serão, certamente, difíceis, mas que efetuarei sem vacilar, após a devida e prévia reflexão.

É também um dos meus objetivos contribuir para que a mudança da Capital Federal para Brasília venha a completar-se o mais brevemente possível. A Constituição Federal declara, em perfeita síntese: "Brasília é a Capital Federal". A Constituição existe para ser cumprida. A não ser os órgãos que por sua natureza convém continuem no Rio de Janeiro, todos os demais devem ser removidos, imediatamente, para Brasília.O Brasil não pode e nem deve ter duas capitais.

Assinale-se, por oportuno, ainda que incidentalmente, que a grave crise político-administrativa que este País atravessou, em meados da década de 1960 (e que culminou no golpe político-militar de abril de 1964), se deveu, em grande parte, a um fator ainda não devidamente estudado: a bicefalia político-administrativa em que ficou este País, a partir de 1960. Durante mais de 10 anos depois de inaugurada, Brasília permaneceu uma capital quase meramente nominal, com quase todos os órgãos federais ainda enraizados no Rio de Janeiro. Correlativamente, note-se que - e isso também ainda não foi devidamente estudado -, o Brasil entrou numa fase de progressiva estabilização institucional à medida que - e na medida em que - a capital federal se veio transferindo para esta privilegiada situação geográfica que é o Planalto Central.

Completar a mudança da capital federal para Brasília é um dever que deve ser cumprido, a fim de que a repartição e distribuição do desenvolvimento nacional se façam com equidade entre todas as Regiões de que se compõe o nosso grande País.

Brasília, além de não ter produzido, ainda, todos os benefícios que é capaz de causar e ocasionar, gerou alguns problemas. Os problemas do chamado Em-Torno a mim me preocupam muito; e tudo farei para ajudar a solucioná-los.

No esforço de ajudar a completar-se a mudança da Capital Federal para Brasília, espero e tenciono atuar na mais estreita e leal colaboração com os nobres representantes do Distrito Federal no Congresso Nacional, em particular com os seus Senadores.

Graves são os problemas que nos desafiam a argúcia e a capacidade, na presente fase histórica atravessada pelo Brasil.

O Brasil cujos desafios se apresentam a esta geração não é mais o Brasil de pouco tempo atrás. Nosso país tem se transformado muito depressa, de modo que os problemas não resolvidos têm mudado de volume e complexidade. Depois de ter crescido e se desenvolvido em uma escala e velocidade causadores de admiração, o Brasil, agora, o de que precisa, é de ordenar a sua vida social, política, econômica e administrativa. A maior parte do Brasil ainda é muito pobre e atrasada. Nessa maior parte, urge acelerar o desenvolvimento - com justiça social, é claro, pois a justiça não é algo que deva ou possa ser adiado em nome da prioridade do desenvolvimento.

O esforço de ordenamento da vida social e econômica impõe uma corajosa - e persistente - ação das várias forças políticas e sociais brasileiras no sentido de encontrar as devidas e adequadas soluções.

O gravíssimo e antiquíssimo problema da educação do povo brasileiro precisa ser atacado com coragem, decisão, definidos e sinceros propósitos. Quanto a esse ponto, devemos confiar no atual governo chefiado por um homem que conhece, bem, inclusive por sua vivência de professor, esse problema. Precisamos colaborar, de todos os modos e formas, com o Presidente Fernando Henrique Cardoso, para que se realize um mutirão nacional que tenha por objeto e fim, principalmente, a redenção do homem brasileiro por meio da educação, de uma eficaz e adequada educação, a qual precisa, além de eliminar o analfabetismo, proporcionar a oportunidade de formação superior, nas universidades públicas, à parcela da nossa juventude economicamente desfavorecida.

Um dos graves problemas nacionais, senão o mais grave, na atualidade, é o da violência social representada pelas diversas formas de criminalidade.

Esse é um problema que pode ser comparado à presença e ação de um câncer no organismo humano. Na verdade, ele é somente a ponta de um iceberg, se me permitem esta já gasta metáfora.

As recentes medidas governamentais de caráter repressivo têm-se demonstrado ineficazes.

O de que necessita o País, nesse particular, é de soluções que vão à raiz dos problemas. Elas incluem uma ação global e planificada, executada durante longo prazo, com constância, a fim de se resolverem os gravíssimos problemas das desigualdades regionais e da falta de emprego, causadores dos êxodos populacionais que produzem perigoso excesso de população nas nossas grandes cidades.

Urge intervenha o Estado nas direções em que se fazem os nossos fluxos migratórios internos. Esse é um dos pontos em que a interferência do poder público é de vital importância e assume um caráter decisivo na condução dos acontecimentos. Não podemos deixar essa questão entregue à inércia do sistema do laissez-faire, laissez-passer, com o Estado se abstendo de atuar, como mero e passivo espectador do atual processo de autodestruição, de autofagia, de suicídio da nossa desorientada sociedade. Isso é absenteísmo, é omissão, e omissão muita vez constitui crime gravíssimo.

