Discurso no Senado Federal

ESCLARECENDO A FUNÇÃO DO PFL NO ATUAL GOVERNO.

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • ESCLARECENDO A FUNÇÃO DO PFL NO ATUAL GOVERNO.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Pedro Simon, Sérgio Machado.
Publicação
Publicação no DCN2 de 01/06/1995 - Página 9269
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, DISCURSO, ARTUR DA TAVOLA, SENADOR, RELAÇÃO, UNIÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), VIABILIDADE, GOVERNO, PAIS, SIMULTANEIDADE, RESPOSTA, CRITICA, PEDRO SIMON, CONGRESSISTA.
  • LEITURA, DEPOIMENTO, PUBLICAÇÃO, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), RECONHECIMENTO, VOCAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), EXERCICIO, PODER.
  • ESCLARECIMENTOS, POSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), LUTA, PODER, AUXILIO, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLUÇÃO, CRISE, PAIS.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL-BA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, em primeiro lugar, desejo agradecer ao Senador Esperidião Amin a oportunidade que me oferece de vir à tribuna hoje, concedendo-me o direito de falar neste horário.

O Senador Artur da Távola acaba de nos brindar com excelente discurso sobre o problema da aliança PSDB/PFL, onde coloca, com muita precisão de linguagem, e aborda com clareza política um tema tão importante que tem sido noticiado pela imprensa e muito falado nas duas Casas do Congresso.

Nós, do PFL, sempre pregamos a reforma do Estado, sempre lutamos pela privatização e estamos exatamente cumprindo agora, com alguma força, o que prometemos nas nossas campanhas políticas e queremos tornar realidade, porque sabemos que será útil para o País.

O Presidente do PSDB fez-nos justiça. Em verdade, ninguém melhor do que o Senador Artur da Távola, que, com clareza, argúcia, educação e tino político, lembra que o nosso partido foi íntegro no decorrer da candidatura Fernando Henrique Cardoso, coisa que o próprio PSDB, apesar dos esforços de seus líderes, não conseguiu. Em alguns pontos houve fracionamento de alas mais radicais que não entenderam a missão que o grande Líder poderia ter e tem a prestar neste País, nesta quadra da vida nacional.

Não precisaria vir mais à tribuna, pois a colocação do Senador Artur da Távola deu o cunho perfeito da aliança do PSDB e do PFL. Evidentemente que falou pelo seu partido, mas fez isso com tanta propriedade que falou pela aliança e, posso dizer, também falou pelo nosso partido, tal a competência do seu dizer.

Por isso, poderia não tratar do assunto a que me vou referir, mas, se não o fizesse, estaria decepcionando essa figura que queremos bem e que distinguimos tanto, que é a do Senador Pedro Simon.

O Senador Pedro Simon é um carinhoso provocador do debate e as suas provocações sempre demonstram as qualidades das pessoas que têm afeto e que sabem que o ciúme é uma condição do amor. Eurípedes já dizia que o ciúme é inato ao coração das mulheres, mas estava errado. É muito pior quando está no coração dos homens. O Senador Pedro Simon é um exemplo.

O ciumento sempre descobre mais do que deseja. E vemos isso todos os dias desta tribuna. Em suas falas, o Senador Pedro Simon procura descobrir muito mais do que deseja. Então, S. Exª vê o que não existe, vê coisas que não são reais, em virtude do ciúme que tem de o nosso partido estar numa posição de destaque na vida nacional, prestando serviços à Nação e ajudando o Presidente Fernando Henrique Cardoso nesta quadra difícil que o País atravessa.

Selecionei, é verdade, algumas frases importantes de pensadores ilustres sobre o ciúme. "O alimento do ciúme são as dúvidas." E essas dúvidas perseguem também o Senador Pedro Simon e vão persegui-lo sempre. S. Exª estará aqui sempre perseguido pelo nosso trabalho eficiente e pela nossa ajuda competente ao Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso. S. Exª vai sentir cada vez mais que queremos ajudar o Presidente e não nos ajudar, como pensa e diz por intermédio de atos que não são os mais recomendáveis da vida pública.

