Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE DISCURSO DO SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES SOBRE A FUNÇÃO DO PFL NO ATUAL GOVERNO. DEFESA ATUAÇÃO DO PMDB.

Autor
Jader Barbalho (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PA)
Nome completo: Jader Fontenelle Barbalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE DISCURSO DO SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES SOBRE A FUNÇÃO DO PFL NO ATUAL GOVERNO. DEFESA ATUAÇÃO DO PMDB.
Aparteantes
Pedro Simon, Roberto Freire, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DCN2 de 01/06/1995 - Página 9272
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • RESPOSTA, ORADOR, CRITICA, AUTORIA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), POLITICA, PAIS.
  • DEFESA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ATUALIDADE, SITUAÇÃO, POLITICA, BRASIL, PERIODO, ELEIÇÕES, CARGO PUBLICO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

O SR. JADER BARBALHO (PMDB-PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho assistido, com muita tranqüilidade e atenção, aos debates envolvendo a legenda do meu Partido nesta Casa, particularmente aqueles entre os Senadores Antonio Carlos Magalhães e o Senador Pedro Simon.

Não votei no Senhor Fernando Henrique Cardoso; votei no candidato do meu Partido, Sr. Orestes Quércia. Que me perdoem, Sr. Presidente, Srs. Senadores, mas, de certa forma, não vejo que contribuição maior possa ser dada, neste momento, ao Presidente da República e ao País com esse debate de quem é mais Governo ou de quem está mais interessado que o Presidente da República faça a melhor administração em favor do Brasil.

Não discuto se o PFL é poder, quer ser poder e vai ser poder depois do ano 2000. Isso é do interesse do PFL, e ele deve defender os seus interesses, da mesma forma que o PSDB e os demais Partidos com assento nesta Casa. Que me perdoe o meu companheiro Pedro Simon, mas o PMDB não cometeu nenhum equívoco em apoiar o nosso candidato, Sr. Presidente. O PMDB ganhou a eleição na maioria dos Estados do Brasil, fez a maioria da Câmara dos Deputados e tem o maior número de Senadores nesta Casa.

Perder eleição faz parte do jogo democrático. Perder eleição é considerado equívoco? Comparar que a insistência do Quércia em ser candidato não era um direito dele? Foi aprovado pela Convenção Nacional do nosso Partido. Dizer que o Dr. Ulysses Guimarães não tinha o direito de imaginar que poderia chegar à Presidência da República do Brasil depois de todos os serviços prestados ao nosso País!!

Quero, Sr. Presidente, como Líder do PMDB, dizer que estou muito satisfeito com o desempenho do meu Partido nas eleições. Nós vencemos eleições neste País. Vencemos eleições neste País.

Analiso as últimas eleições. O candidato Fernando Henrique Cardoso foi beneficiado fundamentalmente - sabe o Brasil - pelo Plano Real. O Plano Real definiu a eleição. Todos sabem disso, e procura-se a partir daí encontrar caminhos para dizer quem agiu melhor, de forma mais competente. Sr. Presidente, isso é matéria para os analistas e historiadores.

Da minha parte, sinto-me muito confortável na condição de convocado pelo Governo. Quando fui eleito, vinha para esta Casa para ser oposição. O meu Partido perdeu a eleição. Assim ocorre na democracia: perdendo-se a eleição, vai-se para a oposição. Mas a maioria do meu Partido decidiu aceitar um apelo do Presidente da República, formalizado através de carta do ex-Presidente do PSDB nacional, o ex-Deputado Pimenta da Veiga.