Para solucionar tal problema, urge patrocine e organize o Estado uma nova Marcha para o Oeste - uma Marcha para o Interior; pois o destino do Brasil, desde o início da nacionalidade, é o de procurar, cada vez mais, o seu vastíssimo espaço interior, para, somente assim, se realizar como Nação, como civilização, como cultura.

Não somos daqueles que se deixam seduzir por fórmulas milagrosas, genéricas, que se convertem, sem o prévio exame e meditação, em indiscutidos slogans governamentais. Assim, para dar um exemplo, a questão das privatizações das empresas estatais, ou de economia mista, ou públicas. A prudência recomenda que a decisão de privatizar seja tomada caso por caso, empresa por empresa, a fim de que não se cometam erros nas escolhas. A economia nacional é assunto delicado demais para ser tratado sem os devidos cuidados dos convenientes discernimentos.

A inflação, um problema que desafia, há longo tempo, a nossa capacidade político-administrativa, não se resolve apenas mediante leis e portarias e decretos. A inflação não será vencida enquanto não nos empenharmos na luta pelo constante aumento da produção - agrícola, fundamentalmente, e da industrial, também importantíssima. Temos, nesse ponto, de compreender que se impõe à Nação um comportamento ditado pela união, pela unidade, pela solidariedade entre todos. Principalmente no momento presente, em que os esforços, até agora tão bem sucedidos, do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, continuadores do trabalho por ele iniciado ainda quando Ministro da Fazenda do Governo anterior, reclamam todo o apoio possível dos vários segmentos da sociedade brasileira. Apoio que, da minha parte, não lhe faltará, quanto a esse e quanto aos demais pontos da sua atuação, na qual devemos todos confiar.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores: o povo brasileiro tem sofrido demais, e imerecidamente, durante a sua história, que já vai deixando de ser a história de uma sociedade jovem. Sofreu como colônia, sofreu no Império, sofreu nas várias fases sucessivas da República. Nos últimos trinta e cinco anos, quantas decepções! quantos desenganos! A traumática renúncia do Presidente Jânio Quadros. A instabilidade do Governo João Goulart. O mais longo período de ditadura da nossa História. A morte de Tancredo Neves. A frustração trazida pelo Governo de Fernando Collor de Mello. O fracasso de sucessivos planos econômicos.

Este País precisa começar a dar completamente certo. Devemos deixar de ser o País do Futuro, como o denominou Stefan Zweig. Temos de antecipar para hoje a nossa vivência do futuro.

Para tanto, precisamos de união, de coragem, de ordem, de autodisciplina, de metas definidas por uma clara concepção do tipo de sociedade que tencionamos ser, como bem dizia o nosso digno Senador por Brasília, José Roberto Arruda, no seu pronunciamento de hoje. Precisamos trabalhar com denodo, com perseverança, com entusiasmo.

O Sr. José Roberto Arruda - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador?

O SR. IRIS REZENDE - Com muita honra, nobre Senador.

O Sr. José Roberto Arruda - Nobre Senador Iris Rezende, eu gostaria apenas de registrar a minha felicidade pessoal por ver V. Exª emprestar o seu nome, a sua experiência de vida pública em benefício dessa causa, fundamental para o País, que V. Exª chamou de marcha para o oeste. Trata-se de resgatar os ideais de Juscelino Kubitschek, a verdadeira idéia da construção de Goiânia e da construção de Brasília. Antes dos anos 50, os mapas demográfico e econômico do Brasil eram litorâneos. Vivíamos todos os brasileiros numa faixa de terra às margens do Oceano Atlântico, como que olhando os navios portugueses que voltavam do período pós-colonização ou os navios negreiros que não vinham mais. V. Exª mostra, com muita propriedade, que é fundamental para o País que tenhamos modelos de desenvolvimento regional que privilegiem regiões como a Região Centro-Oeste, que tem água abundante, solo fértil, estradas concluídas, altíssimos índices de produtividade e que precisa ser, a partir de agora, a sede de um novo modelo de desenvolvimento nacional. Fico muito feliz também, como Senador eleito por Brasília, ao ver que a liderança política de V. Exª e a sua experiência não estão mais a serviço apenas de Goiás, mas também em favor de uma causa maior que aquela do seu estado, que é a do desenvolvimento regional do centro-oeste brasileiro. Felicito-o pelo seu pronunciamento.

O SR. IRIS REZENDE - Muito obrigado, Senador José Roberto Arruda.

O SR. JOSAPHAT MARINHO - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PRESIDENTE (Lucídio Portella) - Solicito a V. Exª que não conceda mais apartes, pois o seu tempo está esgotado.

O SR. IRIS REZENDE - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Eu sabia que V. Exª, Senador José Arruda, grande conhecedor dos problemas do Centro-Oeste brasileiro, seria - e será - um instrumento vivo na defesa dos interesses desta região, fazendo com que todos nós nesta Casa, unidos, consigamos que o Poder volte suas atenções para esta região e busque nela, como dizia há pouco, a solução definitiva para os problemas nacionais.