Nós do PFL vivemos um momento destacado. E vou provar ao Senador Pedro Simon e à Casa que isso vem sendo reconhecido pela opinião pública nacional.

A verdade é que o ciúme - ainda volta o ciúme, Senador Pedro Simon - "vê com lentes de aumento, faz grandes as coisas pequenas; gigantes os anões e verdades as suspeitas". E, ainda - aí não é tanto com V. Exª -, "o ciumento nunca está isento de certa inveja."

V. Exª disse em seu aparte que tinha inveja, mas não tem. O ciumento, segundo La Bruyère, é invejoso. V. Exª não é invejoso, V. Exª tem, sim, vontade de ser filiado ao PFL, mas tem acanhamento. Entretanto, não devia tê-lo porque V. Exª será recebido com grande carinho neste Partido, pois o consideramos um dos grandes quadros do Senado e da República.

Portanto, estamos dispostos a continuar o nosso trabalho, para que tenhamos sempre - como temos hoje -, o reconhecimento público como o Jornal do Brasil, no dia 29, anteontem, publicou no artigo "A prova do Voto":

      A lealdade dos compromissos políticos repõe o PFL na lista dos partidos com vocação histórica para o exercício do poder. É com partidos que se sentem à vontade no poder, sem medo de assumir posições e enfrentar impopularidade efêmera, que se governa. Submetida a desconfianças e preconceitos na campanha presidencial e na formação do Governo, essa legenda esperou o momento de dar a resposta, não com palavras, mas com o comportamento. Vem calando a crítica, que se alimenta de prevenções e não se fundamenta nos fatos.

Neste ponto, é feito um elogio, que a mim e a V. Exª é muito caro.

      Quando apresentou um jovem Deputado à Presidência da Câmara, o PFL queria assinalar uma renovação e não ganhar uma eleição. Os fatos comprovam que o Deputado Luís Eduardo trouxe um alento de qualidade à representação parlamentar: mostrou que é possível fazer da palavra um compromisso. A Câmara já é outra. Foi o novo Presidente da Câmara quem propôs, quando o debate das reformas se frustrou, desistir da busca do consenso: encerrou a troca de suspeitas e passou à votação. O resultado só foi surpresa para os que fazem pouco da democracia. O PFL apareceu bem e confirmou que a sua vocação para o poder não se faz nas sombras, mas às claras, na hora de votar.

Esse depoimento foi publicado no artigo principal do Jornal do Brasil, o qual não tem ligação com o PFL. Estamos vivendo um momento histórico e é por isso que temos a responsabilidade de estar com o poder. Gostamos do poder? Gostamos, sim. Luta-se para ter o poder; lutamos para ter o poder. A nossa unidade é para buscar o poder. Queremos estar mais unidos ainda no Senado e na Câmara para continuarmos no poder, para elegermos o sucessor do Presidente Fernando Henrique Cardoso em aliança - se possível - na reeleição de Fernando Henrique, se for necessário. Seja como for, queremos a continuidade do regime democrático com os candidatos que façam esse programa de que o Brasil tanto precisa. É isso o que desejamos, é isso o que queremos.

Chegamos ao Presidente Fernando Henrique de forma irregular? Não. Não faço nenhuma revelação agora dizendo como chegamos. Não o faço porque o próprio Senador Artur da Távola já salientou esse aspecto e, também, nos apartes isso ficou bem claro: chegamos ao Presidente Fernando Henrique Cardoso antes mesmo do próprio PSDB.