O meu Partido, portanto, foi convidado a participar do Governo. Quero fazer este registro nesta oportunidade. Não aceito, meu caro Senador Pedro Simon, que o PMDB tenha cometido um equívoco. Perdemos a eleição, e isso faz parte do jogo democrático. Acho até bom para a democracia que os partidos se revezem no poder. Ou será que está certo apenas quem vence a eleição? Será que é competente apenas quem vence todas as eleições? Não tenho, absolutamente, nenhuma inveja do PFL. Nenhuma inveja do PFL, muito menos ciúmes do PFL, nem creio que o Senador Pedro Simon tenha. Acho que isso fica por conta da ironia do Senador Antonio Carlos Magalhães. Não tenho inveja do PFL, nunca mudei de Partido, acompanhei os candidatos do meu Partido. Mantive-me firme, acompanhei o Quércia na convenção, depois dela, nas vésperas da eleição, sabendo que seria derrotado para a Presidência da República. Acompanhei o Dr. Ulysses também, apesar de eu ser Ministro do Dr. Sarney e haver uma turma que achava que quem era Ministro do Dr. Sarney não poderia subir no palanque do Dr. Ulysses.

Ora, para fazer campanha das diretas, o primeiro lugar que se escolheu foi Goiânia, do ex-Ministro de Sarney, Iris Rezende, depois foi Belém, do ex-Ministro de Sarney, Jader Barbalho. Nós dois colocamos a cabeça como Governadores, porque se não tivesse dado certo a campanha das diretas, nós dois teríamos sido os primeiros que tínhamos metido a cabeça contra o regime militar naquela oportunidade. Depois, na campanha do Dr. Tancredo, ainda foi o Iris que fez o primeiro comício e eu fui o segundo. Depois apareceu, na época da campanha do Dr. Ulysses, quando as coisas começaram a ficar ruins - recordo-me bem - o Dr. Waldir Pires, conterrâneo do Senador Antonio Carlos Magalhães, que tinha sido Ministro do Sarney na época das vacas gordas. Eu fui Ministro da Previdência na época das vacas magras. Aí eu não podia subir no palanque.

Não sei onde o Dr. Waldir Pires está atualmente, em que partido se encontra. Continuo firme no PMDB e não tenho inveja alguma daqueles que são só poder.

Já vi a situação mudar. Hoje, vejo pessoas dentro do PSDB, como socialdemocratas, que, se o Lula ganhar a eleição, passam para o Partido do candidato vitorioso. Vão deixar de ser socialdemocratas para serem trabalhistas. Há quem sustentou a ditadura militar e agora está à minha esquerda. Conseqüentemente, virei direita.

Na verdade, ainda não completamos a transição política no País. Não sedimentamos os partidos. Vamos verificar, em cada partido, a história dos seus componentes. Não quero, absolutamente, ser deselegante, mas hoje estou à direita do Governador Albano Franco. Vejam a situação em que me encontro neste momento.

Sr. Presidente, são essas contradições da vida brasileira que me fazem vir a esta tribuna, neste final de tarde, com dúvidas quanto à contribuição que esse debate que acabei de ouvir possa trazer ao Governo e às reformas que aí estão.

Eu, por exemplo, não votarei nenhuma reforma à Constituição pensando no Presidente Fernando Henrique Cardoso. Era só o que estava me faltando: depois de vereador, governador de Estado duas vezes e parlamentar mudar a Constituição do meu País por causa de quatro anos. Não, pretendo mudar a Constituição do País por causa dos próximos 40 anos, no mínimo. A minha preocupação é com a próxima geração e não com esta Administração. Não estou absolutamente preocupado com isso. O que me incomoda é ouvir que o PMDB é incompetente. Sei que é uma conspiração contra nós. É natural, porque foi o PMDB que derrubou o regime do arbítrio. Tínhamos que pagar um preço. Primeiro, pagamos o preço dos conservadores, daqueles que estavam no poder e que não nos perdoam; depois, em face das contradições do poder, saiu um grupo do PMDB, que formou o PSDB.

O Senhor Fernando Henrique Cardoso foi eleito, antes de chegar à Presidência, por que Partido? O Senhor Mário Covas foi eleito por que Partido? Pelo PMDB. Portanto, creio ser errado afirmar que estamos com uma situação política sedimentada. Estamos, sim, em uma fase de transição, não há identidade ainda. Esperamos que, ao final do Governo Fernando Henrique Cardoso, isso possa completar-se.