Permita-me, Sr. Presidente, conceder o último aparte ao nosso grande líder e mestre, Senador Josaphat Marinho.

O Sr. Josaphat Marinho - Senador Iris Rezende, acompanhei, à distância, a ação do Governador e do Ministro. Somente aqui eu o conheci pessoalmente. V. Exª trazia a fama do homem firme, do homem enérgico, e eu tenho confirmado essa impressão. Mas, ao mesmo tempo, experimentei a satisfação de ver que, na difícil atividade política, V. Exª consegue conciliar a franqueza com a delicadeza, a firmeza com a urbanidade. E junta a tudo isso o equilíbrio na apreciação dos problemas do País, como está demonstrando no discurso que vem proferindo. Só queria, ao lhe dar este aparte, por fim, assinalar a alegria íntima que volto a experimentar do voto que dei, nesta Casa, no Regime Militar, contra a intervenção no estado de V. Exª. Ao vê-lo falar hoje, com a firmeza democrática com que o faz, sinto-me rejubilado por ter correspondido à grandeza de seu estado.

O SR. IRIS REZENDE - Muito obrigado, Senador Josaphat Marinho. É para mim motivo de emoção receber o aparte de V. Exª, que acaba de enriquecer o meu pronunciamento, principalmente por ser eu um dos seus admiradores de há muito tempo, desde quando freqüentava os bancos da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás, buscando nos seus conhecimentos o essencial para realizar um bom curso.

Hoje, tenho o privilégio de estar aqui, de mãos dadas com V. Exª, principalmente na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, na luta para fazer com que esta Casa, realmente, corresponda às aspirações e anseios de nosso povo. Agradeço a V. Exª.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Nação está madura para realizar esses requisitos e alcançar esses objetivos. Confio na Nação brasileira. Confiemos todos. E, unidos, trabalhemos firmemente. Conclamemos a Nação, e em especial a sua camada de representantes - reunidos no Congresso Nacional - a fazer um mutirão, um imenso mutirão, o maior mutirão da História, a fim de construirmos o grande Brasil das nossas melhores aspirações.

O Sr. Mauro Miranda - V. Exª me permite um aparte?

O SR. IRIS REZENDE - Com prazer ouço V. Exª.

O Sr. Mauro Miranda - Nobre Senador, falo em meu nome e em nome do Senador Onofre Quinan - hoje, internado no hospital por motivo de uma cirurgia - para externar, não como companheiro de V. Exª de Senado Federal, mas como seu liderado em Goiás, que estamos orgulhosos desse Líder que sai de Goiás com a história de quem veio como trabalhador de oleiro, servente de pedreiro, líder estudantil, vereador mais votado de Goiânia, prefeito da capital, deputado estadual mais votado, presidente da assembléia, governador por duas vezes e ministro da superssafra. Nós estamos orgulhosos de V. Exª hoje, porque percebemos nas vozes dos Companheiros do Senado o mesmo carinho que toda Goiás tem por V. Exª. Estou grato de pertencer ao Senado e de estar ao lado desse grande líder do meu estado, líder inconteste de Goiás, que o povo sempre coloca em destaque. Agradeço por estar nesta Casa com V. Exª. E estou muito feliz em perceber que os Senadores, tal qual o povo goiano, conhecem as suas grandes qualidades.

O SR. IRIS REZENDE - Obrigado, Senador Mauro Miranda. Estou consciente de que a voz de V. Exª é a voz do coração. Faz-me muito feliz, porque tenho encontrado em V. Exª aquele companheiro leal e fiel de todas as lutas em benefício de Goiás e do Brasil.

A Srª Junia Marise - V. Exª me permite um aparte?

O SR. IRIS REZENDE - Ouço o aparte da nobre Senadora Junia Marise.