Aqui estão alguns recortes que foram reunidos desde o ano passado. Um deles, de 09 de março, diz: "ACM critica tucanos que apóiam o PT"; um outro, de 5 de abril: "PFL espera fazer acordo com os Tucanos nesta semana"; em 6 de abril, "Maciel garante que a aliança entre PFL e PSDB está selada"; "PSDB considera irreversível aliança com PFL."; "Convenção do PFL no dia 19 de maio"; em outro recorte temos a manchete "PFL espera que FHC mude de estilo". Este último recorte é do jornal O Estado de S. Paulo, que acha que o conselho de ACM é de amigo para que Fernando Henrique Cardoso mude o tom dos seus discursos, que estes fossem menos professorais e mais agressivos para atingir o eleitorado. Esse jornal é de maio de 1994.

Conseqüentemente, não chegamos tarde para a candidatura Fernando Henrique. Naquela época, o Presidente Fernando Henrique Cardoso tinha entre 4 a 12% da preferência do eleitorado. Já o meu amigo e querido Senador Pedro Simon fez o seu primeiro discurso de apoio ao nosso candidato à Presidência da República, neste Senado, no dia 16 de agosto no ano da graça de 1994 e formalizou em grande estilo a sua adesão, com 150 prefeitos e o Governador Antônio Britto, em 3 de setembro, no Rio Grande do Sul.

Nós pegamos doze, mas V. Exª teve mais sorte; pegou 41. V. Exª há de ver que, embora lhe desejássemos um tratamento adequado, perfeito, como V. Exª merece, não poderemos sentir-nos mal neste Governo, que é nosso, Senador Pedro Simon. V. Exª faz bem quando diz que vai aconselhar o seu filho, quando crescer, a entrar para o PFL. E o PFL estará, nessa ocasião, mais forte do que hoje, porque a nossa tendência é o crescimento.

Mas o que quero, neste instante, é dizer que V. Exª não deve se perturbar. O seu discurso de sexta-feira não nos aborreceu, fez-nos pesquisar. A pesquisa é sempre boa, aviva a memória, traz um bom debate, e um debate com V. Exª é sempre uma alegria. Fico feliz, e sabe V. Exª o apreço que lhe tenho. Acredito que o Presidente Fernando Henrique Cardoso não pode prescindir do seu apoio e muito menos do partido a que V. Exª pertence.

O PMDB é hoje um dos pilares que sustentam também o Governo Fernando Henrique, e esse pilar é indispensável para a ampla aliança que nós desejamos, de governabilidade para o País. Por isso, quero que V. Exª venha se juntar a nós, com essa combatividade, sobretudo com essa inteligência que Deus lhe deu e que não poderemos desperdiçar sem que esteja ao nosso lado.

O Sr. Pedro Simon - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - Com muito prazer.

