Fala da Presidência no Senado Federal

FALA ASSOCIATIVA AS HOMENAGENS AO DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE.

Autor
José Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • FALA ASSOCIATIVA AS HOMENAGENS AO DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE.
Publicação
Publicação no DCN2 de 06/06/1995 - Página 9433
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, MEIO AMBIENTE.

O SR. PRESIDENTE (José Sarney) - Antes de encerrar a sessão, como Presidente da Casa, associo-me às palavras aqui proferidas pelos ilustres Senadores Valmir Campelo e Coutinho Jorge e a ilustre Senadora, Marina Silva, a respeito do Dia Mundial do Meio Ambiente.

Este, sem dúvida, é um dia que deve, no mundo inteiro, não trazer só palavras, mas propiciar, na consciência de cada pessoa, a reflexão sobre o que significa, para todos nós, a preservação da vida na face da Terra.

Estou ligado profundamente a esta causa. O primeiro e longo discurso feito no Brasil, no Parlamento, sobre o problema do meio ambiente, estudando a poluição das águas e do ar, a devastação da nossa terra, foi feito por mim, em 1972, quando se realizava a Primeira Conferência Mundial Sobre Meio Ambiente, em Estocolmo. Recordo as palavras que proferi, à aquela época, neste plenário. Dizia eu:

      "O mundo encurtou e começamos a era de uma civilização planetária. O mundo todo está dentro das nossas casas e a ciência, aliada à técnica não conhece fronteiras para prosseguir nesse caminho fascinante de ampliar o nosso conhecimento a todo o Universo. Mas, à proporção que avançamos nesse rumo, tomamos conhecimento de que todos somos prisioneiros de um pequeno planeta que também a velocidade extraordinária caminha pelos espaços perdidos.

      O homem que se julgava objeto da criação e fora da natureza começa a duvidar de sua primazia e antes de salvar-se ele sabe agora que precisa salvar a Terra. O que adiantaria o desenvolvimento, a alma imortal, a vida, se ela não vai mais ter espaço para existir?

      Esta é a raiz de toda a dúvida que está levando as nações a pensar na Natureza, não mais em termos somente de sua beleza, do usufruto de suas dádivas, de sua exploração. Mas, pensar na natureza em termos de que ela pode chefiar uma rebelião impossível contra o próprio homem, criando a antiexistência.

      É neste ponto fundamental que as nações jovens não podem lavar as mãos para assistir ao incêndio, mas têm uma extraordinária autoridade para afirmar que se a terra está doente, começa a dar sintomas de enfraquecimento, a culpa não é somente dos países em desenvolvimento, mas dos super-ricos que, na ânsia de exploração, se comportaram de maneira predatória."

Dizia eu, então, citando uma frase de John Kenneth Galbraith, que nós conseguimos fazer a mais desconfortável e mais confortável vida na face da Terra em todos os tempos.

Citava, também, que o que importava não a quantidade dos nossos bens, a acumulação de bens, mas, sobretudo, a qualidade de nossa vida.

      E terminava com estas palavras:

      "O tema da poluição tem vários ângulos e não está esgotado.... Ou nos salvaremos todos, ou todos pereceremos. A tecnologia, paradoxalmente, possibilitou, em termos da existência, a não-existência de privilegiados. Esta realidade talvez leve a humanidade a construir um outro futuro, com o domínio do universo e as fontes da própria vida. Para isso, contudo, será preciso livrar o próprio homem do ideal da violência e ensinar-lhe a viver em paz.

      Mas, enquanto não chegarmos lá, viveremos à beira do grande perigo, entre a ânsia de viver mais e o risco de morrer logo."

Para alimentar nossas esperanças, citava eu, finalmente, naquele discurso, Nance Newhall:

      "De todos os recursos, o mais crucial é o espírito do homem. Não aquele espírito entorpecido, mas aquele espírito evoluído capaz de criar e de amar. O homem ainda é um caçador, embora sua caça possa ser uma esperança, um mistério ou um sonho".