A Srª Junia Marise - Nobre Senador Iris Rezende, venho acompanhando desde o início o pronunciamento de V. Exª. Serei breve, porque vejo outros Senadores querendo aparteá-lo. Todos, hoje, temos uma grande convicção: a de que somos responsáveis por nossas próprias biografias, ou seja, pela construção do nosso currículo. Vejo V. Exª na tribuna e recordo-me dos tempos em que, juntos, reforçávamos a trincheira da resistência democrática, ao lado de grandes homens públicos que fizeram a História deste País, como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. V. Exª teve um papel importantíssimo na transição democrática, levada ao País pelas mãos de Tancredo Neves e com a participação de todos os brasileiros. Vejo V. Exª não como um Senador da República que chega a esta Casa depois de uma eleição consagradora no seu estado. Vejo-o como um homem público que optou pela vida pública para servir ao seu estado, servir ao seu povo, servir ao Brasil. Por isso, quero cumprimentá-lo. O seu pronunciamento de estréia na tribuna do Senado Federal, que marcará, sem dúvida alguma, os Anais desta Casa, é dos mais importantes. Quem sabe muitos não tenham a oportunidade de centrar a sua observação e a sua atenção nos fatos preponderantes da manifestação de V. Exª? É preciso fazer do pronunciamento de V. Exª um eco para todo o Brasil. Neste momento em que estamos consolidando a vida democrática é preciso se refletir sobre as palavras de quem, como V. Exª, pontua o destino e o futuro desta Nação com a sinceridade da sua experiência e com a honestidade de quem aprendeu a conviver com todas as dificuldades do nosso povo. V. Exª conclama a um mutirão. Mais do que ao mutirão da casa própria, ao mutirão da nacionalidade, para o envolvimento de toda a sociedade. É com esta certeza, Senador Iris Rezende, que invoco aqui neste momento os cumprimentos não apenas ao Senador que estréia na tribuna, mas também a este homem que soube construir a sua biografia ajudando aos pobres, construindo o seu estado, o desenvolvimento econômico e social da sua região, e que chega a esta Casa disposto dar a sua contribuição ao Brasil. Da experiência extraída de V. Exª, o Governo certamente precisa muito dela, porque é do cotidiano do nosso povo que extraímos as melhores lições, os exemplos magníficos, a experiência e, certamente, as soluções fundamentais que buscamos para o nosso povo e para o nosso País. Meus cumprimentos a V. Exª pelo seu grande pronunciamento nesta tarde de hoje.

O SR. IRIS REZENDE -  Muito obrigado, Senadora Júnia Marise. Tenho certeza de que as palavras de V. Exª não representam apenas honra para mim, mas, sobretudo, incentivo para que eu seja realmente leal e fiel aos princípios que o Senado Federal tem procurado defender.

Estarei ao lado de V. Exª e de todos os Senadores e Senadoras, de mãos dadas, nós, goianos e mineiros, que nos identificamos tanto, que temos os mesmos problemas, vivemos as mesmas dificuldades, lutando por um Brasil melhor.

Tenho certeza de que, na realização de um grande mutirão nacional, no qual não existam divergências doutrinárias, religiosas, partidárias, mas pensando exclusivamente no Brasil, esta geração política, hoje presente no Senado da República e na Câmara dos Deputados, não entrará para a História como uma geração vencida, fracassada, mas como uma geração que soube enfrentar e vencer os problemas, os grandes percalços, as maiores dificuldades, e fazer do Brasil uma grande Nação.

O Sr. Valmir Campelo - V. Exª me permite um aparte, Senador Iris Rezende?

O SR. IRIS REZENDE - Com muito prazer, Senador Valmir Campelo.

O Sr. Valmir Campelo - Nobre Senador Iris Rezende, cheguei em Brasília em 1962. Desde essa época, já ouvia falar em Iris Rezende, pelo trabalho que realizava no seu estado, Goiás. Comecei a acompanhar os passos de V. Exª. Ao exercer as minhas funções públicas em Brasília, sempre me espelhei na figura daquele político jovem, que realizava com muita dignidade o seu trabalho político. Aqui não havia política partidária, não havia eleições no Distrito Federal. Entretanto, aquilo corria no meu sangue. Como líder estudantil que fui, na Escola Elefante Branco, na Universidade de Brasília, inspirava-me nas suas ações, no seu comportamento. Revoltei-me quando V. Exª perdeu seu mandato, que o povo lhe havia concedido, no auge da sua carreira política. Depois de muito tempo, V. Exª voltou com a mesma garra, assumindo todos os cargos políticos que o nosso eminente Senador Mauro Miranda aqui delineou. Para minha alegria, quando houve as primeiras eleições no Distrito Federal, tive a felicidade de acompanhar V. Exª em campanhas políticas na região do Entorno, região com que V. Exª também se preocupa e cujo povo defende com tanto entusiasmo. Parecia um sonho estar ao lado de V. Exª, o meu ídolo Iris Rezende, aquela figura política que, por muito tempo, admirei com tanto entusiasmo. Hoje sou seu colega, Senador da República. Quanto não vou aprender com V. Exª, como aprendi com tantos outros Senadores nos quatro anos que passei nesta Casa! Com seu caráter, sua honestidade, sua integridade moral e política, V. Exª tem muito a oferecer e a ensinar, principalmente a nós, os mais jovens nesta Casa. Por isso, Senador Iris Rezende, quero parabenizar V. Exª pelo pronunciamento que faz nesta Casa. V. Exª traz algumas alternativas para resolver os problemas da nossa Nação, demonstra o caminho e pede a compreensão de todos nós, pede que apoiemos os Presidentes, as Mesas Diretoras das duas Casas do Congresso, o Presidente da República. O povo de Goiás é um povo feliz, porque teve o comando do estado nas mãos de V. Exª, como Governador, por duas vezes. V. Exª não é um homem populista. Absolutamente. Se tem o apreço e a devoção do povo de Goiás, é porque soube conquistá-lo pelo seu trabalho. V. Exª passou pelas fronteiras de Goiás e foi além do Centro-Oeste. Devido ao trabalho prestado no Ministério da Agricultura, V. Exª hoje é um homem respeitado por todo o Brasil. Graças a Deus, neste País, temos homens como V. Exª, nos quais, pelo trabalho digno e honesto, podemos nos espelhar para que possamos ter, num futuro bem próximo, um Brasil mais justo para os nossos filhos e netos.