Há, entretanto, uma afoiteza nisso tudo. Já estão falando até na reeleição do Fernando Henrique Cardoso, que está somente há cinco meses na Presidência. Não se sabe nem se a sua gestão dará certo e já estão proclamando sua reeleição. Para mim, não causa espanto, pois ouvi isso de um amigo do Collor também. Defendia-se a aprovação de uma emenda que permitiria ao Collor ser reeleito ou, então, no caso de um regime parlamentarista, tornar-se Primeiro- Ministro. Entretanto, o resultado todos conhecemos.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, incomoda-me essa história de que o PMDB é incompetente. O PMDB não é incompetente, o PMDB perdeu a eleição. Perdeu a eleição, e cabe ao Partido tentar novamente, democraticamente, a oportunidade na próxima eleição e reconhecer os que venceram: venceu o PSDB e venceu o PFL. E hoje estou na base de sustentação do Governo, porque o Presidente da República fez um apelo ao PMDB. Se não tivesse feito um apelo, eu não estaria na base, estaria tranqüilamente cumprindo o papel fundamental na democracia de exercer a oposição nesta Casa.

O Sr. Pedro Simon - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JADER BARBALHO - Com muita alegria, ouço o companheiro Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon - Em primeiro lugar, recebo com muito respeito a presença do nobre Líder do nosso Partido na tribuna. Respeito as suas posições. Penso que a recíproca é verdadeira.

O SR. JADER BARBALHO - Sem dúvida nenhuma. Tenho o maior respeito pelo passado de V. Exª.

O Sr. Pedro Simon - Tenho uma vida que é uma linha reta em termos de princípios. E tenho uma luta dentro do meu Partido, o PMDB, que vem desde o início: na hora da resistência, na hora do arbítrio, e começou lá no Rio Grande do Sul, onde se pagou o preço mais alto.

O SR. JADER BARBALHO - Nós pagamos também lá no Pará, da mesma forma; apenas no Rio Grande do Sul houve mais repercussão. Meu pai e outros companheiros de lá foram cassados, com os direitos políticos suspensos.

