Pronunciamento de Iris Rezende em 08/05/1995
Discurso no Senado Federal
ANIVERSARIO DA VITORIA ALIADA NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
- Autor
- Iris Rezende (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
- Nome completo: Iris Rezende Machado
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- ANIVERSARIO DA VITORIA ALIADA NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
- Publicação
- Publicação no DCN2 de 09/05/1995 - Página 7835
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HISTORIA, PARTICIPAÇÃO, FORÇA EXPEDICIONARIA BRASILEIRA (FEB), SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, PROCLAMAÇÃO, RACIONALIZAÇÃO, PAZ, HOMENAGEM, COMBATENTE, BRASIL.
- ELOGIO, RELEVANCIA, PARTICIPAÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLENIDADE, COMEMORAÇÃO, VITORIA, FORÇAS ALIADAS, PAIS ESTRANGEIRO, INGLATERRA.
O SR. IRIS REZENDE (PMDB-GO.Pronuncia o seguinte discurso.) - Exmo. Sr. Presidente do Senado Federal, Senador José Sarney; Exmo. Sr. General Benedito Bezerra Leonel, Ministro do Estado-Maior das Forças Armadas; Exmo. Sr. General Darcy Lázaro, representante dos ex-combatentes; Exmos. Srs. Ministros de Estado; Exmos. Srs. Embaixadores; Exmas. Sras. Senadoras e Exmos. Srs. Senadores; demais autoridades civis e militares; Senhoras e Senhores.
No dia 8 de maio, há cinqüenta anos, os sinos das Igrejas repicaram, pessoas dançaram nas ruas, outros choraram em silêncio. O mundo comemorava o fim da Segunda Guerra Mundial. O Alto Comando do Terceiro Reich assinara a rendição perante o Marechal de Campo inglês, Sir Bernard Montgomery, no Norte da Alemanha. Dias antes, soldados do Exército Soviético, comandados pelo General Giorgy Zhukov, tomaram Berlim, numa batalha impressionantemente feroz, que ocasionou mais de duzentas mil mortes só no lado soviético.
A única lei certa da História, como observou Alceu Amoroso Lima, é o imprevisto. Ninguém poderia imaginar, ainda nos anos vinte, que um político obscuro, nascido na pequena cidade de Linz, na Áustria, pudesse, dentro de poucos anos, desafiar alguns dos Estados mais poderosos do mundo, numa demente tentativa de submetê-los ao seu domínio. Adolf Hitler rearmou a Alemanha e, contrariando as probabilidades, partiu para o conflito armado no dia primeiro de setembro de 1939, quando invadiu a Polônia. A partir desse dia os países da Europa entraram a sofrer o pesadelo da guerra.
É importante, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, lembrar a dimensão do conflito e o envolvimento de praticamente o mundo todo na luta contra o fascismo e o nazismo.
A Segunda Guerra Mundial foi a mais sangrenta da História. Morreram 45 milhões de pessoas, na maioria civis, entre os quais seis milhões de judeus. Dos 57 países envolvidos, a União Soviética foi o que mais perdeu: vinte milhões de mortos, 14 por cento de sua população. Somente na batalha de Stalingrado, que terminou no dia 2 de fevereiro de 1943, os que morreram chegaram a 200 mil. A Primeira Guerra Mundial matou muito menos: treze milhões.
Noventa milhões de pessoas, em todo o mundo, foram mobilizadas para o esforço de guerra, entre 1939 e 1945. A União Soviética recrutou 22 milhões de pessoas; os Estados Unidos, 15 milhões; o Império Britânico, 12 e a França, três; os países que compunham o Eixo, Alemanha, Itália e Japão, 30 milhões. A horrível mortandade terminou, no teatro da Europa, quando um soldado do Exército Soviético hasteou a bandeira vermelha do seu país numa das torres do edifício do Parlamento alemão, naquele momento um prédio quase inteiramente destruído, cercado de ruínas por todos os lados.
O Brasil foi à guerra depois de provocado por alemães e italianos. Entre setembro de 1942 e julho de 1943, dez navios mercantes brasileiros foram torpedeados e afundados em nosso litoral. Morreram 229 pessoas. Em julho de 1943, o presidente Getúlio Vargas propôs ao Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, a criação de uma força expedicionária para combater fora do continente.
No esforço de preparação para a guerra, o Brasil proporcionou a seus oficiais um período de treinamento nos Estados Unidos: os militares de alta patente e os praças da Marinha brasileira, em Miami e Key West, na Flórida, e em cidades do Panamá. Surgia, então, o Primeiro Grupo de Aviação de Caça do Brasil, formado por 458 pessoas - oficiais, suboficiais, sargentos, cabos e soldados. Na Itália, esse grupo combateria com aviões Thunderbolts, os mais avançados para a época.
Em 2 de julho de 1944 zarpava do porto do Rio de Janeiro o primeiro grupo de oficiais e praças da Força Expedicionária Brasileira. Eram 5.081 pessoas. No dia 16 de setembro, nas encostas do Monte Bastione, perto da aldeia de Massarosa, na Itália, a artilharia brasileira disparou o primeiro tiro contra o inimigo. A primeira vitória ocorreu em 18 de setembro, quando um pelotão brasileiro tomou a cidade de Camaiore.
Os principais episódios da Força Expedicionária Brasileira na Itália foram a tomada de Monte Castelo e Montese, que causaram pesadas baixas nas tropas comandadas pelo General Zenóbio da Costa, e a grande vitória de 27 de abril de 1945, quando foi aprisionada uma divisão alemã, composta por 588 homens e grande quantidade de material bélico.
