Discurso no Senado Federal

QUADRO ECONOMICO DRAMATICO DA REGIÃO DE SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE, EM PERNAMBUCO, MAIOR POLO DE CONFECÇÃO DO NORTE/NORDESTE.

Autor
Joel de Hollanda (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Joel de Hollanda Cordeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INDUSTRIAL.:
  • QUADRO ECONOMICO DRAMATICO DA REGIÃO DE SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE, EM PERNAMBUCO, MAIOR POLO DE CONFECÇÃO DO NORTE/NORDESTE.
Publicação
Publicação no DCN2 de 19/05/1995 - Página 8527
Assunto
Outros > POLITICA INDUSTRIAL.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, AUTORIDADE PUBLICA, GOVERNADOR, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), URGENCIA, PROVIDENCIA, CONTENÇÃO, FALENCIA, INDUSTRIA, CONFECÇÃO, REGIÃO, ESPECIFICAÇÃO, MUNICIPIO, SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE (PE).

O SR. JOEL DE HOLLANDA (PFL-PE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a história de Santa Cruz do Capibaribe é conhecida fora dos limites de Pernambuco. Distante cento e oitenta quilômetros de Recife, essa cidade de clima semi-árido está localizada no agreste setentrional do Estado. Fica entre a conhecida cidade pernambucana de Caruaru e a paraibana Campina Grande.

Abriga uma população de aproximadamente sessenta mil habitantes, quase todos moradores da área urbana. E quase todos prósperos, contrastando com a maior parte dos habitantes do agreste, população abatida por periódicas e inclementes secas.

A história que fez de Santa Cruz do Capibaribe uma cidade diferente começou há quarenta anos. Na metade da década de cinquenta, Santa Cruz descobriu sua vocação. Com mão-de-obra quase artesanal, começou ali a indústria da confecção.

Ainda precária, com empresas de fundo de quintal, a nova atividade foi tomando fôlego. Foi-se modernizando, aperfeiçoando seu produto. Hoje, o padrão de qualidade dos tecidos e confecções ali produzidos ultrapassa os limites de Pernambuco e chega a São Paulo.

Hoje, o centro comercial de Santa Cruz do Capibaribe forma um enorme aglomerado de atacadistas de tecidos, confecções, aviamentos e máquinas de costura. Abastece as grandes lojas de departamentos de todo o País, as butiques simples ou sofisticadas, além de cerca de cinco mil bancas de feiras que vendem confecções populares.

Quarenta anos depois da instalação das empresas de fundo de quintal, aquela cidade do agreste exibe prosperidade. Orgulha-se de abrigar seis agências bancárias, quatro clubes sociais e esportivos, um dos quais, o Ipiranga, disputa com êxito a Primeira Divisão do Campeonato Pernambucano de Profissionais, escolas de primeiro e segundo graus, hotéis e restaurantes de primeira qualidade.

O êxito estupendo da Capital da Sulanca, como é conhecida Santa Cruz do Capibaribe, rendeu frutos. Recebe o título de "Maior Pólo de Confecções do Norte/Nordeste" e tornou-se notícia na mídia nacional.

Para se ter idéia da extensão do sucesso, Sr. Presidente, a cidade mereceu um quadro no Fantástico, da Rede Globo. No programa, Santa Cruz do Capibaribe foi apresentada como cidade modelo graças à força de trabalho de sua valorosa população e baixo índice de problemas sociais. Lá, orgulho-me de lembrar, o espectro do desemprego não amedronta. Está distante daquele verdadeiro milagre de criatividade que Santa Cruz registrou.

Sr. Presidente, Srs. Senadores,

Talvez me tenha excedido. Peço perdão se abusei da paciência dos meus colegas. Mas quis desenhar o quadro econômico-social de Santa Cruz do Capibaribe para justificar meu entusiasmo. E também para contar com a solidariedade desta Casa no pedido de que sou porta-voz.

Santa Cruz, Sr. Presidente, não é uma ilha. Na verdade, sofre os grandes impactos da economia. As crises deflagradas em decorrência de congelamento de preços, mudanças de moedas e tantos outros desvios registrados por causa da violência das medidas tomadas na aplicação dos diferentes planos econômicos deixaram suas marcas na economia da cidade.

Mas Santa Cruz tem uma característica singular. É a última cidade a tombar e a primeira a erguer-se.

Com o Plano Real não foi diferente. Santa Cruz aderiu ao entusiasmo geral. No começo do plano, houve grande aquecimento da produção e das vendas. Como conseqüência lógica, as empresas locais contrataram mais empregados, aumentaram o estoque de matérias-primas, renovaram as máquinas. Aliás, Santa Cruz do Capibaribe foi precursora na importação, em todo o Norte/Nordeste, de máquinas de tecnologia avançada.

Essa ousadia, Sr. Presidente, se deu em momento muito especial. Era época de retração, de temor. Na oportunidade, empresas de renome nacional, como Santista, Rhodia, Vicunha, Vela Norte, Franco Mattos e tantas outras fechavam as cotas de vendas para Santa Cruz.

Há mais. As medidas anticonsumo atingiram duramente a indústria e o comércio locais. As centenas de ônibus de excursionistas que ali chegavam diariamente reduziram-se a poucas dezenas, diminuindo drasticamente a venda de tecidos, confecções e de serviços de hotelaria e restaurantes.

A conjuntura madrasta foi mais além. A maioria das vendas era feita com cheque pré-datado, que é, como todos sabemos, uma moeda corrente em nosso País. Ora, a crise atingiu os emissores dos cheques, que, inadimplentes, sustavam o pagamento dessa ordem de crédito ou, simplesmente, não dispunham de fundos para honrá-los.

O quadro aqui desenhado, Sr. Presidente, é dramático. Não podemos cruzar os braços e esperar que sessenta mil pessoas vão à falência. Por isso, apelo para a sensibilidade do governo do Estado de Pernambuco. Governador, tome medidas capazes de amenizar a crise por que passa não só Santa Cruz do Capibaribe mas também todas as cidades que vivem da produção local.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 19/05/1995 - Página 8527