O Sr. Pedro Simon - Lá no Rio Grande do Sul, pelo fato de João Goulart e Leonel Brizola serem do Rio Grande do Sul, e os dois estarem exilados em Montevidéu, ali do lado, pagamos um preço muito alto; mas nos mantemos fiéis às nossas idéias. O que eu quero dizer a V. Exª é que perder a eleição faz parte do jogo democrático. É evidente que sim. Eu perdi uma eleição, ganhei outra. V. Exª sempre ganhou a eleição, é mais competente. Ganhar ou perder faz parte do jogo democrático. Agora, fazer uma análise interna dos equívocos e do mea culpa creio ser importante para não repeti-los. Pode parecer que V. Exª seja um grande companheiro do PMDB, fiel, tradicional, firme, enquanto que este Senador deve ser esquecido por estar comentando fatos desagradáveis referentes ao Partido. Entretanto, refiro-me a fatos acontecidos e reafirmo que houve equívocos que não podem se repetir. Na ocasião, lutei para que o PMDB reunisse uma comissão para decidir se apoiava ou não o então Presidente José Sarney. Não podia ficar com um pé no Governo, por intermédio de V. Exª e do Ministro Iris Rezende, e com outro pé na Oposição, como diz muito bem V. Exª, atrás de um Waldir Pires e outros companheiros, pretendendo que ministros do Governo Sarney não subissem em nosso palanque. Pagamos um preço caro por aquela posição, e foi um dos grande argumentos contra nós. O primeiro erro grave do PMDB foi não ter tido a coragem de tomar uma decisão: se era governo ou oposição. Segundo, perdoe-me V. Exª, ninguém foi mais amigo, ninguém teve mais carinho e mais amor pelo Dr. Ulysses Guimarães do que eu. Perder eleição é natural, mas o Dr. Ulysses fazer meia dúzia de votos, sendo que o PMDB contava, na época, com 23 Governadores e com a imensa maioria da população brasileira, foi incompetência nossa. Nós fomos incompetentes. Eu, Pedro Simon, Governador do Rio Grande do Sul, com mais não sei quantos governadores, ministros de Estado e parlamentares fomos incompetentes em não encontrarmos uma saída. Como bem ressaltou V. Exª, perdemos feio para o Governo do Estado, mas mantivemos maioria no Senado Federal, na Câmara dos Deputados e na maioria das Assembléias Legislativas, porque o povo estava com o PMDB. Nós não escolhemos o momento. No ano passado, fizemos o mesmo e perdemos a eleição. É natural. Mas todo o Brasil sabia que o Sr. Orestes Quércia não tinha condições, não era o momento dele. Falei sobre isso da tribuna do Senado. Este erro que há no País de se acusar um político, de se dizer o diabo dele e não julgá-lo, não acusá-lo, não absolvê-lo é um crime. Propus que criássemos uma comissão dentro do Partido com pessoas que têm o respeito nacional para fazer um levantamento dos dados apresentados. Citei nomes como o de Antonio Mariz e Garibaldi Alves Filho que estão acima do bem e do mal. S. Exªs poderiam atestar que não havia nada. Mas isso não foi feito. O Senador José Sarney demonstrou a todos nós que, segundo as pesquisas, Orestes Quércia não saía de 3% e que ele era o único com condições de ganhar do Lula no segundo turno. O fato de eu afirmar que nos equivocamos não significa que eu seja menos PMDB do que V. Exª, nem que esteja boicotando o PMDB. Amo o PMDB tanto quanto V. Exª e sofro com isso. Perder faz parte do jogo. Perdeu o Quércia, mas o PMDB foi quem fez mais governadores, mais senadores, mais deputados federais, mais deputados estaduais. Quer dizer, o povo queria o PMDB. Isso demonstra que maior foi o nosso equívoco na escolha do candidato, porque o povo queria votar em nós e não votou pelo equívoco do candidato. Perder é normal, mas competência para discutir, debater, analisar e fazer a escolha correta faz parte. Se relembro esses fatos, meu querido Líder, não é no sentido de atirar pedras no que aconteceu, mas para que, daqui a três ou quatro anos, não se repitam.

Tanto essa análise como essa lavagem de conceitos, na minha opinião, são muito importantes. Tenho muito respeito por V. Exª e penso que essas divergências que ocorrem dentro do PMDB são muito boas. Sei também que o nosso Partido tem um passado e uma biografia, e, nesta luta de resistência, estamos desde a primeira hora. Entretanto, penso que chegou o momento de definirmos bandeiras, pois o PMDB viveu na sombra das grandes lutas que enfrentou. Agora é chegado o momento de mostrarmos a nossa bandeira do futuro, que se chama "o social", que se chama "transformação da sociedade". Pela competência que está demonstrando na Liderança do nosso Partido, penso que V. Exª tem condições de fazer com que o PMDB enfrente a grande etapa que tem pela frente.

O SR. JADER BARBALHO - Senador Pedro Simon, em primeiro lugar, estava claro que o Governo Itamar Franco não era um Governo para o PMDB. Desde a primeira hora me manifestei dizendo isso. Aquele Governo era contra o PMDB. Disse isso no dia seguinte à sua posse. Só se iludiu quem quis se iludir.

Por esse motivo, só fui uma vez ao Palácio do Planalto, a convite do Senador Roberto Freire, àquela altura Deputado Federal, Líder do Governo na Câmara, porque sabia bem para onde caminhava o Governo do Sr. Itamar Franco, no sentido de tentar destruir o PMDB. S. Exª nunca perdoou as dificuldades de relacionamento que teve dentro do Partido antes de sair para aderir e ser vice do Sr. Fernando Collor de Mello.

