Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM POSTUMA AO MUSICO RAPHAEL RABELLO.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM POSTUMA AO MUSICO RAPHAEL RABELLO.
Aparteantes
Ronaldo Cunha Lima.
Publicação
Publicação no DCN2 de 29/04/1995 - Página 6975
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, RAPHAEL RABELLO, MUSICO, MUSICA BRASILEIRA, BRASIL.

O SR. EDUARDO SUPLICY (PT-SP. Para uma comunicação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é muito importante que façamos o registro, no Senado Federal, infelizmente, do falecimento do extraordinário violonista brasileiro Raphael Rabello, ontem, em razão de uma parada respiratória, aos 32 anos. Trata-se de um extraordinário músico, que viveu de 1962 a 1995, considerado um dos maiores instrumentistas brasileiros.

Registro aqui algumas palavras do noticiário de hoje sobre o assunto:

      "Raphael Rabello começou a vida artística no conjunto Os Carioquinhas, em plena redescoberta do choro. O foco maior do grupo era o violão sete-cordas, um instrumento básico, espécie de contrabaixo nos regionais, pilotado por um garoto louro de apenas 14 anos. Rafael (ainda sem o ph artístico) Rabello, o menino que formava o núcleo do grupo ao lado da irmã Luciana no cavaquinho, logo foi chamado de sucessor no difícil instrumento do mestre Horondino Silva, o Dino. Encerrada a curta febre do choro na mídia - de 1974 a 1978 - ele custou a livrar-se do inevitável sobrenome do instrumento. Não queria ser conhecido como Raphael Sete Cordas, o título de seu disco de estréia solo, em 1982, a bordo de um repertório que já misturava Jacó do Bandolin ("O Vôo da Música"); Tom Jobim ("Garoto"); Augustin Barrios ("Estudo de Concerto"); e o Mestre Dino ("Praça Sete"), com quem dividiria um disco ("Raphael Rabello & Dino 7 Cordas"), em 1991.

      Nascido em Petrópolis, em 1962, ele vinha de família de músicos desde o avô, o maestro paraibano José Queiroz Batista. O irmão de Luciana (casada com o compositor Paulo César Pinheiro) e da cantora Amélia (elogiada por Caetano Veloso) além de Lila (mulher de Paulino da Viola) foi responsável por um novo surto de virtuosismo e energia no violão brasileiro como o injetado por Baden Powell ainda na época da Bossa Nova. Raphael nunca deixou de revenciar os mestres em sua curta mas expressiva discografia, que se completaria agora num tributo ao compositor pernambucano Capiba, com estelares participações de Chico Buarque a Caetano Veloso. De "Relendo Dilermando Reis", produzido por Pelão no ano passado, ao tributo a Tom Jobim, "Todos os Tons", com participações de Paco de Lucia, Jaques Morelembaum, Nico Assumpção, Léo Gandelman, Luis Avelar, Paulo Moura (com quem dividiria o belíssimo disco "Dois irmãos", em 1992, e sua última apresentação, na Ritmo, há duas semanas) e do próprio homenageado, Raphael imprimiu sua marca de reinventor do instrumento com um vigor espanholado e a baixaria enraizada na tradição.

      Sigo a onda do Villa-Lobos e do Radamés, sou um neonacionalista, definia-se, depois de uma ode ao guru ("Rafael Rabello interpreta Radamés Gnattali"), de quem foi uma espécie de aluno informal nos tempos dos Carioquinhas. Com seu mau humor de bombachas, o gauchão foi logo mandando Rapha estudar harmonia. E o resultado foi um músico completo, com um projeto de expansão internacional de sua carreira iniciada recentemente a partir de San Diego, na Califórnia. "É um músico admirável, fora do comum ", elogiou o tributado Jobim. "Ele é uma antologia da MPB, um desses músicos que só aparecem a cada cem anos", avalizou Turíbio Santos, outro mestre das cordas. Um século perdido, a partir de ontem."

O Sr. Ronaldo Cunha Lima - Permita-me V. Exª um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY - Ouço V. Exª com muito prazer, nobre Senador.

O Sr. Ronaldo Cunha Lima - Nobre Senador, manifesto o sentimento de dor não apenas da cultura brasileira, mas, acima de tudo e mais especialmente, do universo musical do Brasil com a perda desse virtuoso instrumentista que foi Raphael Rabello. Suas origens são do meu Estado, seus antepassados são paraibanos. Por isso mesmo e mais razão ainda, acompanhando a carreira artística de Raphael Rabello, tive a oportunidade, não faz muito tempo, não mais do que 15 dias, de comentar com músicos e artistas do meu Estado, ao ouvir um de seus últimos discos, conceitos e comentários a respeito do seu imenso talento. Por isso, trago a homenagem, associando-me às palavras de V. Exª, no instante em homenageia a memória desse grande instrumentista da música brasileira que perdemos tão precocemente, Raphael Rabello.

O SR. EDUARDO SUPLICY - Agradeço as suas palavras, Senador Ronaldo Cunha Lima. E finalizo transmitindo aos familiares, à comunidade de músicos, de compositores, aos amigos de Raphael Rabello os nossos sentimentos de pesar.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 29/04/1995 - Página 6975