Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM AO DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE.

Autor
Valmir Campelo (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/DF)
Nome completo: Antônio Valmir Campelo Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AO DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE.
Publicação
Publicação no DCN2 de 06/06/1995 - Página 9427
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, MEIO AMBIENTE.

O SR. VALMIR CAMPELO (PTB-DF. Pronuncia o seguinte discurso ) - Exmº Sr. Presidente do Senado Federal, Senador José Sarney, Exmº Sr. Tenente-Brigadeiro-do-Ar, Mauro José Miranda Gandra, Ministro da Aeronáutica, Srs. Embaixadores, Srªs e Srs. Senadores, Sr. Secretário-Geral do Instituto Internacional da Juventude para o Desenvolvimento, Marcelo Senise, jovens, minhas Senhoras e meus Senhores,

Comemora-se no dia 5 de junho, hoje, o Dia Mundial do Meio Ambiente.

A instituição dessa data foi de singular oportunidade para todos os povos, pois, em todas as partes ou em todos os países, criaram-se ocasiões para reflexão sobre um problema que diz respeito a todos e, de acordo com o tratamento que lhe foi dado pela humanidade, será de melhoria da qualidade de vida ou de depreciação igualmente para todos.

Fugindo da tendência para ficção científica que o tema provoca, não há como negar que o planeta Terra sofre ameaças muito sérias e de forma exponencial, ocasionadas pela poluição da natureza e pelo uso de seus recursos e potencialidades de forma desordenada, apenas para deles usufruir ganhos ou consumo.

Responsáveis por essa situação são tanto os países ricos quanto os pobres. Aqueles por causa do uso intensivo de combustíveis fósseis e de matérias-primas para a indústria de transformação, estes pela desordem, pela ausência de disciplina e de planejamento com que exploram os recursos naturais.

Sob esse aspecto, recordo o que disse João Paulo II, quando do lançamento da Encíclica Centesimus Annus: "O homem, tomado mais pelo desejo de ter e do prazer, do que pelo de ser e de crescer, consome de maneira excessiva e desordenada os recursos da terra e da sua própria vida."

Tomando consciência dessa verdade, os povos de todas as nações estão descobrindo a natureza e reavaliando com mais propriedade, sensibilidade e equilíbrio suas potencialidades e limites. A partir de um conhecimento novo, trabalham para redimensionar o fazer humano sobre a mesma natureza de modo a salvaguardá-la e potencializá-la.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a questão ecológica é, sem dúvida, o tema que constitui o grande desafio do próximo milênio, um desafio à capacidade de compreender em que circunstâncias nos encontramos e para qual futuro caminhamos.

Por seu caráter global, a realidade ambiental não pode ser encarada apenas em nível nacional. Impõe-se a colaboração entre todos os povos.

Nossa época diferencia-se profundamente das épocas já vividas. A população mundial cresce de modo explosivo. O progresso no campo científico e tecnológico parece não ter limites e está cada vez mais veloz. Os ecossistemas deterioram-se, bem como o estado biofísico dos oceanos e da atmosfera. A zona rural esvazia-se, de modo particular nos países subdesenvolvidos, inchando as cidades e criando problemas quase intransponíveis no setor da saúde, da educação, do saneamento básico, da moradia e do trabalho. Todos esses fatos pressionam para um sistema de interações que atinge a própria existência.

Abordando a questão ambiental, Sua Excelência o Senhor Embaixador da Itália no Brasil, Oliviero Rossi, assim se manifestou:

      "Em tais condições de interdependência que compreende tanto os fenômenos naturais quanto a ação humana, bem como todos os problemas e as suas possíveis soluções, os povos e os Estados não poderão tomar estradas divergentes. Todos, sem distinção, deverão seguir um destino comum, de salvação ou de destruição. É necessário superar os interesses imediatos e não se confinar no âmbito restrito dos próprios privilégios. Um elevado grau de solidariedade é a condição essencial para a própria sobrevivência da humanidade".

A América Latina e o Brasil, de modo particular, possuem um papel único e insubstituível para o futuro da humanidade, por força das dimensões geográficas, da história, da cultura e do estágio de desenvolvimento que ainda permite evitar erros no tratamento à natureza, o que o Velho Mundo ou os países mais avançados não têm condições de fazer.