O SR. IRIS REZENDE - Obrigado, Senador Valmir Campelo. V. Exª sabe da admiração, da amizade e do respeito que dispenso a sua pessoa.

Como bem lembrou, freqüentamos os mesmos palanques no Em-Torno de Brasília: V. Exª buscando o voto para Senador e eu, o voto para Governador, em 1990. Naqueles momentos, sentia que a presença de V. Exª no mesmo palanque era motivo de privilégio para todos nós que ali nos encontrávamos, levando a nossa mensagem ao povo da nossa região.

O aparte de V. Exª, na verdade, torna-se um ponto marcante e alto do meu pronunciamento. Jamais esquecerei as expressões tão elogiosas e tão amáveis usadas por V. Exª a meu respeito.

O Sr. Gilberto Miranda - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. IRIS REZENDE - Concedo o aparte ao nobre Senador Gilberto Miranda.

O Sr. Gilberto Miranda - Senador Iris Rezende, desde o começo desta Legislatura não se vê tantos apartes num discurso. A Casa e a Nação esperavam o pronunciamento de V. Exª, homem público que, no Executivo, já exerceu quase todos os cargos, só falta a Presidência da República. Tenho certeza de que o nosso Partido espera que, nesses próximos anos, V. Exª seja um dos postulantes a esse cargo. V. Exª foi prefeito, governador, ministro de estado, bem como deputado estadual e, hoje, Senador da República. Dezenove de abril marca, para os próximos 8 anos, a conduta do Legislativo de V. Exª, Senador Iris Rezende. V. Exª está sendo brilhante esta noite. É uma honra conviver com V. Exª, político sério, honesto, íntegro, direito. Ouve-se apenas elogios ao nome de V. Exª na imprensa. V. Exª é um exemplo e honra a classe política no mais elevado nível. Na época estudantil, como líder que era, acompanhava, no Estado de São Paulo, o envolvimento de V. Exª em todo aquela luta de 64. Tenho certeza de que V. Exª trará contribuições ao Governo do Presidente Fernando Henrique. Espero que Sua Excelência venha a contar com seus conselhos e vivência, ajudando na interiorização do desenvolvimento do Brasil. Muito obrigado.

O SR. IRIS REZENDE - Muito obrigado pelas palavras de V. Exª.

Sei que não sou digno de chegar a tanto, conforme dizia V. Exª em suas primeiras palavras.

O Sr. Gilberto Miranda - Não é verdade.

O SR. IRIS REZENDE - Tenha certeza de que aqui estarei ao lado de V. Exª, no sentido de honrar e dignificar esta Casa, lutando por um Brasil cada vez melhor.

O Sr. Lúcio Alcântara - V. Exª me permite um aparte?

O SR. IRIS REZENDE - Com muito prazer.

O Sr. Lúcio Alcântara - Senador Iris Rezende, serei breve. Não poderia silenciar no momento em que V. Exª faz este pronunciamento e recebe a verdadeira consagração do Plenário, pelo número de apartes. Trago neste instante a minha palavra de reconhecimento pelo trabalho de V. Exª como homem público. Eu, como outros que já se pronunciaram aqui, comecei a ouvir falar de V. Exª quando era prefeito de Goiânia, fazendo mutirões, erguendo casas populares, cuidando, sobretudo, daquela faixa mais pobre e sofrida da população. Nessa sua identidade com esse contingente humano - que infelizmente está aumentado no Brasil, pelas dificuldades por que passa a nossa economia - é que V. Exª se consolidou como homem público dos mais respeitáveis. Tem tido tanto sucesso, tanto êxito eleitoral. Mesmo quando amputada, de maneira violenta e inaceitável, sua carreira política, V. Exª retomou, pelo voto popular, com tranqüilidade, com serenidade; sem amargura, sem ressentimento. V. Exª teve essa grandeza e por isso mesmo tem tido tanto reconhecimento popular. Tive, ao chegar ao Senado, a felicidade e a honra de ter o meu nome indicado para a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e lá ter sido escolhido Vice-Presidente, aproximando-me mais ainda de V. Exª, de quem tenho recebido tantas lições de prudência, de equilíbrio, de serenidade, de firmeza de atitudes, mas sobretudo dessa maneira simples e despretensiosa com a qual V. Exª se comporta. Se o Centro-Oeste já tivesse tido uma presença política mais forte no nosso cenário nacional - e ainda não teve, não porque não tenha tantos homens de valor, como é o caso de V. Exª, mas porque é uma fronteira relativamente nova, do ponto de vista econômico, do ponto de vista do desenvolvimento -, V. Exª já teria alçado patamares muito mais elevados na vida pública do País. Concluo prestando um depoimento do qual V. Exª talvez nem se lembre. Era eu Deputado Federal e V. Exª Ministro da Agricultura, e, certa vez, fui ao seu gabinete para uma audiência. Levava um pleito do meu Estado, que era justamente a criação e localização, no Ceará, de um centro da EMBRAPA, destinado ao estudo do desenvolvimento da tecnologia da cajucultura, alguma coisa muito restrita a determinados Estados do Nordeste - inclusive o Rio Grande do Norte -, mas que tem o Ceará como principal Estado produtor. Evidentemente as plantações desenvolvidas em larga escala, os problemas genéticos, de comercialização, de produtividade etc., suscitaram a necessidade de que se desenvolvessem estudos tecnológicos que deveriam estar a cargo da EMBRAPA, empresa de domínio de alta tecnologia na área da agricultura. V. Exª, com a maior presteza e rapidez, decidiu em favor da instalação daquele centro, que hoje está lá, em Pacajus, nas proximidades de Fortaleza, prestando grandes serviços ao Nordeste, ao Ceará e ao Brasil, porque esse é um dos itens que mais tem se desenvolvido na nossa pauta de exportação. Ao fim do meu aparte, presto também este testemunho, de que somos credores, o Ceará e os políticos, homens públicos, os produtores cearenses, não só por esse, mas por vários motivos, do trabalho que V. Exª já desenvolveu quando à frente do Ministério da Agricultura.

