Discurso no Senado Federal

REGISTRANDO A SUA PARTICIPAÇÃO NA REUNIÃO COM OS GOVERNADORES DOS ESTADOS DO ACRE E RONDONIA, NA QUAL FOI DISCUTIDA A POSSE DAS VILAS EXTERNA E CALIFORNIA, OBJETO DE DISPUTA PELOS DOIS ESTADOS. DESMENTINDO NOTICIA DO JORNAL 'FOLHA DE S.PAULO', DE CONVITE DE S.EXA. AO SENADOR ROMEU TUMA, APOS SEU AFASTAMENTO DO PARTIDO LIBERAL (PL), PARA INGRESSO NO PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIVISÃO TERRITORIAL. POLITICA PARTIDARIA.:
  • REGISTRANDO A SUA PARTICIPAÇÃO NA REUNIÃO COM OS GOVERNADORES DOS ESTADOS DO ACRE E RONDONIA, NA QUAL FOI DISCUTIDA A POSSE DAS VILAS EXTERNA E CALIFORNIA, OBJETO DE DISPUTA PELOS DOIS ESTADOS. DESMENTINDO NOTICIA DO JORNAL 'FOLHA DE S.PAULO', DE CONVITE DE S.EXA. AO SENADOR ROMEU TUMA, APOS SEU AFASTAMENTO DO PARTIDO LIBERAL (PL), PARA INGRESSO NO PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DCN2 de 13/06/1995 - Página 10231
Assunto
Outros > DIVISÃO TERRITORIAL. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • DEFESA, URGENCIA, BUSCA, SOLUÇÃO, LITIGIO, ESTADO DO ACRE (AC), ESTADO DE RONDONIA (RO), PROPRIEDADE, VILA, EXTREMA (MG), CALIFORNIA (PR), LOCALIZAÇÃO, FAIXA DE FRONTEIRA, ESTADOS.
  • DESMENTIDO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), RELAÇÃO, DECLARAÇÃO, AUTORIA, ORADOR, ASSUNTO, POSSIBILIDADE, FILIAÇÃO PARTIDARIA, ROMEU TUMA, SENADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), POSTERIORIDADE, DESLIGAMENTO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO LIBERAL (PL).

A SRA. MARINA SILVA (PT-AC. Para uma comunicação. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs, neste final de semana, tive a oportunidade de visitar os Estados de Rondônia e Acre para participar de uma reunião que contava com a presença do Governador Valdir Raupp, de Rondônia, e com a do Dr. Labib Murad, do Estado do Acre. Os dois governadores, juntamente com os seus Secretários, alguns Parlamentares federais e os Deputados estaduais - do Estado do Acre havia vinte - discutiram proposta de saída para o litígio que envolve as Vilas Extrema e Califórnia, na fronteira do Acre com o Estado de Rôndonia.

Há alguns dias, foi lançada pelo Governador de Rondônia uma proposta no sentido de que o Acre fique com a Vila Califórnia e Rondônia com Extrema. Com isso, o problema estaria resolvido.

O Ministro da Justiça, em recente reunião da Bancada Parlamentar da Amazônia, em Rondônia, deixou claro que, se os dois Estados chegarem a um acordo consensual entre as bancadas estaduais e federais, S. Exª estaria disposto a homologar esse acordo. Infelizmente, não havia ainda um consenso da parte dos Parlamentares de Rondônia e essa decisão foi adiada para uma próxima reunião, que ocorrerá entre os dias 20 e 25. Espero, sinceramente, que se consiga encontrar uma solução para essa questão, que já vem prejudicando aquelas famílias há muitos anos. Há mais de dez anos que eles não sabem a que Estado pertencem; não têm como fazer financiamento; não têm como crescer, do ponto de vista econômico, social e cultural; não têm escolas; não têm saúde; não têm segurança. Enfim, são como filhos de ninguém.