A realização da Conferência do Rio em 1992 foi um marco balizador dos ideais ecológicos do mundo moderno. Lançou e fez germinar a semente da responsabilidade, da opinião pública no sentido da possibilidade e da necessidade de cooperação internacional neste campo. Fez nascer a noção da ética da solidariedade e da urgência na busca de parcerias e de igualdade entre as nações envolvendo governos e cidadãos.

A educação ambiental tornou-se imperativo, quem sabe a única alternativa para assegurar à humanidade uma qualidade de vida satisfatória no próximo milênio.

Na atualidade, o cotidiano das pessoas não pode separar-se do ambiente. Daí a importância do trabalho educativo. O ser humano precisa mudar posturas, precisa conscientizar-se para viver em harmonia com a natureza. É preciso intensificar essa caminhada.

Até há pouco, era pensamento aceito sem reservas a crença de que a pobreza criava a causa da deterioração. A Conferência do Rio mostrou que o motivo principal não é criado pela pobreza, mas pela forma como os povos planejaram e vêm executando seus planos para arrancar lucro da natureza.

O mundo está preparado para uma nova revolução, hoje, a revolução da eficiência dos recursos naturais e para tal façanha já dispõe de possibilidades técnicas. Os esforços nesse sentido são grandes e impostergáveis.

É preciso repensar a visão do progresso econômico, é preciso descobrir e cultivar novos valores, para fundar uma civilização mais inteligente e, conseqüentemente, menos predadora e unilateral.

Imprescindível nessa batalha, o envolvimento dos jovens, pois é na tenra idade que as idéias se firmam e plasmam personalidades, tornando-as capazes de opções inovadoras. Os jovens são terra fértil aguardando a semente, a semente da utopia transformadora, de um mundo melhor, da utopia que não existe aqui e agora, mas aqui e amanhã se fará realidade. Nenhuma juventude existe e subsiste na depressão e na falta de ideal.

Razão teve a Conferência do Rio quando, no Capítulo vinte e cinco da Agenda 21, estabeleceu que "cada país deve criar, junto à sua comunidade jovem, mecanismos que promovam o diálogo, em todos os níveis, entre essa comunidade e o Governo e estabelecer canais de acesso à informação que permitam à juventude colocar seus pontos de vista nas decisões governamentais e na implementação da Agenda 21".

Conscientes da importância da participação dos jovens, os Senhores Presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, bem como líderes partidários de diversas agremiações, entre os quais me incluo, remeteram correspondência ao Senhor Presidente da República apoiando proposta de criação do Conselho Nacional da Juventude.

O autor da proposta de criação do Conselho Nacional da Juventude é o estudante e líder de movimentos jovens que atuam no Brasil e no exterior, Marcelo Senise, que se faz presente nesta Sessão Especial.

Marcelo Senise, que é um dos representantes mais destacados da chamada "geração Brasília", a geração do Terceiro Milênio, possui uma rica história de realizações. Líder nato, comandou um batalhão de jovens numa luta sem tréguas contra o uso de drogas na Capital Federal. Idealista e visionário, teve participação destacada na Eco/92, sendo um dos ativos participantes do grupo que elaborou a Agenda 21. Convidado pela ONU, representou o Brasil numa das sessões daquele organismo internacional, discursando em defesa da vida, da natureza e reclamando uma participação mais efetiva da juventude nos processos decisórios que envolvam interesses gerais da humanidade.

Para sustentar sua proposta de criação do Conselho Nacional da Juventude, que pretende constituir-se num órgão auxiliar de assessoramento e consultoria à Presidência da República, o jovem brasiliense está lançando hoje o Instituto Internacional da Juventude para o Desenvolvimento, organização não-governamental voltada para a congregação de esforços de jovens do mundo inteiro, em prol da paz entre os povos, da preservação da natureza e do desenvolvimento sustentado.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, se queremos um futuro melhor para o nosso País, não podemos ter medo de ouvir o jovem, não podemos ter receio de deixá-lo ousar.

Finalizando, valho-me desta ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente para sublinhar a importância da consciência ecológica, pois creio que essa consciência irá fundar parâmetros mais justos e adequados para a preservação ambiental. Nada melhor do que consciências e inteligências jovens para religar a sociedade, em crise de ideais, a um novo horizonte de confiança básica na vida e na história, sem o que ninguém vive e nenhum povo consegue subsistir.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 06/06/1995 - Página 9427