O Sr. Pedro Simon - Nobre Senador, em primeiro lugar, meu muito obrigado a V. Exª, que iria fazer seu pronunciamento ontem e teve a gentileza de, indo ao meu gabinete e sabendo que eu não viria ontem, deixar para fazê-lo hoje, porque eu estaria aqui. É um gesto característico da sua elegância e do seu alto espírito público. Segundo, fico emocionado com a sessão de hoje, porque já o Presidente do PSDB e V. Exª estão colocando o debate num tom alto, sério, importante e necessário, o que me parece altamente significativo. Terceiro, creio que V. Exª está cometendo um equívoco com relação a mim. Com toda sinceridade, meu querido Senador Antonio Carlos Magalhães, sou uma pessoa que não esconde o seu pensamento. Ao longo da minha vida, ainda vou ter oportunidade de analisar V. Exª. Tenho algumas características, uma das quais é a coerência. Eu, gurizinho da Faculdade de Direito, filiei-me ao pensamento político de Alberto Pasqualini. Normalmente, sigo o caminho que não vai para o poder, podendo ir; fico pela coerência. Dentro desta minha coerência, até hoje não me dei conta de que tivesse ciúme ou inveja. Tenho até respeito e admiração. Tenho inveja num sentido. Não minto a V. Exª que defendi o entendimento da chamada socialdemocracia. O nosso querido Presidente do PSDB sabe disso. Eu entendia que o PMDB, o PTB, o PDT, o PSDB deviam sentar-se à mesa e indicar uma candidatura. Nós fomos incompetentes, a começar pelo PMDB, em que o Sr. Orestes Quércia não abriu mão de ser o candidato. Não podíamos nem discutir, porque exigíamos o nosso candidato. O mesmo acontecia com o PDT do Sr. Leonel Brizola, que exigia ser candidato. Diga-se de passagem, meu querido amigo Artur da Távola, o PSDB aceitava sentar na mesa e não exigia candidato. O PSDB concordava em discutir o assunto. Eu admiro o PFL, e V. Exª tem toda razão, é verdade. A candidatura de Fernando Henrique Cardoso ainda não estava consolidada, nem dentro do PSDB, nem dentro do pensamento de Sua Excelência. O Senador Fernando Henrique Cardoso - quero fazer justiça ao atual Presidente da República - se apaixonou pelo Plano Real, foi convocado à sua própria revelia; aceitou, arregaçou as mangas, matou-se, trabalhando. Teve coragem de ser impopular. Sua Excelência foi absolutamente impopular quando votou contra os 100% de aumento para o salário mínimo, quando criou o imposto sobre juros. Tomou todas as medidas absolutamente impopulares. Lembro-me aqui de quando fomos vaiados pela CUT e FIESP juntas, lotando este plenário, quando votamos o imposto sobre o cheque. Fernando Henrique não pensava na candidatura. Até acredito que quem primeiro se lembrou da candidatura de Fernando Henrique Cardoso foi realmente V. Exª, que é o mestre do PFL e o PFL. A candidatura veio e o entendimento saiu. Reconheço que preferia que tivesse sido feito com o PMDB, PSDB, PDT, PTB um grande entendimento da chamada socialdemocracia. Fracassaram. Vitória de V. Exª e do seu partido. Concordo com o o editorial do JB, lido por V. Exª, que diz que o PFL é um partido com vocação para o poder. Não receba isso como crítica, considero até uma qualidade, pois ele tem vocação para o poder. O PMDB é um partido com vocação de não ser poder, está lá a favor e contra o José Sarney, nosso companheiro, Presidente de honra do PMDB. O Senador José Sarney dialogou, governou, foi um homem de bem, queria dialogar conosco. O PMDB, ao invés de aliar-se, tentar fazer um grande governo, ficou a vida inteira nem anti nem a favor de José Sarney. Com o Dr. Ulysses Guimarães, por quem tenho carinho e amor, ocorreu o mesmo. Ulysses Guimarães é o maior nome que conheci na vida política. Quando da sua candidatura para Presidente, eu era Governador de Estado. Aquela não era a sua vez, ele não tinha nenhuma chance, e nós sabíamos disso. O PMDB, com 22 governadores, não teve competência para escolher um candidato viável. Escolheu um grande nome, mas não era o momento. Sei que V. Exª, Senador Antonio Carlos Magalhães, gostava muito do Dr. Ulysses. Ele que só esteve mal politicamente perante a opinião pública, quando candidato à Presidência da República, e não soube entender isso. Eu acredito em destino. Até o fim da vida o Dr. Ulysses Guimarães esteve por cima, teve credibilidade, carinho e respeito de todos os brasileiros. Cinco anos depois, repetimos a derrota com o Quércia, porque não tínhamos chance. O próprio Senador José Sarney mostrava as pesquisas. Fomos incompetentes. O PFL tem vocação para o poder. O prezado Presidente do PSDB, Senador Artur da Távola, disse que há um entendimento entre o PFL e o PSDB, o chamado liberalismo com a socialdemocracia. Agradeço a V. Exª pela gentileza da exposição, bem mais elegante do que a minha, na qual usei de certa ironia. Estou fazendo uma tentativa no sentido de que, nessa aliança, se depender de mim, apareça um pouco mais, meu querido Artur da Távola, a socialdemocracia. Que as bandeiras, que as teses social-democratas venham a aparecer mais. V. Exª há de concordar que é legítima esta minha pretensão. Aliás, é isso que está nas manchetes dos jornais de hoje. Estou demorando-me demais; não quero alongar-me de modo a perturbar o discurso de V. Exª, Senador Antonio Carlos Magalhães. No meu pronunciamento, em tom um pouco jocoso, eu disse que o Presidente Fernando Henrique Cardoso está enviando as reformas, cumprindo o programa do PFL. V. Exª disse, e é verdade. Sempre defendemos essas reformas. O Senador Esperidião Amin, que me concedeu um tempo, disse: "Nós sempre defendemos essas teses." É verdade. O Senador Roberto Campos disse: "Nós sempre defendemos essas teses." É verdade. O Senhor Presidente Fernando Henrique Cardoso, o Senador Artur da Távola e eu não defendemos essas teses. Nós estamo-nos adaptando. O Senador Artur da Távola, eu, Pedro Simon, e Fernando Henrique Cardoso, como constituintes, não poderemos vir a tribuna, como V. Exª agora, e dizer que sempre defendemos essas teses, porque nós nunca as defendemos. As teses que estamos votando, tentando adaptá-las com a mudança, como disse o Senador José Fogaça, são teses do PFL, do Roberto Campos, do Delfim Netto. O meu pronunciamento é no sentido de cobrar um pouco, fazer o que os Governadores estão fazendo. No jantar com o Presidente, os Governadores cobraram um pouco mais de socialdemocracia. Eles querem ver a parte social: a Educação, a Agricultura, a Saúde. Esse foi o tom do meu discurso. Considero perfeito o pronunciamento de V. Exª bem como o do Senador Presidente do PSDB. Reconheço que o nosso lado foi incompetente. Amanhã, responderei a V. Exª sobre o assunto. Quanto a esse aspecto, a questão é importante; o PFL está sendo altamente competente em fazer o que disse o Senador Artur da Távola, em estar procurando entender a chamada aliança dos que pensam igualmente. Por isso, dou nota dez ao PFL. Não o estou criticando; não o invejo, tampouco sinto ciúme; admiro-o, penso que ele está certo. A incompetente é a chamada socialdemocracia que não faz nada. Isso é que é incompetência às raias da irresponsabilidade. Neste momento, o PFL está tendo um grande motivo para o entendimento; ele está discutindo, debatendo no sentido de acertar em torno do futuro deste País. Dou Nota 10 para o PFL, sem ciúme e sem inveja. A chamada socialdemocracia é de uma quase irresponsabilidade. Estão pensando em votar reforma da Constituição. Tudo continua igual, do mesmo jeito, da mesma maneira. Não há debate, não se sentam à mesa, não apresentam uma alternativa, uma proposta, uma questão a ser feita. O meu pronunciamento tem sido nesse sentido. O chamado centro-liberalismo - chamem do que quiserem - está muito bem. Eu o respeito; ele avançou, não defende teses radicais, está na sua posição. Em contrapartida, o nosso lado está totalmente incompetente.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - Agradeço-lhe. V. Exª sabe o respeito e o afeto que lhe tenho. Quero dizer que V. Exª será sempre um dos nossos; a sua presença é indispensável nos nossos trabalhos. V. Exª é uma das figuras mais marcantes desta Casa. Queremos que nos ajude nas reformas em que V. Exª poderá usar o seu talento e o seu espírito público.

