Pronunciamento de Gilvam Borges em 12/05/1995
Discurso no Senado Federal
INSENSIBILIDADE DA DIRETORIA DO BANCO DO BRASIL EM RELAÇÃO AO MOMENTO FINANCEIRO DIFICIL PELO QUAL PASSAM MUITOS DE SEUS FUNCIONARIOS.
- Autor
- Gilvam Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
- Nome completo: Gilvam Pinheiro Borges
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
BANCOS.:
- INSENSIBILIDADE DA DIRETORIA DO BANCO DO BRASIL EM RELAÇÃO AO MOMENTO FINANCEIRO DIFICIL PELO QUAL PASSAM MUITOS DE SEUS FUNCIONARIOS.
- Publicação
- Publicação no DCN2 de 13/05/1995 - Página 8210
- Assunto
- Outros > BANCOS.
- Indexação
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- SOLICITAÇÃO, PAULO CESAR XIMENES, PRESIDENTE, BANCO DO BRASIL, ADOÇÃO, PROVIDENCIA, OBJETIVO, ALTERAÇÃO, FORMA, TRATAMENTO, PESSOAL, RELAÇÃO, COBRANÇA, DIVIDA PESSOAL, SERVIDOR, MOTIVO, AUMENTO, DIFICULDADE, NATUREZA FINANCEIRA, PROVOCAÇÃO, SUICIDIO.
O SR. GILVAM BORGES (PMDB-AP. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assomamos hoje à tribuna com o intuito de protestar contra a insensibilidade da Diretoria do BANCO DO BRASIL em relação ao momento financeiro difícil pelo qual têm passado muitos de seus funcionários, motivo que tem levado alguns deles ao recurso radical e desesperado do suicídio.
Uma recente reportagem publicada no Correio Braziliense informa-nos que, desde fevereiro, pelo menos 5 funcionários do BANCO DO BRASIL mataram-se em decorrência de dificuldades financeiras, tendo dois deles deixado bilhetes nos quais expressam que a motivação para seu ato foi a causa mencionada. Em um desses bilhetes, seu autor, antes de dizer que deixa a vida sem ódio e sem rancor, mas com o coração cheio de amor, esclarece a razão do gesto extremo com as seguintes palavras:
"Foi a morte a solução encontrada para os meus problemas financeiros."
Vale ressaltar que dificuldades financeiras sofridas por bancários do BANCO DO BRASIL têm sido bastante comuns nos últimos tempos, não representando, de modo algum, casos isolados. No fulcro desse problema se situam dois fatos. O primeiro é a conjuntura econômica desfavorável aos devedores em geral, representada por taxas de juros inacreditavelmente altas e por restrições cada vez mais duras ao crédito pessoal. O segundo é a deterioração salarial que, há muito, tem ocorrido no BANCO DO BRASIL. O bancário não consegue manter seu padrão de vida, recorre às dívidas, paga caríssimo por elas e perde mais ainda poder aquisitivo.
A Confederação Nacional dos Bancários estima que cerca de 70 mil funcionários do BANCO DO BRASIL recorrem ao cheque especial para conseguir saldar seus compromissos. Como nós sabemos, os juros cobrados sobre o débito do cheque especial estão proibitivos.
Infelizmente, o egoísmo e o individualismo cada vez mais se tornam a marca das sociedades modernas, entre as quais se enquadra a nossa. Vivemos todos em nossas redomas de vidro, encapsulados em nosso pequeno mundo particular. Aquilo que percebemos existir fora do círculo estreito que traçamos para nós consideramos assuntos alheios, problemas dos outros que não nos dizem respeito.
Hoje em dia, se uma pessoa passa mal e tomba numa rua de grande movimento do centro de alguma grande cidade, é possível que ela venha a sucumbir antes que ocorra a algum transeunte a simples idéia de ir ver o que está acontecendo, de procurar saber se há algo que ele possa fazer. A palavra solidariedade parece destinada a cair em desuso na língua corrente, sendo relegada a algum dicionário de termos raros.