Como Presidente da República, tive a oportunidade de encontrar a causa ambiental no seu ponto de maior discussão na face da Terra. E o Brasil, naquele instante, teve oportunidade de criar - posso dizer sem nenhum ufanismo - a melhor legislação que existe, em todos os países, sobre meio ambiente, aos níveis constitucional, infraconstitucional e regulamentar.

Criamos, àquela época, o Programa "Nossa Natureza", que é um exemplo. Criamos o IBAMA, o organismo que centralizou as, aproximadamente, trinta repartições que existiam no País tratando do problema do meio ambiente, sistematizando-o e dando-lhe um tratamento racional e efetivo. Criamos as reservas extrativistas no Acre e no Amapá, onde, agora, o Governador Alberto Capiberibe desenvolve um programa inédito e pioneiro de desenvolvimento sustentado.

Mais do que isso. Lutei nos fóruns internacionais para que o Brasil sediasse a II Conferência Mundial do Meio Ambiente. Lutamos em todos os fronts. E tive a felicidade, já fora do Governo, afastado de tudo, de verificar o êxito em que se constituiu a II Conferência Mundial do Meio Ambiente. Ultimamente, tenho ainda participado de fóruns internacionais.

Como disse a Senadora Marina Silva, este dia não deve ser um dia só de louvação e de denúncias, mas, também, um dia de reflexão. O problema do meio ambiente que, naqueles anos, era o segundo mais discutido do mundo, hoje é o sétimo, passando a ser um problema quase que marginal nas preocupações da Humanidade.

Isso é um grande perigo. Devemos ter presente, permanentemente, que a questão do meio ambiente é fundamental para o homem porque diz respeito à sua relação com a vida. Sobretudo, os jovens, as novas gerações, devem ter a consciência de que lutar pelo meio ambiente e pela ecologia é lutar pela sobrevivência, pela vida do homem na face da Terra, a aventura do homem na face da Terra como criatura de Deus.

E o mais fundamental de todos esses problemas, para ser objetivo, para ser preciso, é que o homem passou todo o tempo a pensar na imortalidade, a buscar a imortalidade.

Miguel de Unamuno, grande escritor espanhol, sintetizou esse sentimento do homem no livro O Sentimento Trágico da Vida, o Sentimento da Imortalidade. Paradoxalmente, em vez de o homem construir a imortalidade, construiu ele a possibilidade da morte coletiva, que é a morte da Terra e a morte da Humanidade. A primeira de todas elas é, sem dúvida, a da desintegração do átomo. Enquanto existir uma arma nuclear na face da Terra, a Humanidade está ameaçada da sua destruição massiva.

Hoje, no Senado Federal, lembremo-nos da necessidade permanente, periódica, a todo momento, a todo instante, de exigir o banimento de todas as armas nucleares da face da Terra. (Palmas) Este é o primeiro ponto em que a Humanidade não pode deixar de pensar um só dia. Em segundo lugar, a Humanidade não pode deixar de pensar na preservação da própria Terra, na preservação da água, do ar, das florestas, enfim, de tudo aquilo que a natureza nos deu para a nossa vida.

Ao finalizar esta sessão, quero sair daqui - todos nós -, com a consciência totalmente voltada para o fato de que o problema do meio ambiente não é um problema ideológico, de facção, de um país. É o único problema que une a Humanidade.

Certa vez, visitava eu o Cosmódromo da ex-União Soviética, a Cidade das Estrelas. E encontrei o cosmonauta que havia estado o maior tempo isolado num satélite em torno da Terra. Perguntei-lhe, como um homem de crença, se ele havia visto Deus. Ele respondeu: "Vi Deus. Mas vi Deus olhando a Terra como uma coisa pequena e pensando que os homens, morando numa Terra azul tão linda, tão pequena, tivessem ainda o espírito da violência e da divisão, e não o espírito da paz e da humanidade".

Que seja esta a mensagem que hoje todos nós levemos às nossas casas no Dia Mundial do Meio Ambiente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 06/06/1995 - Página 9433