A meu ver, é fundamental que se chegue a uma decisão o mais rápido possível, porque, se formos aguardar que o Supremo Tribunal Federal julgue a questão e resolva a quem pertencerá as duas vilas, pelos exemplos que temos na história, esse prazo pode variar de 20 a 50 anos. E aquela população não pode mais esperar.

Faço este registro porque tive a oportunidade de acompanhar, do meu gabinete, o Senador Carlos Bezerra assinalar que o Estado dele está em calamidade com relação à saúde. No meu Estado há vários setores em calamidade, inclusive o da saúde. Nessas vilas, a calamidade é total.

Sr. Presidente, gostaria ainda de fazer um esclarecimento no plenário desta Casa, pelo bem da verdade.

Encontrava-me no Município de Senador Guiomar, no Estado do Acre, quando tomei conhecimento de que, no jornal Folha de S. Paulo, de sexta-feira passada, foi publicada uma matéria a respeito da saída do Senador Romeu Tuma do PL, partido a que pertencia. O artigo relatava que outros partidos o estariam convidando para se filiar. Fez-se até uma referência a minha pessoa, no sentido de que eu teria pronunciado a seguinte frase: "Não posso falar em público, mas estamos às ordens". Inclusive, no destaque das frases da semana, publicaram a minha fotografia.

Quero deixar bem claro que essa afirmação não é minha, não sei quem foi o seu autor e nem quem a colocou em minha boca.

Faço este esclarecimento porque estou acostumada a que, no meu Estado, essas coisas aconteçam. Lá, muitas empresas de comunicação se dão o direito de dizer o que pensam que deveríamos dizer, e não há como negar. Entretanto, sempre acreditei que fatos dessa natureza não ocorressem em um universo maior.

Espero que a Folha de S. Paulo, com sua visão democrática, séria e responsável de jornalismo, proceda ao reparo necessário. Além de existir testemunhas do que realmente ocorreu, faço questão de narrar o fato publicamente, pois, da forma como está dito, parece referir-se a uma pessoa que não tem posição e que tenta agir às escondidas.

O episódio decorreu de uma brincadeira entre o Senador Romeu Tuma e o Senador Eduardo Suplicy. O Senador Romeu Tuma disse que iria para o PT de São Paulo. O Senador Eduardo Suplicy, por sua vez, respondeu que seria necessário pedir autorização à Srª Luiza Erundina. Pensei como fora uma maneira educada e inteligente de dizer não, como é do feitio do Senador Eduardo Suplicy, mesmo em situações embaraçosas. De minha parte, apenas disse: "V. Exª está fugindo das rivalidades regionais", e todos rimos. Contudo, não pronunciei a frase a mim atribuída.

Faço esta referência em nome da verdade, pelo bem da verdade e pelo bom jornalismo.

Muito obrigada.

O Sr. Eduardo Suplicy - V. Exª me permite um aparte, nobre Senadora Marina Silva?