O Sr. Sérgio Machado - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Sérgio Machado - Penso que o Senador Pedro Simon tem um ciúme muito grande do PSDB, e fico muito contente por isso. Está havendo uma ligeira confusão de conceitos. O PSDB está onde sempre esteve, na socialdemocracia, que é a liberdade de mercado com controle social. Essa é a essência, a base da socialdemocracia; o Governo avança no sentido de implantá-la. As reformas econômicas caminham nessa direção, para que possamos exercer o papel social do Governo. Tivemos um Estado privatizado. No Brasil, ao longo do tempo, tivemos um Estado a serviço de uma pequena minoria, e é exatamente isso que a socialdemocracia não permite; ela quer que o Estado exista para todos. Para isso, teremos que aprofundar reformas que poderão dar ao Governo recursos de que ele hoje não dispõe, pois foram desperdiçados. É essa a linha de trabalho. Temos que unir todos os socialdemocratas, e o Senador Pedro Simon é um exemplo disso. S. Exª defende essa bandeira. Temos que nos unir a esta luta de reforma do Estado brasileiro para todos, que é também a luta do Governo Fernando Henrique Cardoso. Fico, portanto, muito contente pelo debate e pela luta que se trava, pois, considero o caminho mais acertado para fazermos a junção, cada vez maior, dos socialdemocratas. Com isso, implantaremos esse projeto de reforma para todos os brasileiros, passando pela reforma econômica. Dessa forma, avançaremos no sentido de nos aprofundarmos nas reformas sociais. Precisamos de recursos para realizá-las, apesar das limitações do Estado brasileiro. Muito obrigado.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, cumpri a minha missão de esclarecer a função do meu Partido no Governo.