Lamento que alguns companheiros, que criticavam a candidatura do Sr. Orestes Quércia, não tivessem apresentado alternativas, poderia ter sido o próprio nome de V. Exª, que tinha credencial para tal ou o do atual Governador Antônio Britto. Mas, não aceito que se faça crítica a um companheiro de Partido e não se ofereça alternativas. Sempre me recusei a isso, nobre Senador Pedro Simon. V. Exª questionou, inclusive pessoalmente, o companheiro Antônio Britto por que não se apresentava como candidato. O Sr. Orestes Quércia compareceu à Convenção do Partido como candidato único; não havia outra candidatura.

O Sr. Pedro Simon - Senador Jader Barbalho, houve duas candidaturas. O Governador Roberto Requião concorreu e perdeu.

O SR. JADER BARBALHO - Realmente. Mas, se perdeu, Senador Pedro Simon, foi a maioria que decidiu, democraticamente, pelo nosso candidato. Depois, o povo escolheu o Ministro da Fazenda do Plano Real. O Dr. Fernando Henrique Cardoso, segundo informações publicadas, nem candidato à reeleição queria ser, pois achava que não tinha chance política. O Plano Real viabilizou a candidatura do PSDB.

Meu caro Senador Pedro Simon, não quero polemizar sobre isso. Apenas me recuso a deixar que, nos Anais da Casa, conste o PMDB como o Partido da incompetência, do equívoco. Não. Perdemos a eleição. Mas isso faz parte do jogo democrático. Hoje, estamos no Governo porque o Conselho Consultivo do Partido decidiu; e, aliás, fui a única voz discordante, porque não conhecia bem esse acordo com o Governo, e não me engajo no que não conheço bem. Mas o Partido decidiu. Resolvi pleitear ser Líder. Então, estou na base de sustentação do Governo.

Nessa história de equívoco, companheiro Pedro Simon, não tenho dúvida de que o PMDB é o Partido de maiores raízes populares neste País, o que possui o eleitorado mais sólido. Apenas pagamos a contradição natural dos Partidos que lideram as transições. Isso ocorreu com o Partido Socialista em Portugal, com o Partido do André Soares na Espanha e, naturalmente, o PMDB também pagou, porque participou desta fase negociada, na qual, inevitavelmente, é repassada a contradição para a sociedade, somente isso. Mas, como já disse, Partido com raízes populares no Brasil é o nosso. Orgulho-me de ser Líder do nosso PMDB aqui no Senado da República. Estou certo de que o PMDB ainda haverá de ter grandes vitórias nas próximas eleições.

O Sr. Roberto Freire - V. Exª me concede um aparte?

O SR. JADER BARBALHO - Concedo o aparte ao nobre Senador Roberto Freire.

O Sr. Roberto Freire - Senador Jader Barbalho, não vou discutir questões de incompetência, de ciúme, até porque é um problema que está afeto aos três Partidos que estão aqui...

O SR. JADER BARBALHO - Não. Não inclua o PMDB. Não tenho ciúme algum do PFL. O PFL faz da sua vida o que quiser fazer; o PSDB também. Não tenho nada com isso, tenho com o meu Partido, o PMDB. Cresçam, arrebentem-se, façam lá o que acharem conveniente. Se o Partido do Senador Antonio Carlos Magalhães crescer cada vez mais, parabéns para o Senador Antonio Carlos Magalhães! Parabéns para o PSDB, se o mesmo crescer! Não tenho nada a ver com isso. Nesta Casa, cuido do PMDB e torço pelo meu Partido. Os outros que façam a sua parte! Eu faço a minha!

