Discurso no Senado Federal

CRITICAS A POLITICA DE JUROS ALTOS DO GOVERNO.

Autor
José Alves (PFL - Partido da Frente Liberal/SE)
Nome completo: José Alves do Nascimento
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • CRITICAS A POLITICA DE JUROS ALTOS DO GOVERNO.
Aparteantes
Jonas Pinheiro, Ney Suassuna.
Publicação
Publicação no DCN2 de 08/06/1995 - Página 9855
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • ANALISE, CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO FEDERAL, MANUTENÇÃO, EXCESSO, TAXAS, JUROS, PREJUIZO, MAIORIA, BRASILEIROS, GOVERNO, PEQUENA EMPRESA, AUMENTO, DEFICIT, DIVIDA PUBLICA, REDUÇÃO, INVESTIMENTO, ATIVIDADE ECONOMICA, CRESCIMENTO, DESEMPREGO, ATRAÇÃO, CAPITAL ESTRANGEIRO, AUSENCIA, COMPROMISSO, ECONOMIA NACIONAL.

O SR. JOSÉ ALVES (PFL-SE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, depois de um longo período em que a economia nacional não registrava índices significativos de crescimento, no último quadrimestre atingimos o patamar de 10%, com relação ao mesmo período do ano passado, o que representa um resultado alentador para o nosso desenvolvimento.

Neste contexto, ainda pesa, e ninguém sabe por quanto tempo, a política de juros altos - confirmada pelo atual sucessor do último Presidente do Banco Central que se demitiu - uma medida de resultados polêmicos, de eficiência discutível e que tem se mostrado mais irracional e desumana do que lógica e benéfica à estabilização da economia e ao desenvolvimento do País.

Pelo que me lembro, e tenho concluído minhas reflexões sobre os resultados dos últimos planos econômicos, a política de taxas elevadas de juros nunca controlou a inflação ou disciplinou o consumo, pois a maior parte dos juros pagos pela sociedade brasileira não se refere a compras novas, mas a déficits históricos de seus orçamentos domésticos, provenientes do descompasso entre salários e custo de vida.

A concentração do crédito e o elevadíssimo custo artificial do dinheiro, objetivando conter o consumo, já vêm causando grande inquietação em todo o país, devido aos evidentes sintomas de falência, concordatas e inadimplências que vêm ocorrendo com muita frequência.

Em toda a história do Brasil, os juros nunca estiveram tão altos, comparativamente à taxa de inflação.

Basta lembrar que em passado recente, quando a inflação mensal beirava os 40%, os juros bancários andavam em torno de 60%, isto é, 50% acima dos níveis inflacionários, mas agora, com os juros de até 14% e uma inflação de menos de 2%, chegamos ao absurdo de uma taxa de juros 7 vezes maior do que a inflação, isto é, 800% acima da inflação.

Embora existam taxas diferenciadas como por exemplo as que vêm sendo cobradas das empresas à razão de 6 a 10% ao mês, o que dá uma taxa anual que varia de 100 a 213% ao ano, os consumidores estão pagando de 12% a 14% ao mês, o que corresponde a uma variação de 289 a 381% ao ano, mas se tem notícias de taxas de juros bancários atingindo até 18% e financeiras cobrando mais de 20%, ou seja, mais de 10 vezes a inflação, quando, anteriormente ao Plano Real, se cobrava de juros a inflação mais uma parcela correspondente à metade dela, como no exemplo que citei, inflação de 40%, juros de 60.

As taxas de juros praticadas hoje no país são um escândalo, para quem tem um pouco de sensibilidade e raciocínio aritmético, pois nunca houve na História do Brasil uma desproporção tão grande entre a inflação e as taxas de juros pois enquanto aquela tem previsão de alcançar 25% neste ano, os juros podem alcançar até mais de 500%. Isto para mim e para muita gente não tem uma explicação racional.

Não sou economista, Sr. Presidente, sou médico, mas também vale para a economia o princípio da medicina. Para acabar com a doença não precisamos matar o paciente, não há necessidade de se aniquilar o consumidor para se controlar o consumo nem se espremer a produção e o comércio para se desaquecer a economia e baixar a febre do entusiasmo do crescimento.

Esta política de juros altos só tem travado a pujança da economia nacional e a nossa capacidade de iniciativa, desviando os investimentos que deveriam ser aplicados na produção e os direcionando para os capitais especulativos, cujos portadores sempre apostaram no retorno da inflação e da ciranda financeira, delas tirando lucros exorbitantes.

Além disto, pode ocorrer, também, a atração de capitais especulativos externos, sem compromissos duradouros com a nossa economia que ao menor sinal de mudanças na política econômica, a eles desfavoráveis, migram para outros mercados como aves de arribação.

Para protestar contra os juros altos, se não bastasse o argumento de que estamos vivendo um período singular em nossa história com a prática da usura, juros de 800% acima da inflação, quando, perversa ou maliciosamente, foi mantida uma herança do passado que é a multa de 10 a 20% por pagamento feito com atraso, o que duplica estas taxas realmente abusivas, somos o 4º País do mundo, depois da Rússia, Turquia e México, onde o dinheiro é mais caro, onde o juro é mais alto no planeta.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a quem pode interessar esta política monetarista? Esta doutrina econômica que não beneficia a nossa economia?

Não há consenso no País favorável à continuidade destas medidas, embora se deva ressaltar que a estabilidade de nossa moeda, e a contenção dos níveis inflacionários têm merecido o aplauso da população.

Mas será que apenas os juros altos contribuem para estes resultados? Não teríamos outras medidas alternativas também eficientes?

Li na imprensa que o setor público, União, Estados e Municípios já gastaram, em 1994, 20 bilhões de reais apenas com despesas em juros e serviços de dívidas, quase o triplo do que se gastou em saúde.