Não temos a hipocrisia de dizer que não lutamos pelo poder. Lutamos pelo poder e gostamos de exercê-lo. Essa é uma característica de quem vive. Nietzsche já dizia: "em qualquer lugar onde encontro uma criatura viva, encontro o desejo do poder". Assim, temos a obrigação de lutar pelo poder. Por isso, somos políticos que queremos servir ao povo brasileiro.

O Sr. Eduardo Suplicy - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - Ouço V. Exª.

O Sr. Eduardo Suplicy - O debate que o nobre Senador trava com o Senador Pedro Simon, obviamente traz à luz elementos muito importantes para a História do Brasil. V. Exª fala da competência do PFL em estar no poder. Em verdade, os membros do PFL estão no poder há muitos anos. Poderíamos citar que, pelos menos com clareza, aqueles que estão no PFL estavam também na ARENA, estavam no poder desde 1964. E muitos dos problemas que hoje procura-se corrigir no País advêm daquilo que foi criado por aqueles que estiveram no poder nestes últimos trinta anos. A própria concentração da renda e da riqueza em termos praticamente recordes no Brasil, o fato de o Estado brasileiro ter agido de maneira tão condizente com os interesses da elite deste País, contribuindo para essa extraordinária concentração, resulta das políticas até agora realizadas.

É importante, que o PFL hoje, após esses trinta anos, faça uma revisão crítica e proponha modificações. Mas eu me pergunto, Senador Antonio Carlos Magalhães, que modificações têm o PFL a propor ao Governo Fernando Henrique Cardoso para ir além de no País haver a questão da estabilidade de preços? Que medidas há para atacar de vez o problema da miséria? Seria apenas o Programa da Comunidade Solidária? O que o Senador Pedro Simon mencionou seria a parte do PSDB do governo Fernando Henrique, ou há propostas de maior profundidade? Renovo a pergunta, a reflexão que, inclusive, fiz hoje ao Senador Hugo Napoleão e pessoalmente a V. Exª. Será que o PFL realmente quer que o Presidente Fernando Henrique se torne a "Madame de Ferro" neste País, para realizar um papel semelhante àquele que a Senhora Margareth Tatcher teve para com os mineiros na Inglaterra? Há editoriais - V. Exª deve ter lido - que pedem isso ao Presidente. No entanto, não me recordo em qualquer momento da campanha de, o então candidato, e mesmo o Presidente hoje, Fernando Henrique Cardoso, assumir aquele papel. Sua Excelência disse a um grupo de senadores e deputados que esteve no seu gabinete para dialogar sobre o tema da questão da greve dos petroleiros que é um homem de mediação. Eu até gostaria de ouvir, Senador Antonio Carlos Magalhães, em que medida V. Exª acredita que o PFL pode fazer com que o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso - o Ministro das Minas e Energia, Raimundo Brito, o Presidente da PETROBRÁS - dê, hoje, um exemplo de grandeza, um exemplo da possibilidade de chegarmos a superar esse impasse. Chego a esse exemplo do dia-a-dia, porque significaria a transparência daquilo que é o PFL dentro do governo Fernando Henrique Cardoso.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - Em primeiro lugar, quero dizer que esse discurso antigo não tem mais valor algum. Trinta anos atrás, a situação era totalmente diferente e o País era mais pobre do que é hoje.