O Sr. Roberto Freire - Senador Jader Barbalho, estou dizendo exatamente isso. Não vou discutir sobre competência ou incompetência, ciúme ou inveja, até porque isso não é atinente nem a mim, nem - acredito - a nenhum outro Partido, salvo aos que estão dentro dessa discussão. O que quero colocar é que penso que há algo mais profundo nesse debate; gostaria que isso se tornasse mais transparente. O grande problema é exatamente essa ampla base de sustentação do Governo Fernando Henrique Cardoso. Trata-se de algo não definido; trata-se de algo que preocupa, por determinadas hegemonias momentâneas, por não se saber bem o que significa o Governo Fernando Henrique Cardoso, salvo o Plano Real e a perspectiva de uma reforma do Estado, a qual ainda não está bem delineada. Mais do que isso: não se sabe quais as conseqüências dessa reforma. Penso que esse debate nos conduzirá a saber concretamente qual o programa de Governo. Deve-se saber se este Governo é social-democrata ou liberal. Há contradições, pelo menos se quisermos levar em consideração a experiência histórica fora e dentro do Brasil. Esse Estado que se pretende reformar - é importante dizer isso; este não é um discurso antigo - é fruto da elite e da classe dominante brasileira, que os representantes do PFL sempre sustentaram. Como já disse, não se trata de discurso antigo, trata-se de perspectiva de futuro. Não estou discutindo se esses se posicionaram a favor da ditadura - acredito que não é o momento para se discutir esse assunto, apesar de ser importante que o guardemos na memória; não devemos esquecê-lo. Estou preocupado com o fato de que aqueles que construíram essa sociedade perversa, que deram sustentação a esse Estado, é que apresentam esse discurso reformista hoje. Reformar para onde? Respondendo a essa pergunta, teremos grandes definições. Parece-me que essa discussão é exatamente o início dessas grandes definições.

O SR. JADER BARBALHO - Senador Roberto Freire, o que me interessa, fundamentalmente, é que o Governo Fernando Henrique Cardoso possa ser um Governo de reforma em favor do Brasil e da sociedade brasileira.

Já disse mais de uma vez aqui que nenhum Governo assumiu sob essas condições do Presidente Fernando Henrique. Foi vencedor no primeiro turno - portanto, referendado pela sociedade nas suas propostas de governo-, com sustentação parlamentar, com boa vontade da imprensa e com expectativa favorável de toda a opinião pública.

Não me interessa, Senador Roberto Freire, o debate menor acerca de quem está com mais poder - se é o Senador Marco Maciel que manda no Governo ou não.

O Sr. Roberto Freire - Mas é justamente esse o debate que acho importante.

O SR. JADER BARBALHO - Estou preocupado em que o País não perca esta oportunidade. A candidatura Fernando Henrique Cardoso encheu a sociedade brasileira de expectativa de melhoras. Nós todos temos essa obrigação, levando em conta o quadro social que aí está e essa concentração de renda brutal, que faz com que os pobres continuem mais pobres neste País.

As dúvidas que começam a permear a sociedade brasileira em relação ao Plano Real, a essa taxa de juros elevada, que aumenta a dívida pública interna e empobrece grande parte do empresariado, que começa a colocar na rua empregados. Estamos profundamente preocupados é com isso.

O Sr. Roberto Freire - Senador, V. Exª me permite o aparte?

O SR. JADER BARBALHO - Não estou absolutamente preocupado, Senador, se o PFL tem mais cargo, tem mais poder, se é mais competente, se nos próximos 50 anos estará no poder ou se o PSDB vai ganhar essa eleição.

O Sr. Roberto Freire - Senador, V. Exª me permite o aparte?

O SR. JADER BARBALHO - Não estou preocupado com isso. Acredito que há temas muito mais importantes, fundamentais para a sociedade brasileira do que discutirmos quem tem mais poder no Governo, quem vai levar vantagens nessa queda de braços se é o PSDB ou PFL.

O Sr. Roberto Freire - Senador, V. Exª me permite um aparte?

O SR. JADER BARBALHO - O PMDB está preocupado, fundamentalmente, com o que é essencial para a sociedade brasileira.