O SR. IRIS REZENDE - Muito obrigado, nobre Senador Lúcio Alcântara, pelas suas palavras, que aumentam extremamente a minha responsabilidade nesta Casa. Isso veio demonstrar que V. Exª, além de um Senador que já comprovou, em tão pouco tempo, a sua competência, o seu ideal, a sua força, confirma que foi também um grande Deputado Federal, conseguindo convencer as autoridades federais quanto à necessidade de investimentos na área que tão bem representava.

O SR. PRESIDENTE (Lucídio Portella) - Senador Iris Rezende, peço licença a V. Exª e ao Plenário, para prorrogar o Expediente por mais 10 minutos, para que V. Exª termine o seu pronunciamento.

O SR. IRIS REZENDE - Sr. Presidente, muito obrigado pela generosidade.

O Sr. Geraldo Melo - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. IRIS REZENDE - Concedo o aparte a V. Exª, com muito prazer.

O Sr. Geraldo Melo - Senador Iris Rezende, sinto-me beneficiado pela prorrogação desta sessão, pois ela diminui o meu drama de consciência ao interromper o discurso de V. Exª. Sei que minhas palavras nada acrescentarão ao brilho de quantos antes já se manifestaram e ao brilho próprio de V. Exª, que está marcando, de forma tão expressiva, a sua primeira presença na tribuna do Senado. Quero, entretanto, acrescentar a tudo que foi dito o depoimento de alguém que conviveu com V. Exª quando da sua presença no Ministério da Agricultura e da minha passagem pelo Governo do meu Estado, o Rio Grande do Norte. Muitas vezes, trouxe ao seu gabinete pedaços dos sonhos que eu tive com a minha gente do Rio Grande do Norte, das aspirações e dos projetos, os quais, dentro da dimensão nacional e dos problemas gerenciados por V. Exª com tanta lucidez, eram pequenos, mas capazes de alterar os rumos, a história, o processo de desenvolvimento de um Estado que ainda contribuirá muito para o desenvolvimento nacional. O meu testemunho é o de que sempre encontrei um goiano do tamanho do Brasil naquele Ministério, alguém que, sem perder a argamassa que o liga tão profundamente ao seu Estado, tinha a capacidade de abrir o peito e a inteligência para os problemas que o Brasil inteiro lhe trazia. Conversava com este goiano, no Ministério da Agricultura, como se estivesse conversando com um conterrâneo meu. Alguém que sempre teve a disponibilidade, o tempo, a atenção, o carinho e sobretudo a lucidez, o senso de responsabilidade, o senso da dimensão da sua tarefa de ministro. Não um ministro de Goiás, um ministro do Centro-Oeste, mas um ministro do Brasil. V. Exª, como Ministro da Agricultura, foi um ministro do meu Estado. Digo, meu caro e eminente Senador Iris Rezende, que chego a esta Casa e me sinto profundamente honrado em saber, todos os dias, que sou companheiro e colega de tanta gente tão importante e tão ilustre como os Senadores que honram esta Casa. Mas me sinto particularmente envaidecido por poder dizer que sou colega de V. Exª.