O PIB de 30 anos passados era muito inferior ao de hoje; as oportunidades democráticas eram muito piores do que as de hoje; o povo não tinha acesso à saúde e à educação muito menos do que hoje; a situação era muito pior do que a de hoje, apesar de reinar a democracia de que V. Exª fala.

Portanto, esse discurso é ultrapassado. Já não é uma cantiga para o povo ouvir. De modo que já não canta mais nem em comício, que dirá num Senado qualificado como este!

Mude o discurso, porque este está inteiramente ultrapassado! Não venha com esse assunto!

Em segundo lugar, V. Exª, que tem sido sempre um homem tão educado, no momento em que está querendo negociar com o Governo, chama o Presidente de Margareth Thatcher. Essa é uma maneira difícil de negociar.

O Sr. Eduardo Suplicy - Prefiro que este Governo não seja isso. V. Exª ouviu bem: quero que o Presidente não se torne isso.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - Senador Eduardo Suplicy, não queira prejudicar os entendimentos com a PETROBRÁS, que estão indo tão bem. V. Exª será responsabilizado, se esses entendimentos não chegarem a bom termo.

V. Exª, que, hoje, conversou comigo tantas vezes sobre esse entendimento - estamos nos esforçando para isso -, chega aqui e destrói as pessoas do Governo que estão trabalhando para isso. V. Exª não quer que esse entendimento chegue a bom termo. Então, será muito responsabilizado por isso. Os trabalhadores do Brasil verão que V. Exª fala uma coisa lá e, aqui, fala de outra maneira, para prejudicar um entendimento que pode chegar a bom termo.

O Sr. Eduardo Suplicy - Não falei de maneira diferente.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - Estou decepcionado com V. Exª. V. Exª, que é um homem bom, não pode estar querendo...

O Sr. Eduardo Suplicy - O que eu falei de maneira diferente?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - V. Exª quer a crueza. V. Exª está um homem realmente irreconhecível. Não faça assim com os pobres trabalhadores.

O Sr. Eduardo Suplicy - Senador Antonio Carlos Magalhães, que coisa diferente falei eu?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - V. Exª não tem o direito de fazer isso com os trabalhadores. Estamos procurando os caminhos, e V. Exª quer dificultar o trabalho do Governo.

O Sr. Eduardo Suplicy - Renovo o apelo...

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - Tenho todo o interesse de encontrar a solução para o povo brasileiro, embora esta greve tenha sido provocada, evidentemente, pela CUT, pelo corporativismo, pelo Estado que precisa de reformas. A propósito, a pobreza do Brasil é causada pela falta de reformas, pelo tamanho exagerado do Estado. Por isso, queremos reformá-lo para que haja oportunidade para todos. É por isso que queremos a reforma e esperamos contar com V. Exª. Aí sim, teremos outro Estado, sem corporativismo, sem greve de petroleiros e V. Exª não estará falando aqui uma coisa e falando outra para os trabalhadores, que não seguirão o canto de sereia de alguns políticos já ultrapassados.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 01/06/1995 - Página 9269