Temos ouvido reclamações de que não há dinheiro para financiar satisfatoriamente a assistência médica e hospitalar à população; há escassez de recursos para a promoção de atividades essenciais do Governo; por falta de recursos foram cortadas a quase totalidade das emendas dos parlamentares no orçamento deste ano, bem como as previsões de investimentos em várias estatais, como a TELEBRÁS. Chegou-me a informação de que não há previsão para a Caixa Econômica Federal promover o financiamento da casa própria, num País que tem um grande déficit habitacional e cuja população cresce em mais de três milhões de habitantes por ano.

Se esta política não serve ao País a quem serve?

É urgente que se reestude este problema.

Ninguém quer a inflação de volta, todos queremos o sucesso do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, que realmente está empenhado na solução dos grandes problemas nacionais, e deve-se ressaltar que, apesar de decorridos poucos meses de sua gestão, vários êxitos memoráveis sua equipe já tem alcançado.

No mês passado, Sua Excelência se mostrou sensível aos reclamos da agricultura e resolveu o impasse em que se deparava a promoção da atividade rural em nosso País, definindo as condições e os custos de financiamento da safra 95/96, uma taxa compatível com as incertezas e os riscos de quem investe no campo para se dedicar à prioridade estratégica na produção de alimentos.

Não sou beneficiário nem tenho experiência pessoal de crédito rural, mas defendo o seu aperfeiçoamento e a sua proteção legal porque é um instrumento indispensável ao desenvolvimento de nossa agricultura, principal vocação do nosso País e sustentáculo de nossa economia.

É, indiscutivelmente, necessário que haja taxas diferenciadas de juros para estimular setores mais carentes ou prioritários de nossa matriz de desenvolvimento econômico. Isto é compreensível desde que justificável, em cada caso, entretanto, o que estamos vendo é a população e, principalmente, os pequenos empresários, que constituem a maior parte das unidades produtivas nacionais, submetidos a um aperto insuportável.

É como se estivessem submetidos a uma situação de vítimas da usura e da agiotagem, e o pior é que esta situação está protegida pelo manto oficial de uma política monetarista amparada pelas teorias sediadas no Banco Central, que, para o grande público e para aqueles entendidos em outras áreas, mas que não dominam as teorias econômicas, não têm uma explicação razoável que assegure a tranqüilidade de consenso.

Aliás, sempre considerei esta intimidade do público com o privado, em matéria de dinheiro, uma relação suspeitosa. O Setor Público em nosso País deveria dar uma certa prioridade à formação das carreiras de Estado, para os seus quadros diretivos. A muitos pode parecer promíscua esta relação de executivos do setor financeiro privado na condução da política monetária nacional, a política monetária do governo a cargo do Banco Central

A teoria desses juros tão altos para mim é nebulosa e, se beneficia a alguns privilegiados, prejudica a grande maioria dos brasileiros. Prejudica ao Governo, pois aumenta o nosso déficit e a dívida pública; prejudica as empresas, principalmente às pequenas e médias, que são as que mais contribuem para a produção nacional. É prejudicial à atividade econômica porque inibe os investimentos e a livre iniciativa, aumentando o desemprego. E se atrai capitais do exterior, em grande parte não têm compromisso com o nosso desenvolvimento, pois assim como chegam, vão embora.

A política de juros altos vem sacrificando demasiadamente a população, a dona de casa, o pai de família e todos os que vivem de salários e de pequenos negócios.

O Sr. Ney Suassuna - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ ALVES - Com todo o prazer, Senador Ney Suassuna.

O Sr. Ney Suassuna - Senador José Alves, realmente a mistura de juros altos, câmbio e ainda o enxugamento do meio circulante está levando o País a um caos. O Governo, creio que já está alertado, mas é preciso que mais Parlamentares façam como V. Exª, para que tenhamos a economia colocada de volta aos trilhos. Obrigado.

O SR. JOSÉ ALVES - Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Ney Suassuna.

O Sr. Jonas Pinheiro - Senador José Alves, permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ ALVES - Com todo prazer, Senador Jonas Pinheiro.

O Sr. Jonas Pinheiro - Sr. Senador, durante o desenvolvimento do seu discurso, V. Exª falou das medidas que o Governo estaria tomando com respeito ao crédito rural. Terminamos há pouco uma reunião, no Ministério da Agricultura, com a participação de deputados e senadores e das autoridades do Governo nas áreas econômica e da agricultura. Decidimos ir ao Palácio do Planalto, na tarde de hoje, solicitar ao Presidente da República que baixe uma medida provisória, dentro daquilo que está acordado entre o Congresso Nacional e o Governo Federal, em função da premência e relevância da agricultura para o País, sobretudo nesta época, nesta fase. Desejo transmitir a todos os Senadores da República que, em nome do Senado Federal, eu e os Senadores Osmar Dias, Iris Rezende e Lúdio Coelho já concluímos no sentido de uma solução - ao menos, no que concerne a 1995 - para a agricultura brasileira, com medidas que possam atendê-la. Portanto, de hoje para manhã, o meio rural brasileiro já deve respirar aliviado, com a adoção de medidas pelo Governo Federal, dentro do que foi acordado entre aqueles que defendem a agricultura na Câmara e no Senado Federal. Obrigado a V. Exª.

O SR. JOSÉ ALVES - Agradeço ao nobre Senador Jonas Pinheiro os esclarecimentos.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, encerro este meu pronunciamento manifestando estas preocupações de cidadão e representante de Sergipe aqui no Senado, e também a minha esperança de que o Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, ao qual o meu Partido vem apoiando, alcance o sucesso desejado para o progresso da Nação brasileira.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 08/06/1995 - Página 9855