O Sr. Roberto Freire - Senador, V. Exª me permite o aparte?

O SR. JADER BARBALHO - Se eu vim a esta tribuna é porque estou cansado, de certa forma angustiado de estar lembrando da última eleição e achando que somos perdedores. Não me considero perdedor, não.

O Sr. Roberto Freire - Senador, V. Exª me permite o aparte?

O SR. JADER BARBALHO - Acredito que o meu Partido venceu a eleição, perdeu para a Presidência, mas manteve a sua posição de maior Partido político no Brasil. O PMDB continua, tem compromissos e deve ter compromissos fundamentalmente com os mais pobres deste País. Deve ter a cara disso, a cara de quem está preocupado com os pobres. Já há muita gente sustentando os ricos neste País, e o PMDB deve preocupar-se exatamente com o lado dos mais pobres da população brasileira. Essa será a orientação que darei nesta Casa, enquanto for Líder.

Com relação a essa questão das reformas, diz-se que o Senado não vai emendar, que tal Senador não vai ser indicado, porque tem restrição. Que conversa é essa? Nada disso, Sr. Presidente.

Esta Casa não é simplesmente homologatória, senão é melhor transformar o sistema em unicameral; ela vai apreciar as reformas. Não há por que criarmos caso com o que vier da Câmara e for considerado correto. Agora, o que a maioria aqui não achar conveniente vai ser reformado, rejeitado. O Senado deve ter autonomia. Esse é o nosso ponto de vista em relação ao tratamento que deve ser dado. O Presidente Fernando Henrique Cardoso terá todo o nosso apoio e solidariedade no que for bom e conveniente para a maioria da sociedade brasileira.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto de Oliveira) - Lembro que o tempo de V. Exª já se encontra esgotado.

O SR. JADER BARBALHO - Se V. Exª me permite, sei que o PFL é forte, mas gostaria - não me comparando, absolutamente, à fortaleza e prestígio do Senador Antonio Carlos Magalhães - que me fosse dado, antes de encerrar, o privilégio de ouvi-lo.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto de Oliveira) - Esclareço a V. Exª que o Senador Antonio Carlos Magalhães falou como orador inscrito por 50 minutos; V. Exª, como Líder, dispunha de 20 minutos, nos termos do Regimento.

O Sr. Romeu Tuma - Desculpe-me por tirar o entusiasmo de V. Exª, mas, como, nos últimos dias, tenho sido vítima talvez do ciúme a que se referiu o nosso querido Senador Roberto Freire, queria homenagear V. Exª e o seu Partido pela lealdade com que se conduziram na sua eleição em São Paulo, onde, num acordo com o meu Partido, o PL, fui indicado numa chapa para disputar o Senado e tive o apoio integral, principalmente do Presidente Regional do Partido, que, infelizmente, faleceu. Com toda dignidade, fui vitorioso. Uma parte enorme dos Diretórios Municipais do PMDB me auxiliaram em razão do acordo com o PL. É um testemunho que eu queria prestar a V. Exª e agradecer a oportunidade desse aparte.

O SR. JADER BARBALHO - Agradeço o aparte de V. Exª, o registro que V. Exª faz do apoio, e até quando vejo essa história de que V. Exª vai sair do PL, já fico imaginando que seu caminho natural será o PMDB, onde será recebido com grande alegria por toda nossa Bancada. (Palmas)

Sr. Presidente, com todas essas considerações, que eu não desejava fazer, mas queria apenas registrar porque tenho ouvido essa história de que o PMDB é perdedor, essa coisa toda, acredito que o meu companheiro, esse que tem uma das melhores histórias do PMDB, que é o companheiro Pedro Simon, vai me perdoar, mas o nosso Partido pode ter perdido a eleição para a Presidência da República, mas foi um grande vencedor das eleições e haverá de continuar vencendo eleições.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 01/06/1995 - Página 9272