As tropas brasileiras combateram ao longo de mais de 400 quilômetros na Itália. Elas saíram de Nápoles, perto do Sul, e foram até o Norte do país. Libertaram mais de cinqüenta cidades da tirania nazi-fascista, fizeram cerca de 20 mil prisioneiros e perderam, no teatro dos combates, 1.907 soldados - ou mortos ou desaparecidos. Foi de 25 mil o número de soldados do Brasil que contribuíram eficazmente na luta pela democracia.
Sr. Presidente, há sangue brasileiro na Europa, derramado na Segunda Guerra. Hoje, cinqüenta anos depois, sobram motivos para uma reflexão profunda. Os pracinhas que honraram o nome de seu país, defendendo os ideais democráticos, não devem ser esquecidos. Devem ser lembrados como exemplo de bravura, de destemor e de perseverança. O Brasil se engrandeceu por intermédio deles.
A reflexão maior deve ser sobre a estupidez e a violência da guerra.
Lembrei, aqui, Sr. Presidente, algumas estatísticas sobre a quantidade de pessoas mortas nas duas derradeiras guerras mundiais. Bem que a Humanidade podia ter evitado tamanhas calamidades.
Cinqüenta anos depois da paz de 1945, a União Soviética, como Estado, já não existe. Os Estados do Leste Europeu, que constituíam o que Churchill chamou de Cortina de Ferro, substituiram os seus regimes políticos. As duas Alemanhas, Oriental e Ocidental, readunaram-se.
Das consequências principais da Segunda Guerra Mundial, uma, gravíssima e perigosíssima, felizmente encontra-se, faz alguns anos, superada: a chamada guerra fria; outra, também felizmente, tem-se revelado cada dia mais importante no esforço da humanidade por manter a paz entre as Nações: a Organização das Nações Unidas, a ONU. Outra consequência foi o surgimento do Estado de Israel, criado em 1948, como realização de uma milenar aspiração do povo judeu.
Estamos aqui, Sr. Presidente, celebrando o fim da guerra na Europa. Mas, no Pacífico, o conflito continuou, até que, no dia seis de agosto de 1945, uma bola de fogo brilhou no céu de Hiroxima com intensidade várias vezes maior que a do Sol. Dias depois, a mesma tragédia aconteceu em Nagasaki. As duas bombas atômicas mataram duas centenas de milhares de japoneses. E tornaram claro que o homem adquirira o terrível poder de se destruir como espécie.
A reflexão sobre a Segunda Guerra Mundial enseja algumas perguntas. Por quê? Como? Por que aconteceu a ascensão de Adolf Hitler? Por que não se impediu que ele lançasse a Alemanha na louca aventura impossível de tentar dominar o mundo? Como pôde suceder tudo o que aconteceu?
Essas perguntas não têm recebido respostas claras, nem objetivas. A ascensão de Hitler tem desafiado os mais sagazes interpretadores da História moderna. Em rapidíssima carreira política - em que soube apelar ao profundo orgulho nacional do povo alemão - prometeu combater a inflação, recuperar o nível de emprego e vencer a recessão. Acabou, no entanto, por impor o mais violento, o mais terrível dos sacrifícios a seu país e ao mundo.
Sr. Presidente, estamos aqui lembrando a irracionalidade da guerra para proclamar a racionalidade da paz.
O homem vem aprendendo - e precisa aprender de uma vez para sempre - que a ferro e fogo só pode provocar destruição e morte. Os cinqüenta anos de paz, na Europa, após o fim do último conflito mundial, têm sido um tempo de progresso, desenvolvimento e entendimento.
É muito bom, é motivo de grande orgulho que os brasileiros tenham estado presentes na Itália. O Brasil sempre cultivou a paz como um valor que deve ser preservado a todo custo. Tanto que a inscreveu na Constituição Federal como norma permanente das suas relações internacionais.
Na Itália, por meio dos seus soldados, o Brasil pôde viver o contrário da paz - a guerra. Deixamos quase dois mil mortos nos campos de batalha. Mas lutamos o bom combate, pois defendemos os valores da democracia e da liberdade. E o fizemos não somente com palavras, mas com gestos, com ações, com a presença, com a coragem, com a efetiva participação na luta.
Cinqüenta anos depois temos de exaltar o grande valor da Força Expedicionária Brasileira, que não apenas venceu o nazi-fascismo, mas tornou ainda mais respeitável no País o perene valor da democracia.
Hoje vivemos em liberdade no Brasil. Temos um presidente eleito pelo voto popular. Assembléias e câmaras funcionam normalmente em todo o País. A imprensa é livre. A liberdade que conquistamos é uma fecunda realidade.
A presença do Presidente Fernando Henrique Cardoso nas solenidades comemorativas dos cinqüenta anos do Dia da Vitória, em Londres, é motivo de orgulho para todos nós, brasileiros.
Embora algumas guerras tenham ocorrido depois de maio de 1945, ouso afirmar, Sr. Presidente, que estamos aqui, hoje, 8 de maio de 1995, não apenas comemorando o fim da Segunda Guerra Mundial, mas reafirmando o necessário primado da paz, da liberdade, da democracia, na vida dos povos.
Com os pracinhas da FEB, o Brasil lutou pela paz na Europa e pela liberdade e democracia no mundo. E haverá de continuar a contribuir para que a Humanidade se mantenha sempre na fecunda senda da Paz através dos tempos.
Muito obrigado.