Também a burocratização vai alargando sua influência na vida moderna, num processo antevisto pelo sociólogo alemão Max Weber já no século passado. Esse complexo de normas e de procedimentos, que tudo engloba, que tudo regula, que tudo disciplina, acaba por se tornar um escudo que utilizamos para proteger a redoma de vidro dentro da qual vivemos e para podermos bradar com a cabeça erguida: nós não temos nada a ver com isso!
Assim estão se comportando os diretores e o presidente do BANCO DO BRASIL que não querem reconhecer que há fatos graves e dramáticos ocorrendo com muitos de seus funcionários. Fazem o seguinte raciocínio, incontestável de acordo com o ponto de vista lógico-legal: se alguns de nossos funcionários endividaram-se acima de sua capacidade de honrar seus compromissos e, depois, mataram-se por esse motivo, isso é problema deles, nada podemos fazer, não temos nada a ver com isso! Chegaram mesmo ao ponto de dizer que dez funcionários do banco se haviam suicidado no ano passado e que tal número de suicídios, acontecido dentro de uma comunidade de 120 mil pessoas, não era muita coisa._
Sr. Presidente e Srs. Senadores:
Têm surgido muitas reclamações e denúncias, por parte das entidades representativas dos funcionários do BANCO DO BRASIL e por parte dos próprios funcionários, no sentido de que o tratamento dispensado pelo banco aos empregados com dificuldades financeiras se tem mostrado excessivamente rígido e desumano.
Consta, por exemplo, que o BANCO DO BRASIL oferece maiores facilidades de refinanciamento de dívida aos seus clientes do que a seus próprios funcionários. Seria freqüente, em alguns casos, o banco aceitar renegociar dívidas de clientes em até 36 meses, aceitando como índice de reajuste do débito o percentual de equivalência salarial. Todavia, os funcionários que devem ao banco são intimados a quitar seus débitos, no máximo, em 60 dias, sendo os casos de inadimplência enviados diretamente ao Departamento de Assistência Disciplinar, responsável por administrar punições.
A severidade do BANCO DO BRASIL em relação a seus funcionários em dificuldades, juntamente com a perda de poder aquisitivo da categoria, tem-se somado ao aumento do número de demissões, para criar um clima de instabilidade emocional no corpo dos servidores do banco. Estima-se que a média histórica de demissões do banco seriam 30 casos por ano, a maioria por motivos graves. Contudo, neste ano, em apenas quatro meses, foram demitidos 200 bancários.
Dessa forma, dada a gravidade da situação, comprovada por histórias recorrentes de suicídios, solicitamos ao Presidente do BANCO DO BRASIL, Sr. Paulo César Ximenes, que transforme a impassível política de recursos humanos do banco em um conjunto de diretrizes mais humanas, voltadas ao acompanhamento das necessidades do funcionário. Uma instituição, seja ela qual for, só existe na medida dos recursos humanos que possui. O êxito do BANCO DO BRASIL, ao longo de sua história, é a história do êxito de seus funcionários em desempenharem seu trabalho e sua missão.
Pedimos, em primeiro lugar, que o Presidente do BANCO DO BRASIL procure envidar esforços para conseguir a recomposição do valor dos salários de seus funcionários. Essa constitui, na verdade, a única maneira de evitar novos dramas pessoais e de reconstituir um nível mínimo de satisfação e de realização dentro do quadro de pessoal da empresa. Ser funcionário do BANCO DO BRASIL, no passado, já foi uma colocação de grande status, tendo sido sinônimo de estabilidade e de prosperidade. Por isso, o banco atraía para seu quadro os melhores profissionais disponíveis. Hoje, lamentavelmente, já não é mais assim.
Em segundo lugar, enquanto a recomposição salarial não se efetiva, que a direção do banco saiba compreender o momento angustiante vivido por grande parte de seus servidores. Um momento de queda de poder aquisitivo e de imensas dificuldades para o endividamento, em que os juros exorbitantes são capazes de quebrar qualquer pessoa que, num apuro qualquer, se veja na contingência de ter de tomar dinheiro emprestado.
Era o que tínhamos a dizer.