O SR. IRIS REZENDE - Muito obrigado, Senador. Agradeço também as palavras de V. Exª. Na verdade, procurei ser o ministro de todo o Brasil. Se fui bom Ministro da Agricultura no seu Estado, deve-se ao fato de ter sido V. Exª um dos governadores deste País que mais se dedicaram à agricultura. Lembro-me bem de que quando defendíamos a política de empréstimos equivalentes em produto, V. Exª já implantava essa política no seu Estado com recursos próprios. As palavras de V. Exª realmente me tocam. Como dizia há poucos instantes, é mais um aparte que faz aumentar a minha responsabilidade diante dos meus Pares do Senado Federal.

O Sr. Ronaldo Cunha Lima - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador?

O SR. IRIS REZENDE - Com muita satisfação concedo um aparte ao nosso digníssimo Senador Ronaldo Cunha Lima.

O Sr. Ronaldo Cunha Lima - Senador Iris Rezende, não queria carregar comigo a frustração de não participar desta festa de espírito em que se transforma a sessão do Senado hoje. Digo festa de espírito, porque ouvimos da tribuna um homem com a sua grandeza, com a beleza e a fortaleza da sua alma. Festa do espírito, porque assistindo da tribuna um homem da sua estatura faz com que nós, que estamos no plenário, possamos aparteá-lo, cada um trazendo um depoimento, uma visão, um perfil, mostrando todas as virtudes, ou parte delas, do homem público que orgulha esta Casa, Goiás e o Brasil. Tenho proclamado, de forma até enfática, a admiração que nutro pelo seu comportamento político, pela sua história, pela sua vida, pelos seus exemplos: V. Exª traz a humildade dos simples e a simplicidades dos bons. Digo isso, porque, através dos contatos, ao longo da vida e das informações que recolhi, posso fazer esse julgamento agora. Permito-me até lembrar, Senador, a oportunidade em que V. Exª visitava o meu Estado, durante a última campanha eleitoral, já no segundo turno, para levar, com a sua presença, a força da sua palavra ao nosso candidato, e pude saudá-lo em versos no meio da praça pública, com a multidão ouvindo-o e aplaudindo-o, no estilo em que me acostumei a falar aos paraibanos. Hoje, não sei se a solenidade desta Casa permitir-me-ia tentar, da mesma forma, cantar um poema para a sua vida, já que esta inspirar-me-ia agora um poema. Meus cumprimentos a V. Exª

O SR. IRIS REZENDE - Agradeço, nobre Senador Ronaldo Cunha Lima, as palavras de V. Exª, que se constituem sempre num poema e, como tal, emocionam-nos sempre. Realmente, o aparte de V. Exª me toca, porque juntos, ao longo da vida pública, temos sorrido, chorado, e, sobretudo, lutado por este País.

O Sr. Hugo Napoleão - Permite V. Exª um aparte?

O SR. IRIS REZENDE - Com prazer, ouço V. Exª.

O Sr. Hugo Napoleão - Nobre Senador Iris Rezende, presenteou-me o destino de ser colega de V. Exª por três vezes. A primeira, quando do seu anterior Governo no glorioso Estado de Goiás, de 1983 em diante, Estados vizinhos que eram, à época, o meu Piauí e Goiás, hoje Tocantins; a segunda, como Ministros de Estado, V. Exª na Pasta da Agricultura e eu no Ministério da Educação; e a terceira, agora, no plenário desta Casa, onde V. Exª faz brilhante estréia, trazendo, no início do discurso, o Estado de Goiás de seu coração para os pulmões do Brasil, através de um histórico do exemplo do que o goiano representou em todo o seu passado, representa no presente e continuará representando no futuro. Desde já, V. Exª assume a presidência da importantíssima, fundamental e indispensável Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Em todas as oportunidades, recolhi de V. Exª o gesto atento, exemplar, ameno, firme e seguro, dedicado às melhores causas de Goiás, do Centro-Oeste e do Brasil. V. Exª, sem dúvida alguma, há de trilhar os bons caminhos da cidadania segura. Permitiria dizer que vi no lançamento do livro "Remando contra a Maré", do Dr. Aloysio Campos da Paz Júnior, o seguinte parágrafo, em que ele sintetiza algo de extremamente interessante: "Nesses tempos em que as utopias se esgotam, e por falta de rumos, valores e referências, a sociedade se canibaliza, dedico este livro ao Congresso Nacional e, portanto, ao contraditório Brasil que ele representa." E este Brasil também é representado, por V. Exª, de maneira brilhante.

O SR. IRIS REZENDE - Muito obrigado, nobre Senador Hugo Napoleão.

A emoção passa a consumir as minhas palavras que deveriam ser proferidas agradecendo aos apartes de V. Exª e dos demais Senadores.

Ao encerrar minhas palavras, agradeço primeiramente a V. Exª, Sr. Presidente, pela generosidade e benevolência de dilatar nosso tempo na tribuna e, em segundo lugar, aos meus colegas. Na verdade, é motivo de emoção saber que os Srs. Senadores permaneceram durante tanto tempo no plenário, já com o tempo da sessão esgotado e na hora de se começar a sessão do Congresso Nacional no recinto da Câmara dos Deputados, para nos honrar com suas presenças. Mas não foram apenas as presenças, foram as palavras, os apartes, tocantes, emocionantes, que vão marcar naturalmente o meu comportamento nesta Casa.