A SRª MARINA SILVA - Pois não, nobre Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy - Senadora Marina Silva, embora tenha presenciado apenas os últimos quarenta segundos de suas palavras, pois estou chegando agora de viagem, percebo que V. Exª esclarece o episódio havido na última quinta-feira aqui no Plenário, do qual participaram os Senadores José Eduardo Dutra, Romeu Tuma, V. Exª e eu. O Senador Romeu Tuma havia feito, poucos minutos antes, um pronunciamento sobre a sua saída do Partido Liberal. Ao final, dirigiu-se a nós e manifestou sua vontade de ser bem aceito em qualquer dos partidos. Chegou até a mencionar o Partido dos Trabalhadores. No entanto, para isso ocorrer, seria bastante difícil, pois requer uma grande modificação em termos dos valores, da disposição e da atuação do Senador Romeu Tuma, ao longo da sua história, como Diretor da Polícia Federal, do DEOPS. S. Exª procurou realizar serviços que estavam sob sua responsabilidade como policial graduado, mas, em muitas dessas ocasiões, precisou assumir atitudes em consonância com os governos da época, governos militares, que, muitas vezes, acabaram ocasionando episódios que foram objeto de protesto e incompreensão da parte de muitos, inclusive das famílias atingidas por ações de um regime de exceção. Há muitas famílias de desaparecidos que gostariam de saber das autoridades competentes onde estão os seus familiares. Dentre essas está o Senador Romeu Tuma, pelos cargos assumidos. Por conseguinte, mesmo que houvesse uma modificação em sua postura política e o Senador Romeu Tuma decidisse, por toda a sua vivência, tornar-se membro do Partido dos Trabalhadores, obviamente, se essa difícil hipótese viesse a ocorrer, as pessoas que formam a militância do Partido dos Trabalhadores diriam: "Senador Romeu Tuma, se V. Exª realmente está realizando uma conversão política, primeiramente teríamos que lhe questionar a respeito de uma série de coisas." Sou testemunha de que esses temas foram objeto de debate na última campanha política. Certo dia, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no auditório TUCA, houve um debate bastante intenso entre os candidatos ao Senado Federal José Serra, Romeu Tuma e Luiza Erundina de Sousa, a qual colocou esses temas em discussão. Por isso, no nosso diálogo, com muito respeito, eu disse ao Senador Romeu Tuma que, antes, eu precisaria perguntar à Luiza Erundina se isso realmente seria adequado. Logicamente, naquele momento, eu estava sintetizando o que eu e o Senador Romeu Tuma sabíamos sobre a história dos fatos. Então, achei por bem, por ter sido testemunha dos fatos relatados por V. Exª, aqui expressar o que percebi e senti.

A SRª MARINA SILVA - Agradeço, Senador Eduardo Suplicy, o aparte de V. Exª, porque me dá a oportunidade de, mais uma vez, atestar publicamente para os Srs. Parlamentares e para os colegas da imprensa que não é minha a frase que me é atribuída e que, inclusive, causou-me problemas, pois várias entidades de direitos humanos e pessoas ligadas aos movimentos democráticos ligaram para o meu gabinete querendo uma explicação com relação a esse episódio - não por patrulhamento ideológico, mas por acharem estranho que uma pessoa com a minha trajetória tivesse feito tal convite.

De repente, comecei a pagar por algo que não disse. Houve uma repercussão grande na imprensa relativa a algo que não falei. Por isso, para que haja coerência, peço que se dê o mesmo espaço, nos mesmos meios de comunicação para que se diga a verdade, ou seja, que não fiz tal afirmação. Acho que não se pode atribuir a alguém uma afirmação e colocá-la entre aspas sem que se tenha certeza dos fatos.

Estou consciente dos fatos que V. Exª acaba de citar e também de outros do meu Estado, inclusive envolvendo o próprio Sr. Mauro Spósito, que era o Superintendente da Polícia Federal na época da morte de Chico Mendes, o qual, por várias vezes, denunciei por não estar cumprindo o seu dever, tendo ele sido até promovido, na época, pelo, hoje, Senador Romeu Tuma. Não sou alheia a esses fatos, tenho todo o conhecimento e nem de brincadeira eu diria isso. Ainda mais com esta conotação estranha e penosa: "Até a Senadora Marina afirmou: Não digo em público, mas estamos às ordens." Como se eu tivesse escondendo alguma coisa. Estou dizendo isso pelo bem da verdade.

Na notícia veiculada sábado, publicou-se a matéria com o seguinte título: "Até tu, Brutus?" e repete a frase. Eu gostaria de encerrar este pronunciamento em nome da verdade, sem nenhum rancor, dizendo a mesma coisa: "Até tu, Brutus?"

Eu sempre achava que esse tipo de coisa acontecia muito lá no meu Estado, mas não aqui. (Muito bem!)


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 13/06/1995 - Página 10231