Agradeço ainda a Deus pelo privilégio de estar nesta tribuna e de ter sido tão honrado, tão contemplado pelos meus Colegas. Peço a Deus que me dê a sabedoria necessária para que eu realmente corresponda a todos os anseios e a todas as manifestações de apreço, apoio e amizade por parte de dezenas de Senadores nesta tarde.

O Sr. Eduardo Suplicy - Senador Iris Rezende, permite V. Exª um aparte?

O SR. IRIS REZENDE - Com satisfação, Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy - Senador Iris Rezende, cumprimento-o pelo discurso inaugural que faz da tribuna do Senado, trazendo o testemunho de sua trajetória em Goiás. Mas gostaria que nesta tarde nós não ficássemos sem a discussão de um tema político de grande relevância. Se V. Exª encerrar as suas palavras, talvez este assunto não seja objeto da nossa atenção. V. Exª é Senador pelo PMDB e considero importante comentarmos o fato político ocorrido ontem, durante a reunião do Ministro das Comunicações com membros do seu Partido. O Ministro Sérgio Motta teceu considerações críticas ao próprio Governo que tanto conhece, e conhece por dentro. Mencionou que o Governo ainda não conseguiu, sobretudo na área social, resolver problemas, não apresentou medidas concretas e estão faltando iniciativas mínimas. Disse ainda que na área social o Governo tem tido uma atuação tímida; e usou até de algumas expressões fortes para assim caracterizar sua impressão. A relevância do comentário do Ministro Sérgio Motta decorre principalmente de estar falando de dentro do Governo. Trata-se de um dos Ministros que maior afinidade tem com o próprio Presidente Fernando Henrique Cardoso. Na verdade, o Ministro Sérgio Motta expressou um sentimento de quem está colocando o que percebe nos quase quatro primeiros meses de governo. Gostaria apenas de registrar que seria importante que isso fosse considerado seriamente, não apenas pelo Poder Executivo, mas pelo próprio partido que teve a oportunidade de ouvir essas palavras. Avalio que - por isso faço o registro - essas palavras devam soar como uma advertência para todos nós do Congresso Nacional.

O SR. Pedro Piva - Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. IRIS REZENDE -  Com muito prazer.

O Sr. Pedro Piva - Ilustre Senador Iris Rezende, como estreante nesta Casa, não tive a oportunidade dos demais colegas que o saudaram, de conhecê-lo há mais tempo; mas tendo a honra de conhecê-lo mais intimamente, não queria que São Paulo deixasse de homenagear V. Exª. De São Paulo partiram as Bandeiras que atravessaram o seu Estado. Lá fincaram as suas raízes, juntando-se ao povo goiano, que é o orgulho de todo o Brasil. Essa tarde foi a do Centro-Oeste. Pronunciaram-se aqui os Senadores Valmir Campelo, José Roberto Arruda, ilustres Senadores jovens, que terão ainda serviços inestimáveis a prestar a este País, mirando-se no espelho de sua atuação parlamentar, durante toda a sua vida. Quero, Senador Iris Rezende, dizer do orgulho que tenho de privar com V. Exª, de estar na mesma Casa que V. Exª. Saúdo-o em nome do PSDB e de São Paulo. Para terminar, peço licença ao Senador Eduardo Suplicy, já que S. Exª falou em Sérgio Motta. Tenho algumas críticas a fazer e gostaria de dizer que é uma questão de opinião. Outros Parlamentares do PSDB, do PMDB e de toda a Casa louvam o Ministro Sérgio Motta por sua atuação franca e decidida na defesa de seus ideais e no que S. Exª pensa estar certo. Mas não vamos falar de Sérgio Motta. A tarde é de V. Exª, Sr. Ministro; é de um parabéns pela atuação de toda sua vida.

O SR. IRIS REZENDE - Muito obrigado. Agradeço profundamente os gestos de V. Exª, colocando um ponto final no meu discurso com os apartes dos ilustres Senadores do maior Estado desta República, São Paulo, Estado com o qual Goiás se afina muito.

A antiga capital de Goiás, a cidade de Goiás, como disse, foi fundada por um paulista, Bartolomeu Bueno. No centro de Goiânia está um monumento ao Bandeirante, homenagem do Centro Acadêmico XI de Agosto, da tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, ao povo de Goiás, e que, ao ser lá colocado, contou com a presença do estudante Ulysses Guimarães. Os apartes de V. Exªs coroam meu pronunciamento no seu encerramento.

Sr. Presidente, como dizia, este foi meu primeiro dia nesta tribuna. Esteja certo V. Exª de que será o grande dia da minha presença nesta Casa, tendo recebido gestos de tamanha consideração por parte dos ilustres Senadores que permaneceram neste recinto até esta hora.

Muito obrigado.

(Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 20/04/1995 - Página 5748